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Energias Alternativas e Energias

Limpas II

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 1


UNIDADE 1. Biomassa e biogás

1.1 Biomassa: lenha e carvão

O termo biomassa engloba um grande número de vegetais presentes na natureza e


formados pelo processo de fotossíntese, como também os resíduos gerados a partir
da sua utilização, tais como: resíduos florestais e agrícolas, matéria orgânica contida
nos resíduos industriais, domésticos, comerciais e rurais. Aos combustíveis derivados
da biomassa, dá-se o nome de biocombustível. (REIS, 2011)

A tabela a seguir representa os tipos de biomassa com seus exemplos.


Tabela 1. Tipos de biomassa

BIOMASSA EXEMPLOS

Plantas aquáticas e Cana-de-açúcar, dendê, girassol, soja, milho,


terrestres microalgas.

Óleo vegetais Buriti, babaçu, mamona, dendê.

Resíduos urbanos Aterro sanitário, lodo (esgoto), lixo orgânico.

Madeira, alimentos, bebidas, celulose, casca de


Resíduos industriais
arroz.

Resíduos florestais Bagaço de cana, esterco, carvão vegetal.

Fonte: (DOS REIS, 2011)


O emprego da biomassa energética florestal pode-se dar na forma sólida, líquida ou
gasosa:

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• Queima direta: consiste no uso do calor gerado pela combustão
integral da lenha (combustível sólido).
• Carbonização: consiste na transformação do combustível sólido
(madeira) em outro combustível sólido (carvão vegetal), a partir de uma
combustão controlada (pirólise), transformando a madeira em um
combustível com mais poder calorífico.
• Gaseificação: transforma o combustível sólido em gás, para
aproveitamento em processos específicos nos quais os combustíveis
sólidos não possam ser utilizados.
• Hidrólise: transformação da celulose em açúcar, que, por ação de
fermentação é transformado em combustível líquido (etanol). (SANTOS,
2013)
A Figura a seguir mostra as principais utilizações, no Brasil, da biomassa energética
florestal como energético primário e secundário

Figura 1. Esquema da utilização energética da biomassa florestal

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Fonte: <http://www.iee.usp.br/gbio/?q=livro/banco-de-biomassa>.

Lembremos que Energia primária são produtos energéticos providos pela natureza e
passíveis de utilização imediata, como petróleo, gás natural, carvão mineral, resíduos
vegetais e animais, energia solar, eólica etc.

Energia secundária são os produtos energéticos resultantes dos diferentes centros de


transformação dos recursos primários e que têm como destino os diversos setores de
consumo e, eventualmente, outro centro de transformação, por exemplo, óleo diesel,
óleo combustível, gasolina, GLP, nafta, querosene, coque de carvão mineral, urânio
contido no UO2 dos elementos combustíveis, eletricidade, carvão vegetal, álcool etílico
etc. (REIS, 2011)

A fase inicial da produção plantada baseou-se em plantios clássicos, a partir de


reflorestamentos homogêneos com eucalipto, baixa densidade florestal (1600
árvores/ha) e ciclo de cortes longos (8, 14 e 20 anos). A segunda fase foi marcada por
ganhos de produtividade, por meio da introdução de novas espécies, melhoramentos
genéticos, produção própria de sementes, novos métodos de fertilização, preparo do
solo e manejo florestal. Com o melhoramento tecnológico, pode-se implantar florestas
mais densas (5000 árvores/ha) e diminuir o ciclo de corte (3 a 5 anos). (SANTOS,
2013)

1.1.1 Lenha

Madeira é a parte lenhosa, compacta e dura, que compõe o tronco e os ramos de


alguns vegetais, conjunto de tábuas, barrotes e outros materiais extraídos de plantas
arbóreas e usados em carpintaria, na construção e marcenaria. A lenha é madeira
utilizada para alimentar a combustão.

No Brasil, alguns fatores colaboraram para o uso de madeira (nativa ou plantada)


transformada em carvão vegetal nacional, dentre os quais cabe destacar: falta de
jazidas nacionais de carvão metalúrgico de boa qualidade, grande potencial de
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aproveitamento de biomassa (domínio tecnológico e disponibilidade dos recursos
naturais. No ano de 1990, a lenha de origem nativa representou cerca de 66% do
insumo para produção de carvão vegetal. (SANTOS, 2013)

1.1.2 Carvão vegetal

A carbonização ou pirólise da madeira consiste em um processo pelo qual os materiais


contendo carbono são decompostos termicamente na baixa presença de oxigênio.

O processo dá origem a três fases distintas na forma de produtos da carbonização:


• Fase sólida: carvão vegetal;
• Fase gasosa: gases não condensáveis;
• Fase líquida: fração pirolenhosa.

A figura a seguir esquematiza os principais produtos da carbonização.


Figura 2. Principais produtos obtidos a partir da pirólise da madeira

Fonte: (SANTOS, 2013)

1.1.3 Briquetes

O briquete é uma lenha ecológica (reciclada) resultado do processo de secagem e


prensagem de serragem ou pó dos mais diversos tipos de madeira substituindo com
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inúmeras vantagens à lenha convencional na sua totalidade, sem precisar de qualquer
modificação no equipamento (fornos, caldeiras, etc.).

Os materiais que podem ser utilizados são: lignocelulósico (jornais, fibras, etc.) e
resíduos vegetais (serragem, poda, bagaço, etc.). (CELULOSE, 2016)

A continuação apresentamos vantagens e desvantagens do uso de briquetes.

Tabela 2. Vantagens e desvantagens do uso de briquetes


VANTAGENS DESVANTAGENS
• Facilidade de fabricação • Desconhecimento em geral
• Facilidade de obtenção da matéria- • Maior rigidez das normas ambientais
prima • Dificuldades de transportar o
• Contrapartida ambiental combustível
• Baixa capacidade energética relativa
Fonte: (CELULOSE, 2016)

1.2 Análise calorífica

• Poder Calorífico – quantidade de energia por unidade de massa (ou de


volume, no caso dos gases) liberada na oxidação (queima) de determinado
combustível;
• Poder Calorífico Superior (PCS) – soma da energia liberada na forma de
calor e a energia gasta na vaporização da água que se forma em uma reação
de oxidação;
• Poder Calorífico Inferior (PCI) - energia liberada na forma de calor;
• Para combustíveis que não contenham hidrogênio na sua composição, o valor
de PCS = PCI, porque não há formação de água e consequentemente não há
energia gasta na sua vaporização.

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Ao comparar o poder calorífico de diferentes tipos de combustíveis com a biomassa
(lenha), apresenta-se uma desvantagem deste combustível em relação aos demais.

Tabela 3. Poder calorífico para diferentes tipos de combustíveis

Poder Calorífico
Combustível
(kcal / kg)

Lenha (20 — 30%


3500
umidade)

Lenha seca 4700

Carvão vegetal 6800

Carvão metalúrgico 6800

Coque mineral 7300

Óleo combustível 10.090

Fonte: (REIS, 2011)

A Tabela 4 apresenta uma comparação da capacidade calorífica de briquetes utilizando


diferentes matérias-primas.
Tabela 4. Capacidade calorífica para diferentes tipos de briquetes

Fonte: <https://docente.ifrn.edu.br/hannielfreitas/disciplinas/tecnologia-de-
producao-de-biomassa-energetica/Briquetagem-Aula2.pdf>
Em análises comparativas entre diversas fontes combustíveis, deve-se analisar a
densidade energética (DE):
DE=PCS.DG
Onde DG é a densidade a granel.

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1.3 Biogás

É um tipo de mistura gasosa de dióxido de carbono e metano produzida naturalmente,


em meio anaeróbico, pela ação de bactérias em matérias orgânicas, fermentadas
dentro de determinados limites de temperatura, teor de umidade e acidez.

O metano, principal componente do biogás, não tem cheiro, cor ou sabor, mas os
outros gases presentes conferem-lhe um ligeiro odor desagradável. (ENERGIA,
PORTAL ENERGIA, 2015).

Existem basicamente três tipos de processos na rota bioquímica: biodigestão,


fermentação e hidrólise ácida ou enzimática. Neste caso, biogás é produzido pela
biodigestão.

O Brasil dispõe de grandes volumes de dejetos agrícolas para biodigestão pela


decomposição anaeróbica da matéria orgânica de granjas de suínos, frangos,
frigoríficos e de outras fontes de metano, como as estações de tratamento de esgotos
e aterros sanitários.

1.3.1 Composição do biogás

• O metano é o componente principal do biogás (75%), e é produzido por


bactérias anaeróbias;
• As bactérias quebram ou digerem a matéria orgânica na ausência de oxigênio
e produzem o biogás como resíduo metabólico;
• O segundo componente é o gás carbônico com aproximadamente 25%.

A Tabela 5 apresenta os principais componentes encontrados no biogás

Tabela 5. Principais componentes do Biogás

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Fonte: <https://portalresiduossolidos.com/biogas/>

1.3.2 Processo

1. Excrementos animais e restos de alimentos são misturados com água no


alimentador do biodigestor. Resíduos industriais como subprodutos da indústria
alimentícia devem ser pasteurizados a 70°C por mais de uma hora.

2. Dentro do biodigestor, a ação das bactérias decompõe o lixo, transformando-o em


gás metano e adubo. Neste caso, é importante ser hermeticamente fechado e em
ausência de oxigênio. Além disso, o tempo de fermentação é de 60-70 dias a uma
temperatura entre 35-38 °C. Existe recirculação do extrato dentro do biodigestor e
mistura constante.

3. Para a dessulfuração se injetam pequenas quantidades de oxigênio atmosférico


como redutor do H2S.

4. O material fermentado (sobras) pode ser utilizado como adubo ou fertilizante.

5. O gás metano é encanado e serve para geração de calor ou eletricidade.

A Figura 3 ilustra o processamento e a distribuição de biogás.


Figura 3. Esquema de produção e logística de biogás a partir de resíduos

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Fonte: (CAMARGO, 2014)

1.3.3 Uso do biogás

O biogás pode ser usado como combustível em substituição do gás natural ou do Gás
Liquefeito de Petróleo (GLP), ambos extraídos de reservas minerais. Além disso, o
biogás pode ser utilizado para cozinhar em residências rurais próximas ao local de
produção (economizando outras fontes de energia, principalmente lenha ou GLP).

O efluente (líquido que sai do biodigestor) possui propriedades fertilizantes. Além de


água, o líquido efluente, conhecido como biofertilizante apresenta elementos
químicos com nitrogênio, fósforo e potássio em quantidades e formas químicas tais
que podem ser usados diretamente na adubação de espécies vegetais por meio de
fertirrigação.

