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Universidade Federal do Pará

Instituto de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica

CURSO DE ANÁLISE DE SISTEMAS DE POTÊNCIA

Prof. Dr. UBIRATAN HOLANDA BEZERRA

Belém-PA
2012
Apresentação

O mundo contemporâneo utiliza maciçamente a energia elétrica para realizar as suas


atividades o que tem originado a circulação de grandes fluxos de energia que percorrem vastas
distâncias através das redes elétricas espalhadas pelo mundo, desde os pontos de produção até os
pontos de consumo. A infraestrutura necessária à implantação e operação dos sistemas que aportam
essas grandes quantidades de energia é colossal, tanto em dimensões físicas quanto em investimento
financeiro.

A tendência atual é de crescimento constante desses sistemas, tanto pela ampliação das redes
existentes e pela criação de novos circuitos para o suprimento da crescente demanda por energia
elétrica, como também devido às interligações de sistemas elétricos regionais isolados, formando
grandes sistemas interligados a nível nacional e muitas vezes a nível internacional, envolvendo
redes de vários países.

Examinando esse cenário percebe-se ser de grande importância a existência de técnicas e


ferramentas de engenharia adequadas, que permitam o planejamento e a operação segura e
econômica desses sistemas, sob pena de imensuráveis danos à sociedade. Essas técnicas devem ser
tais que se possa, sem grandes custos, verificar quais as melhores estratégias para a operação e a
expansão desses sistemas, levando em conta as restrições de segurança, economia e de garantia da
qualidade da energia fornecida aos consumidores. Assim, a finalidade básica deste curso é
apresentar os principais estudos que são realizados nos sistemas de potência, visando o seu
planejamento e operação, sob as mais diversas condições operacionais a eles impostas.

Entre os estudos de grande interesse aplicados aos sistemas de energia elétrica destaca-se o
problema do fluxo de carga (ou fluxo de potência), e seu objetivo fundamental consiste em
determinar pontos de operação para o sistema de potência, a partir dos seus parâmetros elétricos, e
do conjunto de restrições operacionais e de segurança que devem ser atendidas pela operação do
sistema. A formulação matemática do problema é feita com base nos princípios dos circuitos
elétricos e nas restrições pré-estabelecidas, de onde surgem equações e inequações algébricas.
Embora os estudos de fluxo de carga não envolvam equações diferenciais, as equações algébricas
são em grande número e, a não ser que se usem aproximações, são não lineares.

Utilizam-se, então, técnicas numéricas iterativas, algumas delas (as mais utilizadas) tão
elaboradas e trabalhosas (principalmente quando se trata de sistemas de grande porte, com milhares
de nós elétricos, o que geralmente é o caso), que exigem laborioso esforço computacional,
praticamente impossível de se resolver sem o auxílio de um computador digital dotado de poderosa
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e eficiente programação. Ainda com relação aos estudos de fluxo de carga serão abordados tópicos
complementares de grande importância para estes estudos, como a obtenção de equivalentes
externos para as redes elétricas, os ajustes e controles automáticos praticados na operação dos
sistemas de potência, bem como a avaliação da segurança estática do sistema de potência, via o
emprego de técnicas de análise de contingências. Também serão abordadas algumas variantes da
formulação padrão do estudo de fluxo de carga, como: fluxo de carga dc, fluxo de carga trifásico,
fluxo de carga ótimo, fluxo de carga harmônico, e fluxo de carga estocástico.

O outro estudo de grande interesse para o planejamento dos sistemas elétricos, o qual será
abordado neste curso, corresponde aos estudos de curto circuito. Estudos de curto circuito são
realizados rotineiramente, e são essenciais no planejamento dos sistemas elétricos, como ferramenta
para a especificação, implantação e verificação de desempenho operacional dos dispositivos de
proteção, como fusíveis, chaves, disjuntores, entre outros.

Assim, a finalidade principal do presente curso é oferecer ao leitor um conteúdo técnico que o
habilite a entender melhor a estrutura dos sistemas elétricos de potência, os modelos utilizados nos
estudos de planejamento da expansão e da operação desses sistemas, as técnicas numéricas e
computacionais empregadas para a solução dos estudos de fluxo de carga e curto circuito.

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Conteúdo

Capítulo 1 O Problema do Fluxo de Carga ..............................................................


1.1 Introdução ao problema do fluxo de carga ....................................................................
1.2 Aplicações do fluxo de carga ................................................................................
1.3 Formulação matemática básica do problema do fluxo de carga ..........................
Considerações iniciais .........................................................................................
Determinação do fluxo de potência entre barras adjacentes ...............................
Formulação matricial ............................................................................................
Tornando determinado o problema indeterminado do fluxo de carga .................
Considerações práticas acerca da formulação do fluxo de carga .......................

Capítulo 2 Solução do fluxo de carga ................................................................


2.1 Métodos de Gauss e Gauss-Siedel ......................................................................
Introdução ao método de Gauss ..........................................................................
Solução do fluxo de carga pelo método de Gauss ..............................................
Método de Gauss-Siedel .....................................................................................
Inicialização dos métodos de Gauss e Gauss-Siedel ..........................................
Critérios de parada dos métodos de Gauss e Gauss-Siedel ...............................
Número de iterações, convergência e esforço de computação dos métodos .....
Fatores de aceleração da convergência ..............................................................

Métodos de Gauss e Gauss-Siedel utilizando a matriz [ Z ] .............................


