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QUÍMICA

GERAL E
INORGÂNICA
Mantenedora e Diretora Geral
Dra. Lucinéia de Caires Bressanin Roschildt
Vice-diretora
Nathalia Roschildt
Direção Acadêmica
Prof. Dr. Antonio Peixoto de Araujo Neto
Prof. Alan Patrick da Silva
Prof. Lenilson Coutinho da Rocha

Química Geral e Inorgânica

Maringá, PR
2022
© Prof. Alan Patrick da Silva, Prof. Lenilson Coutinho da Rocha, 2022.

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será permitida com prévia autorização por escrito da FEITEP.

A FEITEP-EAD segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em vigor no Brasil desde 2009.
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é uma decisão do autor/organizador.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Bibliotecária: Nadja Honarra Aranha – CRB-9 – 1972

L811c
Locastro, João Karlos.
Conforto Ambiental / João Karlos Locastro. - Maringá - PR: FEI-
TEP, 2022.
121 p. : il.

Inclui Referências.
ISBN: 978-65-996196-4-9

1. Barreiras Acústicas . 2. Climatização. 3. Iluminação. I. Lo-


castro, João Karlos II. Título.

CDD: 697

Revisão Técnica: Willyan Machado Giufrida


Revisão ortográfica e gramatical: Carolina Ogassawara de Souza
Diagramação, projeto gráfico e capa: Candida Bitencourt Haesbaert | Paruna Editorial

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Bem-vindos!
Caro(a) aluno(a),

A Educação a Distância é uma modalidade de ensino que tomou grandes proporções na


última década e, por isso, desenvolvemos um ensino de excelência para você!
A proposta dessa modalidade de ensino permite um alcance significativo, ampliando a
efetividade do direito ao acesso ao Ensino Superior.
O cenário atual se constitui por aparatos, instrumentos e estratégias tecnológicas que re-
configuram os preceitos da prática tradicional de ensino a partir da mescla entre tecnologia,
informação e conhecimento.
Essa tríade marca a identidade de uma era educacional que cria oportunidades de for-
mação e qualificação por meio da construção do saber científico mediada por princípios in-
teracionistas.
No espaço virtual, a relação entre professor e aluno se estabelece por meio de estratégias
inovadoras e efetivas, dentre elas, a necessidade e relevância de um material exclusivo que
visa a especificidade dessa instituição: a formação em engenharias!
Assim, convidamos você a ingressar no universo acadêmico por meio de cada disciplina!
Desejamos a você, acadêmico, ótimos estudos!
Coordenação Nead

Fonte: Paruna Editorial

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Os Autores

Alan Patrick da Silva atua como Professor Assistente pela FEITEP - Faculdade
de Engenharias e Arquitetura e cursa doutorado em Química Orgânica pela
Universidade Estadual de Maringá. Possui mestrado em Química Orgânica,
com ênfase em Síntese Orgânica, e Graduação em Química Licenciatura pela
Universidade Estadual de Maringá. Possui vasta experiência em docência para o
ensino superior. Como pesquisador, tem experiência em produtos naturais, síntese
orgânica e avaliação de dados de atividades biológicas.

Lenilson Coutinho da Rocha possui graduação em Química (Licenciatura)


pela Universidade Estadual de Maringá (2005). Mestre e doutor em ciências pelo
Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC-USP) e
Pós doutorado em Química Orgânica pelo Instituto de Química de São Paulo da
Universidade de São Paulo (IQ-USP). Atua na docência no Ensino Superior a 14
anos nas áreas de Química Geral e Orgânica.

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Introdução geral
Prezado aluno, é com muita alegria que te recebemos para o estudo do livro de Quími-
ca Geral e Inorgânica. Seja muito bem-vindo! Somos os professores Dr. Lenilson Coutinho
da Rocha, responsável pelas unidades 1 e 2, e Me. Alan Patrick da Silva, responsável pelas
unidades 3 e 4, e vamos te conduzir por uma intrigante viagem pelo mundo da Química.
Vamos começar pela definição de Química: é a ciência que estuda as transformações
da matéria. Está presente em todas as transformações pelas quais o universo passou desde
a sua origem até os tempos atuais. E no mundo moderno, a evolução da tecnologia leva
ao consumo de grandes quantidades de insumos e energia. Neste cenário, a Química tem
sido fundamental para a obtenção de quantidades cada vez maiores de materiais, mas
com custos cada vez menores. Portanto, o nosso futuro depende muito do sucesso desta
fantástica ciência.
Nosso estudo se inicia com a unidade 1, com uma breve introdução a química,
destacando alguns importantes conceitos, como: grandezas e medidas, teoria atômica
e estrutura, teoria quântica do átomo e substâncias. Já na nossa unidade 2, vamos falar
sobre a constituição da tabela periódica, introdução ao estudo das reações químicas e a
definição de ligação química.
Na unidade 3, vamos mergulhar nos conceitos relacionados a ligações químicas.
Iniciaremos com as formas espaciais das moléculas e o modo como elas são determinadas.
Veremos as propriedades relacionadas com a geometria das moléculas e ainda a evolução
das teorias sobre ligações químicas. Por fim, na unidade 4, falaremos de equilíbrio
químico, suas implicações e como explorar as suas propriedades. Abordaremos também
os conceitos de acidez e basicidade e os equilíbrios iônicos que envolvem sua participação.
Ainda faremos um breve estudo da eletroquímica e suas principais aplicações.
Esperamos que o estudo das unidades que formam esse livro complemente seus
conhecimentos sobre a Química. Lembre-se: a sociedade está sempre em constante
evolução, o que faz com que o conhecimento esteja sendo renovado, a todo momento.
Assim, cabe ao ser humano acompanhar as transformações evoluindo no mesmo ritmo e
contribuindo para que as outras pessoas a sua volta evoluam também.
Bons estudos!
Professor Dr. Lenilson Coutinho da Rocha
Professor Me. Alan Patrick da Silva

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Sumário
Unidade I – • Introdução a química • Grandezas e medidas • Teoria atômica
e estrutura • Teoria quântica do átomo
1. Introdução...................................................................................................................................................................................... 11
1.1 Introdução a Química............................................................................................................................................................ 11
1.2 Grandezas e medidas............................................................................................................................................................. 14
1.3 Teoria Atômica e estrutura.................................................................................................................................................. 20
1.4 Teoria Quântica do Átomo.................................................................................................................................................. 24
1.5 Substâncias................................................................................................................................................................................. 28
Referências bibliográficas............................................................................................................................................................ 30

Unidade II – • Periodicidade química • Estudo das reações  químicas


• Ligação química
2. Introdução...................................................................................................................................................................................... 32
2.1 Periodicidade Química.......................................................................................................................................................... 32
2.2 Introdução ao estudo das Reações Químicas............................................................................................................ 38
2.2.1 Estequiometria das Reações (Balanceamento)..................................................................................................... 40
2.2.2 Cálculos Estequiometricos............................................................................................................................................... 42
2.2.3 Calculos do Reagente Limitante................................................................................................................................... 45
2.2.4 Rendimento Percentual da Reação............................................................................................................................. 46
2.3 Ligação Química....................................................................................................................................................................... 47
2.3.1 Ligação Ionica........................................................................................................................................................................ 47
2.3.2 Ligação Covalente............................................................................................................................................................... 49
Referências bibliográficas............................................................................................................................................................ 54

Unidade III – • Geometria Molecular • Teorias de ligações químicas


3. Introdução...................................................................................................................................................................................... 56
3.1 Geometria Molecular............................................................................................................................................................. 56
3.1.1. Modelo da Repulsão dos Pares de Elétrons do Nível de Valência.............................................................. 57
3.1.2 Polaridade de Ligações..................................................................................................................................................... 62
3.1.3. Polaridade de Moléculas................................................................................................................................................. 63
3.2 Teoria da Ligação de Valência........................................................................................................................................... 66
Caso 1: hibridação sp............................................................................................................................................................ 67
Caso 2: hibridação sp2......................................................................................................................................................... 69
Caso 3: hibridação sp3......................................................................................................................................................... 70
Caso 4: hibridação sp3d....................................................................................................................................................... 72
Caso 5: hibridação sp3d2.................................................................................................................................................... 73
Casos Especiais: moléculas com pares de elétrons não-ligantes.................................................................... 74
3.3 Teoria do Orbital Molecular............................................................................................................................................... 76
Referências Bibliográficas............................................................................................................................................................ 85

8
Unidade IV – • Equilíbrios químicos • Eletroquímica
4. Introdução...................................................................................................................................................................................... 87
4.1 Equilíbrio Químico................................................................................................................................................................... 87
4.1.1 Constante de Equilíbrio..................................................................................................................................................... 88
4.1.2 Propriedades de Keq.......................................................................................................................................................... 89
4.1.3 Equilíbrios Heterogêneos................................................................................................................................................. 91
4.1.4 Cálculo da Constante de Equilíbrio............................................................................................................................. 93
4.1.5 Aplicações das Constantes de Equilíbrio.................................................................................................................. 95
4.1.6 Princípio de Le Chatelier................................................................................................................................................... 96
4.1.6.1. Adição ou remoção de um dos participantes .................................................................................................. 96
4.1.6.2. Variação da pressão ou do volume do sistema................................................................................................ 97
4.1.6.3. Variação na temperatura do sistema..................................................................................................................... 98
4.1.6.4. Efeito da adição de um catalisador......................................................................................................................... 99
4.2 Equilíbrios Ácido-Base.........................................................................................................................................................100
4.2.1. Força relativa de ácidos e bases.................................................................................................................................102
4.2.2. Auto ionização da água..................................................................................................................................................103
4.2.3. Escalas de pH e pOH.......................................................................................................................................................104
4.2.4. Cálculo de pH e pOH.......................................................................................................................................................105
4.3 Eletroquímica...........................................................................................................................................................................107
4.3.1. Reações de Oxirredução................................................................................................................................................107
Referências Bibliográficas..........................................................................................................................................................115

Conclusão....................................................................................................................................................................................116

9
• INTRODUÇÃO A QUÍMICA
UNIDADE 1
• GRANDEZAS E MEDIDAS
• TEORIA ATÔMICA E
 ESTRUTURA
• TEORIA QUÂNTICA
 DO ÁTOMO
1. Introdução

Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a)! Vamos começar nossa unidade 1 com o pé direito.
Nesta unidade vamos falar sobre alguns aspectos relevantes na introdução a química,
bem como alguns conceitos, tais como: grandezas e medidas, teoria atômica e estrutura,
teoria quântica do átomo e substâncias.
Agora é a hora! Vamos iniciar a nossa busca pelo conhecimento de novos conceitos
e assuntos que estão correlacionados com o nossa vida e cotidiano. Espero que você
aproveite e assimile da melhor maneira possível essa unidade. Desejo a você bons estudos!

1.1 Introdução a Química


O planeta está em constante transformação, seja natural ou devido a intervenção
humana. Essas transformações muitas vezes não são benéficas para os seres humanos.
E, é em momentos estremos que se percebe o poder da ciência neste processo de
transformação. Em tempos de guerra ou mesmo em meio a uma pandemia a ciência
demonstra sua força. Seja na produção de insumos, vacinas, ou na produção de materiais
que sejam utilizados para superar esses momentos.
A química está inserida nesse processo de transformação. A busca por novas tecnologias
leva ao consumo de grandes quantidades de insumos e energia. Ela tem contribuído de
maneira muito forte para que se possa obter maiores quantidade de materiais, com custos
cada vez menores. Setores da indústria de química fina vem investindo grande quantidade
de dinheiro para o desenvolvimento de novos fármacos.
Podemos definir a química como a parte da ciência que estuda a matéria e suas
transformações. Mas, o que é matéria? A matéria pode ser definida como tudo que ocupa
espaço, ou seja, possui massa e volume. Ela pode ser encontrada em estados físicos
diferentes: sólido, líquido, gasoso e plasma. Madeira, papel, água, metal, entre outros são
exemplos de matéria mostrados na figura 1.1.

11
madeira papel água metal
Figura 1.1 Exemplos de matéria.
Fonte: Os autores.

A ciência está em constante desenvolvimento, novas fontes e formas de matéria tem


sido descoberta. Um tipo especial de matéria muito utilizado atualmente é o grafeno (um
filme), mostrado na figura 1.2. Este é um nanomaterial composto de átomos de carbono
com estruturas hexagonais. Embora já falado anteriormente, foi em meados dá primeira
década dos anos 2000 que se comprovou a existência isolada deste material. O grafeno
tem uma larga aplicação: na área de construção civil, medicinal, automobilística entre
outras. Material com ótima resistência, leve e principalmente sustentável.

Figura 1.2. Estrutura química do grafeno.


Fonte: Os autores.

Atualmente a ciência tem sido pautada na economia atômica (onde procura se utilizar
a menor quantidade de matéria em todo o processo) e energética (onde procura utilizar
o mínimo de energia em todo o processo). É muito importante que os novos materiais
empregados nos processos (reações), sejam sustentáveis e que consumam um mínimo de
energia. E é aí que se inicia a necessidade de projetar reatores que tenham alto efetividade
na produção e transformação da matéria. Um bom reator deve ser capaz de transformar o
máximo de reagentes em produtos com rendimento próximo de 100%. Esse é o modelo
ideal que a ciência vem buscando atingir. Reatores que utilizem menores quantidades
de água (economia atômica, menos moléculas) e consequentemente, consumam pouca
quantidade de energia.

12
As reações químicas são fundamentais para o desenvolvimento de novos produtos
tais como: cosméticos, alimentos, farmacêutico, agroquímicos entre outros. Para que uma
reação ocorra é necessário o envolvimento de energia no processo. A energia envolvida
em uma reação pode ser absorvida ou liberada. Para sobreviver uma grande parte dos
seres vivos, inclusive os humanos necessitam de energia. A energia necessária para a
sobrevivência é obtida em grande parte da ingestão de alimentos. O ser humano possui
em seu organismo a capacidade para processar (através do metabolismo) os alimentos
gerando a energia necessária para a manutenção da vida.
Quando se trata de uma reação existem alguns tipos especiais, tais como: oxidação,
neutralização, substituição, eliminação, entre outras. Algumas reações são conhecidas
como síntese. Essas reações são fundamentais para o desenvolvimento de novos insumos.
A amônia, por exemplo, pode ser obtida pela reação direta entre hidrogênio e
nitrogênio, através da síntese de Haber-Bosch, de acordo com a reação a seguir:
N2(g) + 3 H2(g) → 2 NH3(g) ΔH = - 92,22 KJ
O processo de obtenção da amônia possui este nome, pois seus criadores são: Fritz
Haber (1868 – 1934) e William Carl Bosch (1874 – 1940). A amônia é fertilizante muito
utilizado na agricultura, mas também em vários outros setores como: na produção de
produtos de limpeza doméstica e industrial e síntese de outros fármacos. Está é uma reação
que envolve grande quantidade de energia. A reação ocorre através de um processo
exotérmico com liberação de energia.
A energia está diretamente ligada a matéria, através de suas ligações químicas. Pois,
a quebra destas ligações envolve energia. Definir energia não é algo simples, a energia
pode ser sentida ou observada. Uma das definições mais utilizadas na ciência para energia
diz que: a energia é capacidade de realizar trabalho, podendo ser descrita como energia
cinética ou potencial. Alguns autores utilizam o termo energia química potencial, devido
as substâncias possuir atrações e repulsões entre suas partículas subatômicas.
A energia cinética é conhecida como a energia do movimento, podendo ser
determinada pela equação 1.1.
Equação 1.1 Ec = ½ mv2
onde, m = a massa; e v = a velocidade.

13
A energia potencial é a energia armazenada, que um objeto possui devido a sua posição
ou estado. O nome energia potencial porque tem o potencial de ser convertido em outras
formas de energia, como energia cinética. A energia potencial pode ser determinada pela
equação 1.2.
Equação 1.2 Ep = mgh
onde, m = a massa; h = altura e g = aceleração gravitacional local.

A forma mais importante de energia na química é o calor que ocorre nas transformações
químicas.

1.2 Grandezas e medidas


No nosso cotidiano estamos sempre medindo (mensurando). Seja na hora de preparar
uma receita de bolo, nas compras de supermercados, no abastecimento do automóvel,
ou até mesmo em distância percorridas. A quantificação é muito importante, imagina se
um médico e enfermeiros não conseguissem medir pressão e temperaturas. Como seria
possível prescrever as dosagens corretas de medicamentos.
Quando falamos em medidas é importante observar que estamos se referindo a
duas partes, um número e uma unidade. Um número sem uma unidade geralmente não
nos diz nada, ou seja, não tem um significado científico. Por exemplo, se lhe disserem
que a altura de uma pessoa é 180, esta informação seria de pouca utilidade. Agora se
a informação fosse que a tal pessoa possui 180 centímetros (1,80 m), isso lhe indicaria
que provavelmente estamos falando de uma pessoa na fase de vida adulta. Entretanto,
existem muitas unidades de medidas e cada país tem suas normas. Então, um número
acompanhado de uma unidade talvez, ainda não seja suficiente para determinar o seu
significado. Quem já assistiu filmes americanos ou mesmo partidas de baseball já deve ter
ouvido falar nomes como jardas, libras, milhas, galões como medida. Poucas pessoas pelo
mundo saberiam dizer o que é libra ou milhas. A grande maioria dos países do mundo
utilizam o sistema métrico que teve sua origem na França.
O sistema internacional de unidades (SI) foi criado por volta de 1960, na 11ª Conferência
Geral de Pesos e Medidas (CGPM), com a finalidade de padronizar as unidades de medida
das inúmeras grandezas existentes, com objetivo de facilitar a sua utilização e torná-las
acessíveis a todos.

14
Neste material, vamos utilizar o SI apresentado na tabela 1.1.
Tabela 1.1 Unidades básicas no sistema métrico
Grandeza Unidade Símbolo
Comprimento Metro m
Volume Litros L
Massa Gramas G
Temperatura Kelvin k
Energia Caloria Cal
Quantidade de matéria Mol Mol
Intensidade luminosa Candela Cd
Fonte: Os autores.

É no laboratório que as teorias são comprovadas e desenvolvidas. Para realizarmos


experimentos químicos, é necessário saber utilizar unidades e medidas, que são grandezas
que relacionam alguma quantidade com um padrão estabelecido. Na química as principais
grandezas físicas usadas são: volume, massa, temperatura densidade, e pressão.
Vamos começar falando do volume, ou seja, espaço. O volume de um gás, líquido ou
mesmo um sólido, nada mais é que o espaço onde está contido a substância. A unidade
de medida básica no SI é o litro (L). Uma outra unidade comum no nosso dia a dia é o
mililitro (mL).
Vejamos: 1 mL = 0,001 L (1 x 10-3 L)
1 L = 1000 mL (1 x 103 mL)
Na tabela 1.2 temos alguns prefixos métricos de volumes mais comuns.

Tabela 1.2 Alguns prefixos métricos de volumes comuns

Prefixo Símbolo Valor


giga G 10 = 1.000.000.000 (1 bilhão)
9

mega M 106 = 1.000.000 (1 milhão)


quilo k 103 = 1.000 ( mil)
deci d 10-1 = 0,1 (um décimo)
senti c 10-2 = 0,01 (um centésimo)
mili m 10-3 = 0,001 (um milésimo)
micro µ 10-6 = 0,000.001 (um milionésimo)
nano n 10-9 = 0,000.000.001 (um bilionésimo)
pico p 10-12 = 0,000.000.000.001 (um trilionésimo)
Fonte: Os autores.

15
Um milímetro é exatamente igual a um centímetro cubico. Ou seja, 1 mL = 1 cm3. Se a
um cubo, como mostrado na figura 1.3 for adicionado um líquido como a água, o volume
determinado será de 1 mL.

1 cm

1 cm
1 cm
Figura 1.3 Cubo com capacidade de 1 centímetro cubico.
Fonte: Os autores.

É comum comprar em uma loja de materiais de construção caixas d´água de 1000 L,


se a caixa tiver o formato de um cubo, então, esta caixa teria 1 m para cada aresta. Assim,
1 m x 1 m x 1 m, temos que 1000 L = 1 m3. E, portanto, 1 L = 1000 cm3.
A massa é a quantidade de matéria num determinado objeto. Sua unidade básica no
SI é o grama (g). Ainda existem outras unidades maiores e menores mais comuns ao nosso
cotidiano. São elas:
1 Quilograma (kg) = 1000 g = 103 g
1 Miligrama (mg) = 0,001 g = 10-3 g
A massa é quantificada através de balança. Existem vários tipos de balanças, para
realizar os experimentos de química as balanças semianalítica e analítica são as mais
utilizadas, mostradas na figura 1.4.

1 2

Semi-analítica Analítica
Figura 1.4 Exemplos de balanças: 1, semianalítica e 2, analítica.
Fonte: Os autores.

16
Importante diferenciar massa e peso. A massa independe da localização, a massa de
um determinado objeto é a mesma a nível do mar ou em uma determinada altitude.
Entretanto, o peso de um determinado objeto depende da sua localização. O peso é a
força exercida sobre um determinado corpo pela atração gravitacional da Terra. O valor
é dado pelo produto da massa do corpo pela magnitude da aceleração da gravidade
(equação 1.3).
Equação 1.3 P = m.g
onde, m = massa e g = aceleração da gravidade.

A temperatura no Brasil é comumente determinada através da escala Celsius.


Dependendo do país a unidade de medida da temperatura pode mudar. Os Estados
Unidos e outros muitos países utilizam a escala Fahrenheit para determinar a temperatura.
Saber sobre a temperatura é muito importante. A água entra em ebulição a 100 oC e em
fusão a 0 oC. Para a realização de muitos experimentos é muito importante saber sobre
estas propriedades. Portanto, é fundamental saber sobre a temperatura.
Na figura 1.5, temos a relação entre as três escalas de temperatura utilizadas no mundo.
A escala Kelvin é conhecida como zero absoluto.
Celsius Fahrenheit Kelvin (absoluta)

Ponto de vapor 100 oC 212 oF 373 K


------------------------------
da água

0 oC 0 oF 0K
------------------------------

0 oC 32 oF 273 K
Ponto de gelo
------------------------------
da água

Figura 1.5 As três escalas de temperaturas, Celsius, Fahrenheit e Kelvin.


Fonte: Os autores.

17
É possível converter uma temperatura em outra através das relações mostradas na
figura 1.5.1.
Celsius Fahrenheit Kelvin (absoluta)

100 oC 212 oF 373 K


------------------------------

H H H

------------------------------
TC TF TK

h h h

0 oC 32 oF 273 K
------------------------------

100 oC = 1,8 oF = 1 K

Figura 1.5.1 Deduzindo a relação das três escalas de temperaturas,


Celsius, Fahrenheit e Kelvin.
Fonte: Os autores.

Temos que,

h h h
= =
H H H

Logo,

TC - 0 TF - 32 TK - 273
= =
100 - 0 212 - 32 373 - 273

E, portanto, desta relação temos a equação 1.4.

TC TF - 32 TK - 273
= =
5 9 5

Equação 1.4 Equação geral para conversão das temperaturas


Celsius, Fahrenheit e Kelvin.

