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MORFOLOGIA E BREVE
CATASTROISMO CONTRIBUIÇÃO PARA
A INTERPRETAÇÃO
Neste artigo são feitas considerações
hidrodinâmicas a respeito da formação de
meandros fluviais periodicamente por ocasião

HIDRODINÂMICA
de cheias em planícies aluviais.
Considera-se, em particular, a Bacia do
Rio do Peixe, no Estado da Paraíba, onde são

DA FORMAÇÃO DE
registrados icnofósseis na "Formação Sousa".
Essa formação geológica caracteriza-se
principalmente por lamitos, argilitos e folhelhos
marrom escuro, apresentando estratificações
plano-paralelas, marcas de ondas e gretas de
contração em abundância, além de pegadas de
dinossauros.
PEGADAS NA BACIA
A partir da análise hidrodinâmica das
estratificações, apresenta-se um modelo para
a interpretação da formação das trilhas de
DO RIO DO PEIXE
pegadas de dinossauros encontradas na região.
EM SOUSA - PB
INTRODUÇÃO bro de 2018, com o título “85
Pegadas de dinossauros bem

N otícias sobre pegadas de


dinossauros frequentemen-
te têm sido veiculadas pela im-
preservadas são encontradas na
Inglaterra - Até garras, escamas
e pele podem ser vistas em deta-
prensa escrita, falada e visualiza- lhes das descobertas” apresenta
da, apresentando interpretações mais objetividade e tem o mérito
fantasiosas a respeito de sua for- de chamar a atenção para alguns
mação, até mesmo publicando aspectos nem sempre levados em
meras opiniões de pessoas que se conta na interpretação das pega-
dizem cientistas, sem qualquer das fósseis.
embasamento que se pudesse
considerar como verdadeira- Revista Galileu,
mente científico. globo.com, Ciência, notícia
Ruy Carlos de - 2018/12/85 - Pegadas
Camargo Vieira São numerosas as notícias que de dinossauros bem
nada explicam e tão somente preservadas são encontradas
Ex-Presidente da SCB trazem visão errônea da inter- na inglaterra RC100-ARQUIVO 1
pretação da realidade, com pres-
supostos implícitos considera- “Pesquisadores encontraram
dos como verdades científicas, 85 pegadas de dinossauros
mas destituídos da objetividade quase intactas na costa da In-
e rigor exigidos pelo método glaterra. Os sinais foram dei-
Marcos Natal de científico. xados por 13 espécies diferentes
Souza Costa Entretanto, a notícia que será que viveram no Cretáceo Infe-
transcrita a seguir, publicada rior, período entre 145 milhões
Atual Presidente da SCB
pela Revista Galileu de dezem- e 100 milhões de anos atrás. As
22 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira

cisam estar certas: o assoalho


FOTO: UNIVERSITY OF CAMBRIDGE

tem que ser macio e um pou-


co úmido. À medida que o solo
seca e endurece, a impressão é
'fixada' e, ao longo do tempo,
coberta por camadas de sedi-
mentos que a protegem contra
a erosão. Quando as camadas
são erodidas, as pegadas são
reveladas. 
‘Você pode ver a textura da
pele e escamas, assim como
Marcas de pegadas de dinossauros marcas de garras de quatro de-
dos, que são extremamente ra-
impressões são tão bem pre- do, em comunicado. ‘Uma cole- ras’, detalhou Shillito. ‘Para ter
servadas que garras, escamas ção de pegadas como esta ajuda ideia sobre quais dinossauros
e até pele podem ser vistas em a preencher algumas lacunas e fizeram as pegadas, é preciso
detalhes. inferir coisas, como que os di- compará-las com outros fós-
De acordo com Shillito & nossauros estavam vivendo no seis, o que permite identificar
Davies (2019), as  pegadas são mesmo lugar ao mesmo tempo.’ as semelhanças.’
de herbívoros como iguanos-
sauros, anquilossauros, este- Para que pegadas possam ser A descoberta também expan-
gossauros e saurópodes. Há preservadas, as condições pre- de o conhecimento da  diversi-
também sinais de terópodes

FOTO: UNIVERSITY OF CAMBRIDGE


carnívoros. No geral, elas têm
tamanhos que variam entre 2 e
60 centímetros.
Os registros foram encontra-
dos na floresta de Ashdown no
condado de East Sussex, sul da
Inglaterra, onde há  penhascos
de arenito de milhões de anos,
nos quais outras pegadas de di-
nossauros já foram identifica-
das. A descoberta, no entanto,
difere das restantes pela quan- Vestígios de pele de Iguanossauro
tidade e representa uma van-
tagem para paleontólogos, que
FOTO: UNIVERSITY OF CAMBRIDGE

poderão entender o quão povo-


ada era a região no passado. 
‘Fósseis de dinossauros de
corpo inteiro são raros. Geral-
mente você só encontra peque-
nos pedaços, que não dizem
muito sobre como estes bichos
podem ter vivido’, disse An-
thony Shillito, da Universidade
de Cambridge, no Reino Uni- Pegada quase intacta de Anquilossauro

anual/2019 Revista Criacionista nº 100 23


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dade de dinossauros na região ser “ao longo do tempo, cober- Da mesma forma, outra decla-
durante o Cretáceo Inferior, ta por camadas de sedimentos ração importante do artigo é a de
com base nas trilhas preserva- que a protejam contra a erosão” que as pegadas formadas sob as
das. Além disso, pode ajudar a constitui uma declaração de im- condições anteriores podem ser
pesquisa de Shillito, que preten- portância para a análise das pe- reveladas posteriormente, quan-
de saber o efeito que esses bichos gadas fósseis onde quer que elas do forem erodidas as camadas de
tiveram sobre cursos aquáticos.  possam vir a ser encontradas. sedimentos que as encobriram
‘Dado o tamanho de muitos O artigo deixa entrever clara- ao longo do tempo.
dinossauros, é provável que te- mente, também, a relação entre Feitos esses comentários sobre
nham afetado os rios de forma “rastros de pegadas fósseis en- o artigo divulgado pela Revista
semelhante, mas é difícil afir- contradas ao longo das margens Galileu a título de introdução ao
mar, visto que a maioria das pe- dos canais de rios” e fenômenos tema proposto para esta contri-
gadas teria sido levada embora’, de deposições sedimentares de buição à interpretação hidrodi-
afirmou o especialista.  ‘No en- origem fluvial, certamente na nâmica da formação de pegadas
tanto, vemos algumas evidências formação das chamadas “barras de dinossauros, em seguida serão
em menor escala de seu impacto. de meandro” (sendo, entretanto, abordados aspectos de interesse
Em algumas das pegadas mais muito improvável que “dinos- sobre as pegadas de dinossauros
profundas é possível ver que ma- sauros tenham influenciado a encontradas na Bacia do Rio do
tas estavam crescendo. Também formação destes canais”) Peixe, em Sousa, PB, tais como
encontramos rastros de pegadas
ao longo das margens dos canais TABELA CRONOESTRATIGRÁFICA INTERNACIONAL
SUBDIVISÕES DO PERÍODO CRETÁCEO
do rio. É possível que dinossau-
Sistema / Período Série / Época Andar / Estágio Idade (Ma)
ros tenham influenciado a for-
PALEÓGENO PALEOCENO DANIANO MAIS RECENTES
mação destes canais’.”
66,0 -
Maastrichtiano
Com relação ao artigo que foi 72,1
transcrito, pode-se comentar ini- Campaniano
72,1 -
cialmente que, evidentemente, a 83,6
mencionada datação do Período 83,6 -
Santoniano
Cretáceo (e dos penhascos de 86,3
Superior
arenito com seus supostos mi- 86,3 -
Coniaciano
89,8
lhões de anos) obedece ao padrão
89,8 -
convencional estabelecido para a Turoniano
93,9
chamada “Coluna Geológica”,
93,9 -
que merece críticas que fogem ao Cenomaniano
100,5
escopo desta contribuição para a Cretácio
100,5 -
intepretação hidrodinâmica da Albiano
~ 113,0
formação das pegadas fósseis e, ~ 113,0 -
Aptiano
assim, não serão aqui considera- ~ 125,0
das por não afetarem a objetivi- ~ 125,0 -
Barremiano
dade desta contribuição. ~ 129,4
Inferior
Em seguida, pode-se destacar ~ 129,4 -
Hauteriviano
~ 132,9
que o parágrafo do artigo que
~ 132,9 -
menciona as condições necessá- Valanginiano
~ 139,8
rias para que as pegadas possam
~ 139,8 -
ser preservadas, como “o assoa- Berriasiano
~ 145,0
lho macio e um pouco úmido” JURÁSSICO SUPERIOR TITHONIANO MAIS ANTIGO
para que o solo seque e endureça
Subdivisão do Cretáceo de acordo com a Tabela Cronoestratigráfica Internacional versão 2015/1 Comissão Internacional sobre Estratigrafia
e a impressão possa ser fixada e
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os efeitos da hidro-abrasão e da sede do município e 420 km da Os depósitos aí encontrados


cavitação em rochas, a natureza capital do Estado, João Pessoa. refletem um controle direto da
não-newtoniana dos escoamen- Nela encontram-se rastros e sedimentação pela atividade
tos fluviais, a formação de me- trilhas fossilizadas de mais de 80 tectônica. Ao longo das bordas
andros e a sedimentação fluvial espécies, em cerca de 20 níveis falhadas das bacias, a deposi-
com as abordagens da hidro- estratigráficos. Destacam-se as ção consistia de leques aluviais,
dinâmica fluvial e da geo­ logia trilhas das localidades da Passa- modificando-se distalmente para
sedimentar. A partir do relacio- sistemas aluviais entrelaçados.
gem das Pedras, onde foram des-
namento entre erosão, transpor- Na região central dessas bacias
cobertos os primeiros indícios
te e sedimentação com base no estabeleceu-se um sistema flu-
de  dinossauros brasileiros, no
diagrama de Hjülstrom aplica- vial meandrante com uma am-
fim do século XIX.
do à interpretação da formação pla planície de inundação, onde
de barras de meandros fluviais, Em toda a região, encontram-se ocorriam lagos perenes e tempo-
serão considerados os hidrogra- rastros fossilizados cujo tamanho rários (Carvalho, 2000a).
mas em bacias de sedimentação varia de 5 cm, de um dinossauro
A relevância paleontológica e
e, finalmente, a icnologia em me- do tamanho de uma galinha, até
geológica das Bacias de Sousa e
andros de paleoambientes sedi- 40 cm, como as pegadas de igua-
Uiraúna – Brejo das Freiras está
mentares fluviais. nodonte de 4  toneladas, 5  me-
na abundância de icnofaunas di-
Não deve ser esquecido que este tros de comprimento e 3 metros
nossaurianas que representam
de altura. A maioria das pega-
artigo está sendo escrito preci- parte de um amplo megatrack-
puamente sob a perspectiva flui- das é de dinossauros carnívoros. site do início do Cretáceo (Via-
dodinâmica dos escoamentos, Uma trilha com 43 metros em na et al., 1993; Carvalho, 2000a)
pretendendo destacar aspectos linha reta é a mais longa que se estabelecido durante os estágios
relacionados com a Hidráulica conhece no mundo. iniciais da abertura do Atlântico
Fluvial normalmente abordada Conforme Leonardi & Carva- Sul.
em cursos de Engenharia, e não lho (2002), as bacias de Sousa e Nesta região foram encontra-
sob a perspectiva da Geologia Uiraúna – Brejo das Freiras são dos 22 sítios icnofossilíferos com
Histórica convencional que acei- consideradas bacias intracratô- mais de 395 indivíduos dinos-
ta a “Tabela Cronoestratigráfica nicas do Nordeste do Brasil que saurianos.” (N.E. - Destaques
Internacional”, como útil ferra- se desenvolveram ao longo de li- inseridos).
menta operacional. neamentos estruturais pré-exis-
De acordo com Ferreira et al.,
tentes do embasamento, durante
A BACIA DO RIO DO PEIXE 2017, a Formação Souza possui
a abertura do Oceano Atlântico.
origem em um sistema fluvial
Aspectos Gerais A idade desses depósitos, base-
meandrante de baixa energia,
ada em material polínico, é ca-
A Bacia Sedimentar do Rio com fácies típicas de inundação
racterística dos andares locais de
do Peixe compreende uma área lacustre em superfície (Rocha &
Rio da Serra [Berriasiano (Cretá-
de mais 1.730 km², abrangendo Amaral, 2006; Lima Filho, 1991;
ceo Inferior) ao Hauteriviano) e Silva, A. N., 2009)”. N.E. – (N.E.
aproximadamente 30 localida-
Aratu (Barremiano inferior) se- - Destaques inseridos).
des no alto sertão da Paraíba, en-
gundo dados de Lima e Coelho
tre elas os municípios de Sousa,
(1987) e Regali (1990)]. (N.E. - Estratigrafia
Aparecida, Marizópolis,  Vieiró-
polis, São Francisco, São José da Ver “Tabela Cronoestratigráfica A bacia do Rio do Peixe está
Lagoa Tapada,  São João do Rio Internacional”, na página ante- dividida nas sub-bacias Bre-
do Peixe, Santa Cruz, Santa He- rior). jo das Freiras, Sousa e Pombal,
lena, Nazarezinho, Triunfo,  Ui- A sedimentação nestas bacias cuja geometria interna é forma-
raúna e  Cajazeiras. Os registros foi controlada por processos tec- da por um conjunto de meio-
mais importantes estão no muni- tônicos regionais (Lima Filho, -grabens assimétricos (Franço-
cípio de Sousa, distando 7 km da 1991; Lima Filho et al., 1999). lin et al., 1992). O controle do
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arcabouço estrutural destas sub-


