Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Noticiário Malacológico
INSTITUTO PORTUGUÊS DE MALACOLOGIA
Membro filiado da UNITAS MALACOLOGICA
A
Para que viva o IPM
por GONÇALO CALADO . . . . . . . . . . . . . . 2
história da Malacologia Portuguesa é marcada por uma Protocolo entre o IPM e o Zoomarine . .
sucessão de episódios com altos e baixos, tanto no que se por ÉLIO VICENTE . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
refere à qualidade e quantidade da investigação realiza- ESTATUTOS DO IPM. . . . . . . . . . . . . . . . 4
da, como do ponto de vista associativo. Nos últimos tempos ELEIÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
assiste-se a um crescente da Malacologia em Portugal, com o Produção de lesmas nas instalações
ressurgimento da dinâmica à volta do coleccionismo, a realiza- do IPM: Lesmas-do-Mar
para fins farmacológicos
ção de eventos de natureza científica como os Colóquios por GONÇALO CALADO . . . . . . . . . . . . . . 7
Nacionais, a formação de novos profissionais licenciados, Portugala inchoata (MORELET, 1845)
por ROLANDA ALBUQUERQUE DE MATOS 8
mestres e doutores, a participação e cooperação em projectos e
A família Nassariidae (Mollusca:
equipas internacionais, com o aumento notório do número de Gastropoda: Prosobranchia) no Algarve
trabalhos científicos publicados em revistas nacionais e, princi- por CARLOS M. L. AFONSO . . . . . . . . . . 9
palmente, internacionais. Tem contudo faltado algo que promo- A jazida miocénica da Ribeira de Cacela
por ANA SANTOS
va e una todos aqueles que, pelos mais diversos motivos, fazem e CARLOS MARQUES DA SILVA . . . . . . 10
da Malacologia parte da sua vida. Este é um dos objectivos do Cartilagem das lulas
Instituto Português de Malacologia e da sua nova Direcção e o serve para fazer película aderente . . . . 10
Noticiário que agora lançamos e a que chamámos Portugala Fauna Ibérica, moluscos opistobrânquios:
Campanha de Sagres - Sines 2002
é um dos meios para o atingir. O caminho só pode ter uma por MANUEL ANTÓNIO E.
direcção e essa é seguramente a da afirmação da Malacologia MALAQUIAS, GONÇALO
CALADO e CÉSAR GAVAIA 11
nas suas diversas vertentes em Portugal. A conservação dos mo-
luscos continentais em
Portugal
por JOAQUIM REIS . . . 12
Porquê o nome PORTUGALA…?
O mexilhão zebra . . . . 12
Unitas Malacologica
Um dos primeiros desafios com o qual me debati na condição de por PETER MORDON . . . . . . . . . . . . . . . . 13
editor do Noticiário do Instituto Português de Malacologia foi a escolha Shell Show Internacional de Paris
do nome deste Boletim. Passado o debate interno, de entre as várias pos- por JOSÉ PEDRO BORGES . . . . . . . . . . . . . 14
sibilidades levantadas, pareceu-nos a todos que o nome Portugala
respondia àquilo que procurávamos, ou seja uma designação que explici-
tamente associasse Malacologia e Portugal. Portugala é um nome recen-
temente atribuído a um género de molusco terrestre da fauna Portuguesa,
com uma história peculiar. Todos os detalhes são dados mais à frente, na
A MALACOLOGIA EM PORTUGAL
pág. 8, pela Dra. Maria Rolanda de Albuquerque, que desde há longo
Projectos em curso. . . . . . . . . . . . . . . . 15
tempo se dedica ao estudo dos moluscos pulmonados de Portugal.
Publicações recentes . . . . . . . . . . . . . . 16
Informações gerais. . . . . . . . . . . . . . . . 17
O EDITOR
Reuniões, Cursos e Exposições . . . . . 17
2 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
C
OMO muitas instituições do mesmo tipo no nosso país,
o IPM é fruto da carolice de alguém. Alguém que dedicou
uma considerável parte da sua vida a dinamizar um pro-
jecto em que acreditava. Muitas vezes sozinho e contra a
corrente, o ILÍDIO FÉLIX ALVES conseguiu desenvolver uma insti-
tuição científica com a finalidade primeira de ajudar todos aqueles
que de alguma forma se interessavam pela investigação da
Malacologia em Portugal. Aconteceu comigo e com muitos outros,
alguns que nem cheguei a conhecer. Para
N
O dia 11 de Dezembro de 2001 foi assinado, Como contrapartida, o IPM franqueia aos técnicos
nas instalações do Zoomarine, na Guia interessados do Zoomarine (educadores, investiga-
(Albufeira), um protocolo de cooperação dores e colaboradores afins) o acesso à sua vasta lista de
entre o Instituto Português de Malacologia publicações técnicas e às suas colecções malacológicas.
(IPM) e o Mundo Aquático, SA (Zoomarine). Tal pro- Adicionalmente, o IPM passará a funcionar como um
tocolo visa o estreitamento das relações científicas e corpo de consultadoria e de apoio técnico nas mais
educacionais entre ambas as instituições, potenciando, variadas áreas em que a sua expertise seja considerada
desta forma, variados projectos comuns, em inúmeras relevante.
áreas da investigação e conservação de moluscos. Entretanto, e
A malacologia é um campo científico que, a nível na continuidade
nacional e internacional, pouco apoio tem recebido das deste acordo, já
entidades competentes e do próprio público; no entan- foram iniciados os
to, e por oposição, constitui uma disciplina que muito trabalhos de ins-
tem para oferecer, do ponto de vista científico e com talação, nos espa-
inúmeras aplicações, por exemplo, no ramo clínico e ços zoológicos
educacional. Assim sendo, a oficialização deste acordo do Zoomarine,
permitirá contornar alguns destes problemas que, a da estrutura de
nível nacional, se têm revelado recorrentes e, quiçá, inul- apoio ao projecto
trapassáveis, nas áreas da divulgação e do apoio à inves- «Aquacultura de
tigação (as grandes forças motrizes deste convénio insti- lesmas do mar
tucional), objectivos muito caros, quer para o IPM quer com interesse
para o Zoomarine. farmacológico -
Através deste acordo já estão a ser reforçadas, estru- Prémio Milénio
tural e administrativamente, as actividades do IPM. A Sagres/Expresso
transferência da sede do IPM para as instalações do 2002 (IPM)», que
Zoomarine permitiu aos investigadores do IPM e aos deverá estar ope-
seus projectos maiores benefícios, resultantes, por racional a partir de
exemplo, um mais estreito contacto com a estrutura Maio do presente
administrativa do Mundo Aquático, SA e, naturalmente, ano.
com o público, potenciando a sua comunicação com a Com a assi-
comunidade, numa dinâmica inerente às actividades de natura deste pro-
um empreendimento com as características e a dinâmi- tocolo materiali-
ca do Zoomarine, que almeja o constante reforço da zou-se de uma das
divulgação científica e a educação, nas suas mais va- maiores apostas
riadas vertentes. de cooperação
Também no âmbito deste acordo, o IPM passou a institucional que
dispor de três grandes áreas físicas no Zoomarine: Área o Mundo Aquá-
Administrativa (com inclui um Escritório, uma tico, SA. abraçou.
