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Rio de Janeiro
2022
RENATA VALLADÃO VELASCO
Rio de Janeiro
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas/FGV
75 f.
CDD – 333.79
Objetivo- Essa dissertação tem como objetivo principal identificar os impactos das
características do campo organizacional configurado pelo setor elétrico brasileiro na adoção
de práticas ESG.
Purpose – The aim of this research is identify the impacts of the characteristics of the
organizational field configured by the electricity sector on the adoption of ESG practices by
companies operating in this sector. The theoretical contribution of the work is composed by
elements of institutional theory, organizational field and ESG or sustainability.
Findings – Among the results, it was observed that the organizational field in Brazil for ESG
practices is still fragmented and with a low level of isomorphism. The results are based on a
sample of companies in the "Electric Energy" segment operating in the Brazilian market in
energy generation, distribution and transmission.
Practical implications - The work also demonstrates that the pillars of institutional theory and
the pressure mechanisms exerted on them shape the organizational field leading to a specific
level of isomorphism.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................13
1.1 Contexto .............................................................................................................................13
1.2 Objetivo Geral ...................................................................................................................16
1.3 Justificativa ou Relevância do estudo .............................................................................16
2 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................18
2.1 Conceito de ESG nas organizações ..................................................................................18
2.2 Reportes de Sustentabilidade ...........................................................................................22
2.3 O Setor Elétrico Brasileiro ...............................................................................................26
2.4 Teoria Institucional...........................................................................................................30
2.5 Campo Organizacional .....................................................................................................32
3 METODOLOGIA ................................................................................................................35
3.1 Análise documental ...........................................................................................................35
3.2 Entrevista de campo .........................................................................................................37
3.3 Análise das entrevistas ......................................................................................................38
4 ANÁLISE DOCUMENTAL: relatórios de sustentabilidade ..............................................40
4.1 Informações sobre as empresas selecionadas .................................................................40
4.2 Resultado da análise dos Relatórios de Sustentabilidade..............................................45
5 RESULTADOS DAS ENTREVISTAS ..............................................................................52
6 DISCUSSÃO.........................................................................................................................61
7 CONCLUSÃO ......................................................................................................................65
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................66
APÊNDICE A – ROTEIRO DE PERGUNTAS DAS ENTREVISTAS .................................75
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Contexto
práticas ESG por parte das empresas é vista como critério para o aporte de diferentes
organismos financiadores.
O ambiente de negócios passa então a perceber forte pressão para incorporar ações
focadas em ESG em suas atividades, com origem em diferentes atores e processos, observados
entre outros: na busca por produtos ambientalmente sustentáveis pelos consumidores; na
valorização do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, por parte dos profissionais que passam
a priorizar outros aspectos além de salários; no estabelecimento de normas e regulações mais
rígidas ligadas ao tema ESG; e no interesse cada vez maior de investidores por aspectos
ambientais, sociais e de governança nas decisões de alocações de recursos (ZACCONE;
PEDRINI, 2020). Deste modo, nos últimos 20 anos houve um crescimento no número de
empresas que relataram dados ESG, e com isso, o interesse dos investidores em dados ESG
também aumentou (SERAFEIM; GREWAL, 2019).
A indústria de energia é uma das mais afetadas por esse movimento. Em especial,
a cadeia de produção de hidrocarbonetos que tem sido vista com maior cautela por parte dos
investidores no que diz respeito aos seus critérios de redução dos impactos sociais e ambientais
e no que tange aspectos de governança. Pesquisa realizada pelo BCG (2020) mostra que 65%
dos investidores em empresas de óleo e gás devem priorizar ESG ainda que isso signifique
redução nos ganhos por ação (BCG, 2020).
Cabe observar que, apesar do destaque para as empresas do setor de óleo e gás (pelo
alto nível de emissões de gases verificado em todo ciclo de vida do produto), o setor elétrico
também tem seus indicadores de ESG atentamente acompanhados pelo mercado. O tema tem
relevância para o setor elétrico, mesmo em países com matrizes prioritariamente renováveis,
como no Brasil, visto os impactos socioeconômicos que decorrem dos grandes projetos de
infraestrutura desse setor.
A indústria de energia elétrica no Brasil, complexa e multifacetada, está em
constante expansão, com crescimento da rede física que hoje conta com aproximadamente
172.864 km de linhas de transmissão (ONS, 2022) e, apesar da larga participação de fontes
renováveis, a operação dos grandes reservatórios e usinas termoelétricas, promove impactos
socioeconômicos e ambientais de grande escala. Com isso, apesar da matriz elétrica
prioritariamente renovável poder representar um abono para os impactos ao meio ambiente
causado pelos investimentos no setor, é notória a sua relevância nas discussões sobre impactos
sociais e como a sua governança influencia de forma abrangente os riscos de mercado.
Para além das questões socioambientais, os mecanismos de governança corporativa
têm um papel importante na construção e fortalecimento da confiança das partes interessadas,
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garantindo que as responsabilidades para com a sociedade e o meio ambiente sejam cumpridas
(STUEBS; SUN, 2015). O setor de energia está diretamente ligado ao crescimento econômico
(sustentável) de um país, não apenas pelo fato de a oferta de energia estabelecer as condições
para o funcionamento dos fatores de produção, mas também pelo grande volume de
investimentos relacionados a expansão da infraestrutura da cadeia geração, transmissão e
distribuição. Tal relevância econômica faz com que a performance dos indicadores de
governança das empresas desse setor também seja valorizada pelo mercado como forma de
reduzir de riscos endógenos e exógenos.
