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A nova embaixadora americana sabe das coisas

Carnaval, cultura e esporte são uma grande forma de o Brasil fazer negócios e democracia

Por Nizan Guanaes


14/02/2023 05h00  Atualizado há 2 semanas

O turismo e o entretenimento são vistos historicamente pelo Estado brasileiro de um jeito, a


meu ver, menor do que eles são. Nos Estados Unidos, entretenimento é “business” na veia. E
os dois se misturam. Oscar e Grammy são noites para vender bilhões.

Milhões de pessoas vão ver peças e shows, a Broadway é um fenômeno global. O maior
festival de música da história, Woodstock, foi organizado (caoticamente) por um bando de
hippies, não deu dinheiro, mas empresários viram ali uma oportunidade e criaram um novo
produto que vem gerando bilhões de dólares ao longo dos anos e ao redor do mundo. Vejam o
Rock in Rio aqui, com a competência do Roberto Medina.

O turismo, o entretenimento e a cultura são uma fonte incalculável de renda e prestígio para
países como EUA, França, Itália, Espanha, Reino Unido...

O que os Beatles e James Bond fizeram pela Inglaterra e o que Shakespeare faz, eternamente,
não tem preço. Futebol, basquete e tênis são esporte misturado com turismo e entretenimento.

Por que os países disputam a tapa sediar a Copa ou as Olimpíadas? Porque aquilo gera
turismo, propaganda e prestígio. Golfe, surfe e ski são turismo. Culinária e vinho são turismo.
Eu não me lembro de um ministro do Turismo que, apesar de boas intenções, tenha
conseguido levar o setor ao patamar que ele merece. E veja que nos países mais turísticos não
tem nem ministério do turismo. Mas tem política de turismo. Carnaval é entretenimento e
turismo na veia. É uma Olimpíada que acontece todo ano no Brasil. Temos que embalar
melhor. A embalagem muitas vezes é mais importante que o produto, e olha que no Carnaval o
produto é excelente.

Então é preciso vender essa olimpíada anual que acontece no Brasil e profissionalizar ainda
mais o Carnaval (sem perder a essência, claro). O desfile das escolas de samba precisa de
uma remodelada como foi dada na Fórmula 1.

O futebol brasileiro precisa deixar de ser só esporte para ser o “business” que é na Europa e
nos EUA, inclusive com times listados na bolsa de valores. Museu tem que deixar de ser visto
como despesa e ser visto como receita. A coisa mais importante de turismo que foi feita no Rio
foi o Rock in Rio.

Só quem deve brincar com Carnaval é o folião. Os governos devem levar Carnaval, esporte e
cultura como centros de receita e não só de custos. E também centro de “soft power”.

Vejam a nova embaixadora americana, Elizabeth Bagley: ela chegou chegando, visitando os
museus de São Paulo e viajando para o Carnaval de Salvador. Com isso, ela conquistou o
Brasil de um jeito que nenhum embaixador americano o fez, em tempo recorde.

A embaixadora tem olhos americanos para essas indústrias: cultura, esporte e entretenimento.
As três foram e são instrumentos americanos de diplomacia, desenvolvimento socioeconômico
e propaganda. São vetores de comercialização de seu estilo de vida e, portanto, de seus
costumes e produtos. Foi assim que eles nos “colonizaram”.
Portanto, é preciso levar o lado B da vida a sério e incluir o sonho, a alegria e o prazer em
nossa cesta básica. Afinal ninguém vendeu mais este país do que Pelé, a Bossa Nova e Oscar
Niemeyer. E, como nos mostra a craque embaixadora, Carnaval, cultura e esporte são uma
grande forma de o Brasil fazer democracia.

Nizan Guanaes é estrategista da N Ideias Consultoria


E-mail: nizan.coluna@gmail.com

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