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O biofertilizante possui entre 90-95% de água. Na base seca, o teor de nitrogênio fica
entre 1,5-4%, 1-5% de fosfato (P2O5) e 0,5-3% de potássio (K2O).

UNIDADE 2. Biodiesel

Assim como a gasolina e o etanol, o biodiesel também é um combustível. Ao


contrário do diesel convencional (derivado do petróleo), ele é produzido a partir de
gordura animal ou de óleo vegetal. O biodiesel pode ser produzido a partir do sebo
bovino, do algodão, do amendoim, da canola, do dendê, do girassol, da mamona, da
soja, dentre outras plantas e sementes conhecidas como oleaginosas.

A produção de biocombustíveis requer a conversão das fontes primárias (cana-de-


açúcar, soja, palma etc.) em uma fonte secundária (etanol, biodiesel) para que então
seja levada ao módulo conversor de energia (automóvel), transformando sua energia
química em força motriz. Dessa forma, a cadeia dos biocombustíveis contempla:

I. Etapa primária — agrária;


II. Etapa secundária — extração e distribuição para os centros de transformação;
III. Etapa terciária — tecnologia de produção. (SANTOS, 2013)

2.1 Etapa primária: agrária

O Brasil é o país que reúne o maior quantitativo de vantagens comparativas para


liderar a agricultura de energia, devido à(s) (SANTOS, 2013):
i. Perspectiva de incorporação de áreas à agricultura de energia, sem
competição com a agricultura de alimentos, e com impactos ambientais
mais brandos;
ii. Possibilidade de múltiplos cultivos dentro do calendário agrícola anual;
iii. Extensão e localização geográfica;

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iv. Condições edafoclimáticas favoráveis, como diversidade do clima, de
biodiversidade e, ainda, posse de um quarto das reservas mundiais
superficiais e subsuperficiais de água doce. As condições do solo também
favorecem a diversidade de cultivo de matérias-primas em escala
comercial;
v. Tecnologia de agricultura tropical associada à agroindústria e já testada
na produção de etanol;
vi. Independência do mercado internacional para assegurar a sua
competividade por dispor de um grande mercado consumidor interno,
podendo assim alavancar diversos negócios na área da agroenergia.

A escolha da matéria-prima depende da viabilidade econômica, áreas plantadas e


logística até as usinas. 75% do biodiesel produzido no Brasil vêm da soja e 20% têm
origem no sebo bovino. No entanto, 5% restantes do biodiesel nacional são
produzidos a partir das gorduras de porco e de frango, além dos óleos vegetais de
algodão e dendê. (BARROS, GOMES, & SUZUKI, 2014)

No Brasil, contamos com diferentes e diversas fontes de matéria–prima para a


produção de diesel (Figura 4):
Figura 4. Plantas de biodiesel por estados no Brasil

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Fonte: (BARROS, GOMES, & SUZUKI, 2014)

O óleo de soja continuou sendo a principal matéria-prima para a produção de biodiesel


(B100), equivalente a 79,1% do total, com uma queda de 1,3% em relação a 2015. A
segunda matéria-prima no ranking de produção das usinas foi a gordura animal
(16,3% do total), após redução de 15,8% em relação a 2015, seguida pelo óleo de
algodão (1% do total) e outros materiais graxos com 3,5% de participação. (ANP,
2017)
Figura 4. Matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel (B100) — 2007-2016

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Fonte: (ANP, 2017)

2.2 Etapa secundária – extração e transporte para os centros de


distribuição

Em comparação a 2015, a produção de biodiesel foi 3,5% inferior (Figura 5). Com
exceção da Região Sul, cuja produção aumentou 2,9% no período, foram registradas
quedas nas regiões Nordeste, Sudeste, Norte e Centro-Oeste de 3,2%, 13,9%, 41,2%
e 5,8%, respectivamente.
A Região Centro-Oeste permaneceu como a maior produtora de biodiesel, com volume
de cerca de 1,6 milhão de m3, equivalente a 43,3% da produção nacional. Em seguida
veio a Região Sul, com uma produção de 1,5 milhão de m3, 41% do total nacional.
Por estados, o Rio Grande do Sul continuou como o maior produtor de biodiesel, com
um volume de aproximadamente 1,1 milhão de m3, equivalente a 28,3% do total
nacional, após uma redução de 3,5% na sua produção, relativamente ao ano anterior.
Em seguida veio o Estado do Mato Grosso, com 818,7 mil m3 (21,5% do total nacional),
registrando uma queda de 3,2% da sua produção. (ANP, 2017)
Figura 5. Evolução da produção de biodiesel (B100) — 2007-2016

Fonte: (ANP, 2017)

O Centro-Oeste é o maior fabricante de biodiesel do Brasil (Figura 6).

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Figura 6. Distribuição de usinas produtoras de biodiesel no Brasil

Fonte: (BARROS, GOMES, & SUZUKI, 2014)

2.3 Etapa terciária — tecnologia de produção: processos de produção


do biodiesel

Existem dois processos de transformação dos óleos vegetais em combustível: a


transesterificação e o craqueamento. Os óleos são formados por um composto químico
conhecido como triglicerídeo, com três cadeias de átomos de carbono interligadas.
Ambos os processos de produção do biodiesel tentam separar essas três cadeias,
levando à formação de cadeias de carbono mais curtas, lineares muito próximas
daquelas presentes no diesel de petróleo. (SANTOS, 2013)

A transesterificação é o método mais usado para produzir óleo bruto vegetal, animal
ou de outras fontes em biodiesel. A seguir, a reação de transesterificação.

Figura 7. Reação de transesterificação para a produção de biodiesel

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Fonte: (GERIS et al, 2007)

• Triacilgliceróis (ésteres) + Álcool → ésteres (biodiesel) + glicerol;


• O catalisador pode ser uma base, um ácido ou uma enzima;
• Os álcoois mais utilizados: etanol (rota etílica) ou metanol (rota metílica).

2.3.1 Rota metílica

A produção de biodiesel por meio da rota etílica é de domínio mundial, sendo


largamente praticada pelas indústrias localizadas no Brasil, na Europa e nos Estados
Unidos. A matéria–prima mais utilizada é a colza na Europa e a soja nos EUA.

As vantagens da produção de biodiesel, utilizando-se o metanol, são a facilidade da


separação da fase éster (biodiesel) da glicerina de forma quase instantânea e a
recuperação do álcool completa, permitindo retornar ao processo sem prejuízo. As
plantas industriais instaladas no Brasil devem, portanto, ser tecnicamente viáveis tanto
para o metanol quanto para etanol. (SANTOS, 2013)

2.3.2 Rota Etílica


É reconhecida como a rota ecologicamente correta, pois ambas as matérias-primas,
óleo e álcool, são renováveis. A produção de éster etílico é um pouco mais complexa,
exigindo maior número de etapas e o uso de centrífugas específicas e otimizadas para
uma boa separação de glicerina do ésteres.(SANTOS, 2013)

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2.3.3 Processo de extração do óleo de soja

A obtenção do óleo bruto e do farelo ocorre em três etapas:


a. Armazenamento dos grãos;
b. Preparação dos grãos;
c. Extração do óleo bruto.

a. Armazenamento dos grãos


Etapa importante para manter as propriedades organoléticas do grão. Más condições
de armazenamento podem incorrer nos seguintes problemas:
• Aquecimento da semente (possível carbonização);
• Aumento de acidez (escurecimento do óleo contido na semente);
• Modificações organoléticas, influindo no sabor e aroma dos farelos e
óleos produzidos.

b. Preparação dos grãos

Pré-limpeza: é a eliminação da sujidade mais grossa antes do armazenamento na


indústria.
• Retirada de sujeiras provenientes do transporte;
• Utilização de peneiras vibratórias ou de outro dispositivo que separam os grãos
dos contaminantes maiores;
• Diminuição dos riscos de deterioração e redução do uso indevido de espaço útil
do silo.

Descascamento: etapa que separa os cotilédones (polpas) dos tegumentos (cascas):

• Precisa evitar compressão já que pode perder óleo que passaria à casca;
• As cascas são queimadas nas caldeiras destinadas à geração de calor ou vapor;
• Utiliza batedores ou facas giratórias e são separadas das polpas por peneiras
vibratórias e insuflação de ar.
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Condicionamento: etapa de aquecimento da polpa entre 55-60°C para facilitar
depois a extração do óleo.

Trituração e laminação: etapa que diminui a distância entre o centro do grão e a


superfície, aumentando assim a área de saída do óleo:
• Utiliza rolos de aço inoxidável horizontais ou oblíquos;
• Precisa-se ter cuidado na trituração para evitar ao máximo a desintegração dos
grãos já que ativa as enzimas celulares diminuindo a qualidade do óleo e da
torta ou do farelo;
• Precisa ser bem rápida.

Cozimento: facilita a saída do óleo:


• Utiliza “cozedores” com quatro ou cinco bandejas sobrepostas aquecidas com
vapor direto ou indireto;
• Temperatura e umidade dos flocos elevadas de 70-105°C e 20%,
respectivamente;
• O cozimento coagula e desnatura as proteínas e inativa as enzimas lipolíticas,
o que diminui a produção de ácidos graxos livres.

c. Extração do óleo bruto

Extração com solvente orgânico: utiliza como solvente o hexano:


• Os flocos laminados são introduzidos no extrator e o óleo aparece no material
submetido à extração;
• A solução do óleo no solvente é chamada “miscela”;
• O hexano é custoso e algumas vezes pode ser utilizado etanol;
• Precisa ser retirado o óleo do solvente mediante destilação.

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Destilação da Miscela: mediante aquecimento sob vácuo permite a separação do
óleo do solvente (temperatura 70-90°C).

Recuperação do solvente: é feita com compressores de frio, ou por colunas de


absorção com óleo mineral.
• Essa recuperação é da fase que contém a parte sólida (farelo).

UNIDADE 3. Bioetanol

A crise do petróleo, em 1970, motivou a ideia de produzir álcool etílico (etanol) para
substituir a gasolina como combustível automotivo. Em 1975 foi criado o Programa
Nacional do álcool (PROALCOOL). Após isso a agroindústria sucroalcooleira
experimentou uma enorme expansão com o aumento da área plantada.

