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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Faculdade de Letras

Jennyffer Katielly de Almeida Santos

‘CUARTO DE DESECHOS’: uma análise de uma tradução em espanhol da


obra de Carolina Maria de Jesus

Belo Horizonte
2021
Jennyffer Katielly de Almeida Santos

‘CUARTO DE DESECHOS’: uma análise de uma tradução em espanhol da


obra de Carolina Maria de Jesus

Projeto de pesquisa submetido à


disciplina Metodologia do Trabalho
Científico da Faculdade de Letras da
UFMG no primeiro semestre de 2021,
como método avaliativo para compor a
nota.

Belo Horizonte
2021
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3

2. JUSTIFICATIVA............................................................................................................... 4

3. HIPÓTESES ...................................................................................................................... 5

4. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 5

4.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 5

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 5

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 6

6. METODOLOGIA ............................................................................................................. 7

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 7

8. REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 8
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1. INTRODUÇÃO

As reflexões sobre a tradução constituem um campo bastante diversificado, com


posições diversas. A partir da década de 1960, os Estudos da Tradução passaram a ganhar um
espaço institucional, sem que, contudo, exista uma teoria unificada da tradução até o presente
momento. Anteriormente, a tradução, na academia, era relegada a um espaço marginal,
entendida como um meio para outros fins, quais sejam, o aprendizado de línguas e o estudo da
literatura comparada.
Embora não haja uma teoria unificada da tradução, é inegável a importância da tarefa
tradutória e do papel do tradutor ao realizar tal tarefa. Traduzir não é apenas um processo
mecânico, mas sim um processo de produção de significados, de apropriação da obra de outrem
e, como tal, resulta em consequências e encadeamentos.
Nesse contexto, a tradução da obra Quarto de Despejo da autora Carolina Maria de Jesus
(2020), representa um desafio: qual é a melhor forma de traduzir uma obra que foge da norma
padrão sem que o sentido original e a sua singularidade sejam perdidos? Procuramos responder
a essa pergunta analisando a tradução em espanhol da obra (JESUS, 2019) recentemente
publicada pelo Laboratório de Tradução da Unila (Universidade de los Andes). A tradução
eleita como objeto de pesquisa foi a única tradução para o espanhol da obra em questão
encontrada em nossa pesquisa preliminar, mas no nos aprofundaremos na pesquisa no momento
oportuno a fim de determinar a existência ou não de outras traduções para este idioma.
Carolina Maria de Jesus é uma escritora brasileira que ficou conhecida após ter os relatos
escritos em seu diário publicados em forma de um livro, relatando o seu cotidiano como
moradora da favela do Canindé, na Zona Norte de São Paulo, durante a década de 1950. A
publicação do livro buscou resguardar o texto original dos diários de Carolina, preservando a
escrita fora da norma padrão a fim de retratar de forma autêntica o modo como a autora
enxergava o mundo e como expressava essa visão.
A tradução da obra para outros idiomas tem a responsabilidade de, ao mesmo tempo em
que se apropria da obra, produzindo novos significados, preservar, enquanto possível, a singular
visão e expressão do mundo de Carolina Maria de Jesus. Nesse trabalho buscamos entender
como – e se – essa tarefa foi cumprida na tradução para o espanhol examinada.
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2. JUSTIFICATIVA

