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MORFOLOGIA E BREVE
CATASTROISMO CONTRIBUIÇÃO PARA
A INTERPRETAÇÃO
Neste artigo são feitas considerações
hidrodinâmicas a respeito da formação de
meandros fluviais periodicamente por ocasião
HIDRODINÂMICA
de cheias em planícies aluviais.
Considera-se, em particular, a Bacia do
Rio do Peixe, no Estado da Paraíba, onde são
DA FORMAÇÃO DE
registrados icnofósseis na "Formação Sousa".
Essa formação geológica caracteriza-se
principalmente por lamitos, argilitos e folhelhos
marrom escuro, apresentando estratificações
plano-paralelas, marcas de ondas e gretas de
contração em abundância, além de pegadas de
dinossauros.
PEGADAS NA BACIA
A partir da análise hidrodinâmica das
estratificações, apresenta-se um modelo para
a interpretação da formação das trilhas de
DO RIO DO PEIXE
pegadas de dinossauros encontradas na região.
EM SOUSA - PB
INTRODUÇÃO bro de 2018, com o título “85
Pegadas de dinossauros bem
dade de dinossauros na região ser “ao longo do tempo, cober- Da mesma forma, outra decla-
durante o Cretáceo Inferior, ta por camadas de sedimentos ração importante do artigo é a de
com base nas trilhas preserva- que a protejam contra a erosão” que as pegadas formadas sob as
das. Além disso, pode ajudar a constitui uma declaração de im- condições anteriores podem ser
pesquisa de Shillito, que preten- portância para a análise das pe- reveladas posteriormente, quan-
de saber o efeito que esses bichos gadas fósseis onde quer que elas do forem erodidas as camadas de
tiveram sobre cursos aquáticos. possam vir a ser encontradas. sedimentos que as encobriram
‘Dado o tamanho de muitos O artigo deixa entrever clara- ao longo do tempo.
dinossauros, é provável que te- mente, também, a relação entre Feitos esses comentários sobre
nham afetado os rios de forma “rastros de pegadas fósseis en- o artigo divulgado pela Revista
semelhante, mas é difícil afir- contradas ao longo das margens Galileu a título de introdução ao
mar, visto que a maioria das pe- dos canais de rios” e fenômenos tema proposto para esta contri-
gadas teria sido levada embora’, de deposições sedimentares de buição à interpretação hidrodi-
afirmou o especialista. ‘No en- origem fluvial, certamente na nâmica da formação de pegadas
tanto, vemos algumas evidências formação das chamadas “barras de dinossauros, em seguida serão
em menor escala de seu impacto. de meandro” (sendo, entretanto, abordados aspectos de interesse
Em algumas das pegadas mais muito improvável que “dinos- sobre as pegadas de dinossauros
profundas é possível ver que ma- sauros tenham influenciado a encontradas na Bacia do Rio do
tas estavam crescendo. Também formação destes canais”) Peixe, em Sousa, PB, tais como
encontramos rastros de pegadas
ao longo das margens dos canais TABELA CRONOESTRATIGRÁFICA INTERNACIONAL
SUBDIVISÕES DO PERÍODO CRETÁCEO
do rio. É possível que dinossau-
Sistema / Período Série / Época Andar / Estágio Idade (Ma)
ros tenham influenciado a for-
PALEÓGENO PALEOCENO DANIANO MAIS RECENTES
mação destes canais’.”
66,0 -
Maastrichtiano
Com relação ao artigo que foi 72,1
transcrito, pode-se comentar ini- Campaniano
72,1 -
cialmente que, evidentemente, a 83,6
mencionada datação do Período 83,6 -
Santoniano
Cretáceo (e dos penhascos de 86,3
Superior
arenito com seus supostos mi- 86,3 -
Coniaciano
89,8
lhões de anos) obedece ao padrão
89,8 -
convencional estabelecido para a Turoniano
93,9
chamada “Coluna Geológica”,
93,9 -
que merece críticas que fogem ao Cenomaniano
100,5
escopo desta contribuição para a Cretácio
100,5 -
intepretação hidrodinâmica da Albiano
~ 113,0
formação das pegadas fósseis e, ~ 113,0 -
Aptiano
assim, não serão aqui considera- ~ 125,0
das por não afetarem a objetivi- ~ 125,0 -
Barremiano
dade desta contribuição. ~ 129,4
Inferior
Em seguida, pode-se destacar ~ 129,4 -
Hauteriviano
~ 132,9
que o parágrafo do artigo que
~ 132,9 -
menciona as condições necessá- Valanginiano
~ 139,8
rias para que as pegadas possam
~ 139,8 -
ser preservadas, como “o assoa- Berriasiano
~ 145,0
lho macio e um pouco úmido” JURÁSSICO SUPERIOR TITHONIANO MAIS ANTIGO
para que o solo seque e endureça
Subdivisão do Cretáceo de acordo com a Tabela Cronoestratigráfica Internacional versão 2015/1 Comissão Internacional sobre Estratigrafia
e a impressão possa ser fixada e
24 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira
0 50 100
grande vulto e importância para Leonardi, 1979c; Leonardi, territorial do geoparque, ela é
a preservação das riquezas geo- 1979d; Leonardi, 1980c; Leo- dominada por relevos tabula-
lógicas e paleontológicas daquela nardi, 1980f; Leonardi, 1981a; res esculpidos nos sedimentos
região. Nessa proposta (Ver Fer- Leonardi, 1984a; Leonardi, do Grupo Rio do Peixe, em sua
reira et al., 2017) são apresenta- 1984b; Leonardi, 1985a; Leo- maioria da Formação Sousa,
dos dados de bastante interesse nardi, 1994; Leonardi, 1985ª; seguidos das formações Ante-
para as finalidades deste artigo, Leonardi et al., 1987; Leonar- nor Navarro e Rio Piranhas em
motivo pelo qual serão transcri- di & Santos, 2004; Leonardi & menor proporção. São extensos
tos alguns de seus trechos consi- Carvalho, 2007; Siqueira et al., tabuleiros areno-argilosos com
derados mais oportunos, como 2011). [A bibliografia indicada pequena ou nenhuma quebra
os seguintes: encontra-se referenciada no de relevo em contato com as
artigo original]. superfícies aplainadas que con-
“O geossítio Passagem das tornam a bacia.
Pedras está localizado 3,5 km Atualmente, o geossítio inte-
a noroeste da cidade de Sou- gra um parque natural, tom- Entremeado a esse modelado
sa. O acesso é feito a partir da bado e designado como ‘Mo- tabular, ocorrem extensas pla-
saída noroeste daquela cidade, numento Natural Vale dos nícies fluviais, destacadamente
pela rodovia PB-391. A entra- Dinossauros’. A região é agora as planícies dos rios do Peixe e
da para o ‘Monumento Na- um complexo turístico e oferece Piranhas, que correm no senti-
tural Vale dos Dinossauros’, uma infra-estrutura como um do O-E da bacia. Os tabuleiros
onde está o geossítio, fica na museu, caminhos e passarelas são relevos de degradação em
margem esquerda da estrada. para visitação ao geossítio, bem rochas sedimentares, com for-
Este geossítio, de relevância in- como pessoal treinado para o mas suavemente dissecadas,
ternacional, com grande valor turismo ecológico e para a pro- com extensas superfícies de
científico, didático e turístico, teção do sítio paleontológico. O gradientes extremamente bai-
constitui-se de uma superfície local conta, também, com um xos, com topos planos e alonga-
rochosa com cerca de 2000 m², canal de alívio da vazão do Rio dos e vertentes suaves em con-
exposta pela ação erosiva do do Peixe, numa extensão de tato com as planícies aluviais.
