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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS


MESTRADO EM GESTÃO EMPRESARIAL (MEX)

RENATA VALLADÃO VELASCO

A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DO CAMPO ORGANIZACIONAL NA


ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE ESG: uma análise do setor elétrico brasileiro

Rio de Janeiro
2022
RENATA VALLADÃO VELASCO

A INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS DO CAMPO ORGANIZACIONAL NA


ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE ESG: uma análise do setor elétrico brasileiro
Dissertação apresentada à Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da
Fundação Getúlio Vargas como requisito para a
obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador Acadêmico: Prof. Dr. Joaquim


Rubens Fontes Filho.

Rio de Janeiro
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas/FGV

Velasco, Renata Valladão


A influência das características do campo organizacional na adoção de
práticas de ESG: uma análise do setor elétrico brasileiro / Renata Valladão
Velasco.-- 2022

75 f.

Dissertação (mestrado) – Escola Brasileira de Administração Pública e


de Empresas, Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa.
Orientador: Joaquim Rubens Fontes Filho.
Inclui bibliografia.

1. 1. Campo organizacional. 2. Recursos energéticos - Aspectos ambientais.


2. 3. Energia elétrica - Brasil - Aspectos ambientais. 4. Sustentabilidade -
3. Relatórios. I. Fontes Filho, Joaquim Rubens. II. Escola Brasileira de
4. Administração Pública e de Empresas. Centro de Formação Acadêmica e
5. Pesquisa. III. Título.

CDD – 333.79

Elaborada por Maria do Socorro Almeida – CRB-7/4254


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, presente em todos os momentos da minha vida, por


ter guiado meus passos, me dado força e proteção nos períodos de maior dificuldade.
Ao meu marido, por apoiar meus projetos e estar sempre ao meu lado,
incondicionalmente. Soube entender minha ausência e meus momentos de ansiedade. Muito
obrigado por estar em minha vida construindo nosso futuro em conjunto!
Aos nossos filhos, minha mãe, irmã e amigas Tatiane e Simone por estarem sempre
ao meu lado, entendendo minhas ausências, impaciências, incentivando e vibrando comigo a
cada conquista.
Em especial, aos queridos amigos “heroes”, Antonella Moretti, Diego Lima, Igor
Kayode, Luiz Eduardo, Leonice Rocha, Paula Soffiatti e Paulo Garchet. Companheiros de
jornada acadêmica e para vida toda, sem vocês o caminho não teria sido tão leve.
Ao meu orientador, professor Joaquim Rubens, minha imensa gratidão pela
orientação e valiosas contribuições no decorrer da pesquisa, sempre me chamando de volta para
o objetivo do meu trabalho quando preciso.
Agradeço demasiadamente a todos que aceitaram ser entrevistados e contribuir com
esse projeto. Esse trabalho não existiria sem vocês!
Agradeço também, ao diretor do ONS Marcelo Prais e ao diretor executivo da FGV
Energia Carlos Quintella pela oportunidade e confiança que depositaram em mim. A todos que
de alguma forma contribuíram para a conclusão dessa etapa em minha vida.
RESUMO

Objetivo- Essa dissertação tem como objetivo principal identificar os impactos das
características do campo organizacional configurado pelo setor elétrico brasileiro na adoção
de práticas ESG.

Metodologia – O aporte teórico do trabalho é composto por elementos da teoria institucional,


campo organizacional e de ESG ou sustentabilidade. A pesquisa se classifica como qualitativa,
exploratória, descritiva e de estudo de casos múltiplos. Os dados são primários e secundários,
cujas fontes são os Relatórios de Sustentabilidade e Balanços Sociais das empresas e conteúdo
coletados por meio de entrevistas semiestruturadas.

Resultados – Entre os resultados, observou-se que o campo organizacional no Brasil para as


práticas ESG se encontra ainda fragmentado e com baixo nível de isomorfismo. Os resultados
são baseados em uma amostra de empresas do segmento “Energia Elétrica” atuantes no
mercado brasileiro em geração, distribuição e transmissão de energia.

Contribuições práticas – O trabalho ainda, demonstra que os pilares da teoria institucional e


os mecanismos de pressão exercidos sobre eles modelam o campo organizacional levando a
um nível específico de isomorfismo.

Palavras-chave: Campo Organizacional; ESG; Relatório de Sustentabilidade; Setor elétrico;


Teoria Institucional.

Categoria do artigo: Dissertação de Mestrado/Artigo original


ABSTRACT

Purpose – The aim of this research is identify the impacts of the characteristics of the
organizational field configured by the electricity sector on the adoption of ESG practices by
companies operating in this sector. The theoretical contribution of the work is composed by
elements of institutional theory, organizational field and ESG or sustainability.

Design/Methodology - The research is classified as qualitative, exploratory, descriptive and


multiple case study. The data are primary and secondary, whose sources are the Sustainability
Reports and Social Balance Sheets of the companies and content collected through semi-
structured interviews.

Findings – Among the results, it was observed that the organizational field in Brazil for ESG
practices is still fragmented and with a low level of isomorphism. The results are based on a
sample of companies in the "Electric Energy" segment operating in the Brazilian market in
energy generation, distribution and transmission.

Practical implications - The work also demonstrates that the pillars of institutional theory and
the pressure mechanisms exerted on them shape the organizational field leading to a specific
level of isomorphism.

Keywords: ESG; Sustainable Report; Electricity Sector; Institutional Theory


Paper category: Master´s thesis/ Research paper
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) ........................................................20


Figura 2 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ........................................................21
Figura 3 - Normas GRI ...............................................................................................................25
Figura 4 - Estrutura do Setor Elétrico ...........................................................................................29
Figura 5 - Perspectivas Teóricas sobre Campos Organizacionais ....................................................33
Figura 6 - Objetivo 1 Erradicação da Pobreza - ODS Brasil ...........................................................50
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação entre pilares institucionais e requisitos de institucionalização ...........................32


Quadro 2 - Empresas selecionadas para análise dos Relatórios de Sustentabilidade .........................36
Quadro 3 – Validação de auditores independes .............................................................................46
Quadro 4 - Ano que iniciou a publicação de Relatório de Sustentabilidade .....................................46
Quadro 5 - Matriz das empresas analisadas ..................................................................................50
Quadro 6 - Fatores do Ambiente institucional que configuram a característica do campo organizacional
...................................................................................................................................................64
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACL - Ambientes de Contratação Livre


ACR – Ambiente de Contratação Regulada
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
ASG - Ambiental, Social e de Governança
BCG - Boston Consulting Group
CCEE - Câmara de Comercialização de Energia
CMSE - Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico
CNPE - Conselho Nacional de Política Energética
EPE - Empresa de Pesquisa Energética
ESG - Environmental, Social and Governance
GEE - Gases de Efeito Estufa
GRI – Global Reporting Initiative
IIRC - International Integrated Reporting Council
ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial
MME - Ministério de Minas e Energia
ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico
ONU – Organização das Nações Unidas
RSE - Responsabilidade Empresarial Ambiental
SASB - Sustainability Accounting Standards Board
SEB – Setor Elétrico Brasileiro
SIN - Sistema Interligado Nacional
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................13
1.1 Contexto .............................................................................................................................13
1.2 Objetivo Geral ...................................................................................................................16
1.3 Justificativa ou Relevância do estudo .............................................................................16
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................18
2.1 Conceito de ESG nas organizações ..................................................................................18
2.2 Reportes de Sustentabilidade ...........................................................................................22
2.3 O Setor Elétrico Brasileiro ...............................................................................................26
2.4 Teoria Institucional...........................................................................................................30
2.5 Campo Organizacional .....................................................................................................32
3 METODOLOGIA ................................................................................................................35
3.1 Análise documental ...........................................................................................................35
3.2 Entrevista de campo .........................................................................................................37
3.3 Análise das entrevistas ......................................................................................................38
4 ANÁLISE DOCUMENTAL: relatórios de sustentabilidade ..............................................40
4.1 Informações sobre as empresas selecionadas .................................................................40
4.2 Resultado da análise dos Relatórios de Sustentabilidade..............................................45
5 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS ..............................................................................52
6 DISCUSSÃO.........................................................................................................................61
7 CONCLUSÃO ......................................................................................................................65
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................66
APÊNDICE A – ROTEIRO DE PERGUNTAS DAS ENTREVISTAS .................................75
13

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contexto

A importância da adoção de práticas ESG (sigla em inglês para Environment, Social


and Governance), traduzido para o português como Ambiental, Social e de Governança (ASG),
tem sido cada vez mais presente no mundo empresarial. A observação de que os impactos
ambientais, a desigualdade social e o não aperfeiçoamento da governança nas empresas podem
colocar em risco a sustentabilidade das empresas, cujo foco principal historicamente é gerar
lucros para os acionistas, fez surgir um movimento para que esses itens constassem nos
indicadores de desempenho das corporações.
Esse movimento não é somente uma evolução da sustentabilidade empresarial, mas
uma necessidade para se manter viva no mercado.
Empresas que adotam voluntariamente políticas ambientais e sociais em seu
modelo de negócios representam um tipo diferenciado de corporação moderna, caracterizada
por uma estrutura de governança que, além do desempenho financeiro, responde pelo impacto
ambiental e social no setor que atua. Essa é uma abordagem de longo prazo que visa maximizar
os lucros ao longo do tempo, sendo um processo ativo de gerenciamento de partes interessadas
e sistemas de medição (ECCLES; IOANNOU; SERAFEIM, 2014).
De acordo com o Manifesto de Davos (SCHWAB, 2019), uma empresa é mais do
que uma unidade econômica gerando riqueza. Ela cumpre as aspirações humanas e sociais como
parte do sistema social mais amplo. O desempenho deve ser medido não apenas no retorno aos
acionistas, mas também em como ele atinge seus objetivos ambientais, sociais e de boa
governança.
Por meio de suas atividades e relações, todas as organizações fazem contribuições
positivas e negativas para o objetivo do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, as
organizações desempenham um papel crucial no alcance desse objetivo (GLOBAL
REPORTING, 2016).
O atual cenário causado pela COVID-19 extrapolou a visão de que a preocupação
com os aspectos sociais, ambientais e humanitários pode evitar impactos econômicos adversos
pondo em crise a sustentabilidade dos negócios no longo prazo, o que ficou evidente diante do
movimento europeu relacionado aos investimentos sociais e ambientais com o chamado Green
Deal (EUROPEAN COMISSION, 2020; ANBIMA, 2021). Nesse contexto, a adoção de
14

práticas ESG por parte das empresas é vista como critério para o aporte de diferentes
organismos financiadores.
O ambiente de negócios passa então a perceber forte pressão para incorporar ações
focadas em ESG em suas atividades, com origem em diferentes atores e processos, observados
entre outros: na busca por produtos ambientalmente sustentáveis pelos consumidores; na
valorização do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, por parte dos profissionais que passam
a priorizar outros aspectos além de salários; no estabelecimento de normas e regulações mais
rígidas ligadas ao tema ESG; e no interesse cada vez maior de investidores por aspectos
ambientais, sociais e de governança nas decisões de alocações de recursos (ZACCONE;
PEDRINI, 2020). Deste modo, nos últimos 20 anos houve um crescimento no número de
empresas que relataram dados ESG, e com isso, o interesse dos investidores em dados ESG
também aumentou (SERAFEIM; GREWAL, 2019).
A indústria de energia é uma das mais afetadas por esse movimento. Em especial,
a cadeia de produção de hidrocarbonetos que tem sido vista com maior cautela por parte dos
investidores no que diz respeito aos seus critérios de redução dos impactos sociais e ambientais
e no que tange aspectos de governança. Pesquisa realizada pelo BCG (2020) mostra que 65%
dos investidores em empresas de óleo e gás devem priorizar ESG ainda que isso signifique
redução nos ganhos por ação (BCG, 2020).
Cabe observar que, apesar do destaque para as empresas do setor de óleo e gás (pelo
alto nível de emissões de gases verificado em todo ciclo de vida do produto), o setor elétrico
também tem seus indicadores de ESG atentamente acompanhados pelo mercado. O tema tem
relevância para o setor elétrico, mesmo em países com matrizes prioritariamente renováveis,
como no Brasil, visto os impactos socioeconômicos que decorrem dos grandes projetos de
infraestrutura desse setor.
A indústria de energia elétrica no Brasil, complexa e multifacetada, está em
constante expansão, com crescimento da rede física que hoje conta com aproximadamente
172.864 km de linhas de transmissão (ONS, 2022) e, apesar da larga participação de fontes
renováveis, a operação dos grandes reservatórios e usinas termoelétricas, promove impactos
socioeconômicos e ambientais de grande escala. Com isso, apesar da matriz elétrica
prioritariamente renovável poder representar um abono para os impactos ao meio ambiente
causado pelos investimentos no setor, é notória a sua relevância nas discussões sobre impactos
sociais e como a sua governança influencia de forma abrangente os riscos de mercado.
Para além das questões socioambientais, os mecanismos de governança corporativa
têm um papel importante na construção e fortalecimento da confiança das partes interessadas,
15

garantindo que as responsabilidades para com a sociedade e o meio ambiente sejam cumpridas
(STUEBS; SUN, 2015). O setor de energia está diretamente ligado ao crescimento econômico
(sustentável) de um país, não apenas pelo fato de a oferta de energia estabelecer as condições
para o funcionamento dos fatores de produção, mas também pelo grande volume de
investimentos relacionados a expansão da infraestrutura da cadeia geração, transmissão e
distribuição. Tal relevância econômica faz com que a performance dos indicadores de
governança das empresas desse setor também seja valorizada pelo mercado como forma de
reduzir de riscos endógenos e exógenos.
Vista a relevância do ESG e a sua relação com os resultados das corporações,
sobretudo pela facilidade de acesso aos mercados investidores e consumidores, é importante
que sua implementação faça parte das estratégias corporativas das empresas do setor de energia.
Analisar os fatores que colaboraram para sua evolução no setor elétrico brasileiro traz
oportunidades para a identificação de conceitos que auxiliem a sistematização das suas
aplicações.
Neste trabalho a análise dos fatores e atores que impactaram no desenvolvimento
das ações de ESG pelas empresas do setor elétrico brasileiro será realizada à luz da teoria
institucional. Para Zucker (1987), a teoria institucional fornece uma visão rica e complexa das
organizações. Nessa teoria, as organizações são influenciadas por pressões normativas,
decorrentes da própria organização ou motivadas pelo ambiente. Tais motivos foram
estruturados por Scott (2014) em 3 pilares: "regulador", "normativo" e "cultural-cognitivo".
Ainda no contexto da teoria institucional, esses pilares podem influenciar na
configuração de um campo organizacional. DiMaggio e Powell (1983) definem um campo
organizacional como o conjunto de organizações que compartilham sistemas de significado
comuns e que interagem mais frequentemente entre si do que com atores de fora do campo,
constituindo assim uma área reconhecida da vida institucional.
Assim, propõe-se a seguinte questão: Qual o impacto das características do campo
organizacional do país na adoção de práticas de ESG pelas empresas do setor elétrico brasileiro?
Foi adotada a abordagem qualitativa (CRESWELL, 2007), considerando que os
fatos relativos à ação humana, por serem singulares, podem ser interpretados em vez de
medidos, demandando uma compreensão qualitativa da vida social. Entretanto, é apresentado
também um detalhamento quantitativo das principais respostas, antes da análise qualitativa.
Para formulação das questões acerca do impacto das características institucionais
nas práticas de ESG do setor elétrico brasileiro, foram analisados os Relatórios de
Sustentabilidade de empresas selecionadas. Na sequência, foram entrevistados os executivos
16

responsáveis pela coordenação das ações de ESG destas organizações, para que sejam
mapeados os elementos da teoria institucional (regulatório, normativo e cognitivo social) com
impacto nessas ações.
Com base nas informações fornecidas pelos entrevistados, pretendeu-se
compreender e extrair a possível influência que padrões internacionais podem exercer na
adoção das práticas ESG nas empresas do setor analisado.
Além de considerar a influência exercida pelo ambiente institucional por meio dos
mecanismos isomórficos institucionais, nesse trabalho se supõe que existe uma influência
mútua entre ambiente institucional e campo organizacional.
Dessa forma, esse trabalho visa contribuir para o campo das pesquisas fazendo uma
análise, com base na teoria institucional, do efeito das características institucionais de um país
na escolha das práticas ESG, com foco no setor de energia elétrica por meio de entrevistas,
análise documental e pesquisa bibliográfica. São mapeados elementos que confirmam se as
práticas ESG vêm sendo adotadas em empresas do setor elétrico de acordo com os três pilares
estruturados por Scott (2014) e se essa adoção é impactada por características do campo
organizacional. Apresentam-se, portanto, evidências da influência dos pilares da teoria
institucional na formulação de estratégias organizacionais.