3.1 Matérias-primas

O etanol pode ser produzido por meio de rotas biológicas com base em qualquer
biomassa que contenha quantidade significativa de amido ou açúcares. Alguns
vegetais, como a beterraba açucareira e a cana-de-açúcar, produzem e acumulam em
suas estruturas quantidades expressivas de monossacarídeos (glicose e frutose) ou
dissacarídeos (sacarose). Na atualidade, existe no mundo um predomínio da produção
de etanol com base em materiais amiláceos, principalmente a partir de milho.
(PHILIPPI JR & DOS REIS, 2016)

Os Estados Unidos fabricam o etanol a partir de milho e são atualmente líderes no


mercado do etanol, representando cerca de 60% da produção global. O Brasil utiliza
cana-de-açúcar na produção de etanol, estando em segundo lugar com 27% da
participação da produção global, enquanto os outros países ficam bem atrás. (REN21,
2017)

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3.2 Avanços tecnológicos

As tabelas 6 e 7 apresentam os avanços tecnológicos em relação à produção de


bioetanol nos anos 1980 e 199 respectivamente.

Tabela 6. Avanços tecnológicos em relação à produção de bioetanol nos anos 1980

Introdução de variedades de cana-de- Inves mento tecnológico para operar


açúcar desenvolvidas no Brasil a fermentação em ampla escala.

Especificações técnicas do etanol e a


O uso da vinhaça nos canaviais como
fabricação de motores movidos
fer lizantes.
exclusivamente com o produto
A logís ca de transporte, mistura,
Melhoria no sistema de moagem da
armazenamentos e comercialização
cana-de-açúcar.
do etanol.

Fonte: (SANTOS, 2013)

Tabela 7. Avanços tecnológicos em relação à produção de bioetanol nos anos 1990

Melhoria dos sistemas de corte, Implementação da mecanização na


carregamento e transporte de cana colheita.

Mapeamento do genoma da cana para


efetuar as modificações gené cas- Avanços em automação industrial.
>Resistência a herbicidas, doenças e
pragas. Desenvolvimento da tecnologia
automo va flexfuel.

Fonte: (SANTOS, 2013)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 20


3.3 Processo Químico

A produção de etanol de 1a geração é feita mediante a matéria-prima sacarose. O


processo acontece pela fermentação microbiológica (com uso de leveduras) de
açúcares produzidos pelos vegetais. Exemplos de matérias-primas para obtenção de
etanol de 1a geração são cereais (malte de cevada), tubérculos (batata, beterraba,
mandioca), caules (cana-de-açúcar).

Para o etanol de 2a geração, a matéria-prima é material lignocelulósico, por exemplo,


o bagaço da cana que, atualmente, não se encontra em escala comercial.

A reação acontece em duas etapas como é descrito a seguir:

3.4 Produções de açúcar e de álcool

A fase industrial utiliza, em suas etapas de processo, grande quantidade de água, além
de produtos químicos e biológicos, como soda cáustica, cal, ácidos e leveduras, e gera
volumes expressivos de resíduos, sendo os mais importantes o bagaço, a vinhaça e a
torta de filtro.

A figura a seguir mostra, de maneira esquemática, a produção de açúcar e álcool.


(SANTOS, 2013)
Figura 8. Fluxo de produção de açúcar e álcool

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 21


Fonte: (A. F. AQUINO, 2014)

3.4.1 Preparo da cana

Para que a cana-de-açúcar possa ser enviada para a moagem, ela deve ser preparada.
Logo após a lavagem, a cana passa por um conjunto de equipamento: picador, seguido
do desfibrador e eletroímã. O picador e o desfibrador têm como objetivo aumentar a
densidade e romper ao máximo as células para que se possa ter mais eficiência na
extração da sacarose.

O eletroímã é usado com o objetivo de retirar materiais ferrosos e, desta maneira,


evitar a quebra dos frisos dos rolos da moenda. (SANTOS, 2013)

3.4.2 Moagem

Na moagem é feita a extração do caldo e do bagaço. O processo consiste em fazer a


cana passar entre dois rolos, submetidos a determinada pressão e rotação, cujo
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objetivo é obter uma alta extração de caldo e também produzir bagaço com um grau
de umidade que permita sua queima adequada nas caldeiras. (SANTOS, 2013)

3.4.3 Tratamento do caldo

Consiste, inicialmente, na remoção de impurezas. Para remover impurezas maiores, o


caldo é peneirado, e para a retirada das impurezas menores, o caldo passa pelo
processo de caleagem.

A caleagem consiste na adição do leite de cal ao caldo, que auxilia na precipitação das
impurezas solúveis e insolúveis e eleva o pH do caldo para um grau neutro, em torno
de 7,2 o que facilita posteriormente a decantação. (SANTOS, 2013)

3.4.4 Filtragem

No processo de filtragem é obtido um caldo chamado de caldo filtrado que retorna


para o processo de caleagem. Já os resíduos gerados na etapa de filtragem geram a
torta de filtro, usada como fertilizante agrícola.

O caldo clarificado pode ser enviado à fabricação de açúcar ou de etanol. (SANTOS,


2013)

3.4.5 Produção de açúcar

O caldo purificado é concentrado em evaporadores e cozedores, sendo posteriormente


centrifugado para conseguir a cristalização da sacarose. Dessa etapa se obtém outro
resíduo, chamado melaço, uma solução contendo elevado teor de açúcares, podendo
ser utilizado com matéria-prima para a produção de etanol mediante a fermentação.
(PHILIPPI JR & DOS REIS, 2016)

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3.4.6 Produção de etanol

Pode vir tanto da fermentação do caldo como de misturas de caldo e melaço. A este
caldo, chamado mosto, são adicionadas leveduras, fungos unicelulares da espécie
Saccharomyces cerevisae, para que possa ser fermentado, dando origem ao vinho,
que possui uma concentração de 7 a 100% de etanol.
Após a fermentação, as leveduras são recuperadas usualmente por centrifugação e
tratadas para novo uso, enquanto o vinho é enviado para as colunas de destilação.

Na destilação, o etanol é recuperado em forma hidratada, com aproximadamente 96%


de etanol em volume e o resto é água. A vinhaça é gerada como resíduo, normalmente
em uma proporção de 10 a 13 litros por litro de etanol hidratado produzido. O etanol
hidratado (96% em água) pode ser o produto final ou ser desidratado pelos processos
de destilação extrativa (usando metil-etileno glicol) ou utilizando uma peneira
molecular. (PHILIPPI JR & DOS REIS, 2016)

UNIDADE 4. Centrais hidrelétricas

Segundo Dos Reis et. al (2016), podemos afirmar sobre o uso da água para a produção
de energia elétrica o seguinte:

• Aspectos positivos: a energia hídrica é uma fonte renovável e possui


benefícios socioambientais quando bem estruturada;
• Aspectos negativos: pode gerar impactos socioambientais negativos e
de grande influência regional, dependendo do tipo e das dimensões do
aproveitamento, além de possíveis impactos no aquecimento global;
• Mitos: trata-se de fonte de energia “limpa”, isto é, não há emissões
atmosféricas. Isso nem sempre acontece nas grandes hidrelétricas, pois
novos reservatórios podem emitir gás metano devido à decomposição da
vegetação. Além disso, equipamentos elétricos são suscetíveis de
emissão de ozônio;

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 24


• Verdades: causa diversos problemas de caráter socioambiental, que
têm tornado cada vez mais difícil a viabilização do projeto de usinas de
grande porte, principalmente com reservatórios de regularização, os
quais, no entanto, podem contribuir para minimizar enchentes a jusante.

4.1 Produção de energia elétrica

A produção de energia da central hidrelétrica dependerá, dentre outros fatores, da


vazão de água efetivamente usada para produzir a energia mecânica que acionará o
gerador. Esta vazão recebe o nome de turbinável (ou turbinada), pois deverá acionar
a turbina que transmitirá energia ao gerador. (DOS REIS, 2011)

A análise energética de um aproveitamento hidrelétrico permite verificar que a


potência elétrica possível de ser obtida é dada por:

𝑃 = 𝜂𝑇𝑂𝑇 ∙ 𝑔 ∙ 𝑄 ∙ 𝐻

onde:
𝜂𝑇𝑂𝑇 é o rendimento total do conjunto, considerando as perdas em todas as estruturas
que estão no circuito hidráulico e equipamentos da usina que estão no circuito de
energia.
g: aceleração da gravidade, 9,8 m/s2
Q: vazão volumétrica (m3/s)
H: queda bruta (m)
P: potência elétrica (kW)

4.2 Esquemas, principais tipos e configurações

Em uma central hidrelétrica, a água aciona uma turbina hidráulica que movimenta o
rotor de um gerador elétrico para produção de energia. A turbina efetua a
transformação da energia hidráulica em mecânica.

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 25


Seu funcionamento, conceitualmente, é bastante simples: é o mesmo principio da roda
d’água que, movimentada pela água, faz girar um eixo mecânico. O gerador elétrico
tem seu rotor acionado por acoplamento mecânico com a turbina e transforma energia
mecânica em elétrica devido às interações eletromagnéticas ocorridas em seu interior.

Em geral, são usados geradores síncronos, porque os sistemas de potência devem


operar com frequência fixa (controlada como constante). (DOS REIS, 2011)

Existem dois tipos de centrais hidrelétricas, com desvio e de barramento. As figuras 9


e 10 apresentam as configurações destes tipos respectivamente.

A central hidrelétrica em desvio, baseia-se no desvio de água em certo local do rio


para a produção de energia elétrica e retorno de água ao rio em local com menor
altitude. De uma forma geral, tal configuração é mais utilizada para centrais de
pequeno porte. (PHILIPPI JR & DOS REIS, 2016)

Figura 9. Exemplificação de hidrelétrica com desvio

Fonte: <http://www.goodenergy.cl/images/central-paso.png>

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 26


A central em barramento impede totalmente a passagem do rio e contém, na própria
barragem, a tomada d’água, os condutos e a casa de máquinas. É a configuração mais
utilizada para as centrais hidrelétricas de médio e grande porte, quando as condições
topográficas são favoráveis a essa configuração. (PHILIPPI JR & DOS REIS, 2016)

Figura 10. Exemplificação de hidrelétrica com barragem

Legendas:
1 Reservatório;
2 Paredão da Barragem;
3 Grelhas de Filtração;
4 Canalização forçada;
5 Turbina e Alternador;
6 Turbina hidráulica;
7 Eixo;
8 Gerador Eléctrico;
9 Transformadores;
10 Linhas de transporte de energia eléctrica.

Fonte: <https://www.portal-energia.com/funcionamento-da-energia-hidrica-
barragens-hidroelectricas/>

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 27


4.3 Principais componentes da central hidrelétrica
Observe a Figura 11 contendo os componentes da central hidrelétrica.

Figura 11. Principais componentes da central hidrelétrica

Fonte: <https://www.meiacolher.com/2015/11/como-funciona-uma-usina-
hidreletrica.html?m=1>
A Figura 12 exemplifica os principais componentes da usina hidrelétrica de Tucuruí.