Vista a relevância do ESG e a sua relação com os resultados das corporações,
sobretudo pela facilidade de acesso aos mercados investidores e consumidores, é importante
que sua implementação faça parte das estratégias corporativas das empresas do setor de energia.
Analisar os fatores que colaboraram para sua evolução no setor elétrico brasileiro traz
oportunidades para a identificação de conceitos que auxiliem a sistematização das suas
aplicações.
Neste trabalho a análise dos fatores e atores que impactaram no desenvolvimento
das ações de ESG pelas empresas do setor elétrico brasileiro será realizada à luz da teoria
institucional. Para Zucker (1987), a teoria institucional fornece uma visão rica e complexa das
organizações. Nessa teoria, as organizações são influenciadas por pressões normativas,
decorrentes da própria organização ou motivadas pelo ambiente. Tais motivos foram
estruturados por Scott (2014) em 3 pilares: "regulador", "normativo" e "cultural-cognitivo".
Ainda no contexto da teoria institucional, esses pilares podem influenciar na
configuração de um campo organizacional. DiMaggio e Powell (1983) definem um campo
organizacional como o conjunto de organizações que compartilham sistemas de significado
comuns e que interagem mais frequentemente entre si do que com atores de fora do campo,
constituindo assim uma área reconhecida da vida institucional.
Assim, propõe-se a seguinte questão: Qual o impacto das características do campo
organizacional do país na adoção de práticas de ESG pelas empresas do setor elétrico brasileiro?
Foi adotada a abordagem qualitativa (CRESWELL, 2007), considerando que os
fatos relativos à ação humana, por serem singulares, podem ser interpretados em vez de
medidos, demandando uma compreensão qualitativa da vida social. Entretanto, é apresentado
também um detalhamento quantitativo das principais respostas, antes da análise qualitativa.
Para formulação das questões acerca do impacto das características institucionais
nas práticas de ESG do setor elétrico brasileiro, foram analisados os Relatórios de
Sustentabilidade de empresas selecionadas. Na sequência, foram entrevistados os executivos
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responsáveis pela coordenação das ações de ESG destas organizações, para que sejam
mapeados os elementos da teoria institucional (regulatório, normativo e cognitivo social) com
impacto nessas ações.
Com base nas informações fornecidas pelos entrevistados, pretendeu-se
compreender e extrair a possível influência que padrões internacionais podem exercer na
adoção das práticas ESG nas empresas do setor analisado.
Além de considerar a influência exercida pelo ambiente institucional por meio dos
mecanismos isomórficos institucionais, nesse trabalho se supõe que existe uma influência
mútua entre ambiente institucional e campo organizacional.
Dessa forma, esse trabalho visa contribuir para o campo das pesquisas fazendo uma
análise, com base na teoria institucional, do efeito das características institucionais de um país
na escolha das práticas ESG, com foco no setor de energia elétrica por meio de entrevistas,
análise documental e pesquisa bibliográfica. São mapeados elementos que confirmam se as
práticas ESG vêm sendo adotadas em empresas do setor elétrico de acordo com os três pilares
estruturados por Scott (2014) e se essa adoção é impactada por características do campo
organizacional. Apresentam-se, portanto, evidências da influência dos pilares da teoria
institucional na formulação de estratégias organizacionais.
Existem fatores que influenciam na lógica de adoção de práticas ESG nas empresas,
tais como fatores econômicos, valor da marca e sustentabilidade dos recursos naturais.
Diferentes segmentos respondem de forma específica a cada um desses fatores, dando
diferentes contornos às ações de ESG implementadas (ISKANDAR, 2019).
Para o setor energético global, o setor elétrico é visto como campo fértil para as
ações ESG. Essa percepção ocorre sobremaneira no quesito ambiental, visto que, na maior parte
do mundo, o consumo energético se dá prioritariamente com base em combustíveis fosseis,
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sendo a eletrificação do consumo uma das principais alternativas para otimizar o balanço das
emissões de carbono de países e corporações.
Todavia, o setor elétrico brasileiro apresenta formação institucional e tecnológica
que promoveu contornos próprios a expansão das ações ESG nesse setor. O Brasil dispõe de
uma matriz elétrica de origem predominantemente renovável, com destaque para a fonte hídrica
que responde por 53,4% da oferta interna. As fontes renováveis representam 78,1% da oferta
interna de eletricidade no Brasil (EPE, 2022). Adicionalmente, a formação institucional do setor
elétrico brasileiro ainda busca solucionar questões relativas à participação estatal, bem como
ao atraso no processo de modernização das estruturas de mercado reduzindo riscos e
aumentando a participação de capital privado.
À exceção do setor de transporte, a matriz energética no Brasil tem forte
participação de fontes renováveis, a maior parte da energia elétrica é produzida com fontes
‘limpas”, que não emitem carbono (EPE, 2022).
Dessa forma, a responsabilidade social corporativa tem se destacado, tornando
premente a elaboração e a publicação do Balanço Social e relatórios de sustentabilidade, o que
torna transparente a forma de atuação social das empresas.
Adicionalmente, conforme dados do Ministério da Economia (BRASIL, 2019) o
crescimento da participação de organizações multinacionais nos diferentes segmentos do setor
(geração, transmissão e distribuição). Com isso, o setor passa a sofrer forte influência das
diretrizes dessas empresas com sede, principalmente, na China (por meio das empresas State
Grid e Three Gorges), na Itália (com a Enel expandindo sua atuação na distribuição e geração
renovável) e França (representada pela Engie) (BRASIL, 2019). Deste modo, torna-se relevante
identificar o impacto desse direcionamento na adoção de práticas ESG pelas empresas do setor
elétrico brasileiro, percebendo como aspectos regionais podem impactar no desenvolvimento
do campo organizacional.