2.2 Método de Newton-Raphson ...............................................................................
Introdução ao método de Newton-Raphson ........................................................
Solução do fluxo de carga pelo método de Newton-Raphson .............................
Inicialização do método de Newton-Raphson ......................................................
Critérios de parada do método de Newton-Raphson ...........................................
Número de iterações, convergência e esforço de computação do método .........
Fatores de aceleração da convergência ..............................................................
Considerações sobre as técnicas de programação .............................................
Capítulo 3 Otimizações e Variações do Fluxo de Carga ................................
3.1 Métodos desacoplados .........................................................................................
Método de Newton desacoplado .........................................................................
Relações entre os métodos desacoplados e a matriz
susceptância de barra: o método desacoplado rápido ........................................
Critério de parada dos métodos desacoplados ..............................................
Aspectos computacionais dos métodos desacoplados .......................................
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Ajustes e Controles Automáticos em Fluxo de Carga
3.2 Fluxo de carga linear ou CC .................................................................................
Linearização do fluxo de carga ............................................................................
Representação das perdas no fluxo de carga CC ...............................................
Vantagens, aplicações e limitações do fluxo de carga CC ..................................
3.3 Fluxo de carga trifásico .........................................................................................
Motivações para estudos de fluxo de carga trifásicos .........................................
Formulação do fluxo de carga trifásico ................................................................
3.4 Fluxo de carga harmônico ....................................................................................
Harmônicos em sistemas de energia elétrica ......................................................
Formulação do fluxo de carga harmônico ............................................................
3.6 Fluxo de Carga Ótimo
Capítulo 4 Equivalentes Externos de Redes Elétricas
Capítulo 5 – Avaliação da Segurança Estática de Sistemas de Potência
Bibliografia..................................................................................................................
Apêndice A
Apêndice B

Fluxo de Carga
em Sistemas de Energia Elétrica
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Capítulo 1
O Problema do Fluxo de Carga
1.1 INTRODUÇÃO AO PROBLEMA DO FLUXO DE CARGA
O cálculo do fluxo de carga (ou fluxo de potência) de uma rede de energia elétrica consiste
essencialmente na determinação do estado elétrico da rede, ou seja, valores de tensão nos nós e, a
partir daí, a distribuição dos fluxos de potência nos ramos, dadas certas restrições de geração,
condições de carga e configuração topológica da rede.
Neste tipo de problema, a modelagem do sistema é estática, ou seja, a rede é representada por
um conjunto de equações e inequações algébricas. Esse tipo de representação é utilizado em
situações nas quais as variações com o tempo são suficientemente lentas para que se possam ignorar
os efeitos transitórios. Considera-se, também, que o sistema é equilibrado, ou seja, que os valores de
grandezas elétricas são idênticos para todas as fases (exceto, é claro, pelo defasamento entre as
tensões de cada fase). Isto permite representar o sistema em seu modelo unifilar. Além disso,
assume-se que os elementos passivos do sistema são representados por parâmetros concentrados.
A formulação mais comumente encontrada para o fluxo de carga é feita em termos de
potências ativa e reativa que fluem no sistema. Pode-se também encontrar as equações do fluxo de
carga escritas em função das correntes, em vez das potências, ou ainda formulações mistas de
potências e correntes. Em todos os casos, o resultado obtido para as tensões nas barras do sistema é
o mesmo.
Pelo fato de a rede de transmissão ser aproximadamente linear, pode-se, à primeira vista,
pensar que o problema do fluxo de carga é linear. Entretanto, como a potência é o produto da tensão
pela corrente, o problema se torna não linear mesmo para uma rede linear.
A presença de não linearidades na formulação do problema, inseridas pela descrição em
termos de potência, torna difícil encontrar soluções analíticas. Por isso, faz-se uso de técnicas de
cálculo numérico iterativo. Esta estratégia transforma o problema não linear em um conjunto de
problemas lineares que, resolvidos iterativamente levam à solução do problema não linear.
A solução, com o necessário grau de precisão, das equações não lineares do fluxo de carga só
passou a ser comum com o surgimento dos computadores digitais. Antes, quando os cálculos
tinham de ser feitos à mão ou mesmo pelos analisadores de redes, eram necessárias muitas
simplificações, o que tornava imprecisas as soluções obtidas. A tudo isso se deve somar o tempo
que se levava para efetuar os cálculos, que se faziam numerosos mesmo para sistemas pequenos.
Os computadores digitais vieram facilitar a solução do problema, mas não resolvê-lo
definitivamente. As características não lineares do fluxo de carga provocam dificuldades de
convergência ou mesmo divergências em muitas aplicações.
Por isso, apesar de já se dispor de métodos eficientes, a investigação e a pesquisa continuam,
sempre em busca de métodos de solução ainda mais poderosos, rápidos e confiáveis.

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1.2 APLICAÇÕES DO FLUXO DE CARGA
Os três problemas mais frequentes encontrados em análise de sistemas de potência estão
englobados nos estudos de fluxo de carga, curto circuito, e estabilidade. Cada uma destas análises
engloba uma classe de problemas encontrados em sistemas elétricos de potência. A divisão destes
problemas em classes pode ser feita adotando-se como critério a janela de tempo de interesse para a
aplicação dos resultados dos estudos. Assim, pode-se estabelecer as seguintes classes de
estudos/fenômenos, e as respectivas janelas de tempo:

1) ∆t = 10–3s: transitórios eletromagnéticos.

2) ∆t = 10–1s: transitórios eletromecânicos.

3) ∆t = 1s: atuação da regulação de velocidade.

4) ∆t = 101 a 102s: controle carga-frequência.

5) ∆t = 104s: despacho econômico / seguro.

6) ∆t = 1 a 4 semanas: planejamento da operação do sistema.

7) ∆t = 5 a 20 anos: planejamento da expansão do sistema.