Biblioteca e um Laboratório Técnico), Área de Nesse sentido, o
Economato e Área de Exposições. Adicionalmente, o Conselho de Administração e a Direcção não podem
Zoomarine comparticipa (total ou parcialmente) algu- deixar de se congratular e orgulhar pela forma como,
mas das actividades administrativas do IPM, nomea- desde a data da sua assinatura, o sucesso desta coope-
damente: as comunicações, o secretariado e algum mate- ração apenas tem crescido e se tem consolidado, de uma
rial administrativo e operacional. forma natural e saudável, a bem da Malacologia!
4 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
b) Desempenhar com dedicação os cargos associa- quartos do número total de sócios com direito a voto
tivos para os quais forem eleitos; para os casos de dissolução e prorrogação.
c) Respeitar os órgãos associativos e com eles cola-
borar; ARTIGO 9º (Mesa da Assembleia Geral)
d) Comparecer a todas as Assembleias; 1. A Mesa da Assembleia Geral é composta por:
e) Pagar regularmente as quotas. Presidente, Secretário e Vogal.
3. Perdem a qualidade de sócios do IPM os associa- 2. Ao Presidente compete convocar e dirigir as
dos que: reuniões da Assembleia Geral, sendo, em caso de
a) Solicitem a sua desvinculação mediante comuni- ausência ou impedimento, substituído pelo Secretário e,
cação por escrito dirigida à Direcção; na ausência deste, pelo Vogal.
b) Deixem de cumprir as obrigações estatutárias e 3. Em caso de ausência ou impedimento dos mem-
regulamentares ou atentem contra os interesses bros anteriormente indicados a presidência da Mesa
do IPM; competirá ao sócio efectivo mais antigo presente aos
c) Atrasem mais de dois anos o pagamento de quo- trabalhos.
tas, sem justificação aceite pela Assembleia Geral.
4. A exclusão prevista na alínea b) do numero ante- ARTIGO 10º (Direcção Nacional)
rior será sempre decidida em Assembleia Geral me- 1. A Direcção Nacional é constituída por quatro
diante inscrição na ordem do dia. membros: Presidente, Tesoureiro e Secretário.
2. Compete à Direcção Nacional:
ARTIGO 7º (Órgãos associativos) a) Executar o Programa e Orçamento aprovados
1. São órgãos associativos do IPM: em Assembleia Geral;
a) Assembleia Geral; b) Gerir e administrar o IPM e apresentar contas
b) Mesa da Assembleia Geral; dessa actividade;
c) Direcção Nacional; c) Admitir sócios nos termos estatuídos;
d) Conselho Fiscal; d) Representar o IPM e exercer as demais competên-
e) Delegações. cias que lhe forem conferidas pela Assembleia
2. a) A eleição dos membros da Mesa da Geral ou pelos Regulamentos Internos;
Assembleia Geral, da Direcção Nacional e do e) Aprovar a constituição de Delegações ou a fili-
Conselho Fiscal é realizada por escrutínio ação em Federações, Confederações ou outros
secreto e directo, podendo ser utilizado o voto organismos.
por correspondência. 3. O IPM obriga-se, com a assinatura de dois mem-
b) A eleição é feita por votação das listas apresen- bros da Direcção Nacional, sendo suficiente apenas a
tadas, considerando-se eleitos os candidatos da assinatura de um deles para actos de mero expediente.
lista mais votada.
c) O mandato dos sócios eleitos é de três anos. ARTIGO 11º (Conselho Fiscal)
d) As restantes normas serão objectivadas em 1. O Conselho Fiscal é constituído por Presidente,
Regulamento Eleitoral. Secretário e Vogal.
2. Ao Conselho Fiscal compete:
ARTIGO 8º (Assembleia Geral) a) Examinar a escrita do IPM;
1. A Assembleia Geral é constituída por todos os b) Elaborar um parecer sobre as Contas da Direcção
sócios no pleno uso dos seus direitos, reunidos em Nacional e divulgá-lo na Assembleia Geral
sessão devidamente convocada. Ordinária.
2. A Assembleia Geral pode ser Ordinária ou
Extraordinária: ARTIGO 12º (Delegações)
a) A Assembleia Geral Ordinária destina-se a: apre- 1. São Delegações do IPM grupos regionais de
ciação do Relatório e Contas da Direcção associados.
Nacional, com parecer do Conselho Fiscal, refe- 2. A constituição de Delegações depende de
rentes ao ano findo; aprovação de Programa e aprovação da Direcção Nacional.
Orçamento para o ano em curso; eleição para os
órgãos associativos, nos anos em que tal deva ARTIGO 13º (Comissões)
ocorrer; 1. São Comissões do IPM grupos de sócios
b) A Assembleia Geral Extraordinária realiza-se por incumbidos de uma temática ou missão particular do
iniciativa da Mesa da Assembleia Geral ou a pedi- âmbito do IPM e seu objectivo.
do de um mínimo de 10% dos sócios em pleno 2. A constituição de Comissões depende de
uso dos seus direitos. aprovação da Direcção Nacional.
3. Só em Assembleia Geral Extraordinária se
podem rever e alterar os presentes estatutos e destituir ARTIGO 14º (Regulamento Interno)
órgãos associativos, sendo necessário o voto favorável Os casos omissos nos presentes estatutos serão
de pelo menos três quartos dos sócios presentes com regidos por Regulamento Interno, a aprovar em
direito a voto, e o voto favorável de pelo menos três Assembleia Geral.
6 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
Eleições.
Estação de Biologia Marinha do Fun-
chal. Presentemente exerce o cargo de
No passado dia 21 de Março, a Primavera Director Regional do Ambiente na
trouxe novos tempos ao Instituto Português de Malacologia com a eleição de um Região Autónoma da Madeira.
novo corpo directivo. Uma única lista apresentou-se às eleições, com uma moção
intitulada «Sair da Concha». A lista vencedora é encabeçada pelo DR. GON- Secretário: JOSÉ PEDRO BORGES
ÇALO JORGE PESTANA CALADO e conta com a colaboração de mais oito ele-
(josepedroborges@netc.pt)
Dedica-se há mais de vinte anos
mentos. Pareceu-nos importante aproveitar este primeiro número do Noticiário
como autodidacta ao estudo da fauna
para dar a conhecer a recém eleita Direcção do IPM. Quem são os membros da malacológica marinha da costa ociden-
Direcção e o que fazem? Pretende-se acima de tudo encurtar distâncias, para que tal de África e de Portugal. É co-autor
seja mais fácil a todos e entre todos, o contacto e a troca de ideias. Para conheci- do livro Conchas Marinhas de Portugal,
mento geral aqui ficam as linhas programáticas da lista vencedora, a composição recentemente editado pela Verbo.
da lista e uma breve apresentação de cada elemento.