O presente estudo é justificado, portanto, pela importância que o tema ESG tem
apresentado nas últimas décadas. Observar as estratégias ESG com base nos pilares da teoria
institucional, ajuda a compreender como o campo organizacional é influenciado pela
característica das instituições como, por exemplo, o alto grau de internacionalização das
empresas. A contribuição do trabalho para a teoria das organizações se dá pela identificação
dos pilares da teoria institucional presentes na implantação das estratégias ESG no setor elétrico
brasileiro, permitindo a verificação e análise sobre como operam conceitos e premissas da teoria
institucional, tais como a ocorrência de isomorfismo e pressões coercitivas e/ou regulatórias,
na especialização e conformação do campo organizacional.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
pobres, dos países menos desenvolvidos (ROMA, 2019). Conforme relatório de avaliação
divulgado pela ONU (2015), os ODM atingiram bons resultados, como a redução da extrema
pobreza, da subnutrição e da taxa de mortalidade infantil e aumento da taxa líquida de
matrículas na educação fundamental, entre outros.
Em 2013, ainda com os ODM em vigor (ONU BRASIL, 2013), foi criado um grupo
com a missão de elaborar uma proposta para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ODS, a ser apresentada na Assembleia Geral da ONU desse ano, cujo tema central foi a
chamada Agenda de Desenvolvimento Pós-2015.
A Cúpula das Nações Unidas ocorrida em setembro de 2015, foi um marco
relevante em relação a ações sustentáveis, onde os 193 países membros optaram pela adoção
de uma nova política global. Nessa ocasião foi traçado um plano de ação para erradicar a
pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade,
Denominado de Agenda 2030, esse plano elenca 17 ODS (Figura 2) norteadores a
serem seguidos pelas sociedades apoiadoras do novo projeto (ONU, 2015).
Conforme divulgado pela ONU, para que os ODS sejam atingidos globalmente são
necessários cerca de US$ 5 a US$ 7 trilhões por ano, entre 2015 e 2030. Grande parte desse
valor, em torno de US$ 3 a US$ 4,5 trilhões, destinados a países em desenvolvimento, que
necessitam de mais investimentos em relação a infraestrutura básica, segurança alimentar,
saúde e educação. A participação das empresas no atingimento dessas metas se tornou presente
em seus relatórios de sustentabilidade e indicação de temas a serem tratados para o seu alcance.
À medida que mais investidores consideram a incorporação de ESG como fator
relevante em suas decisões de alocação recursos, as estratégias para sua implementação e os
relatórios de divulgação dos seus resultados devem ser bem fundamentados e estruturados.
Deste modo, a sustentabilidade deve ser nosso novo padrão de investimento (BLACKROCK,
2020).
Eccles, Ioannou e Serafeim (2014) identificam em sua pesquisa que empresas que
consideram os objetivos ambientais e sociais como questões centrais para sua estratégia
atribuem responsabilidades em relação à sustentabilidade ao conselho de administração,
atrelam a remuneração dos executivos às métricas de sustentabilidade e estabelecem um
processo formal e engajamento das partes internas interessadas, capacitando os gestores para
apoiar nesse processo de engajamento tanto interna quanto externamente a empresa.
O objetivo do ISE B3 é ser o indicador do desempenho médio das cotações dos ativos
de empresas selecionadas pelo seu reconhecido comprometimento com a
sustentabilidade empresarial. Apoiando os investidores na tomada de decisão de
investimento e induzindo as empresas a adotarem as melhores práticas de
sustentabilidade, uma vez que as práticas ESG (Ambiental, Social e de Governança
Corporativa, na sigla em inglês) contribuem para a perenidade dos negócios. (ISEB3,
2019, p. 1).
2013 e, a última e final versão das normas conhecida como “GRI Standards” foi publicada em
2016, versão utilizada até dezembro de 2021.
Como indicado pela GRI (2020) a versão GRI Standards é composta por três
normas universais e outras normas complementares direcionadas aos tópicos específicos.
A GRI 101 – Fundamentos, inclui os dez princípios de relato, os quais são os
requisitos básicos para utilizar as Normas GRI nos relatórios de sustentabilidade, além de
informações sobre como usar e se referenciar nas Normas. São conteúdos organizados em três
seções: Apresentação dos dez princípios para relato; Explicação do processo básico de como se
preparar um relatório de sustentabilidade utilizando-se as Normas GRI; e Definição das formas
específicas que as Normas GRI podem ser usadas e referenciadas.
A GRI 102 – Conteúdo Geral, cobre as informações de contextualização sobre a
organização e suas práticas de relato de sustentabilidade. Consiste em conteúdos organizados
em seis seções: Perfil Organizacional; Estratégia; Ética e Integridade; Governança;
Engajamento de Stakeholders; e Práticas de Relato.
A GRI 103 – Abordagem de Gestão, inclui a abordagem de gestão da organização
para cada tópico material. Consiste em conteúdos organizados em três seções: Explicação do
tópico material e seus limites; Abordagem de gestão e seus componentes; e Avaliação da
abordagem de gestão.
Além disso, existem tópicos específicos das Normas, organizados em três séries:
Tópicos Econômicos (Série 200), que traz as Normas relacionadas ao eixo
econômico como, por exemplo, a performance econômica e anticorrupção.
Tópicos Ambientais (Série 300), os quais incluem as Normas relacionadas ao eixo
ambiental como, por exemplo, energia, água e emissões.
Tópicos Sociais (Série 400), com as Normas relacionadas ao eixo social como, por
exemplo, diversidade, trabalho infantil, trabalho forçado e políticas públicas.