Dos sete problemas mostrados anteriormente, os de números 5, 6 e 7 são passíveis de serem


solucionados pelo estudo do fluxo de carga. Os outros problemas, embora não sejam aplicações
diretas do fluxo de carga, podem utilizá-lo como ferramenta em parte de seus estudos, como a
determinação de condições iniciais antes da ocorrência de perturbações, por exemplo.
Na solução do despacho ótimo / seguro, pode-se simular a condição do sistema para várias
configurações diferentes, observando em qual delas o sistema se comporta melhor. A avaliação do
comportamento do sistema pode ser baseada em algum critério estratégico, como o fluxo
economicamente ótimo ou fluxo seguro, que garanta a operação com boa margem de segurança.
A área de estudo de despacho ótimo merece atenção especial pelo fato de que a operação de
sistemas elétricos envolve altos custos. Por isso, a seleção dos níveis de operação de geradores é
fundamental e se constitui em uma aplicação do fluxo de carga.
No planejamento da operação e da expansão, deve-se ter em vista o fato de que todo sistema
de energia elétrica deve ser planejado de forma a atender seus usuários com elevada continuidade
de serviço, respeitando diversos critérios de qualidade nesse atendimento. Esses critérios referem-se
a valores máximo e mínimo de tensão nos pontos de entrega, excursão máxima da freqüência em
torno do valor nominal, carregamento máximo dos componentes do sistema, entre outros.
No projeto de sistemas elétricos ou planejamento da ampliação de sistemas já existentes,
impõem-se a instalação de novas usinas e reforços nos sistemas de transmissão e distribuição,
motivadas, é claro, pela ligação de novas cargas ao sistema.
Neste cenário, os estudos de fluxo de carga desempenham um papel muito importante, pois
permitem verificar, admitida uma projeção de carga ao longo do tempo, se o sistema proposto será
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capaz de se manter dentro dos critérios estabelecidos no atendimento aos consumidores. Permitem
ainda a comparação de alternativas de expansão, bem como a avaliação do impacto no sistema, da
entrada de novas unidades geradoras.
Além de planejamento, os estudos de fluxo de carga são amplamente utilizados na operação e
planejamento de operação de sistemas. Os estudos de fluxo de carga visam definir o melhor perfil
de tensões para a operação do sistema, bem como os ajustes de tapes dos transformadores,
condições para chaveamento de bancos de capacitores, entre outras.
Outra área de grande aplicação surgiu com a crescente interligação de sistemas, que tornou
mais necessário ainda os já muito importantes estudos de contingências. Tais estudos são
fundamentais para que se mantenha um serviço de suprimento confiável.
Se uma contingência grave, como a perda de uma linha, causa sobrecarga em outros trechos
do sistema, estas sobrecargas podem provocar a ação de dispositivos de proteção, levando ao
desligamento de outras linhas. Estas manobras, por sua vez, causam sobrecargas ainda maiores em
outros trechos do sistema, provocando novos blackouts de maneira praticamente incontrolável, o
que pode levar a um "apagão" geral do sistema interligado. Por isso, o estudo de contingências se
faz tão importante.
Outras aplicações importantes estão no nível de distribuição e atendimento a clientes
específicos, como grandes indústrias. Fluxo de carga trifásico, que leva em conta o desequilíbrio
entre fases, pode ser calculado, embora esta modalidade seja mais utilizada pelas fornecedoras
urbanas, que lidam muito com tais desequilíbrios. Análise de fluxo de potência harmônico,
provocado por cargas não-lineares, também pode ser uma aplicação importante do fluxo de carga.
1.3 FORMULAÇÃO MATEMÁTICA DO PROBLEMA DO FLUXO DE CARGA
É comum encontrar na vasta literatura sobre fluxo de carga, diversas formulações diferentes
para o problema. Aqui será apresentada a formulação básica do problema em termos de potências, o
que facilita a utilização do método de solução Newton-Raphson, o mais difundido em estudos de
fluxo de carga.
1.3.1 Considerações Iniciais
Para a formulação básica do problema do fluxo de carga, considere-se a figura 1.1.

Fig. 1.1 – Representação esquemática para


Da figura 1.1 fica claro que, para que se atenda ao princípio dap conservação
balanço de potências no nó i.

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S Gi = S Ci + S Ti (1.1)

onde:

S Gi = potência complexa gerada fluindo para a barra i.

S Ci = potência complexa consumida fluindo da barra i.

S Ti = potência complexa transmitida fluindo da barra i.

Já que S = P + jQ (1.2)

Decorre imediatamente de (1.1) que

PGi = PCi + PTi (1.3a)

QGi = QCi + QTi (1.3b)

As variáveis P e Q representam as potências ativa e reativa, respectivamente. Os subscritos


das equações (1.3) têm o mesmo significado dos subscritos da equação (1.1).
Para um sistema com n barras, haverá um conjunto de 2n equações, sendo n equações do tipo
(1.3a) e n do tipo (1.3b).
1.3.2 Determinação do Fluxo de Potência entre Barras Adjacentes
Considere-se o diagrama elétrico da figura 1.2. Este diagrama representa em forma unifilar a
ligação entre duas barras unidas por uma linha de transmissão, aqui representada por seu modelo π.

Fig. 1.2 - Diagrama unifilar de duas


barras unidas por um linha de
transmissão (modelo π).

Nota-se pela figura 1.2 que a potência transmitida da barra i para a barra k é dada por:
*
S ik = Pik + jQ ik = E i I ik (1.4)

Onde E i = V i ∠δi .
Aplicando-se a Lei de Kirchhoff das correntes, para a barra i, tem-se:
I ik = I S + I P (1.5)

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Onde: I S = (E i −E k ) / z ik (1.6)
I P =Ei y (1.7)
Substituindo-se as equações (1.6) e (1.7) na equação (1.5), tem-se:

Ei − Ek
I ik = + Ei y (1.8)
z ik
Substituindo-se a equação (1.8) na equação (1.4), obtém-se, por fim, a expressão para a
potência transmitida da barra i para a barra k. Esta expressão é dada já separada em parte real
(potência ativa) e parte imaginária (potência reativa) nas equações (1.9) a seguir.

Pik = Vi2gik − ViVk [gik cos δik − bik sen δik] (1.9a)
Qik = − Vi2 (bik + b) − ViVk [gik sen δik − bik cos δik] (1.9b)

onde: gik = condutância série entre as barras i e k = Re [1/ z ik ].

bik = susceptância série entre as barras i e k = Im [1/ z ik ].


