A filosofia consensual
entre outros, ser de cobre, aço inoxidável,
da utilização de materiais
homogéneos numa rede
de canalização
Enquadramento Regulamentar
Esta regra de boa prática, ampla-
mente conhecida pelos profissionais
relacionados com a actividade de execu-
ção de redes da canalização de fluídos,
está consagrada em termos legais no
Regulamento Geral dos Sistemas Públi-
cos e Prediais de Distribuição de Água
e de Drenagem de Águas Residuais (D.R.
n.º 23/95, de 23 de Agosto). O qual
prescreve no n.º1, alíneas a) e b) do Ar-
tigo 97.º (Prevenção contra a corrosão),
e passamos a citar, o seguinte:
“1. No projecto das redes prediais
de água devem ser consideradas medidas
destinadas a atenuar os fenómenos de
corrosão, devendo para o efeito:
a) As canalizações metálicas da re-
de ser executadas, de preferência, com
o mesmo material;
b) No caso de materiais diferentes,
o material mais nobre ser instalado a
jusante do menos nobre, procedendo-se
ao isolamento das ligações por juntas
dieléctricas;“
Também os n.º 1 e 2 do Artigo 99.º
(Natureza dos materiais) prescrevem, e
passamos novamente a citar, o seguinte:
“1. As tubagens e acessórios que
Utilização de Materiais Homogéneos
numa Rede de Canalização
constituem as redes interiores podem,
aço galvanizado ou PVC rígido, este último
no caso de canalizações de água fria não
afectas a sistemas de combate a incên-
dios.
2. Nas redes exteriores de água
fria, as tubagens e acessórios podem
ser de ferro fundido, fibrocimento, polie-
tileno ou PVC rígido.“
Um requisito fundamental aplicável
a Sistemas/Instalações de Combate e
Incêndios com Água, impõe que por ra-
zões de segurança, não deverão fazer
parte da canalização materiais que não
conservem as suas características quan-
do submetidos a temperaturas iguais ou
superiores 400 ºC. Daí a absoluta proi-
Tema em Destaque nº 5
bição de utilização de tubagem em PVC,
assim como, quaisquer outras soluções
baseadas em materiais plásticos.
As louváveis preocupações
subjacentes à parte do Artigo
97.º que destacamos, que
originaram as adequadas especi-
ficações prescritas nas alíneas
a) e b) do seu n.º 1, prendem-
se com o objectivo de se evitar
a criação de condições propicias
à Corrosão Galvânica, extrema-
mente perigosa, pelo facto de
encurtar de forma muito
significativa a vida útil das redes
de canalização metálicas.
1 de 5
Análise Técnica
A corrosão galvânica é um
tipo particular de corrosão elec-
troquímica, que de uma forma
muito sucinta ocorre, quando dois metais
ou ligas metálicas diferentes se encontram
em contacto e imersos num mesmo elec-
trólito (que no interior das redes de
canalização será a água veículada). Com
efeito, o contacto entre dois metais de
diferentes materiais, que por sua vez
contactam o mesmo electrólito (a àgua),
cria uma pilha galvânica.
O funcionamento desta pilha galvâ-
nica (ver ex. na figura), dinamizada pelo
contacto entre os dois materiais metá-
licos com diferentes potenciais eléctricos,
onde um deles funcionará como ânodo e
o outro como cátodo, originará uma pro-
tecção do material que funciona como
Associação de Produtores de Tubos e Acessórios