Vogal: PEDRO NUNES
(a1734@ualg.pt)
Moção «Sair da Concha» para a Ciência e Tecnologia no Centro Estudante finalista de Biologia
de Modelação Ecológica do IMAR, na Marinha da Universidade do Algarve,
Faculdade de Ciências e Tecnologia da encontra-se a realizar um trabalho de
Aprofundar as relações de parceria Universidade Nova de Lisboa, onde investigação no âmbito da sua tese de
iniciadas com o Mundo Aquático, S.A., desenvolve o projecto «Ciclos de vida e estágio de licenciatura sobre taxonomia
com vista a um total estabelecimento da mecanismos de defesa em moluscos e ecologia de moluscos da plataforma e
sede, e sua ampliação de espaços. nudibrânquios: exemplos de plastici- vertente continental do Algarve.
Iniciar e zelar pela periodicidade dade adaptativa dentro de um grupo»
de um Boletim Informativo que
una os sócios e a investigação em Mala- Secretário: JOAQUIM REIS Conselho Fiscal:
cologia que se faz em Portugal. (jmc.reis@clix.pt).
Promover actividades que divul- Licenciado em Biologia, está pre- Presidente: PAULA CAMPOS
guem o IPM e a Malacologia Portu- sentemente a realizar estudos de sis- Técnica oficial de contas, colabora
guesa na comunidade científica temática, distribuição e conservação de com o IPM desde a sua fundação como
nacional e internacional. Destaque-se moluscos bivalves de água doce de aficionada.
neste ponto o aprofundar de relações Portugal continental no Instituto de
do IPM com o meio universitário, per- Conservação da Natureza (ICN). Secretário: CARLOS AFONSO
mitindo que estudantes, estagiários de Coordena o projecto «Atlas dos (cmlafonso@ualg.pt)
licenciatura, mestrandos e doutorandos bivalves de água doce de Portugal É licenciado em Biologia Marinha, e
usufruam dos recursos do IPM. Continental», realizado sob os auspícios trabalha ligado a diversos projectos na
Envidar esforços com vista a uma do ICN. área da ecologia marinha na Uni-
catalogação informática e actualização versidade do Algarve. Tem dedicado
da biblioteca do IPM, legada pelo seu Tesoureiro: MANUEL ANTÓNIO parte significativa da sua investigação
fundador, Ilídio A. DE V. FÉLIX-ALVES. ENCARNAÇÃO MALAQUIAS ao estudo da fauna malacológica do
Envidar esforços com vista a uma (manm@nhm.ac.uk) Algarve e do arquipélago de Cabo
catalogação informática da colecção É licenciado em Biologia Marinha Verde.
malacológica do IPM, legada pelo seu e mestre em Ecologia na área da
fundador, ILÍDIO A. DE V. FÉLIX-ALVES. Malacologia. Actualmente encontra-se Vogal: CRISTINA ABREU
Promover uma campanha de anga- a fazer doutoramento em sistemática (cristinaabreu@netmadeira.com)
riação de sócios. e evolução de moluscos gastrópodes Licenciada em Biologia é professo-
no Museu de História Natural de ra de Biologia e Geologia no ensino
Londres. secundário. Actualmente está a rea-
Direcção Nacional: lizar estudos de doutoramento na
Universidade da Madeira no âmbito
Presidente: GONÇALO CALADO Mesa da Assembleia Geral: de um projecto LIFE sobre diversi-
(bagoncas@mail.telepac.pt). dade e conservação de moluscos
É doutorado em Ciências Biológicas Presidente: terrestres da ilha de Porto Santo e
na área da Malacologia. É professor ANTÓNIO DOMINGOS ABREU ilhéus adjacentes. É investiga-
auxiliar na Universidade Lusófona de (domingosabreu.sra@gov-madeira.pt) dora associada do Centro de Estudos
Humanidade e Tecnologias e é bolseiro É licenciado em Biologia e inves- da Macaronésia - Universidade da
de pós-doutoramento da Fundação tigador na área da Malacologia da Madeira.
PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003 7
Produção de lesmas
nas instalações do IPM: Lesmas-
-do-Mar para fins farmacológicos
por GONÇALO CALADO
A
PESAR de a maioria não ter concha, as Lesmas-do- o alcalóde jorumicina extraído de Jorunna funebris
-Mar (moluscos gastrópodes opistobrânquios) e mais recentemente outro anti-cancerígeno, o
estão muito bem protegidas contra ataques de Kahalalide F, extraído de Elysia rufescens, em fase pré-
potenciais predadores. Muitas defendem-se -clínica de testes.
emitindo secreções mucosas que contêm moléculas O projecto que agora terá início, ao qual foi atribuí-
orgânicas tóxicas. No caso dos nudibrânquios, talvez o do o prémio Milénio Sagres/Expresso 2002, ex-aequo
grupo mais conhecido dos mergulhadores amadores, as com uma candidatura ligada ao design, pretende ultra-
cores berrantes, asso- passar estas limi-
ciadas às substâncias tações desenvolven-
repelentes que retêm do o estudo dos
no corpo, derivadas ciclos de vida e dos
do alimento ou sinte- processos de cultivo
tizadas pelos animais, intensivo de algumas
fazem com que um espécies que ocorrem
peixe menos expe- na costa continental
riente que tente abo- Portuguesa.
canhá-los, se lembre O trabalho pla-
facilmente da expe- neado para dois anos
riência por que passou decorrerá em Albu-
e não tente repeti-la. feira, nas instalações
Estas moléculas, do Zoomarine, que é
resultantes de mi- desde há um ano a
lhões de anos de sede técnica do
evolução, têm desde Dendrodoris limbata (C UVIER, 1804)
Instituto Português
há muito tempo sido de Malacologia, asso-
u t i l i z a d a s ciação científica sem
com fins farma- fins lucrativos que
cológicos. Por exem- pretende reunir as
plo, NICANDROS (200 pessoas com inte-
a.C.) recomendava resse na investigação
extracto de uma de moluscos em
Lesma-do-Mar do gé- Portugal. Ali será
nero Dolabella para o instalada uma câmara
tratamento de algu- de cultivo e um labo-
mas doenças, mas só ratório de apoio. Os
há cerca de vinte anos contactos já realiza-
é que um grupo de dos com centros de
investigadores refe- investigação em vá-
renciou a presença rias áreas de farma-
nesta espécie de um Doriopsilla areolata B ERGH , 1880 cologia permitirão
dos mais fortes gru- que as substâncias
pos de substâncias anti-cancerígenas até agora conheci- retiradas das espécies produzidas possam ser testadas
dos, as dolastatinas. Outros exemplos interessantes como potenciais anti-inflamatórios, analgésicos, anti-
incluem as prostaglandinas produzidas por Tethys fímbria, -bacterianos, anti-virais e anti-cancerígenos.