1.2 Objetivo Geral

O objetivo principal deste trabalho é identificar os impactos das características do


campo organizacional configurado pelo setor elétrico brasileiro na adoção de práticas de ESG
pelas empresas que atuam no setor.

1.3 Justificativa ou Relevância do estudo

Existem fatores que influenciam na lógica de adoção de práticas ESG nas empresas,
tais como fatores econômicos, valor da marca e sustentabilidade dos recursos naturais.
Diferentes segmentos respondem de forma específica a cada um desses fatores, dando
diferentes contornos às ações de ESG implementadas (ISKANDAR, 2019).
Para o setor energético global, o setor elétrico é visto como campo fértil para as
ações ESG. Essa percepção ocorre sobremaneira no quesito ambiental, visto que, na maior parte
do mundo, o consumo energético se dá prioritariamente com base em combustíveis fosseis,
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sendo a eletrificação do consumo uma das principais alternativas para otimizar o balanço das
emissões de carbono de países e corporações.
Todavia, o setor elétrico brasileiro apresenta formação institucional e tecnológica
que promoveu contornos próprios a expansão das ações ESG nesse setor. O Brasil dispõe de
uma matriz elétrica de origem predominantemente renovável, com destaque para a fonte hídrica
que responde por 53,4% da oferta interna. As fontes renováveis representam 78,1% da oferta
interna de eletricidade no Brasil (EPE, 2022). Adicionalmente, a formação institucional do setor
elétrico brasileiro ainda busca solucionar questões relativas à participação estatal, bem como
ao atraso no processo de modernização das estruturas de mercado reduzindo riscos e
aumentando a participação de capital privado.
À exceção do setor de transporte, a matriz energética no Brasil tem forte
participação de fontes renováveis, a maior parte da energia elétrica é produzida com fontes
‘limpas”, que não emitem carbono (EPE, 2022).
Dessa forma, a responsabilidade social corporativa tem se destacado, tornando
premente a elaboração e a publicação do Balanço Social e relatórios de sustentabilidade, o que
torna transparente a forma de atuação social das empresas.
Adicionalmente, conforme dados do Ministério da Economia (BRASIL, 2019) o
crescimento da participação de organizações multinacionais nos diferentes segmentos do setor
(geração, transmissão e distribuição). Com isso, o setor passa a sofrer forte influência das
diretrizes dessas empresas com sede, principalmente, na China (por meio das empresas State
Grid e Three Gorges), na Itália (com a Enel expandindo sua atuação na distribuição e geração
renovável) e França (representada pela Engie) (BRASIL, 2019). Deste modo, torna-se relevante
identificar o impacto desse direcionamento na adoção de práticas ESG pelas empresas do setor
elétrico brasileiro, percebendo como aspectos regionais podem impactar no desenvolvimento
do campo organizacional.
O presente estudo é justificado, portanto, pela importância que o tema ESG tem
apresentado nas últimas décadas. Observar as estratégias ESG com base nos pilares da teoria
institucional, ajuda a compreender como o campo organizacional é influenciado pela
característica das instituições como, por exemplo, o alto grau de internacionalização das
empresas. A contribuição do trabalho para a teoria das organizações se dá pela identificação
dos pilares da teoria institucional presentes na implantação das estratégias ESG no setor elétrico
brasileiro, permitindo a verificação e análise sobre como operam conceitos e premissas da teoria
institucional, tais como a ocorrência de isomorfismo e pressões coercitivas e/ou regulatórias,
na especialização e conformação do campo organizacional.
18

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Conceito de ESG nas organizações

A constatação de que o aumento da desigualdade social e degradação do meio


ambiente eram questões urgentes e que não eram vistos como um problema pelo sistema
capitalista levou pesquisadores e ambientalistas a defenderem mudanças nas medições e
relatórios corporativos como uma "alavanca" potencialmente poderosa que poderia promover
uma discussão de " reimaginar” para “remodelar” o capitalismo (SERAFAIN; GREWAL,
2019). Embora o termo ESG tenha sido cunhado em 2004, em uma publicação do Pacto Global
em parceria com o Banco Mundial, o conceito ganhou força apenas nos últimos anos,
impulsionado por eventos ligados a mudanças climáticas, queimadas, pandemia, aumento da
pobreza e discriminação de minorias por exemplo.
A preocupação com o engajamento de empresas e consumidores em relação à
sustentabilidade vem crescendo ao longo dos anos, uma vez que os impactos socioambientais
vêm exigindo maior atenção dos atores econômicos e sociais (ALVES; SILVA; SANTOS,
2018). As empresas têm maior destaque, pois suas necessidades e forma de atuação podem
causar grandes impactos, passando a averiguar as possíveis influências ambientais, sociais e
econômicas das suas operações (BRITO; BERARDI, 2010). Nesse sentido, Ban Ki-moon,
Secretário Geral das Nações Unidas reforça que,

As empresas são parceiras vitais no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento


Sustentável. Elas podem contribuir através das suas atividades principais, e
solicitamos que as empresas de todos os lugares avaliem o seu impacto, estabeleçam
metas ambiciosas e comuniquem seus resultados de forma transparente [...]. (ONU,
2015, p. 1).

O surgimento da adoção de critérios ESG se deu como demanda de alguns grupos


de acionistas preocupados com a percepção de risco de questões ambientais, sociais e
governança para a rentabilidade dos negócios (RODRIGUES, 2020).
A literatura sobre o tema indica que práticas ESG, como garantia de
relacionamentos éticos, diversidade, redução de poluição ambiental e aumento da confiança dos
empregados contribuem para o melhor desempenho da empresa, reduzindo o custo de capital e
riscos de litígio no longo prazo (STARKS et al., 2020). O aumento da transparência na adoção
dessas práticas tende a mudar o comportamento nas organizações, trazendo melhores resultados
para empresas, acionistas, clientes, comunidades locais e para o meio ambiente.
19

De acordo com Serafain e Grewal (2019), pesquisadores procuraram correlações


entre implementação de ESG e desempenho financeiro por mais de 40 anos, não havendo
consenso definitivo. Porém, trabalhos recentes que consideram horizontes de longo prazo
indicam que as empresas que implementam métricas ESG em seu negócio têm um desempenho
superior que seus pares (SERAFAIN; GREWAL, 2019). Cada vez mais, empresas do mundo
todo tem implementado questões ambientais, sociais e de governança em seus modelos de
negócio. No Brasil, houve um aumento de 74% no número de fundos de ações que se
enquadram na temática sustentabilidade e de governança corporativa de 2008 a março de 2022,
passando de 27 para 47 o número de produtos (ANBIMA, 2022).
Um contraponto a esta lógica é que empresas que consideram ESG em sua
estratégia tem maior custo de operação pela existência de normas mais rígidas, por exemplo, ao
renunciar a oportunidades de negócio que não estejam alinhadas aos seus valores e normas e,
assim, destruir a riqueza dos acionistas (NAVARRO, 1988). Porém, ao considerar o ESG em
sua estratégia, essas empresas atraem capital humano qualificado e estabelecem relações mais
confiáveis com a cadeia de suprimentos, que devem ter valores aderentes aos da empresa, bem
como a sociedade em torno de suas operações. Alguns autores como Porter e Krammer (2011)
indicam que as empresas podem praticar o bem fazendo isso de forma eficiente, partindo do
princípio que atendendo a todas as partes interessadas é criado valor para os acionistas.
Com o aumento dos chamados investimentos sustentáveis (ANBIMA, 2018), vem
sendo percebido que os investimentos sustentáveis apresentam em geral uma relação positiva
entre ESG e Corporate Financial Performance (CFP) (FRIEDE; BUSCH; ASSEN, 2015).
Com isso, o investimento em ações de responsabilidades social com foco nas partes
interessadas pode melhorar a imagem da empresa e trazer como resultado um melhor
desempenho (RENNEBOOG et al., 2008). Assim, sua implementação é relevante não só para
reduzir a desigualdade social e os impactos ambientais, mas também para trazer mais clareza
para os investidores sobre os recursos alocados. Empresas que ignoram sua responsabilidade
social podem destruir o valor do acionista a longo prazo devido a potenciais perdas de reputação
ou custos de litígio (RENNEBOOG et al., 2008).
Esse movimento de preocupação com a realidade mundial e estruturação de
objetivos e metas globais, se tornou mais consistente com a criação dos Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM), instituídos pela Assembleia Geral da ONU em 2000, com
o apoio de 191 nações, vigorando até 2015. Eram compostos por oito objetivos e 21 metas
associadas e almejavam fazer com que o mundo progredisse rapidamente rumo à eliminação da
extrema pobreza e da fome do planeta, fatores que afetavam especialmente as populações mais
20

pobres, dos países menos desenvolvidos (ROMA, 2019). Conforme relatório de avaliação
divulgado pela ONU (2015), os ODM atingiram bons resultados, como a redução da extrema
pobreza, da subnutrição e da taxa de mortalidade infantil e aumento da taxa líquida de
matrículas na educação fundamental, entre outros.

Figura 1 - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)

Fonte: ODM Brasil (2013)

Em 2013, ainda com os ODM em vigor (ONU BRASIL, 2013), foi criado um grupo
com a missão de elaborar uma proposta para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS, a ser apresentada na Assembleia Geral da ONU desse ano, cujo tema central foi a
chamada Agenda de Desenvolvimento Pós-2015.
A Cúpula das Nações Unidas ocorrida em setembro de 2015, foi um marco
relevante em relação a ações sustentáveis, onde os 193 países membros optaram pela adoção
de uma nova política global. Nessa ocasião foi traçado um plano de ação para erradicar a
pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade,
Denominado de Agenda 2030, esse plano elenca 17 ODS (Figura 2) norteadores a
serem seguidos pelas sociedades apoiadoras do novo projeto (ONU, 2015).

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas que estamos


anunciando hoje demonstram a escala e a ambição desta nova Agenda universal. Eles
se constroem sobre o legado dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e
concluirão o que estes não conseguiram alcançar. Eles buscam concretizar os direitos
humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres
e meninas. Eles são integrados e indivisíveis, e equilibram as três dimensões do
desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. (ONU, 2015, p. 1).
21

Figura 2 - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Fonte: ONU Brasil (2022)

Conforme divulgado pela ONU, para que os ODS sejam atingidos globalmente são
necessários cerca de US$ 5 a US$ 7 trilhões por ano, entre 2015 e 2030. Grande parte desse
valor, em torno de US$ 3 a US$ 4,5 trilhões, destinados a países em desenvolvimento, que
necessitam de mais investimentos em relação a infraestrutura básica, segurança alimentar,
saúde e educação. A participação das empresas no atingimento dessas metas se tornou presente
em seus relatórios de sustentabilidade e indicação de temas a serem tratados para o seu alcance.
À medida que mais investidores consideram a incorporação de ESG como fator
relevante em suas decisões de alocação recursos, as estratégias para sua implementação e os
relatórios de divulgação dos seus resultados devem ser bem fundamentados e estruturados.
Deste modo, a sustentabilidade deve ser nosso novo padrão de investimento (BLACKROCK,
2020).
Eccles, Ioannou e Serafeim (2014) identificam em sua pesquisa que empresas que
consideram os objetivos ambientais e sociais como questões centrais para sua estratégia
atribuem responsabilidades em relação à sustentabilidade ao conselho de administração,
atrelam a remuneração dos executivos às métricas de sustentabilidade e estabelecem um
processo formal e engajamento das partes internas interessadas, capacitando os gestores para
apoiar nesse processo de engajamento tanto interna quanto externamente a empresa.

Tamanha a relevância do tema para o mercado, a Bolsa Brasileira (B3) alterou em


2022 a metodologia do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que passou a permitir que
gestores e investidores possam identificar quais empresas listadas que estão mais avançadas nos
fatores ESG. Com isso, as empresas receberão nota para o cumprimento de cada um dos
critérios, a qual será divulgada para o público investidor. Criado em 2005, o ISE tem sua
importância explicada pela própria ISEB3:
22

O objetivo do ISE B3 é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos
de empresas selecionadas pelo seu reconhecido comprometimento com a
sustentabilidade empresarial. Apoiando os investidores na tomada de decisão de
investimento e induzindo as empresas a adotarem as melhores práticas de
sustentabilidade, uma vez que as práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança
Corporativa, na sigla em inglês) contribuem para a perenidade dos negócios. (ISEB3,
2019, p. 1).

Diferente dos relatórios financeiros, que são obrigatórios e possuem respaldo em


normas específicas, nos relatórios socioambientais não existe ainda uma instituição que
centralize uma forma ou modelo único de realizar a divulgação dessas informações, o que se
tem são alguns modelos e formatos que hoje se tornaram complementares.