Figura 12. Principais componentes da central hidrelétrica de Tucuruí.

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 28


Fonte:
<http://cidadedetucurui.com/inicio/usina_hidreletrica_tucurui/USINA_HIDRELETRICA
_TUCURUI.htm>

4.3.1 Barragens

Tem como finalidade represar a água para captação e desvio, elevar o nível d’água
para aproveitamento elétrico e navegação e represar a água para regularização de
vazões e amortecimentos de ondas das enchentes.

Há diferentes tipos de barragens: de gravidade, em arco e de gravidade em arco, cuja


avalição e escolha são efetuadas por meio de considerações técnicas e econômicas,
afeitas principalmente à Engenharia Civil. (DOS REIS, 2011)

4.3.2 Extravasores

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 29


Dispositivos que permitem a passagem direta de água para jusante, são necessários
para descarregar as cheias e evitar que a barragem seja danificada; representam,
portanto, a segurança da barragem. (DOS REIS, 2011)

4.3.3 Extravasor-vertedor ou vertedor


É uma seção da barragem projetada para permitir a passagem livre de água sobre sua
crista. São muito comuns em barragens de gravidade e barragens em arco. (DOS REIS,
2011)

4.3.4 Comportas

São os componentes que permitem isolar a água do sistema final de produção da


energia elétrica, tornando possíveis, por exemplo, trabalhos de manutenção. (DOS
REIS, 2011)

4.3.5 Tomada de água

Permite retirar água do reservatório e proteger a entrada do conduto de danos e


obstruções provenientes de congelamento, tranqueira, ondas e correntes. (DOS REIS,
2011)

4.3.6 Dutos

Via por onde escoa a água, são classificados como condutos livres e condutos forçados.
Os livres podem ser em canais (a céu aberto) ou aquedutos. Os forçados são aqueles
nos quais o escoamento se faz com a água a plena seção. (DOS REIS, 2011)

4.3.7 Chaminés de equilíbrio ou câmaras de descarga

A primeira função é aliviar o excesso de pressões causado pelo golpe de aríete, que
ocorre quando o escoamento de um líquido por uma tubulação é abruptamente
interrompido pelo fechamento de uma válvula. Assim, a energia dinâmica converte-se
ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 30
em elástica e uma série de ondas de pressão positiva e negativa percorre a tubulação
nos dois sentidos até ser amortecida pelo atrito.

A segunda função é proporcionar suprimentos de água capazes de reduzir depressões


se houver qualquer operação abrupta. (DOS REIS, 2011)

4.3.8 Casa de força


É o local de instalação de turbinas hidráulicas, geradores elétricos, reguladores, painéis
e outros equipamentos do sistema elétrico da geração.

Um aspecto importante no projeto das centrais hidrelétricas, que influencia o arranjo


da casa de força, é a determinação da turbina mais apropriada a cada tipo de
aproveitamento. (DOS REIS, 2011)

4.3.9 Turbina

Equipamento que efetua a transformação da energia hidráulica em mecânica, nada


mais é que uma roda d’água moderna, projetada para uso mais eficiente, em função
das características de aproveitamento.

Existem variações e adaptações, mas os principais tipos de turbinas são Pelton, Francis
e Hélice (com ênfase às Kaplan, nas quais há possibilidade de variação de inclinação
das pás para obter o melhor rendimento em função do vazado e da queda d’água).
(DOS REIS, 2011)

4.3.10 Gerador elétrico

Transforma a energia mecânica em elétrica, sendo, na grande maioria das centrais


(tanto hidrelétricas quanto termelétricas) do tipo síncrono, embora geradores de
indução (assíncronos) sejam utilizados em pequenos números de projetos, em geral
de pequeno porte. (DOS REIS, 2011)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 31


4.4 Vantagens e desvantagens da hidroeletricidade

Vantagens:
• É uma fonte renovável de energia;
• É um sistema de conversão de energia altamente eficiente, com rendimentos
globais na faixa de 85–90%;
• Fonte interrupta de produção de eletricidade, o que garante mais confiabilidade;
• Permite armazenamento plurianual de energia, através de grandes volumes de
água acumulados;
• Tecnologia madura, amplamente testada;
• Custo de combustível nulo e custo de operação reduzido;
• Emite menos quantidades de gases de efeito estufa quando comparadas com a
geração termoelétrica;
• Baixo índice de geração de resíduos químicos contaminantes do meio ambiente.
(SANTOS, 2013)

Desvantagens:
• Alto investimento inicial para sua construção;
• Dependente de incertezas associadas à variabilidade da precipitação em uma
dada bacia hidrográfica;
• Interrupção do contínuo dos rios e cursos d’água;
• Inundação de grandes áreas, envolvendo perdas de espécies vegetais e
animais;
• Interrupção de migração de espécies aquáticas;
• Remobilização do mercúrio contido nos solos e biotransformação por metilação;
• Perdas de áreas agrícolas e outros usos do solo. (SANTOS, 2013)

UNIDADE 5. Sistemas eólicos de geração de energia elétrica

5.1 Mercado eólico moderno

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 32


Durante os últimos 30 anos, a indústria de turbinas eólicas se transformou em um
empreendimento de alta tecnologia. Os principais fabricantes de grandes turbinas
eólicas estão localizados na Dinamarca, Alemanha, Índia, Holanda, Espanha e nos EUA.

Geralmente, as empresas locais são contratadas para construir as fundações e


estabelecer a conexão com a rede elétrica, mas o restante do trabalho é baseado no
exterior. Se um projetor for superior a um dado volume, as estruturas simples, como
as torres, por exemplo, também podem ser adquiridas localmente. (PINTO, 2013)

5.2 Panorama do setor eólico

Em 2016, a capacidade instalada de energia eólica alcançou os 487 GW. O Brasil é o


9º maior produtor de energia eólica no mundo. No entanto, a China superou os
Estados Unidos com a maior participação na geração eólica mundial, 34,6% e
16,8% respectivamente. A Índia ultrapassou o Brasil neste último ano posicionando-
o na quarta colocação. A Dinamarca foi pioneira na geração eólica (100% em 1980).
(REN21, 2017)

O panorama brasileiro em 2015 destacou o Rio Grande do Norte com a maior


proporção na geração eólica brasileira, de 34,6%, superando o Ceará, 1º em 2014.
No fator de capacidade, a Bahia teve o maior (42,9%) e o Ceará o 2º. Ao final de 2020
serão 17,95 GW instalados em território brasileiro.

5.3 Parâmetros que viabilizam a energia eólica

A utilização dos recursos eólicos para a produção de energia elétrica depende de


diversos parâmetros que permitem viabilidade econômica bem como as características
técnicas e operacionais do empreendimento.

5.3.1 Velocidade do vento

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 33


No aproveitamento da energia eólica para fins de geração de eletricidade, torna-se
importante distinguir os tipos de variações temporais de velocidade dos ventos:
(PHILIPPI JR & DOS REIS, 2016)

• Variações interanuais: são lentas, na velocidade dos ventos causadas por


fenômenos de mesoescala. Ocorrem em escalas de tempo maiores que
um ano. O conhecimento da variação interanual da velocidade dos
ventos é de grande importância na estimativa de longo prazo da
produção de energia de um aerogerador;

• Variações sazonais: o aquecimento desigual da Terra durante as


estações do ano provoca variações significativas na velocidade média dos
ventos ao longo de um mês e ao longo de um ano. Essas variações
também estão associadas a fortes efeitos de mesoescala e são de grande
importância nos estudos eólicos, principalmente no Brasil, pois têm
impacto significativo na capacidade dos aerogeradores de complementar
a demanda da rede elétrica em regiões onde existe mutualidade entre
geração eólica e hídrica;

• Variações diárias: o aquecimento desigual da superfície terrestre, em


função da variação da quantidade de radiação solar incidente ao longo
do dia, provoca alterações na velocidade do vento em regiões de
diferentes latitudes e altitudes. São observadas no litoral, em função das
brisas de montanhas/vales, associados a efeitos de canalização
(orográficos);

• Variações de curta duração: estão associadas a pequenas flutuações


(turbulências), como também a rajadas de ventos. Variações dadas em
intervalos de minutos a décimos de segundos, para o projeto construtivo
da turbina eólica, pois flutuações turbulentas na velocidade do vento

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 34


induzem forças cíclicas nos diversos componentes da turbina eólica,
podendo causar problemas de estresse e fadiga.

Em eólica, para análise dos dados da velocidade do vento, costuma-se dividir tais
dados em intervalos de 1 m/s. São medidos em estações anemométricas, que
registram a velocidade do vento em faixas predefinidas, na maioria das vezes, minutos
ou horas (geralmente se utilizam 10 min). Um exemplo são histogramas mostrando as
horas que o vento sopra para cada faixa de velocidade de vento (Figura 13). (PINTO,
2013)

Figura 13. Histograma representando a velocidade do vento por horas

Fonte:
<http://mcensustainableenergy.pbworks.com/w/page/20638195/The%20Wind%20E
nergy%20Resource>

Em termos de velocidade média do vento, a distribuição de Rayleigh representa bem


os dados da distribuição (PINTO, 2013):

𝜋𝑣 𝜋 𝑣 2
𝑓(𝑣) = 𝑒𝑥𝑝 [− ( ) ]
̅̅̅2
2𝑣 4 𝑣̅

onde 𝑣̅ é a velocidade média do vento (m/s) e v é a velocidade do vento (m/s).

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 35


Uma ferramenta conveniente é a rosa dos ventos, que mostra como a velocidade e
a direção do vento estão tipicamente distribuídas em determinada área (Figura 14). O
comprimento de cada setor é proporcional à frequência do vento; logo, no centro,
temos ventos mais calmos.

A rosa dos ventos é usada, geralmente, para representar dados anuais, sazonais ou
mensais. (PINTO, 2013)

Figura 14. Exemplo de uma Rosa de Ventos

Fonte: <https://nj.usgs.gov/grapher/tutorial/graphs/example_wind_rose.png>

5.3.2 Rugosidade do terreno

Em geral, quanto mais acentuada a rugosidade do terreno, maior será a diminuição


da velocidade do vento. Dessa forma, a rugosidade do terreno onde será feito o
aproveitamento eólico deve ser baixa, de modo a diminuir a menores taxas a

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 36


velocidade do vento na altura do rotor. Baixas rugosidades também são desejáveis no
entorno do terreno, na direção principal do vento. (SANTOS, 2013)

Para descrever o relevo de uma superfície, normalmente são utilizadas curvas de nível.
A Figura 15 ilustra o escoamento do vento apresentando o desenvolvimento do perfil
de velocidade versus altura.