8 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
Portugala inchoata
(MORELET, 1845)
por ROLANDA ALBUQUERQUE DE MATOS
E
STA espécie foi instituída por MORELET no seu género Monachoides. Assim, o nome actual é Portugala
livro Description des Mollusques Terrestres et inchoata (MORELET, 1845) (E. GITTENBERGER: Three notes
Fluviatiles du Portugal, dizendo que era comum on Iberian terrestrial Gastropods, Zoologisch Mededelingen,
em todo o Portugal, e que habitava a região 55, nº 17: 201-213).
montanhosa ao pé de giestas e de arbustos espinhosos
que lhe forneciam alimento e abrigo. Características morfológicas. Explícitas nas fi-
Segundo NO- guras juntas; a
BRE e pela minha cor de fundo
própria experiên- da concha varia
cia, a Portugala in- desde o amarela-
choata encontra-se do ao castanho
sob folhas mortas claro (cor de noz)
e pedras cobertas por vezes leve-
por detritos vege- mente rosado e
tais, embora pes- tem sempre, na
soalmente também periferia, uma
a tenha encon- banda escura de
trado em grande tom castanho
número exposta, escuro ou algo
no chão, em ter- avermelhado, e
renos secos mas que se estende
debaixo de plantas Conchas de Portugala inchoata desde a proto-
como cardos e (MORELET, 1845) concha à aber-
semelhantes. tura, por vezes
Do nosso con- esta banda escura
hecimento, a pri- é superiormente
meira referência bordada por uma
para a Galiza é a de área clara em
HESSE, 1931, que todo o seu com-
sob o nome de primento; a aber-
Monacha inchoata, tura da con-
fez um primeiro cha é simples
estudo do aparelho e cortante, não
reprodutor. espessada e
Segue-se, sob o revirada para
nome de Hygromia fora como em
(Zenobiella) inchoata, C. nemoralis. Foi
um novo estudo da por esta carac-
anatomia interna em 1961 por ORTIZ DE ZÁRATE terística -- bordo cortante, não espessado, como se o
ROCANDIO & ORTIZ DE ZÁRATE LÓPEZ, que referem crescimento da concha não estivesse terminado --
colheitas na província de Huelva. que mereceu o nome de inchoata, incompleta,
Em 1980, GITTENBERGER estabelece um género inacabada. Dimensões: nos adultos, diâmetro máxi-
novo Portugala, tendo como espécie-tipo, por monotipia mo da concha 17 a 22 milímetros; altura máxima de
Helix inchoata MORELET, 1845 e que seria próximo do 15 a 20 milímetros.
PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003 9
A família Nassariidae
(Mollusca: Gastropoda:
Prosobranchia) no Algarve
por CARLOS M. L. AFONSO
O
s gastrópodes prosobrânquios Nassariidae, coralígenos. N. denticulatus é a única espécie de águas
IREDALE, 1916, pertencem à grande super- muito profundas. Em algumas ocasiões têm sido captu-
família Muricoidea DA COSTA, 1776. São rada por rede de arrasto3 de camarão a operar em fun-
moluscos que se encontram usualmente dos vasos entre as batimétricas dos trezentos a quatro-
em grandes colónias, são carnívoros detritívoros, centos e cinquenta metros ao largo de Olhão e
habitam em substratos normalmente do tipo vasoso e as Portimão.
suas conchas são em geral de pequenas dimensões. A No género Cyclope, as duas espécies representadas no
família Nassariidae está bem representada no Algarve Algarve, Cyclope neritea e C. pellucida, estão aparente-
onde pelo menos quinze espécies, distribuídas por três mente limitadas à Ria Formosa e, possivelmente à Ria de
géneros (Nassarius DUMÉRIL, 1806; Cyclope RISSO, 1826 e Alvor. São espécies tipicamente da zona entre marés,
Demoulea J. E. GRAY, 1839) já foram encontradas habitando substrato vaso/arenoso que por vezes está
(Prancha I). associado a fanerogâmi-
No género Nassarius, cas marinhas (e.g. Zostera
as espécies Nassarius cor- noltii).
niculus, N. cuvieri, N. O único represen-
incrassatus, N. nitidus, N. tante do género Demou-
pygmaeus e N. reticulatus lia, Demoulia obtusata, é
surgem principalmente bastante rara no Al-
em áreas vasosas e garve. Alguns exem-
vaso/arenosas na zona plares têm sido espo-
entre marés ou em águas radicamente capturados
pouco profundas sendo em covos, redes de ema-
particularmente abun- lhar e redes de tresma-
dantes na Ria Formosa. lho4 que operam entre
A espécie N. vaucheri quinze e sessenta metros
parece estar limitada ao de profundidade, desde
Sotavento Algarvio, ten- as localidades de Quar-
do a sua maior abundân- teira até Sagres.
cia em Monte Gordo. É
frequentemente captura- Prancha. I - A) Nassarius cabrierensis ovoideus (LOCARD, 1886),
da por covos1 e redes de 18mm, Sagres; B) Nassarius (Gussonea) corniculus (OLIVI, 1792),
emalhar2 que operam 15,70mm, Ria Formosa; C) Nassarius (Telasco) cuvieri (PAYRAUDEAU,
entre dez e vinte e cinco 1826), 11,79mm, Ria Formosa; D) Nassarius (Niotha) denticulatus,
metros de profundidade 22,71mm, Olhão; E) Nassarius elatus (GOULD, 1845), 18,66mm, 1
Armadilhas próprias
sob fundos de cascalho Lagos; F) Nassarius heynemanni (MALTZEN, 1884), 17,03mm, para capturar peixes, molus-
ou gravilha. As espécies Burgau; G) Nassarius (Hima) incrassatus (STRÖM, 1768), 14,88mm, cos 2e crustáceos.
N. elatus, N cabrierensis Ria Formosa; H) Nassarius nitidus (JEFFREYS, 1867), 28,66mm, Ria Redes de emalhar fun-
Formosa; I) Nassarius (Gussonea) pfeifferi (PHILIPPI, 1844), deadas constituídas apenas
ovoideus e N. heynemanni
13,96mm, Ria Formosa; J) Nassarius (Hima) pygmaeus (LAMARCK, por um pano de rede.
surgem principalmente 1822), 8,74mm, Quarteira; L) Nassarius (Hima) reticulatus 3
Redes de tresmalho
no Barlavento Algarvio (LINNAEUS, 1758), 30,60mm, Albufeira; M) Nassarius vaucheri fundeadas constituída por
entre as batimétricas dos (PALLARU, 1906), 16,62mm, Monte Gordo; N) Cyclope neritea três panos de rede.
vinte e cinco aos cin- (LINNAEUS, 1758), 7,08 × 14,03mm, Ria Formosa; O) Cyclope 4
Redes de arrasto pelo
quenta metros em fun- pellucida (RISSO, 1826), 4,99 ×10,14mm, Ria Formosa; fundo com portas, rebo-
dos vasosos e por vezes P) Demoulia obtusata (LINK, 1807), 28,78mm, Quarteira. cadas por embarcação.
10 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
A jazida miocénica
da Ribeira de Cacela
(Algarve)
Ribeira de Cacela (Algarve), vista aérea por ANA SANTOS e CARLOS MARQUES DA SILVA
A
jazida fossilífera da Ribeira de Cacela é um local estampas litografadas, é, desde então, considerada obra
de grande valor científico e patrimonial para a clássica da Paleontologia nacional.