Legenda
-bacias foi exercido pelo arranjo Bacia do Rio do Peixe
dos elementos tectônicos pree- Limite do Estado da PB
xistentes, tais como as falhas de
Malta de direção leste-oeste e de
Portalegre de direção nordeste-
-sudoeste. N

0 50 100

Françolin et al. dividiram a Poço Dantas km

estratigrafia da Bacia do Rio do Bernadino Batista


Peixe, da base para o topo, nas Santarém Lastro Santa Cruz
formações Antenor Navarro, Uiraúna
Poço de José de Moura Vieirópolis
Sousa e Rio Piranhas. A Forma-
ção Antenor Navarro é compos- Triunfo São Francisco
ta na base por conglomerados de
grãos imaturos, passando gra- Santa Helena São João do Rio do Peixe
dualmente em direção ao topo a
Sousa Aparecida
grãos finos e micáceos intercala-
Bom Jesus
dos com argilitos, caracterizan-
do uma passagem gradual dos
sistemas de leque aluvial, fluvial Cachoeira dos Índios Cajazeira
típico e à lacustre. Essas rochas
foram depositadas diretamente 250 300 350 400 450 500 550
sobre o assoalho cristalino, num 600 650 700 750 800 850 900
regime de desenvolvimento flu-
vial contemporâneo às primeiras Bacia do Rio do Peixe no Estado da Paraíba e
indicação da área sedimentar entre S. João do Rio do Peixe e Sousa
atividades tectônicas.
A Formação Sousa possui uma Na localidade de Passagem das metros de espessura (Srivastava
espessura máxima de 800 metros Pedras, conhecida como Vale & Carvalho, 2002).
na sub-bacia Sousa, podendo dos Dinossauros, a Formação É composta predominante-
atingir na sub-bacia Brejo das Sousa é formada principalmente mente por arenitos grossos a
Freiras uma profundidade de por lamitos, argilitos e folhelhos conglomeráticos, feldspáticos e
até 1900 metros (MME/CPRM, marrom escuro, apresentando líticos, mal selecionados, com
2008; Nogueira et al., 2004). estratificações planoparalelas, coloração cinza claro ou mar-
Caracteriza-se pela predomi- marcas de ondas e gretas de con- rom avermelhado, possuindo in-
nância de siltitos e folhelhos tração em abundância, além de tercalações de arenitos médios a
vermelhos amarronzados, in- pegadas de dinossauros. Os sen- finos e siltitos. Geralmente apre-
tercalados com arenitos finos tidos de paleocorrentes mais ex- sentam estratificações cruzadas
(calcíferos) a médios, além de pressivos naquele local são para acanaladas de médio porte e,
margas e calcários. São comuns sudeste e sudoeste. mais raramente, marcas de onda.
argilitos intercalados com ní- A Formação Rio Piranhas re- O sentido dominante das paleo-
veis carbonáticos com vários presenta a unidade superior correntes é para norte.
níveis fossilíferos de icnofósseis do Grupo Rio do Peixe, tendo
de dinossauros, sugerindo uma ocorrência restrita à porção sul O Geoparque Rio do Peixe
planície de inundação ou um da sub-bacia Sousa, onde possui Recentemente foi elaborada
sistema fluvial meandrante e la- cerca de 100 metros de espessura uma proposta para a criação do
custre pouco profundo durante de acordo com o poço estratigrá- “Geoparque Rio do Peixe”, à
um período de relativa calma fico LF-01-PB (BRASIL/DNPM, semelhança da criação do Geo-
tectônica. 1970), podendo atingir até 300 parque do Araripe, iniciativa de
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grande vulto e importância para Leonardi, 1979c; Leonardi, territorial do geoparque, ela é
a preservação das riquezas geo- 1979d; Leonardi, 1980c; Leo- dominada por relevos tabula-
lógicas e paleontológicas daquela nardi, 1980f; Leonardi, 1981a; res esculpidos nos sedimentos
região. Nessa proposta (Ver Fer- Leonardi, 1984a; Leonardi, do Grupo Rio do Peixe, em sua
reira et al., 2017) são apresenta- 1984b; Leonardi, 1985a; Leo- maioria da Formação Sousa,
dos dados de bastante interesse nardi, 1994; Leonardi, 1985ª; seguidos das formações Ante-
para as finalidades deste artigo, Leonardi et al., 1987; Leonar- nor Navarro e Rio Piranhas em
motivo pelo qual serão transcri- di & Santos, 2004; Leonardi & menor proporção. São extensos
tos alguns de seus trechos consi- Carvalho, 2007; Siqueira et al., tabuleiros areno-argilosos com
derados mais oportunos, como 2011). [A bibliografia indicada pequena ou nenhuma quebra
os seguintes: encontra-se referenciada no de relevo em contato com as
artigo original]. superfícies aplainadas que con-
“O geossítio Passagem das tornam a bacia.
Pedras está localizado 3,5 km Atualmente, o geossítio inte-
a noroeste da cidade de Sou- gra um parque natural, tom- Entremeado a esse modelado
sa. O acesso é feito a partir da bado e designado como ‘Mo- tabular, ocorrem extensas pla-
saída noroeste daquela cidade, numento Natural Vale dos nícies fluviais, destacadamente
pela rodovia PB-391. A entra- Dinossauros’. A região é agora as planícies dos rios do Peixe e
da para o ‘Monumento Na- um complexo turístico e oferece Piranhas, que correm no senti-
tural Vale dos Dinossauros’, uma infra-estrutura como um do O-E da bacia. Os tabuleiros
onde está o geossítio, fica na museu, caminhos e passarelas são relevos de degradação em
margem esquerda da estrada. para visitação ao geossítio, bem rochas sedimentares, com for-
Este geossítio, de relevância in- como pessoal treinado para o mas suavemente dissecadas,
ternacional, com grande valor turismo ecológico e para a pro- com extensas superfícies de
científico, didático e turístico, teção do sítio paleontológico. O gradientes extremamente bai-
constitui-se de uma superfície local conta, também, com um xos, com topos planos e alonga-
rochosa com cerca de 2000 m², canal de alívio da vazão do Rio dos e vertentes suaves em con-
exposta pela ação erosiva do do Peixe, numa extensão de tato com as planícies aluviais.
Rio do Peixe, de siltitos e argili- 621 metros, que permite a pro- Já as planícies fluviais são
tos da Formação Sousa. teção das pegadas contra a ação relevos de agradação, em zona
erosiva e represamento d’água de acumulação atual, com su-
O geossítio é conhecido desde sobre o sítio paleontológico.
o final do século XIX pela pre- perfícies sub-horizontais cons-
sença de pegadas fósseis, que No que concerne à morfolo- tituídas de depósitos arenosos
foram cientificamente estuda- gia da área sedimentar, que ou areno-argilosos a argilosos,
das e atribuídas a dinossauros representa a maior extensão bem selecionados, situados nos
nos anos 1920 e 1940 (Moraes,
1924; Cavalcanti, 1947).
Nas últimas décadas do sécu-
lo XX o local voltou a ser estu-
dado, com inúmeros trabalhos
publicados, e foram reconhe-
cidas pegadas de dinossauros
Ornithopoda (Sousaichnium
pricei e Staurichnium dio-
genis), Theropoda (Moraesi-
chinium borboremae) e pos-
sivelmente de Ankylosauria,
além de pegadas de natação
(Price, 1961; Leonardi,1979b; Vista aérea de meandros atuais do Rio do Peixe nas proximidades de Sousa

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LEGENDA
Sedimentos Cenozóicos
Bacia do Ceará Sequência pós-rifte albiana-neocretácea
Sequência rifte aptiana-mesoalbiana
FORTALEZA Sequência rifte (inclui Rifte Potiguar em sub-superfície)
Sequência pré-rifte jurássica
Sequência paleozoica
Bacia Embasamento pré-cambriano / copaleozoico e seus
do Parnaiba principais lineamentos

Oceano Atlântico
Bacia Potiguar
Malhada Vermelha Gangorra
Rafael Fernandes
NATAL
Iguatu Rio Nazaré
Icó Rio do Peixe
Lima Campos
Bastões Pombal
Padre Marcos Lavras de Mangabeira Lineamento da Paraiba
Barro JOÃO PESSOA
Araripe
Bacia do Cedro Bom Nome Afogados Bacia de
da Ingazeira Pernambuco-Paraíba
São José de Belmonte
Miranda Betânia RECIFE
Socorro "Santo Ignácio" Linea Tupanaci Pernambuco
ment 0 50 km
o Jatobá
Mapa Geológico da Região Nordeste Oriental
(Ref. Rogério Valença Ferreira et al., op.cit,)

NM NG
Distribuição de
principais ocorrências de
icnofósseis nas
BACIA DE VERTENTES Sub-bacias do Rio
Vertentes
Pocinho do Peixe em Sousa e
SERRA MATA Uiraúna-Brejo das Freiras
BACIA DE DO COCO
BREJO DAS FREIRAS
Serrota do Letreiro
Brejo das Engenho Novo
Freiras
Piedade
Matadouro
Sousa
BACIA DE SOUSA BACIA DE POMBAL
Feijão
Cabra Assada Dagoba

TERÓPODA
SAURÓPODA 0 5 km
SEQUÊNCIA FLUVIAL
SEQUÊNCIA FLÚVIO-LACUSTRE

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fundos de vales. Apresentam [Ref. Vieira, R. C. C., “Atlas de até centenas de quilogramas por
gradientes extremamente sua- Mecânica dos Fluidos Clássica” metro cúbico. Esse material sóli-
ves e convergentes em direção (a ser editado em 2021), Módu- do carreado pelos rios compre-
aos cursos d’água principais.” los 3 “Cinemática” e 4 “Fluido- ende usualmente partículas de
dinâmica”]. rocha de diferentes tamanhos
Em face da descrição geo­­
(de poucos micra até algumas
paleontológica acima apresenta- EFEITOS DA centenas de micra), resultantes
da, que deixou clara a intervenção
HIDRO-ABRASÃO E DA do intemperismo físico, da ero-
de fenômenos hidrodinâmicos
CAVITAÇÃO EM ROCHAS são fluvial das rochas, e do trans-
na Bacia do Rio do Peixe, como
porte de seus fragmentos.
deposições aluviais em bacias A “hidro-abrasão” é a erosão
sedimentares e sistema fluvial ou desgaste que provoca a reti- Medidas efetuadas no Rio
meandrante, em conexão com a rada de material das superfícies Amazonas mostraram taxas de
formação dos icnofósseis locais, sólidas com as quais a água em material sólido da ordem de mo-
serão feitas no Tópico seguinte escoamento entra em contato. destas 90 gramas por metro cú-
algumas considerações de or- Esse desgaste pode ocorrer não bico. Pode ser calculado, assim,
dem hidrodinâmica julgadas só pela ação isolada das forças que o Amazonas carreia para o
pertinentes para a interpretação tangenciais que se exercem sobre Oceano Atlântico cerca de 800
do possível processo de forma- a parede sólida devido ao eleva- milhões de toneladas de material
ção desses icnofósseis. do gradiente de velocidades ve- sólido por ano. Se esse material
rificado na camada limite do es- fosse acumulado em um só lu-
Será levado em conta nessas
coamento, como também pode gar, corresponderia a uma mon-
considerações o destaque feito
ocorrer devido a choques entre tanha dez vezes mais alta do que
no trecho transcrito do artigo de
partículas sólidas carreadas pela o Pão de Açúcar! Deve ser lem-
Giuseppe Leonardi e Ismar de
água em escoamento, ou ainda brado também que, além desse
Souza Carvalho sobre a forma-
pelo processo de cavitação, que material carreado para a calha
ção de um sistema fluvial mean-
drante com uma ampla planície será considerado ainda a seguir. do Amazonas, proveniente de
de inundação, em conexão com seus afluentes, nos meandros dos
Na literatura técnica, faz-se
exposições sobre a hidrodinâmi- próprios afluentes é depositada
distinção entre as diferentes ma-
ca dos processos de escoamento outra grande parcela de material
neiras pelas quais são carreados
fluvial em bacias de acumulação sólido, conforme será considera-
materiais pelas correntes flu-
e processos de erosão, transporte do mais adiante neste artigo.
viais. Assim, são considerados o
e sedimentação, apresentadas na arrastamento ou rolamento e os Medidas efetuadas no Rio Pa-
literatura acadêmica, bem como saltos, a suspensão mecânica ou raíba do Sul, na altura de Barra
particularmente em conexão a coloidal, a solução, e a suspen- do Piraí, SP, no mês de agosto
com a abordagem apresentada são propriamente dita, confor- (estação seca), mostraram para
por Bernat Vila et al., 2003, sobre me ilustrado na Figura da página o material sólido em suspensão
os icnofósseis encontrados na re- seguinte. Por simplicidade, cha- a taxa da ordem de 550 gramas
gião dos Pireneus na Espanha e maremos de material sólido todo por metro cúbico, e no mês de
divulgados em seu artigo referi- o material carreado pelas águas, janeiro (estação chuvosa) a taxa
do mais adiante sobre “Icnogra- independentemente da maneira da ordem de 1200 gramas por
fia em meandros de paleoam- específica pela qual se dá o seu metro cúbico.
bientes sedimentares fluviais”. transporte. Em condições climáticas ex-
Antes, porém, outras consi- A título de ilustração, sabe-se cepcionais, ou em casos de even-
derações necessárias, de ordem que a hidro-abrasão em instala- tos geológicos específicos, o con-
hidrodinâmica, serão feitas a ções hidroelétricas é provocada teúdo sólido de muitos rios pode
seguir entremeadas com outras pela água que contém partículas chegar até a 350 quilogramas por
considerações pertinentes no sólidas na proporção de algu- metro cúbico, incluindo partícu-
âmbito da Geologia Sedimentar mas poucas centenas de gramas las finas de material argiloso, que
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Sentido do escoamento