2.2 Reportes de Sustentabilidade

O Relatório de Sustentabilidade é uma ferramenta utilizada pelas empresas para


informar seus indicadores sociais, econômicos e ambientais com transparência. É uma resposta
direta das empresas ao desenvolvimento, necessidades e mudanças ocorridas na sociedade.
O relato sobre a sustentabilidade faz com que as informações sobre os impactos
econômicos, ambientais e sociais, e, consequentemente, suas contribuições positivas e
negativas para o desenvolvimento sustentável tornem-se públicas.
O processo de divulgação da sustentabilidade empresarial deixou de ser uma
questão de proatividade, mas sim de sobrevivência empresarial Calado (2008). O principal ou
maior objetivo é tornar o balanço socioambiental cada vez mais popular e é um dos relatórios
para se comparar o desempenho das empresas (ESTENDER; PITTA, 2008).
Para Sucena e Marinho (2019), o Relatório de Sustentabilidade de uma empresa é
a principal plataforma para reportar a sua interação com o meio ambiente em que ela
desempenha suas atividades operacionais.
Os relatórios criam uma mentalidade de desenvolvimento sustentável entre as
empresas, entidades, governos e clientes. Desta forma, são de interesse público
(LIGTERINGEN, 2012).
Mesmo com o entendimento pelo mercado da importância de reportar
sustentabilidade, um estudo realizado pela Grant Thornton Brasil demonstrou que de 328
empresas de capital aberto no Brasil, de 26 segmentos de atuação – entre eles: transporte e
logística, energia, construção civil, comércio, serviços financeiros, saneamento, tecnológico e
comunicações foi identificado que menos da metade (48%) das empresas divulgam o relatório
anual de sustentabilidade ou integrado (GRANT THORTNTON, 2022).
23

Considerando a relevância dos relatórios de sustentabilidade, visando a garantia que


as informações inseridas sejam seguras e sigam determinados critérios, ao longo dos anos, de
acordo com as tendências do mercado, foram desenvolvidas e evoluídas algumas metodologias.
Embora sejam muito usados, cerca de 1700 em 2019 (THE ECONOMIST, 2020), ainda não
existe um framework ou modelo de apresentação de resultados e métricas ESG.
Dentre os frameworks existentes, uma pesquisa da PwC (2021) indica os 10 mais
utilizados por empresas brasileiras, dentre eles os principais são: Task Force on Climate-
Related Financial Disclosures (TCFD), Sustainability Accounting Standards Board (SASB),
International Integrated Reporting Council (IIRC), conhecido anteriormente como Carbon
Disclosure Protocol (CDP) e Global Reporting Initiative (GRI). Um marco da sustentabilidade
no Brasil foi a criação em 1998 do Instituto Ethos, que atualmente é utilizado por muitas
empresas, com o objetivo de mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus
negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma
sociedade justa e sustentável (INSTITUTO ETHOS, 2022).
Porém, o mais utilizado no mundo segundo Daub (2007) foi desenvolvido pela
Global Reporting Initiative (GRI), fundada em 1997, que é uma organização baseada no
desenvolvimento sustentável que elaborou uma conceituada estrutura para relatórios de
resultados das organizações, baseado no tripé da sustentabilidade as dimensões econômica,
social e ambiental (FARIA; NOGUEIRA, 2012).
O GRI é uma metodologia criada para aprimorar os relatórios, incentivar melhores
práticas e criar uma linguagem comum para organizações e stakeholders buscando estabelecer
um padrão de divulgação das informações (GLOBAL REPORTING, 2016). No GRI são
estabelecidos os princípios essenciais para a elaboração de relatórios consistentes sobre o
desempenho econômico, ambiental e social de uma organização. Estes princípios se desdobram
em metas que as organizações procuram atingir e devem ser aplicados pelas organizações na
elaboração de seus relatórios (GRI, 2016).
Um Relatório de Sustentabilidade no padrão GRI permite que a organização defina
suas expectativas de desenvolvimento sustentável internas e externas, envolvendo todos os seus
stakeholders. Esse envolvimento é uma das principais vantagens do GRI, com a obrigação de
um processo de materialidade bem definido, com critérios estabelecidos e consulta de todas as
partes interessadas, o que garante que não seja relatado apenas o que convém a empresa
(GPTW, 2022).
Ao longo dos anos foram criadas diferentes versões das normas GRI. A versão G1
foi publicada em 2000, a versão G2 em 2002, a G3 em 2006, a G3.1 em 2011, a geração G4 em
24

2013 e, a última e final versão das normas conhecida como “GRI Standards” foi publicada em
2016, versão utilizada até dezembro de 2021.
Como indicado pela GRI (2020) a versão GRI Standards é composta por três
normas universais e outras normas complementares direcionadas aos tópicos específicos.
A GRI 101 – Fundamentos, inclui os dez princípios de relato, os quais são os
requisitos básicos para utilizar as Normas GRI nos relatórios de sustentabilidade, além de
informações sobre como usar e se referenciar nas Normas. São conteúdos organizados em três
seções: Apresentação dos dez princípios para relato; Explicação do processo básico de como se
preparar um relatório de sustentabilidade utilizando-se as Normas GRI; e Definição das formas
específicas que as Normas GRI podem ser usadas e referenciadas.
A GRI 102 – Conteúdo Geral, cobre as informações de contextualização sobre a
organização e suas práticas de relato de sustentabilidade. Consiste em conteúdos organizados
em seis seções: Perfil Organizacional; Estratégia; Ética e Integridade; Governança;
Engajamento de Stakeholders; e Práticas de Relato.
A GRI 103 – Abordagem de Gestão, inclui a abordagem de gestão da organização
para cada tópico material. Consiste em conteúdos organizados em três seções: Explicação do
tópico material e seus limites; Abordagem de gestão e seus componentes; e Avaliação da
abordagem de gestão.
Além disso, existem tópicos específicos das Normas, organizados em três séries:
Tópicos Econômicos (Série 200), que traz as Normas relacionadas ao eixo
econômico como, por exemplo, a performance econômica e anticorrupção.
Tópicos Ambientais (Série 300), os quais incluem as Normas relacionadas ao eixo
ambiental como, por exemplo, energia, água e emissões.
Tópicos Sociais (Série 400), com as Normas relacionadas ao eixo social como, por
exemplo, diversidade, trabalho infantil, trabalho forçado e políticas públicas.
A metodologia GRI é composta de indicadores e diretrizes que norteiam a
elaboração dos relatórios e garantem transparência ao seu resultado. Assim, o formato e o
conteúdo dos Relatórios de Sustentabilidade evoluíram de acordo com as tendências de
mercado e foram adaptados, por muitas empresas, ao padrão estabelecido pela Global Reporting
Initiative (GRI).
25

Figura 3 - Normas GRI

Fonte: Cadernos GRI 101 (GLOBAL REPORTING, 2016)

Ao usar a metodologia GRI, não é necessário que as empresas reportem


obrigatoriamente todos os indicadores, devem selecionar os que forem válidos para seus temas
materiais e adicionar aos que são considerados obrigatórios pela GRI.
O primeiro passo a ser dado pela empresa é a opção da forma que o relatório de
sustentabilidade será elaborado. A GRI define dois formatos: Essencial, com o mínimo de
informações necessárias para que seja possível entender a natureza da organização, os tópicos
materiais e impactos causados, além de como eles são geridos; e, Abrangente que traz, além
das informações da forma Essencial, a divulgação de informações adicionais sobre estratégia,
ética, integridade e governança. Devem ser relatados todos os conteúdos específicos para cada
tópico material coberto pela GRI Standards.
As informações constantes nos Relatórios de Sustentabilidade elaborados seguindo
os princípios definidos pela GRI, devem ter como objetivo a sua utilização como ferramentas
de autodiagnóstico, como materialidade, inclusão dos stakeholders, contexto de
26

sustentabilidade, abrangência, equilíbrio, comparabilidade, exatidão, periodicidade, clareza e


confiabilidade.
Nos relatórios também devem ser relatados pelas empresas suas metas e indicadores
para o cumprimento dos ODS.
Seja qual for o padrão utilizado ou mais de um deles, um relatório de
sustentabilidade torna pública a consciência de uma organização em relação aos seus impactos,
seu comportamento sustentável e seus compromissos com o tema ESG para todas as partes
interessadas (GPTW, 2022).

2.3 O Setor Elétrico Brasileiro

Em escala mundial, o setor elétrico está ligado a estratégias de ESG, onde empresas
que almejam melhorar seus indicadores ambientais vão em busca da aplicação eficiente de seus
recursos, além de suprir sua demanda elétrica por meio de fontes renováveis, tendo esse setor
forte potencial de mitigação de suas emissões e com maior potencial para apresentar soluções
(PACTO GLOBAL, 2019).
Adicionalmente, como apresentado por Jannuzzi (1999), a operação desse setor
abrange muitos impactos complexos ao meio ambiente, indo desde questões locais até
problemas de ordem global. Os efeitos prejudiciais da indústria de energia - como a liberação
de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) têm sido o foco de uma variedade de grupos de
partes interessadas, incluindo ambientalistas, acionistas, investidores e reguladores (FLORINI;
SALEEM, 2011).
Para D’Araújo (2009), todas as formas de produção de energia estabelecem algum
tipo de impacto ambiental, em graus diferentes, pois todas advêm de transformação de recursos
naturais em energia elétrica.
O impacto social e ambiental do Setor Elétrico Brasileiro (SEB) é tema de destaque,
ainda que seja um setor reconhecido pela sua baixa emissão por unidade de energia gerada. A
Lei brasileira nº 10.165/2000, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA),
classifica os setores potencialmente poluidores em baixo, médio e alto impacto ambiental e o
SEB é destacado como atividade de médio impacto (BRASIL, 2000).
Um exemplo de impacto está relacionado à operação dos grandes reservatórios das
hidroelétricas que levam a uma série de impactos às comunidades que dependem do uso da
água para navegação ou irrigação da agricultura. Outro bom exemplo está relacionado aos
projetos de grandes linhas de transmissão que transportam a energia gerada em regiões de
27

grande potencial hídrico, como a Região Norte, para as regiões de grande consumo industrial,
como a Sudeste. Projetos como o da linha de transmissão Xingú-Rio – com aproximadamente
2.000 km de extensão, corta os biomas do Cerrado e da Amazônia, chegando a Mata Atlântica
– impactam a vida de várias espécies da flora e da fauna além de diversas comunidades isoladas
(algumas indígenas) que vivem próximas ao seu trajeto (BMTE, 2014).
As reformas institucionais do SEB ao longo dos últimos 25 anos acompanharam o
processo de desregulamentação dos setores elétricos em muitos países, a partir da década de 90,
e transformaram o setor com o desmonte do monopólio estatal que promoveu a descentralização
do setor com a entrada de diversas empresas privadas e estrangeiras. Nesse novo ambiente, a
busca por financiamento privado e participação de empresas listadas nas bolsas internacionais
elevaram a relevância dos processos de governança e controle.
A primeira reforma, em 1996, buscou a desestatização das empresas do setor,
tornando necessária a criação de um órgão regulador e posteriormente, em 1998, de um órgão
operador que fosse o responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de
geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN)
(BRASIL,1998).
A segunda grande mudança se deu com a implantação do Novo Modelo do SEB,
em 2004, notadamente pela modificação nas regras de comercialização de energia, pela criação
dos Ambientes de Contratação Livre (ACL) e Contratação Regulada (ACR) e a criação da
Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) (TOLMASQUIM, 2015).
O SEB passa nesse momento por uma nova onda de reforma institucional
regulatória, ainda acompanhando a tendência global dos mercados de energia elétrica. Essas
mudanças vêm responder à maior participação de fontes renováveis de geração
(prioritariamente eólica e solar), e à descentralização com a participação de consumidores de
pequeno porte no mercado livre e na própria produção de energia. Nesse sentido, desde 2016 o
setor vem introduzindo no seu arcabouço regulatório reformas que visam explicitar os
benefícios ambientais da sua matriz como observado na Lei 14.120 de 2021 (BRASIL, 2021).
Para obter o apoio social e das partes interessadas, as empresas de energia buscam
se envolver em práticas corporativas responsáveis e assumir a responsabilidade por sua energia
produzida e pegada de carbono (SHAHBAZ et al., 2020). Assim, o SEB vem se integrando à
demanda dos mercados por estratégias ESG, tanto no âmbito interno das organizações que
fazem parte da indústria de eletricidade, quanto no âmbito do mercado com a oferta de energia
limpa e emissão de certificados renováveis possíveis de serem comercializados por empresas
com necessidades de compensação das suas emissões.
28

Após a última reestruturação com a entrada do Novo Modelo do Setor Elétrico em


2004, a estrutura de coordenação do setor passou a contar com seguintes instituições:
a) Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) - Fixação das diretrizes da
política energética.
b) Ministério de Minas e Energia Execução da política energética (MME) – Poder
Concedente.
c) Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) - Responsável pelo
acompanhamento e avaliação da continuidade e segurança do suprimento
eletroenergético do território nacional.
d) Empresa de Pesquisa Energética (EPE) - Responsável pelo Planejamento.
e) Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) - Responsável pela regulação,
fiscalização e mediação setorial.
f) Operador Nacional do Sistema (ONS) - Responsável pela operação do Sistema
Interligado Nacional – SIN.
g) Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) - Responsável pelo
gerenciamento dos contratos de compra e venda de energia elétrica e pela
contabilização e liquidação de curto prazo.

Cabe a essas instituições o planejamento, coordenação e operação das atividades


que vão da produção de energia a sua entrega aos consumidores.
Além dessas instituições, existem as empresas de geração, transmissão, distribuição
e comercialização de energia. As empresas que geram energia são aquelas que possuem
concessões e geram energia de fontes de energia diversas e a comercializam no mercado livre,
regulado ou no curto prazo. As empresas transmissoras, são as que transmitem a energia gerada
através de linhas de alta tensão até as redes de distribuição locais, então, essa energia tem sua
tensão diminuída e distribuída para os consumidores pelas empresas distribuidoras de energia
(PRADO, 2006).
29

Figura 4 - Estrutura do Setor Elétrico

Fonte: Elaborado pela autora (2022)

O setor de energia elétrica brasileiro é um dos setores mais avançados em relação


ao reporte de dados socioambientais, principalmente pelo fato de existirem regulamentações
específicas para esse setor, como explicado ainda nessa seção.
No início dos anos 2000, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) passou
a exigir a prestação de contas em relação à sustentabilidade, tornando o setor elétrico brasileiro
um dos pioneiros na adoção de relatórios de sustentabilidade.
Por meio da Resolução Normativa nº 444, em 2001 a ANEEL (2001) instituiu no
Manual de Contabilidade do Serviço Público de Energia Elétrica, além de instruções
econômicas e financeiras, instruções para elaboração e divulgação de informações de
responsabilidade social.
Esse Manual foi alterado em 2006, através do Despacho nº 3034, onde foi instituído
um novo modelo incluindo o item Roteiro para Elaboração e Divulgação de Informações
Contábeis, Econômico-financeiras e Socioambientais e, posteriormente o subitem Manual de
Elaboração do Relatório Anual de Responsabilidade Social (ANEEL, 2006).
30

O Manual de Contabilidade do Setor Elétrico (ANEEL, 2015) determina a


elaboração da Prestação Anual de Contas (PAC), onde devem ser entregues ao órgão regulador
demonstrativos contábeis e sociais, entre estes o Relatório de Responsabilidade Socioambiental
(incluindo o Balanço Social). A indicação sugerida pelo regulador para o modelo dos relatórios
passou a ser G3.1 do GRI além de suas normas setoriais (ANEEL, 2015).