Paleontologia portuguesa e internacional. A associação de fósseis de moluscos gastrópodes,
A jazida localiza-se próximo da povoação de bivalves e escafópodes de Cacela é constituída por
Cacela Velha, no seio do Parque Natural da Ria Formosa inúmeros géneros e espécies, a maior parte deles já
(Algarve), constituindo elemento integrante deste. Em extintos. Entre os moluscos fósseis de Cacela figuram,
Cacela afloram à superfície rochas sedimentares de por exemplo, gastrópodes dos géneros Conus, Strombus,
idade tortoniana (Miocénico superior), datadas de há Terebra, Ficus, etc. e bivalves como Pelecyora gigas, Callista
cerca de 7-9 Milhões de anos (Ma). Nesses sedimentos erycinoides, Circomphalus foliaceolamellosus, Tugonia anatina,
ocorrem diversos tipos de fósseis de inúmeros grupos etc. A presença de fósseis destes moluscos de águas
zoológicos e botânicos. A jazida de Cacela, no entanto, quentes em Cacela indica-nos que as costas do SW da
é célebre, sobretudo, pelos seus fósseis de moluscos. Ibéria, durante o Tortoniano, há cerca de 7-9 Ma, eram
A diversidade e a boa preservação dos fósseis miocé- banhadas por um mar tropical, com temperatura das
nicos de Cacela é, de há muito, bem conhecida. Os águas significativamente mais elevada que a actual,
primeiros trabalhos sobre os fósseis de moluscos desta similar à que encontramos actualmente na África
jazida remontam a meados do século XIX. Em 1866-67 Ocidental tropical, das costas do Senegal às do Golfo da
foi publicada a que ainda hoje é considerada a mais Guiné.
importante obra paleontológica sobre os moluscos Devido à sua grande importância científica e patri-
desta jazida, realizada por PEREIRA DA COSTA, então monial a jazida paleontológica da Ribeira de Cacela
director da Comissão Geológica do Reino (actual encontra-se salvaguardada por legislação protectora.
Instituto Geológico e Mineiro). O trabalho de PEREIRA A recolha de fósseis em Cacela necessita de autorização
DA COSTA, Moluscos Fosseis. Gastrópodes dos depósitos ter- prévia, expressa, do Parque Natural da Ria Formosa e
ciários de Portugal, profusamente ilustrado por soberbas está interdita para fins não científicos
Fauna Ibérica
moluscos opistobrânquios:
Campanha de Sagres - Sines 2002
por MANUEL ANTÓNIO E. MALAQUIAS*, GONÇALO CALADO** e CESAR GAVAIA***
O
projecto Fauna Ibérica, actualmente, no seu em mergulho e na zona de marés, a segunda equipa fazia o
sétimo ano de actividade, é um projecto científi- trabalho de laboratório. Realizaram-se recolhas mediolitorais
co de grande dimensão e impacto Europeu. e infralitorais em mergulho, durante o dia e durante a noite.
Tem por objectivo principal estabelecer um A primeira semana decorreu em Sagres e o laboratório
conhecimento profundo sobre a fauna marinha e terrestre foi improvisado nas instalações locais da Docapesca,
da Península Ibérica, através da realização de sucessivas situada no Porto de Sagres. Durante a segunda semana os
campanhas com participação de especialistas em cada uma trabalhos estiveram centralizados na área de Sines, tendo
das áreas. Um dos resultados que se pretende obter com sido utilizado o laboratório da Universidade de Évora
este projecto passa pela publicação de uma enciclopédia existente naquela Cidade.
faunística, organizada em volumes monográficos sobre os Recolheram-se um total de oitenta e uma espécies de
diversos grupos zoológicos. De momento, já foram publi- moluscos opistobrânquios, seis das quais revelaram-se
cados cerca de quinze volumes, entre os quais um novas referências para a fauna marinha de Portugal,
de moluscos cefalópodes, estando o primeiro volume de- nomeadamente os sacoglossos Placida tardyi e Placida verti-
dicado aos moluscos opistobrânquios previsto para 2004. cilata e os nudibrânquios Okenia mediterranea, Hypselodoris
Este projecto, do qual o Instituto Português de Mala- fontandraui, Cuthona amoena e Cuthona thompsoni. Para além
cologia é parceiro oficial, está estruturado em sub-pro- destas novas contribuições para a nossa fauna, há igual-
jectos respeitantes aos diferentes grupos faunísticos. Cada mente a destacar alguns dados de natureza biogeográfica.
um dos sub-projectos tem adstrito uma equipe de especia- Por exemplo, a espécie Placida tardy, apenas conhecida do
listas liderada por um coordenador, que no caso dos mo- litoral ocidental Andaluz, foi encontrada pela primeira vez
luscos opistobrânquios é actualmente o Prof. Dr. JUAN em águas marcadamente Atlânticas. A espécie Cuthona
LUCAS CERVE- thompsoni foi recolhida pela primeira vez fora da sua loca-
RA CURRADO, lidade tipo (El Portil, Huelva, Espanha), enquanto a reco-
da Universi- lha da espécie Piseinotecus gaditanus em Sines, constitui a ter-
dade de Cádis. ceira ocorrência relatada desta espécie desde a sua
Durante os descrição original e representa o ponto mais a Norte da
meses de Ju- sua distribuição geográfica.
nho e Julho de Os trabalhos realizados nos últimos anos em Portugal
2002 realizou- por diversos investigadores, conjuntamente com os dados
-se a primeira obtidos em 1988 durante a campanha científica «Algarve
campanha no 88» organizada pelo Museu de História Natural de Paris
litoral Portu- sob a coordenação do Dr. PHILIPPE BOUCHET e os dados
guês no âmbi- obtidos recentemente no âmbito da campanha do projec-
to do projecto to Fauna Ibérica, fazem dos moluscos opistobrânquios
Fauna Ibérica, um dos grupos de invertebrados marinhos provavelmente
o r g a n i z a d a Prof. Lucas Cervera e Marta Pola (Sagres, 2002) mais bem conhecidos da nossa fauna, com cerca de
pelo IPM. Os duzentas e treze espécies referidas. Há, no entanto, uma
trabalhos decorreram no litoral entre Sagres e Sines extensa faixa da nossa costa que permanece praticamente
durante duas semanas e contaram com a participação de inexplorada, nomeadamente, o litoral a Norte de Peniche.
onze investigadores em representação do Instituto Este ano e em 2004 prevê-se a realização de mais um con-
Português de Malacologia, da Universidade do Algarve, da junto de amostragens de forma a colmatar esta lacuna.
Universidade de Cádis, do Museu de Ciências Naturais de
Madrid e da Academia de Ciências da Califórnia. * Depart. of Zoology, The Natural History Museum, London.