A metodologia GRI é composta de indicadores e diretrizes que norteiam a
elaboração dos relatórios e garantem transparência ao seu resultado. Assim, o formato e o
conteúdo dos Relatórios de Sustentabilidade evoluíram de acordo com as tendências de
mercado e foram adaptados, por muitas empresas, ao padrão estabelecido pela Global Reporting
Initiative (GRI).
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Em escala mundial, o setor elétrico está ligado a estratégias de ESG, onde empresas
que almejam melhorar seus indicadores ambientais vão em busca da aplicação eficiente de seus
recursos, além de suprir sua demanda elétrica por meio de fontes renováveis, tendo esse setor
forte potencial de mitigação de suas emissões e com maior potencial para apresentar soluções
(PACTO GLOBAL, 2019).
Adicionalmente, como apresentado por Jannuzzi (1999), a operação desse setor
abrange muitos impactos complexos ao meio ambiente, indo desde questões locais até
problemas de ordem global. Os efeitos prejudiciais da indústria de energia - como a liberação
de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) têm sido o foco de uma variedade de grupos de
partes interessadas, incluindo ambientalistas, acionistas, investidores e reguladores (FLORINI;
SALEEM, 2011).
Para D’Araújo (2009), todas as formas de produção de energia estabelecem algum
tipo de impacto ambiental, em graus diferentes, pois todas advêm de transformação de recursos
naturais em energia elétrica.
O impacto social e ambiental do Setor Elétrico Brasileiro (SEB) é tema de destaque,
ainda que seja um setor reconhecido pela sua baixa emissão por unidade de energia gerada. A
Lei brasileira nº 10.165/2000, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA),
classifica os setores potencialmente poluidores em baixo, médio e alto impacto ambiental e o
SEB é destacado como atividade de médio impacto (BRASIL, 2000).
Um exemplo de impacto está relacionado à operação dos grandes reservatórios das
hidroelétricas que levam a uma série de impactos às comunidades que dependem do uso da
água para navegação ou irrigação da agricultura. Outro bom exemplo está relacionado aos
projetos de grandes linhas de transmissão que transportam a energia gerada em regiões de
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grande potencial hídrico, como a Região Norte, para as regiões de grande consumo industrial,
como a Sudeste. Projetos como o da linha de transmissão Xingú-Rio – com aproximadamente
2.000 km de extensão, corta os biomas do Cerrado e da Amazônia, chegando a Mata Atlântica
– impactam a vida de várias espécies da flora e da fauna além de diversas comunidades isoladas
(algumas indígenas) que vivem próximas ao seu trajeto (BMTE, 2014).
As reformas institucionais do SEB ao longo dos últimos 25 anos acompanharam o
processo de desregulamentação dos setores elétricos em muitos países, a partir da década de 90,
e transformaram o setor com o desmonte do monopólio estatal que promoveu a descentralização
do setor com a entrada de diversas empresas privadas e estrangeiras. Nesse novo ambiente, a
busca por financiamento privado e participação de empresas listadas nas bolsas internacionais
elevaram a relevância dos processos de governança e controle.
A primeira reforma, em 1996, buscou a desestatização das empresas do setor,
tornando necessária a criação de um órgão regulador e posteriormente, em 1998, de um órgão
operador que fosse o responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de
geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN)
(BRASIL,1998).
A segunda grande mudança se deu com a implantação do Novo Modelo do SEB,
em 2004, notadamente pela modificação nas regras de comercialização de energia, pela criação
dos Ambientes de Contratação Livre (ACL) e Contratação Regulada (ACR) e a criação da
Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) (TOLMASQUIM, 2015).
O SEB passa nesse momento por uma nova onda de reforma institucional
regulatória, ainda acompanhando a tendência global dos mercados de energia elétrica. Essas
mudanças vêm responder à maior participação de fontes renováveis de geração
(prioritariamente eólica e solar), e à descentralização com a participação de consumidores de
pequeno porte no mercado livre e na própria produção de energia. Nesse sentido, desde 2016 o
setor vem introduzindo no seu arcabouço regulatório reformas que visam explicitar os
benefícios ambientais da sua matriz como observado na Lei 14.120 de 2021 (BRASIL, 2021).
Para obter o apoio social e das partes interessadas, as empresas de energia buscam
se envolver em práticas corporativas responsáveis e assumir a responsabilidade por sua energia
produzida e pegada de carbono (SHAHBAZ et al., 2020). Assim, o SEB vem se integrando à
demanda dos mercados por estratégias ESG, tanto no âmbito interno das organizações que
fazem parte da indústria de eletricidade, quanto no âmbito do mercado com a oferta de energia
limpa e emissão de certificados renováveis possíveis de serem comercializados por empresas
com necessidades de compensação das suas emissões.
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A aplicação da teoria institucional como base teórica desse estudo se justifica pelo
fato desta teoria analisar organizações sujeitas a processos e ambientes institucionalizados
(SCOTT, 2013). Para Altayar (2018), a principal força da teoria institucional é sua ênfase na
análise multinível, podendo lançar luz sobre a importância das questões sociais,
organizacionais, institucionais e ambientais para aprimorar nossos conhecimentos e
compreensão de processos de mudança.
A teoria institucional considera as instituições como "estruturas sociais
multifacetadas e duradoras, compostas de elementos simbólicos, atividades sociais e recursos
materiais" (SCOTT, 2013). Nesse sentido, o autor ainda indica que as organizações sejam
afetadas por tais componentes institucionais, uma vez que possuem conexões diretas e vínculos
com o ambiente composto por essas estruturas sociais citadas.