Silte e argila em suspensão


devido à turbulência
Carga dissolvida
Silte e
Carga em suspensão
argila
Rolamento Areia
deslocando-se
Deslizamento por saltação
Areia
Carga de fundo
Areia em m
ovimento p Pedregulhos
Rocha o r saltação
Transporte de detritos em escoamento fluvial
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig. 2.70)

não é tão agressivo às instalações O relacionamento entre os pelo colapso fluidodinâmico


hidroelétricas processos de erosão, transporte e de bolhas de vapor d’água pro-
No “trabalho” dos rios e das sedimentação pode ser visualiza- duzidas em regiões de baixa
correntezas de uma maneira ge- do no “Diagrama de Hjülstrom”, pressão no escoamento.
ral, devem ser distinguidos os que será considerado na página A seguir, visando proporcio-
fenômenos de erosão, do trans- 36 deste artigo. nar uma visão geral do que pode
porte e da deposição do material Assim, a hidro-abrasão em du- ocorrer nos escoamentos fluviais
sólido. As partículas resultan- tos e máquinas hidráulicas, bem com superfície livre, são tecidas
tes do processo de erosão são como no leito de rios, pode ser algumas considerações sobre
transportadas pela correnteza, provocada por processos distin- esses dois últimos processos de
e constituem a chamada “carga tos dentre os quais se destacam a erosão em escoamentos forçados
de sedimentos em suspensão”. corrosão, a abrasão e a cavitação. que ocorrem em partes diversas
Partículas em suspensão, de gra- de instalações hidroelétricas,
• A corrosão é um processo de
nulometria menor como argila onde se torna mais fácil a sua ca-
reação eletroquímica entre a
e silte, depositam-se sob con- racterização.
água (com as substâncias nela
dições de menores velocidades dissolvidos), e as superfícies As maiores taxas de abrasão
do escoamento, em regime de das rochas ou tubulações com em instalações hidroelétricas
menor turbulência. Partículas as quais ela entra em contato, e têm sido verificadas com con-
de granulometria maior, como com relação às quais ela escoa. teúdos sólidos sazonais de 1 a 5
areias e cascalhos, são roladas • A abrasão é um processo me- quilogramas por metro cúbico,
ou deslizadas sobre o leito do cânico no qual se dá a retirada contendo partículas de quartzo
rio, de maneira contínua ou in- de partículas das superfícies de 50 a 300 micra, trazidas pelos
termitente, pelo arrastamento sólidas com as quais a água en- rios nas épocas de derretimento
(tração ou saltação) provocado tra em contato, pelo efeito do do gelo nas montanhas, ou de
por maiores velocidades da cor- atrito entre elas e a água e as chuvas tropicais intensas, como
renteza, em regime turbulento, partículas sólidas em suspen- as monções na Índia e as chuvas
e se deslocam com velocidades são no escoamento. de verão em nosso país.
menores do que a velocidade • A cavitação é um processo hi- Nas Figuras da página seguin-
média do escoamento por esta- dromecânico de remoção de te, mostra-se um esquema indi-
rem situadas na camada limite partículas da superfície das ro- cativo de como uma partícula
do escoamento e constituem a chas, devido às elevadas pres- sólida dura (como, por exemplo,
"carga de leito". sões puntiformes provocadas de quartzo) pode ser pressiona-
30 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira

C0

R0
V0

V0
Esquema ilustrativo do processo de hidro-abrasão
e amostra de composição da areia usada em ensaios
(Figuras apresentadas na Sulzer Technical Review 1/1992, pp. 20 e 26)

da sobre uma superfície sólida, e mistura de grãos que constitui a resultantes de transporte hídri-
deslocar-se sobre ela provocan- areia carregada pelas águas. De- co. Assim, a ocorrência de con-
do um sulco. A repetição dessa monstram, também, que a mis- glomerados exige terem existido
ocorrência com uma frequência tura de grãos é mais agressiva também condições de transporte
elevada vai produzindo, no de- quanto maior for a percentagem dos fragmentos das rochas origi-
correr do tempo, a hidro-abra- de grãos de maior granulome- nados por processos orogênicos,
são da superfície sólida. tria. formação de falhas, transgres-
Em turbinas hidráulicas e em Nesta breve exposição deseja- sões marinhas, glaciações, vulca-
estruturas de usinas hidroelé- mos destacar que os resultados nismo e intemperismo.
tricas observa-se significativa experimentais obtidos nos en- Durante o processo de trans-
hidro-abrasão sempre que partí- saios de hidro-abrasão efetuados porte, graças ao impacto recí-
culas sólidas mais duras do que em laboratório com materiais proco e à abrasão resultante, os
o material das paredes sobre as de alta resistência utilizados em blocos anfractuosos perdem suas
quais se dá o escoamento atin- máquinas e estruturas hidráuli- arestas e transformam-se em
gem essas paredes com suficien- cas correspondem ao que pode seixos arredondados de formas
te velocidade e são arrastadas ser observado na natureza com esféricas, cilíndricas, elipsoidais
pelo escoamento. O quartzo é o relação ao processo de hidro- ou discoidais, dependendo da
material usualmente mais duro -abrasão ocorrido na formação forma original do fragmento
encontrado em areias carregadas de pedregulhos, pedras, mata- antes de sofrer esse processo de
pela água de rios. Na figura aci- cões, e até mesmo em blocos de desgaste. Fragmentos peque-
ma, à direita, tem-se uma foto- rocha de maior porte. nos, com dimensões inferiores
grafia de amostra de areia, obti- De fato, ao se observar o ma- a alguns décimos de milímetro,
da em microscópio eletrônico de terial sedimentar grosseiro (cas- devido à sua pequena massa,
varredura, mostrando grãos de calho) existente em leitos de não sofrem impactos sensíveis, e
areia utilizados em ensaios rea- rios, nas suas margens ou em por isso não se arredondam no
lizados em um equipamento ex- qualquer local distante dos leitos processo de carreamento pelas
perimental nos laboratórios da atuais de rios, verifica-se um in- águas. Quanto maior for o frag-
firma suíça SULZER fabricante comensurável número de seixos mento original, maior também
de equipamentos hidráulicos. arredondados, apontando para será a facilidade para o seu arre-
Nessa figura tem-se a referência um processo de hidro-abrasão dondamento.
de escala indicando o compri- intenso que teria ocorrido no A denominação usual dada aos
mento equivalente a 100 micra. passado. fragmentos de rocha encontra-
Os ensaios demonstram que o Conglomerados são rochas se- dos nos conglomerados é fun-
grau de abrasão depende da pro- dimentares formadas por frag- ção de suas dimensões. Existem
porção de quartzo existente na mentos de rochas preexistentes, várias classificações propostas,
anual/2019 Revista Criacionista nº 100 31
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de cuja análise, em média, po- tículas de rochas de variada neira que, se isso ocorrer junto a
demos estabelecer que blocos de natureza. uma superfície sólida em conta-
rocha são os fragmentos que têm ... O tamanho dos clastos to com o escoamento, ocorrerão
dimensões superiores a 1 metro; predominantes é pequeno, mas valores extremamente elevados
matacões, os situados entre 25 podem ocorrer blocos de até 5 para as tensões normais atuando
centímetros e 1 metro; pedras, metros de diâmetro.” sobre o material dessa superfície,
os situados entre 25 centímetros que poderão facilmente ocasio-
e 76 milímetros. Já as partículas Evidentemente a explicação nar um processo de fratura local,
componentes dos solos recebem uniformista para a existência com a consequente remoção do
denominações normalizadas, em de toda essa gama de partículas material fraturado, pela água em
função de sua granulometria – supõe a ocorrência de processos escoamento.
pedregulhos, as que têm dimen- lentos e graduais no decorrer de
Esse fenômeno recebe o nome
sões entre 76 e 4,8 mm; areias imensos períodos de tempo. Por
de cavitação, exatamente por-
(grossa, média e fina) com di- outro lado, a explicação catas-
que vai ocasionando cavidades
mensões entre 4,8 e 0,05 mm; sil- trofista aponta para a ocorrência
(verdadeiras “cáries”), sendo
tes, entre 0,05 e 0,005 mm; e ar- de fenômenos de hidro-abrasão
de natureza bastante distinta da
gilas, com dimensões inferiores ocorridos em um grau de in-
hidro-abrasão considerada ante-
a 0,005 mm. (Ver, por exemplo, tensidade imensamente maior
riormente. Esse efeito da cavita-
a Tabela apresentada no Tópico em intervalos de tempo muito
ção (aparentemente semelhan-
“C-74 – Clásticos” do “Glossário menores. O banco de ensaios da
te ao da hidro-abrasão) recebe
Geológico” de Leinz & Leonar- SULZER já mencionado e o dis-
em Inglês o nome de “pitting”,
dos, 1975). positivo de cavitação acelerada
ou seja, formação de cavidades
do Departamento de Hidráulica
A título de ilustração, trans- no material sólido. A formação
da EESC-USP que será conside-
creve-se a seguir um trecho do dessas cavidades, em virtude do
rado logo adiante, são bastante
livro “Geologia do Brasil”, de processo de cavitação propria-
ilustrativos do mecanismo de
Setembrino Petri e Vicente José mente dito, pode ser um fator
ocorrências desses fenômenos
Fúlfaro (Editora da USP, 1988), de importância para o estabe-
de hidro-abrasão de forma in-
descrevendo a ocorrência de lecimento de condições iniciais
tensa e rápida.
conglomerados na Bacia do Pa- extremamente favoráveis a um
raná, no Subgrupo Itararé: Além da hidro-abrasão pro- processo rápido de hidro-abra-
priamente dita, deve-se chamar são. Além do mais, dependendo
“A litologia mais comum do a atenção também para o pro- da natureza do material que está
Subgrupo Itararé é constituída cesso de cavitação, outro fenô- sendo submetido à cavitação, ela
de arenitos. meno usual em escoamentos de mesma constitui um processo de
... A granulometria é muito líquidos quando a velocidade erosão intensa e rápida bastante
variada, desde arenitos muito atinge valores locais elevados, e significativo.
finos a conglomeráticos. consequentemente a pressão va-
lores muito baixos, podendo-se Nas fotografias apresentadas a
... Ritmitos são comuns, em- seguir, pode-se ter uma ideia do
bora com menor frequência chegar ao valor da “pressão de
vapor” do fluido, à temperatura poder erosivo de escoamentos
que arenitos. São constituídos de água sobre superfícies sóli-
de lâminas de siltitos ou are- local. Ao ser atingido esse valor,
o líquido se evapora, formando- das de elementos de maquinária
nitos finos ... alternados com hidráulica, constituídas de ma-
argilitos ou folhelhos. -se uma bolha de vapor que,
deslocada pelo escoamento, é le- terial especialmente resistente à
... Seixos ou blocos de rochas, vada para uma região de maior hidro-abrasão e à cavitação.
às vezes facetados e estriados, pressão onde entra em colapso. O dispositivo experimental
ocorrem com frequência. Nesse processo dinâmico são para o estudo da hidro-abrasão
... Os diamictitos são consti- atingidos valores pontuais eleva- montado no Laboratório de
tuídos de blocos, seixos e par- díssimos da pressão, de tal ma- Hidráulica da EESC-USP teve
32 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira

entre 10 e 20 horas, dados que


teriam levado um ano inteiro
para serem obtidos em uma ins-
talação hidroelétrica em condi-
ções normais de funcionamento.
A redução do tempo requerido
para a obtenção desses dados de-
veu-se unicamente à intensidade
a b muito maior da cavitação nas
condições estabelecidas em la-
boratório, em comparação com
as condições “normais”.
Desta forma destaca-se, em
particular, que cavitação e hidro-
-abrasão, associadas a processos
hidrodinâmicos de grandes in-
tensidades (particularmente em
c d
níveis energéticos catastróficos,
Erosão por cavitação em pás de rotores (a, b) como ocorreu por exemplo na
e em agulhas de bocais (c, d) de Turbinas Pelton
instalação hidroelétrica do Glen
como principal objetivo a reali- droelétricas, em um intervalo de Canyon, no rio Colorado em
zação de ensaios que permitis- tempo reduzido, estabelecendo 1983), permitem a formulação de
sem a obtenção de dados sobre condições que pudessem causar um modelo para explicar a for-
a resistência à abrasão de dife- efeitos de cavitação acelerada. mação rápida de blocos, mata-
rentes materiais utilizados na De fato, puderam nele ser ob- cões, pedras, cascalho, pedregu-
construção de instalações hi- tidos, em intervalos de tempo lhos e seixos rolados, de maneira
geral, bem como a ocorrência de
grandes depósitos sedimentares
encontrados de forma tão abun-
dante na natureza, formados por
partículas “pulverizadas” pelo
efeito da cavitação, sem a ne-
cessidade de recorrer a grandes
períodos de tempo para expli-
car a sua ocorrência (Acessar as
impressionantes Inserções dos
À esquerda - Aparelho destinado a ensaios de cavitação acelerada
À direita - Disco experimental para pesquisa do efeito da erosão por cavitação, provocada QRCodes RC-100 referentes ao
propositadamente pelo colapso de vórtices provocados por orifícios dispostos radialmente. Arquivo 2, e Vídeos 1, 2, e 3 re-

Detalhe do efeito da cavitação


sobre o material do disco. Corpo de prova metálico inserido no Ampliação da região cavitada do corpo de
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, disco do aparelho de ensaios. prova anterior.
Módulo Dinâmica, Fig.4.44-A) (Atlas, Módulo Dinâmica, Fig.4.44-B) (Atlas, Módulo Dinâmica, Fig.4.44-C)

anual/2019 Revista Criacionista nº 100 33


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sequência de escoamentos se- amento newtoniano em torno de