** Centro de Modelação Ecológica, IMAR, Faculdade de Ciên-
Durante os trabalhos a equipa foi dividida em dois gru- cias e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa.
pos. Enquanto um dos grupos se dedicava às amostragens *** Faculdade de Ciências do Mar e Ambiente, Univ. Algarve.
12 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
A
problemática da conservação dos moluscos O MEXILHÃO-ZEBRA
continentais em Portugal é comum a muitos
grupos de invertebrados. Ao contrário do Em Julho de 2001 foram detectadas pela primeira
que acontece com os Vertebrados em geral, o vez na Península Ibérica populações vivas do mexilhão-
conhecimento científico dos moluscos continentais -zebra Dreissena polymorpha no baixo Ebro, Catalunha.
em Portugal é muito escasso, faltando assim as bases Esta espécie proveniente do mar Cáspio é conhecida
para a definição de estratégias de conservação ade- nos E.U.A. e no resto da Europa por se tratar de uma
quadas. Este problema é aliás comum a muitos outros espécie invasora causadora de avultados prejuízos
países europeus, mas mais acentuado em Portugal. ecológicos e económicos. De facto, tem grande capaci-
Como consequência do reduzido conhecimento dade reprodutora e rapidamente domina o espaço em
científico de moluscos continentais não se produzi- todas as superfícies submergidas, afectando em particu-
ram até hoje os instrumentos legais para a protecção
desta parte da fauna. Assim a protecção legal depende
exclusivamente de directivas comunitárias e con-
venções internacionais, e em particular das listagens
Exemplares
de espécies da Directiva Habitats. Ao contrário do de Dreissena polymorpha
que acontece noutros países com catálogos nacionais (PALLAS, 1771)
(exemplo, Espanha) e livros vermelhos (exemplo,
Alemanha), ou de outros grupos faunísticos em
Portugal (livros vermelhos dos vertebrados), para os
invertebrados não existe qualquer documento que
determine normas de actuação relativa à conservação
das espécies.
Finalmente, a conservação de moluscos conti-
nentais em Portugal depende, à semelhança da con-
servação de qualquer outro grupo faunístico, da
capacidade de proteger e gerir correctamente os
seus habitats. Na realidade é em habitats bem
preservados, muitas vezes nas regiões menos desen-
volvidas do País, que subsistem as melhores popu-
lações de muitas espécies. Mesmo que, para o
mundo científico sejam ou tenham sido durante
muito tempo desconhecidas. É o caso por exemplo
dos mexilhões de água doce nos rios do nordeste lar espécies de bivalves nativos por competição pelos
transmontano, nas bacias do Sabor e Tua. Nalguns recursos. A sua fixação a canais, turbinas, e qualquer
destes rios subsiste por exemplo a espécie material de aproveitamentos hidroeléctricos e sistemas
Margaritifera margaritifera, ameaçada em toda a de rega obriga a remoções periódicas para garantir o
Europa e extinta em muitos rios do litoral norte de funcionamento das infraestruturais. Esta operação é dis-
Portugal. A conservação destes habitats garantirá a pendiosa e responsável por grande parte dos prejuízos
subsistência das várias espécies aí presentes, e isto económicos do mexilhão-zebra. O aparecimento desta
só é possível recorrendo a um verdadeiro desen- espécie em Espanha aliado ao plano hidrológico espa-
volvimento sustentável, que concilie o interesse das nhol, que potenciará a sua dispersão, faz temer o pior
populações humanas locais com o da conservação para Portugal, onde o seu aparecimento teria graves
da Natureza. consequências a nível ecológico e económico.
PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003 13
Unitas
Malacologica
por PETER MORDON
Department of Zoology, The Natural History Museum, London
A
UNITAS MALACOLOGCA, Sociedade Internacio- rio e quatro conselheiros. As eleições decorrem cada
nal de Malacologia abaixo designada por UM três anos e os resultados são anunciados durante a
tem como objectivo apoiar malacólogos, Assembleia Geral da UM que se realiza no final de cada
sociedades e instituições no desenvolvimento congresso.
do estudo dos Moluscos. Com este propósito a UM Os membros da UM recebem a newsletter anual e tem
organiza e apoia a realização de reuniões e simpósios e a possibilidade de concorrer a subsídios para partici-
edita anualmente uma newsletter com pequenos artigos e parem nos congressos. Estes apoios pecuniários são
informações relevantes para os malacólogos, assim oferecidos no ano da realização de cada congresso
como concede apoios pecuniários a projectos de inves- Mundial e destinam-se primariamente a apoiar estu-
tigação e bolsas para viagens a congressos. dantes de pós-graduação e todos os membros da UM
A UM foi constituída sob a designação de Unitas que não tenham acesso a fontes alternativas de financia-
Malacologica Europaea por decisão plenária durante o mento. Os membros podem igualmente concorrer à
primeiro congresso Europeu de Malacologia realizado «Student Research Award» que se destina a premiar pro-
em Londres em 1962. Foi nomeado um pequeno jectos de investigação até um montante máximo de mil
comité, incumbido do propósito de promover a euros e está aberta nos dois anos consecutivos entre
Malacologia, na Europa, através da criação de uma orga- congressos. Actualmente a UM suporta igualmente a
nização supra-nacional de natureza federativa para as produção da Tentacle, a newsletter da Comissão de
sociedades Europeias de Malacologia e com o objectivo Acompanhamento do grupo Moluscos da IUCN
especifico de organizar cada três anos um congresso, (Mollusc Specialist Group, International Union for the
que oferecesse a oportunidade de malacólogos de dife- Conservation of Nature), dedicada à conservação de
rentes países se encontrarem e trocarem ideias. Estes moluscos (http://www.hawaii.edu/ccrt/tentacle.html),
congressos tornaram-se enormemente populares, com a e também tem apoiado a realização de reuniões de dis-
participação de malacólogos Europeus e de outros pon- cussão da CLEMAN (Checklist of the European
tos do Globo e a partir do sexto congresso realizado em Marine Mollusca; (http://www.somali.asso.fr/clemam/
Amesterdão em 1977 a organização tornou-se Mundial index.clemam.html).
decidindo excluir do nome a designação Europea. Após A quota actual da UM é de 16 Euros por ano e os
o congresso de Amesterdão mais seis eventos tiveram boletins de inscrição podem ser obtidos através do
lugar na Europa e em 1998, pela primeira vez o con- seguinte contacto:
gresso realizou-se fora do velho continente em
Washington DC. Foi organizado em conjunto pela UM - Dr Jackie Van Goethem, Treasurer, Unitas
e por outras duas organizações locais, a American Malacologica, Royal Belgian Institute of Natural
Malacological Union e a Western Society of Mala- Sciences, Vautierstraat 29, B-1000 Brussels, Belgium.
cologists, passando a designar-se por Congresso Tel. +32 2 627 4343, Fax. +32 2 627 4141, e-mail:
Mundial de Malacologia. Este novo formato revelou-se Jackie.Vangoethem@naturalsciences.be
de grande sucesso e o próximo evento terá lugar em
Perth, Austrália em 2004. Adicionalmente a UM Informações adicionais podem ser obtidas no web-
patrocina a realização de outros congressos, sendo o site da UM (http://www.inter.nl.net/users/Meijer.T/
exemplo mais recente o International Congress on UM/um.html).