Os primeiros trabalhos da teoria institucional puseram foco em como organizações
reguladas se engajaram em processos de mudança por meio de processos e obrigações
(MEYER; ROWAN, 1977) e pressões institucionais (DIMAGGIO, 1988; SCOTT, 2013). Esses
autores apresentam que, em vez de motivadas pela eficiência, as decisões organizacionais são
motivadas pela legitimidade observada a partir da adoção de elementos institucionais inerentes
ao seu ambiente.
Meyer e Rowan (1977) apresentam a institucionalização como o modelo pelo qual
os processos, obrigações e realidade sociais ganham status de regras no pensamento e nas ações
sociais. Para esses autores as organizações são orientadas a incorporar práticas e procedimentos
definidos por conceitos racionalizados e institucionalizados pela sociedade (MEYER;
ROWAN, 1977). Esses conceitos funcionam como mitos adotados de forma cerimoniosa pelas
organizações impactando a eficiência ou o controle sobre sistemas técnicos.
Ao estender o trabalho de Meyer e Rowan, DiMaggio e Powell (1991) identificaram
três tipos de pressões institucionais com impacto sobre organizações e instituições: a pressão
coercitiva, pressão mimética e pressão normativa. A pressão coercitiva se apresenta por meio
31
3 METODOLOGIA
energia. A empresa ENEL, que não é listada na B3, mas estava representada por algumas de
suas subsidiárias foi incluída na análise, principalmente pela sua abrangência de atuação no
segmento de distribuição de energia, onde possui concessão nas áreas de maior concentração
demográfica do país. A State Grid, também não listada a B3, foi incluída por ser uma empresa
chinesa, com forte participação no mercado brasileiro e que tem uma governança baseada em
modelo estatal e de forte intervenção.
Como resultado, chegou-se à lista de 15 companhias para análise dos Relatórios de
Sustentabilidade referente ao ano de 2021 (Quadro 2).
Considerando que todos os relatórios tinham em comum o relato com base nas
Normas GRI, a análise foi realizada considerando apenas os indicadores GRI.
às fases definidas pela autora como: Pré-análise; Exploração do material e Tratamento dos
resultados.
Na pré-análise o pesquisador começa a organizar o material para que se torne útil à
pesquisa. Nesta fase, devem ser sistematizadas as ideias preliminares em quatro etapas, que são:
a leitura flutuante; escolha dos documentos; reformulações de objetivos e hipóteses e a
formulação de indicadores, as quais nos darão fim à preparação do material como um todo
(BARDIN, 2011).
Em seguida, vem a exploração do material. A finalidade dessa fase é a
categorização ou codificação no estudo. A definição das categorias é classificada, e são
apontados os elementos constitutivos de uma analogia significativa na pesquisa, isto é, das
categorias. Essa análise consiste no desmembramento e posterior agrupamento ou
reagrupamento das unidades de registro do texto. Assim, a repetição de palavras e termos pode
ser a estratégia adotada no processo de codificação para serem criadas as unidades de registro
e, posteriormente, categorias de análise iniciais (BARDIN, 2011).
Na terceira fase são tratados os resultados, a inferência e interpretação. Nesse
momento será realizada a análise reflexiva e crítica.
A classificação do conteúdo obtido nas entrevistas foi feita com base no trabalho
de Bardin (2011). Desta forma, foram definidas as categorias para disponibilização dos
achados, obtidos nas entrevistas, com base nas 6 perguntas elaboradas após estudo do
referencial teórico e análise documental.
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Com essa descrição, foi possível entender o tempo de fundação, a origem das
empresas, porte no setor, extensão de seus empreendimentos no país e principais áreas de
atuação no setor elétrico. A seguir essas principais informações são apresentadas para todas as
empresas analisadas.
AES Brasil
Criada em 1999 ao adquirir a Companhia de Geração de Energia Elétrica Tietê e
surgir a AES Tietê, pertence ao grupo norte americano AES Corporation (AES Corp) presente
em 14 países.
É uma empresa de geração de energia elétrica 100% renovável, tendo alcançado em
2021 uma capacidade instalada operacional e em construção de 4,7 GW de energia. Seu parque
gerador em operação e em desenvolvimento é formado por 9 usinas hidrelétricas, 3 pequenas
centrais hidrelétricas, 6 complexos eólicos e 2 complexos solares (AES BRASIL, 2021).
Desde os anos 2000, a empresa possui ações listadas e em 2021 passou a fazer parte
do Novo Mercado, a mais alta classificação da B3.
CEMIG
Presente no setor desde 1952, atua nas áreas de geração, transmissão, distribuição
e comercialização de energia elétrica e ainda na distribuição de gás natural.
Com participações em 83 empreendimentos de geração em operação em 10 estados,
sendo 44 empreendimentos próprios, com 100% de participação acionária. São 76 usinas
hidrelétricas, 6 parques eólicos e 1 usina fotovoltaica, que totalizam 5.78 GW, além de operar
uma rede de transmissão de mais 9.000 km e atuar em distribuição e comercialização de energia
(CEMIG, 2021).
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CPFL Energia
Criada em 1912, a CPFL Energia atua nas áreas de distribuição, geração,
transmissão, comercialização de energia elétrica e serviços, com atuação em todas as regiões
do país.
A CPFL é a segunda maior distribuidora em volume de energia vendida, com 14%
de participação no mercado nacional e está entre as maiores geradoras privadas do país, com
4.385 MW de capacidade instalada, com atuação em fontes hidrelétrica, solar, eólica e biomassa
(CPFL ENERGIA, 2022).