Documentário sobre os cundários. esferas sólidas é a sua utilização
efeitos da cavitação na Na Fluidodinâmica estuda-se no campo da Sedimentologia
instalação hidroelétrica de como, por exemplo, em ensaios
Glen Canyon usualmente a atuação das forças
RC100-ARQUIVO 2 derivadas da atuação da gravida- de granulometria de amostras de
de e das tensões tangenciais so- solos, a partir das propriedades
bre partículas esféricas em mo- físicas tanto das partículas com-
vimento no seio de uma massa ponentes do solo como da água
fluida newtoniana em escoamen- (ρg, μ e ρg, sendo ρ a densidade
Challenge at Glen Canyon to (em um sistema de referência da partícula sólida, μ a viscosi-
Part 1 fixo à partícula), a partir do que dade da água, ρ a densidade da
se torna possível generalizar o água e g aceleração da gravida-
RC100-VÍDEO 1 intercâmbio de energia entre o de), para determinar o diâmetro
fluido e a partícula, permitindo, equivalente dos grãos da amos-
por exemplo, o estudo analítico tra em função da sua sedimenta-
dos fenômenos de sedimentação ção seletiva devido às diferentes
de partículas com quaisquer for- velocidades de queda.
Challenge at Glen Canyon matos, caracterizadas pelo seu
Part 2 Mostra-se nas Tabelas seguin-
“diâmetro aparente”. tes a classificação das partículas
RC100-VÍDEO 2 No caso de sedimentação de de solo em função de seu diâme-
partículas no seio de uma mas- tro equivalente, conforme esta-
sa fluida em repouso, é feito o belecida pelas Normas (Ame-
equacionamento que leva à cha- ricanas e Brasileiras) e também
mada “Lei de Stokes” [CD = 24/ frascos contendo solos com
Challenge at Glen Canyon Rey] válida para o regime lami- composições diversas de grãos,
Part 3 nar (Número de Reynolds <<1 caracterizando solos arenosos,
RC100-VÍDEO 3
referente ao diâmetro aparente
da partícula sólida). A Lei de Classificação das partículas de
solo segundo seus diâmetros
Stokes é válida para escoamen-
equivalentes conforme Normas
ferentes ao desastre na instalação tos de fluidos newtonianos em Americanas
hidroelétrica de Glen Canyon torno de partículas sólidas com Grain size
ocasionado pelos efeitos destru- diferentes formatos, caracteriza-
tivos da cavitação hidrúlica.). Pebbles
"Gravel" >2mm

dos por um "diâmetro aparente".


4-64 mm
Pode-se também estender esse
TRANSPORTE E equacionamento ao caso em que Granules
SEDIMENTAÇÃO o fluido que envolve a partícula 2-4 mm
seja não-newtoniano, embora
A deposição de sedimentos Coarse sand
transportados pela água é objeto isso seja analiticamente bastan- 0,5-2 mm
de estudos na Sedimentologia, te mais complexo. [Mais adian-
te serão feitas considerações a Medium sand
com aplicações à Mecânica dos 0,25-0,5 mm
Solos tanto na Engenharia quan- respeito da natureza dos fluidos
to na Geologia, sendo também não-newtonianos, que corres- Fine sand
de grande valor para a compre- pondem a numerosos casos de 0,06-0,25 mm
ensão da formação dos solos e mistura de água com detritos de
Silt
outros fenômenos de interesse vários tipos.] 0,004-0,06 mm
na Geografia Física, de maneira Uma aplicação interessante da
Clay
geral, incluindo em particular a Lei de Stokes obtida para o equi-
< 0,004 mm
formação de meandros em con- líbrio das forças no caso de esco-
34 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira

Classificação das partículas de Jarras com resultado da análise granulométrica de três tipos de solos
solo segundo seus diâmetros
equivalentes, conforme Arenoso Limo-argiloso Argiloso
Norma Brasileira NBR 6502 da
ABNT (1995)
Fração Limites (mm)
Matacão 1000-200
Pedra britada 200-60
Pedregulho 60-2
Areia grossa 2,00-0,60
Areia média 0,60-0,20
Areia fina 0,20-0,06
Silte 0,06-0,002
0 - 10% argila 10 - 30% argila 50 - 100% argila
Argila < 0,002 0 - 10% silte 30 - 50% silte 0 - 45% silte
80 - 100% areia 25 - 50% areia 0 - 45% areia
siltosos e argilosos, bem como o
triângulo de textura dos solos em Triângulo de textura do solo
função dos percentuais de areia, em função dos percentuais de areia, silte e argila
silte e argila conforme estabele- 100
cida pelas Normas (Americanas
e Brasileiras). 90 10
Deve-se lembrar, entretanto,
que na Sedimentologia Estrati- 80 20
gráfica, além do caso da depo-
la

70 30
sição de partículas em massas
rgi

Argiloso

Per
eA

fluidas em repouso (como em re- 60 40

c
md

ent
giões lagunares e lacustres), deve
age

age
ser levado em conta o caso das 50 Argiloso- 50
ent

md
c

deposições das partículas carre- Siltoso


Per

e Si
Argiloso-
40 60
gadas por massas fluidas em esco- lte
arenoso
Limoso-arenoso-
amento, (como, por exemplo, nas Argiloso-limoso argiloso
30 Limoso-arenoso- 70
barras de meandros em rios, que argiloso
é o assunto central deste artigo). 20 80
Limoso
De acordo com Suguio (Tó- Limoso-arenoso Limoso-siltoso
10 90
pico 1.1.3.3 - "As distribuições Siltoso
granulométricas e os ambientes Arenoso Arenoso-limoso 100
deposicionais" de seu livro já ci- 90 80 70 60 50 40 30 20 10
tado, página 62), Percentagem de Areia
“Udden (1914) foi o primeiro MEDIDA DA GRANULOMETRIA DE AMOSTRAS DE SOLO
A velocidade de queda das partículas de solo
pesquisador que tentou relacionar ocasiona a deposição seletiva dos grãos, permitindo a classificação do solo
a composição granulométrica de (Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig.2.68)

um sedimento com as condições trom” mostrado na página dimentação de partículas carre-


hidrodinâmicas durante a depo- seguinte, verificado experimen- adas por escoamentos da água,
sição de sedimentos clásticos.” talmente sob condições especifi- em função da velocidade do
Para ambos os casos, na Sedi- cadas, o qual descreve não só o escoamento e do tamanho dos
mentologia é de grande impor- comportamento da erosão, mas grãos expresso pelo seu diâmetro
tância o “Diagrama de Hjüls- também o do transporte e da se- equivalente.
anual/2019 Revista Criacionista nº 100 35
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Areia muito grossa

Pedregulho grosso
Areia muito fina

Pedregulho fino

Pedra britada
Areia grossa
Areia média

Pedregulho
(Grânulos)
Areia fina
Argila

Silte
1000


Ero lh o
sã od Erosão e transporte
ed regu
e ar
gila rei aep e n sã
o
100
Velocidade do escoamento

con ea us p
s ão d e ms
olid o siç rga
ada D ep o ca
ef und ã o de
rga
d o siç
o ca D ep
om
or te c
Transp
10
Erosão de argila não consolidada
Deposição

Transporte em suspensão
sã o
1 p en
su s
a em
c arg
de
ão
o s iç
D ep

0,1
0,001 0,01 0,1 1 10 100 1000
Argila Silte Areia Pedregulho Pedras britada
Diâmetro das partículas (mm)

DIAGRAMA DE HJÜLSTROM
No diagrama estão representadas curvas experimentais que tentam explicar a influência da velocidade do escoamento
e da dimensão dos materiais nos fenómenos de erosão, de transporte e de sedimentação.
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig. 2.69)

Ainda de acordo com Suguio, dos de desintegração da rocha- E no Tópico 1.1.2 que trata das
op. cit. p.58, no Tópico 1.1.1 de -matriz. interpretações geológicas das
seu livro, que trata da granulo- Analogamente, Bagnold distribuições granulométricas
metria, (1941) utilizou o comporta- (p.61), afirma também Kenitiro
“Os limites estipulados para mento hidrodinâmico na de- Suguio em seu livro:
as várias classes granulomé- finição da areia. Segundo esse “Os diferentes pesquisadores
tricas são mais ou menos ar- autor, a areia teria a capaci- que trataram da interpretação
bitrários mas, segundo Went­ dade de ‘acumulação espontâ- das distribuições granulomé-
worth (1933), as principais nea’, resultante da utilização tricas enfocaram a questão sob
classes granulométricas seriam do meio de transporte na reu- três ângulos distintos.
intimamente correlacionadas nião de grãos espalhados, dei- ... O primeiro grupo consi-
aos comportamentos básicos xando parte da superfície do derou as distribuições granu-
durante o transporte por água substrato isenta de partículas lométricas como um produto
corrente ou aos diferentes mo- sedimentares.” dos processos geradores de se-
36 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira

dimentos. Nesse caso, as distri- d’água devido ao cisalhamento sendo ρ a densidade da partícula
buições foram atribuídas prin- causado pelas tensões tangen- sólida, ρ a densidade da água, g
cipalmente aos materiais das ciais provocadas pela água em a aceleração da gravidade e dmax
áreas-fonte e aos produtos de escoamento. A erosão pode re- o diâmetro equivalente máxi-
sua desintegração. sultar também do atrito exercido mo da partícula sólida. Deve ser
... O segundo tipo de enfoque por materiais arrastados pelo es- lembrado que a água é tratada
consistiu em relacionar as dis- coamento que podem entrar em neste caso como fluido newto-
tribuições granulométricas aos choque com o leito e as margens, niano.
processos de transporte. Dessa tanto no caso newtoniano como O transporte das partículas re-
maneira, os mais grossos se- no não-newtoniano. movidas do leito e das margens
riam produtos de transporte A quantidade de detritos trans- (detritos) pode ser efetuado por
por tração e os mais finos por portados está relacionada com a solução ou suspensão das par-
saltação e suspensão. velocidade do escoamento. A in- tículas  finas a muito finas, ou
... O terceiro grupo, talvez tensidade da erosão provocada por saltação, ou por tração (ro-
mais numeroso, realizou estu- pela carga sólida do curso d’água lamento ou arrastamento) das
dos empíricos de distribuição depende da quantidade de detri- partículas com dimensões maio-
granulométrica de sedimentos tos transportados e da sua “com- res, como já mencionado e ilus-
de vários ambientes deposicio- petência”, isto é, da capacidade trado na Figura apresentada no
nais para verificar as relações do curso d’água para transportar início da página 30. A velocidade
entre eles.” carga sólida. Essa competência é do escoamento necessária para
definida  como a velocidade crí- provocar a erosão de um deter-
Nos escoamentos ao longo de
tica Vc do escoamento necessária minado detrito é maior do que a
cursos d’água realizam-se simul-
para que uma partícula sólida de necessária para o seu transporte,
taneamente os três tipos de ação
geo­lógica – erosão, transporte e diâmetro máximo dmax possa ser isto é, para o manter em movi-
deposição – embora, de uma for- posta em movimento no leito do mento. A deposição ocorre pela
ma seletiva, possa predominar curso d’água, dada pelo “Critério acumulação dos detritos no leito
um ou outro dos tipos. de Shields”, uma complementa- e nas margens do rio.
ção do Diagrama de Hjülstrom,
A erosão é provocada pela re- A Figura seguinte é bastante
expresso pela condição
moção de partículas sólidas do ilustrativa dos mecanismos de
leito e das margens do curso Vc = 0,06 [(ρ-ρ)gdmax]1/2 transporte fluidodinâmico.

1 A hidrosfera e a litosfera
interagem para transportar
sedimentos nos rios. 6
2 A corrente que flui sobre um leito 4 As partículas se
À medida em que a velocidade
Atmosfera SISTEMA de cascalho, areia, silte e argila movem por saltação
da corrente aumenta, a carga
Hidrosfera CLIMÁTICO transporta uma carga de na superfície do leito
em suspensão cresce...
Litosfera suspensão de finas partículas...
SISTEMA DA
Astenosfera TECTÔNICA DE
PLACAS
Manto inferior
Núcleo externo
Núcleo interno

3 ... e uma carga de fundo de 5 ... e, com isso, aumenta o 7 Em uma determinada velocidade de corrente,
material que rola e desliza cisalhamento sobre o leito, gerando as partículas menores deslocam-se mais alto
sobre o leito. aumento da carga de fundo. e mais longe que os grãos maiores.

Transporte de detritos em escoamento fluvial

anual/2019 Revista Criacionista nº 100 37


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Um exame mais apurado do 0,2 mm (areia fina), pois bas-


Diagrama de Hjülstrom permi- ta uma velocidade de cerca
te tirar outras conclusões im- de 20 cm/s para que ocorra o
portantes sobre os fenômenos transporte.
fluviais de erosão, transporte e 4) As partículas de areia gros-
sedimentação, dentre as quais as sa e pedregulhos resultantes
seguintes: de erosão são transportadas
1) As partículas com dimen- com velocidades mais eleva-
sões inferiores a 0,01 mm das e se depositam mais rapi-
(fração fina, composta de ar- damente.
gila e silte) apresentam uma Essas conclusões podem ser vi-
grande força eletrostática de sualizadas na ilustração clássica
coesão e oferecem uma con- mostrada abaixo, em que se pode
siderável resistência ao atri- visualizar a “história” de um rio
to e, portanto, somente são em suas diferentes fases de esco-
erodidas com velocidades
amento, desde as regiões mais
maiores, fenômeno esse co-
elevadas, com maiores velocida-
nhecido como “Efeito Hjuls-
des, até as regiões de planície, es-
tröm”.
tuários e deltas com velocidades
2) Devido à grande força de
Sedimentos não-coesivos menores.
coesão, partículas com essas (areia e pedregulho) e coesivos
dimensões também tendem a (argila e silte) Assim, nos escoamentos em
permanecer em suspensão e bacias de deposição ou planí-
não se depositam facilmente 3) As partículas mais fáceis de cies de inundação com sistemas
(são elas que dão aquela cor serem transportadas são as fluviais meandrantes, com rela-
barrenta bastante usual nos que  apresentam dimensões tivamente baixas declividades,
rios). compreendidas entre 0,1 e ocorre significativo aumento da

A água da chuva ou do degelo flui Sedimentos


Glaciares por canais, formando um leito.
Nas secções superiores dos rios as vertentes
são mais ingremes, com deposição dos
A sedimentos mais grosseiros. Os sedimentos
mais finos são transportados para jusante. Sedimentos grosseiros
Canais Sedimentos finos
A jusante, o perfil transversal do
rio apresenta declives inferiores. C
Lago

Com a diminuição da
inclinação ocorre o aumento
da deposição de sedimentos.
B

Sedimentos finos Nos estuários e deltas ocorre a deposição


dos sedimentos mais finos.