Rio do Peixe, de siltitos e argili- 621 metros, que permite a pro- Já as planícies fluviais são
tos da Formação Sousa. teção das pegadas contra a ação relevos de agradação, em zona
erosiva e represamento d’água de acumulação atual, com su-
O geossítio é conhecido desde sobre o sítio paleontológico.
o final do século XIX pela pre- perfícies sub-horizontais cons-
sença de pegadas fósseis, que No que concerne à morfolo- tituídas de depósitos arenosos
foram cientificamente estuda- gia da área sedimentar, que ou areno-argilosos a argilosos,
das e atribuídas a dinossauros representa a maior extensão bem selecionados, situados nos
nos anos 1920 e 1940 (Moraes,
1924; Cavalcanti, 1947).
Nas últimas décadas do sécu-
lo XX o local voltou a ser estu-
dado, com inúmeros trabalhos
publicados, e foram reconhe-
cidas pegadas de dinossauros
Ornithopoda (Sousaichnium
pricei e Staurichnium dio-
genis), Theropoda (Moraesi-
chinium borboremae) e pos-
sivelmente de Ankylosauria,
além de pegadas de natação
(Price, 1961; Leonardi,1979b; Vista aérea de meandros atuais do Rio do Peixe nas proximidades de Sousa
LEGENDA
Sedimentos Cenozóicos
Bacia do Ceará Sequência pós-rifte albiana-neocretácea
Sequência rifte aptiana-mesoalbiana
FORTALEZA Sequência rifte (inclui Rifte Potiguar em sub-superfície)
Sequência pré-rifte jurássica
Sequência paleozoica
Bacia Embasamento pré-cambriano / copaleozoico e seus
do Parnaiba principais lineamentos
Oceano Atlântico
Bacia Potiguar
Malhada Vermelha Gangorra
Rafael Fernandes
NATAL
Iguatu Rio Nazaré
Icó Rio do Peixe
Lima Campos
Bastões Pombal
Padre Marcos Lavras de Mangabeira Lineamento da Paraiba
Barro JOÃO PESSOA
Araripe
Bacia do Cedro Bom Nome Afogados Bacia de
da Ingazeira Pernambuco-Paraíba
São José de Belmonte
Miranda Betânia RECIFE
Socorro "Santo Ignácio" Linea Tupanaci Pernambuco
ment 0 50 km
o Jatobá
Mapa Geológico da Região Nordeste Oriental
(Ref. Rogério Valença Ferreira et al., op.cit,)
NM NG
Distribuição de
principais ocorrências de
icnofósseis nas
BACIA DE VERTENTES Sub-bacias do Rio
Vertentes
Pocinho do Peixe em Sousa e
SERRA MATA Uiraúna-Brejo das Freiras
BACIA DE DO COCO
BREJO DAS FREIRAS
Serrota do Letreiro
Brejo das Engenho Novo
Freiras
Piedade
Matadouro
Sousa
BACIA DE SOUSA BACIA DE POMBAL
Feijão
Cabra Assada Dagoba
TERÓPODA
SAURÓPODA 0 5 km
SEQUÊNCIA FLUVIAL
SEQUÊNCIA FLÚVIO-LACUSTRE
fundos de vales. Apresentam [Ref. Vieira, R. C. C., “Atlas de até centenas de quilogramas por
gradientes extremamente sua- Mecânica dos Fluidos Clássica” metro cúbico. Esse material sóli-
ves e convergentes em direção (a ser editado em 2021), Módu- do carreado pelos rios compre-
aos cursos d’água principais.” los 3 “Cinemática” e 4 “Fluido- ende usualmente partículas de
dinâmica”]. rocha de diferentes tamanhos
Em face da descrição geo
(de poucos micra até algumas
paleontológica acima apresenta- EFEITOS DA centenas de micra), resultantes
da, que deixou clara a intervenção
HIDRO-ABRASÃO E DA do intemperismo físico, da ero-
de fenômenos hidrodinâmicos
CAVITAÇÃO EM ROCHAS são fluvial das rochas, e do trans-
na Bacia do Rio do Peixe, como
porte de seus fragmentos.
deposições aluviais em bacias A “hidro-abrasão” é a erosão
sedimentares e sistema fluvial ou desgaste que provoca a reti- Medidas efetuadas no Rio
meandrante, em conexão com a rada de material das superfícies Amazonas mostraram taxas de
formação dos icnofósseis locais, sólidas com as quais a água em material sólido da ordem de mo-
serão feitas no Tópico seguinte escoamento entra em contato. destas 90 gramas por metro cú-
algumas considerações de or- Esse desgaste pode ocorrer não bico. Pode ser calculado, assim,
dem hidrodinâmica julgadas só pela ação isolada das forças que o Amazonas carreia para o
pertinentes para a interpretação tangenciais que se exercem sobre Oceano Atlântico cerca de 800
do possível processo de forma- a parede sólida devido ao eleva- milhões de toneladas de material
ção desses icnofósseis. do gradiente de velocidades ve- sólido por ano. Se esse material
rificado na camada limite do es- fosse acumulado em um só lu-
Será levado em conta nessas
coamento, como também pode gar, corresponderia a uma mon-
considerações o destaque feito
ocorrer devido a choques entre tanha dez vezes mais alta do que
no trecho transcrito do artigo de
partículas sólidas carreadas pela o Pão de Açúcar! Deve ser lem-
Giuseppe Leonardi e Ismar de
água em escoamento, ou ainda brado também que, além desse
Souza Carvalho sobre a forma-
pelo processo de cavitação, que material carreado para a calha
ção de um sistema fluvial mean-
drante com uma ampla planície será considerado ainda a seguir. do Amazonas, proveniente de
de inundação, em conexão com seus afluentes, nos meandros dos
Na literatura técnica, faz-se
exposições sobre a hidrodinâmi- próprios afluentes é depositada
distinção entre as diferentes ma-
ca dos processos de escoamento outra grande parcela de material
neiras pelas quais são carreados
fluvial em bacias de acumulação sólido, conforme será considera-
materiais pelas correntes flu-
e processos de erosão, transporte do mais adiante neste artigo.
viais. Assim, são considerados o
e sedimentação, apresentadas na arrastamento ou rolamento e os Medidas efetuadas no Rio Pa-
literatura acadêmica, bem como saltos, a suspensão mecânica ou raíba do Sul, na altura de Barra
particularmente em conexão a coloidal, a solução, e a suspen- do Piraí, SP, no mês de agosto
com a abordagem apresentada são propriamente dita, confor- (estação seca), mostraram para
por Bernat Vila et al., 2003, sobre me ilustrado na Figura da página o material sólido em suspensão
os icnofósseis encontrados na re- seguinte. Por simplicidade, cha- a taxa da ordem de 550 gramas
gião dos Pireneus na Espanha e maremos de material sólido todo por metro cúbico, e no mês de
divulgados em seu artigo referi- o material carreado pelas águas, janeiro (estação chuvosa) a taxa
do mais adiante sobre “Icnogra- independentemente da maneira da ordem de 1200 gramas por
fia em meandros de paleoam- específica pela qual se dá o seu metro cúbico.