18
Exercício 1.1 Se a temperatura de um determinado objeto é 40 oC. Qual é a sua
temperatura em graus Kelvin?
Resolução: Vamos utilizar a equação 1.4
Logo,
40 TK – 273
=
5 5

40 = TK – 273

Tk = 273 + 40

TK = 283

Observamos neste exercício que a temperatura em Kelvin é K = oC + 273, então, a


temperatura em graus Celsius é oC = K – 273.
A densidade é uma grandeza física que mede a concentração de matéria de um
corpo em um dado volume. Os sólidos e líquidos também possuem densidade. Ela é
determinada através da equação 1.5.
Equação 1.5 ρ = m/V
onde, m = massa em g e V = volume em cm3.
Uma das vidrarias mais utilizadas para separação de líquidos de densidades diferentes
é o funil de separação. A figura 1.6 mostra um funil de separação com dois líquidos: água
e éter dietílico.

Líquido de menor densidade


Éter dietílico, 0,71 g/cm3

Líquido de maior densidade


água, 1,00 g/cm3

Figura 1.6 Funil de separação com água e éter dietílico.


Fonte: Os autores.

19
Exercício 1.2 A densidade de um determinado metal é 7,86 g/cm3. Determine o volume
em centímetros cúbicos de um pedaço deste metal, supondo que sua massa seja de 524g?
Resolução: Vamos utilizar a equação 1.5
Logo,
ρ = m/V
7,86 g/cm3 = 524 g / V
V = 524 / 7,86 cm3
V = 66,67 cm3

A pressão também é uma grandeza física que pode ser determinada pelo resultado
da divisão entre uma força aplicada em uma área de ação dessa força (equação 1.6). As
unidades de medidas da pressão mais utilizadas são: pascal (pa), atmosfera (atm) e o
milímetro de mercúrio (mmHg). Onde: 1 atm = 1.105 pa = 760 mmHg.
A equação 1.6 P = F/A
onde, F = força em N (newton) e A = área em m2.

1.3 Teoria Atômica e estrutura


Vamos falar um pouco sobre a evolução dos modelos atômicos, mostrados na figura
1.7.

- +-
. . . ..
+ + . . . .. .
- +- . . ..
Dalton Thomson Rutherford Bohr Quântico
Figura 1.7 Evolução dos modelos atômicos.
Fonte: Os autores.

Um dos primeiros filósofos a mencionar a palavra átomo foi Demócrito (c. 460 – 370 a. C.)
ele acreditava que  todas as coisas eram constituídas por uma infinidade de partículas
minúsculas, invisíveis. Ele chamou estas partículas de átomos. Contudo, não é atribuído a
ele um modelo atômico.

20
A teórica atômica ficou muito tempo parada até Dalton retomar as ideias de Demócrito
sob uma perspectiva mais moderna. Utilizou a experimentação para criar seu modelo.
Dalton tinha conhecimento em matemática, física e química tendo lecionado estas três
ciências em diferentes momentos. Para Dalton, nada é criado do nada e nada é destruído
para o nada, este seu pensamento deu origem a lei de conservação da matéria. Que mais
tarde seria confirmada por Lavoisier.
Segundo a teoria atômica de Dalton, o átomo seria maciço e indivisível, assim poderia
ser representado por esferas parecidas com bolinhas de gude ou bilhar, deste pensamento
surge a sua ideia do que ficou conhecido como “modelo bola de bilhar”. Postulados de
Dalton: a matéria é formada de partículas fundamentais, os átomos não podem ser criados
e nem destruídos; um composto químico é formado pela combinação de átomos de dois
ou mais elementos em proporção fixa; os átomos de um mesmo elemento são idênticos,
os átomos de diferentes elementos possuem propriedades diferentes; a combinação de
átomos ou a separação são indícios de uma transformação química.
Os modelos atômicos foram evoluindo e um novo modelo surgiu dos estudos do físico
Thomson que utilizou em seus estudos os raios catódicos. Segundo o modelo atômico de
Thomson o átomo seria maciço, esférico, descontínuo com estrutura não uniforme e não
homogêneo. Ele seria formado por um fluido com carga positiva no qual estavam dispersos
os elétrons. Thomson associou o seu modelo a um “pudim de passas”. Para demonstrar seu
modelo Thomson utilizou o tubo de raios catódicos, onde uma alta voltagem foi aplicada
através de dois eletrodos em uma das extremidades do tubo, isso fez com que um feixe
de partículas flutuasse do cátodo (carga negativa) para o ânodo (carga positiva). Os tubos
são chamados tubos de raios catódicos porque o feixe de partículas, ou “raio catódico”, se
origina no cátodo.
Em seus estudos, Thomson utilizou duas placas elétricas ao redor do raio catódico,
desta forma conseguiu mostrar as propriedades das partículas. Ele observou que o raio
catódico se desviou da placa elétrica de carga negativa indo em direção à placa elétrica
de carga positiva (Figura 1.8).

21
Figura 1.8 Tubo de raio catódico.
Fonte: Brown et al., 2005.

Assim, demonstrou que o raio catódico era composto de partículas carregadas


negativamente. Através da utilização de imãs que foi adicionado ao tubo demonstrou
que o campo magnético também desviava o raio catódico. Destas observações, Thomson
conseguiu determinar a razão entre massa e carga das partículas. As partículas do raio
catódico de Thomson receberam o nome de elétron.
Anos mais tarde, Rutherford e seus colaboradores conseguiram demonstrar que o
átomo possui um núcleo e que ao redor deste, existe o que chamou de eletrosfera. No
núcleo do átomo se encontram os prótons (carga positiva) e neutrons e ao seu redor os
elétrons (carga negativa). A massa do átomo está concentrada no seu núcleo, sendo a
massa do elétron 1836 vezes menor que a de um próton.
Os estudos de Rutherford consistiram em bombardear partículas alfa em finíssimas
folhas metálicas de ouro. Ele utilizou o polônio (Po) para emissão destas partículas. Foi
observado que algumas partículas alfas eram desviadas quando passavam através das
folhas metálicas de ouro. Rutherford e seus colaboradores também fizeram experimentos
utilizando folhas de outros tipos de materiais e perceberam que o espalhamento se
repetia. E concluíram que quanto maior a massa atômica do material, maior a dispersão
das partículas alfa (Figura 1.9).

22
Figura 1.9 Espalhamento de Rutherford.
Fonte: Brown et al., 2005.

Na evolução dos modelos atômicos temos o físico Niels Bohr, suas ideias foram baseadas
em vários cientistas sobre a explicação dos espectros de linhas para o gás hidrogênio. A
partir do modelo atômico proposto por Rutherford. Bohr realizou seus estudos e propôs
alguns postulados:
Primeiro: o elétron se move ao redor do átomo em órbitas de tamanho e energia fixos;
Segundo: as órbitas têm energia quantizada e fixa (1, 2, 3, ...), sendo chamadas de órbitas
estacionárias. Atualmente, são conhecidos sete níveis de energia, ou camadas eletrônicas,
representados pelas letras: K(1), L(2), M(3), N(4), O(5), P(6) e Q(7);
Terceiro: os elétrons não podem ficar entre duas camadas ou ter valores intermediários;
Quarto: quando um elétron absorve energia ele muda de camada, passando de um
nível de menor para um de maior energia.
Quinto: quando o elétron retorna ao nível original, ele emite um fóton, podendo ser na
forma de luz, calor, cuja energia é igual à diferença entre os dois níveis.

23
1.4 Teoria Quântica do Átomo
O modelo atômico atual leva em consideração os estudos De Boglie, Heisenberg,
Schrödinger, Dirac, entre outros, e se baseia na chamada mecânica quântica. A mecânica
quântica estabelece que só é possível estudar o comportamento de sistemas microscópicos
em termos de “probabilidades”. Ou seja, região de maior probabilidade de se encontrar um
elétron, que é o orbital atômico, em termos de função de onda, representada pela letra
grega Ψ (Psi). Este modelo é matemático e complexo e baseia-se na partícula-onda.
A função de onda para um sistema real, como o átomo, deve ter números reais e
positivos. Max Born interpretou a função de onda, considerando o quadrado do valor
absoluto de Ψ, |Ψ|2, como sendo a densidade de probabilidade de se localizar o elétron
em uma dada posição em torno do núcleo. Os resultados obtidos da função de onda dão
origem aos números quânticos. As regiões ou espaços ao redor do núcleo, são denominados
de orbitais e cada um deles é descrito por um conjunto particular de números quânticos
n, l e ml. Onde: n – número quântico principal; l – número quântico momento angular
orbital ou número quântico azimutal; ml – número quântico magnético. Esses números
quânticos estão relacionados a níveis de energia. Para uma completa definição do o
estado de energia do elétron no átomo, são necessários quatro números quânticos. Três
relacionados ao orbital n, l, e ml e um quarto, que é o número quântico magnético de spin
do elétron, representado por ms.
O número quântico principal n, é a distância média do elétron ao núcleo atômico e
está relacionado à energia do orbital, podendo assumir qualquer valor inteiro positivo. Os
valores permitidos para n são: 1, 2, 3, 4, . . . , ∞. Valores iguais de n significa mesmo nível de
energia.
O número quântico momento angular orbital, l, define o momento angular do elétron
e especifica o orbital. Como o n limita o l, os valores assumidos por l são inteiros e variam
entre 0 e n−1. As letras s, p, d e f derivam das palavras sharp, principal, difuse e fundamental,
são as denominações dadas as linhas que aparecem no espectro do átomo de hidrogênio.
Essas letras estão relacionadas aos subníveis de energia.

24
O número quântico magnético ml, dá a orientação dos orbitais. O ml é um número
inteiro que pode assumir 2l + 1 valores distintos, compreendidos entre +l e −l. A figura
1.10, mostra os orbitais s, p, d e f e os possíveis valores para ml.

s
0

p
-2 0 +1

d
-1 -2 0 +1 +2

f
-3 -2 -1 0 +1 +2 +3

Figura 1.10 Orbitais s, p, d e f, totalmente preenchidos por elétrons de spins contrários.


Fonte: Brown et al., 2005.

O número quântico magnético de spin o ms, tem dois valores possíveis, dependendo
da orientação do spin +1/2 (↑) ou −1/2 (↓), em relação à direção do campo magnético
interno do átomo.
A tabela 1.3, resume a relação entre os números quânticos n, l e ml.
Tabela 1.3 – Relações entre os números quânticos n, l e ml.

Valores de n Valores de l Valores de ml Subnível


n = 1, 2, 3, . . . ∞ n = 0, 1, 2, . . . ∞ ml = − 3 · · · + 3
1 0 0 1s
2 0 0 2s
1 -1, 0, +1 2p
3 0 0 3s
1 -1, 0, +1 3p
2 -2, -1, 0, +1, +2 3d
4 0 0 4s
1 -1, 0, +1 4p
2 -2, -1, 0, +1, + 2 4d
3 --3, 2, -1, 0, +1, +2, +3 4f
Fonte: Brown et al., 2005.

25
O diagrama de Linus Pauling é uma importante ferramenta que auxilia na resolução
de exercícios envolvendo a distribuição eletrônica. Uma vez que o entendimento da
mecânica quântica e seus modelos matemáticos não são tão simples de abstrair. A tabela
1.4, mostra a relação entre as camadas eletrônicas, o número de elétrons e faz uma relação
com os níveis e subníveis de energia, utilizando o diagrama de Pauling.

TabelaRelação
Tabela1.4 1.4 – Relação das camadas
das camadas e Diagrama
e Diagrama de Linus
de Linus Paulling
Pauling
Camadas Número de elétrons Níveis Subníveis
K 2 1 1s2
L 8 2 2s2 2p6
M 18 3 3s2 3p6 3d10
N 32 4 4s2 4p6 4d10 4f14
O 32 5 5s2 5p6 5d10 514
P 18 6 6s2 6p6 6d10
Q 8 7 7s2 7p6

Fonte: Brown et al., 2005

Exercício 1.3 Determine os números quânticos para a distribuição eletrônica de um


determinado átomo com 37 elétrons?
Resolução: Vamos utilizar a tabela 1.3 para determinação. Primeiro vamos realizar a
distribuição eletrônica do total de elétrons.
1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s1
O último elétron atribuído foi em 5s1
O 5 significa que n = 5; ou seja, nível de energia (5 camadas).
A letra s, está relacionada com o subnível. Temos 4 subníveis: s, p, d, f, e seus valores
respectivamente são: 0 ,1, 2, 3. E, portanto, neste caso. l = 0.
Agora temos que determinar ml. Para isso vamos utilizar: a regra de Hund, que indica
que para cada orbital deve conter um elétron, cada um girando na mesma direção, antes
que os elétrons possam ser emparelhados nos orbitais, ou seja, devemos preencher
parcialmente cada orbital com apenas 1 elétron, respeitando o de menor energia para
o de maior energia, e, portanto, da esquerda para direita, e só então voltar ao início e
completar o preenchimento se necessário. A exclusão de Pauli diz que em um mesmo
orbital temos dois elétrons com spins contrários.

26
Lembre se que para distribuir os elétrons nos orbitais o máximo de 2 elétrons com spins contrários
para cada orbital.

E, portanto, neste caso para s1, temos apenas 1 elétron, para o orbital s,

0
logo, ml = 0.
O ms, neste caso, é +1/2. Pois, o último elétron atribuído no orbital está para cima:

Então, os números quânticos para este átomo são:

n = 5, l = 0, ml = 0 e ms = +1/2
Exercício 1.4 Supondo que um determinado átomo tenha 35 elétrons. Determine seus
números quânticos?
Resolução: A distribuição eletrônica do total de elétrons.

1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p5


O último elétron atribuído foi em 4p5
O 4 significa que n = 4; ou seja, nível de energia.
O p está relacionado com o subnível. E, portanto, neste caso. l = 1.
Da regra de Hund e da exclusão de Pauli, temos: neste caso, para o subnível p5, são
5 elétrons para distribuir nos orbitais. Cada orbital comporta no máximo 2 elétrons,
devemos semipreencher da esquerda para direita. Ou seja, do orbital de menor energia
para o de maior energia. Logo: semipreenchido

27
Já foram 3, mas, temos 5 elétrons. Portanto:

-2 0 +1

o último elétron atribuído está no 0, logo, ml = 0.


O ms, neste caso, é -1/2. Pois, o último elétron atribuído no orbital está para baixo:
Então, os números quânticos para este átomo são:
n = 4, l = 1, ml = 0 e ms = -1/2

1.5 Substâncias
As substâncias podem ser definidas como uma porção de matéria que tem
propriedades bem definidas e que lhe são características. A matéria é constituída de
átomos que podem se juntar para formar substâncias, compostos complexos ou ainda
uma mistura de compostos.
Se a matéria for constituída por um único tipo de elemento químico, temos uma
substância simples (elementar). Os gases nitrogênio (N2), o gás oxigênio (O2), o enxofre (S8)
e o potássio (K) são alguns exemplos de substâncias simples. Estas substâncias também
podem ser constituídas por um único átomo de um elemento químico, como o potássio,
ou dois ou mais átomos de um mesmo elemento químico, como o gás nitrogênio e
enxofre.
Se a matéria for constituída por mais de um tipo de elemento químico, temos uma
substância composta (composto químico). A água formada por dois átomos de hidrogênio
e um átomo de oxigênio; ácido clorídrico (HCl) formado por um átomo de hidrogênio e
um átomo de cloro são alguns exemplos de substâncias compostas.
Ambas as substâncias simples e compostas podem ser consideradas puras. Desde que
sejam constituídas do mesmo (átomo, molécula, íon) e que possuam pontos de ebulição
e fusão constante a uma determinada pressão.
A figura 1.8, mostra duas substâncias puras: a substância simples o gás hidrogênio (H2)
e a substância composta a água (H2O).

28
a) H2 b) H2O
Figura 1.8 Substâncias puras: a) gás hidrogênio, b) água.
Fonte: Os autores.

As misturas são combinações de duas ou mais substâncias nas quais cada uma
mantem sua identidade química. Uma grande parte da matéria que encontramos na
natureza é composta pela mistura de substâncias. Basicamente existem dois tipos de
misturas: a homogênea e a heterogênea. Uma mistura homogênea é aquela que possui
uma uniformidade em toda a sua extensão. A mistura heterogênea não possui esta
uniformidade em toda sua extensão.
O ar é uma mistura homogênea, ele é composto de oxigênio gasoso, nitrogênio gasoso
e outras substâncias com menores quantidades. O sal e o açúcar se dissolvem muito bem
na água para formar uma mistura homogênea. As misturas homogêneas podem dar
origem ao que chamamos de solução.
As substâncias são classificadas em: inorgânicas e orgânicas. Basicamente as substâncias
orgânicas são aquelas que possuem átomo de carbono em sua estrutura. As substâncias
inorgânicas são: ácidos, bases, sais, óxidos e hidretos. Em nosso dia a dia utilizamos
uma grande variedade de substâncias inorgânicas para higiene pessoal e coletiva.
Uma substância largamente utilizada para limpeza doméstica é conhecida como água
sanitária, (hipoclorito de sódio, NaClO). Muitas outras substâncias são utilizadas, contudo,
é importante destacar os ácidos e as bases inorgânicas. O leite de magnésio, Mg(OH)2 uma
base muito utilizada para ajudar a regular o intestino e ajuda a controlar o pH estomacal.
O ácido muriático nome muito conhecido comercialmente para o ácido clorídrico, HCl
é muito utilizado na limpeza de piscinas.
As substâncias são fundamentais para a vida e a manutenção do mundo. Os seres
humanos necessitam de grande quantidade de energia para sobreviver. A ingestão de
substâncias como; água, proteínas e carboidratos são necessários para a sobrevivência.

29
Referências bibliográficas
BROWN, T. L.; LEMAY JR, H. E.; BURSTEN, B. E. (2005). Química: a Ciência Central (9ª edição
ed.). São Paulo: Prentice-Hall.
ATKINS, P.; JONES, L.; LAVERMAN, L. (2018). Princípios de Química: Questionando a Vida
Moderna e o Meio Ambiente (3ª edição ed.). Porto Alegre: Bookman.
BRADY, J. E.; RUSSELL, J. W.; HOLUM, J. R. (2002). Química: a Matéria e suas Transformações
(3ª edição ed., v. 1). Rio de Janeiro: LTC.
KOTZ, J. C.; TREICHEL JR, P. (2005). Química Geral e Reações Químicas (6ª edição ed., v. 1).
São Paulo: Cengage Learning.
RUSSEL, J. B. (1994). Química Geral (2ª edição ed., v. 1). São Paulo: Makron Books.
MAHAN, B. H. E.; MYERS, R. J. (1995). Química – Um Curso Universitário (4ª edição ed.).
São Paulo: Edgard Blücher Ltda.
MASTERTON, W. L.; HURLEY, C.N. (1999). Princípios de Química. Rio de Janeiro: LTC.

30
• PERIODICIDADE QUÍMICA
UNIDADE 2
• ESTUDO DAS REAÇÕES
 QUÍMICAS
• LIGAÇÃO QUÍMICA
2. Introdução

Seja bem-vindo(a), caro(a) aluno(a)! Vamos começar nossa unidade 2 com o pé


direito. Nesta unidade vamos falar sobre a periodicidade química (constituição da tabela
periódica), introdução ao estudo das reações químicas e ligação química.
Agora é a hora! Vamos iniciar a nossa busca pelo conhecimento de novos conceitos e
assuntos que estão correlacionados com a nossa vida cotidiana. Espero que você aproveite
e assimile da melhor maneira possível essa unidade. Desejo a você bons estudos!

2.1 Periodicidade Química


Discutimos anteriormente sobre a evolução dos modelos atômicos, já abemos que o
átomo compõe a matéria. Desde a descoberta do núcleo do átomo por Rutherford, de
uma forma simples apenas três partículas subatômicas influenciam no comportamento
do átomo (o próton, o nêutron e o elétron). Segundo Rutherford a massa do átomo (A) é
igual ao número de nêutrons (N) mais o número de prótons (P), como pode ser visto na
equação 2.1.
Equação 2.1 A=N+Z
Onde Z = número atômico = número de prótons.

A carga do elétron é – 1,602 x 10-19 C, e a do próton + 1,602 x 10-19 C. Este valor 1,602
x 10-19 C é conhecido como carga eletrônica. E por conveniência, as cargas atômicas e
subatômicas são normalmente expressas em múltiplos desta carga. E, portanto, a carga do
elétron é – 1 e a do próton + 1. O nêutron não possui carga. Os átomos têm um número
igual de elétrons e prótons, o que resulta em uma carga elétrica liquida neutra.
Os átomos têm massas muito pequenas, sendo o mais pesado na ordem de 4x10-22 g.
Devido a essas massas pequenas utilizamos a unidade de massa atômica (u). Uma u é
igual a 1,66054x10-24 g. A massa do próton e do nêutron são praticamente iguais (1,0073 u)
e (1,0087 u), respectivamente, muito maiores do que a massa do elétron (5,486x10-4 u).
A massa do próton é 1836 vezes maior do que a do elétron. A tabela 2.1 mostra as
propriedades e localização dos prótons, nêutrons e elétrons do átomo.

32
Tabela 2.1 Propriedades e localização dos prótons, nêutrons e elétrons do átomo.
Partícula Massa (u)
Carga Massa (g) Massa (u) Localização
subatômica arredondada
Próton +1 1,6726 x 10-24 g 1,0073 1 Núcleo
Elétron -1 9,1094 x 10 g
-28
5,486 x 10 -4
0,0005 Fora do núcleo
Nêutron 0 1,6749 x 10-24 g 1,0087 1 Núcleo

O elemento é o conjunto de átomos que possui o mesmo número atômico (prótons).


Existe o que chamamos de elementos monoatômicos e diatômicos. Os gases He (Hélio) e
Ne (neônio) são exemplos de elementos monoatômicos. Estes elementos são encontrados
de forma isolada na natureza. Em contrapartida, o gás oxigênio (O2) é um exemplo de
elemento diatômico, ou seja, a molécula de gás oxigênio contêm dois átomos do mesmo
elemento. Na figura 2.1 são mostrados alguns elementos di e triatômicos H2, N2, O2, Cl2
e O3. Estes átomos não são encontrados de forma isoladas naturalmente em condições
normais.

O3
O2
H2
F2
N2

Figura 2.1 Alguns elementos poliatômicos.


Fonte: Os autores.

Alguns elementos foram descobertos há muitos anos, vários cientistas ao longo


do tempo tentaram organizar esses elementos de forma de tabela, que pudesse ser
agrupado com algumas características semelhantes. Entretanto, estes cientistas são
pouco lembrados na composição da tabela periódica atual. Nomes como Johann
Wolfgang Döbereiner, Alexandre-Emile Béguyer de Chancourtois, John Newlands e Julius
Lothar Meyer, entre outros, quase não são citados. Todos esses cientistas ficaram a sobra
de Dmitri Mendeleev um cientista russo que lecionou química na Universidade de São
Petersburgo. Ele desenvolveu as primeiras tabelas periódicas utilizada até os dias atuais. A
primeira tabela periódica publicada por Mendeleev é mostrada na figura 2.2.