Vi, Vk = magnitude das tensões nas barras i e k, respectivamente.

δik = δi − δk = diferença entre os ângulos de fase das tensões nas barras i e k.


Se, em vez de uma linha de transmissão, houver um transformador entre as barras i e k, as
expressões para os fluxos de potência são semelhantes às equações (1.9), havendo apenas pequenas
alterações para levar em conta a relação de transformação do transformador. Assim, para um
transformador com razão de transformação t = ae jφ, pode-se demonstrar que:

Pik = (aVi)2gik − aViVk [gik cos (δik + φ) − bik sen (δik + φ)] (1.10a)
Qik = − (aVi)2 bik − ViVk [gik sen (δik + φ) − bik cos (δik + φ)] (1.10b)

De forma geral, tem-se:

Pik = (aVi)2gik − aViVk [gik cos (δik + φ) − bik sen (δik + φ)] (1.11a)
Qik = − (aVi)2 (bik + b) − ViVk [gik sen (δik + φ) − bik cos (δik + φ)] (1.11b)

As equações (1.11) são as equações gerais para o fluxo de carga entre duas barras genéricas i
e k. Para linhas de transmissão, deve-se fazer a = 1 e φ = 0. Para transformadores em fase, deve-se

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fazer b = 0 e φ = 0. Para os transformadores defasadores puros, a = 1 e b = 0. Finalmente, para os
transformadores defasadores, b = 0.
De posse da expressão para o fluxo de potência entre duas barras adjacentes, pode-se
generalizar para o caso de várias barras ligadas a barra i.
n
PTi = ∑ Pik (1.12a)
k =1
k ≠i

n
QTi = ∑ Qik (1.12b)
k =1
k ≠i

Com isto, obtém-se a potência total transmitida da barra i, em função dos valores de tensão
nas barras e dos parâmetros de admitância dos ramos de ligação.
1.3.3 Formulação Matricial

Se as tensões de barra E = [ E 1 E 2 … E n ]t forem conhecidas, as correntes injetadas nas


barras,

I = [I 1 I 2 … I n ]t, poderão ser obtidas por:

Ι = [Y] E (1.13)

onde: I = vetor coluna (n x 1) das correntes injetadas nas barras.

E = vetor coluna (n x 1) das tensões nas barras, cujo elemento geral é E i = V i ∠δi .

[Y] = matriz de admitâncias nodais (n x n).

O elemento geral da matriz [Y] é:


n
Y ii = Gii + j Bii = ∑ ( g ik + jbik ) (1.14a)
k =1

Y ij = Gij + j Bij = − (gij + j bij) , i ≠ j (1.14b)

Daí, obtêm-se as seguintes relações entre os elementos da matriz [Y] e os parâmetros físicos
n
da rede: Gii = ∑ g ik (1.15a)
k =1

n
Bii = ∑ bik (1.15b)
k =1

Gij = − gij (1.15c)

Bij = − bij (1.15d)

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Comparando as equações (1.15) com as equações (1.12), observa-se que é possível uma
formulação para a potência transmitida em função dos elementos da matriz [Y] .
As equações resultantes são mostradas abaixo:
n
PTi = Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (1.16a)
k =1

n
QTi = Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (1.16b)
k =1

Assim, substituindo as equações (1.16) nas equações (1.3), obtém-se:


n
PGi − PCi − Vi ∑V k =1
k (Gik cos δ ik + Bik senδ ik ) = 0 (1.17a)

n
QGi − QCi − Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) =0 (1.17b)
k =1

Conforme será visto mais adiante, a formulação em termos dos elementos da matriz de
admitâncias nodais traz muitas vantagens para a solução do fluxo de carga.
A análise das equações de balanço de potências ativa e reativa (1.17a) e 1.17b) demonstra que
cada nó elétrico é representado por 6 variáveis ou sejam: potência ativa gerada (PGi ), potência
reativa gerada (QGi), potência ativa consumida (PCi), potência reativa consumida (QCi), módulo da
tensão (Vi ), e fase da tensão (δi). Desta forma, em principio o problema de fluxo de carga é de
solução indeterminada, pois, tem-se 2 equações de balanço de potências ativa e reativa por cada nó
elétrico, e 6 variáveis a serem determinadas.
1.3.4 Tornando Determinado o Problema Indeterminado do Fluxo de Carga
As equações (1.17) podem ser consideradas as equações básicas do fluxo de carga. A
observação destas equações permite afirmar que, conhecidas as cargas dos nós elétricos, tem-se em
mãos um problema com 2n equações a 4n incógnitas. O problema ainda é indeterminado, por
enquanto.
Para tornar determinado o problema de fluxo de carga a ser resolvido, é necessário especificar
duas das quatro variáveis em cada barra:
- Para as barras que tem geração, onde se localizam as usinas geradoras, ou também para
barras de interligação entre sistemas, é razoável especificar-se PG e V, uma vez que essas
variáveis são controladas nessas barras, podendo-se especificar e manter os valores
apropriados para essas grandezas. As barras em que são especificadas PG e V são chamadas
barras de geração ou, o que é mais usual, barras tipo PV.
- Para as barras de cargas especificam-se as potências ativa PG e reativa QG . Este tipo de
barra é chamado barra de carga ou, mais comumente, barra PQ.

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- Como não se conhece a priori as perdas no sistema de transmissão e estas perdas não serão
conhecidas antes de ser obtida a solução do fluxo de carga, é necessário que em uma das
barras de geração (ou de interligação) não sejam especificadas PG e QG. Assim, consegue-se
fechar o balanço de potência do sistema através das equações (1.18) abaixo.