Em 2017 a State Grid Corporation of China (SGCC) passou a controla a CPFL
Energia por meio de suas subsidiárias State Grid International Development Co., Ltd, State
Grid International Development Limited (SGID), International Grid Holdings Limited, State
Grid Brazil Power Participações S.A. (SGBP) e ESC Energia S.A.
Desde 2002, a empresa possui ações listadas e atualmente faz parte do Novo
Mercado, a mais alta classificação da B3.
EDP Energias do Brasil S.A
Presente no Brasil desde 1996, é controlada pela EDP Energias de Portugal, maior
grupo industrial português e uma das maiores operadoras europeias do setor elétrico, com
atuação em 20 países. Atua nas áreas de geração, transmissão, distribuição e comercialização
de energia e soluções. Com exceção dos projetos de geração distribuída, tem ativos distribuídos
em 13 estados brasileiros e na comercialização e soluções em Energia, atuam em todo o
território nacional (EDP ENERGIAS, 2021).
Em 2005 a empresa abriu o capital mediante oferta pública de ações no Novo
Mercado e em 2013 as ações da companhia passaram a integrar o Índice Bovespa. A empresa
figura entre as primeiras posições no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa
desde que a empresa passou a fazer parte do indicador.
Eletrobras
Criada em 1954, é a maior empresa de geração de energia elétrica brasileira, com
capacidade geradora equivalente a 23% do total da capacidade instalada do país e líder em
transmissão de energia elétrica no Brasil, com 40% do total das linhas de transmissão do
Sistema Interligado Nacional em sua rede básica (EDP ENERGIAS, 2021).
Em junho de 2022, foi realizada a capitalização da Eletrobras, quando as ações da
companhia começaram a ser negociadas na B3.
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Enel Brasil
É uma sociedade anônima de capital fechado controlada pela Enel Américas, que
faz parte do Grupo ENEL originado da Itália e presente em mais 30 países. É a maior empresa
do setor elétrico privado brasileiro, atua nas áreas de geração, transmissão, distribuição e
comercialização de energia (ENEL BRASIL, 2021).
Possui participações em quatro distribuidoras de energia (Enel Distribuição Rio,
Enel Distribuição Ceará, Enel Distribuição Goiás e Enel Distribuição São Paulo), geradoras
(Enel Green Power Cachoeira Dourada, Enel Green Power Volta Grande, ENEL Green Power
Uruguay e Outras sociedades EGP), três transmissoras (Enel Cien, CTM e TESA). As
distribuidoras do grupo são empresas de capital aberto listadas na B3 (ENEL BRASIL, 2021).
Energisa S.A.
No setor desde 1905, a companhia controla distribuidoras em onze estados. A
Energisa atua nas áreas de geração, transmissão e distribuição, controlando distribuidoras em
onze estados e com 11 concessionárias de transmissão, serviços especializados de call center
(Multi Energisa) e a fintech Voltz, que oferece contas digitais. Adicionalmente, tem uma marca
com foco em negócios não regulados ligados às atividades de geração distribuída por fonte
renovável, comercialização de energia no mercado livre e serviços de valor agregado
(ENERGISA, 2021).
Em 2016, passou a ser uma empresa de capital aberto, aderindo ao Nível 2 de
Governança da Bolsa de Valores do Brasil (B3).
Eneva S.A
Fundada em 2001, é a maior operadora privada de gás natural do Brasil, atua da
exploração e produção (E&P) do gás natural até o fornecimento de soluções em energia. Atua
nos setores de geração, exploração e produção de petróleo e gás natural e comercialização de
energia elétrica (ENEVA, 2021).
Detém um parque de geração termelétrica com 6,5 GW de capacidade instalada e,
em relação a renováveis, conta com dois ativos operacionais e um pipeline de geração
centralizada e distribuída.
A empresa está listada no Novo Mercado da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) desde 2007.
ENGIE Brasil Energia S.A.
Com mais de 20 anos no Brasil, é líder no mercado do país em energia renovável,
atua em geração, comercialização e transmissão de energia elétrica, transporte de gás e soluções
energéticas. Com capacidade instalada própria de cerca de 10 GW em 68 usinas, o que
representa cerca de 6% da capacidade nacional, a empresa possui 100% de sua capacidade
43
instalada proveniente de fontes renováveis e com baixas emissões de Gases de Efeito Estufa
(GEE), como usinas hidrelétricas, eólicas, solares e a biomassa (ENGIE, 2021).
A empresa está listada no Novo Mercado da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) desde 2005.
ISA CTEEP
Criada em 1999, a empresa faz parte do grupo colombiano ISA que, além do Brasil,
atua nos seguintes países: Colômbia, Peru, Chile, Bolívia, Argentina, além de na América
Central.
No Brasil totaliza 16 empreendimentos e está presente em 17 estados, operando
uma complexa rede de transmissão por onde trafegam 30% de toda a energia elétrica transmitida
no Brasil e 92% no Estado de São Paulo. Seu sistema elétrico é composto por mais de 21 mil
km de redes de linhas de transmissão e 139 subestações (ativos em operação e em construção)
com tensão de até 550 kV (ISA CTEEP, 2022).
Adicionalmente, a empresa possui ações listadas na B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) e
integra, desde 2002, o Nível 1 de Governança Corporativa, sendo a primeira empresa do setor
energia a alcançar esse nível.
Light S.A.