cátodo à custa de uma acentuada cor-
rosão do material que funciona como
ânodo.
Os sistemas de protecção catódica
passivos (também designados por pro-
tecção com ânodos de sacrifício) estão
estabelecidos com base neste fenómeno.
São por ex. os casos da protecção inte-
rior dos termo-eléctricos que utilizam
ânodos de magnésio anti-corrosão e da
protecção dos cascos dos navios através
da ânodos de sacrifício em zinco.
É também neste contexto que se sus-
tenta a regra de não se utilizar aces-
sórios de latão ou bronze (ambos ligas
de cobre) para unir tubos de aço com
ou sem revestimento de zinco (tubos
galvanizados), evitando-se deste mo-
do a formação do par galvânico ferro-
cobre, que a acontecer , se caracteriza
pelo facto de o latão ou bronze funci-
onarem como cátodo e o aço funcio-
nar como ânodo, implicando com
extrema rapidez a destruição do aço
(ânodo) pelo processo corrosivo gera-
do, originando perfurações no tubo
de aço.
Em termos gerais deve-se evitar,
sempre que possível, que um fluido
circule por um material metálico catódico
antes de circular por um que lhe seja
anódico:
No caso (a), a evitar, se o fluido
ocasionar acção mecânica e/ou acção
corrosiva no tubo de cobre, arrastará
partículas e/ou iõens, Cu2+, desse metal,
para o tubo de aço com consequente
formação do par galvânico ferro-cobre
Utilização de Materiais Homogéneos
numa Rede de Canalização
e respectivo processo corrosivo, oca-
sionando perfurações no tubo de aço.
No caso (b), preferível, se o fluido
Tema em Destaque nº 5
ocasionar acção mecânica e/ou corrosiva
no tubo de aço, arrastará partículas de
ferro e/ou iões, Fe2+, para o tubo de
cobre, formando-se o par galvânico ferro-
cobre, idêntico à situação (a), mas com
a importante diferença de a corrosão se
processar nas partículas de ferro soltas,
não afectando o tubo de cobre e também
não ocorrer a reacção entre iões Fe2+ e
o cobre.
É neste contexto que se sustenta a
regra de se utilizar sem inconvenientes
torneiras, fluxómetros e outros disposi-
tivos de utilização fabricados em latão,
em sistemas de canalização constituí-
dos por tubos de aço e acessórios em
ferro maleável com ou sem revestimen-
to de zinco (galvanizados), uma vez que 2 de 5
esses dispositivos (utilizados em sig-
nificativas quantidades) são instalados
nas saídas dos ramais de alimentação.
No caso de circuitos fechados nunca
intercalar tubos ou acessórios de cobre
e suas ligas com tubos e acessórios de
ligas ferro-carbónicas (aço ou ferro fun-
dido).
Um factor extremamente importante
na prevenção da corrosão galvânica é
a relação entre a àrea de metal anódica
e a catódica:
· Se uma relação área anódica/área
catódica for muito maior que um, isto
é, área catódica pequena em relação à
área anódica, a corrosão não será tão
prejudicial,
· Ao contrário, se a área catódica
for maior que a anódica, a corrosão será
Associação de Produtores de Tubos e Acessórios
tanto mais intensa quanto maior for a
área catódica e menor a anódica, pois
tem-se uma alta densidade de corrente
na parte do metal, ânodo, que está sen-
do corroída.
Por isso, quando necessário, é mais
indicado o uso de parafusos e rebites
de material metálico catódico, numa es-
trutura anódica, do que o caso inverso.
Por exemplo, placas de aço unidas me-
diante rebites de cobre sofrem uma
corrosão muito atenuada nas placas de
aço quando imersas em água do mar.
Se as placas fossem de cobre e os
rebites de aço, a taxa de corrosão dos
rebites de aço (área anódica) seria extre-
mamente perigosa, pois a pequena área
do rebite poderia provocar a sua rotura.
mente por hidróxido de zinco, Zn(OH)2
, ou ZnO.nH2O. No caso da existência
de dióxido de carbono (CO2) nas águas,
essa película será constituída por
carbonato básico de zinco,
3Zn(OH)2.ZnCO3, que é extremamente
protectora. Adicionalmente a esta pro-
tecção por barreira, verifica-se uma pro-
tecção catódica (como atrás referido),
isto é, o zinco funciona como ânodo
protegendo o aço ou o ferro maleável
que serão cátodos, e deste modo não
sofrerão corrosão.
Importa ter especial atenção aos se-
guintes factores de risco:
1. Evitar fortemente a presença
de cobre na água:
A presença de cobre na água, sob