33
Para desenvolver a tabela periódica Mendeleev utilizou as propriedades físicas que
descobriu dos elementos. Estes estudos foram realizados em seu laboratório que havia
montado em sua própria casa. Ele elaborou fichas para descrever as propriedades para
cada elemento e depois de muitas tentativas e erros descobriu uma maneira para ordenar
os elementos. Ele ordenou os elementos conhecidos pelo peso atômico em períodos e
famílias. Sendo que nas famílias ficavam elementos com propriedades químicas parecidas,
desta forma havia uma sequência lógica entre as famílias, com boa coerência química. A
tabela periódica mostrada na figura 2.2, também foi publicada em alemão no mesmo ano
na busca de atingir um público maior. A tabela de Mendeleev já trazia algumas suposições
de novas famílias para o encaixe de alguns elementos. Ela já continha o dobro elementos
conhecidos por Lavoisier 80 anos antes. Ao longo dos anos com novas descobertas
realizadas por outros cientistas, Mendeleev foi readequando e fazendo novas publicações
de sua tabela.

Figura 2.2 A Tabela original de Mendeleev, de 1869, publicada na Rússia.


Fonte: Lima et al., 2019.

34
A tabela periódica atual (Figura 2.3) mostra os elementos nas linhas horizontais os
períodos e nas linhas verticais as famílias.
Temos na tabela periódica um total de 18 famílias e 7 períodos. As famílias 1, 2, 13
até a 18, são as famílias do grupo A (1A, 2A, 3A até 8A). E as famílias de 3 até 12, são as
famílias do grupo B. As famílias do grupo A, são assim chamadas: 1A: Metais Alcalinos,
2A; Metais Alcalino-terrosos, 3A; Família do Boro, 4A; Família do Carbono, 5A; Família do
Nitrogênio, 6A; Calcogênios, 7A; Halogênios, 8A; Gases Nobres. Os elementos do grupo B
são chamados de metais de transição. Os elementos na tabela periódica estão dispostos
na tabela em ordem crescente de número atômico.
A tabela está distribuída levando em consideração várias características dos elementos,
uma destas é a organização dos orbitais (s, p, d e f ). onde é possível através da distribuição
eletrônica determinar sua posição na tabela periódica (Figura 2.4).
Se realizarmos a distribuição eletrônica dos elementos de uma mesma família,
vamos perceber que existe semelhanças entre elas. Por exemplo, o átomo de sódio tem
11 elétrons, portanto, sua distribuição eletrônica é:
1s2 2s2 2p6 3s1

35
Figura 2.3 Versão atual da Tabela Periódica IUPAC/SBQ, com 118 elementos.
Fonte: http://www.sbq.org.br/anexos/tabela_periodica_SBQ_6nov2019.pdf. Acesso em: 11 fev. 2022.

36
1A 8A

1s 2A 3A 4A 6A 6A 7A 1s

2s 2p
3s 3p
4s 4p
3d
5s 5p
4d
6s 6p
5d
7s 7p
6d

Bloco s Elementos de transição bloco d Bloco p

4f
5f

Lantanídeos e Actinídeos bloco f


Figura 2.4 Configuração eletrônica e tabela periódica.

ou [Ne] 3s1, está é a distribuição eletrônica condensada, onde se coloca o gás nobre
anterior ao número total de elétrons. Podemos notar que o último elétron distribuído está
em 3s1. E, portanto, este elemento está na primeira coluna, na terceira linha da tabela
periódica.
Vamos analisar a posição do rubídio (Rb), dada a seguinte distribuição eletrônica:

1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 5s1 ou [Kr] 5s1
logo, este elemento está na primeira coluna na quinta linha da primeira coluna da
tabela periódica.
A tabela periódica é composta por metais, metaloides e não metais. A grande maioria
dos elementos da tabela periódica são metais, apenas 24 elementos não são metais. Os
metais são sólidos na temperatura ambiente com exceção do mercúrio que é liquido.
Eles são brilhantes, condutores de corrente elétrica, dúcteis e maleáveis. Possuem
tendencia de doar pares de elétrons em reações. Os não metais é a segunda maior classe
de elementos da tabela periódica, praticamente todos estão do lado direito da tabela

37
periódica, com exceção do hidrogênio que está do outro lado. Tirando o grafite que é
uma das formas do carbono, os não metais não conduzem corrente elétrica. Fosforo e
iodo são sólidos na temperatura ambiente. O bromo é um líquido e os elementos da
família 8A são gases. Os não metais tendem a receber elétrons em reações. Na química
orgânica e na bioquímica aparecem praticamente apenas os não metais (H, C, N, O, P e S).
Temos seis elementos classificados como metaloides boro, silício, germânio, antimônio e
telúrio. Mesclam propriedades de metais e não metais, não conduzem corrente elétrica.
O; silício é um semicondutor, a depender da voltagem, em correntes maiores conduz.
Os elementos na tabela periódica seguem algumas tendências para determinação de
algumas propriedades físicas. Os metais alcalinos (família 1A) tendem a aumentar o ponto
de fusão e ebulição de baixo para cima em sua família. Em contrapartida, os elementos
das famílias (7A e 8A) tendem a aumentar os seus pontos de fusão e ebulição de cima para
baixo em suas famílias. O tamanho do átomo é determinado pelo tamanho do seu orbital
externo ocupado. Tendem a aumentar de cima para baixo nas famílias.
A energia de ionização é a dificuldade de remover um elétron mais externo de um
átomo em seu estado gasoso. Estas energias são sempre positivas, pois a energia deve
ser fornecida para superar a força de atração entre os átomos. Tendo uma tendência de
aumentar de baixo para cima nas famílias e com algumas exceções da esquerda para
direita nos períodos.

2.2 Introdução ao estudo das Reações Químicas


A química é a ciência que estuda as transformações químicas. As transformações são
realizadas através das reações químicas. Onde um ou mais reagentes são transformados
em um ou mais produtos. As reações ocorrem o tempo todo ao nosso redor ou mesmo no
nosso organismo. São inúmeros exemplos destas reações (transformações), principalmente
na esfera industrial, tais como: produção de petróleo, fertilizantes, produção de alimentos,
plásticos, explosivos, farmoquímicos entre outros. Alguns aspectos envolvem as reações
químicas, a estequiometria (balanceamento), os tipos de reações, envolvimento de energia
e a relação das massas nas reações devem ser sempre observados para que o processo
ocorra adequadamente.
É muito importante estudar a relação das massas. A massa molecular (MM) é a soma
das massas atômicas em unidades de massa atômica (u) de todos os átomos do composto.
Tanto para compostos moleculares, bem como para compostos iônicos.

38
Exercício 2.1
Determine as massas moleculares para os seguintes compostos: cloreto de sódio, NaCl,
ureia, (NH2)2CO, sulfato de sódio, Na2SO4 e aspirina, C9H8O4?
Solução: A massa molecular é a soma das massas atômicas de todos os átomos em
unidades de massa atômica. Sendo: Na = 23,0 u, Cl = 35,5 u, N = 14,0 u, H = 1,0 u, C = 12,0
u, S = 32,0 u, O = 16,0 u. Logo,

NaCl Na = 23,0 u + Cl = 35,5 u = 58,5 u


(NH2)2CO N = 14,0 u x 2 + H = 1,0 u x 4 + C = 12,0 u + O = 16 u =
28 u + 4 u + 12,0 u + 16 u = 60 u
Na2SO4 Na = 23,0 u x 2 + S = 32,0 u + O = 16 u x 4 =
46 u + 32 u + 64 u = 142 u
C9H8O4 C = 12,0 u x 9 + H = 1,0 u x 8 + O = 16 u x 4=
108 u + 8 u + 64 u = 180 u

Os átomos são tão pequenos que os químicos definiram uma forma para poder realizar
cálculos com mais facilidade, através do mol. O mol é a quantidade de substância que
contem tantos átomos, moléculas ou íons quantos átomos houver em 12 g gramas de
carbono-12. Um mol de uma substância é igual a 6,022 × 10²³ unidades dessa substância
(átomos, moléculas ou íons). O número 6,022 × 10²³ é conhecido como constante de
Avogadro.
Vejamos:
1 mol de átomos de hidrogênio temos, 6,022 × 10²³ átomos de hidrogênio;
1 mol de moléculas de glicose temos, 6,022 × 10²³ moléculas de glicose;
1 mol de íons potássio temos, 6,022 × 10²³ íons potássio.
A massa molar de uma substância é a massa molecular desta substância em gramas.
A glicose (C6H12O6) tem 180 u, portanto, sua massa molar é 180 g. Essa é a quantidade
equivalente a 1 mol, assim, podemos dizer que: 180 g/mol de glicose.

39
Exercício 2.2
Determine a quantidade de mols de água em um frasco graduado que contenha 50
g de água.
Solução: Primeiro vamos determinar a MM da água. Dados: H = 1,0 u; O = 16,0 u,
portanto: MM é igual 18,0 u, ou seja: 18 g/mol.
Logo: 1 mol de H2O ______________ 18 g de H2O
X ______________ 50 g de H2O
X x 18 g de H2O = 1 mol de H2O x 50 g de H2O
X = 1 mol de H2O x 50 g de H2O = X = 2,78 mols de H2O
18 g de H2O

Exercício 2.3
Quantos gramas existem em 0,8 mols de glicose?
Solução: Primeiro vamos determinar a MM da glicose (C6H12O6). Dados: C = 12,0 u;
H = 1,0 u; O = 16,0 u, portanto: MM é igual 180,0 u, ou seja: 180 g/mol.
Logo: 1 mol de C6H12O6 ______________ 180 g de C6H12O6
0,8 mols C6H12O6 ______________ X
X x 1 mol de C6H12O6 = 0,8 mols C6H12O6 x 180 g de C6H12O6
X = 0,8 mols C6H12O6 x 180 g de C6H12O6 = X = 144 g mols de C6H12O6
1 mol de C6H12O6

2.2.1 Estequiometria das Reações (Balanceamento)


As reações químicas representam as transformações. É através das proporções dos
reagentes que podemos calcular quanto de produtos podem ser obtidos. Vejamos, a
reação a seguir:
CH 3 8(g)
+ 5 O2(g) → 3 CO2(g) + 4 H2O(g)
propano oxigênio dióxido de carbono água

Essa é uma reação de combustão. O gás propano e o oxigênio (reagentes) são


convertidos em dióxido de carbono e água (produtos). O sinal de mais (+) na reação
significa que (1 mol de propano reage com 5 mols de gás oxigênio), a seta na reação
representa (para formar 3 mols de dióxido de carbono e 4 mols de água). É fundamental
que a reação esteja balanceada, segundo lei de conservação das massas de Lavoisier:

40
“A soma das massas das substâncias reagentes é igual à soma das massas dos produtos
da reação.” Os números a frente de cada substância representam os coeficientes
estequiométricos (as proporções entre os reagentes e produtos). A proporção neste caso
é 1:5:3:4. Também é muito importante mostrar o estado físico de cada substância: onde (g)
representa estado gasoso, (l) líquido, (aq) estado aquoso e (s) estado sólido.
Exercício 2.4
Dada a seguinte reação de combustão do etano não balanceada. Faça o balanceamento
da reação?
C2H6(g) + O2(g) → CO2(g) + H2O(g)
etano oxigênio dióxido de carbono água

Solução: Para reações de combustão uma boa estratégia e partir do balanceamento


do carbono. Temos 2 átomos de carbono nos reagentes e, portanto, vamos colocar 2 na
frente do dióxido de carbono. Observação não é necessário colocar 1 na frente do etano.
1 C2H6(g) + O2(g) → 2 CO2(g) + H2O(g)
etano oxigênio dióxido de carbono água

Agora, vamos balancear o hidrogênio. Temos 6 átomos nos reagentes e, portanto,


vamos colocar 3 na frente da água.
1 C2H6(g) + O2(g) → 2 CO2(g) + 3 H2O(g)
etano oxigênio dióxido de carbono água

Podemos observar que temos todas substâncias do lado dos produtos com os
coeficientes estequiométricos. Portanto, já sabemos quanto de cada substância será
formada. Logo, sabemos quantos oxigênios são formados. Neste caso, são 7 oxigênios.
Assim, a equação fica:

1 C2H6(g) + 7/2 O2(g) → 2 CO2(g) + 3 H2O(g)


etano oxigênio dióxido de carbono água

Para balanceada a equação devemos colocar 7/2 do lado dos reagentes. Contudo,
temos um coeficiente estequiométrico fracionário. Para deixar todos os coeficientes com
valores inteiros podemos multiplicar toda a equação por 2.
2 C2H6(g) + 7 O2(g) → 4 CO2(g) + 6 H2O(g)
etano oxigênio dióxido de carbono água

41
Exercício 2.5
Faça o balanceamento da reação de neutralização do ácido clorídrico (HCl) com o
hidróxido de magnésio?
HCl(aq) + Mg(OH)2(aq) → MgCl2(aq) + H2O(l)

Solução: O magnésio já está balanceado. Temos um cloro a esquerda e 2 cloros a direita.


Para balancear o cloro, adicionamos colocar 2 na frente do ácido clorídrico a esquerda.
2 HCl(aq) + Mg(OH)2(aq) → MgCl2(aq) + H2O(l)

Agora temos 2 oxigênios e 4 hidrogênios do lado dos reagentes, assim, devemos


colocar 2 na frente da água para finalizar o balanceamento.
Logo,
2 HCl(aq) + Mg(OH)2(aq) → MgCl2(aq) + 2 H2O(l)

2.2.2 Cálculos Estequiometricos


Vimos que as reações químicas balanceadas mostra não somente quais substâncias
reagem e são formadas, mas também a quantidade em proporção molar de cada substância
na reação. A partir das reações químicas balanceadas podemos calcular a quantidade de
matéria obtida a partir de uma determinada massa.
Exercício 2.6
Partido de 18 gramas de glicose, quantos gramas de água podem ser obtidos na
reação de oxidação da glicose?

C6H12O6(g) + O2(g) → CO2(g) + H2O(l)


glicose oxigênio dióxido de carbono água

Solução: A reação não está balanceada. Primeiro vamos realizar o balanceamento.


Neste caso, uma boa estratégia é partir do balanceamento do carbono. Temos 6 átomos
de carbono nos reagentes e, portanto, vamos colocar 6 na frente do dióxido de carbono.

C6H12O6(g) + O2(g) → 6 CO2(g) + H2O(l)


glicose oxigênio dióxido de carbono água

42
Temos 12 átomos de hidrogênio nos reagentes (glicose), vamos colocar 6 na frente da
molécula de água do lado dos produtos.
C H O6(g) + O2(g) → 6 CO2(g) + 6 H2O(l)
6 12
glicose oxigênio dióxido de carbono água

Agora sabemos a quantidade de oxigênio e hidrogênio no lado dos produtos. Portanto,


temos que colocar 6 na frente do gás oxigênio.

C H12O6(g) + 6 O2(g) → 6 CO2(g) + H2O(l)


6
glicose oxigênio dióxido de carbono água

Com a reação balanceada sabemos as proporções de cada uma das substâncias e


assim, podemos realizar os cálculos. O exercício está perguntando sobre a quantidade de
gramas de água que podem ser obtidas a partir de uma quantidade também em gramas
de glicose. Utilizando a estequiometria da reação temos:
1 mol de glicose (C6H12O6) ___________________ 6 mols de água (H2O)
Vamos transformar esta proporção de mols para gramas. Temos neste caso 1 mol de
glicose que equivalem a 180 g. No caso da água temos 6 mols na proporção. Assim, temos
que transformar os 6 mols para gramas. Logo,
1 mol de H2O _________ 18 g H2O
6 mols de H2O _________ X X = 108 g H2O
Substituindo na proporção de mols as quantidades de gramas obtidas.
1 mol de glicose (C6H12O6) ___________________ 6 mols de água (H2O)
180 g de glicose (C6H12O6) __________________ 108 g de água (H2O)

Agora vamos calcular quantos gramas de água podem ser obtidos na reação de
oxidação da glicose a partir de 18 g de C6H12O6.
180 g de glicose (C6H12O6) __________________ 108 g de água (H2O)
18 g de glicose (C6H12O6) __________________ Y
Y = 18 g de glicose (C6H12O6) x 108 g de água (H2O) = 10,8 g de água (H2O)
180 g de glicose (C6H12O6)

43
Exercício 2.7
Dada a reação da ação da enzima urease sobre a ureia, (NH2)2CO, na presença de água,
para produzir amônia e dióxido de carbono. Supondo que tenha as condições necessárias
para que ocorra a reação, quantos gramas de CO2 e NH3 são produzidos a partir de 3,01 x
1023 moléculas de ureia?
(NH2)2CO(aq) + H2O(l) → 2 NH3(aq) + CO2(g)
ureia amônia

Solução: A reação já está balanceada. Vamos determinar primeiro a quantidade de


gramas para o dióxido de carbono. A proporção na equação é: 1 mol de ureia para formar
1 mol de dióxido. Então,
1 mol de ureia ___________ 1 mol de dióxido de carbono
3,01 x 1023 moléculas de ureia ___________ g ?
Neste caso, temos que transformar 1 mol de ureia em moléculas. E transformar 1 mol
de dióxido de carbono em gramas. Logo,
6,02 x 1023 moléculas de ureia ___________ 44 g de dióxido de carbono
3,01 x 1023 moléculas de ureia ___________ X
X = 3,01 x 1023 moléculas de ureia x 44 g de dióxido de carbono = 22 g CO2
6,02 x 1023 moléculas de ureia

Para determinar a quantidade de amônia em gramas devemos transformar a


quantidade de mols de amônia para gramas. Logo,
1 mol amônia ____________ 17 g amônia
2 mols amônia ______________ Y Y = 34 g de NH3
A estequiometria é 1 mol de ureia para 2 mols de amônia.
6,02 x 1023 moléculas de ureia ___________ 34 g de amônia
3,01 x 1023 moléculas de ureia ___________ Z Z = 17 g amônia NH3

44
2.2.3 Calculos do Reagente Limitante
É o reagente que determina o rendimento máximo dos produtos. O rendimento de
uma reação química deve ser calculado com base na quantidade de reagente limitante.
Se o reagente limitante acaba a reação termina imediatamente, mesmo que tenha
quantidade dos outros reagentes.
Na reação de formação do carbonato de cálcio a partir do oxido de cálcio e hidróxido
de cálcio: CaO + Ca(OH)2 → CaCO3, temos: a proporção de 1:1:1. Imaginamos que que
tivéssemos 2 mols de CaO e apenas 1 mol Ca(OH)2, para realizar a reação. Quantos mols
de CaCO3 poderiam ser obtidos? Apenas 1 mol de CaCO3 reagiria, este reagente está em
excesso, uma vez que a proporção da reação é de 1:1. Portanto, o CaO neste caso é o
reagente limitante.
Exercícios 2.8
Supondo que para neutralizar 5,0 kg de ácido sulfúrico (H2SO4) foram utilizados 2,0 kg
de carbonato de cálcio (CaCO3). Determine a massa de sulfato de cálcio (CaSO4) formado?
Solução: Primeiro devemos analisar se existe reagente limitante, e se houver
determinamos a massa do produto a partir deste reagente. Vamos escrever a reação para
determinar a proporção e calcular o número de mols a partir das massas fornecidas. A reação
é: H2SO4(l) + CaCO3(s) → CaSO4(s) + H2O(l) + CO2(g), e neste caso, a proporção estequiométrica
entre as três substâncias de nosso interesse é 1:1:1:1.
As suas massas molares são: (H2SO4) = 98 g/mol, (CaCO3) = 100 g/mol e (CaSO4) =
136 g/mol.
H2SO4(l) + CaCO3(s) → CaSO4(s) + H2O(l) + CO2(g)
↓ ↓ ↓
1 mol 1 mol 1 mol
98 g 100 g 136 g
5,0 kg 2,0 kg ?
Vamos calcular o número de mols de H2SO4 e CaCO3, a partir das massas fornecidas.
1 mol H2SO4 ____________ 98 g H2SO4
X _____________ 5 x 103 g H2SO4 X = 51 mols de H2SO4
1 mol CaCO3 ____________ 100 g CaCO3
Y _____________ 2 x 103 g CaCO3 Y = 20 mols de CaCO3

45
Utilizando um dos valores obtidos para determinar o reagente limitante.
1 mol de H2SO4 ___________ 1 mol de CaCO3
Z ____________ 20 mols de CaCO3 Z = 20 mols de H2SO4

Isso significa que o ácido sulfúrico (H2SO4) está em excesso. Apenas 20 mols irão reagir,
e sobram 31 mols de excesso. O reagente limitante é o carbonato de cálcio (CaCO3).
Portanto, vamos determinar a massa de sulfato de cálcio (CaSO4), a partir de 2,0 kg de
carbonato de cálcio (CaCO3).
1 mol de CaCO3 ___________ 1 mol de CaSO4
Então,
100 g de CaCO3 ___________ 136 g de CaSO4
2 x 103 g de CaCO3 __________ Y Y = 2,72 kg ou 2720 g de CaSO4

2.2.4 Rendimento Percentual da Reação


Na grande maioria das reações obtemos uma quantidade menor dos produtos que
poderia se esperar. Vamos definir alguns termos sobre rendimento da reação. O rendimento
real é a massa do produto obtido em uma reação. Rendimento teórico a massa de produto
que deveria ser obtida de acordo com a estequiometria da reação. Rendimento percentual
é o rendimento real dividido pelo teórico multiplicado por 100%.
Exercícios 2.9
Na produção do etanol, o rendimento teórico é 50,5 g. Supondo um rendimento real
de 44 g. Determine o seu rendimento percentual?
Solução:
% Rendimento = 44 g x 100% = 87,1%
50,5 g

46
2.3 Ligação Química
Os átomos se unem para formar os compostos químicos. Essas interações entre os
átomos são chamadas de ligações químicas. Existem dois principais tipos de ligação
química: a iônica e a covalente. A ligação iônica ocorre entre um metal e um não metal.
A diferença de eletronegatividade é grande o suficiente para que o metal doe elétrons
para o não metal. Na ligação covalente ocorre entre não metal com não metal, neste caso
a eletronegatividade não é suficiente para que a ocorra a doação de elétrons. Na ligação
covalente ocorre um compartilhamento de elétrons entre os átomos do composto.
O cientista Gilbert Lewis elaborou um modelo que ajudou a entender como ocorrem
a ligações química. Os gases nobres com exceção do gás hélio possuem 8 elétrons na
camada mais externa. E isso confere a eles uma certa estabilidade. Lewis elaborou uma
representação por pontos dos elétrons (estrutura de Lewis) e, sempre que possível aos
pares. A seguir, temos a estrutura de Lewis representada do seguinte modo para o átomo
de cloro e molécula de gás cloro:

Cl Cl Cl

Estrutura de Lewis do átomo de cloro Estrutura de Lewis da molécula de Cl2

Através da estrutura de Lewis podemos observar que que cada átomo de cloro
completa seu octeto pelo compartilhamento de um par de elétrons, e, portanto, atinge o
octeto formando uma molécula estável de Cl2.