2.4 Teoria Institucional

A aplicação da teoria institucional como base teórica desse estudo se justifica pelo
fato desta teoria analisar organizações sujeitas a processos e ambientes institucionalizados
(SCOTT, 2013). Para Altayar (2018), a principal força da teoria institucional é sua ênfase na
análise multinível, podendo lançar luz sobre a importância das questões sociais,
organizacionais, institucionais e ambientais para aprimorar nossos conhecimentos e
compreensão de processos de mudança.
A teoria institucional considera as instituições como "estruturas sociais
multifacetadas e duradoras, compostas de elementos simbólicos, atividades sociais e recursos
materiais" (SCOTT, 2013). Nesse sentido, o autor ainda indica que as organizações sejam
afetadas por tais componentes institucionais, uma vez que possuem conexões diretas e vínculos
com o ambiente composto por essas estruturas sociais citadas.
Os primeiros trabalhos da teoria institucional puseram foco em como organizações
reguladas se engajaram em processos de mudança por meio de processos e obrigações
(MEYER; ROWAN, 1977) e pressões institucionais (DIMAGGIO, 1988; SCOTT, 2013). Esses
autores apresentam que, em vez de motivadas pela eficiência, as decisões organizacionais são
motivadas pela legitimidade observada a partir da adoção de elementos institucionais inerentes
ao seu ambiente.
Meyer e Rowan (1977) apresentam a institucionalização como o modelo pelo qual
os processos, obrigações e realidade sociais ganham status de regras no pensamento e nas ações
sociais. Para esses autores as organizações são orientadas a incorporar práticas e procedimentos
definidos por conceitos racionalizados e institucionalizados pela sociedade (MEYER;
ROWAN, 1977). Esses conceitos funcionam como mitos adotados de forma cerimoniosa pelas
organizações impactando a eficiência ou o controle sobre sistemas técnicos.
Ao estender o trabalho de Meyer e Rowan, DiMaggio e Powell (1991) identificaram
três tipos de pressões institucionais com impacto sobre organizações e instituições: a pressão
coercitiva, pressão mimética e pressão normativa. A pressão coercitiva se apresenta por meio
31

de manifestações formais exercidas por organizações interdependentes, que resultam em leis e


no arcabouço jurídico regulatório que restringe ou cria obrigações. Pressões normativas são
impostas por rotinas, normas, crenças e valores difundidos à medida que as organizações
buscam reconhecimento (legitimidades) por meio de acreditações e valorização social. A
pressão mimética leva as organizações a mudar ao longo do tempo para moldar suas estratégias
e processos em padrões semelhantes aos de organizações vistas como mais bem sucedidas e
reconhecidas. Nesse contexto, as organizações buscam reduzir incertezas à medida que as
práticas difundidas são adotadas por padrão (ALTAYAR, 2018).
Para os autores, os três tipos de pressões são mecanismos promotores do
isomorfismo, conceito relativo à tendência das organizações se tornarem homogêneas em
consequência da maneira pela qual interagem e são reconhecidas dentro de seu ambiente. O
isomorfismo institucional considera que as organizações não competem somente por recursos
e clientes, mas por legitimação, poder político, adequação social e econômica. Assim, essa
perspectiva constitui uma base útil para a compreensão da política e do cerimonial que
permeiam parte considerável da vida organizacional moderna (DIMAGGIO; POWELL, 1983).
Com base na visão do isomorfismo, Jepperson (1991, p. 144) indica que uma “[...]
instituição representa uma ordem ou padrão social que atingiu certo estado ou propriedade. A
institucionalização denota o processo de tal obtenção [...]”. Para atingir tal ordem ou padrão as
instituições devem possuir propriedades estabilizadoras e criadoras de significado para os atores
envolvidos. Tais propriedades são elementos centrais para a orientação do comportamento e a
contínua adaptação das estruturas institucionais.
Scott (2013) identifica três pilares como elemento-chave para orientação do
comportamento e manutenção da estabilidade das instituições: O pilar regulatório ressalta a
importância de processos regulatórios, definição de regras, monitoramento e sanção de
atividades sobre como as instituições funcionam; O pilar normativo enfatiza a obrigação social
e as regras normativas para a adoção de novas estruturas. O terceiro pilar é o cultural-cognitivo,
que se concentra no papel dos elementos cultural-cognitivos das instituições e nos valores
compartilhados que representam a natureza da realidade social e como os significados são
construídos e criados (SCOTT, 2013).
Na literatura em geral, reconhece-se que há substancial interseção teórica entre os
pilares normativo e cultural-cognitivo (GAUR; DELIOS; SINGH, 2007; GAUR; LU, 2007;
PENG, 2009). Scott (2001) reconheceu que a fronteira entre os pilares normativo e cognitivo
não é completamente clara. Não obstante, o primeiro refletiria como os valores, crenças e
32

atitudes de terceiros podem influenciar o comportamento da firma em questão; o segundo


corresponderia ao impacto dos valores e crenças da própria firma (PENG, 2009).
Segundo Tolbert e Zucker (1999), os elementos se tornam institucionalizados
quando passam a ser entendidos por um grupo interdependente como apropriados e necessários
componentes da eficiência. Assim, o ambiente institucional delimita o campo onde as
organizações compartilham um mesmo significado para os elementos regulatório, normativo e
cognitivo-social e passam a legitimar as organizações mais representativas dessa percepção.
Para DiMaggio e Powell (1983) esse processo cria tendência ao isomorfismo
estrutural, estabelecendo padrões de coalizão interorganizacionais pelos quais as organizações
ganham legitimidade, ou o reconhecimento mútuo de que estão envolvidas em um
empreendimento comum.
A Figura 5 abaixo resume a abrangência da teoria institucional identificando a
relação entre pilares institucionais e requisitos de institucionalização.

Quadro 1 - Relação entre pilares institucionais e requisitos de institucionalização


Regulativo Normativo Cultural-cognitivo
Obrigação Considerado como certo
Base de Conformidade Conveniência
Social Entendimento compartilhado
Regras Expectativas
Base de Ordem Esquema Constitutivo
Regulatórias forcadas
Mecanismos Coercitivo Normativo Mimético
Lógica Instrumental Adequação Ortodoxa
Regras, leis e Certificação e Crenças comuns, Lógicas
Indicadores
sanções aceitação compartilhadas de ação
Culpado ou Vergonha ou
Afeto/Impacto Certeza/Confusão
Inocente Honra
Legalmente Moralmente Compreensível, Reconhecível,
Base de Legitimidade
Sancionado Governado Culturalmente Sustentado
Fonte: Scott (2008).

2.5 Campo Organizacional

As organizações recebem influências internas e externas para inovar e implementar


soluções, que podem estar ligadas a recursos humanos, financeiros, questões políticas, sociais
ou econômicas, ou seja, a todo um ecossistema em que a organização está inserida. Essas
influências ou pressões podem facilitar ou dificultar o desenvolvimento de inovações nas
organizações, tanto no contexto individual quanto organizacional (OLIVEIRA, 1997).
O campo organizacional tem destaque na literatura sobre teoria institucional. O
conceito surge como “unidade fundamental na associação dos níveis organizacional e societário
33

no estudo da mudança social e da comunidade” (DIMAGGIO, 1986, p. 337), mas ao longo do


tempo surgiram diversos estudos com o intuito de aperfeiçoar e operacionalizar esse conceito.
O reconhecimento da multiplicidade de abordagens sobre o tema, levou Machado-
da-Silva, Guarido Filho e Rossini (2010), em trabalho que trata da dinâmica do campo
organizacional, a estruturar uma classificação de seis perspectivas teóricas sobre campos
organizacionais.

Figura 5 - Perspectivas Teóricas sobre Campos Organizacionais

Fonte: Machado-da-Silva, Guarido Filho e Rossoni (2010, p. 113).

DiMaggio e Powell (1983, p. 148) definem campo organizacional como “[...]


aquelas organizações que, em conjunto, constituem uma área reconhecida da vida institucional:
fornecedores-chaves, consumidores de recursos e produtos, agências reguladoras e outras
organizações que produzem serviços ou produtos similares [...]”. Nesse sentido, o campo
organizacional ganha destaque como unidade fundamental para estudar padrões de mudança de
comportamento organizacional, possibilitando trabalhar a complexa inter-relação entre os
ambientes de recursos materiais, competitivo e institucional, de modo mais adequado do que
modelos populacionais precedentes (DIMAGGIO; POWELL, 1983; SCOTT, 2004).
34

Considerando a teoria institucional, onde as instituições estruturam o ambiente no


qual as organizações se inserem (MEYER; ROWAN, 1977), o campo organizacional serve
como um nível de análise para investigar os efeitos de uma instituição.
Na ótica do isomorfismo estrutural, campos organizacionais representam a
totalidade dos atores relevantes, ou seja, “[...] uma comunidade de organizações que
compartilham sistemas de significados comuns e cujos participantes interagem mais
frequentemente e decisivamente entre eles do que com atores de fora do campo [...]” (SCOTT,
1994, p. 207-208).
Os estudos e definições de campos organizacionais trazem em comum a
identificação das organizações, coletivas e individuais que interagem umas com as outras para
produzir algum resultado, que pode ser homogeneidade em suas ações ou o desenvolvimento
de um entendimento compartilhado. Assim, o presente trabalho parte da teoria institucional e
da formação das características do campo organizacional para mapear como essas
características influenciam a adoção de práticas ESG pelas empresas do setor elétrico no Brasil.
Em tema relacionado às práticas organizacionais voltadas para intervenções sociais,
o trabalho de Matten e Moon (2008) aplica para essa a teoria institucional com uma abordagem
comparativa por enquadrar a num contexto mais amplo, permitindo a exploração e comparação
de contextos culturais e institucionais na Europa para criar um framework conceitual das
práticas de responsabilidade social corporativa (RSC).
Diversos estudos propõem a teoria institucional como base para análise das escolhas
de organizações. Rocha e Ávila (2015) analisam fatores relacionados aos três pilares do
ambiente institucional para o entendimento das escolhas de modo de entrada em países
emergentes de empresas multinacionais. Os autores identificam fatores para cada um dos pilares
do ambiente institucional com influência para a tomada de decisão de investimento o que,
refletido no conceito de campo organizacional, configura as características de um campo que
impactam na tomada de decisão dos atores que compõe esse campo.
35

3 METODOLOGIA

Nesse trabalho, a metodologia de identificação de fatores do ambiente institucional


proposta por Rocha e Ávila (2015) será adaptada para identificar as características do campo
organizacional que influenciam as práticas de ESG adotadas pelas empresas do setor elétrico
brasileiro.
O presente estudo qualifica-se, quanto a seus objetivos, como uma pesquisa
descritiva e exploratória. Descritiva por se propor a descrever as informações disponibilizadas
nos Balanços Sociais e Relatórios de Sustentabilidade de forma comparativa entre as
companhias do setor elétrico que atuam no Brasil. Exploratória, por se tratar de uma análise de
indicadores socioambientais dessas companhias.
Para validação dos pontos levantados na análise documental e pesquisa
bibliográfica foi realizada pesquisa empírica, também chamada de pesquisa de campo. Esse tipo
de pesquisa é normalmente utilizado quando é necessária a comprovação prática de alguma
questão levantada, especialmente por meio de experimentos ou observação de determinado
contexto para coleta de dados em campo. Desta forma, a pesquisa empírica serve para
comprovar no plano da experiência o que foi apresentado conceitualmente.
A pesquisa se limita às empresas do setor de energia elétrica atuantes no Brasil, dos
segmentos de Geração, Distribuição e Transmissão de energia. No que tange às fontes de coleta
dos dados, é considerada secundária e os dados extraídos dos Relatórios de Sustentabilidade
das companhias, disponíveis no website de cada uma delas.

3.1 Análise documental

Para compor a amostra de análise documental, inicialmente foi realizada pesquisa


no site da Bolsa do Brasil (B3) em “empresas listadas”, selecionando o setor “utilidade pública”.
O resultado da busca apresentou 61 empresas classificadas no segmento de “Energia Elétrica”.
Foi realizada primeira análise em que foram descartadas 26 empresas por serem de propriedade
de grupos econômicos também listados e por isso possuírem o mesmo relatório de
sustentabilidade. Com a lista das 35 empresas restantes, foi realizada análise do seu principal
negócio, descartando as que não tinham como foco a geração, transmissão e distribuição de
energia.
Posteriormente, foi avaliada a relevância das empresas remanescentes no setor
elétrico brasileiro, considerando a quantidade de subsidiárias e participação no mercado de
36

energia. A empresa ENEL, que não é listada na B3, mas estava representada por algumas de
suas subsidiárias foi incluída na análise, principalmente pela sua abrangência de atuação no
segmento de distribuição de energia, onde possui concessão nas áreas de maior concentração
demográfica do país. A State Grid, também não listada a B3, foi incluída por ser uma empresa
chinesa, com forte participação no mercado brasileiro e que tem uma governança baseada em
modelo estatal e de forte intervenção.
Como resultado, chegou-se à lista de 15 companhias para análise dos Relatórios de
Sustentabilidade referente ao ano de 2021 (Quadro 2).

Quadro 2 - Empresas selecionadas para análise dos Relatórios de Sustentabilidade


Segmento/Categoria Empresa
Geração AES Brasil Energia S.A.
Geração/Distribuição/
Transmissão CEMIG
Geração/Transmissão CPFL Energia S.A.
Geração/Distribuição/
Transmissão EDP Brasil
Geração/Distribuição/
Transmissão Eletrobras Centrais Elétricas Brasileiras S.A.
Geração/Distribuição/
Transmissão Enel Brasil
Geração/Distribuição/
Transmissão Energisa S.A.
Geração Eneva S.A
Geração/Transmissão Engie Brasil Energia S.A.
Transmissão ISA Cteep
Distribuição Light S.A.
Distribuição/Geração Neoenergia S.A.
Geração Rio Paranapanema Energia S.A. (CTG Brasil)
Transmissão Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A.
Transmissão State Grid Brazil Holding
Fonte: Elabora pela autora (2022)

Adicionalmente, foi realizada análise do setor elétrico com base em levantamento


documental para identificação de fatos relevantes e pesquisa de investigação explicativa e
bibliográfica para identificar os fatores que influenciam a adoção de práticas ESG nessas
empresas.
Foram analisados os dados dos relatórios de sustentabilidade, referentes ao ano de
2021, das empresas indicadas no Quadro 1. Foram identificados os pontos em comum e
divergentes na demonstração das ações e temas materiais e ODS priorizados (Gráfico 1).
37

Considerando que todos os relatórios tinham em comum o relato com base nas
Normas GRI, a análise foi realizada considerando apenas os indicadores GRI.