Tema em Destaque nº 5
É neste contexto que se sustenta a forma de sais solúveis, acelera a
a regra prática de se utilizar sem corrosão do galvanizado: os iões Cu2+
inconvenientes válvulas e conta- reagem com o zinco, corroendo o reves-
dores de latão ou bronze, em siste- timento:
mas de canalização constituídos Zn + Cu2+ Û Zn2+ + Cu
por tubos de aço e acessórios em O cobre resultante forma uma pilha
ferro maleável com ou sem reves- galvânica com o zinco restante, na qual
timento de zinco (galvanizados), este funciona como ânodo, sofrendo
uma vez a área dos tubos de aço e corrosão acelerada.
acessórios em ferro maleável (anó-
dica) é muito superior à área corres- 2. A verificação e controlo
pondente à pequena quantidade de do “pH” da água:
válvulas e contadores utilizados Quando em presença de águas muito
(catódica). ácidas ou muito alcalinas, o zinco sofre
acção desse mesmo meio originando
Síntese Prática: situações de corrosão, através das
Nunca se esqueça que em relação seguintes reacções químicas:
ao aço e ao ferro maleável: · meio ácido: 3 de 5
· Os revestimentos galvanizados têm Zn + 2H+ Û Zn2+ + H2
um efeito benéfico de protecção cató- · meio alcalino:
dica, pois os materiais como o zinco, Zn + 2OH- + 2H20 Û Zn(OH)42- + H2
magnésio e suas ligas são sempre anó- Estudos realizados sobre a inluência
dicos em relação ao ferro (protectores). do pH das soluções aquosas sobre a
· Nunca utilizar acessórios roscados natureza das capas de passivação e
de latão para unir tubos de aço, pois os sobre a velocidade de corrosão do zinco,
materiais como o cobre e suas ligas (la- permitiram concluir o seguinte:
tões, bronzes, etc.) são sempre catódicos · O zinco e os seus revestimentos
em relação ao ferro e ao galvanizado não devem ser expostos à acção pro-
(agressores). longada de águas cujo pH seja inferior
a 6 ou superior a 12,5.
A aptidão dos revestimentos · No intervalo de pH entre 8 e 11, a
galvanizados na condução velocidade de corrosão é extremamente
de águas baixa, não sendo significativa. Verifi-
cando-se a formação de uma capa de
O aço galvanizado é usado em sis- passivação muito estável e com grande
temas de canalização de águas (incluindo eficácia na protecção.
água potável) devido à formação, com A elevada velocidade de corrosão
o contacto com a água, de uma película que se produz em soluções fortemente
protectora constituída predominante- ácidas e alcalinas pode atribuir-se à im-
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numa Rede de Canalização
possibilidade de nestas condições se
formarem películas de passivação/pro-
tecção. Já que, embora exista um for-
necimento de oxigénio que permite de-
sencadear as necessárias reacções
químicas iniciais, verifica-se no entanto
que:
· num meio ácido não se verifica a
precipitação do hidróxido de zinco, pelo
facto de não existir suficiente concen-
tração de iões de hidróxidos, precipitação
essa fundamental para originar uma capa
de protecção estável.
· num meio fortemente alcalino (bá-
sico), embora se chegue a formar a capa
passivante de hidróxido de zinco, a mes-
ma não é estável pois transforma-se se-
guidamente em zincato soluvél.
1. Evitar o contacto com materiais
e acessórios de cobre e suas ligas (ex.
acessórios de latão ou bronze) ou sais
de cobre;
2. Controlar pH da água entre 6 e 11;
3. O controlo da temperatura da
água quente para que não ultrapasse os
60ºC. Evitar temperaturas de serviço
situadas no intervalo: 65ºC a 75ºC.
Recomendações de Projecto,
Instalação e Manutenção
Por forma a orientar os nossos leito-
res, na adequada prevenção do fenó-
meno da Corrosão Galvânica, eis algu-
mas recomendações simples e práticas,
mas de extrema importância, tendo em
vista a maximização do tempo de vida