PG total = PC total + perdas (1.18a)


QG total = QC total + perdas (1.18b)

Essa barra é denominada barra de balanço (alguns autores utilizam o termo barra oscilante
ou mesmo a denominação original em inglês, swing bus). Nela são especificadas V e δ. Note
que, como δ é especificado na barra de balanço, esta barra cumpre uma segunda função, a de
ser referência angular do sistema, também sendo, às vezes, chamada de barra de referência.
É importante notar nas equações (1.17) que os fluxos de potência não dependem dos valores
absolutos dos ângulos das tensões nas barras, mas sim da diferença entre os ângulos; esta
característica é de grande importância, pois torna o problema indeterminado na variável δ,
deixando livre a escolha de uma referência angular (geralmente, δ = 0o), o que facilita
bastante a resolução do problema.
A tabela 1.1 resume as especificações de variáveis para os três tipos de barras citados.

Tabela 1.1 Variáveis especificadas para cada tipo de barra

Variáveis especificadas
Tipo de Barra
P Q V δ
PV X X
PQ X X
Barra de
X X
Referência

Estes três tipos de barras são os mais freqüentes e também os mais importantes. Entretanto,
existem algumas situações particulares, como, por exemplo, o controle de intercâmbio de uma área
e o controle da magnitude da tensão de uma barra remota, nas quais aparecem outros tipos de
barras, como PQV, P e V.
Conforme será possível perceber mais adiante, a determinação dos tipos de barra, além de
tornar determinado o problema do fluxo de carga, provoca a diminuição do número de equações a
serem resolvidas iterativamente.
Isto ocorre porque o objetivo fundamental dos estudos de fluxo de carga é a determinação das
tensões E i = Vi∠δi em todas as barras. Assim, se já são fornecidos valores de Vi e δi para algumas
barras logo de início, o esforço de cálculo diminui.
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A tarefa de determinar Vi e δi é o que consome grande esforço computacional, uma vez que a
tensão numa barra depende das tensões em todas as outras barras. A determinação da geração em
cada barra e dos fluxos de potência ativa e reativa nos ramos pode ser feita por simples balanço de
potência, o que significa não mais do que simples adições.
O número de equações do problema cai de 2n para 2nPQ + nPV , em que nPQ é o número de
barras PQ e nPV é o número de barras PV. Para cada problema de fluxo de carga existe uma única
barra de referência.
1.3.5 Considerações Práticas Acerca da Formulação de Fluxo de Carga
As equações (1.17) mostram claramente a complexidade do problema de fluxo de carga, em
que a tensão de uma barra sofre influência não linear da tensão de todas as demais barras; tais
equações compõem um problema indeterminado. A tipificação das barras do sistema permite
eliminar a indeterminação, transformando o problema num sistema em que o número de equações
iguala o número de incógnitas.
Entretanto, como se sabe, mesmo um sistema com igual número de equações e incógnitas
pode resultar em dificuldades ou até mesmo em impossibilidade de solução. Além do mais, mesmo
que tenha solução, o que garante que a solução matemática encontrada será fisicamente possível ou
adequada?
Com vistas a estas indagações, o problema do fluxo de carga não se restringe apenas ao
conjunto das equações (1.17). A fim de associar ao problema matemático os limites do sistema,
impõem-se, juntamente às equações, um conjunto de inequações. Estas inequações estabelecem os
limites inferior e superior para as variáveis elétricas em cada barra.
Nos casos práticos, um gerador tem uma curva bem definida de potência, chamada
usualmente de curva de capacidade, e não pode fornecer qualquer valor de potência reativa como
seria necessário para manter constante a tensão da barra terminal em qualquer condição. Também, a
tensão em determinadas barras de carga devem ser mantidas próximas a um valor predeterminado,
sob pena de causar prejuízos ao consumidor.
Em geral, estabelece-se que a tensão em cada barra deve estar dentro de uma tolerância:

Vi mín ≤ Vi ≤ Vi máx (1.19a)


Nas barras de geração, é comum a imposição de limites do tipo:

Pi mín ≤ Pi ≤ Pi máx (1.19b)

Qi mín ≤ Qi ≤ Qi máx (1.19c)


Que estão relacionadas aos limites das máquinas geradoras.
O que ocorre muitas vezes é que, na análise do fluxo de carga, vê-se que a potência reativa de
certas barras geradoras, bem como a tensão de certas barras de carga, estão fora dos critérios
especificados. Diante desse fato tão comum, é possível fazer com que o próprio programa de fluxo

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de carga se encarregue, automaticamente, de efetuar as modificações necessárias para que se
atinjam os valores desejados.
Estas modificações consistem em alterações nos tipos de barras. Por exemplo, suponha que,
após a solução de um fluxo de carga, obteve-se para uma barra PQ uma tensão de valor 0,85 pu,
valor muito abaixo do mínimo estabelecido. A atitude comumente adotada nesta situação é mudar a
tipificação da barra.
Deste modo, a barra em questão passaria a ser do tipo PV, sendo para ela estabelecido, por
exemplo, uma tensão igual a V = 1 pu. A solução de outro fluxo de carga para esta nova condição
daria origem a um novo valor de Q para a barra em questão, a partir do qual seria possível, por
exemplo, saber o valor da potência nominal de um banco de capacitores a ser ligado à barra ou a
posição do tap de um transformador para que se atinja o valor de tensão desejado.