bientes sedimentares fluviais”. transporte. Em condições climáticas ex-
Antes, porém, outras consi- A título de ilustração, sabe-se cepcionais, ou em casos de even-
derações necessárias, de ordem que a hidro-abrasão em instala- tos geológicos específicos, o con-
hidrodinâmica, serão feitas a ções hidroelétricas é provocada teúdo sólido de muitos rios pode
seguir entremeadas com outras pela água que contém partículas chegar até a 350 quilogramas por
considerações pertinentes no sólidas na proporção de algu- metro cúbico, incluindo partícu-
âmbito da Geologia Sedimentar mas poucas centenas de gramas las finas de material argiloso, que
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Sentido do escoamento
C0
R0
V0
V0
Esquema ilustrativo do processo de hidro-abrasão
e amostra de composição da areia usada em ensaios
(Figuras apresentadas na Sulzer Technical Review 1/1992, pp. 20 e 26)
da sobre uma superfície sólida, e mistura de grãos que constitui a resultantes de transporte hídri-
deslocar-se sobre ela provocan- areia carregada pelas águas. De- co. Assim, a ocorrência de con-
do um sulco. A repetição dessa monstram, também, que a mis- glomerados exige terem existido
ocorrência com uma frequência tura de grãos é mais agressiva também condições de transporte
elevada vai produzindo, no de- quanto maior for a percentagem dos fragmentos das rochas origi-
correr do tempo, a hidro-abra- de grãos de maior granulome- nados por processos orogênicos,
são da superfície sólida. tria. formação de falhas, transgres-
Em turbinas hidráulicas e em Nesta breve exposição deseja- sões marinhas, glaciações, vulca-
estruturas de usinas hidroelé- mos destacar que os resultados nismo e intemperismo.
tricas observa-se significativa experimentais obtidos nos en- Durante o processo de trans-
hidro-abrasão sempre que partí- saios de hidro-abrasão efetuados porte, graças ao impacto recí-
culas sólidas mais duras do que em laboratório com materiais proco e à abrasão resultante, os
o material das paredes sobre as de alta resistência utilizados em blocos anfractuosos perdem suas
quais se dá o escoamento atin- máquinas e estruturas hidráuli- arestas e transformam-se em
gem essas paredes com suficien- cas correspondem ao que pode seixos arredondados de formas
te velocidade e são arrastadas ser observado na natureza com esféricas, cilíndricas, elipsoidais
pelo escoamento. O quartzo é o relação ao processo de hidro- ou discoidais, dependendo da
material usualmente mais duro -abrasão ocorrido na formação forma original do fragmento
encontrado em areias carregadas de pedregulhos, pedras, mata- antes de sofrer esse processo de
pela água de rios. Na figura aci- cões, e até mesmo em blocos de desgaste. Fragmentos peque-
ma, à direita, tem-se uma foto- rocha de maior porte. nos, com dimensões inferiores
grafia de amostra de areia, obti- De fato, ao se observar o ma- a alguns décimos de milímetro,
da em microscópio eletrônico de terial sedimentar grosseiro (cas- devido à sua pequena massa,
varredura, mostrando grãos de calho) existente em leitos de não sofrem impactos sensíveis, e
areia utilizados em ensaios rea- rios, nas suas margens ou em por isso não se arredondam no
lizados em um equipamento ex- qualquer local distante dos leitos processo de carreamento pelas
perimental nos laboratórios da atuais de rios, verifica-se um in- águas. Quanto maior for o frag-
firma suíça SULZER fabricante comensurável número de seixos mento original, maior também
de equipamentos hidráulicos. arredondados, apontando para será a facilidade para o seu arre-
Nessa figura tem-se a referência um processo de hidro-abrasão dondamento.
de escala indicando o compri- intenso que teria ocorrido no A denominação usual dada aos
mento equivalente a 100 micra. passado. fragmentos de rocha encontra-
Os ensaios demonstram que o Conglomerados são rochas se- dos nos conglomerados é fun-
grau de abrasão depende da pro- dimentares formadas por frag- ção de suas dimensões. Existem
porção de quartzo existente na mentos de rochas preexistentes, várias classificações propostas,
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de cuja análise, em média, po- tículas de rochas de variada neira que, se isso ocorrer junto a
demos estabelecer que blocos de natureza. uma superfície sólida em conta-
rocha são os fragmentos que têm ... O tamanho dos clastos to com o escoamento, ocorrerão
dimensões superiores a 1 metro; predominantes é pequeno, mas valores extremamente elevados
matacões, os situados entre 25 podem ocorrer blocos de até 5 para as tensões normais atuando
centímetros e 1 metro; pedras, metros de diâmetro.” sobre o material dessa superfície,
os situados entre 25 centímetros que poderão facilmente ocasio-
e 76 milímetros. Já as partículas Evidentemente a explicação nar um processo de fratura local,
componentes dos solos recebem uniformista para a existência com a consequente remoção do
denominações normalizadas, em de toda essa gama de partículas material fraturado, pela água em
função de sua granulometria – supõe a ocorrência de processos escoamento.
pedregulhos, as que têm dimen- lentos e graduais no decorrer de
Esse fenômeno recebe o nome
sões entre 76 e 4,8 mm; areias imensos períodos de tempo. Por
de cavitação, exatamente por-
(grossa, média e fina) com di- outro lado, a explicação catas-
que vai ocasionando cavidades
mensões entre 4,8 e 0,05 mm; sil- trofista aponta para a ocorrência
(verdadeiras “cáries”), sendo
tes, entre 0,05 e 0,005 mm; e ar- de fenômenos de hidro-abrasão
de natureza bastante distinta da
gilas, com dimensões inferiores ocorridos em um grau de in-
hidro-abrasão considerada ante-
a 0,005 mm. (Ver, por exemplo, tensidade imensamente maior
riormente. Esse efeito da cavita-
a Tabela apresentada no Tópico em intervalos de tempo muito
ção (aparentemente semelhan-
“C-74 – Clásticos” do “Glossário menores. O banco de ensaios da
te ao da hidro-abrasão) recebe
Geológico” de Leinz & Leonar- SULZER já mencionado e o dis-
em Inglês o nome de “pitting”,
dos, 1975). positivo de cavitação acelerada
ou seja, formação de cavidades
do Departamento de Hidráulica
A título de ilustração, trans- no material sólido. A formação
da EESC-USP que será conside-
creve-se a seguir um trecho do dessas cavidades, em virtude do
rado logo adiante, são bastante
livro “Geologia do Brasil”, de processo de cavitação propria-
ilustrativos do mecanismo de
Setembrino Petri e Vicente José mente dito, pode ser um fator
ocorrências desses fenômenos
Fúlfaro (Editora da USP, 1988), de importância para o estabe-
de hidro-abrasão de forma in-
descrevendo a ocorrência de lecimento de condições iniciais
tensa e rápida.
conglomerados na Bacia do Pa- extremamente favoráveis a um
raná, no Subgrupo Itararé: Além da hidro-abrasão pro- processo rápido de hidro-abra-
priamente dita, deve-se chamar são. Além do mais, dependendo
“A litologia mais comum do a atenção também para o pro- da natureza do material que está
Subgrupo Itararé é constituída cesso de cavitação, outro fenô- sendo submetido à cavitação, ela
de arenitos. meno usual em escoamentos de mesma constitui um processo de
... A granulometria é muito líquidos quando a velocidade erosão intensa e rápida bastante
variada, desde arenitos muito atinge valores locais elevados, e significativo.
finos a conglomeráticos. consequentemente a pressão va-
lores muito baixos, podendo-se Nas fotografias apresentadas a
... Ritmitos são comuns, em- seguir, pode-se ter uma ideia do
bora com menor frequência chegar ao valor da “pressão de
vapor” do fluido, à temperatura poder erosivo de escoamentos
que arenitos. São constituídos de água sobre superfícies sóli-
de lâminas de siltitos ou are- local. Ao ser atingido esse valor,
o líquido se evapora, formando- das de elementos de maquinária
nitos finos ... alternados com hidráulica, constituídas de ma-
argilitos ou folhelhos. -se uma bolha de vapor que,
deslocada pelo escoamento, é le- terial especialmente resistente à
... Seixos ou blocos de rochas, vada para uma região de maior hidro-abrasão e à cavitação.