Sedimentação em Bacia Fluvial

38 Revista Criacionista nº 100 anual/2019


Sociedade Criacionista Brasileira

deposição dos sedimentos mais Da mesma forma, a deposi- genéticos, como mostrado na
finos carreados pelos rios, que ção dos sedimentos em maior figura seguinte que ilustra a
poderão ocorrer de forma mais escala poderá dar origem pos- relação entre os sedimentos e
específica no processo de forma- teriormente a rochas sedimen- as rochas sedimentares resul-
ção de meandros. tares, mediante processos dia- tantes.

Seixos Areias Lama síltica Lama argilosa


SEDIMENTOS
ROCHAS

Conglomerado Arenito Siltito Argilito Folhelho


Principais tipos de sedimentos clásticos e rochas sedimentares formadas a partir deles

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
DIAGRAMA DE HJÜLSTROM

Complementando o que foi apresentado Um dos mais importantes resultados obti-


no texto, sugere-se assistir os seguintes víde- dos a partir da análise do Diagrama de Hjüs-
os sobre o Diagrama de Hjüstrom acessando trom, destacado no segundo vídeo sugerido,
é a explicação da formação das camadas se-
dimentares como resultado da variação do
regime fluvial. Essa variação pode ser tanto
periódica, sazonal, como atípica em função
de eventos catastróficos, e implica a variação
RC100-VÍDEO 4 RC100-VÍDEO 5 da intensidade das velocidades dos escoa-
mentos que transportam os sedimentos e,
ilustrativos da influência dos regimes fluviais portanto, situações diversas para os fenôme-
sobre os processos de erosão, transporte e nos de erosão,
sedimentação.

EFEITOS DA NATUREZA propriedade conhecida por "vis- No trecho anular de uma cuba
NÃO-NEWTONIANA DOS cosidade", que se relaciona com contendo glicerina cuja parte
ESCOAMENTOS FLUVIAIS a maneira pela qual pode ocorrer central é posta em lento movi-
a deformação angular das suas mento de rotação, pode ser visu-
Todos os fluidos reais apre- partículas em escoamento, em alizada a deformação angular so-
sentam a particularidade de ofe- função das propriedades físicas frida por partículas do fluido nas
recer resistência à sua mudança e químicas inerentes à natureza fotos da página seguinte. Nesse
de forma, o que resulta da sua do fluido. caso, a deformação angular do
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fluido (altamente viscoso) é pro- parede externa do disco circular viscosidade independente de ,
vocada apenas nas imediações da interno posto em movimento. sendo, portanto, “newtonianos”.
Por outro lado, fluidos que
apresentem viscosidade que seja
função da taxa de deformação
angular são chamados de "não-
-newtonianos". Grande número
de fluidos usuais em aplicações
da Engenharia Química, e mesmo
alguns em Engenharia Hidráuli-
ca e na Sedimentologia, são não-
-newtonianos. A variação de sua
viscosidade em função da taxa
de deformação angular ocorre
de diversas maneiras, podendo
também depender da natureza
Fotografia da cuba de glicerina visualizando a deformação angular das partículas das superfícies sólidas em contato
do fluido à medida em que a parede interna se desloca no sentido horário com o escoamento, e até mesmo
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Cinemática, Fig. 4.2)
da história prévia do escoamento.
A Figura acima visualiza o grande importância para a con- De maneira geral, os fluidos
conceito de “taxa de deformação ceituação da viscosidade do flui- não-newtonianos podem ser clas-
angular”, indicada por dγ/dt, de do em escoamento. sificados em três grandes grupos.
O primeiro engloba os fluidos em
que a taxa é função somente da
tensão τ. O segundo engloba os
fluidos em que a relação entre
e τ depende somente da história
prévia do escoamento. O tercei-
Indicação da deformação angular de partícula de fluido viscoso em escoamento ro grupo engloba os fluidos que
devido ao gradiente de velocidades sobre uma placa plana horizontal
Desenhos ilustrativos traçados sobre fotografia de escoamento linear apresentam características simul-
visualizado experimentalmente em cuba de pó de alumínio taneamente de fluidos newtonia-
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Cinemática, Fig. 4.4)
nos e de sólidos.
A “viscosidade” μ de um fluido água, por exemplo, a relação en- • Os fluidos do primeiro gru-
é definida como o fator de pro- tre a força tangencial por unida- po apresentam uma "viscosi-
porcionalidade entre a tensão de de área e a deformação angu- dade aparente" com significa-
tangencial τ (força tangencial lar será dada pela chamada “Lei do análogo ao da viscosidade
por unidade de área) e a taxa de de Newton” τ = μ com μ inde- propriamente dita, sob o pon-
deformação angular =dγ/dt, pendente da taxa de deformação to de vista do seu comporta-
resultando assim a sua expressão angular , e esses fluidos rece- mento nos escoamentos, e em
geral como τ = μ . A viscosidade bem o nome de “fluidos newto- geral são chamados de “flui-
μ de maneira geral é função da nianos”. dos não-newtonianos visco-
natureza do fluido, da tempera- Os fluidos ar e água, juntamen- sos”. Por essa razão é possível
tura, da pressão, e também da te com grande número de outros um tratamento geral para os
própria taxa de deformação an- fluidos usuais nas aplicações da fluidos newtonianos e para os
gular . Engenharia e da Geo­logia, nas fluidos não-newtonianos des-
Para escoamento de fluidos em condições usuais em que se dá o te primeiro grupo (também
que a viscosidade não dependa seu escoamento, podem ser con- chamados de “fluidos não-
da deformação angular, como a siderados como apresentando -newtonianos com viscosida-
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de independente do tempo”), cuja característica é apresentar conforme ilustrado na Figura


dentre os quais os seguintes. uma relação τ=τ( ) linear, com abaixo.
uma "tensão de escoamento" τe,
Plásticos de Bingham que deve ser atingida para o iní-
Fluidos tais como pastas denti- cio do escoamento. ζ
frícias, cosméticos e outras pas- Analiticamente ter-se-ia
tas em geral, tintas a óleo, lamas ζ0
em geral e em particular lama de τ–τe=μ0
esgotos, lama de perfuração de
poços, etc., constituem os cha- com τ>τe, sendo a constante μ0 a
φ
mados "Plásticos de Bingham", "viscosidade plástica" do fluido,

Observa-se que o escoamento ocorre somente após a atuação de uma “tensão de escoamento”
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig. 2.12)

Deve ser destacado que a ten- natureza do fluido, conforme Bingham”, caracterizados pela
são de escoamento τe é relevante ilustrado na Figura abaixo. existência de uma “tensão de es-
para a distinção entre o com- coamento” τe, descritos pela ex-
portamento do fluido como um pressão τ – τe = μ0 k n.
ζ
material sólido ou como um
fluido propriamente dito. São Dilatantes
as tensões tangenciais que man- Analogamente aos fluidos
têm a coesão entre as partículas pseudoplásticos, outros flui-
do material proporcionano seu dos existem que não apresen-
comportamento como sólido. tam tensão de escoamento e
têm como característica valores
Pseudoplásticos φ crescentes da relação τ/ em
Outros fluidos, tais como pas- função de , de tal modo que
tas de derivados de celulose, so- analiticamente a função τ=τ( )
luções de polímeros elevados e Pode ser definido como "visco- é expressa pela relação τ = k n
suspensões de partículas assimé- sidade aparente" μ0 desses flui- com n>1 e k constantes que de-
tricas (incluindo esmaltes, xaro- dos o quociente μ0 = τ/ = k n-1 pendem da natureza do fluido,
pes, melaço, sangue, suspensões onde a constante k é uma me- conforme indicado na Figura
de polpa de papel ou de areia em dida da consistência do fluido, abaixo. Para tais fluidos, bastan-
água, alguns óleos de silicone) de tal modo que, quanto maior
não apresentam tensão de esco- o seu valor, tanto mais viscoso é
ζ
amento τe e têm como caracte- o fluido. A constante n é indica-
rística valores decrescentes para tiva do grau de afastamento do
a relação τ/ em função da va- comportamento do fluido pseu-
riação de . Analiticamente, para doplástico relativamente ao do
eles, a função τ=τ( ) pode ser fluido newtoniano.
expressa como τ = k n com n<1 Observa-se que existem tam-
φ
e k constantes que dependem da bém os “Pseudoplásticos de
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te menos comuns que os fluidos . A viscosidade aparente dos tinta de impressão, pasta de
pseudoplásticos, valem as mes- fluidos deste grupo depen- gesso), e quando a viscosi-
mas observações anteriormente de não somente de como dade aparente diminui, são
feitas quanto à sua viscosidade também do tempo durante denominados “Tixotrópi-
aparente. o qual τ permanece aplicado. cos” como, por exemplo, ar-
• Os fluidos não-newtonianos No caso em que a viscosida- gilas do tipo da bentonita e
do segundo grupo mencio- de aparente aumenta com a da montmorilonita, algumas
nado não podem ser descritos aplicação de tensões, esses tintas, gelatinas, pectina, al-
por uma expressão analítica fluidos recebem a denomina- guns géis e suspensões coloi-
simples ligando entre si τ e ção de “Reopécticos” (como dais.

Modelagem de vaso de argila, possível devido ao seu comportamento tixotrópico e reopéctico


É interessante destacar essa propriedade da argila em conexão com
a formação e preservação de pegadas de animais em camadas sedimentares
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig.2.8)

• Como exemplo de fluidos do terceiro grupo, denominados “Vis- certamente não poderão ser tra-
coelásticos”, tem-se o piche, que apresenta certo comportamento tados como sendo newtonianos
elástico, como sólido, apesar de poder também ser considerado os escoamentos fluviais em que
como um fluido newtoniano bastante viscoso. as águas levem consigo argila,
lama em geral, fragmentos de
rocha encontrados nos conglo-
merados (incluindo areia), e de-
tritos orgânicos.
Muita cautela deve ser tomada,
então, no tratamento analítico a
ser dado para o estudo hidrodi-
nâmico desses fluidos em escoa-
mento e também nas aplicações
práticas que envolvam suas pro-
priedades viscoelásticas, tixotró-
picas e reopécticas.
Esta observação deve sem-
pre ser tida em mente nos casos
Uma batida rápida ocasiona a sua desses escoamentos fluviais não
O piche apresenta características de fluido ruptura, evidenciando também
viscoelástico à temperatura ambiente suas características de sólido. newtonianos, especialmente ao
(Atlas de Mecânica dos Fluidos, Módulo Dinâmica, Fig. 2.9) se estudar a sedimentação fluvial
com características tixotrópicas
O tratamento analítico do trabalhoso, e constitui um ca- e viscoelásticas que se observam,
comportamento dos fluidos não- pítulo especial da Mecânica dos por exemplo, no processo de
-newtonianos dos dois últimos Fluidos — a “Reologia”. formação de depósitos fluviais,
grupos (Reopécticos, Tixotrópi- Em face dessas poucas consi- lacustres e deltaicos de diversos
cos e Viscoelásticos) é bastante derações, podemos concluir que tipos.
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Da mesma forma, a observa- reologicamente pseudoplásticos e sido depositado por um escoa-