Palaearctic Mollusca, realizado em 1997 em Munique,
Alemanha e em Salzburg, Áustria.
A UM é dirigida por um comité liderado por um
Presidente que muda cada três anos e cuja responsabi-
lidade é organizar o congresso Mundial seguinte. * Traduzido do original por MANUEL ANTÓNIO E.
O comité inclui igualmente um tesoureiro, um secretá- MALAQUIAS.
14 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
S h e l l S h ow
I n t e r n a c i o n a l d e Pa r i s
p o r J O S É P E D R O B O RG E S
I n s t i t u t o Po r t u g u ê s d e M a l a c o l o g i a
A Malacologia em Portugal
C
OM esta rubrica é intenção desta nova Direcção dar a conhecer projec- abundante. Este projecto tem como
tos de Malacologia em curso em Portugal ou com a participação de objectivo final a edição do Atlas dos
bivalves de água doce de Portugal con-
Portugueses. Desde já lançamos o repto a todos os que estejam envol- tinental no final de 2004, e conta com a
vidos em projectos de natureza malacológica de investigação, divul- colaboração de várias pessoas e enti-
gação, promoção, etc., para usarem este espaço como meio de divulgarem e darem dades das quais se destacam os Parques
a conhecer o que fazem. Por outro lado pretendemos igualmente divulgar traba- e Reservas Naturais e o Instituto
lhos científicos e não científicos, publicados recentemente, que possam ser de utili- Português de Malacologia.
dade a todos os interessados pelas temáticas da Malacologia.
CICLOS DE VIDA E MECANIS-
Projectos em curso território nacional, determinação das
suas distribuições, estudo preliminar da
MOS DE DEFESA EM MOLUS-
COS NUDIBRÂNQUIOS DORI-
biologia e ecologia e determinação do DÁCEOS: EXEMPLOS DE
ATLAS DOS BIVALVES DE ÁGUA seu estado de conservação. PLASTICIDADE ADAPTATIVA
DOCE DE PORTUGAL CONTI- O último trabalho publicado sobre
NENTAL sistemática e distribuição de bivalves de por GONÇALO CALADO
água doce em Portugal data de 1941
por JOAQUIM REIS e é da autoria do Dr. AUGUSTO NOBRE. Neste projecto pretende-se estudar
No presente estudo foram até ao os ciclos de vida de duas das espécies de
Os bivalves de água doce são um momento prospectados duzentas e nudibrânquios doridáceos mais fre-
grupo heterogéneo, pertencendo a duas quarenta e uma estações de quentes na costa portuguesa. São elas
ordens distintas: Unionoida (exclusiva- amostragem distribuídas pelas bacias Doriopsilla areolata BERGH, 1880 e
mente em água doce) e Veneroida (que hidrográficas do Algarve, Mira, Sado, Doriopsilla pelseneeri OLIVEIRA, 1895.
inclui espécies marinhas). À ordem Guadiana, Tejo, Lis, Mondego, Vouga, Pertencem à Superfamília Porostomata
Unionoida pertencem os chamados Douro, Ave, Cavado, Neiva, Lima e BERGH, 1892, e caracterizam-se por não
«mexilhões-de-rio» ou naiades cuja par- Minho. possuírem rádula nem mandíbulas, as
ticularidade consiste em possuírem uma Dos resultados mais relevantes já estruturas que normalmente têm a
fase larvar obrigatoriamente parasita de disponíveis destaca-se a redescoberta função raspadora do alimento. Em vez
um peixe. À ordem Veneroida fazem da espécie Margaritifera margaritifera (pre- disso, possuem uma massa bucal tubu-
parte as famílias Sphaeriidae (de sumivelmente extinta), e a constatação lar flexível, a qual substitui a rádula na
pequeno tamanho, nativa no nosso da presença das espécies Unio crassus e função alimentar através de um proces-
país), Corbiculidae (originária do con- Anodonta anatina. É também evidente o so de sucção, alimentando-se exclusiva-
tinente Asiático, introduzida em declínio generalizado de todas as espé- mente de esponjas.
Portugal) e Dreissenidae (espécie inva- cies, com perda de populações conheci- Numa segunda fase pretende-se
sora nos EUA e grande parte da das no inicio do século XX. Neste tra- alargar os estudos com Doriopsilla areola-
Europa ocidental). balho foi feito também o ponto da si- ta BERGH, 1880 e Doriopsilla pelseneeri
O Instituto da Conservação da tuação relativo à distribuição da espécie OLIVEIRA, 1895 às questões de regime
Natureza (ICN) iniciou em 2002, o pro- exótica Corbicula fluminea. Esta espécie, alimentar. Após este estudo será possí-
jecto «Atlas dos bivalves de água doce citada pela primeira vez no rio Tejo em vel investigar de que forma estas espé-
de Portugal Continental», financiado 1981 pelo investigador Francês cies utilizam os metabolitos de defesa
pelo Programa Operacional de MOUTHON, está actualmente presente adquiridos das esponjas consumidas, já
Ambiente (POA). O objectivo deste nas bacias do Minho, Lima, Douro, estudados do ponto de vista químico, e
projecto, com duração de três anos, é o Vouga, Mondego, Tejo, Sado e saber se o condicionamento alimentar
inventário das espécies presentes no Guadiana, sendo nalguns casos muito influencia o processo.
16 PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003
AQUACULTURA DE LESMAS- mente o sistema reprodutor permitem structures and behaviour. Bollettino
-DO-MAR COM INTERESSE obter excelentes caracteres para a sepa- Malacologico 37(5-8): 177-180.
FARMACOLÓGICO ração de espécies. Contudo, o número
de espécies da família Bullidae nas quais CALADO, G. & V. URGORRI, 2002 A
por GONÇALO CALADO
estas características são conhecidas é new species of Calma Alder &
extremamente baixo, o que se traduz Hancock, 1855 (Gastropoda: Nudi-
Este projecto pretende desenvolver o
numa enorme confusão relativamente à branchia) with a review of the genus.
estudo dos processos de cultivo em
sua verdadeira identidade, encontran- Journal of Molluscan Studies 68: 311-317.
larga escala de algumas espécies de
do-se a taxonomia desta família longe
moluscos opistobrânquios (lesmas-do-
de estar definida e estabilizada. CARDOSO, P. G., LILLEBO, A. I.,
-mar), grupo com reconhecido inte-
Este projecto pretende pela primeira PARDAL, M. A., FERREIRA, S. M. &
resse químico e farmacológico. Até
vez incorporar toda a informação MARQUES, J. C. 2002. The effect of dif-
agora, as limitações à investigação de
disponível e informação original obtida ferent primary producers on Hydrobia
novas substâncias extraídas e opisto-
a partir das conchas, da morfologia, da ulvae population dynamics: a case study
brânquios prendem-se com o seu
anatomia e de dados moleculares, numa in a temperate intertidal estuary. Journal
reduzido tamanho, e a fraca abundância
análise filogenética e biogeográfica da of Experimental Marine Biology and Eco-
de populações naturais. Os estudos
família Bullidae com três objectivos logy, 277: 173-195.