2.3.1 Ligação Ionica


A formação do cloreto de sódio (NaCl) é violenta, quando o sódio metálico entra em
contato com o gás cloro uma grande quantidade de energia é liberada (reação exotérmica),
cerca de 410,9 kJ/mol. A reação que representa esta formação é:
Na(s) + Cl2(g) → NaCl(s) ΔHfo = - 410,9 kJ/mol
A figura 2.5, mostra a reação de formação do cloreto de sódio.

47
Figura 2.5 Reação entre o metal sódio e o gás cloro para formar o NaCl.
(a) Recipientes, gás cloro à esquerda e metal sódio à direita. (b) Formação ocorrendo.
(c) Reação algum tempo depois. Reação fortemente exotérmica libera calor e luz.
Fonte: Brown, et al., 2005.

O sal formado é composto por íons Na+ e Cl- em um arranjo tridimensional regular
como pode ser observado na figura 2.5. Na formação do cloreto de sódio o átomo de
sódio perde um elétron e se transforma no íon Na+, e um átomo de gás cloro ganhou um
elétron e se transformou no íon Cl-. Como mencionado anteriormente isso ocorre porque
a interação entre os átomos é favorável (diferença de eletronegatividade) além disso, o
metal tem baixa energia de ionização e o não metal tem alta afinidade por elétrons. A
reação de formação do sal (NaCl), pode ser representada pela reação:

+ [ Cl ]-
Na + Cl Na +

48
A seta na reação indica a transferência do elétron do átomo de sódio para um átomo
de cloro. Cada íon da ligação alcança um octeto de elétrons. A distribuição eletrônica para
o átomo de sódio é: 1s2 2s2 2p6 3s1, após a doação do elétron fica com (2s2 2p6), ou seja, 8
elétrons na última camada. O átomo de cloro tem a seguinte distribuição eletrônica: 1s2
2s2 2p6 3s2 3p5, após ganhar um elétron fica com (3s2 3p6), e também com 8 elétrons na
última camada.
A ligação iônica ocorre entre os metais das famílias 1A, 2A e alumínio (3A) com os não
metais das famílias 6A e 7A. A seguir temos alguns exemplos de compostos formados por
ligações iônicas: MgCl2, KBr, Al2O3, K2O, LiF.

2.3.2 Ligação Covalente


A ligação covalente ocorre quando existe compartilhamento de um par de elétrons.
As ligações covalentes ocorrem entre não metais, hidrogênio e um não metal e entre
hidrogênios. A diferença das eletronegatividades dos átomos envolvidos é pequena. A
formação da molécula de gás hidrogênio a partir de dois átomos de hidrogênio pode ser
representada como: 
H + H H H
Estrutura de Lewis
Assim, cada átomo de hidrogênio fica com dois elétrons, ficando com a configuração
eletrônica do gás hélio. E, portanto, tornando se estável. De modo similar ocorre a formação
da ligação do gás cloro, Cl2:

Cl + Cl Cl Cl
Estrutura de Lewis
Com o compartilhamento do par de elétron ligante, cada átomo de cloro tem um
octeto completo. Logo, atinge a mesma configuração eletrônica do gás nobre argônio.
Normalmente a ligação covalente é representada por um traço para cada par de
elétrons compartilhado entre os átomos. Para as duas moléculas (H2 e Cl2) as estruturas de
Lewis são mostradas a seguir:
H H Cl Cl

49
As moléculas de água, amônia e metano são exemplos de compostos formados por
ligações covalentes. Suas estruturas de Lewis são mostradas a seguir, respectivamente:
H

O H H N H H C H

H H H
O compartilhamento de um par de elétrons e conhecido como ligação simples. Em
várias moléculas os átomos atingem o octeto compartilhando mais de um par de elétrons
entre si. Se dois pares de elétrons são compartilhados, temos uma ligação dupla. Do
mesmo modo, se três pares de elétrons são compartilhados temos uma ligação tripla. As
ligações duplas e triplas são conhecidas como ligações múltiplas. A ligação simples é mais
longa entre as três. A seguir temos um exemplo do comprimento das ligações: simples,
dupla e tripla:
N N N N N N
1,47 Å 1,24 Å 1,10 Å
Exercício 2.10
Desenhe a estrutura de Lewis para a molécula PCl3.
Primeiro. Vamos determinar o número total de elétrons de valência da molécula. O
fósforo pertence à família 5A, portanto, tem 5 elétrons de valência. O cloro pertence
à família 7A, portanto, tem 7 elétrons de valência. Logo o número total de elétrons da
molécula é: 5 + (5 x 3) = 26 elétrons.
Segundo. Agora vamos unir os átomos por ligações simples:
Cl

Cl P Cl
Terceiro. Para cada ligação simples são usados 2 elétrons, portanto, foram usados 6
elétrons de um total de 26, logo, sobraram 20 elétrons que devem ser colocados nos
átomos de cloro.

Cl

Cl P Cl

50
Quarto. Sobraram 2 elétrons que dever ser colocados no átomo central. logo, todos os
átomos atingem o octeto.

Cl

Cl P Cl

Existem algumas exceções à regra do octeto. Algumas moléculas podem expandir


o octeto e da mesma maneira, algumas podem ter menos de um octeto. Podemos ter
moléculas desenhadas de diferentes formas obedecendo a estrutura de Lewis. Para
determinar a melhor estrutura e justificar a expansão ou deficiência de octeto, uma boa
maneira é determinar a carga formal de cada átomo na estrutura. A melhor estrutura
será aquela que tiver o maior número de cargas neutros. Ocorrendo um empate de
cargas neutras deve se observar se as cargas negativas estão alocadas nos átomos mais
eletronegativos.
Exercício 2.11
Desenhe a estrutura de Lewis para a molécula PCl5.
Primeiro. Vamos determinar o número total de elétrons de valência da molécula.
O fósforo pertence à família 5A, portanto, tem 5 elétrons de valência. O cloro pertence
à família 7A, portanto, tem 7 elétrons de valência. Logo, o número total de elétrons da
molécula é: 5 + (5 x 7) = 40 elétrons.
Segundo. Agora vamos unir os átomos por ligações simples:
Cl

Cl P Cl

Cl Cl
Terceiro. Para cada ligação simples são usados 2 elétrons, portanto, foram usados
10 elétrons de um total de 40, logo, sobraram 30 elétrons que devem ser colocados nos
átomos de cloro.

Cl

Cl P Cl

Cl Cl

51
Está é a estrutura de Lewis para o PCl5. Neste caso, temos o átomo de fosforo com
(10 elétrons) expansão do octeto. Vamos atribuir as cargas formais para justificar esta
estrutura. Para calcular a carga formal: o número de elétrons de valência do átomo menos
o número de elétrons a sua volta. Portanto, para o átomo de fosforo a carga formal é:
5 – 5 = 0; para o cada átomo de cloro: 7 – 7 = 0. Isso significa que todas as cargas formais
dos átomos na molécula são iguais a 0. A repulsão entre os elétrons na molécula é a
mínima possível com essa estrutura.
Exercício 2.12
Desenhe a estrutura de Lewis para a molécula BF3.
Primeiro. Vamos determinar o número total de elétrons de valência da molécula.
O boro pertence à família 3A, portanto, tem 3 elétrons de valência. O flúor pertence à
família 7A, portanto, tem 7 elétrons de valência. Logo, o número total de elétrons da
molécula é: 3 + (3 x 7) = 24 elétrons.
Segundo. Agora vamos unir os átomos por ligações simples:
F

F B F
Terceiro. Para cada ligação simples são usados 2 elétrons, portanto, foram usados
6 elétrons de um total de 24, logo, sobraram 18 elétrons que devem ser colocados nos
átomos de flúor.

F B F

Está é a estrutura de Lewis para o BF3. Neste caso, temos o átomo de boro com
(6 elétrons) deficiência de octeto. Vamos atribuir as cargas formais para justificar esta
estrutura. Para o átomo de bromo a carga formal é: 3 – 3 = 0; para o cada átomo de flúor é:
7 – 7 = 0. Isso significa que todas as cargas formais dos átomos na molécula são iguais a 0.
A repulsão entre os elétrons na molécula é a mínima possível com essa estrutura.

52
Exercício 2.12
Determine qual é a melhor entre as três estruturas de Lewis para a molécula NCS-.
- - -
N C S N C S N C S
a b c
Solução: Vamos atribuir as cargas formais.
-2 +1 - -1 0 - -1 -
0 0 0 0
N C S N C S N C S
a b c
A três estruturas respeitam a regra do octeto, contudo a letra (a) é a menos é a menos
plausível, pois, existe uma carga positiva em um átomo muito eletronegativo; as estruturas
(b) e (c) empatam no número de cargas neutras, entretanto, a carga negativa está em
átomos opostos na molécula. Neste caso, a melhor estrutura é a letra (b), entre os três
átomos (N, C e S) o nitrogênio é o mais negativo. Logo, nesta estrutura a carga negativa
está no átomo mais eletronegativo. Essas três estruturas representam a ressonância da
molécula.
A ressonância, pode ser definida como um fenômeno físico que ocorre em moléculas
que apresentam pelo menos uma ligação múltipla. A seguir temos, temos a representação
da ressonância para a molécula NCS-:
- - -
N C S N C S N C S

53
Referências bibliográficas
BROWN, T. L.; LEMAY JR, H. E.; BURSTEN, B. E. (2005). Química: a Ciência Central
(9ª edição ed.). São Paulo: Prentice-Hall.
ATKINS, P.; JONES, L.; LAVERMAN, L. (2018). Princípios de Química: Questionando a Vida
Moderna e o Meio Ambiente (3ª edição ed.). Porto Alegre: Bookman.
BRADY, J. E.; RUSSELL, J. W.; HOLUM, J. R. (2002). Química: a Matéria e suas Transformações
(3ª edição ed., v. 1). Rio de Janeiro: LTC.
KOTZ, J. C.; TREICHEL JR, P. (2005). Química Geral e Reações Químicas (6ª edição ed., v. 1).
São Paulo: Cengage Learning.
RUSSEL, J. B. (1994). Química Geral (2ª edição ed., v. 1). São Paulo: Makron Books.
MAHAN, B. H. E.; MYERS, R. J. (1995). Química – Um Curso Universitário (4ª edição ed.).
São Paulo: Edgard Blücher Ltda.
MASTERTON, W. L.; HURLEY, C.N. (1999). Princípios de Química. Rio de Janeiro: LTC.
LIMA, G. M.; BARBOSA, L. C. A.; FILGUEIRAS, C. A. L. Origens e Consequências da Tabela
Periódica, a Mais Concisa Enciclopédia Criada Pelo Ser Humano. Quim. Nova, Vol. 42,
No. 10, 1125-1145, 2019.

54
• GEOMETRIA MOLECULAR
UNIDADE 3
• TEORIAS DE LIGAÇÕES
QUÍMICAS
3. Introdução

Queridos (as) alunos (as), sejam muito benvindos (as)! Vamos juntos mergulhar na
exploração de conceitos relacionados a ligações químicas? É o que faremos nesta unidade.
Começaremos aprendendo como são as formas espaciais das moléculas e o modo como
elas são determinadas. Também veremos as propriedades relacionadas com a geometria
das moléculas. Abordaremos ainda a evolução das teorias sobre ligações químicas e como
as propriedades das substâncias podem ser explicadas por cada uma delas. Espero que
você esteja empolgado para assimilar mais esta unidade. Bons estudos!

3.1 Geometria Molecular


No término da Unidade 2, ao abordarmos as ligações covalentes, usamos as estruturas
de Lewis para demonstrar as fórmulas das moléculas. No entanto, tais estruturas servem
apenas para demonstrar os tipos de ligações ocorridas entre os átomos, não indicando
a estrutura espacial das moléculas. A fórmula espacial de uma molécula, também
denominada de geometria molecular, necessita mostrar precisamente o seu tamanho, o
comprimento de suas ligações bem como os ângulos entre elas.
Iniciaremos o estudo da geometria molecular com os casos mais simples, nos quais as
moléculas apresentam apenas um átomo central (A) ligado a dois ou mais átomos (n) do
mesmo elemento (B), cuja fórmula geral é do tipo ABn. Alguns exemplos dessas moléculas
são: CH4 e SF4, que são do tipo AB4; PCl3 e NH3, do tipo AB3; H2O e SiO2, do tipo AB2; entre
outros.
As geometrias moleculares apresentadas pelas moléculas do tipo ABn são geralmente
derivadas de cinco formas espaciais básicas, das quais são removidos átomos de seus
vértices dando origem às outras formas (Figura 3.1a). Por exemplo, se pegarmos a
geometria tetraédrica e removermos um átomo de um de seus vértices, damos origem a
geometria piramidal. Por outro lado, se removermos dois átomos de dois de seus vértices,
obtemos a geometria angular (Figura 3.1b).

56
3.1.1. Modelo da Repulsão dos Pares de Elétrons do Nível de Valência
A geometria das moléculas é determinada pelo Modelo da Repulsão dos Pares de Elétrons
do Nível de Valência (RPENV). Esse modelo determina a geometria das moléculas

Figura 3.1. (a) Formas espaciais básicas de moléculas do tipo ABn.


(b) Geometrias moleculares derivadas da forma tetraédrica.
Fonte: BROWN, LEMAY & BURSTEN (2005, p. 291)

Com base na repulsão entre os domínios de elétrons presentes no nível de valência


do átomo central, os quais tendem a ficar com a máxima distância possível entre si para
minimizar a repulsão elétrica. Desta forma, de acordo com a quantidade de domínios de
elétrons presentes no nível de valência do átomo central identificamos a geometria da
molécula.

57
Um domínio de elétrons consiste na região do espaço onde a probabilidade de se
encontrar um par de elétrons é máxima. Podem ser constituídos por uma ligação covalente
(par de elétrons ligante) ou por um par de elétrons não compartilhado (par não-ligante).
No caso de pares de elétrons ligantes, sejam eles relativos a ligações covalentes simples,
duplas ou triplas, eles correspondem a um único domínio de elétrons. Por exemplo, a
molécula de SO2 contém três domínios de elétrons ao redor do átomo central, sendo eles
constituídos por uma ligação simples, uma ligação dupla e um par não-ligante, enquanto
que a molécula de H2O tem quatro domínios de elétrons em seu átomo central, os quais
correspondem a duas ligações covalentes simples e dois pares não-ligantes:

O S O H O H

Sendo assim, as moléculas do tipo ABn têm sua geometria molecular atribuída de
acordo com a quantidade de domínios de elétrons presentes ao redor do átomo central A.
De acordo com o modelo da RPENV, a repulsão elétrica entre os domínios de elétrons
faz com que eles adotem arranjos espaciais com um distanciamento máximo possível.
A Tabela 3.1 apresenta todas as formas espaciais possíveis para as moléculas mais simples.
Quando o átomo central apresenta: dois domínios de elétrons, a geometria é linear; para
três domínios de elétrons, a geometria é trigonal plana (AB3) ou angular (AB2); já, quando
são quatro domínios de elétrons, a geometria é tetraédrica (AB4), piramidal (AB3) ou angular
(AB2); ainda, se forem cinco domínios de elétrons, a geometria é bipiramidal trigonal (AB5),
gangorra (AB4), T (AB3) ou linear (AB2); por fim, no caso de seis domínios de elétrons, a
geometria é octaédrica (AB6), piramidal quadrada (AB5) ou quadrada planar (AB4).
Para se determinar a geometria de uma molécula do tipo ABn seguindo o modelo
da RPENV, devemos, primeiramente, desenhar sua estrutura de Lewis e determinar a
quantidade de domínios de elétrons presentes no átomo central. Lembrando que um
domínio de elétrons pode ser uma ligação simples, uma ligação múltipla ou um par não-
ligante. Então, organizamos os domínios de elétrons ao redor do átomo central com o
máximo distanciamento possível entre eles, conforme demonstrado na Tabela 3.1. Por fim,
de acordo com o número de pares não-ligantes presentes entre os domínios de elétrons
ao redor do átomo central, definimos a geometria da molécula.
Por exemplo, para a molécula de CH4, temos uma estrutura de Lewis que aponta
quatro domínios de elétrons no átomo central, para uma molécula do tipo AB4. Logo sua
geometria é tetraédrica:

58
H H
H C H C
H H
H H
Estrutura de Lewis Geometria molecular

Já no caso da molécula de H2O, também temos uma molécula cuja estrutura de


Lewis apresenta quatro domínios de elétrons no átomo central. No entanto, dois destes
domínios correspondem a pares não-ligantes, uma vez que temos uma molécula do tipo
AB2, o que nos leva a uma geometria angular:
H
H O H O
H
Estrutura de Lewis Geometria molecular

Exemplo 1: Determine a geometria molecular através do modelo da RPENV dos


compostos (a) NH3, (b) PCl5 e (c) IF5.

Tabela 3.1. Arranjos espaciais para moléculas do tipo ABn.

Continua...

59
Fonte: BROWN, LEMAY & BURSTEN (2005, p. 296; 298)

Resolução: (a) A estrutura de Lewis para o NH3 é:


H N H
H

60
Observando o átomo central (N), observamos a presença de quatro domínios de
elétrons, sendo três ligações N–H e um par não-ligante. Assim, o arranjo dos domínios
de elétrons é tetraédrico. Como o domínio de par não-ligante não é contado na forma
espacial da molécula, temos uma geometria molecular piramidal trigonal:

N H N H
H H
H H

(b) No caso do PCl5, temos a seguinte estrutura de Lewis:


Cl
Cl P Cl
Cl Cl

O átomo de P central tem cinco domínios de elétrons, todos correspondendo a ligações


simples. Logo, tanto o arranjo dos domínios de elétrons quanto a geometria molecular são
do tipo bipiramidal trigonal:
Cl
Cl P Cl
Cl
Cl

(c) Vejamos a estrutura de Lewis para o IF5:

F
F F
I
F F

Podemos observar a presença de seis domínios de elétrons no átomo de I, sendo


apenas um par não-ligante. Portanto, o arranjo dos domínios de elétrons é octaédrico e a
geometria molecular é piramidal quadrada:
F F
F F F
I F
F I
F F F

61
3.1.2 Polaridade de Ligações
Em substâncias simples como o O2 e o N2 ocorre uma ligação covalente entre dois
átomos idênticos. Em casos como esses, o compartilhamento do par de elétrons da
ligação é simétrico, ou seja, ele fica localizado no centro da região entre os dois átomos,
constituindo uma ligação apolar. Mas, em casos de elementos diferentes, como fica o
par de elétrons da ligação? Bom, aí depende do quanto cada elemento é capaz de atrair
os elétrons compartilhados para si. E a capacidade de um elemento de atrair os elétrons
para si em uma molécula é definida como eletronegatividade. Quando há diferença de
eletronegatividade entre os átomos de uma ligação, temos uma ligação polar.
Por exemplo, nas moléculas de H2 e F2, temos ligações apolares, enquanto que na
molécula de HF, temos uma ligação polar, com os elétrons mais próximos do átomo do
elemento mais eletronegativo, o flúor, constituindo sobre ele um polo negativo (δ–) e
sobre o átomo de H, um polo positivo (δ+):
�+ ��
H H F F H F

Podemos indicar a polaridade da ligação de duas formas: utilizando-se as cargas parciais


δ+ e δ– (lê-se “delta mais” e “delta menos”), as quais se formam com o deslocamento da
densidade eletrônica em direção ao elemento mais eletronegativo, ou utilizando-se a
seta cortada na origem apontando na direção do elemento mais eletronegativo, a qual
também indica o deslocamento da densidade eletrônica. A cruz na origem da seta indica
a carga parcial positiva formada por este deslocamento.
Na tabela periódica, a eletronegatividade varia da esquerda para a direita, nos períodos,
e de baixo para cima, nos grupos ou famílias. Desta forma, o elemento mais eletronegativo
é o Flúor (os gases nobres ficam de fora) e o menos eletronegativo é o Frâncio. Para
facilitar a comparação entre os elementos mais utilizados em ligações covalentes, temos a
seguinte ordem decrescente de eletronegatividade entre eles:

F > O > N = Cl > Br > I = S = C > P = H

Com essa sequência de eletronegatividade, podemos determinar com facilidade quais


são as ligações polares bem como os sinais destes polos. Note que alguns elementos
possuem valores de eletronegatividade muito próximos, sendo considerados iguais para
efeitos práticos. São eles: nitrogênio e cloro; iodo, enxofre e carbono; fósforo e hidrogênio.

62
Assim, podemos afirmar que as ligações N–Cl, C–S, C–I, S–I e P–H podem ser consideradas
praticamente apolares, mesmo sendo constituídas por elementos diferentes.
Para as ligações polares, como podemos mensurar o quanto cada uma delas é polar?
Para se quantificar a polaridade de ligações, utilizamos a grandeza física denominada de
momento de dipolo (µ), a qual é vetorial, ou seja, possui módulo, direção e sentido.
Como em uma ligação polar se estabelem duas cargas parciais de sinais opostos (q+ e q–)
separadas por uma determinada distância (r), temos a formação de um dipolo, para o
qual calculamos o módulo de seu momento de dipolo através da equação:

µ = qr
O módulo do momento de dipolo é diretamente proporcional às cargas parciais
estabelecidas na ligação e inversamente proporcional a distância que separa estas cargas,
ou seja, o comprimento da ligação.

3.1.3. Polaridade de Moléculas


As moléculas também apresentam polaridade de acordo com as ligações que
as constituem. Vamos analisar as moléculas diatômicas, primeiramente, as quais são
constituídas por uma única ligação. Nesse caso, a polaridade da molécula será a mesma
da ligação. Assim, moléculas como H2, Br2 e N2 são apolares, já que suas ligações são
apolares. Por outro lado, moléculas como HCl, IF e CO, constituídas por ligações polares,
são igualmente polares.
As moléculas poliatômicas, por sua vez, as quais são constiuídas por mais de uma
ligação, têm sua polaridade molecular dependente tanto de suas ligações individuais
como também de sua geometria molecular. Vamos analisar o caso do CO2 e do HCN, as
quais são contituídas de ligações polares e possuem geometria linear:

O C O H C N
mR = 0 mR = 0

No CO2, como ambas as ligações são iguais (C=O), o módulo de µ é o mesmo para
cada uma delas. Além disso, a geometria linear indica que os dois vetores momento de
dipolo estão a um ângulo de 180º entre si (mesma direção), mas em sentidos contrários.

