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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

APLICAÇÃO DE CORANTES NATURAIS NA COLORAÇÃO DAS


ESCAMAS DE PEIXE.
Mariana Cristina Mourão Veiga1, Bruna Beatriz Coelho Soares2, Geize dos Santos3, Juliana Maria Aderaldo Vidal4,
Maria Alice Rocha5, Weruska de Melo Costa6.

INTRODUÇÃO
No Brasil a produção de corantes tem ocorrido desde seu descobrimento, relacionada à madeira Pau Brasil
(Caesalpinia echinata, Lam.), da qual era extraído um pigmento capaz de tingir tecidos com cores fortes, como
vermelho, rosa ou marrom (Dallogo & Smaniotto, 2005). Até a metade do século XIX, todos os corantes eram extraídos
de folhas, caules, raízes, frutos ou flores de várias plantas e de espécies animais. Porém com a descoberta de corantes
sintéticos obtidos a partir de derivados de petróleo e de carvão mineral houve a substituição dos corantes naturais pelos
químicos e desta forma contribuiu para acentuar o seu desuso (Angelucci, 1991).
A contaminação de rios e lagos por corantes provocam, além da poluição visual, sérios danos à fauna e flora. Com
suas intensas colorações, os corantes restringem a passagem de radiação solar, diminuindo a atividade fotossintética
natural, provocando alterações na biota aquática e causando toxicidade aguda e crônica dos ecossistemas (Zanoni &
Carneiro, 2011). Além dos efeitos indesejáveis ao meio ambiente, os corantes sintéticos podem apresentar riscos aos
usuários (Guaratini & Zanoni, 2000).
O projeto denominado ComuniArte atualmente beneficia três comunidades: Açude Saco l em Serra Talhada com
aproveitamento de escamas de tilápia (Oreochromis niloticus); Porto Jatobá - Abreu e Lima e Barra de Sirinhaém com
escamas de peixes marinhos. A matéria prima deste trabalho é descartada no lixo, processada e em seguida utilizada
para peças artesanais e biojóias. O objetivo deste trabalho foi avaliar o uso de diferentes corantes naturais no tingimento
das escamas de peixe para ampliar o portifólio de peças utilizadas nas oficinas de capacitação sem causar danos ao meio
ambiente.

Material e métodos
As escamas de peixes marinhos de Corvina (Micropogonias furnieri), Anchova (Pomatomus saltator), Cioba
(Lutjanus analis) e Pescada (Cynoscion spp) foram inicialmente adquiridas no Mercado São José. O produto coletado
passou por um processo de beneficiamento para posterior utilização. Foi realizado um processo com dois ciclos de
lavagem em água corrente a fim de descongelar as escamas e separar os resíduos cárneos. Para desodorizar e desinfetar
foi utilizada uma solução de hipoclorito de sódio (2,0% p/p) e água durante um período de 12 horas, numa proporção de
100 mL de hipoclorito de sódio (2,0% p/p) para 1000 mL de água, com mais dois ciclos de lavagens. Posteriormente, as
escamas foram lavadas em água corrente para remoção dos resíduos químicos seguida de filtração (SANTOS et al,
2012).
Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica e verificou-se que não existia procedimento metodológico para
coloração das escamas de peixes, sendo assim, foi realizado o mesmo procedimento do tingimento de tecidos, o que nos
forneceu um novo protocolo para a metodologia. Inicialmente foram selecionados os seguintes corantes: chá verde
(25g), caju roxo (90g), angico (45g), ipê roxo (70g), carqueja (30g), sene (25g), amora miúra (35g), camomila (20g),
chá preto (20g), barbatimão (45g), romã (01), chá de casca de cebola (casca de 02 cebolas) (Tabela 1). Separamos um
recipiente com 1000 ml de água que foi submetida à fervura, após o ponto de ebulição acrescentou-se o corante criando
a infusão permanecendo por 10 minutos em aquecimento. Em cada recipiente já contendo escamas de peixes aplicou-se
a infusão e em seguida foi acrescentado 100 ml de álcool 70% para fixação da coloração. Essa metodologia foi realizada
para cada corante natural que permaneceu em repouso por 03 dias e observando se todas as escamas estavam recebendo
coloração de forma homogênea, ou seja, sempre que necessário agitou-se a solução para manter a homogeneidade. Após
o período de repouso as escamas foram colocadas para secagem de forma alternada à sombra e ao sol.