Entre as diversas correntes dos Estudos da Tradução, muito se debate a respeito do papel
do tradutor no processo tradutório. Há aqueles que acreditam que o tradutor deve se tornar o
autor da obra, reconstruindo o seu trabalho de forma idêntica, sem copiá-lo, mas, ao colocar-se
no lugar do autor, criar aquela mesma obra em outro idioma. Para isso, o tradutor deveria
ignorar todo o período histórico ocorrido desde o momento em que a obra foi escrita até o
momento de sua tradução, se colocando naquele momento anterior e assumindo o papel daquele
autor. Há também os que acreditam que isso não é possível, porém, acreditam que o papel do
tradutor não é de ser outra pessoa, mas de, sendo ele mesmo, realizar a tradução com uma
neutralidade absoluta.
Com o avanço dos Estudos da Tradução, ambas as ideias foram fortemente abandonadas
em razão da impossibilidade de serem alcançadas. Os estudos mais recentes têm entendido que
tanto a neutralidade do tradutor como a assunção do papel do autor não são metas realistas.
Atualmente, considera-se que o viés do tradutor, como pessoa diferente do autor, com
experiências diferentes, de um contexto histórico diferente, é inevitável, pois a sua tradução
parte da sua interpretação da obra e essa interpretação depende desses fatores.
O desenvolvimento da presente pesquisa permitirá que se aprofundem os trabalhos a
respeito do viés do tradutor e sobre como isso se reflete na obra literária. Ademais,
considerando-se que o livro de Carolina Maria de Jesus não foi escrito em norma padrão, a sua
tradução se mostra ainda mais desafiadora e a interpretação do tradutor, bem como a forma
como ela é refletida em seu trabalho, é fundamental.
É relevante, além disso, considerar o impacto do projeto no que concerne à variação
linguística. A variação linguística é “o processo pelo qual duas formas podem ocorrer no mesmo
contexto com o mesmo valor referencial/representacional” (COELHO et al., 2015, p. 16) ou
seja, diz respeito às diversas formas – variedades – com o mesmo significado, que convivem
dentro de uma língua. A variedade culta, isto é, a norma padrão, é a variedade utilizada pelos
falantes mais escolarizados e que no geral possui mais prestígio do que as demais, o que é bem
claro no cenário brasileiro em que as variantes faladas por pessoas menos escolarizadas e de
baixa remuneração são alvos de um grande preconceito linguístico. Esse preconceito não se
justifica, uma vez que, todas as variedades existentes só existem porque a língua autoriza a sua
existência e não há nada intrínseco nas variedades mais populares para classificá-las como
inferiores.
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O livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, diferente de grande parte das
obras literárias, não é escrito de acordo com a norma padrão. Traduzir tal obra é uma forma de
combater o preconceito linguístico, valorizando as obras que fogem da norma. Ao analisarmos
esse texto, buscamos entender o papel da tradução no combate ao preconceito linguístico
existente na sociedade brasileira, contribuindo para o debate, bem como refletir sobre a
importância da variação linguística no processo tradutório.

3. HIPÓTESES

A expectativa em relação à pesquisa é que os tradutores da obra para o espanhol tenham


conseguido adaptar a obra de Carolina Maria de Jesus – que tanto diz a respeito à realidade
sociocultural brasileira – para a realidade dos países hispano-americanos, em especial a
Colômbia, uma vez que a tradução é proveniente desse país. Esperamos que os tradutores
tenham considerado o contexto histórico do Brasil dos anos 50 e a realidade da autora, mas,
mais do que isso, que tenham considerado também o seu próprio contexto histórico e sua
realidade sociocultural. Que a variação linguística existente na América Latina falante de língua
espanhola também tenha sido explorada e que a tradução reflita, até certa medida, essa
realidade, para que a obra, ainda que estrangeira, não seja totalmente forânea para a população
hispano-americana. Além disso, esperamos que a excepcional forma de observar e expressar o
mundo da autora mantenha-se incólume.

4. OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a tradução para espanhol do livro Quarto de Despejo, da autora Carolina Maria
de Jesus, para entender como foi feita a adaptação da obra com relação àquilo que foge da
norma padrão e como o viés do tradutor está refletido nessa tradução.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Revisar a literatura existente sobre a(s) teoria(s) da tradução.


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• Identificar a existência de traduções anteriores da obra para o espanhol.


• Identificar a existência de traduções da obra para outros idiomas.
• Analisar as traduções encontradas.
• Analisar a recepção do texto na América Latina.
• Investigar a variedade linguística predominantemente presente na obra traduzida para o
espanhol.
• Realizar uma análise comparativa entre a obra original e a tradução.

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O desenvolvimento dessa pesquisa parte do conceito de Rosemary Arrojo de viés do