63
Desta forma, a soma vetorial dos momentos de dipolo das duas ligações C = O é nula
(µR = 0). Consequentemente, a molécula de CO2 é apolar. Já no caso do HCN, as duas
ligações são diferentes (H–C e C ≡ N) e, portanto, o módulo de µ para cada uma delas é
diferente. Como a sua geometria também é linear, os dois vetores momento de dipolo
estão mesma direção e no mesmo sentido, fazendo com que a sua soma vetorial seja não-
nula (µR ≠ 0). Logo, a molécula de HCN é polar.
Vamos analisar o exemplo da molécula de H2O, cuja geometria é angular. Mesmo a
molécula sendo constituída por duas ligações idênticas (H–O), como agora os vetores
momento de dipolo não estão na mesma direção, a soma vetorial entre eles é não-nula e
a molécula, por consequência, é polar:

H
O mR = 0
H

Nos casos de moléculas do tipo ABn constituídas por três ou mais ligações polares,
que não haja pares não-ligantes no átomo central e que os átomos periféricos sejam
iguais, a soma dos vetores momentos de dipolo das ligações é sempre nula, sendo estas
moléculas apolares. Isso ocorre para as geometrias moleculares trigonal plana, tetraédrica,
bipiramidal trigonal e octaédrica, para as quais, respectivamente, temos como exemplos
as moléculas de BF3, CH4, PCl5 e SF6:

F H Cl F
Cl F F
B C Cl P S
F F H HH Cl F F
Cl F

mR = 0 mR = 0 mR = 0 mR = 0

Entretanto, as moléculas que possuem geometrias assimétricas são todas polares


devido à localização deslocada de seus pares de elétrons não-ligantes. São os casos
das seguintes geometrias: angular, derivada da geometria trigonal plana, como o SO2;
as derivadas da geometria tetraédrica, sendo a piramidal trigonal (PCl3), e angular (SF2);

64
as formas provenientes da geometria bipiramidal trigonal, como a gangorra (SF4), e a
forma de T (IF3); e a piramidal quadrada que deriva da geometria octaédrica (IF5):
F F F
F F
S P Cl S F I F F
O O Cl S I
Cl F F F F
F F
mR = 0 mR = 0 mR = 0 mR = 0 mR = 0 mR = 0

Há ainda os casos das moléculas apolares que possuem geometrias


derivadas de outras formas espaciais, nas quais há pares de elétrons não-ligantes, mas que
se localizam de forma simétrica. São os casos das geometrias linear, proveniente da forma
bipiramidal trigonal, como o XeF2, e a quadrada planar que deriva da forma octaédrica,
como o XeF4:
F
F F
Xe mR = 0 Xe mR = 0
F F
F

Exemplo 2: Determine se as moléculas de (a) SiF4 e (b) NCl3 são polares ou apolares.
Resolução: (a) Na estrutura de Lewis do SiF4, percebemos quatro domínios de elétrons,
todos na forma de ligações simples. Assim, sua geometria é tetraédrica. Nesta forma
espacial, como as quatro ligações são iguais, os momentos de dipolo delas se cancelam,
resultando em um µR = 0 e indicando que a molécula é apolar:

F F
F Si F Si F mR = 0 molécula apolar
F F F

(b) No caso do NCl3, sua estrutura de Lewis aponta quatro domínios de elétrons, sendo
três ligações covalentes e um par não-ligante, o que determina uma geometria piramidal
trigonal. Essa forma espacial é sempre polar devido à presença do par de elétrons não-
ligante, o qual a torna assimétrica.

Cl N Cl N Cl mR = 0 molécula polar
Cl Cl Cl

65
3.2 Teoria da Ligação de Valência
O modelo da teoria da ligação de valência (TLV) surgiu para explicar, em nível de
orbitais atômicos, a formação das ligações covalentes. As ideias de Lewis sobre ligações
covalentes, baseadas nos pares de elétrons e aliadas ao modelo da RPENV, fornecem uma
maneira simples de se determinar as geometrias das moléculas. No entanto, era necessário
se compreender como e por que as ligações covalentes existem e qual a sua relação com os
orbitais atômicos, propostos pela Mecânica Quântica. A TLV explica esses fenômenos além
de prever as formas espaciais das moléculas em concordância com o modelo da RPENV.
Na TLV, a ligação covalente ocorre através da superposição de orbitais atômicos de
valência dos átomos envolvidos. A superposição de orbitais consiste na fusão entre dois orbitais
do nível de valência de átomos diferentes, que passam a ocupar a mesma região do espaço, na
qual é possível a presença de dois elétrons de spins contrários em uma mesma região entre os
núcleos atômicos, o que constitui uma ligação covalente.
Vejamos como exemplo a formação das moléculas de H2, HCl e Cl2. Na formação da
molécula de H2 (Figura 3.2(a)), os átomos de H, cada qual com o seu um único elétron
no orbital 1s, superpõem seus orbitais fazendo com que a região entre os núcleos fique
com a densidade eletrônica concentrada, a qual dá origem a ligação covalente ao ser
atraída por ambos os núcleos atômicos. No HCl (Figura 3.2(b)), por sua vez, o átomo de Cl,
cujo nível de valência tem a distribuição eletrônica 3s2 3p5, sobrepõe o seu orbital 3p que
contém apenas um elétron com o orbital 1s do átomo de H, formando a ligação entre eles.
Por fim, no Cl2 (Figura 3.2(c)) ocorre a superposição dos orbitais 3p de ambos os átomos
para formar a ligação covalente entre eles.

Figura 3.2. Superposição de orbitais atômicos para formar ligações covalentes.


(a) Dois átomos de H têm seus orbitais 1s superpostos para formar a molécula de H2.
(b) Um átomo de H superpõe seu orbital 1s com um dos lóbulos de um orbital 3p de um
átomo de Cl, para formar a molécula de HCl. (c) Dois átomos de Cl têm seus orbitais 3p
superpostos em um dos lóbulos para formar a molécula de Cl2.
Fonte: BROWN, LEMAY & BURSTEN (2005, p. 304)

66
Mas, e para as moléculas maiores, do tipo ABn, que são formadas por duas ou mais
ligações do átomo central com os átomos periféricos, como podemos explicar suas
ligações relacionando-as com a sua geometria? Para explicar as formas espaciais das
moléculas, a TLV supõe que os orbitais atômicos do nível de valência do átomo central
se combinem para formar orbitais híbridos, em um processo de combinação linear de
orbitais atômicos denominado de hibridação. Nesse processo, a quantidade de orbitais
atômicos combinados é sempre igual ao números de orbitais híbridos formados. A disposição
espacial dos orbitais ao redor do átomo central ocorre com o máximo distanciamento possível
entre eles. Desta forma, na TLV a geometria molecular é explicada de modo análogo ao
modelo da RPENV. Entretanto, ao invés de levarmos em conta a repulsão dos domínios de
elétrons, consideramos a repulsão entre os orbitais híbridos ocupados por elétrons.
Para as moléculas do tipo ABn, assim como no modelo da RPENV, em que há cinco
geometrias moleculares principais das quais derivam todas as outras, na TLV também há
cinco tipos principais de hibridações para explicar as moléculas mais comuns. Vejamos
cada um deles através de exemplos:

Caso 1: hibridação sp
Consideremos a molécula de BeCl2 e sua respectiva estrutura de Lewis:

Cl Be Cl

Observando-se a estrutura de Lewis da molécula, percebemos que ocorrem duas


ligações simples do Be com dois átomos de Cl. O Cl (Figuras 3.2(b) e 3.2(c)) possui sete
elétrons em seu nível de valência, sendo que um deles encontra-se desemparelhado em
um orbital 3p. Mas com quais orbitais do Be os átomos de Cl vão superpor seus orbitais
3p, para formarem as suas ligações? O nível de valência do Be tem como configuração
eletrônica 2s2, o qual, em seu estado fundamental, pode ser representado em uma escala
de energia relativa, através da configuração de quadrículas, da seguinte forma:
E

2p

2s
Estado Fundamental

67
Em seu estado fundamental, devido à ausência de elétrons desemparelhados, o Be é
incapaz de realizar ligações com o Cl. No entanto, um elétron do subnível 2s, ao receber
energia, pode ser ‘promovido’ a um dos orbitais 2p, fazendo com o Be fique com dois
elétrons desemparelhados em um estado excitado de energia:
E

2p

2s
Estado Excitado

Em seu estado excitado, o Be tem os dois elétrons desemparelhados de que precisa


para se ligar aos átomos de Cl. Entretanto, como os orbitais 2s e 2p possuem energias
relativas diferentes, as ligações formadas nestas condições teriam energias diferentes. E,
como podemos observar na estrutura de Lewis, as duas ligações da molécula são idênticas.
Desta forma, para solucionar este problema, supõem-se que o orbital 2s e o orbital 2p
ocupado pelo elétron sofrem o processo de hibridação, sendo ‘misturados’ para gerar dois
novos orbitais híbridos, os quais ficam em um patamar de energia médio. Estes orbitais
híbridos são denominados de sp por serem o resultado da combinação de um orbital s
com um orbital p. Os outros dois orbitais p restantes permanecem em seu estado puro e
em seu patamar de energia original:
E
p puros
sp

Estado Hibridado

Os dois orbitais sp são idênticos em formato (Figura 3.3), cada um possuindo dois
lóbulos de tamanhos diferentes, os quais ficam posicionados na mesma direção, mas com
os lóbulos maiores em sentidos opostos. Logo, o arranjo entre os orbitais sp é linear.

68
Hibridação
sp
+
s p sp sp sp
orbitais atômicos orbitais híbridos orbitais híbridos unidos
puros separados (lóbulos grandes)

Figura 3.3. Combinação linear de orbitais atômicos para a formação dos orbitais híbridos sp.
Fonte: Os autores.

Com os seus dois elétrons desemparelhados ocupando dois orbitais no mesmo patamar
de energia, o Be pode formar agora duas ligações idênticas, sobrepondo seus orbitais sp
com os os orbitais p dos átomos de Cl (Figura 3.4). As ligações Be–Cl acompanham o
arranjo linear dos orbitais sp do Be fazendo com que a geometria da molécula também
seja linear.
Cl Be Cl

3p sp sp 3p
Figura 3.4. Arranjo espacial da molécula de BeCl2, de acordo com a TLV.
Fonte: Os autores.

Os orbitais híbridos, pelo fato de possuírem lóbulos maiores que os orbitais atômicos
não-hibridados, têm um maior alcance para realizarem a superposição com os orbitais
dos átomos ligantes. Com isso, realizam ligações mais fortes, de mais alta energia, o que
compensa a energia gasta para realizar a promoção de elétrons durante o processo de
hibridação.

Caso 2: hibridação sp2


Conforme vimos no caso anterior, o nível de valência do átomo central pode ter elétrons
promovidos e seus orbitais combinados para que o átomo possa realizar a quantidade de
ligações de que necessita. Vejamos o exemplo da molécula de BCl3:

Cl B Cl
Cl

69
Observando-se a estrutura de Lewis para o BCl3, percebemos que o B realiza três
ligações. O nível de valência do B tem três elétrons com a distribuição eletrônica 2s2 2p1, no
estado fundamental. Um dos elétrons de 2s pode ser promovido para o primeiro orbital 2p
vazio, de modo que os três elétrons fiquem desemparelhados no estado excitado. Então,
os três orbitais semipreenchidos podem ser combinados dando origem a três orbitais
híbridos denominados sp2 (lê-se: ‘s-p-dois’):
E E E
p puro
2p 2p sp 2

2s 2s
Estado Fundamental Estado Excitado Estado Hibridado

A molécula de BCl3 possui uma geometria trigonal plana (Figura 3.5(b)), pois os três
orbitais sp2 adotam o mesmo arranjo espacial, para que haja o máximo distanciamento
possível entre eles (Figura 3.5(a)).

Caso 3: hibridação sp3


Na molécula de CCl4, o C (n.v.: 2s2 2p2) pode promover um elétron de seu subnível 2s
para o orbital p vazio e então combinar todos os seus orbitais de valência para formar quatro
orbitais híbridos sp3, sendo possível realizar as ligações com os quatro átomos de Cl:
E E E

2p 2p sp3

2s 2s
Estado Fundamental Estado Excitado Estado Hibridado

Os quatro orbitais sp3 adotam o arranjo espacial tetraédrico, para que haja o máximo
distanciamento possível entre eles (Figura 3.6(a)). Logo, a molécula de CCl4 possui uma
geometria igualmente tetraédrica (Figura 3.6(b)).

70
(a)
sp2 sp2
Hibridação
+ +
s py pz sp2 sp2 sp2
sp2
orbitais atômicos
orbitais híbridos orbitais híbridos unidos
puros
separados (lóbulos grandes)

(b)

Cl
3p
2
sp
2 2
sp sp

B
Cl Cl
3p 3p

Figura 3.5. (a) Combinação linear de orbitais atômicos para a formação dos orbitais híbridos
sp2. (b) Arranjo espacial da molécula de BCl3, de acordo com a TLV.
Fonte: Os autores.

(a) sp3
Hibridação sp3 sp3 sp3
+ + +
s px py pz
sp3 sp3 sp3 sp3
orbitais atômicos orbitais híbridos orbitais híbridos unidos
puros separados (lóbulos grandes)

(b)
Cl
3p
3
sp
C Cl

Cl
Cl

Figura 3.6. (a) Combinação linear de orbitais atômicos para a formação dos orbitais híbridos
sp3. (b) Arranjo espacial da molécula de CCl4, de acordo com a TLV.
Fonte: Os autores.

71
Caso 4: hibridação sp3d
As moléculas cujos átomos centrais são elementos maiores, a partir do terceiro
período da tabela periódica, podem realizar mais que quatro ligações. A teoria de Lewis
não explicava a razão pela qual isso ocorre. Por outro lado, a TLV explica esse fenômeno
de maneira satisfatória. Os elementos maiores possuem em seus níveis de valência uma
quantidade maior de orbitais atômicos, os quais possibilitam um número maior de
combinações entre eles, permitindo a estes elementos realizarem um número maior de
ligações. No caso do PCl5, por exemplo, o P (n.v.: 3s2 3p3), por ser um elemento do terceiro
período da tabela, pode promover um elétron de seu subnível 3s para o orbital d vazio.
Assim, o P pode combinar todos os seus orbitais de valência contendo elétrons para formar
cinco orbitais híbridos sp3d, permitindo a ele realizar cinco ligações com os átomos de Cl:

E E E
d puros
3d 3d sp3d
3p 3p
3s 3s
Estado Fundamental Estado Excitado Estado Hibridado

O arranjo espacial adotado pelos cinco orbitais sp3d é o bipiramidal trigonal, garantindo
a eles o máximo distanciamento. Consequentemente, a geometria da molécula de PCl5 é
também bipiramidal trigonal (Figura 3.7).

Cl 3p
3
P sp d
Cl
Cl

Cl
Cl

Figura 3.7. Geometria molecular do PCl5, de acordo com a TLV.


Fonte: Os autores.

72
Caso 5: hibridação sp3d2
Outro exemplo de molécula envolvendo um elemento do terceiro período da tabela
é o caso do SF6. O S (n.v.: 3s2 3p4) pode promover dois elétrons, sendo um de seu subnível
3s e outro de seu subnível 3p, para dois orbitais d vazios. Desta forma, o S pode combinar
seis de seus orbitais de valência para formar os orbitais híbridos sp3d2:

E E E
d puros
3d 3d sp3d
3p 3p
3s 3s
Estado Fundamental Estado Excitado Estado Hibridado

O máximo distanciamento possível para seis orbitais ocorre no arranjo espacial


octaédrico, o qual é adotado pelos orbitais sp3d2, conferindo à mocécula de SF6 uma
geometria também octaédrica (Figura 3.8).

F 2p
F 3
sp d2

F F
S
F
F

Figura 3.8. Geometria molecular do SF6, de acordo com a TLV.


Fonte: Os autores.

73
Casos Especiais: moléculas com pares de elétrons não-ligantes
Vimos no modelo da RPENV que as moléculas com pares de elétrons não-ligantes
também têm a sua geometria molecular prevista. Para isso, basta considerarmos uma
par não-ligante como um domínio de elétrons e dispormos os domínios com o máximo
distanciamento possível entre eles. Mas, e na TLV, como os pares não-ligantes se comportam
no processo de hibridação? Vejamos o exemplo da molécula de NH3. O N (n.v.: 2s2 2p3)
já dispõe de três elétrons desemparelhados de que necessita para realizar as suas três
ligações, restando ainda um par não-ligante em seu subnível 2s. Assim, o N não necessita
de promover elétrons e passar para um estado excitado de energia. Entretanto, ele ainda
precisa combinar os seus orbitais de valência para que todos fiquem no mesmo patamar
de energia. Logo, o nível de valência do N tem os seus orbitais com uma hibridação sp3,
dos quais, três estão ocupados por um elétron desemparelhado, enquanto um deles está
ocupado por um par não-ligante:

E E

2p sp3

2s
Estado Fundamental Estado Hibridado

Os quatro orbitais sp3 adotam um arranjo tetraédrico, mas com um deles ocupado
pelo par não-ligante e os outros três sendo sobrepostos aos orbitais 1s dos átomos de H,
para formar as ligações (Figura 3.9). A geometria da molécula é piramidal trigonal, uma
vez que o par não-ligante não faz parte dela, assim como fazíamos no modelo da RPENV.
Vejamos agora o exemplo do SF4, no qual o S (n.v.: 3s2 3p4) conta com dois elétrons
desemparelhados, mas necessita realizar quatro ligações. Vimos no caso 5 o exemplo do
SF6,

N
H
H
H
Figura 3.9. Geometria molecular do NH3, de acordo com a TLV.
Fonte: Os autores.

74
Onde o S promove dois elétrons para seu subnível d para poder fazer seis ligações.
Entretanto, no caso do SF4, o S necessita promover apenas um elétron para ficar com dois
elétrons desemparelhados, restando ainda dois emparelhados, em um estado excitado de
energia. Então, o S combina os seus orbitais de valência ocupados por elétrons em uma
hibridação sp3d, com quatro orbitais ocupados por um elétron desemparelhado e um
orbital ocupado por um par não-ligante:

E E E
d puros
3d 3d
sp3d
3p 3p
3s 3s
Estado Fundamental Estado Excitado Estado Hibridado

O arranjo bipiramidal trigonal adotado pelos cinco orbitais sp3d aponta para uma
geometria gangorra para a molécula de SF4 (Figura 3.10), já que um destes orbitais está
ocupado pelo par não-ligante.

F
S
F
F

Figura 3.10. Geometria molecular do SF4, de acordo com a TLV.


Fonte: Os autores.

75
3.3 Teoria do Orbital Molecular
A teoria do orbital molecular (TOM) foi a última das teorias sobre ligações covalentes, a
qual foi desenvolvida com o objetivo de esclarecer algumas características específicas das
moléculas, como seus estados excitados de energia e suas propriedades magnéticas, além
da estabilidade de algumas moléculas não bem explicadas pela teoria de Lewis e pela TLV,
como o NO e o CO.
A Mecânica Quântica descreve os elétrons por meio de funções de onda, as quais, nos
átomos isolados, chamamos de orbitais atômicos (OA). Para descrever os elétrons nas
moléculas, a TOM também utiliza funções de onda específicas, as quais são denominadas
de orbitais moleculares (OM). Estes orbitais possuem propriedades muito semelhantes
àquelas que estamos acostumados para os OA’s: possuem energia definida; cada OM
comporta no máximo dois elétrons de spins contrários; e podemos definir a sua superfície
limite para visualisar a sua densidade eletrônica.
Vejamos como exemplo o H2, a mais simples das moléculas. Cada átomo de H contribui
com o seu orbital 1s para formar dois OM’s para a molécula de H2 (Figura 3.11). A superposição
de dois OA’s resulta sempre, igualmente, em dois OM’s. Em uma escala de energia relativa,
observamos que um dos OM’s tem uma energia menor que os OA’s e o outro tem uma
energia maior. O OM de menor energia é denominado de orbital molecular ligante,
enquanto que o de maior energia é denominado de orbital molecular antiligante.

Figura 3.11. Formação dos orbitais moleculares do H2.


Fonte: BROWN, LEMAY & BURSTEN (2005, p. 316)

O OM ligante localiza-se na região entre os núcleos atômicos, o que faz com que os
elétrons presentes neste orbital sejam fortemente atraídos pelos núcleos. Com isso, esses
elétrons têm uma energia menor que se estivessem nos OA’s, permitindo que a densidade
eletrônica permaneça entre os núcleos, dando origem à ligação covalente. Por outro lado, o

76
OM antiligante é de mais alta energia, pois se concentra fora da região internuclear,
concentrando-se nos lados opostos aos núcleos atômicos. Portanto, os elétrons presentes
nesse orbital são repelidos da região da ligação covalente, ficando com uma energia mais
alta que se estivessem nos OA’s.
Os OM’s de H2 são classificados como orbitais moleculares sigma (σ), pois a
densidade eletrônica de ambos fica concentrada ao redor de um eixo imaginário que
passa pelos núcleos atômicos. O OM sigma ligante de H2 é representado por σ1s (lê-se:
‘sigma-um-s’) enquanto que o OM sigma antiligante de H2 é representado por (lê-se:
‘sigma-asterisco-um-s’).
Para simplificar a representação dos orbitais envolvidos na representação de uma
molécula como o H2, utilizamos um diagrama de orbitais moleculares, o qual
representa, em uma escala de energia relativa, os OA’s nas colunas externas e os OM’s na
coluna central. O preenchimento dos orbitais com elétrons segue a regra de Hund e o
princípio da exclusão de Pauli (seção 1.4). Vejamos o diagrama para a molécula de H2:
E

�1s
1s 1s
Átomo de H Átomo de H
�1s
Molécula de H2

Como cada átomo de H contém um elétron em seu orbital 1s, a molécula de H2 fica com
dois elétrons, os quais ficam emparelhados no OM de menor energia, o σ1s. Desse modo,
a molécula de H2 é mais estável que os dois átomos de H separados. E para calcularmos
a estabilidade de uma ligação covalente, na TOM utilizamos o conceito de ordem de
ligação (OL), a qual é definida da seguinte forma:
OL = (número de elétrons ligantes – número de elétrons antiligantes)
Assim, temos:
OL = 1 => ligação simples; OL = 2 => ligação dupla; OL = 3 => ligação tripla.
Obs: Também são possíveis: OL = 1/2, OL = 3/2 ou OL = 5/2, em casos de moléculas
com número ímpar de elétrons.