Figura 15. Escoamento do vento apresentando o desenvolvimento do perfil de


velocidade versus altura

Fonte: (FERREIRA e LEITE, 2015)

A Tabela 8, de Troen e Petersen, mostra a classificação da superfície quanto à


rugosidade, fazendo uma divisão em quatro partes. É amplamente utilizada
academicamente como em situações comerciais, fornecendo um bom farol para o
estudo preliminar da rugosidade do terreno e do vento envolvido. I (10 m) simboliza
a intensidade de turbulência a 10 metros de altura Z0 para a respectiva classe. (PINTO,
2013)

Tabela 8. Classificação da superfície quanto à rugosidade

Classe Descrição Z0 (m) I (10 m)


0 Água (lagos e 0,0001-0,001 0,08-1,10
mares) areia suave
ou neve

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 37


1 Grama, fazenda 0,01-0,03 0,14-0,17
com algumas
construções ou
árvores
2 Fazendas em 0,05-0,10 0,18-0,21
terrenos mais
abertos
3 Arbustos, árvores, 0,20-0,40 0,25-0,30
subúrbios e
pequenas cidades

Fonte: (PINTO, 2013)

Existe uma relação empírica determinando que o comprimento da rugosidade seja


igual a:
𝑍0 = 0,5(ℎ𝑆⁄𝐴)
onde h é altura da rugosidade (m), S é a seção transversal do elemento de rugosidade,
Z0, é o ponto-altura onde o vento tem velocidade nula. No caso de um obstáculo de
comprimento L, e I sendo a distância entre um obstáculo e outro, temos (PINTO,
2013):
𝑍0 = 0,5(ℎ2 ⁄𝐼 )

5.4 Turbinas eólicas

Os sistemas eólicos de conversão de energia são classificados em dois tipos, a saber:


aqueles que utilizam a força de arrasto e os que utilizam a força de sustentação. Nelas
são usados aerofólios que interagem com o vento. As turbinas eólicas que utilizam a
concepção de força de sustentação podem ser divididas, de acordo com a orientação
do seu eixo de giro, em turbinas de eixo vertical ou de eixo horizontal. (SANTOS, 2013)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 38


5.4.1 Turbinas com eixo vertical

Os projetos mais antigos de rotores eólicos destacavam motores com eixo de rotação
vertical.
Vantagens:
• Opera indiferentemente da direção do vento;
• Reduz o custo por ter a parte eletromecânica no solo.

Desvantagens:
• Requer um sistema de partida para acionamento em baixas velocidades;
• Capacidade limitada em elevadas velocidades;
• Menor capacidade de produção de energia por estar mais perto do solo;
• Elevado custo da fabricação das pás em alumínio.
Existem vários modelos deste tipo de turbina. A Figura 16 mostra vários tipos de
turbinas de eixo vertical. No entanto, a única máquina de eixo vertical que teve algum
sucesso comercial foi o Rotor de Darrieus.

Figura 16. Tipos de turbinas de eixo vertical

Fonte: (GATE, 2018)

Embora a configuração phi () ou formato de batedeiras de ovos seja o mais comum,
Darrieus concebeu vários outros formatos, incluindo delta, diamante e Y (Figura 17).

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 39


Figura 17. Formatos de turbinas de Darrieus

Fonte: <https://vawtturbine.wordpress.com/2011/07/14/types-of-vertical-axis-wind-
turbines/>

5.4.2 Turbinas com eixo horizontal

Todos os aerogeradores, atualmente conectados à rede elétrica, são construídos com


turbinas de eixo horizontal. A superioridade desse modelo até o momento é baseada
amplamente nas seguintes características:

• A velocidade do rotor e a saída de potência podem ser reguladas pelo controle


do ângulo das pás. Além disso, tal controle é a proteção mais eficiente contra
o excesso de velocidade (especialmente nas grandes turbinas eólicas);
• O formato das pás do rotor pode ser otimizado aerodinamicamente, e foi
provado que ele alcança sua eficiência máxima quando a sustentação
aerodinâmica é levada ao nível máximo;
• Não menos importante é a liderança tecnológica no desenvolvimento em
projetos de hélices.

Vantagens:
• Rotor multipás — podendo chegar a 20 ou mais pás e funcionando bem
a baixas velocidades;
• Rotor de duas ou três pás — o mais utilizado para a geração de energia
elétrica;
• Alta eficiência — uma vez que as pás encaram perpendicularmente o
vento.
Desvantagens:

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 40


• Dificuldade na instalação de uma alta torre;
• Dificuldade no transporte dos equipamentos;
• Exigência de um sistema de controle para girar as pás em direção ao
vento;
• Construção complexa da torre para apoiar o peso das pás e do cubo.

Já que quase todas as turbinas eólicas são de eixo horizontal, ainda existe uma
controvérsia sobre qual máquina é melhor: downwind (quando o vento incide na parte
traseira da área de varredura da turbina) ou upwind (quando o vento incide na parte
dianteira da área de varredura da turbina) (ver Figura 18).

A máquina downwind tem a vantagem de deixar o vento por si só controlar o ajuste,


ela naturalmente se orienta em respeito à direção do vento. Elas, entretanto, têm um
problema: os efeitos de sombra do vento devidos à torre. Toda vez que a pá passa
atrás da torre, ela encontra um curto período no qual o vento é reduzido, fazendo com
que a pá se flexione. Essa flexão não somente tem o potencial de levar a pá à fadiga
como também aumenta o ruído da pá e reduz o potencial de saída.

Turbinas upwind necessitam, de algum modo, de um complexo sistema de ajuste para


manter as pás voltadas para o vento. Em troca dessa complexidade, a máquina upwind
termina operando mais suavemente e fornecendo mais potência. A maioria das
turbinas eólicas modernas é do tipo upwind. (PINTO, 2013)

Figura 18. Turbinas upwind e downwind

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 41


Fonte: <https://govschoolagriculture.com/tag/wind-turbines/>

Componentes de uma turbina de eixo horizontal

A Figura 19 representa as diferentes partes de uma turbina eólica.

Figura 19. Partes de uma turbina eólica

Fonte: <http://www.adamantina.sp.gov.br/jsfsite/expoVerde/eolica.html>

• Torre: sustenta o rotor e a nacele, além de erguer todo o


conjunto a uma altura onde as pás possam girar com segurança
e distantes do solo;
• Nacele: contém caixa de engrenagens, freio e o gerador elétrico.
Protege os componentes de elementos externos;
• Pás do rotor: captam o vento e convertem sua potência ao
centro do rotor;
• Rotor: converte energia cinética dos ventos em energia
mecânica;

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 42


• Transmissão: transmite a energia mecânica do eixo do rotor
para o gerador;
• Caixa multiplicadora: a finalidade de adaptar a baixa
velocidade do rotor à velocidade mais elevada dos geradores;
• Gerador de eletricidade: é uma bobina girando em um campo
magnético. Converte a energia mecânica em energia elétrica, ou
seja, transforma o torque do giro do rotor em eletricidade;
• Mecanismos de controle: usam sensores para o bom
funcionamento e a segurança do sistema, para melhor aproveitar
o vento;
• Controle de potência: visa evitar o sobrecarregamento elétrico
e do sistema de transmissão quando ocorre o aumento do fluxo
de ar e o consequente aumento das forças de sustentação
aerodinâmicas, causando o aumento na energia extraída da
turbina. Para isso, deve-se reduzir as forças motrizes que atuem
em cada pá do rotor, bem como a carga total que atua na
estrutura da turbina;
• Anemômetro: medidor de velocidade do vento. Normalmente de
10 em 10 minutos;
• Freios: detêm a rotação do eixo em caso de sobrecarga de
energia ou falha no sistema. (SANTOS, 2013)

O principal funcionamento da turbina é transformar a energia cinética (energia eólica)


do vento sobre a pá em energia mecânica e, posteriormente, em Energia Elétrica. A
figura a seguir demonstra esse funcionamento.

Figura 20. Exemplificação da transformação de energia usando turbinas eólicas

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 43


Fonte: <https://centraiselectricas.wordpress.com/energia-eolica/>

A indústria de fabricantes de turbinas eólicas é dominada por um pequeno grupo.


Vestas (dinamarquesa), GE (americana), Gamesa (espanhola), Enercon (alemã) e
Suzlon (indiana) tinha 62% do mercado em 2008. Em 2010, a Vestas manteve sua
posição como o maior fabricante de turbinas eólicas no mundo. A chinesa Sinovel
entrou na lista dos 10 maiores em 2007 e se tornou o segundo maior do mundo em
2010. A GE Energy (EUA) passou da 3ª colocação, em 2010, para a 6 a posição em
2011. No Brasil, existem fábricas da GE Energy e Enercon. (PINTO, 2013)

Localizado na costa britânica, o parque eólico de Thanet era considerado, até janeiro
de 2012, o maior parque offshore do planeta, com 100 turbinas de 100 m de altura e
300 MW de potencial nominal. (PINTO, 2013) O maior parque eólico onshore localizado
na Califórnia, Estados Unidos, desde 2013 possui capacidade instalada para gerar
1.547 MW de energia (Alta Wind Energy Center).

5.5 Impacto ambiental da utilização da energia eólica

A energia eólica também pode produzir impactos ambientais, apesar de não estarem
relacionados à emissão de gases ou resíduos. Sendo os seguintes:

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 44


5.5.1 Impacto visual
O nível de impacto visual é influenciado por fatores como o tipo de paisagem, as cores
e o número de pás, a quantidade e o design das turbinas.

As turbinas de grande porte constituem uma alteração na paisagem. O efeito cíclico


da sombra da pá em movimento pode gerar desconforto às pessoas residentes
próximas a uma turbina eólica. Na Alemanha e na França, a distância mínima das
residências é de 500 m. (PINTO, 2013)

5.5.2 Impacto sonoro


Uma turbina eólica produz ruído, que, mesmo sendo mínimo, pode gerar incômodo às
pessoas em residências próximas. Sons de baixa frequência, em particular inferiores a
20 Hz, são conhecidos por causar efeitos fisiológicos como náuseas e dores de cabeça.
O limite inferior da audição humana é em torno de 0 decibel. Valores acima de 60 dB
já causam irritações, e a partir de 100 são prejudicais.