às vezes facetados e estriados, pressão onde entra em colapso. O dispositivo experimental
ocorrem com frequência. Nesse processo dinâmico são para o estudo da hidro-abrasão
... Os diamictitos são consti- atingidos valores pontuais eleva- montado no Laboratório de
tuídos de blocos, seixos e par- díssimos da pressão, de tal ma- Hidráulica da EESC-USP teve
32 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira
Classificação das partículas de Jarras com resultado da análise granulométrica de três tipos de solos
solo segundo seus diâmetros
equivalentes, conforme Arenoso Limo-argiloso Argiloso
Norma Brasileira NBR 6502 da
ABNT (1995)
Fração Limites (mm)
Matacão 1000-200
Pedra britada 200-60
Pedregulho 60-2
Areia grossa 2,00-0,60
Areia média 0,60-0,20
Areia fina 0,20-0,06
Silte 0,06-0,002
0 - 10% argila 10 - 30% argila 50 - 100% argila
Argila < 0,002 0 - 10% silte 30 - 50% silte 0 - 45% silte
80 - 100% areia 25 - 50% areia 0 - 45% areia
siltosos e argilosos, bem como o
triângulo de textura dos solos em Triângulo de textura do solo
função dos percentuais de areia, em função dos percentuais de areia, silte e argila
silte e argila conforme estabele- 100
cida pelas Normas (Americanas
e Brasileiras). 90 10
Deve-se lembrar, entretanto,
que na Sedimentologia Estrati- 80 20
gráfica, além do caso da depo-
la
70 30
sição de partículas em massas
rgi
Argiloso
Per
eA
c
md
ent
giões lagunares e lacustres), deve
age
age
ser levado em conta o caso das 50 Argiloso- 50
ent
md
c
e Si
Argiloso-
40 60
gadas por massas fluidas em esco- lte
arenoso
Limoso-arenoso-
amento, (como, por exemplo, nas Argiloso-limoso argiloso
30 Limoso-arenoso- 70
barras de meandros em rios, que argiloso
é o assunto central deste artigo). 20 80
Limoso
De acordo com Suguio (Tó- Limoso-arenoso Limoso-siltoso
10 90
pico 1.1.3.3 - "As distribuições Siltoso
granulométricas e os ambientes Arenoso Arenoso-limoso 100
deposicionais" de seu livro já ci- 90 80 70 60 50 40 30 20 10
tado, página 62), Percentagem de Areia
“Udden (1914) foi o primeiro MEDIDA DA GRANULOMETRIA DE AMOSTRAS DE SOLO
A velocidade de queda das partículas de solo
pesquisador que tentou relacionar ocasiona a deposição seletiva dos grãos, permitindo a classificação do solo
a composição granulométrica de (Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig.2.68)
Pedregulho grosso
Areia muito fina
Pedregulho fino
Pedra britada
Areia grossa
Areia média
Pedregulho
(Grânulos)
Areia fina
Argila
Silte
1000
Ero lh o
sã od Erosão e transporte
ed regu
e ar
gila rei aep e n sã
o
100
Velocidade do escoamento
con ea us p
s ão d e ms
olid o siç rga
ada D ep o ca
ef und ã o de
rga
d o siç
o ca D ep
om
or te c
Transp
10
Erosão de argila não consolidada
Deposição
Transporte em suspensão
sã o
1 p en
su s
a em
c arg
de
ão
o s iç
D ep
0,1
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
Argila Silte Areia Pedregulho Pedras britada
Diâmetro das partículas (mm)
DIAGRAMA DE HJÜLSTROM
No diagrama estão representadas curvas experimentais que tentam explicar a influência da velocidade do escoamento
e da dimensão dos materiais nos fenómenos de erosão, de transporte e de sedimentação.
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig. 2.69)
Ainda de acordo com Suguio, dos de desintegração da rocha- E no Tópico 1.1.2 que trata das
op. cit. p.58, no Tópico 1.1.1 de -matriz. interpretações geológicas das
seu livro, que trata da granulo- Analogamente, Bagnold distribuições granulométricas
metria, (1941) utilizou o comporta- (p.61), afirma também Kenitiro
“Os limites estipulados para mento hidrodinâmico na de- Suguio em seu livro:
as várias classes granulomé- finição da areia. Segundo esse “Os diferentes pesquisadores
tricas são mais ou menos ar- autor, a areia teria a capaci- que trataram da interpretação
bitrários mas, segundo Went dade de ‘acumulação espontâ- das distribuições granulomé-
worth (1933), as principais nea’, resultante da utilização tricas enfocaram a questão sob
classes granulométricas seriam do meio de transporte na reu- três ângulos distintos.
intimamente correlacionadas nião de grãos espalhados, dei- ... O primeiro grupo consi-
aos comportamentos básicos xando parte da superfície do derou as distribuições granu-
durante o transporte por água substrato isenta de partículas lométricas como um produto
corrente ou aos diferentes mo- sedimentares.” dos processos geradores de se-
36 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira
dimentos. Nesse caso, as distri- d’água devido ao cisalhamento sendo ρ a densidade da partícula
buições foram atribuídas prin- causado pelas tensões tangen- sólida, ρ a densidade da água, g
cipalmente aos materiais das ciais provocadas pela água em a aceleração da gravidade e dmax
áreas-fonte e aos produtos de escoamento. A erosão pode re- o diâmetro equivalente máxi-
sua desintegração. sultar também do atrito exercido mo da partícula sólida. Deve ser
... O segundo tipo de enfoque por materiais arrastados pelo es- lembrado que a água é tratada
consistiu em relacionar as dis- coamento que podem entrar em neste caso como fluido newto-
tribuições granulométricas aos choque com o leito e as margens, niano.
processos de transporte. Dessa tanto no caso newtoniano como O transporte das partículas re-
maneira, os mais grossos se- no não-newtoniano. movidas do leito e das margens
riam produtos de transporte A quantidade de detritos trans- (detritos) pode ser efetuado por
por tração e os mais finos por portados está relacionada com a solução ou suspensão das par-
saltação e suspensão. velocidade do escoamento. A in- tículas finas a muito finas, ou
... O terceiro grupo, talvez tensidade da erosão provocada por saltação, ou por tração (ro-
mais numeroso, realizou estu- pela carga sólida do curso d’água lamento ou arrastamento) das
dos empíricos de distribuição depende da quantidade de detri- partículas com dimensões maio-
granulométrica de sedimentos tos transportados e da sua “com- res, como já mencionado e ilus-
de vários ambientes deposicio- petência”, isto é, da capacidade trado na Figura apresentada no
nais para verificar as relações do curso d’água para transportar início da página 30. A velocidade
entre eles.” carga sólida. Essa competência é do escoamento necessária para
definida como a velocidade crí- provocar a erosão de um deter-
Nos escoamentos ao longo de
tica Vc do escoamento necessária minado detrito é maior do que a
cursos d’água realizam-se simul-
para que uma partícula sólida de necessária para o seu transporte,
taneamente os três tipos de ação
geológica – erosão, transporte e diâmetro máximo dmax possa ser isto é, para o manter em movi-
deposição – embora, de uma for- posta em movimento no leito do mento. A deposição ocorre pela
ma seletiva, possa predominar curso d’água, dada pelo “Critério acumulação dos detritos no leito
um ou outro dos tipos. de Shields”, uma complementa- e nas margens do rio.