77
No caso do H2, temos dois elétrons ligantes, presentes em σ1s, e nenhum elétron
antiligante, pois fica desocupado. Logo, a OL = (2 – 0)/2 = 1 e a molécula possui uma
ligação simples.
A configuração eletrônica dos OM’s também está relacionada diretamente com as
propriedades magnéticas das substâncias. As moléculas cujos OM’s contêm um ou mais
elétrons desemparelhados são classificadas como paramagnéticas, pois são atraídas
por um campo magnético. Já, as moléculas que são repelidas fracamente por um campo
magnético são classificadas como diamagnéticas, sendo aquelas que não possuem
elétrons desemparelhados em seus OM’s. O H2, portanto, é uma substância diamagnética.
Vejamos agora, como exemplo, a comparação de duas moléculas hipotéticas, o He2 e o:
E E
� �
�1s �1s
1s 1s 1s 1s
Átomo de He Átomo de He Átomo de He Átomo de He
�1s �1s
+
Molécula de He2 Molécula de He2

No caso do He2, cada átomo de He contribui com dois elétrons, totalizando quatro.
Como o orbital σ1s pode comportar apenas dois elétrons, os outros dois ocupam o orbital
. Desta forma, a diminuição de energia dos elétrons localizados em σ1s, em relação aos
átomos de He isolados, é anulada pelo aumento da energia dos elétrons localizados em
. Então, não ocorre a ligação, ou seja, a molécula de He2 não existe. Se calcularmos a sua
ordem de ligação, teremos: OL = (2 – 2)/2 = 0, confirmando a ausência de ligação.
Por outro lado, em , por se tratar de um cátion monovalente, há a presença de apenas
três elétrons na molécula. Com isso, o orbital é ocupado por apenas um elétron, fazendo
com que a ordem de ligação da molécula seja: OL = (2 – 1)/2 = 1/2. Portanto, como a
ordem de ligação é maior que zero, é possível a existência da molécula de , podendo ela
ser classificada como paramagnética.
Portanto, podemos descrever algumas regras sobre como os OM’s são formados e
ocupados por elétrons:
1. A quantidade de OA’s combinados é sempre igual à quantidade de OM’s formados;
2. A combinação de OA’s ocorre de maneira mais efetiva se eles tiverem energias
similares;

78
3. Quanto maior a superposição entre os OA’s, maior a eficiência de sua combinação,
pois o tamanho dos OM’s resultantes fica maior além de a energia do OM ligante
ficar menor;
4. Pelo princípio da exclusão de Pauli, cada OM pode comportar dois elétrons de
spins contrários, no máximo;
5. Segundo a regra de Hund, a ocupação de dois ou mais OM de mesma energia
ocorre com a entrada de um elétron em cada orbital, com o mesmo spin, para
depois ocorrer o emparelhamento de elétrons.
Seguindo as regras acima, vamos analisar algumas moléculas diatômicas constituídas
por elementos do segundo período da tabela periódica. Começando pelo primeiro
elemento do período, o Li (1s2 2s1), vamos analisar a molécula hipotética de Li2. Sabemos
que os orbitais 1s e 2s possuem energias diferentes. Assim, pela regra 2, podemos assumir
que ocorrerá a superposição apenas dos orbitais semelhantes entre si, ou seja, 1s com 1s e
2s com 2s. E como são combinados dois pares de OA’s, formam-se quatro OM’s, de acordo
com a regra 1:

E

�2s

2s 2s

�2s


�1s
1s 1s
�1s
Li Li2 Li

Obervando-se o diagrama de orbitais moleculares para Li2, verificamos que os OM’s


σ1s e ficam com uma separação menor de energia que os OM’s σ2s e . Isso ocorre porque
os OA’s 2s se estendem até mais distantes do núcleo e, portanto, superpõem-se com
uma maior eficiência. Os seis elétrons da molécula ocupam os orbitais σ1s, e σ2s, o que
corresponde a uma OL igual a um. Logo é possível a existência da molécula de Li2, sendo
ela diamagnética.

79
Os elétrons de Li2 presentes nos orbitais σ1s e , por estes estarem totalmente preenchidos,
não contribuem com a ligação, sendo ela formada pela superposição dos orbitais de
valência 2s dos átomos de Li. Há uma regra geral de que os elétrons das camadas internas
dos átomos não contribuem para a formação de suas ligações. Por isso, também nas
estruturas de Lewis são utilizados apenas os elétrons do nível de valência dos átomos para
representar as moléculas. Assim, ao desenharmos os diagramas de orbitais moleculares
daqui para frente, representaremos apenas os orbitais de valência.
Para os elementos que possuem orbitais p preenchidos por elétrons, temos a
participação destes OA’s na formação dos OM’s. A interação entre orbitais 2p ocorre de
duas formas: os orbitais 2pz (o eixo z é escolhido como o eixo internuclear, arbitrariamente)
sobrepõem-se frontalmente, dando origem a dois OM’s concentrados ao redor do eixo
internuclear, um ligante e outro antiligante, denominados de σ2p e (Figura 3.12(a)); os
outros dois orbitais 2p interagem lateralmente e concentram a densidade eletrônica fora
do eixo internuclear, sendo, portanto, denominados de orbitais moleculares pi (π).
Assim, são obtidos quatro OM π na forma de dois pares de orbitais degenerados, ou seja,
com a mesma energia, sendo dois ligantes (π2p) e dois antiligantes ().
A superposição entre os orbitais 2pz, uma vez que ocorre frontalmente, é maior que
entre os orbitais 2px e 2py. Desse modo, o OM σ2p é mais estável que os OM’s π2p, ficando
em um patamar menor de energia, de acordo com a regra 3. Da mesma forma, o OM tem
uma energia maior que os OM’s . Ainda, há um outro efeito que ocorre com elementos
do segundo período quando há a presença de orbitais p na molécula: as interações 2s–
2p. Essas interações provocam uma diminuição na energia do OM σ2s e um aumento na
energia do OM σ2p. Com isso, nas moléculas de B2, C2 e N2, o orbital σ2p fica em um patamar
maior de energia que os orbitais π2p, enquanto que nas moléculas de O2, F2 e Ne2, o orbital
σ2p ficam em um patamar menor de energia que os orbitais π2p.

80
Figura 3.12. (a) Interação frontal dos orbitais 2pz formando os OM’s σ e σ*.
(b) Interação lateral dos orbitais 2px para formar os seus OM’s π e π*.
(c) Interação lateral dos orbitais 2py formando os seus OM’s π e π *.
Fonte: BROWN, LEMAY & BURSTEN (2005, p. 320)

81
Vejamos agora os exemplos as moléculas de N2 e O2, cujos elementos possuem como
configuração eletrônica: N (1s2 2s2 2p3) e O (1s2 2s2 2p4). Os seus diagramas de orbitais
moleculares ficam da seguinte forma:
E E
��2p ��2p

��2p �2p
� ��2p ��2p
2p 2p 2p 2p
�2p �2p�2p

�2p �2p �2p



�2s �2s
2s 2s 2s 2s
�2s �2s
N N2 N O O2 O

Na molécula de N2, cada N contém cinco elétrons de valência, sendo os 10 elétrons


da molécula distribuídos nos OM’s da seguinte forma: quatro ocupam os orbitais σ2s e ,
preenchendo-os completamente, o que não contribui para a formação da ligação; e seis
elétrons ocupam por completo os orbitais π2p e σ2p. Logo, a molécula é diamagnética e
sua OL é igual a três, confirmando a ligação tripla prevista pela sua estrutura de Lewis.
Já, a molécula de O2 contém dois elétrons a mais que o N2, os quais ocupam os OM’s
antiligantes , com o mesmo spin, um em cada OM. Assim, a molécula é paramagnética
e sua OL é igual a dois. Entretanto, a estrutura de Lewis do O2 não demonstra a presença
de elétrons desemparelhados, os quais são previstos apenas pela TOM. A comprovação
experimental do paramagnetismo do O2 é demonstrada na Figura 3.13, onde se observa
um experimento com um eletroímã. Uma pequena quantidade de O2 líquido é derramada
entre os pólos e, como se trata de uma substância paramagnética, as moléculas são
atraídas pelo campo magnético formando uma ponte entre os esses pólos.

82
Figura 3.13 Um pouco de O2 líquido é cuidadosamente derramado
entre os pólos de um eletroímã.
Fonte: BROWN, LEMAY & BURSTEN (2005, p. 323)

E os casos das moléculas de CO e NO, que não são bem explicadas pelas teorias de
Lewis e TLV, como são abordadas pela TOM? As estruturas de Lewis para essas moléculas
são as seguintes:

C O N O

Em ambos os casos, o átomo de O fica com o seu octeto completo, enquanto que,
no primeiro caso, o C fica com seis elétrons e, no segundo, o N fica com sete elétrons.
A abordagem da TOM para moléculas diatômicas heteronucleares é semelhante às
moléculas homonucleares. A diferença é que, quando há dois elementos diferentes, o de
maior eletronegatividade possui orbitais com energias relativas um pouco menores. Assim,
os diagramas de orbitais moleculares de CO e NO, apresentam-se da seguinte forma:

83
E E
��2p ��2p

��2p ��2p ��2p ��2p


2p 2p
2p 2p
�2p � �2p �
2p 2p

�2p �2p

� �
�2s �2s
2s 2s
2s 2s
�2s �2s
C CO O N NO O

A molécula de CO apresenta dez elétrons de valência, sendo que quatro deles ocupam
os orbitais σ2s e e seis preenchem completamente os orbitais π2p e σ2p. Então, a OL da
molécula é igual a três, indicando uma ligação tripla entre C e O, e ela é diamagnética.
Por outro lado, a molécula de NO contém apenas um elétron a mais, o qual localiza-se em
um dos OM’s . Isso faz com que a molécula seja paramagnética e sua OL seja igual a dois
vírgula cinco, ou seja, que haja uma ligação dupla mais meia ligação entre N e O. Assim,
as estruturas de Lewis mais apropriadas para as moléculas de CO e NO são as seguintes:

C O N O

Então, estamos terminando a nossa terceira unidade. Conseguimos estudar as formas


espaciais das moléculas e, de uma forma relativamente simples, como estas formas são
determinadas. Além disso, pudemos ver as teorias mais avançadas sobre as ligações
covalentes, que nos permitem explicar a existência e a estabilidade de compostos mais
complexos. Que você consiga utilizar esses conceitos em outras disciplinas e colocar em
prática todo o seu aprendizado. Seu empenho sempre vale a pena. Dedique-se sempre e
bons estudos!

84
Referências Bibliográficas
BROWN, T. L.; LEMAY JR, H. E.; BURSTEN, B. E. (2005). Química: a Ciência Central (9ª edição
ed.). São Paulo: Prentice-Hall.
ATKINS, P.; JONES, L.; LAVERMAN, L. (2018). Princípios de Química: Questionando a Vida
Moderna e o Meio Ambiente (3ª edição ed.). Porto Alegre: Bookman.
BRADY, J. E.; RUSSELL, J. W.; HOLUM, J. R. (2002). Química: a Matéria e suas Transformações
(3ª edição ed., v. 1). Rio de Janeiro: LTC.
KOTZ, J. C.; TREICHEL JR, P. (2005). Química Geral e Reações Químicas (6ª edição ed., v. 1).
São Paulo: Cengage Learning.
RUSSEL, J. B. (1994). Química Geral (2ª edição ed., v. 1). São Paulo: Makron Books.
MAHAN, B. H. E.; MYERS, R. J. (1995). Química – Um Curso Universitário (4ª edição ed.).
São Paulo: Edgard Blücher Ltda.
MASTERTON, W. L.; HURLEY, C.N. (1999). Princípios de Química. Rio de Janeiro: LTC.

85
• EQUILÍBRIOS QUÍMICOS
UNIDADE 4
• ELETROQUÍMICA
4. Introdução

Queridos (as) alunos (as), sejam muito benvindos (as)! Você já deve ter ouvido falar de
equilíbrio químico, não é mesmo? A maioria das reações químicas ocorrem em sistemas
que entram em equilíbrio com o passar do tempo. E o estudo desse fenômeno que rege
as reações químicas é o objetivo desta unidade. Veremos as implicações que o equilíbrio
gera a um sistema químico e como explorar as suas propriedades. Os conceitos de acidez
e basicidade também serão abordados, bem como os equilíbrios iônicos que envolvem a
participação destas substâncias. Ainda faremos um breve estudo da eletroquímica e suas
principais aplicações. Bom, temos muito trabalho pela frente. Conto com a sua dedicação
para vencermos juntos a última unidade. Bons estudos!

4.1 Equilíbrio Químico


Você já deve ter observado uma garrafa de refrigerante ainda fechada. Deve ter notado
que, ao a agitarmos, ocorre o desprendimento de gás que cessa, em poucos segundos, ao
deixarmos a garrafa novamente em repouso. Mas, quando abrimos a garrafa, o gás começa
a ser liberado rapidamente. E após poucos segundos, a velocidade de liberação do gás
diminui um pouco. Porém, se mantém constante até que todo o gás saia do refrigerante, o
que leva vários minutos. Se for em um dia de calor e o refrigerante estiver em temperatura
ambiente, ao abrirmos a garrafa, o desprendimento de gás pode ser tão rápido que lança
o líquido para fora. E o refrigerante restante perderá o gás muito mais rapidamente do
que se estivesse gelado. Mas a questão é, por que o gás não fica desprendendo-se do
líquido quando a garrafa está fechada? Para compreendermos esse fenômeno, devemos
levar em conta que o desprendimento de gás carbônico (CO2) do refrigerante envolve
uma reação química reversível que, em um ambiente fechado, como na garrafa, entra em
equilíbrio químico. Então, a velocidade da reação de liberação do CO2 (reação direta) se
torna igual a velocidade da reação que o ‘prende’ no refrigerante (reação inversa). Com
isso, a concentração de CO2 fica constante no espaço sobre o líquido e também em seu
interior.

87
Portanto, para qualquer reação química realizada em um sistema fechado, quando
ocorre a igualdade entre as velocidades das reações direta e inversa, a reação encontra-se em
equilíbrio químico. Consequentemente, as concentrações de reagentes e produtos permanecem
constantes.
Para representarmos a reação química reversível para um sistema em equilíbrio
químico, devemos utilizar uma seta horizontal dividida em duas partes que apontam em
sentidos opostos. Consideremos a reação química hipotética em um sistema gasoso:
A(g) + B(g) C(g) + D(g)

Nesse sistema ocorrem simultaneamente duas reações: A e B reagem para formar C


e D ao mesmo tempo que C e D reagem para formar A e B. Como o sistema encontra-se
em equilíbrio químico, as duas reações ocorrem na mesma velocidade, de modo que as
concentrações de A, B, C e D permanecem constantes.

4.1.1 Constante de Equilíbrio


Como as concentrações de reagentes e produtos não variam com o tempo, em um
sistema em equilíbrio químico, podemos relacionar os seus valores em uma equação
denominada de lei da ação da massa, a qual foi postulada em 1864 por Cato Guldberg e
Peter Waage. Para representarmos a equação, consideremos a reação geral para sistemas
em equilíbrio:
aA + bB cC + dD

na qual a, b, c e d representam os coeficientes estequiométricos de A, B, C e D, para


a reação balanceada. Nessas condições, de acordo com a lei da ação da massa, quando
todos os participantes do sistema estiverem no estado gasoso, a constante de equilíbrio
(Keq) pode ser escrita a partir das pressões parciais dos participantes, da seguinte forma:

(4.1)

Por outro lado, se todos os participantes do sistema estiverem em solução, a relação é


expressa utilizando-se a concentração dos participantes:

(4.2)

88
As expressões acima são chamadas de expressões da constante de equilíbrio para
as reações. A constante de equilíbrio em função da pressão (Kp) é obtida através
da equação 4.1, substituindo-se os valores das pressões parciais dos gases participantes
da reação. E através da equação 4.2, obtemos a constante de equilíbrio em função
da concentração (Kc), utilizando-se os valores das concentrações dos participantes da
reação. Os valores de Kp e Kc fornecem a relação entre as quantidades de reagentes e
produtos presentes no sistema quando este entra em equilíbrio. Valores elevados de Keq
(Kp ou Kc), muito maiores que um, indicam que o equilíbrio contém muito mais produtos
do que reagentes. Já, os valores pequenos de Keq, muito menores que um, mostram que o
equilíbrio favorece os reagentes.
Exemplo 1: Escreva as expressões de Keq para as seguintes reações:
(a) 2H2(g) + O2(g) 2H2O(g)
+ 3-
(b) H3PO3(aq) 3H(aq) + PO3(aq)

Resolução: (a) Como a reação ocorre no estado gasoso, escrevemos para esse sistema
a expressão de Kp:

(b) Nesse caso o sistema encontra-se em solução aquosa, então utilizamos a expressão
de Kc:

4.1.2 Propriedades de Keq


As constantes de equilíbrio possuem algumas propriedades. A primeira dela diz respeito
a reversibilidade das reações. Como os sistemas em equilíbrio sempre são constituídos
por duas reações simultâneas, a direta e a inversa, a ordem em que escrevemos a reação
não interfere no estudo do equilíbrio, pois o valor de Keq estará de acordo com a ordem
apresentada pela reação. Por exemplo, consideremos o equilíbrio entre os gases oxigênio
(O2) e ozônio (O3). Podemos descrever o equilíbrio entre eles de duas formas, cada qual
com a sua respectiva expressão de Keq:
3O2(g) 2O3(g) 2O3(g) 3O2(g)

89
Observando-se as equações de Keq, percebemos que Kp’ = 1/Kp. Portanto, a expressão
da constante de equilíbrio para uma reação escrita em um determinado sentido é a
recíproca daquela para a mesma reação escrita no sentido inverso. A 25 ºC, o valor de Kp,
para a conversão de O2 em O3, é de 6,25x10-58. Assim, o valor de Kp’, para a conversão de O3
em O2, é de: Kp’ = 1/6,25x10-58 => Kp’ = 1,60x1057.
Outra propriedade de Keq está relacionada a multiplicação da reação por um
determinado número. Consideremos novamente o equilíbrio O3 – O2, mas em uma
situação em que multiplicamos a reação por dois:
4O3(g) 6O2(g)

A expressão de Keq para a reação escrita dessa forma, seria:

Ou seja, seria equivalente ao quadrado da expressão de Keq original. Então: Kp =


(1,60x1057)2 => Kp = 2,56x10114 ( 25 ºC). Assim, quando uma reação é multiplicada por um
determinado número, a sua constante de equíbrio deve ser elevada a uma potência igual
a este número.
Uma terceira propriedade de Keq se refere às reações que podem ser escritas em
etapas. Algumas transformações químicas podem ser obtidas por meio da soma de outras
reações para as quais os valores de Keq já são conhecidos. Nesses casos, podemos obter
indiretamente o valor das suas constantes de equilíbrio. Por exemplo, consideremos as
duas reações a seguir, com as suas respectivas expressões de Keq e seus valores obtidos a
100 ºC (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005, p. 304):

Keq = (pNO)2 pBr2


2NOBr(g) 2NO(g) + Br2(g) Keq = 0,42
(pNOBr)2
Keq = (pBrCl)2
Br2(g) + Cl2(g) 2BrCl(g) Keq = 7,2
pBr pCl
2 2

90
Se somarmos as duas reações, cancelando-se os termos idênticos em reagentes e
produtos, obtemos a seguinte reação:
2NOBr(g) 2NO(g) + Br2(g)

Br2(g) + Cl2(g) 2BrCl(g)


2NOBr(g) + Cl2(g) 2NO(g) + 2BrCl(g)

para a qual a expressão de Keq pode ser obtida a partir do produto entre os Keq’s das
etapas individuais:
(pNO)2 pBr (pBrCl)2 (pNO)2 (pBrCl)2
Keq' = Keq1 Keq2 = 2 Keq' =
(pNOBr)2 pBr2 pCl2 (pNOBr)2 pCl2

Portanto, o valor de Keq’ pode ser obtido através do produto entre os valores dos Keq’s
das etapas individuais. Logo, Keq’ = 0,42 x 7,2 = 3,0. Dessa forma, quando uma reação pode
ser escrita em duas ou mais etapas, a sua constante de equilíbrio pode ser obtida por meio do
produto entre as constantes de equilíbrio de cada etapa individual.
Há ainda a propriedade das constantes de equilíbrio serem adimensionais, ou seja,
não terem nenhuma unidade de medida associada a elas. Isto ocorre, porque tanto as
pressões quanto as concentrações utilizadas no cálculo de Keq são divididas por um valor
de referência. Esses valores são de: 1 atm, para as pressões medidas em atmosferas; e 1
mol/L, para as concentrações medidas em quantidade de matéria.

4.1.3 Equilíbrios Heterogêneos


Até o momento, abordamos apenas exemplos onde todos os participantes da
reação em equilíbrio encontram-se no mesmo estado físico, os chamados equilíbrios
homogêneos. Porém, em muitos casos, pode haver diferença entre os estados físicos
dos participantes do equilíbrio, fazendo com que a reação ocorra em duas fases. Nestas
situações, temos os equilíbrios heterogêneos. Um exemplo claro deste tipo de
equilíbrio é o caso dos refrigerantes, que abordamos no início desta unidade. A água com
gás utilizada na produção de bebidas gaseificadas é obtida através da reação entre H2O e
CO2, que ocorre segundo o seguinte equilíbrio:
+ -
H2O(l) + CO2(g) H3O(aq) + HCO3(aq)

91
Nesse caso, temos um sistema heterogêneo com um gás em equilíbrio com um
líquido, no qual há a presença de íons dissolvidos. E como podemos escrever a expressão
de Keq para este equilíbrio? Bom, com relação ao gás e às substâncias dissolvidas, já vimos
que podemos colocar diretamente na expressão. Mas, e no caso de um líquido puro,
como a H2O, como podemos expressar a sua concentração? Apesar de ser possível se
medir a concentração de um líquido puro, não é necessário inclui-la na expressão de Keq.
Isso porque o valor de referência para a concentração de um líquido puro (e também
para um sólido puro) é a concentração da própria substância, ou seja, o resultado da
divisão pela referência será sempre igual a um, não interferindo no valor de Keq. Portanto,
se um equilíbrio envolve um sólido ou um líquido puro, sua concentração não é incluída
na expressão da constante de equilíbrio para a reação. Assim, para o equilíbrio da água
gaseificada, a expressão de Keq é escrita como:

Exemplo 2: Escreva as expressões da constante de equilíbrio para as seguintes reações:


a) 2H2(g) + O2(g) 2H2O(l)
b) CaCO3(s) CaO(s) + CO2(g)
+ -
c) H2O(l) + NH3(g) NH4(aq) + OH(aq)

Resolução: (a) Para escrevermos a expressão de Keq, basta não colocarmos a H2O por se
tratar de um líquido puro. Assim:

(b) Neste caso, como são dois sólidos puros e um gás, apenas o gás participa da
expressão de Keq. Logo:
Kp = pCO2

(c) Nesse caso, temos um líquido puro, um gás e duas substâncias dissolvidas. Então,
escrevemos a expressão de Keq, sem o líquido:

92
4.1.4 Cálculo da Constante de Equilíbrio
Quando desejamos utilizar uma determinada reação química para a produção de
uma substância, uma das coisas com as quais devemos nos preocupar é se o rendimento
do processo será compensatório. Para isso, precisamos definir qual é a proporção entre
reagentes e produtos que permanece no sistema quando ele entrar em equilíbrio, para
as condições em que o processo é realizado. E esse parâmetro é dado pela constante
de equilíbrio. Portanto, o seu cálculo é de grande importância para estabelecer se um
processo é satisfatório.
Para realizar o cálculo de Keq, podemos aplicar diretamente a sua expressão para a
reação em questão, substituindo as concentrações no equilíbrio por valores obtidos
experimentalmente.
Exemplo 3: (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005, p. 544) Uma mistura de hidrogênio e
nitrogênio em um recipiente de reação atinge o equilíbrio a 472 ºC. A mistura de gases
em equilíbrio foi analisada e descobriu-se que ela contém 7,38 atm de H2, 2,46 atm de N2
e 0,166 atm de NH3. A partir desses dados, calcule Keq para:
N2(g) + 3H2(g) 2NH3(g)

Resolução: Com a reação balanceada, podemos escrever a expressão de Keq e substituir


os valores das pressões parciais dos gases no equilíbrio para calcularmos Keq:

No entanto, na maioria das vezes, não conhecemos todas as concentrações dos


reagentes e produtos da reação no equilíbrio. Mas podemos deduzir essas concentrações
se soubermos apenas uma delas, através da comparação com as concentrações iniciais,
usando a estequiometria do processo. Para isso, podemos seguir os seguintes passos:
primeiro, tabelamos todas as concentrações iniciais e no equilíbrio das espécies participantes
da expressão de Keq; então, para a espécie que conhecemos as concentrações inicial e
no equilíbrio, calculamos a variação que ocorre em sua concentração comparando estes
dois estados; em seguida, aplicamos a variação de concentração aos outros participantes
do sistema, respeitando os seus respectivos coeficientes estequiométricos; por fim,
comparando as concentrações iniciais e a sua variação, calculamos as concentrações
no equilíbrio para todos os participantes para, assim, aplicarmos na expressão de Keq e
chegarmos em seu valor.