ção feita acima não deve ser es- não newtonianos. mento fluido e posteriormente
quecida no caso dos escoamen- Essas observações são de im- ter-se solidificado passa a se flui-
tos resultantes da “liquefação do portância porque, como o mes- dificar e ser levado por escoamen-
solo”, como os que ocorrem em mo autor mencionou em seguida, tos torrenciais, caso em que, após
condições adversas como no caso a maior parte da literatura sobre essa ocorrência, pode acontecer
das “areias movediças” ou em en- formações sedimentares parte novo processo de deposição do
costas encharcadas que podem da hipótese de que as camadas material levado de roldão.
induzir a liquefação e o início do sedimentares são formadas pela Duas interessantes visualiza-
processo de deslizamento, ou até deposição “de grão a grão” em es- ções desse fenômeno da liquefa-
mesmo no caso de pequenos sis- coamentos newtonianos de água, ção podem ser observadas nos ví-
mos ou trepidações que possam enquanto tem-se verificado que a deos que podem ser acessados em
provocar a liquefação do material adição de somente 2% de argila
poroso de barragens de terra. coloidal aumenta significativa-
De fato, como exemplo no caso mente a viscosidade do escoa- Notícia Alternativa
de escoamentos fluviais, em re- mento. Liquefação do solo
cente artigo sobre sedimentação Além do mais, a ênfase do autor
na “Formação Tapeats” do Grand é dada com relação à possibilida-
RC100-ARQUIVO 3
Canyon, denominado “A Hydro- de destacada por G. A. Smith, em
dinamic Interpretation of the Ta- seu artigo “Coarse-grained non- Demonstração de liquefação
peats Sandstone” (CRS Quarterly marine volcanoclastic sediments: do solo durante um
vol. 48, n. 4, 2012), W. R, Bar- terminology and depositional terremoto
nhart ressalta" que, ao contrário process” (GSA Bulletin 97:1-10), RC100-VÍDEO 6
do que tem sido entendido, essa no qual são descritos escoamen-
formação não se originou como tos hiperconcentrados de sedi-
“deposição de areia grossa litorâ- mentos em enchentes, nos quais Instituto Minere
nea ou deltaica em uma fase ini- grandes concentrações de sedi- Liquefação de Solo
cial de transgressão marinha so- mentos ocasionam deposições
bre uma superfície epicratônica “em massa”. Esses escoamentos RC100-VÍDEO 7
com cobertura vegetal altamente hiperconcentrados podem con-
erodida e previamente sujeita a ter de 40% a 80% de sólidos em Exemplo recente (janeiro de
intemperismo”, mas sim como volume (cerca de 22% a 62% em 2019) de escoamento tixotrópi-
resultado de duas formas de in- peso). co foi observado na trágica onda
tensos escoamentos fluviais: avassaladora que resultou da li-
No caso da liquefação do solo, quefação da barragem de con-
“1) Escoamentos torrenciais hi- além do processo de natureza
perconcentrados, com altas tenção de Brumadinho, farta-
mais estática que corresponde à mente divulgada pelos meios de
velocidades, que deposita- formação das “areias movediças”,
ram camadas laminares hi- comunicação.
destaca-se o processo de transi-
perconcentradas, e ção ou instabilidade que ocor- Recomenda-se assistir o im-
2) Escoamentos turbulentos re ao serem atingidas condições pressionante vídeo sobre o rom-
com detritos arenosos de alta críticas que transformam o com- pimento da barragem de Bruma-
densidade.” portamento elástico dos solos em dinho acessando
A primeira forma, segundo o comportamento como o de flui-
autor, foi predominante, tendo dos não-newtonianos viscoelás-
sido interrompida ocasionalmen- ticos ou mesmo tixotrópicos ou Rompimento
de barragem em
te pela segunda. Ambas refletem reopécticos. Nesse último caso, Brumadinho
deposições extremamente rápi- observa-se fenômeno inverso ao
RC100-VÍDEO 8
das ocorridas por escoamentos da deposição, pois o que já havia
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Momento da liquefação da barragem de contenção de Brumadinho

e também acessar o “Relatório do De maneira similar, a integra- Em uma linha de corrente cur-
Painel de Especialistas sobre as ção da Equação de Euler na dire- va em um escoamento bidimen-
Causas Técnicas do Rompimento ção normal às linhas de corrente sional, a distribuição das veloci-
da Barragem” constante da Bibli- do escoamento leva à expressão dades é dada pela expressão VR
ografia citada no final deste artigo. p + ρgz = ρ(V2/R), sendo (como = constante, resultando então
no caso anterior) p a pressão es- que a distribuição das pressões
FORMAÇÃO DE tática, ρ a densidade do fluido, será dada por
MEANDROS E g a aceleração da gravidade, z a Δp = (p – p0) / [(ρ/2)V02] =
SEDIMENTAÇÃO FLUVIAL cota a partir de um nível de re-
ferência arbitrariamente fixado, =1 – (Vφ/V0)2
Abordagem hidrodinâmica V a velocidade do escoamento sendo V0 a velocidade média na
No estudo dos escoamentos de no ponto considerado sobre a secção da curva que esteja sen-
fluidos newtonianos é bastante linha de corrente, e R o raio de do considerada, como mostrado
conhecida a “Equação de Ber- curvatura da linha de corrente abaixo para um exemplo numé-
noulli” aplicada a escoamentos no mesmo ponto. rico.
em dutos e também com super-
Vφ / V0 Δp / ρ(V02 / 2)
fície livre, válida dentro de con-
dições de regime permanente,
incompressibilidade e ausência de
perdas devidas ao efeito da rota-
φ
cionalidade.
Essa equação é obtida a partir da φ
chamada “Equação de Euler” me-
diante sua integração ao longo das
linhas de corrente do escoamento, Distribuição das velocidades e das pressões no escoamento
levando à expressão p+ρgz+(ρ/2) através de uma curvatura bidimensional
V2 = constante, que nada mais é
do que o Princípio da Conserva- Ilustra-se nas duas primeiras fi- to das linhas de corrente do escoa-
ção da Energia para esse caso. guras da página seguinte o aspec- mento newtoniano bidimensional
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irrotacional, devendo ser lembra-


Q/5
do que nos escoamentos reais Vφ Q/5

Q/5
Q/5
Q/5
Q/5
Q/5
(especialmente de fluidos não- Q/5
Q/5
-newtonianos) existem numero- Q/5
sos efeitos secundários que afetam
essas distribuições de velocidades,
pressões e linhas de corrente.
φ
A formação de escoamentos
secundários de fluidos reais, ro-
tacionais de fluidos newtonianos, V0
em regime permanente, em cur- ESCALA
vas ou cotovelos é ilustrada nas Vφ = 1 m/s
quatro figuras seguintes, à direita. Escoamento na secção
Escoamento uniforme antes da curvatura indicada da curvatura
Em casos de escoamentos re-
Linhas de corrente e perfil de velocidades no escoamento irrotacional
ais, rotacionais, em regime per- (Atlas, Módulo Dinâmica)
manente ou não, e em fluidos
newtonianos ou não, como no A-A A-A
processo de formação de mean- A A
dros no caso dos escoamentos
fluviais (com superfície livre) A A
que provocam erosões e sedi-
mentações, os escoamentos se-
cundários são ilustrados nas Fi-
guras ao lado.
(a) (b) (a) (c)
Fica claro, do que foi exposto, Visualização das distribuições de velocidades em trecho de escoamento
que a formação de meandros flu- curvilíneo em dutos com secção retangular e circular
viais é o resultado da ocorrência
de escoamentos secundários nos coamento curvilíneo, formando po repetidamente em função do
trechos curvilíneos dos rios, que nesta última as chamadas “bar- regime de cheias dos rios, com
ocasionam um processo de ero- ras de meandro”. escoamentos não-newtonianos,
são e deposição de sedimentos Nesses processos hidrodinâ- podem ser formadas anualmente
respectivamente na margem ex- micos de grande intensidade extensas barras de meandro com
terna e na margem interna do es- que ocorram ao longo do tem- camadas sedimentares que se so-

Velocidade no sentido de jusante: vs Margem interna Força centrífuga Margem externa


Superelevação
Célula da
Escoamento margem externa
Velocidade transveral: vn helicoidal no
sentido de
Circulações na secção transversal: jusante

Célula da região central


Célula da margem externa

Margem externa Força centrífuga Margem interna


Velocidade vertical: vz
Força Força de
centrífuga pressão

Visualização da distribuição de velocidades


em trecho de escoamento curvilíneo com superfície livre

anual/2019 Revista Criacionista nº 100 45


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Zona de inundação

Fluxo principal
Barras de meandro de meandro

Zona de erosão
Zona de sedimentação
Esquemas ilustrativos da hidrodinâmica da formação sucessiva de meandros e barras de meandros
(Figuras do Exercício 2 do Tópico 4.2 do Módulo Dinâmica e Figura 4.16
no Tópico 4.3 do Módulo Cinemática do Atlas de Mecânica dos Fluidos)

breponham repetidamente, com te, areia fina, areia grossa ou ... O modelo mais provável de
numerosas subcamadas forma- cascalho que se depositam em formação de barras de mean-
das durante episódios correspon- água com pouca energia e sem dro está resumido no esquema
dentes a cada um dos vários perí- competência de transporte, indicado abaixo, com a conjec-
odos da época das cheias anuais. quer dentro do leito de um rio tura básica de que um escoa-
turbilhonante, quer na parte mento ou um rio meandrifor-
Abordagem geológica sedimentar convexa de um meandro e que, me representa um equilíbrio
Na Geologia Sedimentar, esses mais tarde, podem ser fossiliza- entre:
leitos são denominados “barras dos, lateralmente, por tampões (i) Os efeitos da fricção e a
de meandro” e considerações a argilosos e, verticalmente, por
inércia do escoamento da
seu respeito são descritas e trans- sedimentos marinhos trans-
água e
critas a seguir tendo como fonte a gressivos
Referência encontrada na publi- (ii) A tendência natural que a
As desconformidades que
cação "Estratigrafia Sequencial, água tem a seguir o trajeto
separam os tampões argilosos,
nos tópicos Barra de Meandro mais curto e de maior de-
depositados durante os perío-
(Fóssil) e (Modelo Geológico)", clive.
dos de abandono do meandro
que pode ser acessada no Arqui- (lagos de meandro) não corres- Nas regiões pouco ricas em
vo 4: pondem a discordâncias (su- sedimentos, os rios têm tendên-
perfícies de erosão), uma vez cia a formar canais semicircu-
Estratigrafia Sequencial que na evolução de um mean- lares nos quais o fluxo mais rá-
Barra de Meandro dro há, ao mesmo tempo, ero- pido se localiza na parte central
- Fóssil; são e deposição. como se o canal fosse retilíneo.
- Modelo Geológico.
RC100-ARQUIVO 4

A exposição feita é de caráter


geral e leva em conta, além dos
fenômenos fluviais propriamen-
te ditos, também efeitos eventu-
ais de transgressões e regressões
marinhas no caso de meandros
em planícies aluviais costeiras.
“As barras de meandro são
caracterizadas na Estratigrafia Lagos de meandro
por acumulação de argila, sil- (Fotografia aérea ilustrativa)

46 Revista Criacionista nº 100 anual/2019


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Dique Marginal Natural Depósito de Transbordo


(acreção vertical) (acreção vertical)
Banco de erosão

Barra de Meandro
(acreção lateral)
Preenchimento de
Leque de meandro
canal abandonado
(acreção vertical)
Rio
Barra de Meandro
Barra (acreção lateral)
de
Rio Meandro
Depósito residual
Esquema da formação de Barras de Meandro

Quando o canal é curvo, meandro, como o escoamento obriga o leito do rio (canal) a
como acontece a maior parte da água é fraco (água frou- migrar em direção do banco
das vezes, a inércia empurra a xa), uma parte dos sedimen- côncavo até que se forme um
zona de escoamento mais rá- tos transportados deposita-se atalho de meandro, isto é, uma
pido contra o banco côncavo, formando uma barra de me- passagem direta da corren-
o qual é erodido criando um andro. te entre dois bancos côncavos
banco de erosão. Ao contrário, A erosão no banco côncavo e consecutivos, o que isola a bar-
junto do banco convexo do a deposição no banco convexo ra de meandro, entre os dois

Meandro atual e meandro fóssil

Detalhes do meandro fóssil

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bancos côncavos, e forma um termos de análise sequencial, o A superfície de erosão, que


