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Cidade de SP tem 52 mil pessoas em situação de rua,

25% do total do país, mostra estudo da UFMG


O número aumentou 8,2% desde novembro e é o maior já registrado na capital paulista

Por Cristiane Agostine, Valor — São Paulo


05/04/2023 17h44  Atualizado há 5 dias

Cidade mais rica do país, com orçamento previsto de R$ 96 bilhões para este ano, São


Paulo tem 52,2 mil pessoas em situação de rua, 25% do total do país. O número aumentou
8,2% desde novembro e é o maior já registrado na capital paulista.

Os dados fazem parte de um levantamento realizado pelo Observatório Brasileiro de Políticas


Públicas com a População em Situação de Rua, da UFMG. O estudo foi feito com base em
dados de fevereiro deste ano do Cadastro Único (CadÚnico), disponibilizados pelo Ministério
do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.

O Estado de São Paulo registra 86,7 mil pessoas em situação de rua, o equivalente a 42% do
total do país. O governo paulista tem o maior orçamento estadual do Brasil, com R$ 317
bilhões estimados para este ano.

No Brasil, são 206 mil pessoas vivendo nas ruas. Nos últimos meses, a situação piorou e
houve um aumento de 7,4% desde novembro, quando os pesquisadores da UFMG fizeram o
levantamento anterior.

Coordenador do observatório, o professor André Luiz Dias afirmou que o crescimento da


população em situação de rua está relacionado não só com o aumento da pobreza no país,
mas também com o agravamento da desigualdade social. O professor destacou que a região
Sudeste, a mais rica do país, concentra 62% das pessoas em situação de rua.

A situação de rua atinge sobretudo os negros e as pessoas com baixa escolaridade. Metade da
população que vive nas ruas tem o ensino fundamental incompleto, segundo o estudo. De
cada dez pessoas em situação de rua, sete são negras. Em alguns Estados, os negros são
ainda mais atingidos. Em Minas, por exemplo, os negros correspondem a 80% dessa
população. Na Bahia, são 93%. “Não é uma simples coincidência”, disse o coordenador geral
do estudo. “No Brasil, isso tem relação direta com o racismo estrutural”, afirmou Dias.

O número de pessoas em situação de rua pode ser ainda maior. Os pesquisadores da UFMG
estimam que há uma subnotificação de 35%. Os dados sobre as pessoas em situação de rua
são informados pelas prefeituras ao governo federal, por meio do CadÚnico. É com base
nessas informações que o governo federal repassa recursos para os municípios atenderem
essa população.

Na capital paulista, por exemplo, há uma divergência entre as 52.226 pessoas em situação de
rua informadas pela prefeitura ao governo federal no Cadastro Único e as 31,8 mil pessoas
registradas em um censo feito pelo governo municipal divulgado em janeiro de 2022.

A prefeitura paulistana, comandada por Ricardo Nunes (MDB), afirmou por meio de nota que
não é possível comparar os dois dados. “Os dados da plataforma social foram utilizados no
trabalho feito pela UFMG e é um cadastro atualizado pelos próprios munícipes nos postos de
atendimento. Isto é, a atualização desses dados depende das pessoas que comparecem aos
postos de atendimento. Diariamente pessoas ingressam e saem do sistema”, afirmou.
O coordenador do estudo, no entanto, reforçou que os 52,2 mil são dados informados pela
prefeitura para receber recursos federais para benefícios sociais.

Na linha histórica divulgada pelos pesquisadores da UFMG, há um crescimento significativo da


população de rua em uma década. Em 2012, o país registrava no CadÚnico 12,7 mil pessoas
vivendo nas ruas. Em 2018, eram 138,7 mil. No primeiro ano da pandemia, em 2020,
aumentou para 194,8 mil e agora são 206.044.

André Luiz Dias afirmou que os dados do início da série histórica “são fantasiosos”. “O
contingente era infinitamente maior”, disse. No entanto, havia falhas no registro dessa
população. Com o fortalecimento do CadÚnico, esses dados ficaram mais próximos da
realidade, apesar da subnotificação estimada em 35%.

Pessoas em situação de rua na Praça da Sé, região central de São Paulo — Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

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