tradutor, segundo o qual a tradução “por mais simples que seja, trai sua procedência, revela as
opções, as circunstâncias, o tempo e a história de seu realizador” (2003, p. 67). Assim,
pressupomos que o processo tradutório não envolve apenas a compreensão do texto original, se
é que é possível falar em compreensão, uma vez que essa noção parte da ideia de que há um
significado imanente em qualquer texto e que esse pode ser alcançado pelo leitor. Arrojo recusa
a ideia de “neutralidade” do tradutor, entendendo que a tradução é sempre produto da
perspectiva daquele que realiza a tradução, não é possível ler sem interpretar e a tradução é
realizada com base nesse processo interpretativo.
Entendemos, então, como ponto de partida para a nossa análise, que a tradução é um
processo de apropriação do original e que “traduções não podem deixar os originais intocáveis
assim como tradutores são necessariamente visíveis e, consequentemente, incapazes de
deixarem de ser eles mesmos quando disponibilizam tais originais em outras línguas e contextos
culturais” (ARROJO, 2018, p. 24, tradução nossa).
Além disso, um conceito chave para a realização da nossa análise é o conceito de
variação linguística de Coelho et al. (2015), como o processo em que existem formas
linguísticas diferentes, com o mesmo valor referencial, ocorrendo em um mesmo contexto. A
variação, ademais, é entendida como algo inerente às línguas e que não tem qualquer reflexo
negativo sobre o funcionamento do sistema linguístico ou sobre a comunicação entre os falantes
da língua. Por isso, não há variante certa ou errada, o valor atribuído a uma variante se deve
apenas fatores sociais, o que contribui para a perpetuação do preconceito linguístico.
Não há nada no sistema linguístico ou na variante utilizada por Carolina Maria de Jesus
em Quarto de Despejo que justifique o desprestígio dessa variante da fala popular em relação
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à norma padrão. Essa valorização negativa é apenas uma forma de perpetuar o preconceito e
marginalizar quem utiliza essas mesmas construções linguísticas. É a partir dessas noções que
buscamos examinar a tradução da obra para o espanhol.

6. METODOLOGIA

Para o desenvolvimento da nossa pesquisa, optamos por recorrer a uma abordagem


qualitativa, em razão dos seus fundamentos epistemológicos, uma vez que, para os fins
almejados, interessa a compreensão dos fenômenos em seu caráter subjetivo.
No que diz respeito à natureza das fontes utilizadas, decidimos realizar uma pesquisa
bibliográfica, a partir da análise da tradução em espanhol – feita pela Universidade de los
Andes – da obra Quarto de Despejo da autora Carolina Maria de Jesus em contraste com a
obra original, apoiando-se no levantamento da literatura acerca dos estudos da tradução e
variação linguística.
Quanto aos objetivos, escolhemos desenvolver uma pesquisa explicativa, uma vez que
nos interessa não somente a análise do fenômeno estudado, mas também que busquemos
interpretar os dados obtidos durante a construção do nosso trabalho. Para a coleta e
organização dados, a técnica de pesquisa utilizada será a de documentação, por meio do
registro e sistematização dos dados obtidos a fim de possibilitar a sua posterior análise.

Atividade 2021/2 2022/1 2022/2 2023/1 2023/2 2024/1 2024/2


Leituras X X X X X X X
Coleta de dados X X
Análise dos dados X X
Escrita da monografia X X X X
Defesa da monografia X

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, com essa pesquisa esperamos entender qual é a melhor forma de traduzir uma
obra que foge da norma padrão sem que o sentido original e a sua singularidade sejam perdidos.
Para isso, analisamos a tradução em espanhol da obra Quarto de Despejo de Carolina Maria de
Jesus, realizada e publicada pela Universidade de los Andes (Unila). Esperamos, ao analisar a
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obra, compreender como foi feita a tradução e como se apresenta o viés do tradutor no texto
analisado.
Ao longo da análise, a expectativa é que os tradutores tenham obtido êxito em adaptar
a obra de modo a refletir a realidade brasileira retratada, considerando o contexto histórico e a
realidade sociocultural no momento da escrita e, mais do que isso, criando uma tradução que
também se atente à realidade dos países hispano-americanos e seja capaz de refletí-la.
Pretendemos, por meio do nosso trabalho, contribuir para o debate acerca do viés do tradutor
na tradução de obras literárias e para os estudos de variação linguística, a fim de reduzir o
preconceito linguístico e promover uma maior aceitação não só da fala, mas também da
literatura que não se enquadra nas determinações da norma padrão.

8. REFERÊNCIAS

______. ARROJO, Rosemary. Fictional translators: rethinking translation through literature.


London and New York: Routledge, 2018.

______. ARROJO, Rosemary. O signo desconstruído. 2. ed. São Paulo: Pontes, 2003.

______. COELHO, Izete Lehmkuhl; GORSK, Edair Maria; MAY, Guilherme Henrique;
SOUZA, Christiane Maria N. de. Para conhecer sociolinguística. 1. ed. São Paulo: Contexto,
2015.

______. JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 1. ed. São
Paulo: Ática, 2020.

______. JESUS, Carolina Maria de. Cuarto de desechos y otras obras. Traducción y prólogo
Laboratorio de traducción de Unila; epílogo Raffaella Fernandez. Bogotá: Ediciones Uniandes,
2019.

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