Empresa com mais de 100 anos de existência, atua nos segmentos de geração,
transmissão, distribuição e comercialização de energia. Está localizada no Estado do Rio de
Janeiro. A área de concessão da Light SESA abrange 31 dos 92 municípios do estado, incluindo
toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, estado com o segundo maior
O Grupo Light é constituído pela holding, Light S.A., por suas controladas diretas
– Light Serviços de Eletricidade S.A. (distribuição de energia), Light Energia S.A. (geração de
energia), LightCom Comercializadora de Energia S.A. (comercialização de energia), Light
Conecta Ltda (geração de energia e serviços), Light Soluções em Eletricidade Ltda. (serviços)
e Instituto Light (institucional) – e por controladas em conjunto: Amazônia Energia
Participações S.A. (para participação no projeto da UHE Belo Monte) e Axxiom Soluções
Tecnológicas S.A. (serviços de TI). (LIGHT, 2021).
A empresa está listada no Novo Mercado da B3 (Brasil, Bolsa e Balcão) desde 2012.
NEOENERGIA.
Fundada em 1997, é uma empresa do grupo espanhol Iberdrola atuante em 18
estados brasileiros além do Distrito Federal. Com mais de 40 empresas controladas é uma das
maiores empresas integradas do setor de energia elétrica latino-americano.
44
Com o entendimento das empresas descrito no item anterior, foi elaborada uma
matriz principal para análise dos 15 relatórios. Nessa matriz constavam os dados gerais das
empresas, além de dados referentes a estrutura para elaboração dos relatórios: (i) razão social;
(ii) segmento de atuação no setor elétrico; (iii) país da matriz; (iv) classificação na B3; (v)
validação de auditores independentes; (vi) ano da primeira publicação de relatório de
sustentabilidade; e (vii) indicadores utilizados para elaboração do relatório.
Além disso, foi criado um framework padrão onde foram incluídos os dados obtidos
nos relatórios para cada uma das empresas como: (i) opção GRI; (ii) ano de criação ou validação
da matriz de materialidade; (iii) temas priorizados; (iv) associação aos temas ao conteúdo GRI;
e (v) ODS priorizados.
Os relatórios de sustentabilidade analisados mostraram diversos elementos comuns
como, por exemplo, o fato de todos usarem indicadores GRI como base para mensuração de
seus resultados, o que foi analisado, com base na teoria, como sendo um movimento mundial.
Destacam-se as empresas AES Brasil, EDP Brasil, Enel Brasil, Eneva S.A. Engie Brasil e
Neoenergia que integram além dos indicadores GRI o SASB.
Em todas as publicações as empresas se utilizam da 1Materialidade para indicar a
priorização de temas que são destacados no relatório de sustentabilidade, além disso, são
indicadas as partes interessadas envolvidas em sua construção. A Materialidade e Inclusão de
Stakeholders (partes interessadas) são dois dos dez princípios destacados pelo GRI como
importantes para a construção de um bom relatório de sustentabilidade, os outros oito princípios
são: Contexto da sustentabilidade; Completude; Equilíbrio; Comparabilidade; Exatidão;
Tempestividade; Clareza; e Confiabilidade.
Apesar da orientação qualitativa deste estudo, para uma apresentação do perfil das
respostas, que considerou o universo das empresas no setor, mas não pretendeu avançar em
considerações de natureza estatística, são descritos a seguir os principais achados. A seção
subsequente procede à análise das respostas segundo uma abordagem qualitativa.
Apenas a empresa Light S.A. optou pela opção GRI Abrangente, essa opção agrega
informações mais detalhadas, adicionando ao relato dados sobre tópicos como estratégia,
1
Em relatórios de sustentabilidade, a materialidade é o princípio que determina quais tópicos relevantes são
suficientemente importantes para que seu relato seja essencial. Nem todos os tópicos materiais têm a mesma
importância e a ênfase do relatório deve refletir sua prioridade relativa. (GLOBAL REPORTING, 2016).
46
governança, ética e integridade. Todas as outras empresas indicaram a opção Essencial, que é
a opção que traz os dados mínimos para os relatos.
A maioria das empresas (Quadro 3) contou com a validação de auditores
independentes no conteúdo publicado, buscando aumentar a credibilidade de seus relatórios.
Essa verificação externa não é obrigatória nos padrões GRI, mas é uma recomendação indicada
em sua Norma 102-56 e vista com bons olhos pelo mercado, principalmente por investidores.
Foi possível observar diferenças que podem ter relação com a maturidade do tema
Sustentabilidade na empresa (Quadro 4). Dessas diferenças, as principais identificadas são: o
relacionamento dos temas materiais aos indicadores GRI; organização das ações empreendidas
no ano de forma clara e direta; e a associação das informações de interesse aos diversos
stakeholders. Apenas três empresas fizeram a associação dos temas prioritários com os públicos
de relacionamento (GRI 102-44).
Um dos entrevistados, porém, pontuou que o Brasil tem uma matriz limpa e deveria
ter uma visão diferente de outros países, como da Europa por exemplo, que precisam investir
em descarbonização.
Com exceção de poucos entrevistados, a questão social representou o segundo foco mais
citado. Indicando a percepção das empresas para ações necessárias no Brasil.
americanos... Eles têm muito mais um olhar (para governança), eles fazem
muito mais perguntas do que aqui.
Um dos entrevistados salientou que a regulação do setor faz com que exista toda
uma estrutura de governança voltada para a questão ambiental.
Apesar de não ter indicado como foco, uma das empresas indicou que foi incluída
na sigla ESG a letra “F” simbolizando a integração do ESG com as questões financeiras.
países, que não condizem a realidade do Brasil. Um exemplo dado foi o IHA, que é um
Protocolo de Sustentabilidade de Hidrelétricas internacional.