3.2 Entrevista de campo

Com o objetivo de avaliar a percepção dos entrevistados na validação ou não das


premissas levantadas na análise documental, foi utilizada a metodologia exploratória por meio
de pesquisa qualitativa.
Com base no referencial teórico e análise dos relatórios, as perguntas elaboradas
(APÊNDICE A) procuraram captar a percepção dos entrevistados em relação ao tema e,
principalmente, entender o quanto o campo organizacional influencia na adoção das práticas
ESG nas empresas que esses profissionais atuam e no setor elétrico brasileiro.
Incialmente, foram realizadas 8 entrevistas com profissionais com cargo de gestão,
atuantes em ESG em empresas com sede em outros países (Quadro 5). Essa seleção ocorreu
pela ideia de que essas empresas trariam influências de seus países de origem que pressionariam
a adoção de práticas ESG no Brasil.
Porém, percebeu-se que os resultados dessas entrevistas estavam muito
convergentes e os próprios entrevistados, mesmo que não de forma explicita, indicavam que as
necessidades brasileiras eram diferentes de outros países, conforme será detalhado adiante na
seção de análise. Uma das entrevistas foi relevante nessa percepção, ao surgirem novas questões
que notadamente eram dissonantes das levantadas até o momento, principalmente por ser uma
empresa de capital fechado e de origem chinesa com um ambiente institucional diferenciado,
indicando que empresas com origens em ambientes institucionais distintos poderiam ter
percepções diferentes.
Identificada a necessidade de obter a visão de profissionais de empresas atuantes
apenas no Brasil, foram incluídas 4 empresas, também constantes no Quadro 5, sendo estas
Eletrobras, que é a maior empresa do setor elétrico atuante no país, Cemig, atuante em geração,
transmissão e distribuição de energia, a Light, atuante em distribuição de energia e a TAESA
que atua na área de transmissão de energia.
Essa expansão nas entrevistas, considerando novos atores do campo organizacional,
auxiliou na identificação de pontos relevantes que podem influenciar na adoção de práticas ESG
no setor elétrico brasileiro.
As entrevistas foram realizadas de forma virtual, pelo aplicativo Teams, gravadas e
transcritas posteriormente.
38

Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, que de acordo com May (2004)


trazem como diferença central “o seu caráter aberto”, ou seja, o entrevistado responde às
perguntas dentro de sua concepção, mas, não se trata de deixá-lo falar livremente. Na condução
das entrevistas foi utilizado um roteiro previamente preparado, com perguntas definidas, mas
com questões direcionadas, considerando os dados analisados nos relatórios das empresas. Esse
formato de entrevistas semiestruturadas e sequencial, com respostas em aberto, permitiu
identificar os tipos de resposta e repetições, que auxiliaram na estruturação e categorização para
análise.
As entrevistas foram realizadas isoladamente e os participantes não conheciam as
respostas dos outros. A elaboração do roteiro utilizado para condução das entrevistas decorreu
de um levantamento bibliográfico sobre o tema e da análise dos Relatórios de Sustentabilidade
das companhias, que indicaram quais questões deveriam ser investigadas.
Os relatórios indicavam padrões de priorização dos temas materiais que levavam
ao questionamento da existência de isomorfismo do campo. Deste modo, as perguntas buscaram
entender a percepção dos entrevistados para os fatores que levavam a essa priorização das
práticas ESG, bem como da existência de pressões coercitivas por parte das instituições que
compõe o campo.
Além disso, também buscou-se avaliar o processo de construção dessa
materialidade para identificar se existiam pressões normativas e cognitivo culturais que a
influenciavam.
Nas entrevistas foram exploradas questões com o objetivo de identificar quais as
principais influências do campo organizacional do setor na adoção de práticas ESG e sua
aderência a realidade do país. Adicionalmente, avaliar os fatores e atores que impactaram no
desenvolvimento das ações de ESG pelas empresas do setor elétrico brasileiro à luz da teoria
institucional, que para Zucker (1987) fornece uma visão rica e complexa das organizações.

3.3 Análise das entrevistas

Existem muitas técnicas de análise de informações obtidas em entrevistas sob a


perspectiva da pesquisa qualitativa, dentre elas, a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin
(2011) que foi utilizada nesse trabalho. Para essa autora, a Análise de Conteúdo pretende
analisar o que foi dito em meio a uma investigação, construindo e apresentando concepções em
torno de um objeto de estudo. A análise do material coletado segue um processo rigoroso frente
39

às fases definidas pela autora como: Pré-análise; Exploração do material e Tratamento dos
resultados.
Na pré-análise o pesquisador começa a organizar o material para que se torne útil à
pesquisa. Nesta fase, devem ser sistematizadas as ideias preliminares em quatro etapas, que são:
a leitura flutuante; escolha dos documentos; reformulações de objetivos e hipóteses e a
formulação de indicadores, as quais nos darão fim à preparação do material como um todo
(BARDIN, 2011).
Em seguida, vem a exploração do material. A finalidade dessa fase é a
categorização ou codificação no estudo. A definição das categorias é classificada, e são
apontados os elementos constitutivos de uma analogia significativa na pesquisa, isto é, das
categorias. Essa análise consiste no desmembramento e posterior agrupamento ou
reagrupamento das unidades de registro do texto. Assim, a repetição de palavras e termos pode
ser a estratégia adotada no processo de codificação para serem criadas as unidades de registro
e, posteriormente, categorias de análise iniciais (BARDIN, 2011).
Na terceira fase são tratados os resultados, a inferência e interpretação. Nesse
momento será realizada a análise reflexiva e crítica.
A classificação do conteúdo obtido nas entrevistas foi feita com base no trabalho
de Bardin (2011). Desta forma, foram definidas as categorias para disponibilização dos
achados, obtidos nas entrevistas, com base nas 6 perguntas elaboradas após estudo do
referencial teórico e análise documental.
40

4 ANÁLISE DOCUMENTAL: Relatórios de Sustentabilidade

A fim de reunir as informações necessárias para análise, foram acessados os sites


institucionais, balanço social e, prioritariamente, os relatórios de sustentabilidade das empresas
selecionadas disponíveis. Desta forma, foram extraídos os dados, que somados ao conteúdo dos
websites, tornaram possível um primeiro entendimento e identificação das informações
relevantes para qualificação das empresas analisadas bom como das suas principais diretrizes
das estratégias de sustentabilidade.

4.1 Informações sobre as empresas selecionadas

Com essa descrição, foi possível entender o tempo de fundação, a origem das
empresas, porte no setor, extensão de seus empreendimentos no país e principais áreas de
atuação no setor elétrico. A seguir essas principais informações são apresentadas para todas as
empresas analisadas.

AES Brasil
Criada em 1999 ao adquirir a Companhia de Geração de Energia Elétrica Tietê e
surgir a AES Tietê, pertence ao grupo norte americano AES Corporation (AES Corp) presente
em 14 países.
É uma empresa de geração de energia elétrica 100% renovável, tendo alcançado em
2021 uma capacidade instalada operacional e em construção de 4,7 GW de energia. Seu parque
gerador em operação e em desenvolvimento é formado por 9 usinas hidrelétricas, 3 pequenas
centrais hidrelétricas, 6 complexos eólicos e 2 complexos solares (AES BRASIL, 2021).
Desde os anos 2000, a empresa possui ações listadas e em 2021 passou a fazer parte
do Novo Mercado, a mais alta classificação da B3.
CEMIG
Presente no setor desde 1952, atua nas áreas de geração, transmissão, distribuição
e comercialização de energia elétrica e ainda na distribuição de gás natural.
Com participações em 83 empreendimentos de geração em operação em 10 estados,
sendo 44 empreendimentos próprios, com 100% de participação acionária. São 76 usinas
hidrelétricas, 6 parques eólicos e 1 usina fotovoltaica, que totalizam 5.78 GW, além de operar
uma rede de transmissão de mais 9.000 km e atuar em distribuição e comercialização de energia
(CEMIG, 2021).
41

CPFL Energia
Criada em 1912, a CPFL Energia atua nas áreas de distribuição, geração,
transmissão, comercialização de energia elétrica e serviços, com atuação em todas as regiões
do país.
A CPFL é a segunda maior distribuidora em volume de energia vendida, com 14%
de participação no mercado nacional e está entre as maiores geradoras privadas do país, com
4.385 MW de capacidade instalada, com atuação em fontes hidrelétrica, solar, eólica e biomassa
(CPFL ENERGIA, 2022).
Em 2017 a State Grid Corporation of China (SGCC) passou a controla a CPFL
Energia por meio de suas subsidiárias State Grid International Development Co., Ltd, State
Grid International Development Limited (SGID), International Grid Holdings Limited, State
Grid Brazil Power Participações S.A. (SGBP) e ESC Energia S.A.
Desde 2002, a empresa possui ações listadas e atualmente faz parte do Novo
Mercado, a mais alta classificação da B3.
EDP Energias do Brasil S.A
Presente no Brasil desde 1996, é controlada pela EDP Energias de Portugal, maior
grupo industrial português e uma das maiores operadoras europeias do setor elétrico, com
atuação em 20 países. Atua nas áreas de geração, transmissão, distribuição e comercialização
de energia e soluções. Com exceção dos projetos de geração distribuída, tem ativos distribuídos
em 13 estados brasileiros e na comercialização e soluções em Energia, atuam em todo o
território nacional (EDP ENERGIAS, 2021).
Em 2005 a empresa abriu o capital mediante oferta pública de ações no Novo
Mercado e em 2013 as ações da companhia passaram a integrar o Índice Bovespa. A empresa
figura entre as primeiras posições no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa
desde que a empresa passou a fazer parte do indicador.
Eletrobras
Criada em 1954, é a maior empresa de geração de energia elétrica brasileira, com
capacidade geradora equivalente a 23% do total da capacidade instalada do país e líder em
transmissão de energia elétrica no Brasil, com 40% do total das linhas de transmissão do
Sistema Interligado Nacional em sua rede básica (EDP ENERGIAS, 2021).
Em junho de 2022, foi realizada a capitalização da Eletrobras, quando as ações da
companhia começaram a ser negociadas na B3.
42

Enel Brasil
É uma sociedade anônima de capital fechado controlada pela Enel Américas, que
faz parte do Grupo ENEL originado da Itália e presente em mais 30 países. É a maior empresa
do setor elétrico privado brasileiro, atua nas áreas de geração, transmissão, distribuição e
comercialização de energia (ENEL BRASIL, 2021).
Possui participações em quatro distribuidoras de energia (Enel Distribuição Rio,
Enel Distribuição Ceará, Enel Distribuição Goiás e Enel Distribuição São Paulo), geradoras
(Enel Green Power Cachoeira Dourada, Enel Green Power Volta Grande, ENEL Green Power
Uruguay e Outras sociedades EGP), três transmissoras (Enel Cien, CTM e TESA). As
distribuidoras do grupo são empresas de capital aberto listadas na B3 (ENEL BRASIL, 2021).
Energisa S.A.
No setor desde 1905, a companhia controla distribuidoras em onze estados. A
Energisa atua nas áreas de geração, transmissão e distribuição, controlando distribuidoras em
onze estados e com 11 concessionárias de transmissão, serviços especializados de call center
(Multi Energisa) e a fintech Voltz, que oferece contas digitais. Adicionalmente, tem uma marca
com foco em negócios não regulados ligados às atividades de geração distribuída por fonte
renovável, comercialização de energia no mercado livre e serviços de valor agregado
(ENERGISA, 2021).
Em 2016, passou a ser uma empresa de capital aberto, aderindo ao Nível 2 de
Governança da Bolsa de Valores do Brasil (B3).
Eneva S.A
Fundada em 2001, é a maior operadora privada de gás natural do Brasil, atua da
exploração e produção (E&P) do gás natural até o fornecimento de soluções em energia. Atua
nos setores de geração, exploração e produção de petróleo e gás natural e comercialização de
energia elétrica (ENEVA, 2021).
Detém um parque de geração termelétrica com 6,5 GW de capacidade instalada e,
em relação a renováveis, conta com dois ativos operacionais e um pipeline de geração
centralizada e distribuída.
A empresa está listada no Novo Mercado da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) desde 2007.
ENGIE Brasil Energia S.A.
Com mais de 20 anos no Brasil, é líder no mercado do país em energia renovável,
atua em geração, comercialização e transmissão de energia elétrica, transporte de gás e soluções
energéticas. Com capacidade instalada própria de cerca de 10 GW em 68 usinas, o que
representa cerca de 6% da capacidade nacional, a empresa possui 100% de sua capacidade
43

instalada proveniente de fontes renováveis e com baixas emissões de Gases de Efeito Estufa
(GEE), como usinas hidrelétricas, eólicas, solares e a biomassa (ENGIE, 2021).
A empresa está listada no Novo Mercado da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) desde 2005.
ISA CTEEP
Criada em 1999, a empresa faz parte do grupo colombiano ISA que, além do Brasil,
atua nos seguintes países: Colômbia, Peru, Chile, Bolívia, Argentina, além de na América
Central.
No Brasil totaliza 16 empreendimentos e está presente em 17 estados, operando
uma complexa rede de transmissão por onde trafegam 30% de toda a energia elétrica transmitida
no Brasil e 92% no Estado de São Paulo. Seu sistema elétrico é composto por mais de 21 mil
km de redes de linhas de transmissão e 139 subestações (ativos em operação e em construção)
com tensão de até 550 kV (ISA CTEEP, 2022).
Adicionalmente, a empresa possui ações listadas na B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) e
integra, desde 2002, o Nível 1 de Governança Corporativa, sendo a primeira empresa do setor
energia a alcançar esse nível.
Light S.A.
Empresa com mais de 100 anos de existência, atua nos segmentos de geração,
transmissão, distribuição e comercialização de energia. Está localizada no Estado do Rio de
Janeiro. A área de concessão da Light SESA abrange 31 dos 92 municípios do estado, incluindo
toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, estado com o segundo maior
O Grupo Light é constituído pela holding, Light S.A., por suas controladas diretas
– Light Serviços de Eletricidade S.A. (distribuição de energia), Light Energia S.A. (geração de
energia), LightCom Comercializadora de Energia S.A. (comercialização de energia), Light
Conecta Ltda (geração de energia e serviços), Light Soluções em Eletricidade Ltda. (serviços)
e Instituto Light (institucional) – e por controladas em conjunto: Amazônia Energia
Participações S.A. (para participação no projeto da UHE Belo Monte) e Axxiom Soluções
Tecnológicas S.A. (serviços de TI). (LIGHT, 2021).
A empresa está listada no Novo Mercado da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) desde 2012.
NEOENERGIA.
Fundada em 1997, é uma empresa do grupo espanhol Iberdrola atuante em 18
estados brasileiros além do Distrito Federal. Com mais de 40 empresas controladas é uma das
maiores empresas integradas do setor de energia elétrica latino-americano.
44

Apresenta sua participação no mercado em três grandes grupos: (i) Redes –


distribuição e transmissão; (ii) Renováveis – geração eólica, hidrelétrica e Solar e (iii)
Liberalizado – geração térmica e comercialização de energia (NEOENERGIA, 2021).
A empresa está listada no Novo Mercado da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) desde 2019.
CTG Brasil
No Brasil desde 2013 é uma empresa do grupo China Three Gorges Corporation
que é um grupo de energia limpa focado no desenvolvimento e operação de hidrelétricas de
grande porte. A CTG também atua em negócios de energia renovável, incluindo energia eólica
e solar. Com controle ou participação acionária em 22 empreendimentos no Brasil, distribuídos
em usinas hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas e usinas eólicas, atualmente é a segunda
maior geradora de energia do País, com capital privado.
Em 2022 a empresa está estudando a sua abertura de capital de 1 bilhão no Brasil
(SCARAMUZZO, 2022).
TAESA
Fundada em 2000, a empresa dedica-se exclusivamente à construção, operação e
manutenção de ativos de transmissão que conduzem energia de alta tensão por longas distâncias
no país.
Sediada no centro da cidade do Rio de Janeiro, possui unidades em operação e em
construção nas cinco regiões brasileiras, distribuídas em 18 estados e no Distrito Federal.
Destas, 11.685 km de linhas estão em operação e 2.329 km em construção, totalizando 14.014
km de extensão e 100 subestações (TAESA, 2021).
A TAESA é uma sociedade anônima de capital aberto, com ações listadas na B3
(Brasil, Bolsa e Balcão) e integra, desde 2006, o Nível 2 de Governança Corporativa.
SGBH - State Grid Brazil Holding
Empresa de capital fechado, de origem chinesa pertencente ao grupo State Grid
Corporation of China, no Brasil desde 2010, atua no setor de transmissão de energia. Com 24
concessionárias, tem 16.142,34 km de linhas em operação.
Em 2017, assumiu o controle acionário da CPFL Energia e passou a ter também
atuação nos segmentos de geração, distribuição, comercialização e prestação de serviços em
energia elétrica.
45