ção do Diagrama de Hjülstrom,
A erosão é provocada pela re- A Figura seguinte é bastante
expresso pela condição
moção de partículas sólidas do ilustrativa dos mecanismos de
leito e das margens do curso Vc = 0,06 [(ρ-ρ)gdmax]1/2 transporte fluidodinâmico.
1 A hidrosfera e a litosfera
interagem para transportar
sedimentos nos rios. 6
2 A corrente que flui sobre um leito 4 As partículas se
À medida em que a velocidade
Atmosfera SISTEMA de cascalho, areia, silte e argila movem por saltação
da corrente aumenta, a carga
Hidrosfera CLIMÁTICO transporta uma carga de na superfície do leito
em suspensão cresce...
Litosfera suspensão de finas partículas...
SISTEMA DA
Astenosfera TECTÔNICA DE
PLACAS
Manto inferior
Núcleo externo
Núcleo interno
3 ... e uma carga de fundo de 5 ... e, com isso, aumenta o 7 Em uma determinada velocidade de corrente,
material que rola e desliza cisalhamento sobre o leito, gerando as partículas menores deslocam-se mais alto
sobre o leito. aumento da carga de fundo. e mais longe que os grãos maiores.
Com a diminuição da
inclinação ocorre o aumento
da deposição de sedimentos.
B
deposição dos sedimentos mais Da mesma forma, a deposi- genéticos, como mostrado na
finos carreados pelos rios, que ção dos sedimentos em maior figura seguinte que ilustra a
poderão ocorrer de forma mais escala poderá dar origem pos- relação entre os sedimentos e
específica no processo de forma- teriormente a rochas sedimen- as rochas sedimentares resul-
ção de meandros. tares, mediante processos dia- tantes.
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
DIAGRAMA DE HJÜLSTROM
EFEITOS DA NATUREZA propriedade conhecida por "vis- No trecho anular de uma cuba
NÃO-NEWTONIANA DOS cosidade", que se relaciona com contendo glicerina cuja parte
ESCOAMENTOS FLUVIAIS a maneira pela qual pode ocorrer central é posta em lento movi-
a deformação angular das suas mento de rotação, pode ser visu-
Todos os fluidos reais apre- partículas em escoamento, em alizada a deformação angular so-
sentam a particularidade de ofe- função das propriedades físicas frida por partículas do fluido nas
recer resistência à sua mudança e químicas inerentes à natureza fotos da página seguinte. Nesse
de forma, o que resulta da sua do fluido. caso, a deformação angular do
anual/2019 Revista Criacionista nº 100 39
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fluido (altamente viscoso) é pro- parede externa do disco circular viscosidade independente de ,
vocada apenas nas imediações da interno posto em movimento. sendo, portanto, “newtonianos”.
Por outro lado, fluidos que
apresentem viscosidade que seja
função da taxa de deformação
angular são chamados de "não-
-newtonianos". Grande número
de fluidos usuais em aplicações
da Engenharia Química, e mesmo
alguns em Engenharia Hidráuli-
ca e na Sedimentologia, são não-
-newtonianos. A variação de sua
viscosidade em função da taxa
de deformação angular ocorre
de diversas maneiras, podendo
também depender da natureza
Fotografia da cuba de glicerina visualizando a deformação angular das partículas das superfícies sólidas em contato
do fluido à medida em que a parede interna se desloca no sentido horário com o escoamento, e até mesmo
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Cinemática, Fig. 4.2)
da história prévia do escoamento.
A Figura acima visualiza o grande importância para a con- De maneira geral, os fluidos
conceito de “taxa de deformação ceituação da viscosidade do flui- não-newtonianos podem ser clas-
angular”, indicada por dγ/dt, de do em escoamento. sificados em três grandes grupos.
O primeiro engloba os fluidos em
que a taxa é função somente da
tensão τ. O segundo engloba os
fluidos em que a relação entre
e τ depende somente da história
prévia do escoamento. O tercei-
Indicação da deformação angular de partícula de fluido viscoso em escoamento ro grupo engloba os fluidos que
devido ao gradiente de velocidades sobre uma placa plana horizontal
Desenhos ilustrativos traçados sobre fotografia de escoamento linear apresentam características simul-
visualizado experimentalmente em cuba de pó de alumínio taneamente de fluidos newtonia-
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Cinemática, Fig. 4.4)
nos e de sólidos.
A “viscosidade” μ de um fluido água, por exemplo, a relação en- • Os fluidos do primeiro gru-
é definida como o fator de pro- tre a força tangencial por unida- po apresentam uma "viscosi-
porcionalidade entre a tensão de de área e a deformação angu- dade aparente" com significa-
tangencial τ (força tangencial lar será dada pela chamada “Lei do análogo ao da viscosidade
por unidade de área) e a taxa de de Newton” τ = μ com μ inde- propriamente dita, sob o pon-
deformação angular =dγ/dt, pendente da taxa de deformação to de vista do seu comporta-
resultando assim a sua expressão angular , e esses fluidos rece- mento nos escoamentos, e em
geral como τ = μ . A viscosidade bem o nome de “fluidos newto- geral são chamados de “flui-
μ de maneira geral é função da nianos”. dos não-newtonianos visco-
natureza do fluido, da tempera- Os fluidos ar e água, juntamen- sos”. Por essa razão é possível
tura, da pressão, e também da te com grande número de outros um tratamento geral para os
própria taxa de deformação an- fluidos usuais nas aplicações da fluidos newtonianos e para os
gular . Engenharia e da Geologia, nas fluidos não-newtonianos des-
Para escoamento de fluidos em condições usuais em que se dá o te primeiro grupo (também
que a viscosidade não dependa seu escoamento, podem ser con- chamados de “fluidos não-
da deformação angular, como a siderados como apresentando -newtonianos com viscosida-
40 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
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Observa-se que o escoamento ocorre somente após a atuação de uma “tensão de escoamento”
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig. 2.12)
Deve ser destacado que a ten- natureza do fluido, conforme Bingham”, caracterizados pela
são de escoamento τe é relevante ilustrado na Figura abaixo. existência de uma “tensão de es-
para a distinção entre o com- coamento” τe, descritos pela ex-
portamento do fluido como um pressão τ – τe = μ0 k n.