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Capítulo 2

Solução do Fluxo de Carga


Vista a formulação básica do problema do fluxo de carga, cabe agora desenvolver ferramentas
que possibilitem resolver o problema.
Estas ferramentas, de forma geral, resumem-se à associação de técnicas de cálculo numérico
com programação de computadores digitais. Assim, estabelecidas as equações, deve-se:
1) criar um algoritmo iterativo para resolvê-las e
2) executar o algoritmo em forma de rotina computacional.
Portanto, o desenvolvimento de ferramentas para solução do fluxo de carga tende a constituir-
se um grande desafio, uma vez que algoritmos eficientes, que levem a soluções exatas, podem
consumir excessivo esforço computacional; já os algoritmos simplificados, que exigem pouco da
máquina, podem produzir soluções pouco confiáveis.
2.1 Métodos de Gauss e Gauss-Siedel
Os métodos de Gauss e Gauss-Siedel utilizam a matriz de admitâncias nodais como
instrumento de iteração. Embora tenha caído em desuso devido à maior eficiência do método de
Newton-Raphson, os métodos de Gauss e Gauss-Siedel ainda podem ser utilizados para fins
didáticos ou para estabelecimento de condições iniciais para outros métodos.
2.1.1- Introdução ao método de Gauss
Para fixar a idéia do método de Gauss, pode-se mostrar um exemplo de sua aplicação. Seja,
por exemplo, resolver a equação transcendental:

x2 − 2x − ln (x) = 0 (2.1)
Esta equação pode ser escrita na forma:
1 2
x= [x − ln (x)] (2.2)
2
a qual permite que se proponha um processo iterativo:
1 (k) 2
x(k+1) = [(x ) − ln (x(k))] (2.3)
2
onde os sobrescritos (k+1) e (k) se referem a iterações consecutivas. A partir da estimativa de x na
iteração (k), obtém-se o novo valor de x por meio da equação (2.3). Procede-se assim até que a
diferença  x(k+1) − x(k)  seja menor que uma tolerância pré-estabelecida.
A tabela 2.1 ilustra a aplicação do algoritmo de Gauss na obtenção da resposta da equação
(2.1). O resultado correto, com precisão superior a 10−5, é 0,48140.

17
Tabela 2.1 Solução iterativa da equação (2.1) pelo método de Gauss.

1 (k) 2
Iteração x(k) [(x ) − ln (x(k))]
2
1 2,0 1,6543
2 1,6543 1,11548
3 1,11548 0,56751
… … …
21 0,48140 0,48140

A figura 2.1 ilustra o processo de convergência.

0.5[x2 + ln (x)]
Fig. 2.1 Ilustração do processo de
convergência do método de Gauss.

O método de Gauss pode ser estendido para um sistema de n equações lineares ou não. Assim,
seja o sistema de equações:
F1 ( x1, x2 ,..., xn ) = 0
F2 ( x1 , x2 ,..., xn ) = 0
(2.4)
...
Fn ( x1 , x2 ,..., xn ) = 0

As equações (2.4) podem ser expressas na forma:

x1(k+1) = φ1 (x1(k) ,x2(k) ,..., xn(k))


x2(k+1) = φ2 (x1(k) ,x2(k) ,..., xn(k)) (2.5)
...
xn(k+1) = φn (x1(k) ,x2(k) ,..., xn(k))

18
As equações (2.5) podem ser resolvidas pelo processo iterativo até que todos os
(k +1) (k )
∆xi =  x i − xi  sejam menores que uma determinada tolerância.

2.1.2- Solução do fluxo de carga pelo método de Gauss


Sabe-se que para um sistema de n nós, vale a relação:

I = [Y] E (2.6)

Escrevendo a equação (2.6) para a linha i, resulta:

I i = Y i1 E 1 + Y i 2 E 2 + ... + Y ii E i + ... + Y in E n (2.7)

Extraindo o valor de E i na equação (2.7), tem-se:

 
1  n

Ei =  I i − ∑ Y ik E k  (2.8)
Y ii k =1
 
 k ≠i 
*
Da relação S i = Pi + jQ i = E i I i , obtém-se:

Pi − jQi
Ii = *
(2.9)
Ei
Substituindo a equação (2.9) na equação (2.8), obtém-se:

 
1  Pi − jQi n

Ei =  *
− ∑ Y ik E k  (2.10)
Y ii k =1
 Ei 
 k ≠i 

Para que a expressão (2.10) torne-se iterativa, pode-se escrevê-la como:

 
( k +1) 1  Pi − jQi n
(k ) 
Ei = − ∑ Y ik E k  (2.11)
Y ii  E *i ( k ) k =1 
 k ≠i 

A expressão (2.11) é a equação geral do método de Gauss aplicado ao problema do fluxo de


carga. Algumas modificações devem ser feitas na expressão para levar em conta os diferentes tipos
de barras do sistema.

19
- Barra de referência:

Para o nó de referência, o valor de E é conhecido, não havendo necessidade de ser escrita


uma equação para esta barra.
- Barras PQ:

Nas barras tipo PQ, E é desconhecido. As grandezas especificadas são as potências ativa e
reativa geradas. Portanto, é valida a seguinte relação:

Pi esp − jQiesp
Ii = *
(2.12)
Ei
esp
onde: Pi = PGi − PCi
esp
Qi = QGi − QCi

Com isso, para barras PQ, a equação (2.11) torna-se:

 esp 
1  Pi − jQi
esp n
( k +1) (k ) 
Ei = − ∑ Y ik E k  (2.13)
Y ii  *( k )
Ei k =1 
 k ≠i 
- Barras PV:
Para as barras do tipo PV, o módulo da tensão é especificado e somente o ângulo de fase é
desconhecido. Do mesmo modo, apenas a potência ativa gerada é especificada, devendo a potência
reativa gerada ser calculada.
Inicialmente, estima-se a potência reativa líquida injetada na barra i, dada por:
*
Q icalc = Im [ E i I i ] (2.14a)
*
ou ainda Q icalc = −Im [ E i I i ] (2.14b)

Da substituição da equação (2.7) na equação (2.14b), pode-se escrever:

 *( k ) n (k ) 
Qicalc( k +1) = −Im  E i ∑ Y ik E k  (2.15)
 k =1 

Substituindo-se o valor de Q icalc , obtido na equação (2.15), na equação (2.13), tem-se:

 esp 
1  Pi − jQi
calc( k ) n
( k +1) (k ) 
Ei = − ∑ Y ik E k  (2.16)
Y ii  *( k )
Ei k =1 
 k ≠i 

Observe-se que o valor de E i = Vi∠δi calculado em cada iteração de (2.16) não satisfará,
esp
necessariamente, a restrição  E i  = V i para a barra PV. Por isso, a cada iteração, racionaliza-se