4.2 Resultado da análise dos Relatórios de Sustentabilidade

Com o entendimento das empresas descrito no item anterior, foi elaborada uma
matriz principal para análise dos 15 relatórios. Nessa matriz constavam os dados gerais das
empresas, além de dados referentes a estrutura para elaboração dos relatórios: (i) razão social;
(ii) segmento de atuação no setor elétrico; (iii) país da matriz; (iv) classificação na B3; (v)
validação de auditores independentes; (vi) ano da primeira publicação de relatório de
sustentabilidade; e (vii) indicadores utilizados para elaboração do relatório.
Além disso, foi criado um framework padrão onde foram incluídos os dados obtidos
nos relatórios para cada uma das empresas como: (i) opção GRI; (ii) ano de criação ou validação
da matriz de materialidade; (iii) temas priorizados; (iv) associação aos temas ao conteúdo GRI;
e (v) ODS priorizados.
Os relatórios de sustentabilidade analisados mostraram diversos elementos comuns
como, por exemplo, o fato de todos usarem indicadores GRI como base para mensuração de
seus resultados, o que foi analisado, com base na teoria, como sendo um movimento mundial.
Destacam-se as empresas AES Brasil, EDP Brasil, Enel Brasil, Eneva S.A. Engie Brasil e
Neoenergia que integram além dos indicadores GRI o SASB.
Em todas as publicações as empresas se utilizam da 1Materialidade para indicar a
priorização de temas que são destacados no relatório de sustentabilidade, além disso, são
indicadas as partes interessadas envolvidas em sua construção. A Materialidade e Inclusão de
Stakeholders (partes interessadas) são dois dos dez princípios destacados pelo GRI como
importantes para a construção de um bom relatório de sustentabilidade, os outros oito princípios
são: Contexto da sustentabilidade; Completude; Equilíbrio; Comparabilidade; Exatidão;
Tempestividade; Clareza; e Confiabilidade.
Apesar da orientação qualitativa deste estudo, para uma apresentação do perfil das
respostas, que considerou o universo das empresas no setor, mas não pretendeu avançar em
considerações de natureza estatística, são descritos a seguir os principais achados. A seção
subsequente procede à análise das respostas segundo uma abordagem qualitativa.
Apenas a empresa Light S.A. optou pela opção GRI Abrangente, essa opção agrega
informações mais detalhadas, adicionando ao relato dados sobre tópicos como estratégia,

1
Em relatórios de sustentabilidade, a materialidade é o princípio que determina quais tópicos relevantes são
suficientemente importantes para que seu relato seja essencial. Nem todos os tópicos materiais têm a mesma
importância e a ênfase do relatório deve refletir sua prioridade relativa. (GLOBAL REPORTING, 2016).
46

governança, ética e integridade. Todas as outras empresas indicaram a opção Essencial, que é
a opção que traz os dados mínimos para os relatos.
A maioria das empresas (Quadro 3) contou com a validação de auditores
independentes no conteúdo publicado, buscando aumentar a credibilidade de seus relatórios.
Essa verificação externa não é obrigatória nos padrões GRI, mas é uma recomendação indicada
em sua Norma 102-56 e vista com bons olhos pelo mercado, principalmente por investidores.

Quadro 3 – Validação de auditores independes


Validação Auditores
Empresa independentes
AES Brasil Energia S.A. KPMG
Cemig BVQI
CPFL Energia S.A. RINA
EDP Brasil KPMG
Eletrobras PWC
Enel Brasil KPMG
Energisa S.A. (-)
Eneva S.A. BVQI
Engie Brasil Energia S.A. BVQI
ISA Cteep PWC
Light S.A. EY
Neoenergia S.A. KPMG
Rio Paranapanema Energia S.A. (CTG Brasil) (-)
Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. (TAESA) (-)
State Grid Brazil Holding (-)
Fonte: Elaborado pela autora (2022)

Foi possível observar diferenças que podem ter relação com a maturidade do tema
Sustentabilidade na empresa (Quadro 4). Dessas diferenças, as principais identificadas são: o
relacionamento dos temas materiais aos indicadores GRI; organização das ações empreendidas
no ano de forma clara e direta; e a associação das informações de interesse aos diversos
stakeholders. Apenas três empresas fizeram a associação dos temas prioritários com os públicos
de relacionamento (GRI 102-44).

Quadro 4 - Ano que iniciou a publicação de Relatório de Sustentabilidade


Ano que iniciou a publicação de
Empresa relatório de sustentabilidade
AES Brasil Energia S.A. 2015
CEMIG 2006
CPFL Energia S.A. 2017
EDP Brasil 2010
Eletrobras 2018
47

Enel Brasil 2006


Energisa S.A. 2016
Eneva S.A. 2019
Engie Brasil Energia S.A. 2013
ISA Cteep 2011
Light S.A. 2012
Neoenergia S.A. 2011
Rio Paranapanema Energia S.A. (CTG
Brasil) 2017
Taesa Transmissora Aliança de Energia
Elétrica S.A. 2015
State Grid Brazil Holding 2021
Fonte: Elaborado pela autora (2022)

Em relação aos ODS citados como priorizados, no Gráfico 1 observa-se que


quatorze empresas (quase a totalidade) indicaram os ODS 7 e 13, relacionados respectivamente
a criação de Energia Limpa e acessível e Ações com a Mudança Global do Clima, como
prioritários. Por fim, onze empresas indicaram o ODS 9, relacionado à Industria, Inovação e
Infraestrutura. Os quatorze ODS restantes foram citados, porém com menor incidência. Essa
análise de priorização é relevante, pois como visto anteriormente, as empresas têm papel
fundamental para que sejam atingidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, nessa
indicação sinalizam em quais deles pretendem realizar ações e, principalmente, alocar recursos.

Gráfico 1 - ODS priorizados pelas empresas analisadas

Fonte: Elaborado pela autora (2022)


48

Gráfico 2 - Temas priorizados pelas empresas analisadas

Fonte: Elaborado pela autora (2022)

Foram levantados 192 temas priorizados pelas empresas. Considerando os pilares


ESG esses temas foram distribuídos em cada um dos pilares (Gráfico 2), trazendo a constatação
que a maioria dos temas diz respeito à Governança e Negócios e o pilar Ambiental tem o menor
número de temas associados. Destaca-se que algumas empresas já trazem os temas priorizados
associados aos pilares ESG em seus relatórios, que foram mantidos na distribuição para
elaboração do gráfico.
Com o objetivo de embasar a seleção dos temas priorizados, sete empresas associam
o número da norma GRI a cada um dos temas materiais. Deste modo, as empresas possibilitam
a análise de quais os fatores ligados ao conceito ESG são priorizados nas suas ações estratégicas
(Gráfico 3). Cinco empresas indicam o conteúdo da norma GRI associado aos temas materiais,
permitindo maior clareza para os critérios de priorização dos temas (Gráfico 4).
Das 37 Normas GRI distribuídas nas séries 100, 200, 300 e 400, 35 foram
associadas aos temas e priorizadas em 7 relatórios. Essa associação e priorização de indicadores
foi percebida nos relatórios de empresas que declaram sustentabilidade há mais tempo e, dessa
forma, parecem ter processos mais estabelecidos em relação ao tema.
Das duas normas não citadas, uma é a GRI 101 Fundamentos (Foundation) 2016,
que não é citada por ser a norma que estabelece os princípios de relato para definição do
conteúdo e da qualidade do relatório. Ela inclui requisitos para a elaboração de um relatório de
sustentabilidade em conformidade com as Normas GRI e descreve como essas normas podem
ser usadas e referenciadas (GRI 101, 2016). A outra é GRI 301 Materiais 2016, que fornece
49

informações sobre os impactos da organização relacionados a materiais e como ela gerencia


esses impactos (GRI 301, 2016).

Gráfico 3 - Associação de Norma GRI aos temas priorizados (7 empresas)

Fonte: Elaborado pela autora (2022)

Gráfico 4 - Associação de Conteúdo GRI aos temas priorizados (5 empresas)

Fonte: Elaborado pela autora (2022)


50

Observou-se que os ODS 1, 2, 6 e 14 foram os menos citados como priorizados


pelas empresas analisadas. Cabe destacar que entre estes ODS menos priorizados encontram-
se temas de grande relevância para o desenvolvimento socioeconômico do país, como os
objetivos de Erradicação da Pobreza (ODS 1) e Fome Zero (ODS 2). Com apenas duas citações
nos relatórios analisados o indicador de proporção da população vivendo abaixo da linha da
pobreza no Brasil apresenta valores acima dos níveis observados pela União Europeia, 2021
(em torno de 21%).

Figura 6 - Objetivo 1 Erradicação da Pobreza - ODS Brasil

Fonte: ODS Brasil (2022)

Diante dessa observação levanta-se a questão, avaliada a seguir no estudo


qualitativo, de que a grande participação de empresas com matrizes estrangeiras atuando no
setor elétrico brasileiro pode orientar ou privilegiar a adoção de práticas ESG pouco aderentes
às questões sociais, ambientais e de governança do país.

Quadro 5 - Matriz das empresas analisadas


Empresa Segmento/Categoria Sede Matriz
AES Brasil Energia S.A. Geração Estados Unidos
Geração/Distribuição/ Brasil
CEMIG Transmissão
Brasil
CPFL Energia S.A. Geração/Transmissão
Geração/Distribuição/ Portugal
EDP Brasil Transmissão
Geração/Distribuição/ Brasil
Eletrobras Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Transmissão
Geração/Distribuição/ Itália
Enel Brasil Transmissão
Geração/Distribuição/ Brasil
Energisa S.A. Transmissão
Eneva S.A Geração Brasil
Engie Brasil Energia S.A. Geração/Transmissão França
51

Empresa Segmento/Categoria Sede Matriz


ISA Cteep Transmissão Colômbia
Light S.A. Distribuição Brasil
Neoenergia S.A. Distribuição/Geração Espanha
Rio Paranapanema Energia S.A. (CTG Brasil) Geração China
Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. Transmissão Brasil
State Grid Brazil Holding Transmissão China
Fonte: Elaborado pela autora (2022)
52

5 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS

Nesse capítulo são apresentados os resultados das entrevistas realizadas com os 12


profissionais, gestores das áreas de sustentabilidade, das empresas do setor elétrico
selecionadas, conforme descrito anteriormente.
Como visto na Metodologia, a classificação do conteúdo obtido nas entrevistas foi
feita com base no trabalho de Bardin (2011), que apresenta método para análise do conteúdo.
Desta forma, os achados das entrevistas foram categorizados com base nas 5 perguntas que
nortearam a interlocução com os profissionais.
Esses achados são reforçados com as falas dos entrevistados não personificados,
porém classificados como Entrevistado(a) 1, 2, ...12, etc. para permitir a identificação de padrão
ou tendência de comportamento das respostas. Os resultados são agregados e classificados,
apresentados a seguir, conforme a estrutura da entrevista.

a) Qual é o foco das práticas ESG no setor elétrico brasileiro?

Todos os entrevistados destacaram o movimento crescente nos últimos anos da


pauta ESG no setor elétrico e a importância de não dissociar as letras da sigla ESG. Os
entrevistados trouxeram de forma unânime os temas emissões de gases de efeito estufa (GEE),
energia limpa e energia renovável como sendo o principal foco de ações do setor. Para os
entrevistados (as) isso se deve à existência de um movimento mundial em torno da pauta
“Mudanças Climáticas” e o setor elétrico ter poder e capacidade de forte influência nesse tema.

Entrevistado(a) 3: “Hoje o foco é principalmente nas questões de mudanças


climáticas, porque eu acho que tá muito intrínseco com o nosso setor”.
Entrevistado(a) 4 “As emissões ... seria o foco total. Hoje, se a gente não falar
de redução de emissões a gente está falando do risco climático, muito grave
para o setor... que inclusive já vem afetando o setor como por exemplo crise
hídrica...”
Entrevistado(a) 8: “...a gente tem ampliado um pouco, diversificado a matriz
que já é renovável no Brasil, então acho que o setor elétrico está pelo menos
olhando a questão de solar e eólica... a gente tem percebido isso num
movimento de transição”.
Entrevistado(a) 12: “...o foco para o setor elétrico é a ampliação de
renováveis, sendo dúvida passa por aí... vemos que as empresas estão
investindo cada vez mais em ampliar em renováveis... ODS 7 e 13 são o foco
do setor elétrico, não tem jeito”.

Alguns entrevistados associaram o aumento dessas preocupações com a pandemia


do Covid-19.
53

Entrevistado(a) 10: “na minha percepção o foco é principalmente com a


parte ambiental porque depois da pandemia esse assunto ficou mais em
evidência então a questão de mudanças climáticas está muito forte está sendo
cobrada...”.

Um dos entrevistados, porém, pontuou que o Brasil tem uma matriz limpa e deveria
ter uma visão diferente de outros países, como da Europa por exemplo, que precisam investir
em descarbonização.

Entrevistado(a) 9: Claro a questão de mudança climática vem muito forte...,


mas acho que a gente precisa ter uma discussão ... uma coisa é você importar
(o que eles fazem) tem a pressão das empresas europeias. De fato, elas
precisam reduzir intensidade de emissão, de gases e efeito estufa, eles tem
uma matriz mais suja então estão descarbonizando né? A gente com uma
matriz muito limpa...”.

Com exceção de poucos entrevistados, a questão social representou o segundo foco mais
citado. Indicando a percepção das empresas para ações necessárias no Brasil.

Entrevistado(a) 5: “a parte de desigualdade social aqui no Brasil, de acesso


mais a comunidade. Esses problemas com a comunidade são diferentes lá
fora, aqui são outros problemas. O nosso aqui são problemas básicos de
educação. Mas a gente tem mais básicos ainda como fome e pobreza. Então
a gente procura colocar a questão do gênero né, a questão de acesso à
educação”
Entrevistado(a) 12: “um olhar importante é o desenvolvimento de
comunidades, as eólicas têm potencial gigantes de desenvolver localmente
onde são construídas...”.

Ainda em relação ao social, o tema diversidade foi citado em quase todas as


entrevistas, principalmente relacionada a gênero, e a dificuldade de inclusão no setor elétrico.

Entrevistado(a) 3: “O setor elétrico não é diverso, é assustador”.


Entrevistado(a) 12: “A diversidade equidade e inclusão, o setor elétrico está
olhando bastante, especialmente inclusão de gênero... as empresas ainda não
estão investindo bastante, mas sabem que devem olhar”.
Entrevistado(a) 2: “Temos um projeto que capacita mulheres da comunidade.
É uma escola mesmo, uma formação de eletricista. E aí a gente tenta absorver
o máximo essas mulheres”.