ζ
material sólido ou como um
fluido propriamente dito. São Dilatantes
as tensões tangenciais que man- Analogamente aos fluidos
têm a coesão entre as partículas pseudoplásticos, outros flui-
do material proporcionano seu dos existem que não apresen-
comportamento como sólido. tam tensão de escoamento e
têm como característica valores
Pseudoplásticos φ crescentes da relação τ/ em
Outros fluidos, tais como pas- função de , de tal modo que
tas de derivados de celulose, so- analiticamente a função τ=τ( )
luções de polímeros elevados e Pode ser definido como "visco- é expressa pela relação τ = k n
suspensões de partículas assimé- sidade aparente" μ0 desses flui- com n>1 e k constantes que de-
tricas (incluindo esmaltes, xaro- dos o quociente μ0 = τ/ = k n-1 pendem da natureza do fluido,
pes, melaço, sangue, suspensões onde a constante k é uma me- conforme indicado na Figura
de polpa de papel ou de areia em dida da consistência do fluido, abaixo. Para tais fluidos, bastan-
água, alguns óleos de silicone) de tal modo que, quanto maior
não apresentam tensão de esco- o seu valor, tanto mais viscoso é
ζ
amento τe e têm como caracte- o fluido. A constante n é indica-
rística valores decrescentes para tiva do grau de afastamento do
a relação τ/ em função da va- comportamento do fluido pseu-
riação de . Analiticamente, para doplástico relativamente ao do
eles, a função τ=τ( ) pode ser fluido newtoniano.
expressa como τ = k n com n<1 Observa-se que existem tam-
φ
e k constantes que dependem da bém os “Pseudoplásticos de
anual/2019 Revista Criacionista nº 100 41
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te menos comuns que os fluidos . A viscosidade aparente dos tinta de impressão, pasta de
pseudoplásticos, valem as mes- fluidos deste grupo depen- gesso), e quando a viscosi-
mas observações anteriormente de não somente de como dade aparente diminui, são
feitas quanto à sua viscosidade também do tempo durante denominados “Tixotrópi-
aparente. o qual τ permanece aplicado. cos” como, por exemplo, ar-
• Os fluidos não-newtonianos No caso em que a viscosida- gilas do tipo da bentonita e
do segundo grupo mencio- de aparente aumenta com a da montmorilonita, algumas
nado não podem ser descritos aplicação de tensões, esses tintas, gelatinas, pectina, al-
por uma expressão analítica fluidos recebem a denomina- guns géis e suspensões coloi-
simples ligando entre si τ e ção de “Reopécticos” (como dais.
• Como exemplo de fluidos do terceiro grupo, denominados “Vis- certamente não poderão ser tra-
coelásticos”, tem-se o piche, que apresenta certo comportamento tados como sendo newtonianos
elástico, como sólido, apesar de poder também ser considerado os escoamentos fluviais em que
como um fluido newtoniano bastante viscoso. as águas levem consigo argila,
lama em geral, fragmentos de
rocha encontrados nos conglo-
merados (incluindo areia), e de-
tritos orgânicos.
Muita cautela deve ser tomada,
então, no tratamento analítico a
ser dado para o estudo hidrodi-
nâmico desses fluidos em escoa-
mento e também nas aplicações
práticas que envolvam suas pro-
priedades viscoelásticas, tixotró-
picas e reopécticas.
Esta observação deve sem-
pre ser tida em mente nos casos
Uma batida rápida ocasiona a sua desses escoamentos fluviais não
O piche apresenta características de fluido ruptura, evidenciando também
viscoelástico à temperatura ambiente suas características de sólido. newtonianos, especialmente ao
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig. 2.9) se estudar a sedimentação fluvial
com características tixotrópicas
O tratamento analítico do trabalhoso, e constitui um ca- e viscoelásticas que se observam,
comportamento dos fluidos não- pítulo especial da Mecânica dos por exemplo, no processo de
-newtonianos dos dois últimos Fluidos — a “Reologia”. formação de depósitos fluviais,
grupos (Reopécticos, Tixotrópi- Em face dessas poucas consi- lacustres e deltaicos de diversos
cos e Viscoelásticos) é bastante derações, podemos concluir que tipos.
42 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira
e também acessar o “Relatório do De maneira similar, a integra- Em uma linha de corrente cur-
Painel de Especialistas sobre as ção da Equação de Euler na dire- va em um escoamento bidimen-
Causas Técnicas do Rompimento ção normal às linhas de corrente sional, a distribuição das veloci-
da Barragem” constante da Bibli- do escoamento leva à expressão dades é dada pela expressão VR
ografia citada no final deste artigo. p + ρgz = ρ(V2/R), sendo (como = constante, resultando então
no caso anterior) p a pressão es- que a distribuição das pressões
FORMAÇÃO DE tática, ρ a densidade do fluido, será dada por
MEANDROS E g a aceleração da gravidade, z a Δp = (p – p0) / [(ρ/2)V02] =
SEDIMENTAÇÃO FLUVIAL cota a partir de um nível de re-
ferência arbitrariamente fixado, =1 – (Vφ/V0)2
Abordagem hidrodinâmica V a velocidade do escoamento sendo V0 a velocidade média na
No estudo dos escoamentos de no ponto considerado sobre a secção da curva que esteja sen-
fluidos newtonianos é bastante linha de corrente, e R o raio de do considerada, como mostrado
conhecida a “Equação de Ber- curvatura da linha de corrente abaixo para um exemplo numé-
noulli” aplicada a escoamentos no mesmo ponto. rico.
em dutos e também com super-
Vφ / V0 Δp / ρ(V02 / 2)
fície livre, válida dentro de con-
dições de regime permanente,
incompressibilidade e ausência de
perdas devidas ao efeito da rota-
φ
cionalidade.
Essa equação é obtida a partir da φ
chamada “Equação de Euler” me-
diante sua integração ao longo das
linhas de corrente do escoamento, Distribuição das velocidades e das pressões no escoamento
levando à expressão p+ρgz+(ρ/2) através de uma curvatura bidimensional
V2 = constante, que nada mais é
do que o Princípio da Conserva- Ilustra-se nas duas primeiras fi- to das linhas de corrente do escoa-
ção da Energia para esse caso. guras da página seguinte o aspec- mento newtoniano bidimensional
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Sociedade Criacionista Brasileira
Q/5
Q/5
Q/5
Q/5
Q/5
(especialmente de fluidos não- Q/5
Q/5
-newtonianos) existem numero- Q/5
sos efeitos secundários que afetam
essas distribuições de velocidades,
pressões e linhas de corrente.
φ
A formação de escoamentos
secundários de fluidos reais, ro-
tacionais de fluidos newtonianos, V0
em regime permanente, em cur- ESCALA
vas ou cotovelos é ilustrada nas Vφ = 1 m/s
quatro figuras seguintes, à direita. Escoamento na secção
Escoamento uniforme antes da curvatura indicada da curvatura
Em casos de escoamentos re-
Linhas de corrente e perfil de velocidades no escoamento irrotacional
ais, rotacionais, em regime per- (Atlas, Módulo Dinâmica)
manente ou não, e em fluidos
newtonianos ou não, como no A-A A-A
processo de formação de mean- A A
dros no caso dos escoamentos
fluviais (com superfície livre) A A
que provocam erosões e sedi-
mentações, os escoamentos se-
cundários são ilustrados nas Fi-
guras ao lado.
