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DESENHO E

EXPRESSÃO

Vanessa Guerini Scopell


Arquitetura e suas formas
de representação
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Descrever como são feitos croquis.


„„ Reconhecer como alguns arquitetos usam esta ferramenta.
„„ Identificar outras formas de representação arquitetônica.

Introdução
Existem diferentes formas de representação no desenho arquitetônico.
De um lado, temos os croquis, esboços rápidos feitos à mão livre e com-
prometidos sobretudo com a criação de propostas estéticas. Na outra
ponta, nos servimos das maquetes eletrônicas, rigorosas nas medidas
e proporções, e desenvolvidas com tecnologia de ponta. Entre os dois
extremos, existem outras técnicas necessárias, como o desenho ortogonal
e a perspectiva, por exemplo.
Compreender a importância de cada uma é fundamental para desen-
volver, expor, viabilizar e concretizar as ideias arquitetônicas.
Neste capítulo, você vai entender como são feitos e qual a importância
dos croquis; vai conhecer o trabalho de arquitetos importantes no uso
desse recurso e vai estudar outras formas de representação, como as
projeções ortogonais, as perspectivas e as maquetes eletrônicas.

Croquis e seu desenvolvimento


Os croquis, ou esboços, são técnicas muito utilizadas por quem estuda ou
trabalha na arquitetura. É uma forma rápida de representação de ideias.
Na Figura 1, observe os detalhes dessa proposta de dar vida nova a uma
pedreira abandonada.
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Figura 1. Pedreira em São João da Boa Vista – SP.

O desenho parte da observação das pedras no local, verificando como elas


se posicionam umas sobre as outras. Para representá-las, o desenhista usou
de traços verticais amarrados por linhas horizontais. Com rápidos traços,
consegue nos dar uma noção muito clara do espaço em que deseja intervir.
Assim, para quem pretende criar croquis para seus projetos, o melhor
caminho começa por observar o local onde o projeto será implantado, pois
ele sempre irá se comunicar com o entorno. É fundamental o olhar atento aos
detalhes. Compare e avalie cada elemento que compõe a paisagem como, por
exemplo, o tamanho de uma árvore com relação à altura de uma pessoa. No caso
do croqui apresentado na Figura 01, veja como as pessoas são representadas
sem detalhes, porque estão muito distantes.
Observe também a área de reflorestamento e o edifício dividido em duas
torres, tudo desenhado com canetas hidrocor, de várias tonalidades. O uso
de cores em croquis ajuda a criar a noção de profundidade, mostrando planos
diferentes. Serve também para evidenciar elementos do projeto que desejamos
destacar.
O croqui da Figura 2 mostra, com destaque por meio de cores, apenas as
trilhas de esportes radicais dentro da pedreira e a base das torres. A ideia,
aqui, foi transmitir a essência da proposta, ou seja, a finalidade que se pretende
dar ao espaço em desuso.
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Figura 2. Pedreira em São João da Boa Vista – SP.

Assim acontecem os croquis. Basta ter uma noção de desenho e rabiscar.


Em outras palavras: externar o que está pensando de uma forma rápida, porém
eficaz. Não importa o material o que se use.

Croquis de grandes arquitetos


Hoje em dia, com o uso de programas que geram imagens 3D rapidamente e
com grande qualidade, desenvolver croquis não é muito comum entre estu-
dantes e arquitetos.
Por outro lado, os croquis são frequentemente usados por grandes arquitetos
nacionais e internacionais, na fase conceitual de seu processo criativo. Muitos
criam identidade com seus traços. Por isso, seus desenhos são patenteados.
Além disso, desenhar com tanta facilidade é um sonho de muitos. Repre-
sentar e transmitir ideias é tudo que um bom arquiteto gosta de fazer em seus
ensaios. É como se estivesse conversando com a própria mente. O processo
criativo vai se tornando real à medida que o desenho vai se externando, de
forma figurativa ou até abstrata.
Fazer croquis é se libertar, se expressar rapidamente, sem limitações, cada
um com seu jeito único de expressão!
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Por ser uma ferramenta de resultados rápidos e impactantes, acaba sendo


também um incentivo ao desenho livre para os estudantes e arquitetos em
geral (ROSENFIELD, 2015, documento on-line).