Em relação a Governança um dos entrevistados trouxe que a necessidade de


transparência é muito mais cobrada em empresas de capital aberto, principalmente pela
exigência dos mercados internacionais.

Entrevistado(a) 8: Eu sou guinchado... Tô numa empresa de capital aberto,


então a transparência é sempre mais exigida, muito mais escala internacional
do que Brasil. Então são mais investidores europeus ou até mesmo
54

americanos... Eles têm muito mais um olhar (para governança), eles fazem
muito mais perguntas do que aqui.

Ainda na temática governança, dois entrevistados, representantes de empresas


nacionais, trouxeram a preocupação com compliance e práticas anticorrupção por conta de
pressões internacionais.

Entrevistado(a) 9: ... existe uma necessidade, pelo efeito histórico do país,


que é a questão de compliance, de controle de práticas anticorrupção
principalmente na implantação de grandes empreendimentos... inclusive um
rating já posiciona o setor elétrico brasileiro como de alto risco por
default...”

Um dos entrevistados salientou que a regulação do setor faz com que exista toda
uma estrutura de governança voltada para a questão ambiental.

Entrevistado(a) 5 “O fato de o setor elétrico ser um setor extremamente


regulado... As empresas que atuam nesse setor têm toda uma estrutura de
governança.... tanto é que a gente dificilmente vê as empresas que atuam no
setor elétrico envolvidas em questões mais notórias de responsabilidade
ambiental”

Apesar de não ter indicado como foco, uma das empresas indicou que foi incluída
na sigla ESG a letra “F” simbolizando a integração do ESG com as questões financeiras.

Entrevistado(a) 1: ”...eu acho que os as três letras tem a mesma importância


e a gente aqui na empresa a gente já fala de um F de financeiro.”

b) Na sua perspectiva, o ambiente institucional brasileiro ajuda a formatar as


práticas ESG?

Os entrevistados destacaram as leis ambientais brasileiras, bem como o


regulamento para licenciamento como sendo um forte instrumento regulador e impulsionador
de ações ESG no setor.

Entrevistado(a) 5 “Eu acho que as empresas que são submetidas a


licenciamento têm práticas bastante restritivas e bastante avançadas do ponto
de vista ambiental”.
Entrevistado(a) 7 “...o licenciamento ambiental ele já busca reduzir muito
esses impactos negativos, mas não, não elimina todos.... risco que hoje está
se configurando, com o chamado litígio...”.

Adicionalmente, foi trazido por muitos o quanto esse regramento ambiental é


rigoroso e muitas vezes restritivo.
55

Entrevistado(a) 2 “Eu acho que temos algumas regulações ambientais que


dificultam muito... tem algumas questões burocraticass que poderiam ser
diferentes.... não estou falando de ser mais ou menos rigoroso e sim de ter um
pouco mais de escuta”.
Entrevistado(a) 4 “Acaba que fica uma questão política ... quem é o
secretário que está ali? O secretário de educação que está ali, quem é o
secretário de meio ambiente....”
Entrevistado(a) 6 “A questão do P&D, eficiência energética. E que eles
teriam oportunidade também de pensar em questões ESG, também a questão
de mudanças climáticas, eu acho que poderia ser uma boa força de pressão.

Dois entrevistados fizeram um contraponto em relação as restrições das leis


ambientais.

Entrevistado(a) 11 “...se a empresa estrutura um trabalho de base bem feito,


a licença ambiental é consequência, é um reflexo de como você opera”.

Alguns entrevistados entendem que a regulação existente restringe também a


discricionaridade das práticas ESG.

Entrevistado(a) 9 “Como ela (legislação ambiental) me traz tantas


obrigações impositivas eu deixo de alocar recursos para projetos que talvez
sejam mais interessantes, mais impactantes fica restrita Então eu gasto x
milhões por ano de condicionantes... Então como vou defender mais outros
milhões pra trazer projetos voluntários a discussão disso é muito pesada,
né?”
Entrevistado(a) 8: “O investimento social ele acaba sendo o discricionário,
ele talvez seja muito pequeno porque você tem uma verba muito grande de
eficiência energética, então vamos dizer assim o desembolso direto pra
projetos sociais numa empresa...ele é muito pequeno porque você já gasta
milhões com doação de geladeira, lâmpadas...’.

Foi identificada a possível mudança relacionada à obrigatoriedade do atendimento


ao Escopo 3 do GHG Protocol (protocolo internacional para declaração de emissões de GEE),
onde se deve controlar e garantir a emissão da cadeia de valor com a qual a organização se
relaciona.

Entrevistado(a) 2 “... a gente vai precisar evoluir muito no cálculo das


emissões da nossa cadeia de valor. Esse é o assunto do momento”.
Entrevistado(a) 4: “Declaração de Escopo 1, 2 e 3, dificuldade em mapear o
escopo 3, que inclui a cadeia de valor, fornecedores...”.
Entrevistado(a) 5:“...noventa e cinco por cento das nossas emissões estão no
escopo 3. Aí é que complica, reportamos Escopos 1 e 2 há muitos anos, mas
nunca tentamos escopo três pela complexidade em relação à nossa realidade.

Ainda em relação ao tema normas e protocolos existentes no mercado, dois


entrevistados enfatizaram a dificuldade de utilização de protocolos provenientes de outros
56

países, que não condizem a realidade do Brasil. Um exemplo dado foi o IHA, que é um
Protocolo de Sustentabilidade de Hidrelétricas internacional.

Entrevistado(a) 6 “Acredito que poderia ter uma organização dos setores...


hoje o GHG Protocol não considera a emissão de reservatório e o IHA traz
isso... mas não dá para ter um protocolo europeu! a taxa de luminosidade,
calor são completamente diferentes.
Entrevistado(a) 9: ... você pegar uma curva de método importada dentro da
uma outra situação é difícil...A gente já simulou aqui alguns casos, a gente
teria que fazer emissão negativa porque a empresa é cem por cento
renovável...”.

c) As instituições financeiras do Brasil que disponibilizam recursos para o seu


setor trazem obrigações relacionadas as práticas ESG?

Existe cobrança por parte dos bancos financiadores do setor. Os bancos avaliam
critérios ESG na hora de alocar o seu capital, inclusive cobrando o cumprimento de metas
estabelecidas pelas empresas por meio de relatórios de sustentabilidade e por formulários
específicos de acordo com os critérios de cada instituição.
Os entrevistados observaram que esses critérios, inicialmente adotados por organismos
internacionais de financiamento, também já são considerados pelas instituições no Brasil.

Entrevistado(a) 7 “A gente via principalmente na Europa, uma emissão de


green finance muito mais elevado do que aqui no Brasil, mas a gente a gente
começa a ver instituições como Itaú, Bradesco, bancos do Brasil começaram
a se movimentar fortemente nesse tipo”.

Esses investidores consideram os riscos de investir em uma empresa que não tem
uma estratégia clara e consistente em relação ao ESG.

Entrevistado(a) 3 “Então isso já é a realidade do setor, independente se é


uma empresa de capital aberto”.
Entrevistado(a) 1: “Se os bancos podem fazer uma escolha, já que o crédito
está disputado porque eles vão escolher empresas que não consideram esses
riscos”.

Os entrevistados relacionam as demandas vindas das instituições financeiras como


resultado de uma avaliação de risco de negócio com percepções abrangentes que passa pela
questão climática, riscos de segurança ocupacional e de imagem.

Entrevistado(a) 1: “Então começou a virar dinheiro também ... Então eu acho


que isso deu impulso...se eles podem escolher entre um e outro, vão escolher
o que eles realmente veem menos risco, quem está falando são cientistas... se
57

vai ter risco vai ter problema então assim eles assimilaram que não dinheiro
pelo dinheiro, mas aqui isso também vai virar um risco pro dinheiro deles
né”.
Entrevistado(a) 4: “Na verdade quando a gente fala da questão de análise de
valor você tem que falar do custo invisível. É aquilo que você está deixando
de gastar”.
Entrevistado(a) 2: “... é a questão da segurança, é um setor que está numa
área de risco de segurança por conta do risco elétrico... estou falando desvio
tanto dos colaboradores ou parceiros, mas também de comunidade...quando
eu tenho furto de energia, onde as pessoas sobem para roubar”.

Também foi levantada a necessidade de atenção com as alterações dos requisitos de


ISE B3 e da CVM.

Entrevistado(a) 1: “Vemos o ISE abrindo a consulta pública sobre a inclusão


de itens de diversidade nos conselhos... e a CVM com a resolução CVM 59
que as empresas terão que notificar no formato “pratique ou explique “sobre
os dados dos relatórios anuais”.

d) Quais são as alterações no ambiente institucional para que as práticas ESG


sejam implementadas de acordo com as necessidades do Brasil?

Os entrevistados reforçaram o papel dos órgãos de governo e agências reguladoras


na expansão da abrangência das ações de ESG por parte das empresas. Reforçaram que hoje o
papel das instituições está muito focado na questão do licenciamento ambiental, mesmo quando
se trata das ações com foco no social.

Entrevistado(a) 3 “Acho que as métricas ainda são muito discrepantes dentro


dos próprios índices e você não tem um direcionamento de governo por
exemplo de quais seriam as prioridades dentro do Brasil, dentro do setor
elétrico.... o direcionamento para que as empresas se alinhassem em
princípios comuns...”.
Entrevistado(a) 1 “Mas por exemplo, tem discussões que a ANEEL poderia
dizer por exemplo poderia se envolver muito mais nessa agenda. Então assim,
talvez falando do setor de energia aí falta ainda uma puxada aí da agência
reguladora”.
Entrevistado(a) 6 “Falta um algo a mais, que nos empurre mais, no sentido
de ter uma regulação que diga para a gente, olha até o ano tal, vocês têm que
estar 20% mais limpo ...”.

Os entrevistados mencionam que há uma lacuna institucional que leva as empresas


a agirem de forma independente.

Entrevistado(a) 4“Acho que as métricas ainda são muito discrepantes dentro


dos próprios índices e você não tem um direcionamento de governo por
exemplo de quais seriam as prioridades dentro do Brasil, dentro do setor
58

elétrico.... o direcionamento para que as empresas se alinhassem em


princípios comuns, pelo menos alguns mais claros... Talvez obrigatórios”.
Entrevistado(a) 9 “...tem uma questão que a gente faz em escala
organizacional, mas não faz em escala institucional que é toda materialidade,
ou seja. a gente entender quais são os temas materiais para o país que aí
poderia ser de uma forma setorial...”.

O contraponto em relação a indicação de temas materiais do setor, traz a


necessidade da análise desses temas levando em conta as especificidades de cada empresa, área
de atuação e categoria (geração, distribuição e transmissão de energia).

Entrevistado (a) 12: “Ter alguns temas materiais para o setor elétrico seria
bacana, mas não poderia ser engessado, pois quando olhamos para geração,
transmissão, distribuição, os temas são completamente diferentes... Pode ter
um direcionamento, mas cada empresa tem que ter a sua materialidade”.

Para empresas que não são de capital aberto, um entrevistado destaca que, por não
serem obrigatórias, as práticas ESG e priorização de temas materiais são voluntárias e procuram
acompanhar o que está sendo feito no mercado.

Entrevistado(a) 3: “As empresas fazem essas ações de e forma voluntária,


para acompanhar o próprio mercado né? Quem não tem a obrigação está
indo mais pelo que outras empresas estão fazendo.”

Um dos entrevistados disse que se atender aos critérios estabelecidos pela legislação
ambiental já considera cumprido grande parte do seu papel relacionado ao tema ESG.

Entrevistado(a) 3 “...o licenciamento ambiental eu considero uma prática


ESG, enfim de qualquer modo o processo de licenciamento ambiental do
Brasil é muito rigoroso.”

Para haver uma atenção maior ao social é necessário que a regulação amplie seu
escopo para esse fim.

Entrevistado(a) 5 “Então pra mim é o social é algo que a gente precisa


trabalhar e a gente não vai conseguir fazer isso sozinho porque tudo isso mexe
com regulatório.”
Entrevistado(a) 6: “Eu queria muito trabalhar o tema de diversidade, mas
eles não entendem que diversidade é o que é mais relevante para o nosso
business.”

Foi levantado que é importante que exista regulação voltada para as necessidades
do país e que as lacunas de políticas públicas sociais muitas vezes pressionam as empresas do
setor a investirem em bens públicos (escolas, áreas de lazer, estradas) quando da execução de
grandes obras.
59

Entrevistado(a) 8: “Uma regulação das práticas ESG mais voltada para as


necessidades reais do país reduziria a pressão política e social de forma
desordenada sobre os projetos do setor.
Entrevistado(a) 7: “Nós somos um país que que precisa muito de
infraestrutura... E essa infraestrutura, quando ela chega, muitas vezes é
confundida com alguma ação pública. Então, às vezes o empreendimento ele
tem que lidar com questões socioambientais daquela região que não
necessariamente estão ligados diretamente ao empreendimento”.

Os entrevistados percebem incoerência relacionada à pressão por seguir padrões e


diretrizes das empresas internacionais que não encontram aderência com a realidade do país.

Entrevistado(a) 7 “partindo de um olhar mais específico aqui no Brasil, a


gente percebe que tem uma distinção, por termos principalmente
biodiversidade e também a diversidade social... que por si só já difere de
vários locais do planeta... então é difícil você trazer uma metodologia de fora
e implementar aqui no Brasil sem nenhuma adaptação.”

Ao responder à questão sobre barreiras para adoção de práticas ESG mais aderentes
à realidade brasileira, alguns entrevistados trouxeram as pressões sociais que o campo sofre em
relação as questões, principalmente, sociais e ambientais.

Entrevistado(a) 7 “A pressão social é forte, exatamente porque o Brasil tem


ainda muita desigualdade”.

Nesse sentido, um dos entrevistados destacou a participação de Organizações não


Governamentais apoiando a sociedade nesse processo.

Entrevistado(a) 1 “A repercussão na mídia é ruim para as empresas....


denúncias feitas pela sociedade a ONGs por exemplo, vão para os relatórios
dessas ONGs que depois são acessados por investidores”.

Ainda em relação às pressões sociais foi destacada, também, a diferença dessas pressões
e discussões entre o Brasil e outros países.

Entrevistado(a) 5 “A pressão social fora do Brasil é mais forte e o debate é


mais avançado, mais fundamentado e maduro.”

e) Como é o processo de construção das prioridades ESG (temas e ODS


priorizados)?

Existe uma forte influência internacional, principalmente pela projeção e força da


pauta de mudanças climáticas. Com exceção de um, que afirmou não existir nenhuma diretriz
60

da matriz internacional, os entrevistados das empresas com sede em outros países afirmam que
as diretrizes macro das ações de ESG são oriundas das matrizes internacionais.

Entrevistado(a) 3 ““...a gente recebe algumas orientações da matriz, mas de


uma forma muito genérica, com o que a empresa gostaria que fosse
priorizado”.
Entrevistado(a) 2: “A gente tem que estar alinhado né com a estratégia
global, mas assim a gente também tenta especificar particularizar aqui para
as nossas demandas então por exemplo as questões sociais pra outros países
não é a mesma realidade”.
Entrevistado(a) 1: “A priorização dos ODS 7e 13 veio da diretriz global, com
um investimento maciço em energia renovável”.
Entrevistado(a) 4 “Quando você vai por exemplo na questão da erradicação
da pobreza ou a parte de saúde e bem-estar hoje não é prioritário, não porque
eu não vejo correlação com análise material. É que eu acho que hoje a
empresa não está conseguindo dar uma solidez nem para os ODS
prioritários”.
Entrevistado(a) 12 “A gente definiu tudo bem localmente...a matriz da
empresa tem essa consciência de que a descarbonização é foco é lá fora e não
é o foco aqui porque já somos 100% renovável...”.