Existe cobrança por parte dos bancos financiadores do setor. Os bancos avaliam
critérios ESG na hora de alocar o seu capital, inclusive cobrando o cumprimento de metas
estabelecidas pelas empresas por meio de relatórios de sustentabilidade e por formulários
específicos de acordo com os critérios de cada instituição.
Os entrevistados observaram que esses critérios, inicialmente adotados por organismos
internacionais de financiamento, também já são considerados pelas instituições no Brasil.
Esses investidores consideram os riscos de investir em uma empresa que não tem
uma estratégia clara e consistente em relação ao ESG.
vai ter risco vai ter problema então assim eles assimilaram que não dinheiro
pelo dinheiro, mas aqui isso também vai virar um risco pro dinheiro deles
né”.
Entrevistado(a) 4: “Na verdade quando a gente fala da questão de análise de
valor você tem que falar do custo invisível. É aquilo que você está deixando
de gastar”.
Entrevistado(a) 2: “... é a questão da segurança, é um setor que está numa
área de risco de segurança por conta do risco elétrico... estou falando desvio
tanto dos colaboradores ou parceiros, mas também de comunidade...quando
eu tenho furto de energia, onde as pessoas sobem para roubar”.
Entrevistado (a) 12: “Ter alguns temas materiais para o setor elétrico seria
bacana, mas não poderia ser engessado, pois quando olhamos para geração,
transmissão, distribuição, os temas são completamente diferentes... Pode ter
um direcionamento, mas cada empresa tem que ter a sua materialidade”.
Para empresas que não são de capital aberto, um entrevistado destaca que, por não
serem obrigatórias, as práticas ESG e priorização de temas materiais são voluntárias e procuram
acompanhar o que está sendo feito no mercado.
Um dos entrevistados disse que se atender aos critérios estabelecidos pela legislação
ambiental já considera cumprido grande parte do seu papel relacionado ao tema ESG.
Para haver uma atenção maior ao social é necessário que a regulação amplie seu
escopo para esse fim.
Foi levantado que é importante que exista regulação voltada para as necessidades
do país e que as lacunas de políticas públicas sociais muitas vezes pressionam as empresas do
setor a investirem em bens públicos (escolas, áreas de lazer, estradas) quando da execução de
grandes obras.
59
Ao responder à questão sobre barreiras para adoção de práticas ESG mais aderentes
à realidade brasileira, alguns entrevistados trouxeram as pressões sociais que o campo sofre em
relação as questões, principalmente, sociais e ambientais.
Ainda em relação às pressões sociais foi destacada, também, a diferença dessas pressões
e discussões entre o Brasil e outros países.
da matriz internacional, os entrevistados das empresas com sede em outros países afirmam que
as diretrizes macro das ações de ESG são oriundas das matrizes internacionais.
6 DISCUSSÃO
estufa/GEE em português) como um risco de não atendimento a essa norma. O GHG Protocol
abrange padrões de contabilização de emissões e remoções de gases de efeito estufa (GEE) para
cidades, setor corporativo, cadeia de valor, agropecuária, ciclo de vida do produto, entre outros
(FGV, 2011). Esses protocolos procuram ser desenvolvidos de forma abrangente, para que se
adequem as diversas realidades dos países e anunciando compromissos com a redução de
emissões de gases de efeito estufa e como irão abraçar uma economia de baixo carbono,
contribuindo assim para frear as mudanças climáticas.
Foram definidos três escopos de emissões., que estão relacionados a possuidores
dessas emissões e o nível de controle aplicável à mudança desses níveis de emissão em cada
etapa, que são: Escopo 1: Emissões de GEE diretas, que pertencem ou são controlada pela da
organização inventariante. Escopo 2: Emissões indiretas de GEE da organização inventariante
ligadas à geração de eletricidade, calefação ou refrigeração, ou vapor adquirido para consumo
próprio. Escopo 3: Todas as emissões indiretas que ocorrem na cadeia de valor da organização
inventariante não incidas no escopo 2. Nesse sentido, foi identificada a preocupação dos
entrevistados em relação ao atendimento ao Escopo 3, considerando a realidade do país, pois
existe dificuldade em controlar e garantir a emissão de toda a cadeia de valor com a qual a
organização ser relaciona.
A preocupação dos entrevistados em relação ao atendimento ao Escopo 3,
considerando a realidade do país, pois existe dificuldade em controlar e garantir a emissão de
toda a cadeia de valor com a qual a organização se relaciona.
Outro ponto recorrente nas entrevistas abordou as questões de diversidade, com
destaque para diversidade de gênero, pois o setor elétrico brasileiro foi descrito como um setor
extremamente masculino e pouco diverso. Apesar da preocupação, foi constatada a dificuldade
na solução e que ainda não é dada a devida prioridade ao tema pela maioria das empresas.
Como os entrevistados destacaram a falta de profissionais com a formação técnica
necessária para o setor como uma das maiores dificuldades, foram apresentadas ações de
educação e formação de mulheres para posterior absorção pela empresa ou pelo mercado.
Também foram reconhecidos padrões relacionados às obrigações impostas pelas
instituições financeiras. Esses padrões são principalmente voltados para a mitigação de riscos
e buscam responder a questões de compliance, risco reputacional, riscos de catástrofes e riscos
de segurança operacional. Um dos objetivos dessas instituições é se diferenciar pela redução do
risco do seu portifólio de investimentos. Com isso, acabam diversificando o conjunto de
requisitos a serem atendidos trazendo uma complexidade maior para essas normas.
63
7 CONCLUSÃO
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dezembro de 2015, e o Decreto-Lei nº 1.383, de 26 de dezembro de 1974; transfere para a
União as ações de titularidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
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APÊNDICES
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