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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

MBA EM ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS

Resenha Crítica de Caso


Maico Roberto Luckmann Rodrigues da Silva

Trabalho da disciplina: Análises clínico-laboratoriais


Tutor: Prof. Ervylene Trevenzoli de Souza

Florianópolis
2021
ESTUDO DOS MEDICAMENTOS UTILIZADOS PELOS PACIENTES ATENDIDOS EM
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS E SUAS INTERFERÊNCIAS EM TESTES
LABORATORIAIS: UMA REVISÃO DA LITERATURA

Referências: FERREIRA, B., SANTOS, K., RUDOLPH, S., ALCANFOR, J., CUNHA, L.
Estudo dos medicamentos utilizados pelos pacientes atendidos em laboratório de análises
clínicas e suas interferências em testes laboratoriais: uma revisão da literatura. Revista
Eletrônica de Farmácia, v. 6, n. 1, 2009.

O artigo intitulado “Estudos dos medicamentos utilizados pelos pacientes atendidos em


laboratório de análises clínicas e suas interferências em testes laboratoriais: uma revisão da
literatura”, apresenta informações referentes ao uso de medicamentos e as possíveis
interações com os exames laboratoriais realizados por pacientes atendidos pelo Centro de
Análises Clínicas Rômulo Rocha na cidade de Goiânia, estado de Goiás, Brasil. Este
laboratório compreende um dos centros da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal
de Goiás – UFG, atende pacientes encaminhados pelo Sistema Único de Saúde – SUS e,
realiza exames nas áreas de microbiologia, micologia, citopatologia, hematologia,
parasitologia, toxicologia, bioquímicos, de urianálise, sorologia, hormônios e marcadores
tumorais. Os autores deste artigo publicado na Revista Eletrônica de Farmácia em 2009,
eram na época, estudantes e professoras na UFG.
Pelas referências deste artigo, compreende-se que a farmacovigilância e
farmacoepidemiologia, nada mais são do que termos utilizados para os estudos realizados na
avaliação do risco do uso de fármacos em grupos da população. São de extrema importância
para prevenir o surgimento de problemas relacionados às interferências de fármacos nos
resultados de análises laboratoriais. Estudos publicados anteriormente a este artigo,
relataram que a falta de padronização pré-analítica é uma das principais causas de erros
laboratoriais.
Diversos fármacos podem interferir e modificar o diagnóstico clínico-laboratorial. Estas
alterações podem ocorrer no próprio organismo (in vivo) onde por meio de mecanismos
fisiológicos o fármaco causa mudanças biológicas, ou pode interferir na etapa analítica (in
vitro) podendo interagir com os reagentes da análise. E baseado nesta premissa, os autores
analisaram uma lista de medicamentos mais utilizados por pacientes que realizaram exames
laboratoriais no Centro de Análises Clínicas Rômulo Rocha, no período de junho a dezembro
de 2007, e a partir dos resultados obtidos, foi avaliado a interferência nos exames
laboratoriais.
Conforme a análise dos autores, a maior porcentagem de pacientes que realizaram
exames foi do sexo feminino, em seguida, separando as idades independente do sexo, a
faixa etária que mais realizou exames no período de análise foram os de 51 a 60 anos. Os
autores complementam que variações nos resultados ocorrem igualmente nas faixas etárias,
mas podem ser mais evidentes em pessoas de mais idade.
Foi relatado um total de 1344 medicamentos que estavam sendo utilizados pelos
pacientes que realizaram os exames laboratoriais. Do total observado, 197 tinham principio
ativo diferente e por isso os autores realizaram uma divisão em classes terapêuticas. Os
fármacos utilizados eram analgésicos, anti-inflamatórios e antipiréticos, fármacos atuantes no
sistema nervoso central, fármacos cardiovasculares, fármacos atuantes no sangue, fármacos
atuantes no trato gastrointestinal, anti-histamínicos, antidiabéticos, antimicrobianos,
hormônios, racalcificantes, vitaminas, 60 fármacos de outras classes e 172 fármacos
anotados erroneamente que não puderam ser incluídos em nenhuma classe.
Neste estudo, a classe dos fármacos cardiovasculares representava 37% dos
medicamentos utilizados, portanto os autores decidiram discorrer sobre os principais
medicamentos nesta classe. Os medicamentos discutidos foram o captopril, enalapril,
hidrocloritiazida e propranolol, representando 23% dos medicamentos utilizados. A
levotiroxina sódica, que é um medicamento para o tratamento do hipotireoidismo, também foi
discutida no artigo, pois representava 6% dos medicamentos utilizados.
Baseado nos dados referenciados no texto, a maioria dos fármacos causa interferência
in vivo, como por exemplo o captopril que reduz por efeito fisiológico no soro, os valores da