20
esp
o valor de E i calculado, de tal forma que se mantenha  E i  = V i sem que se altere o valor de δi
calculado.
2.1.3- Método de Gauss-Siedel
No método de Gauss, em cada iteração, os valores de tensão que aparecem no lado direito das
equações (2.13), (2.15) e (2.16) são valores da iteração anterior. Os valores de tensão só são
atualizados ao final de cada iteração, ocorrendo o que se chama de substituição simultânea.
No método de Gauss-Siedel, utiliza-se a substituição sucessiva, ou seja, assim que um valor
de tensão é calculado, ele substitui o da iteração anterior.
As equações (2.13), (2.15) e (2.16), do método de Gauss, quando adaptadas ao método de
Gauss-Siedel, tomam a seguinte forma, respectivamente:

1  Pi − jQi i −1
(k ) 
esp esp n
( k +1) ( k +1)
Ei = 
Y ii  *( k )
− ∑ Y ik E k − ∑ Y ik E k  (2.17)
Ei k =1 k =i +1 

 *( k ) i −1 ( k +1)
n
(k ) 
Qicalc( k +1) = −Im  E i ∑ Y ik E k + E i ∑ Y ik E k 
*( k )
(2.18)
 k =1 i +1 

1  Pi − jQi i −1
(k ) 
esp calc( k ) n
( k +1) ( k +1)
Ei = 
Y ii  *( k )
− ∑ Y ik E k − ∑ Y ik E k  (2.19)
Ei k =1 k =i +1 

O algoritmo de Gauss-Siedel, além de apresentar maior rapidez de convergência do que o de


Gauss, ainda economiza memória e tempo de processamento, pois o vetor dos valores de tensão da
iteração anterior não é necessário. Por estas razões, o método de Gauss-Siedel é sempre preferido ao
método de Gauss.
2.1.4- Inicialização dos métodos de Gauss e Gauss-Siedel
Por se tratar de um método iterativo, deve haver um valor inicial para as tensões de barra, a
fim de que se possa iniciar o processo iterativo. Um valor inicial típico é E i = 1∠0o. Se
informações a respeito de soluções anteriores estiverem disponíveis, elas podem ser utilizadas como
valores iniciais para um novo processo iterativo.
Uma das grandes desvantagens dos métodos de Gauss e Gauss-Siedel é o fato de sua
convergência ser fortemente dependente dos valores iniciais escolhidos.
2.1.5- Critérios de parada dos métodos de Gauss e Gauss-Siedel
Um critério para detectar a convergência do processo iterativo normalmente consiste em
constatar que a variação em todos os valores das tensões nodais, da iteração anterior para a atual,
estão dentro de uma certa tolerância, isto é:

21
(k +1) (k )
máx ( E i − E i ) ≤ ε (2.20)

onde ε é a tolerância.
Critérios de parada como o da inequação (2.20) têm a vantagem de serem de simples
programação, mas não dão certeza quanto à real proximidade de uma solução. Isto de deve ao fato
de que o fluxo de potência reativa numa linha é fortemente dependente da diferença entre as
magnitudes das tensões nodais das barras nos extremos da linha. O mesmo raciocínio se aplica à
potência ativa, mas relacionado à diferença entre os ângulos de fase, e não às magnitudes. Com isso,
vê-se que mesmo pequenos desvios em V e δ podem causar erros consideráveis no cálculo dos
fluxos, provocando conseqüências inaceitáveis.
Outro critério de parada, este muito aplicado em todos os métodos iterativos para
determinação do fluxo de carga, consiste na minimização dos erros (mismatches) de balanço de
potência em cada barra. Como se sabe, para cada barra, é válido a relação:

S Gi − S Ci − S Ti = 0 (2.21)

Por ser o cálculo do fluxo de carga iterativo, dificilmente a identidade (2.21) será alcançada
com erro nulo. Assim, definindo-se o resíduo no balanço de potência da barra i,  S i , como:

∆ S i = S Gi − S Ci − S Ti (2.22)

pode-se estabelecer como critério de parada a minimização de ∆ S i .

Matematicamente, tal critério poderia ser representado pela expressão

máx ( ∆ S i ) ≤ ε (2.23)

onde ε é uma tolerância, que assume valores típicos da ordem de 10−4 a 10−2 pu.

Outro modo de expressar o critério de (2.23) é em função das partes real e imaginária, como:

máx {máx [Re ( ∆ S i )] , máx [Im ( ∆ S i )]} ≤ ε (2.24)

A grande vantagem do critério de parada pelo resíduo no balanço de potência está na relação
existente entre o erro na potência e a proximidade de uma solução. Se os erros nos balanços de
potência em cada barra são minimizados, haverá também menores erros nos cálculos dos fluxos de
potência no sistema.
Outros critérios de parada que podem ser utilizados junto com o do resíduo no balanço de
potência são:
- número máximo de iterações que se deseja realizar: às vezes, o processo divergiu ou demora
muito para convergir; neste caso, o processo é truncado em um número máximo de iterações.
22
- valor máximo permitido para uma grandeza: se alguma tensão (módulo e/ou ângulo) atingir
valores maiores que alguns limites preestabelecidos, é sinal de que o processo poder ter divergido;
neste caso, o processo é interrompido.
Note-se que estes critério podem ser utilizados juntos, prevalecendo o qual ocorrer primeiro.
2.1.6- Número de iterações, convergência e esforço de computação dos métodos
O número de iterações necessário para a convergência dos métodos de Gauss e Gauss-Siedel
depende do sistema, de seu carregamento e do critério de parada adotado.
Valores do número de iterações para sistemas típicos são da ordem de 80 (Gauss) e 40
(Gauss-Siedel), adotando-se o critério de parada de máx ( ∆ S i ) ≤ 0,01 pu. A utilização de outros
critérios de parada, como a comparação entre as tensões para iterações consecutivas, pode fazer
diminuir o número de iterações necessário, às custas, no entanto, de menor precisão na solução.
A convergência dos métodos é lenta e duvidosa devido, principalmente, ao fraco acoplamento
entre os nós do sistema quando o mesmo é modelado através da matriz de admitâncias nodais. Em
sistemas com muitas barras, a atualização nos valores de tensões nodais pode levar muitas iterações
para propagar-se ao longo de todo o sistema.