Dados mostram que uma turbina eólica a 300 m emite em torno de 40 dB. Os tipos
de impacto sonoro podem ser a partir do ruído mecânico ou aerodinâmico. (PINTO,
2013)

5.5.3 O impacto nas aves


O impacto total da energia eólica em pássaros, morcegos e outros animais é
extremamente baixo comparado ao de outras atividades. Há dois pontos a serem
analisados nesta questão:
• os efeitos sobre as populações de pássaros das mortes provocadas por turbinas
eólicas;
• a violação de trajetórias de migração de pássaros.

5.5.4 Impacto devido à interferência com ondas de rádio e TV

Turbinas eólicas podem interferir nas transmissões de ondas eletromagnéticas. O sinal


direto da estação de TC pode ser perturbado pelo giro das pás se a turbina eólica
ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 45
estiver posicionada diretamente em linha com o receptor. Esse efeito é extremamente
acentuado na faixa de UHF.

A segunda, mas muito menos significativa, é causada pela turbina ao refletir o sinal,
de modo que os receptores localizados em um angulo correspondente de reflexão
recebam um segundo e não desejado sinal. (PINTO, 2013)

5.5.5 Impacto em sítios arqueológicos


Recursos históricos, sagrados e arqueológicos podem ser prejudicados por impactos
que afetem a integridade desses recursos ou de oportunidade futuras de investigação
e apreciação. (PINTO, 2013)

UNIDADE 6. Sistemas solares para geração de eletricidade

Os sistemas baseados no uso da energia transmitida à Terra pelo Sol, para geração
de eletricidade, podem ser divididos em alguns tipos básicos, dos quais os dois mais
conhecidos são:
• Os sistemas fotovoltaicos autônomos, que efetuam a transformação da
energia solar em elétrica diretamente;
• Os sistemas termossolares, nos quais a energia solar é usada para
produzir o vapor que acionará uma termelétrica ou uma máquina a
vapor. (DOS REIS, 2011)

Além desses, podem ser citados os sistemas que se encontram em fase de grande
avanço de pesquisa, atualmente:
• Os sistemas fotovoltaicos de concentração baseados no desenvolvimento
de sistemas de concentração solar (discos parabólicos, lentes e outros)
que direcionam a energia para minicélulas fotovoltaicas;
• A chaminé solar, cujo conceito acopla energia solar e energia eólica, mas
que ainda apresenta diversos desafios para viabilização econômica. (DOS
REIS, 2011)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 46


6.1 Sistemas fotovoltaicos

A energia solar pode ser convertida diretamente em eletricidade utilizando-se das


tecnologias de células fotovoltaicas. Existem materiais classificados como
semicondutores, que se caracterizam por possuírem uma banda de valência totalmente
preenchida por elétrons e uma banda de condução totalmente vazia a temperaturas
muito baixas.

Uma propriedade fundamental para as células fotovoltaicas é a possibilidade de fótons,


na faixa do visível, com energia superior ao gap do material, excitarem elétrons de
forma que estes passem à banda de condução. Esse efeito, que pode ser observado
em semicondutores puros, também chamados de intrínsecos, não garante por si só o
funcionamento de células fotovoltaicas. Para obtê-las é necessária uma estrutura
apropriada para que os elétrons excitados possam ser coletados, gerando uma
corrente útil. Para isso, são acrescentados aos átomos de silício, átomos de fósforo e
boro, em um processo conhecido como dopagem de silício, formando uma junção pn.

Quando uma junção pn fica exposta a fótons com energia maior que o gap existente
entre a banda de valência e condução, ocorre a geração de pares elétron-lacuna; se
isto acontecer na região onde o campo elétrico é diferente de zero, as cargas são
aceleradas, gerando, assim, uma corrente por meio de junção; esse deslocamento de
cargas dá origem a uma diferença de potencial, chamada efeito fotovoltaico. (DOS
REIS, 2011)

A célula de silício monocristalino é historicamente a mais utilizada. Porém, existe uma


grande quantidade de outros semicondutores capazes de produzir células solares com
eficiência razoável, tais como o próprio silício, na forma amorfa ou policristalina. A
Figura 21 ilustra um módulo fotovoltaico feito com células de silício mono e
policristalina.

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 47


Figura 21. Tipos de células fotovoltaicas

Fonte: <https://pt.solar-energia.net/energia-solar-fotovoltaica/tipos-celulas-
fotovoltaicas>

6.1.1 Sistema fotovoltaico autônomo

Compreende o agrupamento de módulos em painéis fotovoltaicos e de outros


equipamentos relativamente convencionais, que transformam ou armazenam a
energia elétrica para que possa ser utilizada facilmente pelo usuário. (DOS REIS, 2011)

Os principais constituintes desse sistema são: conjunto de módulos fotovoltaicos,


regulador da tensão, sistema para armazenamento de energia e inversor de corrente
contínua/corrente alternada (Figura 22).

Figura 22. Principais constituintes do sistema fotovoltaico

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 48


Fonte:
<http://www.cresesb.cepel.br/index.php?section=com_content&lang=pt&task=print
&cid=341>

O módulo é o dispositivo gerador (painel solar) que consiste em um conjunto de células


fotovoltaicas interligadas e conectadas. A interligação dos módulos define a tensão e
a corrente de saída, sempre em corrente contínua (CC). O sistema de armazenamento
de energia é constituído de baterias eletroquímicas.

Assim como o gerador fotovoltaico, as baterias são aparelhos estáticos de CC e baixa


tensão. O subsistema condicionador de potência, conhecido como PSC (Power
Conditioning Subsystem) permite a interligação da fonte de energia elétrica, gerada
pelo arranjo dos módulos na forma de corrente contínua com uma carga ou um sistema
de potências em corrente alternada (CA).

O PCS tem como função controlar o acionamento/desligamento e o ponto de operação


do arranjo fotovoltaico; efetuar a proteção do sistema; além, obviamente de controlar
a conversão de CC para CA. O componente mais importante do PSC é o inversor, que
deve converter a energia CC para a forma CA. (DOS REIS, 2011)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 49


6.1.2 Potência e energia geradas pela instalação

A potência gerada Pg(t) dependerá basicamente de dois fatores:


• A radiação solar horária incidente no plano coletor (painel);
• A potência instalada, que estará ligada à área do painel e a suas características
e a dos demais equipamentos constituintes do sistema condicionador de
potência.

A potência gerada em um sistema fotovoltaico é dado pela seguinte expressão:

𝑃𝑔 (𝑡) = 𝜂 ∙ 𝐴 ∙ 𝑅𝑠 (𝑡)

onde:
• 𝜂 é o rendimento total do sistema, composto pelo produto do rendimento
do painel solar mais o rendimento do sistema de condicionamento da
potência. A tabela a seguir relaciona os rendimentos obtidos,
considerando que a eficiência para PSC é de 95% de plena carga e das
centrais varia entre 9-10%.

Tabela 9. Rendimentos de células e módulos fotovoltaicos

Fonte: <http://css.umich.edu/factsheets/photovoltaic-energy-factsheet>

• A é a área do painel solar. Geralmente, calculada pela expressão (DOS


REIS, 2011):

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 50


𝑃𝐼
𝐴=
𝜂 ∙ 𝑅𝑆𝑀
onde: PI é a potência instalada e RSM, a radiação solar máxima, esta última costuma-
se usar o valor de 1kW/m2.

• Rs(t) a radiação solar incidente, em função do tempo.

A energia anual gerada pelo sistema fotovoltaico pode ser expressa por:
𝐸𝐺 = 𝑃𝑅 ∙ 𝐹𝐶 ∙ 8760 ℎ⁄𝑎𝑛𝑜
onde:
• EG= energia gerada por ano (kWh/ano);
• Fc= fator de capacidade, definido de modo similar que as hidrelétricas e
ou termelétricas. A tabela a seguir resume dados obtidos para instalações
nos Estados Unidos:

Tabela 10. Fatores de capacidade para diferentes plantas

Fonte: <http://euanmearns.com/solar-pv-capacity-factors-in-the-us-the-eia-data/>

6.2 Geração termossolar

É um processo que converte a energia solar em energia térmica e esta, por sua vez,
em energia elétrica. Em sua forma mais completa, o processo de conversão passa por
quatro sistemas básicos: coletor, receptor, transporte-armazenamento e conversão
elétrica.

O coletor tem a função de captar e concentrar a radiação solar incidente na superfície


do coletor e dirigi-la até o sistema no qual a radiação é convertida em energia térmica.

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 51


O receptor absorve e converte a radiação solar, transferindo o calor a um fluido de
trabalho. No sistema de transporte-armazenagem, o fluido é transferido para o
sistema, no qual a energia térmica converte-se em energia mecânica, por meio dos
ciclos básicos termodinâmicos — o Ciclo de Rankine (vapor) e Brayton (gás), entre
outros, dependendo da temperatura e da natureza do fluido.

A conversão de energia mecânica em energia elétrica é feita por meio dos mesmos
processos convencionais utilizados na geração termelétrica a combustíveis fósseis.
(DOS REIS, 2011)

A Figura 23 representa um sistema termossolar definindo seu funcionamento.

Figura 23. Estrutura de um sistema termossolar

Fonte: <http://essaseoutras.com.br/energia-termo-solar-usinas-funcionamento-
explicacao-e-utilizacao/>

6.3 Energia solar concentrada

A CSP (energia solar concentrada) consiste na produção de eletricidade de modo


similar às termelétricas. Grandes espelhos ou calhas parabólicas concentram a luz solar
em uma única linha ou ponto e o calor produzido se converte em vapor quente que,

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 52


em alta pressão, movimenta turbinas e assim geram eletricidade. Os melhores
exemplos de projetos estão na Espanha e no Estados Unidos.

Consiste na concentração dos raios solares em um ponto específico, onde um fluido é


aquecido e transferido para determinado uso (geração de energia elétrica), também
chamada de Energia Heliotérmica. Os três tipos mais utilizados são:

• Cilindro parabólico;
• Torre central;
• Disco parabólico.

6.3.1 Energia solar concentrada — cilindro parabólico

A tubulação é feita de aço e utiliza como fluido óleo sintético, conseguindo operar em
faixa de temperatura entre 180–300°C.

A energia acumulada é transferida para trocadores de calor, gera vapor e após o vapor
gera energia elétrica (Figura 24).

Figura 24. Sistema e ciclo do cilindro parabólico

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 53


Fonte: <http://energiaheliotermica.gov.br/pt-br/energia-heliotermica/como-
funciona>

6.3.2 Energia solar concentrada — torre central

Um conjunto de espelhos com área entre 30–150 m2 envia a luz solar a uma torre de
aproximadamente 90 m de altura. O receptor, instalado na torre, consegue obter
temperaturas na faixa entre 700–1000 C e o líquido aquecido é bombeado para a base,
onde gera vapor e depois energia elétrica (Figura 25).