(a) (b) (a) (c)
Fica claro, do que foi exposto, Visualização das distribuições de velocidades em trecho de escoamento
que a formação de meandros flu- curvilíneo em dutos com secção retangular e circular
viais é o resultado da ocorrência
de escoamentos secundários nos coamento curvilíneo, formando po repetidamente em função do
trechos curvilíneos dos rios, que nesta última as chamadas “bar- regime de cheias dos rios, com
ocasionam um processo de ero- ras de meandro”. escoamentos não-newtonianos,
são e deposição de sedimentos Nesses processos hidrodinâ- podem ser formadas anualmente
respectivamente na margem ex- micos de grande intensidade extensas barras de meandro com
terna e na margem interna do es- que ocorram ao longo do tem- camadas sedimentares que se so-
Zona de inundação
Fluxo principal
Barras de meandro de meandro
Zona de erosão
Zona de sedimentação
Esquemas ilustrativos da hidrodinâmica da formação sucessiva de meandros e barras de meandros
(Figuras do Exercício 2 do Tópico 4.2 do Módulo Dinâmica e Figura 4.16
no Tópico 4.3 do Módulo Cinemática do Atlas de Mecânica dos Fluidos)
breponham repetidamente, com te, areia fina, areia grossa ou ... O modelo mais provável de
numerosas subcamadas forma- cascalho que se depositam em formação de barras de mean-
das durante episódios correspon- água com pouca energia e sem dro está resumido no esquema
dentes a cada um dos vários perí- competência de transporte, indicado abaixo, com a conjec-
odos da época das cheias anuais. quer dentro do leito de um rio tura básica de que um escoa-
turbilhonante, quer na parte mento ou um rio meandrifor-
Abordagem geológica sedimentar convexa de um meandro e que, me representa um equilíbrio
Na Geologia Sedimentar, esses mais tarde, podem ser fossiliza- entre:
leitos são denominados “barras dos, lateralmente, por tampões (i) Os efeitos da fricção e a
de meandro” e considerações a argilosos e, verticalmente, por
inércia do escoamento da
seu respeito são descritas e trans- sedimentos marinhos trans-
água e
critas a seguir tendo como fonte a gressivos
Referência encontrada na publi- (ii) A tendência natural que a
As desconformidades que
cação "Estratigrafia Sequencial, água tem a seguir o trajeto
separam os tampões argilosos,
nos tópicos Barra de Meandro mais curto e de maior de-
depositados durante os perío-
(Fóssil) e (Modelo Geológico)", clive.
dos de abandono do meandro
que pode ser acessada no Arqui- (lagos de meandro) não corres- Nas regiões pouco ricas em
vo 4: pondem a discordâncias (su- sedimentos, os rios têm tendên-
perfícies de erosão), uma vez cia a formar canais semicircu-
Estratigrafia Sequencial que na evolução de um mean- lares nos quais o fluxo mais rá-
Barra de Meandro dro há, ao mesmo tempo, ero- pido se localiza na parte central
- Fóssil; são e deposição. como se o canal fosse retilíneo.
- Modelo Geológico.
RC100-ARQUIVO 4
Barra de Meandro
(acreção lateral)
Preenchimento de
Leque de meandro
canal abandonado
(acreção vertical)
Rio
Barra de Meandro
Barra (acreção lateral)
de
Rio Meandro
Depósito residual
Esquema da formação de Barras de Meandro
Quando o canal é curvo, meandro, como o escoamento obriga o leito do rio (canal) a
como acontece a maior parte da água é fraco (água frou- migrar em direção do banco
das vezes, a inércia empurra a xa), uma parte dos sedimen- côncavo até que se forme um
zona de escoamento mais rá- tos transportados deposita-se atalho de meandro, isto é, uma
pido contra o banco côncavo, formando uma barra de me- passagem direta da corren-
o qual é erodido criando um andro. te entre dois bancos côncavos
banco de erosão. Ao contrário, A erosão no banco côncavo e consecutivos, o que isola a bar-
junto do banco convexo do a deposição no banco convexo ra de meandro, entre os dois
(ii) Meandros encaixados ou de e que, “na região central dessas de meandro formados nas par-
vale, que tem as suas curvas bacias estabeleceu-se um siste- tes do leito fluvial meandrante
coincidentes com o traçado ma fluvial meandrante com uma abandonado.
topográfico do vale. ampla planície de inundação, Bacias de acumulação podem
O termo ‘vale’ corresponde onde ocorriam lagos perenes e ser formadas quer em obras
aqui à depressão da superfície temporários”. de contenção de enchentes em
terrestre, alongada, relativa- Em seguida, foram dadas in- centros urbanos densamente
mente estreita e inclinada, que formações sobre os processos de povoados, quer em depressões
pode ser ou não ocupada por hidro-abrasão, incluindo con- geográficas em que pode haver
um curso de água ao longo do siderações sobre a relação entre condições de retenção de águas
qual se podem diferenciar: a intensidade dos processos e o pluviais que carreiam os mais
a) A cabeceira (borda supe- tempo para a ocorrência de seus variados tipos de depósitos alu-
rior); efeitos. Em continuação, foram viais, dando origem a vários am-
dadas informações sobre os pro- bientes de sedimentação como,
b) A desembocadura (borda por exemplo, fluviais e lacustres
cessos de sedimentação em geral
inferior); (incluindo planícies aluviais ou
e a interação dinâmica entre os
c) Os flancos ou ladeiras (os processos de erosão, transpor- planícies de inundação de várze-
lados) e te e sedimentação nos escoa- as), lagunares, estuarinos e del-
d) O talvegue, que correspon- mentos fluviais, ressaltando-se taicos.
de, praticamente à parte a importância do Diagrama de No Tópico “Fácies de Vales
mais profunda do leito da Hjülstrom para a compreensão Fluviais” de seu livro “Geologia
corrente.” dos processos. Ficou claro que Sedimentar”, Kenitiro Suguio
o processo de sedimentação flu- (Op. cit., pp. 233 e seguintes)
Certamente a abordagem hi- vial é dinâmico e que as camadas apresenta importantes informa-
drodinâmica da formação de sedimentares resultantes desse ções sobre depósitos aluviais,
meandros e da sedimentação processo formam-se sincroni- mostrando a sua classificação
fluvial complementa bastan- camente. Logo em seguida, fo- aceita modernamente em três
te bem e enriquece essa abor- ram feitas observações sobre a grupos principais:
dagem geológica sedimentar, natureza dos fluidos reais, par-
abrindo maior horizonte para a • “Depósitos de canal, forma-
ticularmente sobre os fluidos dos pela atividade do canal,
compreensão do fenômeno da não-newtonianos, que abran-
formação de meandros. Ambas incluindo os depósitos residu-
gem grande gama de tipos que ais de canal, de barras de me-
fornecem importantes subsídios podem corresponder a misturas
para a aplicação final visada por andros, de barras de canais e
de água com partículas sólidas de preenchimento de canal;
este artigo, nas considerações se- de diferentes dimensões, forma-
guintes. • Depósitos marginais, origi-
tos e propriedades físicas, como nados nas margens de ca-
acontece em águas pluviais que nais, durante as enchentes,
HIDROGRAMAS, BACIAS carreiam lama e detritos de na-
DE ACUMULAÇÃO E incluindo os depósitos de di-
turezas mais variáveis possíveis. ques marginais (ou naturais)
PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO
Abordou-se, então, a hidro- e de rompimento de diques
Ao ser apresentada uma visão dinâmica da formação de me- marginais;
geopaleontológica da Bacia do andros e agora será mostrado • Depósitos de planícies de
Rio do Peixe, ficou bem desta- como se comportam os escoa- inundação, essencialmente
cado que, “ao longo das bordas mentos hídricos em regime va- compostos por sedimentos
falhadas da bacia, a deposição riável com superfície livre, no finos depositados durante as
consistia de leques aluviais, mo- caso de bacias de acumulação, grandes enchentes, quando
dificando-se distalmente para em conexão com a sedimenta- as águas ultrapassam e/ou
sistemas aluviais entrelaçados” ção que pode ocorrer em lagos rompem os diques naturais,
anual/2019 Revista Criacionista nº 100 49
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correspondendo aos depósi- da vazão afluente Q1 mas também Essa função ϕ(Q2) descreve o
tos de planícies de inundação das características fisiográficas da importante papel regularizador
e aos paludiais (ou palus- região inundada, que influem no que desempenham reservató-
tres).” valor da variação de h em função rios de acumulação utilizados
Considerando a finalidade des- do volume armazenado (ou seja, para o combate aos efeitos mui-
te do artigo, serão levados em de dvol/dh) e dependendo tam- tas vezes desastrosos de enchen-
conta aqui apenas os depósitos bém da maneira pela qual varia tes urbanas, motivo pelo qual
de planícies de inundação, em a altura da lâmina d'água h em recebe o nome de “função de
conexão com a interpretação hi- função da vazão efluente Q2 (ou moderação”.