93
Exemplo 4: (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005, p. 545) Dissolve-se uma quantidade de
amônia suficiente em 5,00 litros de água a 25 ºC para produzir uma solução de 0,0124
mol/L de amônia. A solução é mantida até que atinja o equilíbrio. A análise da mistura em
equilíbrio mostra que a concentração de OH- é 4,64 x 10-4 mol/L. Calcule a Keq a 25 ºC para
a reação.
+ -
NH3(g) + H2O(l) NH4(aq) + OH(aq)

Resolução: primeiramente, tabelamos todas as concentrações iniciais e no equilíbrio


para todos os reagentes e produtos da reação. Deixamos na tabela também um espaço
para a variação das concentrações.
NH3(aq) H2O(l) NH4+(aq) OH-(aq)
Início 0,0124 mol/L ~ 0 mol/L 0 mol/L
Variação
Equilíbrio 4,64 x 10-4 mol/L

Em seguida, calculamos a variação na concentração de OH-, fazendo a diferença entre


as suas concentrações inicial e no equilíbrio: 4,64 x 10-4 – 0 = 4,64 x 10-4 mol/L.
Na sequência, calculamos a variação das outras espécies comparando sua proporção
estequiométrica em relação ao OH-. A reação química balanceada indica que todos os
participantes estão na proporção de 1:1. Portanto, a NH3 e a H2O são consumidas na
quantidade de 4,64 x 10-4 mol/L e o NH4+ é produzido na mesma quantidade.
Então, completamos a linha de variação na tabela e, somando-se as duas primeiras
linhas, obtemos as concentrações no equilíbrio para todas as substâncias. Os reagentes
apresentam uma variação negativa enquanto que os produtos apresentam uma variação
positiva.

NH3(aq) H2O(l) NH4+(aq) OH-(aq)

Início 0,0124 mol/L ~ 0 mol/L 0 mol/L


Variação – 4,64 x 10-4 mol/L ~ + 4,64 x 10-4 mol/L + 4,64 x 10-4 mol/L
Equilíbrio 0,0119 mol/L ~ 4,64 x 10-4 mol/L 4,64 x 10-4 mol/L

Por fim, escrevemos a expressão de Keq e calculamos o seu valor utilizando as


concentrações no equilíbrio deduzidas na tabela.

94
4.1.5 Aplicações das Constantes de Equilíbrio
As constantes de equilíbrio podem ser utilizadas basicamente para três aplicações. A
primeira delas, conforme comentamos na seção 4.1.1, refere-se ao próprio valor de Keq, o
qual nos fornece as quantidades relativas de reagentes e produtos presentes no equilíbrio.
Quando Keq é muito maior que um, temos uma quantidade muito maior de produtos do
que de reagentes. E um valor de Keq muito menor que um, indica uma maior quantidade
de reagentes frente aos produtos.
Uma outra aplicação importante das constantes de equilíbrio é a determinação
do sentido em que uma reação irá prosseguir para atingir o equilíbrio, com base nas
concentrações dos participantes do sistema. Para isso, através da expressão da Keq da
própria reação, calculamos o chamado quociente de reação (Q), o qual é interpretado
da seguinte forma: Se Q = Keq , o sistema se encontra em equilíbrio; já, se Q > Keq , o sistema
não se encontra em equilíbrio. A reação se processará no sentido inverso, ou seja, da direita
para a esquerda, o que diminui a concentração de produtos e aumenta a de reagentes, até
que o equilíbrio seja estabelecido; por fim, se Q < Keq , a reação caminhará da esquerda para
a direita, no sentido direto. Dessa forma, parte dos reagentes será consumida aumentando a
quantidade de produtos, se estabelecendo o equilíbrio.
A terceira aplicação importante das Keq’s é para o cálculo das concentrações dos
participantes do equilíbrio, quando este é estabelecido. Para esse fim, também utilizamos
o método de se tabelar a concentração inicial, a variação e a concentração no equilíbrio
dos seus participantes (seção 4.1.4). Então, usamos a expressão de Keq para chegarmos em
uma equação que nos permita determinar as concentrações desconhecidas.
Exemplo 5: (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005, p. 548) A 500 K a reação abaixo tem
Keq = 0,497. Em uma mistura em equilíbrio a 500 K, a pressão parcial de PCl5 é 0,860 atm
e a pressão parcial de PCl3 é 0,350 atm. Qual é a pressão parcial de Cl2 na mistura em
equilíbrio?
PCl5(g) PCl3(g) + Cl2(g)

Resolução: Como a mistura já se encontra em equilíbrio, não utilizamos as pressões


parciais iniciais. Logo, tabelamos apenas as pressões parciais no equilíbrio:
PCl5(g) PCl3(g) Cl2(g)
Equilíbrio 0,860 atm 0,350 atm x

95
A pressão parcial desconhecida do Cl2 é representada por x. Como o sistema se
encontra em equilíbrio, suas pressões parciais devem satisfazer a expressão de Keq:

Em outros casos, teremos o valor de Keq e das quantidades iniciais de todas as


substâncias, para, então, calcularmos suas quantidades no equilíbrio. Nesses casos,
usamos a tabela com os estados inicial, variação e final, onde tratamos a taxa de variação
como uma variável. A estequiometria da reação vai nos dar os coeficientes dessa variável.
Vejamos o exemplo seguinte:

4.1.6 Princípio de Le Chatelier


Na tentativa de se melhorar o rendimento dos processos em que as reações entram
em equilíbrio, ao longo dos anos, os químicos foram estudando fatores que pudessem
interferir no equilíbrio, deslocando-o no sentido de se obter uma quantidade maior de
produtos. E foi o químico industrial francês, Henri Le Chatelier, quem apresentou primeiro
um princípio que rege o deslocamento dos equilíbrios químicos, o princípio de Le
Chatelier: quando um sistema em equilíbrio químico é perturbado, ele tende a deslocar a
posição do equilíbrio de modo a reduzir ao máximo o efeito da perturbação.
As perturbações que podem interferir em um sistema em equilíbrio são: a adição ou
remoção de um dos participantes; a variação da pressão; além da variação da temperatura
do sistema. Vejamos como os equilíbrios reagem a cada uma dessas perturbações, de
acordo com o princípio de Le Chatelier.

4.1.6.1. Adição ou remoção de um dos participantes


Se adicionamos um dos participantes a um sistema em equilíbrio, a reação se deslocará
no sentido de consumir parte da substância adicionada. Já, se uma substância for removida
do sistema, a reação se deslocará no sentido da formação do participante removido. Dessa
forma, o sistema consegue minimizar o efeito da perturbação causada pela variação na
concentração de um dos participantes, segundo o princípio de Le Chatelier.
Uma explicação para a resposta do sistema em equilíbrio frente a adição ou remoção
de uma substância pode ser dada pelo quociente de reação. Como no equilíbrio, sempre
Q = Keq e o valor de Keq é fixo, a variação na concentração modifica apenas o valor de Q.

96
Assim, quando adicionamos um produto ou retiramos um reagente do sistema em
equilíbrio, o valor de Q aumenta, tornando-se maior que Keq. Então, conforme vimos na
seção 4.1.5, quando Q > Keq, o equilíbrio se desloca para a esquerda. Reciprocamente, se
adicionamos um reagente ou retiramos um produto do sistema, o valor de Q diminui. E se
Q < Keq, o equilíbrio se desloca para a direita.
Consideremos, por exemplo, o equilíbrio da reação de formação da água:
2H2(g) + O2(g) 2H2O(g) .

Se bombearmos mais H2 ou mais O2 para dentro do sistema, a reação se deslocará para


a direita. Consequentemente, uma parte do reagente adicionado é consumida e mais
água é produzida, até que o equilíbrio se reestabeleça. O mesmo ocorre se retirarmos H2O
do sistema, pois a reação se deslocará no sentido de repor o produto retirado, deslocando-
se para a direita. Já, o deslocamento da reação para a esquerda ocorrerá se adicionarmos
H2O ou retirarmos H2 ou O2.

4.1.6.2. Variação da pressão ou do volume do sistema


Para um sistema em equilíbrio contendo um ou mais gases, mantendo-se a sua temperatura
constante, se diminuirmos o seu volume (compressão) ou aumentarmos a sua pressão, a
reação se deslocará no sentido de reduzir a quantidade de moléculas de gás. Um número
menor de moléculas no estado gasoso exerce uma menor pressão no sistema, anulando
a perturbação causada. Por outro lado, o aumento do volume do sistema (expansão) ou a
diminuição de sua pressão, desloca a reação no sentido do maior número de moléculas de gás.
Observemos, como exemplo, o equilíbrio entre os gases NO2 e N2O4:
2NO2(g) N2O4(g)

A estequiometria da reação demonstra que há duas moléculas de reagente para


cada molécula de produto, ambos no estado gasoso. Assim, se a pressão do sistema for
diminuída ou o seu volume for aumentado, a reação se deslocará para a esquerda. E se
aumentarmos a pressão ou diminuirmos o volume desse sistema, a reação se deslocará
para os produtos.

97
4.1.6.3. Variação na temperatura do sistema
Experimentalmente, observa-se que, para reações exotérmicas (liberam calor – ∆H < 0), um
aumento na temperatura do sistema faz com que o equilíbrio se desloque para os reagentes;
e o equilíbrio se desloca para os produtos quando a temperatura é diminuída. Com as reações
endotérmicas (absorvem calor – ∆H > 0) ocorre o contrário; o aumento na temperatura desloca
o equilíbrio para a direita e a sua diminuição desloca a reação para a esquerda.
O princípio de Le Chatelier está de acordo com esses dados experimentais, pois o calor
pode ser visto como um participante da reação. Assim, se uma reação é exotérmica, o calor
pode ser visto como um dos seus produtos enquanto que uma reação que absorve calor
o teria como reagente. Então, se aumentamos a temperatura de um sistema, estamos
fornecendo calor a ele, o que vai favorecer uma reação que tem o calor como reagente. E
as reações que têm o calor como produto são favorecidas quando o retiramos do sistema,
com a diminuição da temperatura.
Por exemplo, consideremos novamente o equilíbrio entre os gases NO2 e N2O4, levando
em conta a variação de entalpia da reação:
2NO2(g) N2O4(g) �H0 = -58 kJ
castanho incolor

O processo descrito para a formação de N2O4 é exotérmico e acompanhado pelo


desaparecimento da coloração castanha do NO2. Logo, a posição de equilíbrio é
facilmente acompanhada pela variação na intensidade da cor castanha da mistura gasosa.
Se resfriarmos o sistema, a reação se deslocará para a direita, no sentido exotérmico, o que
diminuirá a intensidade da cor castanha. E a reação se deslocará no sentido endotérmico
se o sistema for aquecido, o que intensificará a cor castanha. A Figura 4.1 mostra uma
amostra de N2O4 puro congelado (a) que é deixado para descongelar naturalmente.
Conforme se inicia o descongelamento, o N2O4 começa a se decompor formando NO2
(b), demonstrando que a conversão N2O4 – NO2 é endotérmica. Com o término do
descongelamento (c), o calor fornecido pelo aumento da temperatura desloca a reação
no sentido da formação de mais NO2, até que o equilíbrio é estabelecido.

98
4.1.6.4. Efeito da adição de um catalisador
A adição de um catalisador a uma reação reversível aumenta a velocidade para que o
sistema entre em equilíbrio químico, mas não altera as concentrações das substâncias após o
equilíbrio ser atingido. Isso ocorre porque o catalisador diminui a energia de ativação das
reações direta e inversa na mesma proporção. Assim, o aumento em suas velocidades
é exatamente o mesmo, não alterando as concentrações de reagentes e produtos e,
consequentemente, o valor de Keq.

Figura 4.1. (a) Amostra de N2O4 congelado (quase incolor), deixado para descongelar.
(b) Amostra de N2O4 parcialmente descongelado, se descompondo em NO2 (castanho).
(c) Mistura de N2O4 e NO2 em equilíbrio químico.
Fonte: BROWN, LEMAY & BURSTEN (2005, p. 532)

Exemplo 6: (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005, p. 554) Para a reação abaixo, cujo
∆H = 87,9 kJ, em qual sentido o equilíbrio se deslocará quando (a) Cl2(g) for removido;
0

(b) a temperatura for diminuída; (c) o volume do sistema for aumentado; (d) PCl3(g) for
adicionado?
PCl5(g) PCl3(g) + Cl2(g)

Resolução: O deslocamento de equilíbrio em todas essas situações pode ser definido


pelo princípio de Le Chatelier.
a. Se Cl2(g) for removido, o equilíbrio se deslocará para a direita para repor parte da
substância removida. Consequentemente, mais PCl3(g) será formado e parte do
PCl5(g) será consumida.
b. Como a reação é endotérmica, o calor pode ser visto como um reagente. Ao
diminuirmos a temperatura, estamos retirando calor. Logo, o equilíbrio se
deslocará para a esquerda para “repor” o calor retirado. Logo, mais PCl5(g) será
formado e parte do PCl3(g) e do Cl2(g) será consumida.

99
c. Se o volume do sistema for aumentado, o equilíbrio se desloca no sentido em
que há mais moléculas, para a direita, para que elas ocupem um maior volume.
Então, mais PCl3(g) e Cl2(g) serão formados enquanto o PCl5(g) será consumido.
d. Se mais PCl3(g) é adicionado ao sistema, o equilíbrio se deslocará para a esquerda,
consumindo uma parte dele. Assim, mais PCl5(g) será formado e parte do Cl2(g)
será consumida.

4.2 Equilíbrios Ácido-Base


Você, com certeza, já ouviu falar de ácidos e bases, não é mesmo? Até deve conhecer
algumas substâncias do seu cotidiano tradicionalmente consideradas ácidas, como o
vinagre e as frutas cítricas. Também deve saber que o caqui “amarra” a boca devido a sua
basicidade. E que a soda cáustica, utilizada para fazer os sabões caseiros, é uma base forte
e corrosiva, devendo ser manipulada com o máximo de cuidado. Mas, quais características
faz com que uma substância se comporte como um ácido ou como uma base? Para
respondermos adequadamente a esta pergunta, vamos relembrar as definições e as
teorias de ácido e base.
A primeira teoria ácido base foi desenvolvida por Svante Arrhenius, na década de 1880.
Segundo a teoria de Arrhenius, a acidez e a basicidade estariam associadas ao meio aquoso,
onde ácidos liberam íons H+ e bases liberam íons OH–. O brometo de hidrogênio (HBr), por
exemplo, se ioniza em presença de água liberando os íons H+ e Br–, o que o caracteriza
como um ácido, segundo Arrhenius. Um exemplo de base de Arrhenius é o hidróxido de
potássio (KOH), que se dissocia em íons K+ e OH–, em presença de água.
H2O + - H2O + -
HBr(g) H(aq) + Br(aq) KOH(s) K(aq) + OH(aq)

A teoria de Arrhenius possuia limitações por se restringir ao meio aquoso. Para


resolver o problema, no ano de 1923, em dois trabalhos independentes, dois químicos, o
dinamarquês Johannes Brønsted e o inglês Thomas Lowry, propuseram uma teoria mais
abrangente. De acordo com a teoria de Brønsted-Lowry, um ácido é uma substância capaz
de doar um próton (íon H+) e uma base é uma substância capaz de receber um próton. Assim,
ocorre uma reação entre eles. O HBr, por exemplo, segundo a teoria de Brønsted-Lowry, é
um ácido em presença de água porque é capaz de doar um próton, e a água é uma base
porque recebe o próton do HBr:
+ -
HBr(g) + H2O(l) H3O(aq) + Br(aq)
ácido base ácido base

100
O íon hidrônio (H3O+) é o resultado de quando uma molécula de água se liga a um
íon H+, o qual não existe sozinho em meio aquoso. Então, seria incorreta a representação:
. Mas, por conveniência, os químicos usam a representação no lugar de para representar
a ionização de ácidos em meio aquoso.
Os produtos da reação são igualmente um ácido e uma base. Como o íon H3O+ é capaz
de doar prótons, ele também é um ácido; e o íon Br-, por poder receber um próton, é
uma base. Comparando os reagentes e os produtos da reação, temos os chamados pares
ácido-base conjugados. O ácido HBr, ao doar o seu próton, deu origem ao íon Br- que,
portanto, é a sua base conjugada. Por outro lado, ao receber um próton, a H2O deu origem
ao íon H3O+, que é o seu ácido conjugado. Dessa forma, um par ácido-base conjugado são
duas moléculas que se diferem somente pela presença ou ausência de um próton.
Outro exemplo de reação ácido-base de Brønsted-Lowry é a que ocorre entre o fluoreto
de hidrogênio (HF) e a amônia (NH3), a qual não necessita do meio aquoso:
+ -
HF(g) + NH3(l) NH4(solv.) + F(solv.)
ácido base ácido base

O HF doa um próton, dando origem a sua base conjugada, o íon F–, enquanto que
a molécula de NH3 recebe o próton, formando o íon , o seu ácido conjugado. A própria
amônia líquida serve como solvente para a reação, solvatando os íons formados.
A teoria de Brønsted-Lowry é a mais utilizada para o estudo das reações ácido-base
clássicas, bem como dos equilíbrios que as envolvem. Porém, ela também apresenta
limitações, pois não explica as reações ácido-base em que não há a presença de hidrogênio.
Para resolver esta pendência, também em 1923, o químico inglês Gilbert Lewis propôs a
sua teoria baseada no par de elétrons. Segundo a teoria de Lewis, ácido é toda substância
capaz de receber um par de elétrons e base é toda substância doadora de um par de elétrons.
Dessa forma, a sua teoria contempla todos os casos previstos pelas teorias de Arrhenius e
Brønsted-Lowry. A doação de um próton por um ácido de Brønsted requer que ele receba
um par de elétrons, bem como o recebimento de um H+ por uma base de Brønsted
envolve a doação de um par de elétrons. Além disso, a teoria de Lewis prevê a acidez de
cátions metálicos e de elementos com o nível de valência incompleto, como o boro e o
berílio, os quais podem receber um par de elétrons para compartilharem com o elemento
doador em uma ligação covalente coordenada.

101
4.2.1. Força relativa de ácidos e bases
A força relativa de ácidos e bases é determinada experimentalmente. Os ácidos e
bases considerados fortes são as substâncias que, ao reagirem com a água, tem quase
a totalidade de suas moléculas convertidas em íons. Em consequência, os seus pares
conjugados são ácidos e bases com forças desprezíveis, pois não conseguem reverter a
reação para retornarem aos produtos. Dessa forma, quanto mais forte é um ácido, mais fraca
é a sua base conjugada; analogamente, quanto mais forte é uma base, mais fraco é o seu ácido
conjugado.
Os principais ácidos considerados fortes são os ácidos: clorídrico (HCl), bromídrico
(HBr), iodídrico (HI), clórico (HClO3), perclórico (HClO4), nítrico (HNO3) e sulfúrico (H2SO4).
Essas substâncias convertem a totalidade de suas moléculas em H3O+ e suas respectivas
bases conjugadas, ao doarem prótons para a água. Já, as principais bases consideradas
fortes são as constituídas pelos elementos do grupo 1 da tabela, além dos hidróxidos
de: cálcio [Ca(OH)2], estrôncio [Sr(OH)2] e bário [Ba(OH)2]. Essas bases têm todas as suas
moléculas dissociadas em presença de água, liberando íons OH- e seus respectivos cátions
metálicos.
No entanto, a maioria dos ácidos e bases são considerados fracos, ou seja, suas moléculas
não ficam totalmente na forma de íons em presença de água. Seus pares conjugados são
ácidos e bases não tão fracos, que podem reagir com a água retornando a sua forma
original, isto é, podem reverter o processo gerando um estado de equilíbrio químico.
Assim, temos uma constante de equilíbrio associada para cada processo. Consideremos o
ácido hipotético HA e a base hipotética BOH, com suas respectivas reações de formação
de íons:
HA(aq) H(aq) + A(aq) BOH(aq) B(aq) + OH(aq)

Para o equilíbrio de ionização de HA, temos a constante de ionização dos ácidos


(Ka); e para o equilíbrio de dissociação de BOH, temos a constante de dissociação das
bases (Kb); os quais podem ser expressos da seguinte forma:

102
Os valores dessas constantes de equilíbrio indicam a força relativa do ácido ou da
base em questão, pois estabelecem uma proporção entre as concentrações das espécies
ionizadas e não-ionizadas. Assim, quanto maior o valor de Ka, mais forte é o ácido; e quanto
maior o valor de Kb, mais forte é a base.
Os valores de Ka e Kb para as substâncias mais conhecidas são determinados
experimentalmente, a 25 ºC, e tabelados. A Tabela 4.1 apresenta alguns desses valores:
Tabela 4.1. Valores de Ka e Kb (25 ºC) para algumas substâncias.

Substância: Fórmula molecular: Ka ou Kb

Ácido sulfuroso H2SO3 1,7x10-2

Ácido fosfórico H3PO4 7,8x10-3

Ácido fluorídrico HF 6,8x10-4

Ácido nitroso HNO2 4,5x10-4

Metilamina CH3NH2 4,4x10-4

Ácido benzóico HC7H5O2 6,3x10-5

Ácido acético HC2H3O2 1,8x10-5

Amônia NH3 1,8x10-5

Ácido carbônico H2CO3 4,3x10-7

Hidroxilamina HONH2 1,1x10-8

Piridina C5H5N 1,7x10-9

Ácido cianídrico HCN 4,9x10-10


Fonte: Os autores

4.2.2. Auto ionização da água


A água é uma substância capaz de atuar como ácido ou como base de Brønsted,
dependendo das circunstâncias, sendo, portanto, uma substância anfótera. Logo, uma
molécula de água pode doar um próton para outra molécula de água em uma reação
conhecida como auto ionização da água:
H2O(l) + H2O(l) H3O(aq) + OH(aq)

103
Como a reação ocorre em equilíbrio, temos associada a ela uma constante de equilíbrio
denominada de constante do produto iônico da água, a qual é representada por Kw.
Para a água pura, as concentrações de H3O+ e OH– foram medidas a 25 ºC, tendo, ambas,
um valor de 1,0x10-7 mol/L. Logo:
Kw = [H30+][OH–] = (1,0x10–7)(1,0x10–7)= 1,0x10–14
As soluções neutras possuem [H30 +] = [0H –]; as soluções ácidas apresentam enquanto as
soluções básicas apresentam [H30 +] > [0H –].