Em 2015, grandes nomes da arquitetura atual fizeram uma doação de seus


traços conceituais feitos em guardanapos à New School of Architecture &
Design e ao San Diego American Institute of Architecture Students (AIAS).
O intuito era arrecadar fundos para bolsas e programas educacionais para
os estudantes.
O responsável pela ação na AIAS, David Garcia, arquiteto formado pela
NewSchool, contou sobre a importância da doação. “Pessoalmente, esse projeto
significa muito para mim, e não apenas por causa do tempo e envolvimento,
mas porque é um bom modo de aproximar os estudantes de seus arquitetos
favoritos, mesmo que seja apenas através de um croqui”, disse.

Conheça, a seguir, os croquis de alguns arquitetos que se celebrizaram


por seus projetos, como Zaha Hadid, Oscar Niemeyer, Renzo Piano, Santiago
Calatrava, Tadao Ando, Frank Gehry, entre outros.
A Figura 3 mostra um croqui de Zaha Hadid. Essa arquiteta iraquiana
cultivava uma característica única em seus croquis, criando esboços abstratos
como inspiração para seus projetos. Eram nada mais do que ensaios da forma.

Figura 3. Croqui da arquiteta Zaha Hadid.


Fonte: Spinelli (2016).
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Exímio na prática do desenho, o brasileiro Oscar Niemeyer, apresentava


seus projetos facilmente usando de traços leves, soltos, bastante simplificados.
Veja a Figura 4.

Figura 4. Croqui de Niemeyer para o as colunas do Palácio da Alvorada.


Fonte: Inojosa e Buzar (2015).

A Figura 5 mostra um croqui de Renzo Piano, arquiteto italiano preocupado


com a escala humana, com os efeitos da luz sobre o edifício e com o entorno.
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Figura 5. Croqui de Renzo Piano.


Fonte: Delaqua (2017).

A Figura 6 mostra um croqui de Santiago Calatrava, arquiteto espanhol


contemporâneo, mundialmente reconhecido, que sempre utiliza a técnica do
croqui na concepção de seus projetos. Seus desenhos quase sempre orgânicos
e muito expressivos se transformam em esculturas. Na mesma pessoa, era um
artista escultor, arquiteto e engenheiro.

Figura 6. Croqui de Santiago Calatrava.


Fonte: Calatrava (2012).
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Característica do arquiteto japonês Tadao Ando, a Figura 7 mostra que


suas obras são sempre marcadas pela presença da luz natural assim como em
seus croquis. Podemos observar o contraste marcante presente já na concepção
de seus projetos.

Figura 7. Croqui de Tadao Ando para o Abu Dhabi Maritime Museum.


Fonte: CAPPEN (2016).

A Figura 8 mostra um croqui de Frank Gehry, renomado arquiteto cana-


dense. Ele criou uma metodologia projetual própria, partindo de desenhos
abstratos para maquetes tangíveis, feitas com papel e durex, antes do desen-
volvimento do projeto.
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Figura 8. Croqui de Frank Gerhry.


Fonte: Conheça... (2018).

Em resumo, o croqui é o ponto de partida para a materialização do projeto,


tem uma linguagem universal, compreendida por todos. Por não ser técnico,
preso a normas e à precisão dos traços, liberta a criatividade, é espontâneo
e pessoal.

Outras formas de representação


Vamos, agora, tratar de outras formas de representação em arquitetura: os
desenhos ortogonais ou projeções ortogonais e as perspectivas.
Muito diferentes dos croquis, os desenhos ortogonais são instrumentados,
rígidos e executados de acordo com uma escala. No entanto, são fundamentais
para a materialização de objetos, edifícios ou parte deles. São meticulosos
e precisos, empregando uma linguagem normatizada, que permite leitura
universal. Na arquitetura, são essenciais para representar os prédios em duas
dimensões, por meio de plantas, cortes e fachadas. Por estarem em escala, são
rigorosamente fiéis ao que será construído. Não existe projeto sem esta técnica.
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Já as perspectivas são uma forma de representação desenvolvida a partir