Um dos entrevistados, trouxe o movimento que a empresa vem fazendo na


construção de sua materialidade, no sentido de olhar interna e externamente à empresa, mas
também olhar para frente e tentar prospectar ações futuras, ainda não identificadas pelo
mercado.

Entrevistado(a) 9: “E o olhar pra fora vai um pouco perceber quais são os


temas mais relevantes... mas também a gente tem uma forma de trabalhar de
olhar pra fora em relação quais são as tendências e as melhores práticas...
essa é uma premissa nossa, tentar sempre buscar se antecipar e prospectar,
acender essas melhores práticas.”
61

6 DISCUSSÃO

Ao analisar os relatórios de sustentabilidade, a regulação do setor e coletar as


percepções dos entrevistados em relação a implementação, pressões internas e externas e
priorização de ações de sustentabilidade e a temática ESG nas empresas do setor elétrico
brasileiro foi possível identificar alguns fatores de influência do campo organizacional e a
institucionalização dessas práticas ESG no setor elétrico Brasileiro.
a) Pilar Regulatório
Em relação ao pilar regulatório, as leis e regulamentos que direcionam as práticas
ESG no SEB estão prioritariamente circunscritas ao licenciamento ambiental, que restringe
investimentos e onde as empresas assumem compromissos de contrapartidas. No que concerne
à ANEEL, as obrigações de investimento em eficiência energética e o programa de etiquetagem
Porcel são vistas como regulação que direcionam uma prática da utilização de recursos com
impactos para o meio ambiente. Adicionalmente, o licenciamento ambiental brasileiro foi
destacado pelos entrevistados como um ponto chave no setor elétrico, algumas vezes visto como
excessivo e restritivo e por outras como influenciador de boas práticas em sustentabilidade.
Desse modo, identificou-se que há uma lacuna institucional no que se refere ao pilar
regulatório. O campo está sobrecarregado pela regulação ambiental e entende que há
necessidade de, embora, a princípio as práticas ESG sejam voluntárias, de existir uma diretriz
mais concreta para práticas que sejam mais aderentes ao país.
b) Pilar Normativo
O fato de as empresas do setor serem em grande parte de origem internacional, onde
os ambientes institucionais percebem maior nível de intervenção das instituições reguladoras,
faz com que a maioria das empresas tendam a adotar um padrão vinculado as matrizes. Esses
países têm uma forte relação das suas estratégias ESG com os ODS, como visto na análise dos
relatórios de sustentabilidade. Porém, mesmo com o entendimento que alguns ODS estão
diretamente relacionados ao negócio, nem sempre os ODS priorizados condizem com a
realidade das demandas nacionais, como demonstrado nas entrevistas. A pressão pelas questões
climáticas tende a formatar a estratégia de ESG das empresas e esse padrão está sendo
importado para o Brasil, porém com a percepção de que este padrão não se relaciona com as
necessidades do país.
Como a questão das emissões é um ponto repetidamente apontado pelas empresas
de origem estrangeira, os representantes dessas empresas identificaram uma possível mudança
no atendimento dos requisitos do GHG Protocol (Greenhouse Gases, gases de efeito
62

estufa/GEE em português) como um risco de não atendimento a essa norma. O GHG Protocol
abrange padrões de contabilização de emissões e remoções de gases de efeito estufa (GEE) para
cidades, setor corporativo, cadeia de valor, agropecuária, ciclo de vida do produto, entre outros
(FGV, 2011). Esses protocolos procuram ser desenvolvidos de forma abrangente, para que se
adequem as diversas realidades dos países e anunciando compromissos com a redução de
emissões de gases de efeito estufa e como irão abraçar uma economia de baixo carbono,
contribuindo assim para frear as mudanças climáticas.
Foram definidos três escopos de emissões., que estão relacionados a possuidores
dessas emissões e o nível de controle aplicável à mudança desses níveis de emissão em cada
etapa, que são: Escopo 1: Emissões de GEE diretas, que pertencem ou são controlada pela da
organização inventariante. Escopo 2: Emissões indiretas de GEE da organização inventariante
ligadas à geração de eletricidade, calefação ou refrigeração, ou vapor adquirido para consumo
próprio. Escopo 3: Todas as emissões indiretas que ocorrem na cadeia de valor da organização
inventariante não incidas no escopo 2. Nesse sentido, foi identificada a preocupação dos
entrevistados em relação ao atendimento ao Escopo 3, considerando a realidade do país, pois
existe dificuldade em controlar e garantir a emissão de toda a cadeia de valor com a qual a
organização ser relaciona.
A preocupação dos entrevistados em relação ao atendimento ao Escopo 3,
considerando a realidade do país, pois existe dificuldade em controlar e garantir a emissão de
toda a cadeia de valor com a qual a organização se relaciona.
Outro ponto recorrente nas entrevistas abordou as questões de diversidade, com
destaque para diversidade de gênero, pois o setor elétrico brasileiro foi descrito como um setor
extremamente masculino e pouco diverso. Apesar da preocupação, foi constatada a dificuldade
na solução e que ainda não é dada a devida prioridade ao tema pela maioria das empresas.
Como os entrevistados destacaram a falta de profissionais com a formação técnica
necessária para o setor como uma das maiores dificuldades, foram apresentadas ações de
educação e formação de mulheres para posterior absorção pela empresa ou pelo mercado.
Também foram reconhecidos padrões relacionados às obrigações impostas pelas
instituições financeiras. Esses padrões são principalmente voltados para a mitigação de riscos
e buscam responder a questões de compliance, risco reputacional, riscos de catástrofes e riscos
de segurança operacional. Um dos objetivos dessas instituições é se diferenciar pela redução do
risco do seu portifólio de investimentos. Com isso, acabam diversificando o conjunto de
requisitos a serem atendidos trazendo uma complexidade maior para essas normas.
63

Sobre padrões das instituições financeiras pode-se perceber preocupação com


novos padrões da CVM e ISE B3 (em audiência pública) que busca se adequar a padrões
voltados para a questões sociais como a diversidade de gênero e representatividade em cargos
de alta liderança.
A pressão social é mais evidente quando as empresas do campo estão executando
grandes projetos com impactos nos municípios e regiões do entorno. Nesses casos a população
pressiona por intervenções que venham suprir vazios do poder público na região. As
organizações não governamentais se tornam veículos para pressão popular alcançar
investidores e mídia.
Não se reconhece no Brasil uma discussão de mais alto nível por parte dos
consumidores relacionados ao campo, estes ainda não apresentam uma posição organizada
quanto as suas escolhas estarem relacionadas as ações de sustentabilidade.
c) Cognitivo Cultural
Como visto as empresas do setor são em grande parte de origem internacional, onde
as pressões sociais se dão de forma mais organizada. Com isso, o foco nas questões climáticas
acaba tendo prevalência nas ações ESG do campo. No entanto, há a percepção de uma carência
de ações voltadas para questões sociais que seriam mais aderentes à realidade nacional.
O próprio campo pode ser dividido relativamente à existência de uma regulação que
restringe e a lacuna de uma regulação que direcione. Os atores pedem por mais direcionamento
das instituições para as práticas, mas questionam a regulação impositiva e restritiva.
Percebe-se assim uma fragmentação do campo organizacional no que refere às
práticas ESG e um baixo nível de isomorfismo, como se o campo organizacional ainda estivesse
em fase de formação com relação à adoção de práticas ESG.
Diante das discussões apresentadas, foi elaborado um quadro (Quadro 6) que
apresenta de forma resumida os fatores do ambiente institucional que configuram as
características do campo organizacional das empresas do SEB que influenciam a adoção das
práticas ESG. Para a construção desse quadro foram utilizados os indicadores e mecanismos
dos pilares da teoria institucional propostos por Scott (2013) e a metodologia de identificação
de fatores institucionais proposto por Rocha e Ávila (2015).
64

Quadro 6 - Fatores do Ambiente institucional que configuram as características do campo


organizacional
Pilar do Ambiente Fator do Ambiente Indicadores da Características do campo
Institucional Institucional característica do campo organizacional
que influenciam as
práticas ESG
Pilar Regulatório Nível de intervenção Existência de leis e Licenciamento ambiental
das instituições que regulação que direcionam,
Investimento em eficiência
regulam o setor. criam obrigações e
energética e o programa de
incentivos a execução de
etiquetagem Procel (ANEEL)
práticas ESG.

O impacto das sansões que As sansões relativas ao


decorrem das leis e licenciamento ambiental têm
regulamentos para o consequências financeiras de
desenvolvimento do maior impacto, no entanto
negócio. também são observadas as multas
pelo descumprimento das
obrigações de investimento em
eficiência energética.
Pilar Normativo Força dos valores e Percepção da sociedade Pressão pela sociedade por ações
crenças em relação as obrigações que supram a necessidade de
de adoção de práticas ESG lacunas das políticas públicas.
por parte das empresas.
Visão global da relevância Pressão mundial por ações
do tema ESG voltadas para redução das
emissões tem influenciado as
estratégias organizacionais
Certificações e Existência de Tendencia a adotar um padrão
normas procedimentos, normas e vinculado as matrizes.
padrões e certificação das
Preocupação com alteração dos
práticas ESG.
padrões GHG Protocol;
O manual de contabilidade do
SEB inclui o relatório de
reponsabilidade socioambiental
como obrigação das empresas do
setor.
Existência de normas do Preocupação com alteração dos
sistema financeiro para padrões ISE B3 e CVM.
aquisição de
As agências de cooperação
investimentos.
estrangeiras influenciando a
agenda ESG.
Objetivo dessas instituições é se
diferenciar pela redução do risco
do seu portifólio de investimentos
Pilar Cognitivo Crenças comuns, Existência de um número Fragmentação do campo
Cultural Lógicas elevado de organizações organizacional no que refere às
compartilhadas de de origem estrangeira. práticas ESG e uma baixo nível
ação de isomorfismo.
Percepção de que as
pressões internacionais
levam a práticas distantes
da realidade nacional.
Fonte: Elaborado pela autora (2022)
65

7 CONCLUSÃO

Esta dissertação buscou analisar a influência das características do campo


organizacional na adoção de práticas de ESG, tendo como objeto o setor elétrico brasileiro.
Para este fim, o trabalho, de abordagem qualitativa, foi elaborado em duas etapas.
A primeira delas foi a análise da regulação do setor elétrico no que diz respeito à ESG e dos
Relatórios de Sustentabilidade de 15 empresas de relevância no setor, considerando a
abrangência de atuação no país, quantidade de subsidiárias e segmento de atuação. A segunda
etapa foi baseada em entrevistas semiestruturadas com profissionais de 12 dessas empresas, que
foram extremamente ricas para confirmações de questões levantadas.
Na avaliação dos relatórios foi possível identificar que, apesar dos temas
priorizados terem maior foco em Governança e Negócios, quando relacionado aos ODS, os de
natureza Ambiental foram os mais citados. Isso se dá principalmente pela grande participação
de empresas com matrizes estrangeiras atuando no setor elétrico brasileiro, que faz com as
empresas respondam às suas matrizes com base nesses indicadores. Essa análise permitiu ainda,
em associação com o referencial teórico, modelar a estrutura da entrevista semiestruturada.
Os principais achados das entrevistas foram: o fato de haver uma intervenção das
instituições que regulam o setor prioritariamente na legislação ambiental, existe uma legislação
ambiental restritiva e ao mesmo tempo que se percebe uma lacuna no direcionamento das ações
sociais; As instituições financeiras buscam se diferenciar pela redução do risco em seu portfólio
e com isso amplificam a diversidade de requisitos a serem atendidos; A pressão social nacional
se difere da pressão internacional, pois devido às necessidades básicas enfrentadas pela
população, na implementação de grandes obras, necessárias para o setor, as obrigações das
empresas são confundidas com obrigações de políticas públicas, principalmente pela
população; e O campo organizacional do setor analisado parece ser fragmentado que refere às
práticas ESG e existência de um baixo nível de isomorfismo, como se o campo organizacional
ainda estivesse em fase de formação com relação a adoção de práticas ESG.
O trabalho também contribui para o campo da teoria institucional ao identificar por
meio das entrevistas que os pilares regulatório, normativo e cognitivo cultural e os mecanismos
de pressão exercidos sobre eles modelam o campo organizacional.
Como trabalhos futuros sugere-se o estudo de como a participação de atores
estrangeiros pode influenciar no pilar institucional regulatório. Outro estudo possível, seria a
identificação do impacto das lacunas institucionais e/ou da fragmentação do campo para os
riscos de sustentabilidade do negócio dos atores que o compõe.
66

REFERÊNCIAS

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67

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de dezembro de 2009, a Lei nº 12.783, de 11 de janeiro de 2013, a Lei nº 13.203, de 8 de
dezembro de 2015, e o Decreto-Lei nº 1.383, de 26 de dezembro de 1974; transfere para a
União as ações de titularidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
representativas do capital social da Indústrias Nucleares do Brasil S.A. (INB) e da Nuclebrás
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APÊNDICES
75

APÊNDICE A – ROTEIRO DE PERGUNTAS DAS ENTREVISTAS

Perguntas Expectativa com relação à Tópico teórico


resposta

1- Em sua opinião qual é o foco Verificar se há uma percepção de Implementação de práticas


das práticas ESG no setor prioridade por parte das ESG
elétrico brasileiro? empresas do setor entre as Teoria Institucional / Pressões
questões ambientais, sociais e de Institucionais
governança.
2 - Na sua perspectiva, o Entender quais os mecanismos Teoria Institucional / campo
ambiente institucional que podem fazer com que o organizacional / Pilares
brasileiro ajuda a formatar as ambiente institucional brasileiro "regulador", "normativo" e
práticas ESG? direcione as práticas ESG. "cultural-cognitivo.
3 - As instituições financeiras Identificar se existe relação Teoria Institucional / Pilares:
do Brasil que disponibilizam normativo institucional para a "regulador", "normativo" e
recursos para o setor trazem adoção das práticas ESG no "cultural-cognitivo.
obrigações relacionadas as Brasil.
práticas ESG?
4 - Quais são as alterações no Identificar a visão do Teoria Institucional / campo
ambiente institucional para que entrevistado em relação ao que é organizacional / Pilares:
as práticas ESG sejam necessário em termos de normas, "regulador", "normativo" e
implementadas de acordo com regramentos, definições (política "cultural-cognitivo.
as necessidades do Brasil? de incentivo, política pública...)
para que as práticas estejam de
acordo com as necessidades do
Brasil.
5 - Como é o processo de Identificar a lógica de Teoria Institucional /
construção das prioridades formatação das práticas ESG nas Isomorfismo
ESG (temas e ODS empresas e quais as principais Implementação de práticas
priorizados)? diferenças e seus motivos entre ESG
as práticas e priorizações das
empresas no Brasil e fora.

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