4.2.3. Escalas de pH e pOH


Para se trabalhar com soluções ácidas e básicas, nas quais as concentrações de H+ (H3O+)
são muito pequenas, os químicos utilizam o conceito de potencial hidrogeniônico
(pH), o qual é calculado da seguinte forma:
pH = –log [H+]
Uma solução neutra, por exemplo, tem um pH = –log (1,0x10–7) = – (–7) = 7,00. As
soluções ácidas, por terem [H+] > 10–7 mol/L, possuem pH < 7,00, devido ao sinal negativo
no logaritmo. Da mesma forma, as soluções básicas possuem pH > 7,00, uma vez que
possuem uma [H+] < 10–7 mol/L. Portanto, temos estabelecida uma escala de pH, a qual
pode ser representada como na Figura 4. abaixo:
Escala de pH de soluções:
neutras
ácidas 7,00 básicas

Figura 4.2. Escala de pH.


Fonte: Os autores

Analogamente, também há o potencial hidroxiliônico (pOH) para se trabalhar


com as pequenas concentrações de OH–, o qual é calculado como o cologaritmo desta
concentração:
pOH = –log [OH–]
E, como a 25 ºC o produto iônico da água é igual a , temos:
[H30+] [0H–] = 1,0 x 10–14

104
Aplicando-se cologaritmo em ambos os lados da equação, temos:
– log([H30+] [0H–]) = – log1,0 x 10-14
pH + pOH = 14 (25 ºC).

4.2.4. Cálculo de pH e pOH


Para os ácidos e bases fortes, o cálculo do pH é feito de maneira simples. Como as
moléculas estão totalmente na forma de íons, para determinarmos a concentração de H+,
basta utilizarmos a estequiometria da reação.
Exemplo 7: Determine o pH e o pOH das soluções (a) de HBr 0,05 mol/L e (b) de KOH
0,75 mol/L.
Resolução: (a) Como o HBr é um ácido forte, todas as moléculas estarão ionizadas.
Assim, temos:

HBr(aq) H(aq) + Br(aq)

Como cada molécula de HBr libera um íon H+, temos: [H+] = [HBr] = 0,05 mol/L. Logo:
pH = –log [0,05] 1,30. E pOH = 14 – 1,30 = 12,70.
(b) O KOH também é um eletrólito forte, dissociando-se totalmente em água. Assim,
temos:
KOH(aq) K(aq) + OH(aq)

Pela estequiometria da reação, [OH–] = [KOH] = 0,75 mol/L. Logo, podemos obter o
pOH da solução:
pOH = –log [0,75] 0,12. Então, pH = 14 – 0,12 = 13,88.
Exemplo 8: Calcule a concentração de uma solução de Ca(OH)2, cujo pH é de 11,75.
Resolução: podemos obter a [OH–] a partir do pOH da solução. Assim:
pOH = 14 – 11,75 = 2,25.
pOH = –log [OH–] => 2,25 = –log [OH–] => log [OH–]= –2,25 => [OH–] = 10–2,25
[OH–] 5,6x10–3 mol/L.

105
No caso do Ca(OH)2, cada espécie libera dois íons OH–. Então:

Para os ácidos e bases fracos, a conversão das moléculas em íons ocorre apenas
parcialmente, gerando um equilíbrio. Dessa forma, o cálculo do pH para as soluções
dessas substâncias envolve os valores de Ka ou Kb para a determinação das respectivas
concentrações de H+ e OH–. Vejamos alguns exemplos:
Exemplo 9: Uma solução aquosa de metilamina (CH3NH2) apresenta uma concentração
de 0,25 mol/L. Calcule o seu pH.
Resolução: (a) Primeiramente, escrevemos a equação que representa a reação no
equilíbrio e sua respectiva expressão de Kb:
+
CH3NH2(aq) + H2O(l) CH3NH3(aq) + OH(aq)

Kb = [CH3NH3+][OH ]
[CH3NH2]

Na sequência, criamos a tabela com as concentrações dos participantes da reação no


início e no equilíbrio:

CH3NH2(aq) OH– (aq)

Início 0,25 mol/L 0 mol/L 0 mol/L


Variação -x +x +x
Equilíbrio 0,25 – x X x

Agora, utilizamos o valor de Kb para a metilamina, cujo valor é de 4,4x10–4 (Tabela 4.1),
além das concentrações no equilíbrio, e substituímos na expressão de Kb:

Podemos considerar a diferença: 0,25 – x 0,25, simplificando a equação para:

106
Para finalizar, determinamos a [OH–] e o pH da solução:
[OH–] = x = 0,010 mol/L.
pOH = –log (0,010) = 2,00.
pH = 14,00 – 2,00 = 12,00.

4.3 Eletroquímica
A eletroquímica estuda a relação entre reações químicas e corrente elétrica. É a base para a
compreensão de assuntos importantes como as reações de oxirredução, o funcionamento
de pilhas e baterias, a corrosão de metais, a espontaneidade de reações, entre outros. Vamos
iniciar nosso estudo abordando os números de oxidação e as reações de oxirredução.

4.3.1. Reações de Oxirredução


Quando um elemento perde elétrons para formar um cátion, dizemos que ele foi
oxidado. A oxidação consiste na perda de elétrons por uma substância. Por outro lado,
quando um elemento forma um ânion por meio do ganho de elétrons, dizemos que ele
foi reduzido. A redução é definida como o ganho de elétrons por uma substância. Esses dois
processos ocorrem simultaneamente, ou seja, quando uma substância é oxidada, seus
elétrons precisam ser recebidos por outra substância, a qual, por sua vez, é reduzida. Dessa
forma, em uma reação de oxirredução ou redox ocorre a transferência de elétrons entre os
reagentes.
Você deve estar se perguntando: como vou saber se uma substância está oxidando
ou reduzindo em uma reação? Para isso, foi desenvolvido o conceito de número de
oxidação (Nox), o qual é definido como a carga real de um íon monoatômico ou a carga
hipotética atribuída a um átomo de uma substância, de acordo com um conjunto de regras.
Quando um elemento sofre oxidação, seu Nox aumenta; se sofrer redução, seu Nox diminui.
As regras para a atribuição do Nox são as seguintes:
1. Os átomos de substâncias simples têm sempre o Nox igual a zero. As substâncias
simples são compostas por apenas um elemento, como O3, N2, P4, S8, etc. nesses
exemplos, os Nox do O, do N, do P e do S são todos iguais a zero.
2. Em íons monoatômicos, o Nox do elemento é sempre igual à carga do íon. Por
exemplo, o Nox do sódio no íon Na+ é +1; o Nox do bromo no íon Br– é –1.

107
3. Alguns elementos possuem Nox fixo. São os casos dos elementos do grupo 1 da
tabela, os metais alcalinos, cujo Nox é sempre +1; os elementos do grupo 2 da
tabela, os metais alcalino-terrosos, os quais têm o Nox sempre igual a +2; além do
Al, que é sempre +3; do Zn, que é +2; e do F, que é -1.
4. O Nox do O é geralmente -2, tanto para compostos moleculares como para iônicos.
As exceções são os peróxidos, como o peróxido de sódio (Na2O2), que contêm o
íon peróxido ( ), onde o Nox do O é –1; e as raras substâncias que contêm o íon
superóxido ( ), no qual o Nox do O é –1/2.
5. O Nox do H é +1, quando ele está ligado a ametais, e -1 quando está ligado a metais.
Por exemplo, no fluoreto de hidrogênio (HF), o H tem Nox de +1, e no hidreto de
cálcio (CaH2), o H tem Nox igual a –1.
6. Os halogênios, exceto o F, têm Nox de -1, quando não combinados com o O ou F, e
Nox positivo variável, quando estão ligados à O ou F. Como exemplos, podemos
citar: o cloreto de hidrogênio (HCl), onde o Cl tem Nox de –1; e os íons perclorato
( ), clorato ( ), clorito ( ) e hipoclorito ( ), nos quais o Cl tem Nox de
+7, +5, +3 e +1, respectivamente.
7. Para substâncias neutras, a soma dos Nox é igual a zero; para íons compostos, a
soma dos Nox é igual à carga do íon. Por exemplo: na molécula de amônia (NH3),
o Nox do N é –3 e o do H é +1, os quais sendo somados: 3(+1) + (–3) = 0; no íon
fosfato (), o Nox do P é +5 enquanto que o do O é –2. Somando-se 5 + 4(–2) = –3,
que é igual a carga total do íon.
Exemplo 10: (BROWN; LEMAY; BURSTEN, 2005, p. 117) Determine o estado de oxidação
do enxofre em cada um dos seguintes itens: (a) H2S; (b) S8 (c) SCl2; (d) Na2SO3; (e) ·
Resolução: (a) O H tem Nox de +1 por estar ligado a um ametal (regra 5). Como o H2S
é uma molécula neutra, pela regra 7, a soma dos Nox dos elementos deve ser igual a zero.
Podemos chamar o Nox desconhecido do S de x, montando uma equação: 2(+1) + x = 0,
da qual obtemos x = –2.
(b) A molécula de S8 é uma substância simples, o que indica um Nox = 0 para o S, de
acordo com a regra 1.
(c) Como o Cl não está ligado a F nem O, o seu Nox é de –1. A soma dos Nox deve ser
igual a zero (regra 7). Assim: x + 2(–1) = 0, fornecendo x = +2.

108
(d) O sódio tem Nox fixo de +1 por ser um metal alcalino (regra 3). O oxigênio tem
Nox de –2 (regra 4). Utilizando-se a regra 7, temos: 2(+1) + x + 3(–2) = 0, de onde obtemos
x = +4.
(e) Nesse caso, atribuímos o Nox de –2 para o O, pela regra 4 e, aplicando a regra 7 para
um íon composto, temos que a soma dos Nox deve ser igual a carga do íon. Logo, temos:
x + 4(–2) = –2, fornecendo x = +6.
Retornando à questão de como sabemos se uma reação é de redox,
precisamos observar se ocorre transferência de elétrons entre os reagentes, ou seja,
precisamos detectar se algum dos reagentes oxida e outro reduz. Para isso, comparamos
os Nox de todos os elementos da reação nos reagentes e nos produtos. Consideremos a
reação seguinte na qual os Nox dos elementos estão indicados abaixo de cada um:
H2(g) + I2(g) 2 H I (g)
0 0 +1 -1

Comparando-se os Nox de cada elemento nos reagentes e produtos, observamos que


o H tem o seu Nox aumentado de 0 para +1, o que mostra que ele está sofrendo oxidação,
e o I tem o seu Nox diminuído de 0 para -1, o que indica redução. Portanto, trata-se de uma
reação de oxirredução. Entretanto, não há doação efetiva de elétrons do H para o I porque
o HI não é uma substância iônica. Assim, em um composto molecular, o Nox de um átomo
não representa a sua carga real. Além disso, a substância H2 é classificada como agente
redutor, pois possibilita a redução do I, enquanto que o I2 é classificado como agente
oxidante, por possibilitar a oxidação do H.
Exemplo 11: Indique o agente oxidante e o agente redutor da reação abaixo:
2H2(g) + O2(g) 2H2O(g)

Resolução: primeiramente, atribuímos o Nox de todos os elementos da reação:

2H2(g) + O2(g) 2H2O(g)


0 0 +1 -2

Em seguida, comparando-se o Nox de cada elemento nos reagentes e nos produtos,


determinamos qual está oxidando e qual está reduzindo. O H está variando o seu Nox de
0 para +1, sofrendo oxidação. O oxigênio tem o seu Nox diminuído de 0 para –2, sofrendo
redução. Logo, o O2 é o agente oxidante, pois contém o elemento que sofre redução (O),
e o H2 é o agente redutor por conter o elemento que sofre oxidação (H).

109
As reações de oxirredução podem ser bem difíceis de serem balanceadas
estequiometricamente. Isso ocorre porque, além de seguirmos a lei da conservação
da massa, igualando a quantidade de elementos nos reagentes e produtos, temos que
igualar também a quantidade de elétrons doados e recebidos durante a reação. E o
balanceamento de elétrons pode ser simples, como nos exemplos vistos acima, onde o
simples igualar dos elementos já ajusta automaticamente os elétrons doados e recebidos,
como também pode ser bastante complexo. Para auxiliar nos casos mais difíceis, foi
desenvolvido um método sistemático de balanceamento de reações redox baseado em
semirreações.
Consideremos a reação redox entre uma solução contendo íons Cu2+ e um pedaço de Zn
metálico. Os processos de oxidação do Zn e de redução do Cu2+ ocorrem simultaneamente,
mas podemos escrevê-los separados em semirreações. Para isso, consideramos os elétrons
como reagentes no processo de redução e como produtos no processo de oxidação:
Cu(aq)
2+
+ Zn(s) Cu(s) + Zn(aq)
2+

2+ _
Zn(s) Zn(aq) + 2e (oxidação)
_
Cu(aq)
2+
+ 2e Cu(s) (redução)

Nesse caso, as quantidades de elétrons envolvidas nos processos de oxidação e redução


já estão iguais. Logo, basta somarmos as duas semirreações que os elétrons se cancelam
e já obtemos a reação total balanceada. Nos casos em que as quantidades de elétrons
estiverem diferentes, primeiro balanceamos as semirreações para igualar o número de
elétrons.
Vamos examinar agora um exemplo um pouco mais complexo, o balanceamento da
reação entre os íons permanganato ( ) e oxalato ( ), ocorrida em meio aquoso
ácido:
_ 2_ 2+
MnO4(aq) + C2O4(aq) Mn(aq) + CO2(g)

Primeiramente, montamos duas semirreações envolvendo os participantes da reação,


para as balancearmos separadamente:
_ 2+
MnO4(aq) Mn(aq)
2 _
C2O4(aq) CO2(g)

110
Começando pela semirreação do íon , a quantidade de Mn já é igual dos dois
lados da equação, não sendo necessário balanceá-los. Porém, há 4 O do lado esquerdo e
nenhum do lado direito. O acerto de oxigênios é feito acrescentando moléculas de água
do lado em que há deficiência. Então, adicionamos 4 H2O do lado direito da equação.
Para compensar os 8 H das moléculas de água, adicionamos 8 H+ do lado esquerdo da
equação, já que se trata de um meio ácido. Assim, a semirreação fica:
+ _ 2+
8H(aq) + MnO4(aq) Mn(aq) + 4H2O(l)

Agora que as quantidades de elementos foram equilibradas, acertamos a quantidade


de carga acrescentando elétrons no lado em que for necessário. A carga total dos reagentes
é: 8(1+) +(1–) = 7+. E a carga dos produtos é: (2+) + 4(0) = 2+. Para balancear as cargas,
adicionamos cinco elétrons nos reagentes:
_ + _ 2+
5e + 8H(aq) + MnO4(aq) Mn(aq) + 4H2O(l)

Tomando a semirreação do íon , observamos que cada íon produz duas moléculas de
CO2. Também, que há uma carga de 2– nos reagentes e nenhuma carga nos produtos,
sendo necessário se adicionar dois elétrons nos produtos para equilibrar as cargas:
2 _ _
C2O4(aq) 2CO2(g) + 2e

Agora que as duas semirreações estão balanceadas, precisamos igualar o número de


elétrons de ambas as reações. Nesse caso, multiplicamos a primeira semirreação por dois e
a segunda por cinco. Então, somamos as duas semirreações para determinarmos a reação
total balanceada:
_ _
+ 2+
10e + 16H(aq) + 2MnO4(aq) 2Mn(aq) + 8H2O(l)
2_ _
5C2O4(aq) 10CO2(g) + 10e
_ 2 _ 2+
16H(aq)
+
+ 2MnO4(aq) + 5C2O4(aq) 2Mn(aq) + 8H2O(l) + 10CO2(g)

Na soma, os dez elétrons de cada lado da equação foram cancelados. O mesmo pode
ser feito em casos de termos substâncias iguais nos reagentes de uma semirreação e nos
produtos da outra. No final do processo, é conveniente conferirmos se o balanceamento está
correto comparando os elementos e as cargas. Nesse caso, temos 2Mn, 10C, 16H, 28O e uma
carga de 4+ em cada lado da equação, confirmando que o balanceamento está correto.

111
O método para se balancear reações de oxirredução pode ser resumido nos seguintes
passos:
1. Dividimos a reação em duas semirreações incompletas, uma para o processo de
oxidação e outra para o processo de redução;
2. Fazemos o balanceamento de cada semirreação separadamente. Iniciamos pelos
elementos diferentes de H e O. Depois, se o meio for ácido: para compensarmos o
oxigênio, adicionamos H2O do lado oposto, e para compensarmos o H, adicionamos
íons H+ do lado oposto. Se o meio for básico: compensamos O com H2O e para o
H, adicionamos H2O no lado em que falta H e íons OH– do lado oposto. Se for
necessário, cancelamos moléculas de água nos reagentes e produtos;
3. Igualamos a quantidade de elétrons das duas semirreações multiplicando-as
completamente por números inteiros;
4. Somamos as semirreações cancelando os elétrons e quaisquer substâncias
repetidas nos reagentes e produtos;
5. Por fim, conferimos o balanceamento comparando os átomos e as cargas de cada
lado da equação.
Exemplo 12: (ATKINS; JONES; LAVERMAN, 2018, p. 541) Você trabalha em um laboratório
de análises e precisa usar uma solução de permanganato para determinar a concentração
de íons brometo em uma amostra de águas subterrâneas enviada por uma agência
reguladora ambiental. Os produtos da reação entre íons brometo (Br–) e permanganato,
, em água em meio básico, são óxido de manganês (IV) sólido, MnO2, e íons bromato, .
Balanceie a equação química da reação.
Resolução: primeiramente, montamos as semirreações de oxidação e redução:
_
MnO4(aq) MnO2(s) (redução)
+7 +4
_ _
Br(aq) BrO3(aq) (oxidação)
-1 +5

Em seguida, realizamos o balanceamento das semirreações. Começando pela


semirreação de redução, temos que a quantidade de Mn já está balanceada. Mas, como
falta dois O no lado direito, adicionamos duas moléculas de H2O. Com isso, faltará quatro
H do lado esquerdo. Como se trata de meio básico, adicionamos quatro moléculas de

112
H2O do lado esquerdo e quatro íons OH– do lado direito. Então, podemos cancelar duas
moléculas de água de cada lado, resultando em:
_ _
MnO4(aq) + 2H2O(l) MnO2(s) + 4OH(aq)

Concluído o balanço dos elementos, realizamos o balanço das cargas. Nos reagentes,
a carga total é: (1–) +2(0) = 1–, enquanto que nos produtos a carga vale: (0) + 4(1–) = 4–.
Assim, adicionamos três elétrons nos reagentes:
_ _ _
3e + MnO4(aq) + 2H2O(l) MnO2(s) + 4OH(aq)

Na semirreação de oxidação, a quantidade de Br já está equilibrada. Porém, falta três


O no lado esquerdo, o nos leva a acrescentar três moléculas de H2O. Consequentemente,
faltará seis H do lado direito, levando à adição de seis moléculas de H2O neste lado e seis
íons OH– do lado esquerdo. Dessa forma, podemos cancelar três moléculas de água de
cada lado da equação:
_ _ _
Br(aq) + 6OH(aq) BrO3(aq) + 3H2O(l)

No balanço das cargas, temos nos reagentes uma carga total de: (1–) + 6(1–) = 7– e
nos produtos uma carga de: (1–) + 3(0) = 1–, o que nos leva a adicionar seis elétrons nos
produtos:
_ _ _ _
Br(aq) + 6OH(aq) BrO3(aq) + 3H2O(l) + 6e

Terminado o balanceamento das duas semirreações, realizamos o equilíbrio do número


de elétrons, multiplicando a semirreação de redução por dois. Agora, determinamos a
reação total balanceada somando as duas semirreações:
_ _ _
6e + 2MnO4(aq) + 4H2O(l) 2MnO2(s) + 8OH(aq)
_ _ _ _
Br(aq) + 6OH(aq) BrO3(aq) + 3H2O(l) + 6e
_ _ _ _
2MnO4(aq) + H2O(l) + Br(aq) 2MnO2(s) + 2OH(aq) + BrO3(aq)

Na soma, foi possível cancelarmos de cada lado da equação: os seis elétrons, três
moléculas de H2O e seis íons OH–.

113
Por fim, conferimos o balanceamento: em cada lado da equação, temos 2Mn, 1Br, 2H,
9O e uma carga de 3–, confirmando que a reação foi balanceada corretamente.
Bom, chegamos ao fim de nossa jornada. Estudamos as reações químicas reversíveis e
seu comportamento estabelecendo um estado de equilíbrio químico. Pudemos abordar
esse conceito em sistemas homogêneos e heterogêneos, além dos equilíbrios envolvendo
ácidos e bases. Por fim, vimos uma breve introdução à eletroquímica com o estudo das
reações de oxirredução. Que você tenha conseguido assimilar o conteúdo o máximo
possível. Seu empenho sempre vale a pena. Dedique-se sempre e bons estudos!

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Referências Bibliográficas
BROWN, T. L.; LEMAY JR, H. E.; BURSTEN, B. E. (2005). Química: a Ciência Central (9ª edição
ed.). São Paulo: Prentice-Hall.
ATKINS, P.; JONES, L.; LAVERMAN, L. (2018). Princípios de Química: Questionando a Vida
Moderna e o Meio Ambiente (3ª edição ed.). Porto Alegre: Bookman.
BRADY, J. E.; RUSSELL, J. W.; HOLUM, J. R. (2002). Química: a Matéria e suas Transformações
(3ª edição ed., v. 1). Rio de Janeiro: LTC.
KOTZ, J. C.; TREICHEL JR, P. (2005). Química Geral e Reações Químicas (6ª edição ed., v. 1).
São Paulo: Cengage Learning.
RUSSEL, J. B. (1994). Química Geral (2ª edição ed., v. 1). São Paulo: Makron Books.
MAHAN, B. H. E.; MYERS, R. J. (1995). Química – Um Curso Universitário (4ª edição ed.). São
Paulo: Edgard Blücher Ltda.
MASTERTON, W. L.; HURLEY, C.N. (1999). Princípios de Química. Rio de Janeiro: LTC.

115
Conclusão

Caro aluno, enfim chegamos ao fim de nossa jornada pela Química. Muitos novos
conhecimentos foram construídos e outros complementados, não é mesmo?
Conseguimos estudar as grandezas e medidas, as teorias atômicas e a estrutura quân-
tica do átomo, além das substâncias, na unidade 1. Falamos sobre a periodicidade quí-
mica, a introdução ao estudo das reações químicas e a definição de ligação química, na
unidade 2. Abordamos as formas espaciais das moléculas e como estas formas são deter-
minadas, as teorias mais avançadas sobre as ligações covalentes, que nos permitem ex-
plicar os compostos mais complexos, na unidade 3. E terminamos estudando na unidade
4 as reações químicas reversíveis e o estado de equilíbrio químico, em sistemas homogê-
neos e heterogêneos, além dos equilíbrios envolvendo ácidos e bases. E finalizamos com
uma breve introdução à eletroquímica.
Que você consiga colocar em prática todo o seu aprendizado e utilizar esses conceitos
na sua vida profissional. Esperamos ter contribuído com a sua formação acadêmica. Que
os conhecimentos aqui abordados sejam apenas o ponto de partida para uma trajetória
acadêmica de sucesso.
Abraços e até uma próxima oportunidade!

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