dos desenhos bidimensionais para apresentá-los em três dimensões, facilitando
a visualização realista do prédio projetado. Podem ser feitas no início e na
finalização do projeto.
Surgida no Renascimento, a perspectiva é utilizada como forma de repre-
sentação tridimensional, mas também faz parte do processo criativo.
Com as novas tecnologias à nossa disposição, as mesmas perspectivas
podem ser desenvolvidas com o uso de softwares específicos, não só por
profissionais da área da arquitetura. Os resultados são rápidos, fiéis ao que de
fato será construído. Além disso, o avanço tecnológico oferece possibilidades
que transformam as práticas de projetar, auxiliando no processo de criação e
representação de projetos complexos.
Quando falamos de projetos bidimensionais, por exemplo, feitos em com-
putador, como o Autocad, podemos afirmar que as novas tecnologias aceleram
o processo de desenvolvimento dos projetos e, ainda, facilitam a tomada de
decisão por meio de diferentes ferramentas, como o uso de layers, o cálculo
de áreas e o uso da borracha, dentre outros. Outro exemplo é o das imagens
renderizadas, bastante fiéis aos reais espaços projetados, pois fazem uso de
recursos como iluminação, paisagem inserida, etc.
Para finalizar, concluímos que a representação de projetos arquitetônicos
se faz por um conjunto de desenhos, que são ferramentas fundamentais para
a comunicação e para a linguagem arquitetônica. Só dessa forma um arquiteto
consegue fazer suas ideias fluírem, dialogando consigo mesmo e com as
demais pessoas.
Desenhar é expressar aquilo que pensamos!

Para verificar 10 dicas para criar bons croquis, acesse o link a seguir.

https://goo.gl/6Ag3qS

Para ler mais sobre alguns arquitetos e seus mais famosos croquis, acesse este link.

https://goo.gl/qDJA1h
10 Arquitetura e suas formas de representação

CALATRAVA, S. Croqui. Peganarquitetura, 1 ago. 2012. Disponível em: <https://peganar-


quitetura.wordpress.com/2012/08/01/croqui-santiago-calatrava-desenhos-esculturais/
calatrava-sketch-15/>. Acesso em: 7 ago. 2018.
CAPPEN. A importância do desenho à mão. Blog Comello, 23 fev. 2016. Disponível em:
<https://www.comello.com.br/blog/?p=1723>. Acesso em: 7 ago. 2018.
CONHEÇA o início de grandes projetos através de croquis de arquitetos famosos.
VivaDecoraPro, 17 jun. 2018. Disponível em: <https://www.vivadecora.com.br/pro/
arquitetura/croquis-de-arquitetos-famosos/>. Acesso em: 7 ago. 2018.
DELAQUA, V. A relevância do croqui na obra de Renzo Piano. ArchDaily, 7 ago. 2017.
Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/877048/a-relevancia-do-croqui-na-
obra-de-renzo-piano>. Acesso em: 7 ago. 2018.
INOJOSA, L. S. P.; BUZAR, M. A. R. Sistemas estruturais e arquitetura. Paranoá: Cadernos
de Arquitetura e Urbanismo, n. 15, p. 1-10, 2015.
ROSENFIELD, K. 17 croquis de guardanapo feitos por arquitetos famosos. ArchDaily, 18
jun. 2015. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/768632/17-croquis-de-
guardanapo-feitos-por-arquitetos-famosos>. Acesso em: 7 ago. 2018.
SPINELLI, A. S. Arquitetos e seus croquis. Arquitete suas ideias, 10 nov. 2016. Disponível
em: <http://arquitetesuasideias.com.br/2016/11/10/arquitetos-e-seus-croquis/>. Acesso
em: 7 ago. 2018.

Leituras recomendadas
AD EDITORIAL TEAM. 100 croquis de arquitetura. ArchDaily, 22 jun. 2018. Disponível
em: <https://www.archdaily.com.br › ArchDaily › Notícias › 100 Croquis de arquitetura>.
Acesso em: 7 ago. 2018.
CROQUI. Conselho de Arquiteutra e Urbanismo do Brasil, 17 abr. 2014. Disponível em:
<http://arquiteturaurbanismotodos.org.br/croqui/>. Acesso em: 7 ago. 2018.
DOMINGUES, F. Croquis e perspectivas. Porto Alegre: Masquatro, 2015.
LAWSON, B. Como arquitetos e designers pensam. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
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