Resultados e Discussão
Nesta metodologia foram realizadas três repetições para certificar a cor desejada. Observado que para a criação de
novo portifólio a aplicação de diferentes corantes naturais foi positiva, pois pode abranger variação nas cores a qual se
1
Primeiro Autor é Graduanda do Curso de Engenharia de Pesca, Bolsista do Projeto de Extensão da Universidade Federal Rural de Pernambuco –
UFRPE – Dep. Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE, 52171-900.
E-mail: mariana.veiga_83@yahoo.com.br
2
Graduanda do curso de Bacharelado em Economia Doméstica – 5º Período – UFRPE
3
Engenheira de Pesca - Dep. de Pesca e Aquicultura UFRPE
4
Docente do curso de Engenharia de Pesca - UAST – Estr. Para Fazenda Saco, Serra Talhada – PE, Brasil.
5
Docente do curso de Economia Doméstica – UFRPE.
6
UFRPE – Dep. de Ciências Biológicas – Área de Ecologia.
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deseja a partir da quantidade de corante utilizada. Identificou-se que no chá verde, chá de carqueja e chá de camomila a
coloração é modificada conforme o corante utilizado, ou seja, na metodologia para os três corantes foram usadas folhas
e chás de saquinhos industrializados comercializadas em sachês no qual foram submetidas à mesma metodologia. Para o
chá verde obteve a coloração esverdeada e coloração marrom na utilização de sachês devido à presença de potássio
(14mg em cada sachê) que é um elemento que se oxida com rapidez. No chá de camomila o resultado obtido foi amarelo
claro quando utilizadas as folhas e amarelo escuro com sachê. Porém, o chá de carqueja apresentou escamas alternadas
(verde clara e escura) ao utilizar sachê e escamas verde escura quando usadas folhas.
Os corantes naturais: caju roxo; angico; ipê roxo; amora miúra; casca de romã; barbatimão; chá preto e chá de sene
não apresentaram alteração na coloração. No chá da casca de cebola houveram dois tons de marrom devido à qualidade
da casca (cebola nova, casca escura, casca clara).
Os resíduos gerados conforme a Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT NBR 10004:2004 descreve que os
resíduos orgânicos e químicos provenientes do processo de tratamento das escamas no tingimento estão classificados
dentro da norma como resíduos classe ll - Não perigosos (A099), com características de biodegradabilidade e
solubilidade em água para os chás produzidos.

Agradecimentos
Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal Rural de Pernambuco, aos discentes e docentes envolvidos no
projeto na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) e Progest.

Referências

a. Livros
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos sólidos – Classificação. Rio de
Janeiro, 2004.

Dallogo, R. M: Smaniotto. A. 2005. Resíduos sólidos de curtumes como adsorventes para a remoção de corantes em
meio aquoso. Química Nova, vol. 28, N 3, p. 433-437.

Guaratini, C. I.; Zanoni, M. V. B. 2000, Corantes Naturais. Qúmica Nova, V. 23, N 1.

Zanoni, M.V.B.; Carneiro, P.A.2001. Corantes têxteis e Meio Ambiente. Ciência Hoje, v.29, p.61-64.

b. Dissertação e teses

Angelucci, E. 1991. Corante para alimentos. ll Seminário de corantes naturais para alimentos. In: Simpósio
Internacional de Urucum, 1, Campinas, SP. Anais. Campinas, 1991. p. 3-4.

Santos, G; VEIGA, M. C. M.; MELO JUNIOR, C. A. F.; ARAÚJO, T. M. L; VIDAL, J. M. A.; SANTOS, J. F.;
COSTA, Weruska de Melo. Beneficiamento de escamas de pescado do Mercado de São José, Recife-Pernambuco.
UFRPE, PALMAS, AQUACIENCIA, 2012.

Tabela 1. Descrição dos corantes naturais.


XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Parte
Onde
Planta Nome Científico Época colheita para Cor Flor de escama
encontrar
extração

Amora
Morus nigra Primavera Cultivado Folhas Verde
Miúda

Parapiptadenia
Angico Junho/Julho Cultivado Casca Marrom
rigida

Barbatimã Stryphnodendrun Julho/Agosto/ Espontâne Marrom


Casca
o barbadetiman Setembro o avermelhado

Anacardium Róseo
Caju roxo Ano todo Cultivado Casca
occidentale escuro

Amarelo
Camomila Anthemis catula Verão Cultivada Folhas
claro

Carqueja Baccharis trimera Ano todo Cultivada Folhas Verde


L.

Marrom
Cebola Allium cepa Outono/inverno Cultivada Casca
claro/escuro

Marrom
Chá preto Camellia sinensis Primavera/verão Cultivada Folhas
escuro

Chá verde Camellia sinensis Primavera/verão Cultivada Folhas Verde

Tabebuia
Ipê Roxo Maio à agosto Cultivada Casca Róseo
impetiginosa

Casca e Amarelo
Romã Punica granatum Verão Cultivada
Fruto queimado

Marrom
Sene Cassia angustifolia Primavera Cultivada Folhas
escuro

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