efectuados restringem-se a espécies de
principais: 1) rever e clarificar a taxono-
dimensões consideráveis e muito abun-
mia da família Bullidae a nível mundial, CHÍCHARO, L. M. Z. 2000. Estimation
dantes. Este projecto pretende ultrapas-
com base em dados morfológicos, of life history parameters of Mytilus gal-
sar estas limitações, desenvolvendo a
anatómicos e moleculares de todas as loprovincialis (LAMARCK) larvae in a coas-
tecnologia necessária ao cultivo intensi-
espécies vivas; 2) obter uma hipótese tal lagoon (Ria Formosa - south of Por-
vo deste animais. Deste modo, será pos-
filogenética para a família Bullidae, tugal). Journal of Experimental Marine
sível alargar a investigação a espécies
através da utilização de metodologias de Biology and Ecology, 243: 81-94.
que devido ao seu reduzido tamanho
cladística com base em parcimónia, re-
e/ou à sua escassez no meio natural
sultante das análises morfológica e ana- CHÍCHARO, L. M. Z. & CHÍCHARO, M.
seria muito difícil conseguir quanti-
tómica das espécies e da análise filo- A. 2001. Effects of environmental con-
dades de material suficiente, podendo
genética das sequências do ADN, e ditions of planktonic abundances, ben-
tais tentativas por em risco as popu-
como resultado da classificação filoge- thic recruitment and growth rates of
lações naturais.
nética obtida, rever a taxonomia ao ní- the bivalve Ruditapes decussatus in a
vel do género na família; e 3), com base Portuguese Coastal lagoon. Fisheries
na filogenia obtida, formular hipóteses Research, 53: 235-250.
SISTEMÁTICA, FILOGENIA E
para a evolução, radiação, adaptação e
BIOGEOGRAFIA DA FAMÍLIA
biogeografia da família Bullidae. CHÍCHARO, L. M. Z. & CHÍCHARO, M.
BULLIDAE (MOLLUSCA: GAS-
A. 2001. A juvenile recruitment model
TROPODA: OPISTHOBRAN-
for Ruditapes decussatus (L.) (Bivalvia:
CHIA)
por MANUEL ANTÓNIO E. MALAQUIAS Publicações recentes Mollusca). Fisheries Research, 53: 219-
233.
A família Bullidae pertence aos gas- ÁVILA, S. P. & MALAQUIAS, M. A. E. GAVAGNIN, M., E. MOLLO, F. CAS-
trópodes opistobrânquios e inclui-se na 2003. Biogeographical relationships of TELLUCIO, M. GHISELIN, G. CALADO &
ordem Cephalaspidea. A distribuição the molluscan fauna of the Ormonde G. CIMINO. 2001. Can molluscs biosyn-
geográfica é predominantemente tropi- seamount (Gorringe bank, northeast thesize typical sponge metabolites? The
cal, com algumas espécies a habitarem Atlantic Ocean). Journal of Molluscan case of the nudibranch Doriopsilla areola-
também águas de climas temperados Studies, 69(2): 145-150. ta. Tetrahedron 57: 8913-8916.
(incluindo Portugal). A maioria das
espécies vive em zonas pouco profun- BARROSO, C. M., MOREIRA, M. H. & GAVAGNIN, M., E. MOLLO, G. CALADO,
das, estuários e lagoas costeiras. GIBBs, P. E. 2000. Comparison of im- S. FAHEY, M. GHISELIN, J. ORTEA, & G.
A quase totalidade das espécies da posex and intersex development in four CIMINO. 2001. Chemical studies of poros-
família Bullidae, foram descritas exclu- prosobranch species for TBT monito- tome nudibranchs: comparative and eco-
sivamente com base em características ring of a southern European estuarine logical aspects. Chemoecology 11: 131-136.
das conchas. No entanto, as conchas system (Ria de Aveiro, NW Portugal).
dentro desta família são extremamente Marine Ecology Progress Series, 201: 221-232. MALAQUIAS, M. A. E. 2000. Additions
semelhantes tanto em forma como em to the knowledge of the opisthobranch
cor, o que torna ambígua a separação CALADO, G. & V. URGORRI. 2001. molluscs of Selvagens Islands, NE
das diferentes espécies. Reconhece-se Feeding habits of Calma glaucoides Atlantic, Portugal. Arquipélago, Life and
actualmente que a rádula e particular- (Alder & Hancock, 1854): its adaptive Marine Sciences, Supplement 2(A): 89-97.
PORTUGALA - n.o 1 - Maio 2003 17
economia, fisiologia, comportamento e a fazerem o seu primeiro pós-doutora- Realiza-se cada três anos e é organizado
ecologia, controlo e gestão, helicicul- mento e investigadores amadores. pela Unitas Malacologica e por uma ou
tura, conservação e biodiversidade. Pretende num ambiente informal juntar mais organizações locais da área onde
Informação adicional pode ser obtida jovens investigadores, dando-lhes a se realiza o congresso. Simpósios pla-
através dos seguintes endereços elec- possibilidade de apresentarem e discu- neados: Filogenia de moluscos; Aqua-
trónicos: md@BCPC.org e www. tirem o seu trabalho. Informação adi- cultura e pescas de moluscos; Ecologia
BCPC.org. cional pode ser obtida em www.sunder- de moluscos; Sessões especiais sobre
land.ac.uk/MalacSoc grupos ou tópicos particulares. Para
Molluscan Forum 2003, The além das sessões científicas, está planea-
Natural History Museum, London, 6 de World Congress of Malacology, do um programa social bastante
Novembro de 2003. Este evento anual Perth, Austrália, 11 a 16 de Julho de preenchido com excursões, cruzeiros e
é organizado pela The Malacological 2004 (15th Congresso Internacional da mergulhos.
Society of London e destina-se à apre- Unitas Malacologica e Conferência O congresso é organizado pelo
sentação de trabalhos de Malacologia Trianual da Malacological Society of Dr. Fred Wells do «Western Austrália
por parte de estudantes (licenciatura, Australasia). Este congresso é o princi- Museum». Email: wells@museum.wa.g
mestrado ou doutoramento), cientistas pal evento mundial de Malacologia. ov.au
Quota 2003: Sócio efectivo: 20 Euros; Sócio aderente individual: 20 Euros; Sócio aderente colectivo: 50 Euros;
Sócio estudante 10 Euros (neste caso juntar cópia de comprovativo da situação de estudante).
Subscription for 2003: Executive member: 20 Euros; Ordinary member: 20 Euros; Institutional member: 50 Euros;
Student member: 10 Euros (please add copy of student ID card or other student status evidence).
Formas de pagamento: Numerário; cheque ou vale postal em nome do Instituto Português de Malacologia.
Methods of payment: Cheque, money or postal order payable to the Instituto Português de Malacologia.