enzima conversora de angiotensina (ECA) ou provocar aumento nos valores de gama-GT; o
enalapril que pode reduzir parâmetros bioquímicos como a aldosterona na urina ou provocar
aumento da amilase no soro; a hidroclorotiazida que pode aumentar a concentração de ureia
dentre outros parâmetros; a levotiroxina sódica que pode provocar redução nos fosfolipídios e
proporções LDL/HDL ou provocar aumento da tiroxina (T4); o propranolol que também pode
causar redução dos valores de ECA ou aumentar valores de apoliproteína C-III dentre outros
parâmetros. Em relação às interferências in vitro, o captopril pode reduzir o ECA no soro e/ou
aumentar a dosagem de frutosamina. Os autores também discutem rapidamente os efeitos
de anticoagulantes, vitaminas e antidiabéticos sobre os resultados laboratoriais. Mas em
resumo, todos os medicamentos citados com destaque para os fármacos cardiovasculares,
podem alterar o resultado de uma série de exames laboratoriais.
Outro estudo, que corrobora com as informações apresentadas neste artigo discutido,
é o trabalho realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia, no qual foi
realizada a avaliação de variáveis pré-analíticas em exames laboratoriais de 422 pacientes
atendidos no Laboratório Central de Vitória da Conquista, no ano de 2017. Foi observado que
68,5% dos pacientes faziam uso de fármacos, e os pacientes com hipertensão arterial
sistêmica – HAS avaliados apresentaram maior chance de ter os níveis de ureia aumentados.
Os autores deste artigo resenhado, relatam que o conhecimento das interferências de
fármacos é de suma importância, para isso torna-se importante o uso das boas práticas em
análises clínicas e laboratoriais e o auxilio de profissionais da área farmacêutica que podem
contribuir com a disseminação do conhecimento. Também, como os fármacos podem ser
uma fonte de variação dos resultados, mas nem sempre podem ser interrompidos, é
importante que pelo menos, o registro destes medicamentos seja realizado seguidamente.
De fato, a leitura deste artigo é útil e a linguagem utilizada no texto é clara, até mesmo
para pessoas que não são da área, comparado a alguns outros estudos semelhantes já
publicados. Algumas das alterações nos exames laboratoriais citadas no texto, são discutidas
nas aulas da disciplina de análises clínico-laboratoriais disponibilizada nesta especialização.
Embora seja uma pesquisa realizada a mais de 10 anos, as informações discutidas no texto
podem auxiliar profissionais das análises clínicas e médicas no planejamento de ações que
melhorem a qualidade dos exames laboratoriais realizados.
Porém, é possível destacar alguns itens que poderiam ter sido melhor discutidos no
texto. Baseando-se nos resultados da figura dois, a qual apresenta a quantidade de fármacos
utilizados de acordo com a classe terapêutica, outros fármacos foram bastante descritos
pelos pacientes além dos fármacos cardiovasculares, como por exemplo, os analgésicos,
anti-inflamatórios e antipiréticos, os anti-histamínicos e os hormônios, porém não foram
levados em consideração na discussão. Ainda, uma discussão mais aprofundada poderia ter
sido realizada com o uso de um referencial teórico obtido a partir de revistas internacionais,
pois os autores se limitaram às referências de textos em português.
Para que seja garantida uma adequada avaliação laboratorial e os resultados errôneos
não comprometam um diagnóstico e não produzam gastos desnecessários, seria importante
que as instituições de saúde produzissem materiais informativos para os grupos de interesse:
os pacientes, os profissionais de saúde e os técnicos e analistas laboratoriais. Estas
informações poderiam ser relatadas ao paciente por meio do médico no momento da
requisição do exame laboratorial ou pelo farmacêutico no momento da dispensação de
medicamentos. Os profissionais da saúde são um grupo importante a ser treinado, pois
precisam replicar estas informações e os técnicos e analistas laboratoriais precisam estar
qualificados para fazer uma boa avaliação dos exames do paciente. Por fim, esse tipo de
orientação deve ocorrer sempre que possível, ou seja, de forma contínua.

Referências:

RAMOS, L. R.; OLIVEIRA, M. V.; SOUZA, C. L. Avaliação de variáveis pré-analíticas em


exames laboratoriais de pacientes atendidos no Laboratório Central de Vitória da Conquista,
Bahia, Brasil. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 56, 2020.

Universidade Federal de Goiás – UFG. Laboratório Rômulo Rocha – LRR. Disponível:


https://farmacia.ufg.br/p/1427-laboratorio-romulo-rocha-lrr. Acesso em: 01 maio 2021.

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