Tema em Destaque nº 5
3. A temperatura da água: da instalação:
Esta variável também deve ser
considerada em sistemas de canalização Projecto e Instalação:
constituídos por tubos de aço e acessó- 1. Na utilização de diferentes mate-
rios em ferro maleável galvanizados, uti- riais, os metais seleccionados, se possí-
lizados na condução de águas. Observa- vel, deverão estar localizados, na tabela
se para temperaturas situadas na gama de potenciais (ver tabela abaixo), o mais
de 65 ºC a 75 ºC a corrosão torna-se próximo possível:
bastante intensa. Ex. Metais n.ºs 6 e 7 : SIM
Admite-se que nesta gama de tem- Metais n.ºs 6 e 10: NÃO
peraturas a película protectora torna-se
porosa e muito menos aderente. Acima
de 75 ºC volta a ficar mais aderente,
assumindo novamente uma forma mais
densa e compacta.
Ainda, relacionada com a tempera-
tura, existe a possibilidade do zinco so-
frer inversão de polaridade, para tempe-
raturas acima dos 65 ºC, tomando-se 4 de 5
anódico em relação ao ferro, e com isto,
não mais o protegendo catódicamente.
Esta questão está salvaguardada
pelo regulamento de águas nacio-
nal que prescreve no n.º 2, do Arti-
go 97.º (Prevenção contra a corro-
são), e passamos a citar, o seguinte:
“As temperaturas da água na distri-
buição de água quente não devem
exceder os 60 ºC.“
4. Síntese
Como demonstrado anteriormente, a
protecção de tubos de aço e acessórios 2. Estabelecer condições de relação
roscados em ferro maleável galvaniza- área anódica/área catódica muito superior
dos, usados em redes de águas (para a 1. Ao maximizarmos a utilização de
consumo humano, sanitárias, seguran- materiais anódicos, estamos a conseguir
ça contra incêndios, etc.) deve ser direc- uma maior durabilidade da rede de cana-
cionada em termos gerais no sentido de: lização.
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numa Rede de Canalização
 3. Não é recomendável intercalar em
tubagens de aço galvanizado, acessórios
em aço ou ferro fundido maleável sem
estarem galvanizados, porque aceleram
a dissolução do revestimento de zinco
nas zonas dos tubos adjacentes ao con-
tacto directo com estes acessórios, dei-
xando-as desprotegida.
4. Numa instalação de aço galvani-
zado, nunca se deve intercalar tubagem
de cobre e suas ligas assim como, aces- CORRECTO:
sórios em latão ou bronze, já que se Materiais
homogéneos
formaria o par galvânico, potenciando
fenómenos de corrosão.

Tema em Destaque nº 5
LIGAÇÃO CORRECTA: 5 de 5
Materiais homogéneos

A união entre tubos deverá ser Manutenção:

sempre que possível, efectuada me-
diante acessórios em ferro maleável
galvanizados por imersão a quente.
5. Quando for inevitável, por razões
de projecto, recorrer à utilização de flan-
ges em latão ou bronze, para se unirem
tubos de aço galvanizado, deve-se sem-
pre proceder ao isolamento eléctrico da
união, mediante a utilização de juntas
isolantes em PVC, Celeron, Etc.
6. Nunca se utilizar a instalação
como “tomada de terra” de instalações/
/aparelhos eléctricos.
7. As reparações devem ser realiza-
das utilizando tubos e acessórios galva-
nizados por imersão a quente, com as
mesmas características que os existentes
na instalação.
8. Em nenhum caso se permitirá a
substituição de tramos de tubagem de
aço galvanizado por tramos de tubagem
em cobre e suas ligas. O mesmo se apli-
ca aos acessórios.
(Referência bibliográfica:
Corrosão – Vicente Gentil)

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