lago de meandro na parte do que quer dizer, que, provavel- caracteriza uma discordância
canal abandonado. mente, ela não foi induzida por é, mais tarde, fossilizada pelos
Geralmente, um atalho de uma descida significativa do biséis de agradação marinhos e
meandro ocorre durante um nível do mar relativo (resulta- costeiros dos sedimentos sobre-
período de cheia do rio, no do da ação combinada do nível jacentes. Todavia, nas linhas
decurso da qual o escoamen- do mar absoluto ou eustático, o sísmicas, estes biséis só são
to principal é desviado para a qual é global e referenciado ao evidentes nos preenchimentos
zona depressiva entre as bar- centro da Terra, e da tectóni- dos canhões submarinos, per-
ras de meandro, uma vez que ca) que produziu uma superfí- to do rebordo da bacia e nos
a água tem a tendência na- cie regional de erosão. O mais preenchimentos dos vales ca-
tural de seguir o trajeto mais provável é que esta desconti- vados (os biséis de agradação
curto e de maior declive (Lei nuidade tenha sido criada por não marinhos são, raramente,
de Fermat-Maupertius ou um atalho de meandro, que visíveis nos dados sísmicos). O
princípio da ação mínima e lei individualizou um lago de me- ambiente sedimentar onde se
de Snell ou princípio de tempo andro, o qual, mais tarde, foi depositam as barras de mean-
mínimo). fossilizado por preenchimentos dro é localizado a montante
argilosos (tampões argilosos). dos biséis de agradação costei-
Com o tempo, uma barra Os sedimentos argilosos basais,
de meandro é fossilizada la- ros, o que quer isto dizer que,
que preenchem o antigo lago de à superfície de incisão do rio,
teralmente, pelos sedimentos meandro e que formam o pri-
argilosos depositados no lago quer ela seja original ou rea-
meiro tampão argiloso, repou- tivada (ruptura do perfil de
de meandro, quando então o sam por biséis de agradação
canal é abandonado definiti- equilíbrio provisório) pode,
contra a descontinuidade que eventualmente, correlacionar
vamente (atalho definitivo), limita a parte externa da barra
ou por uma alternância de ar- lateralmente com um superfí-
de meandro. cie de erosão (discordância).
gila e areia, quando o canal é
abandonado de maneira inter- Como neste tipo de ambiente Todavia em Geologia, como
mitente (atalho intermitente). sedimentar, onde erosão e de- em todas as ciências, uma cor-
Este mecanismo é válido não posição são, quase sempre, sín- relação pode não ser uma rela-
só para os meandro de planície cronas, o termo discordância ção de causa a efeito.
aluvial, mas também para os não pode ser utilizado como
Os sedimentos que preen-
meandros de vale. ele o é, geralmente, na análi-
chem a incisão fluvial, onde
se sequencial. Na estratigrafia
Nos depósitos não marinhos várias descontinuidades são
sequencial, uma discordância
e, particularmente, nos am- sempre visíveis, estão asso-
corresponde a uma superfície
bientes fluviais, como ilustra- ciados mais com as variações
de erosão induzida por uma
do na barra de meandro fóssil laterais da velocidade de esco-
descida do nível do mar relati-
(mostrada abaixo), os biséis de amento do rio do que com as
va (nível do mar referenciado
progradação são muito carac- variações do nível do mar re-
a um ponto local, que pode ser
terísticos. Os estratos inclina- lativo. As barras de meandro
o topo da crosta continental
dos da barra de meandro ter- ou o fundo do mar), que des- encontram-se nos dois tipos
minam, na base, isto é, contra loca para jusante os biséis de principais de meandros:
a superfície de incisão fluvial agradação costeiros exuman- (i) Meandros livres ou di-
(não visível nas fotografias aci- do, total ou parcialmente, a vagantes, que têm a sua
ma) por biséis de progradação. plataforma continental (se ela origem na dinâmica dos
A descontinuidade, subli- existir, uma vez que dentro de próprios cursos de água,
nhada pela linha vermelha on- um ciclo sequência, a bacia quando as sinuosidades são
dulada (na fotografia acima), pode não ter plataforma conti- independentes do traçado
não é uma discordância em nental). do vale e
48 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
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(ii) Meandros encaixados ou de e que, “na região central dessas de meandro formados nas par-
vale, que tem as suas curvas bacias estabeleceu-se um siste- tes do leito fluvial meandrante
coincidentes com o traçado ma fluvial meandrante com uma abandonado.
topográfico do vale. ampla planície de inundação, Bacias de acumulação podem
O termo ‘vale’ corresponde onde ocorriam lagos perenes e ser formadas quer em obras
aqui à depressão da superfície temporários”. de contenção de enchentes em
terrestre, alongada, relativa- Em seguida, foram dadas in- centros urbanos densamente
mente estreita e inclinada, que formações sobre os processos de povoados, quer em depressões
pode ser ou não ocupada por hidro-abrasão, incluindo con- geográficas em que pode haver
um curso de água ao longo do siderações sobre a relação entre condições de retenção de águas
qual se podem diferenciar: a intensidade dos processos e o pluviais que carreiam os mais
a) A cabeceira (borda supe- tempo para a ocorrência de seus variados tipos de depósitos alu-
rior); efeitos. Em continuação, foram viais, dando origem a vários am-
dadas informações sobre os pro- bientes de sedimentação como,
b) A desembocadura (borda por exemplo, fluviais e lacustres
cessos de sedimentação em geral
inferior); (incluindo planícies aluviais ou
e a interação dinâmica entre os
c) Os flancos ou ladeiras (os processos de erosão, transpor- planícies de inundação de várze-
lados) e te e sedimentação nos escoa- as), lagunares, estuarinos e del-
d) O talvegue, que correspon- mentos fluviais, ressaltando-se taicos.
de, praticamente à parte a importância do Diagrama de No Tópico “Fácies de Vales
mais profunda do leito da Hjülstrom para a compreensão Fluviais” de seu livro “Geologia
corrente.” dos processos. Ficou claro que Sedimentar”, Kenitiro Suguio
o processo de sedimentação flu- (Op. cit., pp. 233 e seguintes)
Certamente a abordagem hi- vial é dinâmico e que as camadas apresenta importantes informa-
drodinâmica da formação de sedimentares resultantes desse ções sobre depósitos aluviais,
meandros e da sedimentação processo formam-se sincroni- mostrando a sua classificação
fluvial complementa bastan- camente. Logo em seguida, fo- aceita modernamente em três
te bem e enriquece essa abor- ram feitas observações sobre a grupos principais:
dagem geológica sedimentar, natureza dos fluidos reais, par-
abrindo maior horizonte para a • “Depósitos de canal, forma-
ticularmente sobre os fluidos dos pela atividade do canal,
compreensão do fenômeno da não-newtonianos, que abran-
formação de meandros. Ambas incluindo os depósitos residu-
gem grande gama de tipos que ais de canal, de barras de me-
fornecem importantes subsídios podem corresponder a misturas
para a aplicação final visada por andros, de barras de canais e
de água com partículas sólidas de preenchimento de canal;
este artigo, nas considerações se- de diferentes dimensões, forma-
guintes. • Depósitos marginais, origi-
tos e propriedades físicas, como nados nas margens de ca-
acontece em águas pluviais que nais, durante as enchentes,
HIDROGRAMAS, BACIAS carreiam lama e detritos de na-
DE ACUMULAÇÃO E incluindo os depósitos de di-
turezas mais variáveis possíveis. ques marginais (ou naturais)
PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO
Abordou-se, então, a hidro- e de rompimento de diques
Ao ser apresentada uma visão dinâmica da formação de me- marginais;
geopaleontológica da Bacia do andros e agora será mostrado • Depósitos de planícies de
Rio do Peixe, ficou bem desta- como se comportam os escoa- inundação, essencialmente
cado que, “ao longo das bordas mentos hídricos em regime va- compostos por sedimentos
falhadas da bacia, a deposição riável com superfície livre, no finos depositados durante as
consistia de leques aluviais, mo- caso de bacias de acumulação, grandes enchentes, quando
dificando-se distalmente para em conexão com a sedimenta- as águas ultrapassam e/ou
sistemas aluviais entrelaçados” ção que pode ocorrer em lagos rompem os diques naturais,
anual/2019 Revista Criacionista nº 100 49
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correspondendo aos depósi- da vazão afluente Q1 mas também Essa função ϕ(Q2) descreve o
tos de planícies de inundação das características fisiográficas da importante papel regularizador
e aos paludiais (ou palus- região inundada, que influem no que desempenham reservató-
tres).” valor da variação de h em função rios de acumulação utilizados
Considerando a finalidade des- do volume armazenado (ou seja, para o combate aos efeitos mui-
te do artigo, serão levados em de dvol/dh) e dependendo tam- tas vezes desastrosos de enchen-
conta aqui apenas os depósitos bém da maneira pela qual varia tes urbanas, motivo pelo qual
de planícies de inundação, em a altura da lâmina d'água h em recebe o nome de “função de
conexão com a interpretação hi- função da vazão efluente Q2 (ou moderação”.
drodinâmica dos icnofósseis que seja, de dh/dQ2) na crista de um O tratamento matemático da
é o objetivo que se tem em vista. dique natural ou de um vertedor. função ϕ(Q2) é laborioso e pode
Assim, para melhor compre- A influência desses fatores in- ser encontrado em textos aca-
ender o papel moderador que as tervenientes pode então ser dada dêmicos que tratam do estudo
planícies de inundação exercem por uma função ϕ(Q2) expressa fluidodinâmico das vazões in-
na hidrodinâmica fluvial, com a formalmente pela notação tervenientes aplicando a chama-
consequente forma de deposi- da “Equação da Continuidade”,
ção do material carregado pelos ϕ(Q2) = (dvol/dh) (dh/dQ2). que nada mais é do que a ex-
rios, será feita a seguir uma bre-
ve análise hidrológica (usual na
Hidráulica Fluvial) do balanço
das vazões envolvidas no proces-
so dos escoamentos que podem Q1 dvol/dt
ocorrer durante períodos de en-
chentes e vazantes fluviais.
Então, chamando de Q1 a va- Q2
zão afluente (que alimenta o
reservatório de acumulação ou
a bacia fluvial), variável em fun- ESQUEMA ILUSTRATIVO DO BALANÇO DE VAZÕES
EM UM RESERVATÓRIO DE ACUMULAÇÃO
ção do tempo, e de Q2 a vazão Q1 = Vazão afluente Q2 = Vazão efluente dvol/dt = variação do volume de água retido
efluente (que é descarregada do
reservatório ou bacia), também
Q
variável em função do tempo, o Q1max dQ1 / dt=0

volume armazenado (dado pela Q2max dQ2 / dt=0


Q1
expressão dvol/dh) com a varia-
ção de h (altura do nível da água
Q2
acima da crista da barragem do
Q2max - Q2min
Q1max - Q1min

reservatório), também variável


em função do tempo, tem-se
pela Equação da Continuidade Q2min dQ2 / dt=0
da Hidrodinâmica a condição
Q1min dQ1 / dt=0
Δt
Q1 - Q2 = (dvol/dh) t (em dias)
dQ1/dt>0 dQ1/dt<0 dQ1/dt>0 dQ1/dt<0 dQ1/dt>0 dQ1/dt<0
com todas as suas grandezas en-
volvidas sendo variáveis em fun-
dQ1/dt=0

dQ2/dt=0

dQ1/dt=0

dQ1/dt=0

dQ1/dt=0

dQ2/dt=0

dQ1/dt=0

dQ1/dt=0

ção do tempo.
Todas essas variações em fun- HIDROGRAMAS PARA A APLICAÇÃO DA EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE
A RESERVATÓRIOS DE CONTROLE DE ENCHENTES
ção do tempo ocorrem depen- Em vermelho, vazão afluente, em azul, vazão efluente
dendo não somente da variação (Atlas, Módulo Cinemática, Fig. 3.10)

50 Revista Criacionista nº 100 anual/2019


Sociedade Criacionista Brasileira

pressão do Princípio da Conser- preensão do comportamento Uma das propriedades dessa


vação da Massa” (Vieira, R. C. dos hidrogramas unitários das função é que, para dQ2/dt = 0,
C., “Atlas de Mecânica dos Flui- vazões afluente e efluente, em isto é, um máximo (ou mínimo)
dos Clássica”, Módulo 3 “Cine- reservatórios de acumulação ou da vazão efluente, corresponde
mática”). bacias fluviais, conforme resu- para a vazão afluente a condição
A função ϕ(Q2) é de funda- midamente será mostrado a se- dQ1/dt = ϕ (d2Q2/dt2) e portanto
mental importância para a com- guir. os três casos seguintes
dQ1/dt < 0 indicando um máximo de Q2(t) para valores decrescentes de Q1
dQ1/dt > 0 indicando um mínimo de Q2(t) para valores crescentes de Q1
dQ1/dt = 0 indicando um ponto de inflexão na curva de variação de Q2(t) em função do tempo.
Essas propriedades ficam ex- interior da bacia ou planície de ções das diferenças de vazões no
plicitadas nas duas curvas de va- inundação. decorrer do tempo (ou as cor-
riação das vazões (indicadas nos Observe-se, por exemplo, após respondentes velocidades de es-
hidrogramas acima - em verme- o cruzamento dos dois hidrogra- coamento, de maneira geral, na
lho, vazão afluente Q1, em azul, mas no ponto correspondente à bacia de inundação) em conexão
vazão efluente Q2) em função do vazão efluente mínima, que a va- com o Diagrama de Hjülstrom,
tempo. riação das vazões no interior de verifica-se a existência de um
Essa Figura apresenta o que é uma bacia de inundação (dada efeito muito maior na sedimen-
designado como “Hidrograma pela variação da diferença das tação de partículas do que no
Unitário” de vazões afluente e ordenadas das duas curvas em caso de maiores velocidades do
efluente, para um caso concreto função do tempo) é crescente até escoamento, e tanto maior quan-
de bacia de acumulação, com a o ponto de inflexão da curva das to menor o diâmetro médio das
indicação dos pontos de infle- vazões afluentes, decresce em se- partículas carregadas.
xão, de máximo e de mínimo guida, até o novo ponto de infle- Kenitiro Suguio, em seu livro
que foram considerados. xão, para depois se manter pra- sobre “Geologia Sedimentar” já
Além desses aspectos qualita- ticamente constante até o ponto citado (p. 233), ao abordar as fá-
tivos, observa-se também a pro- de máxima vazão afluente e di- cies de vales fluviais, destacou que
priedade moderadora de ser minuir drasticamente até o pon-
“Os fragmentos sólidos (prin-
to de cruzamento corresponden-
(Q2max – Q2min) < (Q1max – Q1min) cipalmente minerais e rochas)
te à vazão efluente máxima.
transportados pelos rios podem
e de haver um atraso Δt na ocor- A partir de então, a variação ser classificados em dois grupos
rência do valor máximo da vazão das diferenças entre as vazões principais – carga de fundo e
efluente com relação ao máximo afluente e efluente muda de sen- carga em suspensão:
da vazão afluente. Destaca-se, tido, isto é, as vazões efluentes
A carga de fundo é deposi-
também, que as vazões efluentes passam a ser maiores do que as
tada como resíduo de canal
máxima e mínima ocorrem nos vazões afluentes e a diferença
e nas barras de meandro, en-
pontos de cruzamento dos dois entre elas varia de forma seme-
quanto que
hidrogramas. lhante à que foi considerada no
caso anterior, até o próximo cru- A carga em suspensão depo-
O efeito de diminuição dos va-
zamento dos dois hidrogramas. sita-se nos diques marginais e
lores da vazão afluente exercido
nas planícies de inundação.”
pela bacia de acumulação faz-se O valor dessas diferenças en-
sentir não somente na diminui- tre as vazões afluente e efluente Nas planícies de inundação e
ção dos valores da vazão efluen- é sempre bastante menor do que nos diques marginais, ocorrem
te, como na dos valores de todas o valor de cada vazão corres- escoamentos em que vazões
as demais vazões (e portanto pondente, no mesmo instante. afluentes e efluentes compor-
velocidades) do escoamento no Assim, analisando essas varia- tam-se da maneira apresentada
anual/2019 Revista Criacionista nº 100 51
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neste texto e portanto a sedi- te e sedimentação de partículas leitos superpostos formaram-se