drodinâmica dos icnofósseis que seja, de dh/dQ2) na crista de um O tratamento matemático da
é o objetivo que se tem em vista. dique natural ou de um vertedor. função ϕ(Q2) é laborioso e pode
Assim, para melhor compre- A influência desses fatores in- ser encontrado em textos aca-
ender o papel moderador que as tervenientes pode então ser dada dêmicos que tratam do estudo
planícies de inundação exercem por uma função ϕ(Q2) expressa fluidodinâmico das vazões in-
na hidrodinâmica fluvial, com a formalmente pela notação tervenientes aplicando a chama-
consequente forma de deposi- da “Equação da Continuidade”,
ção do material carregado pelos ϕ(Q2) = (dvol/dh) (dh/dQ2). que nada mais é do que a ex-
rios, será feita a seguir uma bre-
ve análise hidrológica (usual na
Hidráulica Fluvial) do balanço
das vazões envolvidas no proces-
so dos escoamentos que podem Q1 dvol/dt
ocorrer durante períodos de en-
chentes e vazantes fluviais.
Então, chamando de Q1 a va- Q2
zão afluente (que alimenta o
reservatório de acumulação ou
a bacia fluvial), variável em fun- ESQUEMA ILUSTRATIVO DO BALANÇO DE VAZÕES
EM UM RESERVATÓRIO DE ACUMULAÇÃO
ção do tempo, e de Q2 a vazão Q1 = Vazão afluente Q2 = Vazão efluente dvol/dt = variação do volume de água retido
efluente (que é descarregada do
reservatório ou bacia), também
Q
variável em função do tempo, o Q1max dQ1 / dt=0
dQ2/dt=0
dQ1/dt=0
dQ1/dt=0
dQ1/dt=0
dQ2/dt=0
dQ1/dt=0
dQ1/dt=0
ção do tempo.
Todas essas variações em fun- HIDROGRAMAS PARA A APLICAÇÃO DA EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE
A RESERVATÓRIOS DE CONTROLE DE ENCHENTES
ção do tempo ocorrem depen- Em vermelho, vazão afluente, em azul, vazão efluente
dendo não somente da variação (Atlas, Módulo Cinemática, Fig. 3.10)
Orcau 16 LT 20
N OrE
OrW 14 LB
17
BTN TDN
OR 13 15 18
Suterranya 12 BTS Basturs
St SC 21
19 TDS
BWA BP
Sinclinal de Tremp
Trem
p
BWB
4,5 K
m Sant Roma
d'Abella
Figuerola
d'Orcau
Anticlinal de Isona
CS
Isona
MR Conques
22
LTs BGN
24
23
BGS
Falha Rio
Falha Estrada
de empurrão
Basturs
Sinclinal Núcleos urbanos
Anticlinal Escala 5 km
5 km
Inclinação do Local de trilhas
eixo da dobra 1 de pegadas
Calcário Calcário
Lutitos vermelhos e variados
A título de ilustração adicional sobre pegadas uma excursão ao Parque Nacional de Toro-
fósseis de dinossauros, informamos a nossos -Toro e efetuou uma filmagem in loco que deu
leitores que, antecipando a realização do XII origem a um vídeo sobre as trilhas de pegadas
Seminário "A Filosofia das Origens" da SCB em de dinossauros existentes naquele local.
maio de 2012 em Cochabamba, na Bolívia, a Esse interessante vídeo pode ser acessado pelo QR-
equipe de palestrantes da SCB participou de Code na página seguinte.
A B
RC100-VÍDEO 11
ras de meandros que podem ser fluvial. Neste caso, a trilha de pe-
observadas na parte convexa dos gadas forma-se sobre sedimen-
Íntegra do artigo de meandros – ou seja, nas cinco tos ainda submersos em lâmina
Bernat Vila et all. bordas externas do trecho fluvial d’água da lagoa resultante do
considerado – onde são deposi- isolamento do antigo trecho do
RC100-ARQUIVO 5
tados os sedimentos em camadas meandro, que foi abandonado.
A partir do que foi exposto sucessivas durante os episódio Esses esquemas, por si sós, são
quanto à formação das barras de de cheias sazonais. extremamente elucidativos do
meandros, e das observações efe- A título de ilustração mostram- que poderia ter ocorrido na Ba-
tuadas in loco no “Vale dos Di- -se também três trilhas de dinos- cia de Sousa para dar origem aos
nossauros” em Sousa, bem como sauros saurópodos, formadas so- icnofósseis hoje lá encontrados,
de recentes pesquisas efetuadas bre camadas sedimentares mais e as considerações outras feitas
na Espanha com relação a trilhas recentes, ainda não litificadas. neste artigo contextualizam as
de hadrossauros na “Formação O segundo esquema represen- condições em que as pegadas
Tremp”, é possível propor es- ta um panorama da formação de teriam sido formadas e fossili-
quemas que ilustrem como po- trilha de pegadas em duas situa- zadas.
deriam ter sido formadas essas ções distintas. À esquerda, a for- Em resumo, as pegadas pode-
trilhas em camadas sedimenta- mação sobre terreno em avan- riam ter se formado em planí-
res em processo de litificação em çado estado de consolidação, cies fluviais meandrantes após a
bacias fluviais sujeitas a cheias em borda externa de meandro. temporada das cheias anuais, em
anuais periódicas. À direita, a formação em braço época relativamente recente, em
O primeiro esquema represen- de meandro abandonado devido que dinossauros e seres huma-
ta a formação das sucessivas bar- à mudança de posição do leito nos conviveram.
TENTATIVA DE RECONSTRUÇÃO DA FORMAÇÃO DE TRILHAS DE HADROSSAUROS
EM DEPOSIÇÕES FLUVIAIS DA FORMAÇÃO TREMP
Depósitos de depressão
Ambientes sedimentares com barras de meandros
Barras de meandros
entrelaçados
Canal fluvial ativo
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RC100-ARQUIVO 6