Figura 25. Sistema de energia solar concentrada — torre central

Fontes: <http://energiaheliotermica.gov.br/pt-br/energia-heliotermica/como-
funciona>; <http://atriaeenergy.com.br/midia/israel-constroi-maior-torre-de-
energia-solar-do-mundo/>.

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 54


6.3.3 Energia solar concentrada — disco parabólico

Gera eletricidade diretamente no próprio receptor. Os raios incidem no coletor para o


ponto focal alcançando temperaturas na faixa entre 350–700 C. Utiliza baixas
potências e transforma a energia térmica em energia elétrica mediante um motor
stirling (Figura 26).

Figura 26. Sistema de energia solar concentrada — disco parabólico

Fontes: <http://energiaheliotermica.gov.br/pt-br/energia-heliotermica/como-
funciona>; <http://pt.solar-energia.net/solar-termica/temperatura-alta>.

UNIDADE 7. Outras fontes de energias alternativas — Parte I

7.1 Energia geotérmica

É a energia obtida a partir do calor proveniente do interior da Terra. A temperatura do


solo aumenta conforme a profundidade, mas em virtude das zonas de intrusões
magmáticas, existem regiões muito mais quentes e mais próximas da superfície, a um
potencial geotérmico elevado.

A energia geotérmica é considerada limpa, e seu aproveitamento para geração de


eletricidade é igual ao de uma termelétrica, pois o calor produz o vapor de água que
ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 55
movimenta a turbina. Outra vantagem é a densidade energética da planta, sendo que
a geração geotérmica não precisa de reservatórios e não gera resíduos.

É uma das poucas formas de energias renováveis que não é direta ou indiretamente
obtida da radiação solar. A temperatura de milhares de graus vem do interior da Terra,
do magna. Parte da energia de seu aquecimento provém do decaimento radiativo de
isótopos de urânio-235, urânio-238, tório-232 e potássio– 40.

A perda de calor até a superfície gera este gradiente de calor, aquecendo aquíferos.
Na Europa, por exemplo, a cada 30 m de profundidade, a temperatura sobe 1C.

A energia geotérmica está associada a um aquífero, que é uma formação geológica do


subsolo constituída por rochas permeáveis, armazenando água em seus poros ou em
suas fraturas. O aquífero pode ter extensão de poucos a milhares de quilômetros
quadrados, ou também, apresentar espessuras de poucos a centenas de metros
(Figura 27).

Figura 27. Princípio de funcionamento da energia geotérmica

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 56


Fonte: <http://horizontescientificos.blogspot.com.br/2013/01/vulcoes-fontes-de-
energia-geotermica_18.html>

Há muitos anos, cientistas reconheceram que o calor existente no subsolo terrestre


apresenta um bom potencial para substituir os combustíveis fósseis na geração de
eletricidade. A exploração geotérmica teve início na Grécia e Roma Antiga, onde a
água quente era aproveitada para medicina, lazer ou uso doméstico.

A primeira usina geotérmica no mundo foi criada em 1904, na Itália (Larderello), e em


1913 já produzia 250 kWe. Atualmente, a planta produz 700 Mwe e tem previsão de
produzir 1 GWe. Os países com grande potencial geotérmico são: Itália, Islândia,
Estados Unidos, México, Filipinas, Nova Zelândia, Japão, Turquia, Rússia, China,
França, Indonésia, El Salvador, Quênia e Nicarágua.

7.1.1 Panorama internacional de energia geotérmica

A geração de energia geotérmica alcançou em 2016 o valor de 13.5 GW, 0.4 GW a


mais em comparação de 2015 (Tabela 11). (REN21, 2017)

Tabela 11. Produção global de Energias renováveis para o ano 2016

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 57


Fonte: (REN21, 2017)

A Indonésia teve um acréscimo de 46% em produção de energia geotérmica em 2016,


junto a Turquia (44%) foram os países que incrementaram a sua produção neste
último ano (Tabela 12). No final de 2016, os países com maiores quantidades de
energia geotérmica foram Estados Unidos (3,6 GW), Filipinas (1,9 GW), Indonésia (1,6
GW), México (0,9 GW), Nova Zelândia (1,0 GW), Itália (0,9 GW), Islândia (0,8 GW),
Turquia (0,8 GW), Quénia (0,6 GW) e Japão (0,5 GW) (Figura 28). (REN21, 2017)

Tabela 12. Capacidade de produção global de energia Geotérmica — 2016

Fonte: (REN21, 2017)

Figura 28. Contribuição da produção de Energia geotérmica — 2016

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 58


Fonte: (REN21, 2017)

A Turquia está a caminho de atingir a meta de 1 GW de capacidade de energia


geotérmica até 2023. Em 2016, o país instalou 10 usinas geotérmicas incrementando
sua capacidade em 200 MW para um total de 821 MW em 2016. (REN21, 2017)

7.2 Energia dos oceanos

É classificada como sustentável e limpa. Existem várias formas para se aproveitar a


energia provida por eles, contida no fluxo das marés, das correntes marítimas e das
ondas, assim como a energia presente no diferencial térmico (termoclinas).

Os oceanos estendem-se por 71% da superfície do globo terrestre, ocupando uma


área de 361 milhões de km2. Utilizando-se essa área poder-se-ia efetuar uma
estimativa do potencial de uso na ordem de 40 bilhões de MW se tudo corresse bem
e seu uso integral fosse possível. A energia contida nos oceanos existe na forma de
marés, ondas, gradiente térmico, salinidade, correntes e biomassa marítima. Embora
o fluxo total de energia de cada uma dessas fontes seja grande, apenas uma pequena
fração desse potencial é passível de ser explorada em um futuro previsível. (DOS REIS,
2011)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 59


Há duas razões para isso:
• a energia oceânica é de baixa densidade, requerendo uma planta de
grande porte para sua captação;
• essa energia frequentemente está disponível em áreas distantes dos
grandes centros de consumo.

7.3 Energia das marés

É proveniente do enchimento e esvaziamento alternados das baías e dos estuários,


que, sob certas condições, fazem com que o nível das águas suba consideravelmente
na maré cheia. Um esquema de aproveitamento das marés contém uma barragem,
construída em um estuário e equipada com uma série de comportas permitindo a
entrada da água para a baía. A eletricidade é gerada por turbinas axiais cujo diâmetro
chega a atingir até 9 m. (DOS REIS, 2011)

• Dois tipos de turbinas podem ser usados:


• Turbina bulbo convencional;
• Turbina Straflo (Figura 29).

Figura 29. Príncipio de funcionamento de uma turbina Straflo

Fonte: <http://slideplayer.es/slide/1724833/>

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 60


7.4 Geração na maré alta

Durante a maré alta, a água entra na baía através das comportas e é mantida até a
maré recuar suficientemente, criando um nível satisfatório no qual a água é liberada
por meio das turbinas para geração de eletricidade (Figura 30). (DOS REIS, 2011)

Figura 30. Princípio de funcionamento de geração de energia pelas marés

Fonte:
<http://www.apoioescolar24horas.com.br/salaaula/estudos/fisica/100_energias_alter
nativas/energiasalternativas.html>

O processo de liberação das águas é mantido até a maré começar a subir novamente,
fazendo com que a diferença de nível caia abaixo de um ponto de operação mínimo.
Tão logo a água começa a subir, entra na baía novamente, repetindo o ciclo. (DOS
REIS, 2011)

7.4.1 Energia das marés

A máxima energia que se pode retirar das marés é dada pela expressão:
Emax= ηδgR2S

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 61


Onde:
δ= densidade da água do mar
g= aceleração da gravidade
R= altura da maré
S= altura total da baía
η= eficiência de conversão da energia mecânica em eletricidade

7.4.2 Energia das ondas

Tem como fonte os ventos originados pelo aquecimento das massas de ar pelo Sol. As
ondas contêm energia cinética descrita pela velocidade das partículas de água.

Energia potencial é uma função da quantidade de água deslocada do nível médio


do mar. A conversão de energia das ondas em eletricidade não é simples por causa
da baixa frequência das ondas (ao redor de 0,1 hertz), devendo ser aumentada para
a velocidade de rotação das máquinas elétricas e mecânicas convencionais, em torno
de 1500 e 1800 rpm. (DOS REIS, 2011)

Existe uma grande variedade de tecnologias (Figura 31).


• shoreline;
• near-shore;
• offshore.
Figura 31. Tipos de tecnologias utilizadas para geração de energia das ondas

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 62


Fonte: <http://www.alternative-energy-tutorials.com/wave-energy/wave-
energy.html>

A conversão de energia a partir das ondas apresenta claras semelhanças com a eólica.
Dado que as ondas são produzidas pela ação do vento, os dois recursos apresentam
idêntica irregularidade e variação sazonal. Em ambos os casos, extrai-se energia de
um meio fluido, em movimento e de extensão praticamente ilimitada.

7.5 Energia do calor dos oceanos (gradiente térmico)

Uma parte significativa da radiação solar incidente na superfície da Terra é usada no


aquecimento das águas dos oceanos. Esta temperatura decresce com a profundidade
dos oceanos. O conceito de conversão de energia térmica dos oceanos (Ocean Thermal
Energy Conversion — OTEC) explora essa diferença de temperatura para produzir
eletricidade.

As plantas OTEC podem ser construídas em terra ou instaladas em plataformas


flutuantes ou barcos no mar. Em ambos os casos, o componente essencial é o enorme
tubo requerido para levar a água fria à superfície. Para uma planta de 100 MW o tubo
pode alcançar 20 m de diâmetro e comprimento de 600 a 1000 m. (DOS REIS, 2011)

Na Figura 32 podemos observar o funcionamento do tubo. A água quente da superfície


é bombeada para um evaporador, no qual um fluido de trabalho (amônia, propano ou
freon) é evaporado. O vapor flui através da turbina para o condensador, onde é

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 63


refrigerado e condensado pela água fria bombeada da profundidade do oceano. O
fluido condensado é bombeado de volta para o evaporador, fechando o ciclo. (DOS
REIS, 2011)

Figura 32. Geração de energia por gradiente térmico

Fonte: <https://global.britannica.com/technology/ocean-thermal-energy-conversion>

Essas plantas são projetadas para trabalhar em ciclos fechados ou abertos. A Figura
33 representa uma OTEC operando em ciclo fechado.