mentação fluvial se dá em con- sólidas em escoamentos fluviais juntos, de montante a jusante.
formidade com os parâmetros em geral e, em particular, para Isso demonstrou que os leitos
estabelecidos no Diagrama de a compreensão das várias mo- de estratos não se formam um
Hjülstrom em função das va- dalidades da sedimentação de de cada vez como exigido pelo
riações de vazão observadas nos origem fluvial, em função da va- Princípio da Superposição; eles
respectivos Hidrogramas Unitá- riação das vazões afluente Q1 e se formam simultaneamente.
rios. efluente Q2. Nem qualquer leito tem a mes-
Esses Hidrogramas Unitários É de interesse ressaltar aqui a ma idade em qualquer ponto,
podem acusar as variações das crítica objetiva de Guy Berthault como exigido pelo Princípio
vazões em diferentes períodos de sobre o “Princípio da Superpo- da Continuidade, pois eles se
tempo, indicando variações anu- sição”, tão amplamente usado formam juntos e lateralmente.
ais (reais para cada ano, ou média para a explicação da formação Cada parte lateral de cada leito
para intervalos de tempo dece- de camadas sedimentares na Ge- do estrato tem, portanto, uma
nais, quinzenais e até seculares) ologia Histórica, feita a partir de idade diferente.
mostrando períodos de cheias ou dados experimentais obtidos em Porém, algo mais está acon-
vazantes extraordinários. canaleta hidráulica com a simu-
tecendo. Quando a velocidade
Experimentalmente, têm sido lação de escoamentos fluviais
do escoamento se reduz, co-
feitas em canaletas hidráulicas com vazões afluentes e efluentes
meça a formar-se um segundo
numerosas simulações do efei- variáveis. O trecho seguinte da
depósito por cima do primeiro,
to das variações das vazões Q1 narração do vídeo mencionado
enquanto ele ainda continua
e Q2 correspondentes ou não às esclarece como a variação dessas
a formar-se. Os dois depósitos
dos Hidrogramas Unitários, que vazões (ou velocidades, na cana-
leta experimental), em conexão superpostos progridem simul-
permitem a observação de im-
portantes fatos a respeito da se- com a variação que se observa taneamente de montante a ju-
dimentação que ocorre durante em um Hidrograma Unitário, sante. Quando a velocidade do
escoamentos carreando material demonstra a invalidez do Princí- escoamento é aumentada, um
sólido granular, sob diversos re- pio da Superposição: terceiro depósito começa a for-
gimes fluviais. mar-se acima dos outros dois, e
“A velocidade do escoamento todos os três progridem juntos
Resultados obtidos em ex- de água partiu de 1 m/s e deu em direção a jusante. Temos
perimentos realizados na Uni- origem a depósitos de microes- aqui um fenômeno de leitos
versidade do Colorado são tratos ou lâminas formando-se
apresentados no interessante múltiplos sucessivos sendo for-
em direção a jusante. A vazão mados um sobre o outro, ver-
vídeo “Experimentos em Es- foi então reduzida para 0,5
tratificação”, de autoria de Guy ticalmente e lateralmente ao
m/s, e isso provocou o depósi- mesmo tempo. Os mecanismos
Berthault, cuja dublagem, com to de partículas de sedimen-
narração em Português, encon- que desencadeiam isso foram
to maiores. Então, à medida simples alterações na velocida-
tra-se disponível em: que o depósito aumentava de
de do escoamento.
espessura, a velocidade do es-
coamento foi novamente au- Os experimentos de labora-
“Experimentos em tório mostraram que, quando
Estratificacao”, versão do
mentada para 1 m/s e foram
vídeo de autoria de Guy depositadas lâminas sobre as existe água em escoamento,
Berthault partículas maiores. Assim, o uma camada não se deposita
RC100-VÍDEO 9 depósito ficou composto, de sobre outra, cada uma sendo
cima para baixo, de leitos de mais antiga do que a que lhe
Seu conteúdo é extremamente estratos com partículas pe- está acima. Isso, portanto, é
útil para o esclarecimento dos quenas, partículas grandes, e uma grande exceção ao Princí-
fenômenos de erosão, transpor- partículas pequenas. Os três pio da Superposição.”
52 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira

ICNOLOGIA EM Nesses locais estão represen- em Sousa, Paraíba, já descritas


MEANDROS DE tados vários tipos de facies em no Tópico 2 deste artigo, apre-
PALEOAMBIENTES diversos ambientes fluviais e a sentam também trilhas de pega-
SEDIMENTARES FLUVIAIS descoberta de pegadas indica das de dinossauros em conexão
na maior parte a presença de com paleoambientes fluviais, de
Pode-se, agora, voltar ao ar- Hadrossauros, com presença li- maneira semelhante à observada
tigo de Bernat Vila et al., 2003, mitada de dinossauros saurópo- na Floresta de Ashdown (como
que trata da formação de pega- dos. As trilhas de hadrossauros visto logo no início deste arti-
das de trilhas de dinossauros em são significativamente de menor go) e também nesta Formação
paleoambientes na “Formação proporção do que as encontra- Tremp, como pode ser observa-
Tremp”, no sul dos Pirineus (su- das na América do Norte e na do nas ilustrações seguintes.
doeste europeu) trazendo im- Ásia, embora morfologicamente Interessantes breves documen-
portante contribuição para a ex- similares, e são atribuídas ao ic- tários sobre a interpretação dos
plicação de um possível processo nogênero Hadrosauropodus. icnofósseis existentes em Sousa,
de formação de meandros fós- A sucessão de trilhas em mais no Brasil e também no Parque
seis que apresentam icnofósseis, de 40 níveis distintos indica que Nacional de Toro-Toro, na Bo-
como os que ocorrem no Brasil as pegadas de hadrossauros na lívia, produzidos pela Sociedade
em Sousa, por exemplo. região ocorrem predominante- Criacionista Brasileira podem
Nesse artigo, são descritas cer- mente no Maastrichtiano antigo também ser acessados nos víde-
ca de 30 novas trilhas de pegadas (pelo menos acima da fronteira os apresentados nesta página e
com os dados sobre os ambien- entre o Maastrichiano antigo e o na página 65, respectivamente.
tes sedimentares respectivos, a recente). [Ver Tabela Cronoes-
ocorrência e a preservação das tratigráfica Internacional apre-
pegadas, juntamente com a ic- sentada logo no início].
Excursão ao Parque dos
nologia e a cronoestratigrafia As características geomorfoló- Dinossauros em Sousa - PB
local. gicas da Bacia do Rio do Peixe
RC100-VÍDEO 10

Vistas atuais de indícios das barras de meandros e pegadas de dinossauros


em camadas sedimentares sucessivas com destaque para algumas trilhas de pegadas na Formação Tremp

Vista panorâmica de trecho da Formação Tremp

anual/2019 Revista Criacionista nº 100 53


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Orcau 16 LT 20

N OrE
OrW 14 LB
17
BTN TDN
OR 13 15 18
Suterranya 12 BTS Basturs
St SC 21
19 TDS
BWA BP
Sinclinal de Tremp
Trem
p
BWB
4,5 K
m Sant Roma
d'Abella

Figuerola
d'Orcau

Anticlinal de Isona
CS
Isona

MR Conques
22

LTs BGN
24

23
BGS
Falha Rio
Falha Estrada
de empurrão
Basturs
Sinclinal Núcleos urbanos
Anticlinal Escala 5 km
5 km
Inclinação do Local de trilhas
eixo da dobra 1 de pegadas

Margas, calcários, calcarenitos Lutiitos variados

Margas e calcarenitos Horizonte de lutito vermelho

Lutitos, arenitos, calcários micríticos Níveis de arenito e conglomerado

Lutitos claros, arenitos e conglomerados lenticulares Calcário

Calcário Calcário
Lutitos vermelhos e variados

Mapa ilustrativo de parte da Formação Tremp

Vistas de cortes em estradas com indícios das barras de meandros


FORMAÇÃO TREMP

A título de ilustração adicional sobre pegadas uma excursão ao Parque Nacional de Toro-
fósseis de dinossauros, informamos a nossos -Toro e efetuou uma filmagem in loco que deu
leitores que, antecipando a realização do XII origem a um vídeo sobre as trilhas de pegadas
Seminário "A Filosofia das Origens" da SCB em de dinossauros existentes naquele local.
maio de 2012 em Cochabamba, na Bolívia, a Esse interessante vídeo pode ser acessado pelo QR-
equipe de palestrantes da SCB participou de Code na página seguinte.

54 Revista Criacionista nº 100 anual/2019


Sociedade Criacionista Brasileira

A B

Excursão ao Parque Nacional


de Toro-Toro na Bolívia

RC100-VÍDEO 11

Deve ser destacado o fato de que


essas pegadas são encontradas
em paleoambientes correspon- C D
dentes a sedimentações sucessi-
vas ocorridas durante a formação
das barras de meandros.
Em continuação, são apresen-
tados desenhos ilustrativos de
tentativa de reconstrução de tri-
lhas como estas e da Formação E A e B) Vista geral do Geossítio Passagem das
Pedras mostrando a superfície com
Tremp, de interesse para a com- pegadas fósseis de dinossauros e pas-
preensão do processo de forma- sarelas para visitação
C) Detalhe de pegada da icnoespécie
ção das pegadas, à luz do que foi Sousaichnium pricei, atribuída a um
exposto até aqui neste artigo. dinossauro ornitópode
D e E) Pista e detalhe de pegada da icno-
espécie Moraesichnium borboremae,
CONCLUSÃO atribuída a um dinossauro terópode
(Ref. Rogério Valença Ferreira et al., op. Cit.)
Em face das considerações to-
das feitas a respeito da hidrodi-
nâmica da formação de mean-
dros fluviais e da natureza não
newtoniana dos escoamentos,
em conexão com os processos
de erosão, transporte e sedimen-
tação de material descritos pelo
Diagrama de Hjülstrom, fica fácil
compreender e interpretar o pa-
norama observado em geral nos
paleoambientes sedimentares em
que são encontrados icnofósseis. GEOSSÍTIO PASSAGEM DAS PEDRAS
Detalhes das margens atuais do rio
Nos três casos mencionados com indícios das barras de meandros e
pegadas de dinossauros em camadas
neste apanhado geral, na Flores- sedimentares sucessivas
ta de Ashdown em East Sussex,
Inglaterra, na Bacia do Rio do reproduzidos a seguir, apresen-
Peixe da Formação Sousa, Para- tados por Bernat Vila et alii em
íba, e na Formação Tremp, nos seu artigo publicado na revista
Pirineus, observam-se barras de PLOS em 2003 (“The Latest Suc-
meandros em conexão com os cession of Dinosaur Tracksites
icnofósseis, de tal maneira que a in Europe: Hadrosaur Ichnolo-
recomposição dos paleoambien- gy, Track Production and Pa-
tes em todos esses casos pode ser leoenvironments”, que pode ser
Outras vistas da Passagem das Pedras
visualizada de forma bastante acessado no vídeo apresentado no trecho do canal de alívio da
contextualizada nos desenhos na página seguinte. vazão do Rio do Peixe

anual/2019 Revista Criacionista nº 100 55


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ras de meandros que podem ser fluvial. Neste caso, a trilha de pe-
observadas na parte convexa dos gadas forma-se sobre sedimen-
Íntegra do artigo de meandros – ou seja, nas cinco tos ainda submersos em lâmina
Bernat Vila et all. bordas externas do trecho fluvial d’água da lagoa resultante do
considerado – onde são deposi- isolamento do antigo trecho do
RC100-ARQUIVO 5
tados os sedimentos em camadas meandro, que foi abandonado.
A partir do que foi exposto sucessivas durante os episódio Esses esquemas, por si sós, são
quanto à formação das barras de de cheias sazonais. extremamente elucidativos do
meandros, e das observações efe- A título de ilustração mostram- que poderia ter ocorrido na Ba-
tuadas in loco no “Vale dos Di- -se também três trilhas de dinos- cia de Sousa para dar origem aos
nossauros” em Sousa, bem como sauros saurópodos, formadas so- icnofósseis hoje lá encontrados,
de recentes pesquisas efetuadas bre camadas sedimentares mais e as considerações outras feitas
na Espanha com relação a trilhas recentes, ainda não litificadas. neste artigo contextualizam as
de hadrossauros na “Formação O segundo esquema represen- condições em que as pegadas
Tremp”, é possível propor es- ta um panorama da formação de teriam sido formadas e fossili-
quemas que ilustrem como po- trilha de pegadas em duas situa- zadas.
deriam ter sido formadas essas ções distintas. À esquerda, a for- Em resumo, as pegadas pode-
trilhas em camadas sedimenta- mação sobre terreno em avan- riam ter se formado em planí-
res em processo de litificação em çado estado de consolidação, cies fluviais meandrantes após a
bacias fluviais sujeitas a cheias em borda externa de meandro. temporada das cheias anuais, em
anuais periódicas. À direita, a formação em braço época relativamente recente, em
O primeiro esquema represen- de meandro abandonado devido que dinossauros e seres huma-
ta a formação das sucessivas bar- à mudança de posição do leito nos conviveram.
TENTATIVA DE RECONSTRUÇÃO DA FORMAÇÃO DE TRILHAS DE HADROSSAUROS
EM DEPOSIÇÕES FLUVIAIS DA FORMAÇÃO TREMP

Barras em pontal com laminação horizontal

Barras em pontal com Lagoas formadas


superfícies de acreção lateral em meandros
abandonados

Depósitos de depressão
Ambientes sedimentares com barras de meandros

Barras de meandros
entrelaçados
Canal fluvial ativo

Curva de meandro abandonado

Ambientes sedimentares com barras de escoamentos fluviais entrecruzados


Fonte: BERNAT VILA et al., “The Latest Succession of Dinosaur Tracksites in Europe: Hadrosaur Ichnology, Track Production and Paleoenvironments”,
PLOS (3/9/2003).
56 Revista Criacionista nº 100 anual/2019
Sociedade Criacionista Brasileira

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Cinemática dos Fluidos e Módulo
4 – Fluidodinâmica; nova edição
prevista para lançamento em 2021.

Relatório do rompimento da
barragem de Brumadinho

RC100-ARQUIVO 6

Gravadas para sempre


Limo ajudou a preservar pegadas que poderiam ter sido apagadas pelo vento e pela chuva

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58 Revista Criacionista nº 100 anual/2019

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