Figura 33. Representação de uma planta OTEC operando em ciclo fechado

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 64


Fonte: <http://www.bluerise.nl/technology/ocean-thermal-energy-conversion/>

UNIDADE 8. Outras fontes de energias alternativas – Parte II

8.1 Sistemas híbridos

Representam uma forma importante de uso das energias renováveis para aplicação no
planejamento descentralizado e no suprimento energético de localidades isoladas.
Combina diversas fontes e considera as características específicas de cada uma delas
(por meio de melhor uso da sinergia global) e o perfil de consumo; tais sistemas
buscam otimizar o uso global energético.

Os sistemas híbridos podem ser formados apenas por fontes renováveis ou pela
combinação das renováveis com as não renováveis. Os sistemas híbridos são
concebidos de forma a maximizar a utilização de fontes de energia renováveis,
obtendo-se assim menos emissões atmosféricas em relação às tecnologias
convencionais de origem fóssil.

Das várias fontes energéticas utilizadas nos sistemas híbridos, as mais utilizadas são
as fontes renováveis solar e eólica. (DOS REIS, 2011)

Os principais benefícios de um sistema hibrido são:


• possibilidade de combinar duas ou mais fontes de energia renováveis;
• proteção ambiental, redução das emissões de CO2;
• fonte de energia abundante e inesgotável.

8.1.1 Sistemas Solar-Diesel e Eólico-Diesel

Nesse sistema, combina-se a disponibilidade de algum tipo de combustível com a


energia solar ou eólica. Por exemplo: óleo diesel (mais comum), gasolina, gás,
biomassa local. Atualmente são empregados sistemas de geradores diesel-solar e
diesel-eólico para alimentação de regiões isoladas em uma ampla gama de potência.
ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 65
Exemplo: alimentação de instalações de telecomunicações (Figura 34). (DOS REIS,
2011)
Figura 34. Sistema híbrido solar-diesel

Fonte: <http://www.powerhouseegypt.com/page/4047/solar-energy-diesel-hybrid>

8.1.2 Sistemas Solar–Eólico

Essas duas fontes de energia normalmente se comportam em conjunto de forma


anticíclica, conduzindo a uma nivelação de oferta durante o dia. Dependendo da
latitude, as menores intensidades do vento se dão no verão, quando as condições de
radiação solar são ótimas (Figura 35). (DOS REIS, 2011)

Figura 35. Sistema híbrido Solar-Eólico

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 66


Fonte: <https://energy.gov/energysaver/hybrid-wind-and-solar-electric-systems>

8.1.3 Sistemas Diesel-Eólico-Solar

A combinação de instalações de energia solar-eólica com geradores diesel leva a


conceitos híbridos que se projetam para o abastecimento seguro em redes isoladas.

Este tipo de instalação permite um serviço confiável e atrativo economicamente, pois


um maior aproveitamento dos recursos locais pode significar uma economia
substancial de combustíveis, com a vantagem de ser capaz de alimentar cargas
maiores, como câmaras frigoríficas e ar-condicionado.

Representa uma alternativa à geração a diesel convencional em sistemas isolados de


países em desenvolvimento (Figura 36). (DOS REIS, 2011)

Figura 36. Sistema híbrido Diesel-Eólico-Solar

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 67


Fonte: <https://www.th-energy.net/english/platform-renewable-energy-and-
mining/hybrid-power-plants/>

8.1.4 Sistemas Biogás-Eólico-Solar

As instalações de biogás-eólico-solar estão ganhando notável significado como


conceitos híbridos. O aumento dos gases provenientes de decomposição de matéria
orgânica oferece um potencial de energia crescente, que pode ser utilizado em centrais
térmicas para suprir a demanda de energia descentralizada.

Em relação aos sistemas autônomos, os híbridos apresentam a vantagem de


proporcionar melhor serviço elétrico e menos custos (Figura 37). (DOS REIS, 2011)

Figura 37. Sistema híbrido Biogás-Eólico-Solar

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 68


Fonte: <http://grist.org/article/2011-10-31-hybrid-power-plant-turns-wind-directly-
into-automotive-fuel/>

8.2 Características dos sistemas híbridos

Os sistemas híbridos isolados são utilizados para alimentar um conjunto de cargas


específicas, sem ligação à rede de distribuição de energia elétrica. Nestes sistemas é
necessário o uso de um armazenamento, para anular os períodos em que não exista
disponibilidade de fontes renováveis no local, neste caso Sol ou vento. A seguinte
Tabela apresenta a classificação dos sistemas híbridos quanto ao porte.

Tabela 13. Classificação dos sistemas híbridos quanto à capacidade instalada

Fonte: (DOS REIS, 2011)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 69


8.3 Célula e combustível

É um dispositivo eletroquímico no qual ocorrem reações de oxirredução, similares a


uma bateria, porém, a massa ativa é externa, normalmente na forma de gás
hidrogênio.

É um equipamento que transforma energia química de combustíveis diretamente em


energia elétrica, com uma eficiência em torno do dobro de qualquer máquina térmica.
Ao ser utilizado como fonte de energia em uma célula a combustível, o hidrogênio
libera energia e não cria quaisquer poluentes.

A reação química resultante dessa operação gera, além de energia, calor e vapor de
água. A geração de energia elétrica através das células a combustível ocorre por meio
de duas reações eletroquímicas parciais de transferência de carga entre dois eletrodos
separados, em um eletrólito apropriado; ou seja, a oxidação de um combustível no
ânodo e a redução de um oxidante no cátodo.

Escolhendo hidrogênio como combustível e oxigênio (do ar ambiente) como oxidante,


têm-se, na denominada célula ácida, a formação de água e produção de calor, além
da liberação de elétrons para um circuito externo, que podem gerar trabalho elétrico.

Existem atualmente vários tipos de células a combustível comerciais, classificadas


conforme seu eletrólito:
• Células a combustível de membrana polimérica (PEM);
• Células a combustível de ácido fosfórico (PAFC);
• Células a combustível de carbonato fundido (MCFC);
• Células a combustível de óxido sólido (SOFC);
ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 70
• Células a combustível alcalinas (AFC).

A figura a seguir ilustra as reações e características de cada um deste tipo de célula.

Figura 38. Comparação dos diferentes tipos de células a combustível

Fonte: <https://www.doitpoms.ac.uk/tlplib/fuel-cells/types.php?printable=1>

8.3.1 Célula a combustível de membrana polimérica (PEM)

A célula tipo PEM apresenta grande vantagem pela sua simplicidade e pelo seu
funcionamento. O eletrólito utilizado nesse tipo de célula é uma membrana de troca
iônica (polímero ácido sulfônico fluorizado ou outro polímero similar), que é boa
condutora de prótons do ânodo para o cátodo. Hidrogênio é utilizado como
combustível (Figura 39).

Figura 39. Funcionamento de uma Célula PEM

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 71


Fonte: <http://www.daviddarling.info/encyclopedia/P/AE_PEM_fuel_cell.html>

8.3.2 Célula a combustível alcalina (AFC)

O eletrólito utilizado é uma solução concentrada de hidróxido de potássio (KOH 85%


peso) para operar em temperaturas elevadas (aproximadamente 250C) e soluções
menos concentradas (35-50% peso) para temperaturas inferiores a 120C.

A redução do oxigênio no cátodo é mais rápida em eletrólitos alcalinos, comparados


com os ácidos e, por isso, existe a possibilidade da utilização de metais não nobres. A
desvantagem é o fato de os eletrólitos alcalinos dissolverem o gás carbônico e a
circulação do eletrólito na célula, tornando seu funcionamento mais complexo (Figura
40).

Figura 40. Célula a combustível alcalinas

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 72


Fonte: <http://www.daviddarling.info/encyclopedia/A/AE_alkaline_fuel_cell.html>

8.3.3 Célula a combustível de ácido fosfórico (PAFC)

Foram as primeiras a serem produzidas comercialmente. O eletrólito utilizado é o ácido


fosfórico, cuja concentração pode atingir 100%. Opera em temperaturas entre 160C
e 220C. A utilização de um ácido concentrado minimiza a pressão de vapor da água,
facilitando a gestão da água na célula (Figura 41).

Figura 41. Célula a combustível de ácido fosfórico

Fonte: <http://www.hybrid-vehicle.org/fuel-cell.html>

8.3.4 Célula a combustível de carbonato fundido (MCFC)

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 73


Utiliza como eletrólito uma combinação de carbonatos alcalinos (Na, K, Li) estabilizados
em um suporte de aluminato de lítio (LiAlO2). Opera em temperaturas entre 600–
700C, nas quais os carbonatos alcalinos formam um sal altamente condutor de íons.

Por causa das elevadas temperaturas, é possível utilizar diretamente o gás natural,
não havendo, portanto, a necessidade de reformadores externos (Figura 42).

Figura 42. Célula a combustível de carbonato fundido

Fonte: <https://www.researchgate.net/figure/Schematic-representation-of-a-molten-
carbonate-fuel-cell-MCFC-2_fig3_268811074>

8.3.4 Célula a combustível de óxido sólido (SOFC)

Opera em temperaturas entre 600–1000C, possibilitando assim velocidades de reação


elevadas sem a utilização de catalisadores nobres. O eletrólito utilizado é uma cerâmica
à base de óxido de zircônio (ZrO2), estabilizado com itria (Y2O3).

Neste caso o metano pode ser utilizado diretamente. Os materiais cerâmicos acarretam
dificuldades adicionais na sua utilização, envolvendo custos elevados de fabricação
(Figura 43).

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 74


Figura 43. Célula a combustível de óxido sólido

Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fcell_diagram_sofc.gif>

8.3.5 Comparação entre as propriedades das células a combustível

A tabela a seguir apresenta uma comparação entre as propriedades das células a


combustível.

Tabela 14. Comparação das propriedades das células a combustível

ENERGIAS ALTERNATIVAS E ENERGIAS LIMPAS II 75


Fonte: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
40422000000400018>

8.4 Hidrogênio

Muito utilizado em processos industriais: processos petroquímicos


(hidrocraqueamento), hidrogenação de alimentos, solda, insumo para indústria
química e de fertilizantes, como combustível para foguetes e propulsão para cápsulas
espaciais.

Em um futuro próximo, poderá ser utilizado em grande escala também como uma
fonte alternativa de energia para geração de eletricidade em automóveis, ônibus,
navios e dispositivos eletrônicos diversos.

Possui maior quantidade de energia por unidade de massa que qualquer outro
combustível conhecido, 141,9 MJ por quilo. Por exemplo, a gasolina é de 47,27 MJ/kg.

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