Utilizando a característica de esparsidade da matriz [Y] para seu armazenamento, a memória


consumida é proporcional a n (n = número de barras do sistema).
O tempo de computação é proporcional ao número iterações e de operações realizados por
iteração. Como o número de operações é proporcional a n , e sendo o número de iterações também
proporcional a n, tem-se que o número total de operações e, portanto, o tempo gasto em
computação, é proporcional a n2.
2.1.7- Fatores de aceleração da convergência
Os métodos de Gauss e Gauss-Siedel costumam apresentar convergência lenta e, portanto, há
vantagem em se utilizar fatores de aceleração no processo de convergência.
Sabe-se que, a cada iteração, as tensões são atualizadas para novos valores. Assumindo que
( k +1)
∆E i seja a correção aplicada à tensão em cada iteração, tem-se:
( k +1) (k +1) (k )
∆E i = Ei −E i (2.25)

De forma que se pode escrever o processo iterativo de atualização do valor da tensão como
(k +1) (k ) ( k +1)
Ei = E i + ∆E i (2.26)

Se for desejado acelerar (ou desacelerar) o passo de atualização, pode-se empregar um fator
de aceleração α.
(k +1) (k ) ( k +1)
Ei = E i + α ∆E i (2.27)

Normalmente, o fator α é determinado empiricamente, estando tipicamente no intervalo

23
0,7 ≤ α ≤ 1,5. (2.28)

2.1.8- Métodos de Gauss e Gauss-Siedel utilizando a matriz [Z]

As principais vantagens dos métodos de Gauss e Gauss-Siedel são a sua facilidade de


implementação e seu baixo gasto em memória de computador. Suas principais desvantagens são a
falta de confiabilidade para convergência e gastos elevados em tempo de processamento.
Os métodos de Gauss e Gauss-Siedel podem também ser implementados utilizando a matriz
[Z] de impedâncias nodais, no lugar de [Y] . A formulação matemática em termos de [Z] é muito
semelhante à que foi mostrada para a matriz [Y] . Os aspectos computacionais, no entanto, são bem
diferentes.

O método da matriz [Z] , também chamado método direto, apresenta alta confiabilidade na
convergência devido ao alto acoplamento matemático entre os nós do sistema (ao contrário de [Y] ,
a matriz [Z] não é esparsa).

Esta confiabilidade é conseguida, todavia, às custas de muito mais esforço computacional.


Como a matriz [Z] não é esparsa, há alto gasto de memória para sua obtenção (∝ n3) e seu
armazenamento (∝ n2/2). O número de iterações continua sendo proporcional a n2, pois, embora
ainda haja um grande número de operações por iteração, o número de iterações cai para algo da
ordem de 8 a 20.

24
2.2 Método de Newton-Raphson
O método de Newton-Raphson é um método geral para a determinação de raízes reais de
equações não-lineares. Na essência, o método trabalha utilizando a série de Taylor para, a partir de
uma aproximação inicial, iniciar e levar a cabo um processo iterativo robusto e de fortes
características de convergência.
2.2.1- Introdução ao método de Newton-Raphson
Para entender o método, suponha a equação não linear generalizada:
f (x) = 0 (2.29)
Considere-se agora sua expansão em série de Taylor em torno de um valor conhecido x(k)

1 df 1 d 2f
f (x) = f (x(k)) + (x − x(k)) + (x − x(k))2 + … (2.30)
1! dx x =x (k ) 2! dx 2 (k )
x =x

onde o sobrescrito (k) representa o valor de x na k-ésima iteração.


Desprezando os termos de maior ordem, pode-se aproximar f (x) como:

df
f (x) ≅ f (x(k)) + (x − x(k)) (2.31)
dx x =x (k )

Mas f (x) = 0. Portanto:

f (x ( k ) )
x − x (k) ≅ − (2.32)
df
dx x = x ( k )

Observe que o valor x não é raiz de f (x) = 0 devido ao erro introduzido ao serem desprezados
os termos de ordem maior da expansão em série de Taylor; no entanto, x geralmente representa uma
estimativa mais próxima do valor da raiz do que representava x(k). Assim, pode-se definir:

f (x ( k ) )
∆x(k) = − (2.32)
df
dx x = x ( k )

e utilizar ∆x para obter uma melhor estimativa da raiz por meio da relação

x(k+1) = x(k) + ∆x(k) (2.33)

A fim de comparar este método com o de Gauss, pode-se aplicá-lo ao mesmo problema.
Assim, tem-se:

f (x) = x2 − 2x − ln (x) = 0 (2.34)


df 1
= 2x − 2 − =0 (2.35)
dx x
25
A tabela 2.2 ilustra a aplicação do algoritmo de Newton-Raphson na obtenção da solução da
equação (2.34).
Tabela 2.2 Solução iterativa da equação (2.34) pelo método de Newton-Raphson.

f (x ( k ) ) f (x ' ( k ) )
x (k+1)
=x (k)
− x' (k+1)
= x' (k)

Iteração x(k) df x' (k) df
dx x = x ( k ) dx x = x '( k )

1 0,80000 0,35342 2,00000 2,46210


2 0,35342 0,46455 2,46210 2,36809
3 0,46455 0,48111 2,36809 2,36395
4 0,48111 0,48140 2,36395 2,36394
5 0,48140 0,48140 2,36394 2,36394

A figura 2.3 ilustra o processo de convergência do método para dois valores iniciais
diferentes, x(0) e x' (0).

f (x) = x2 − 2x − ln (x)

Fig. 2.3 Ilustração do processo de


convergência do método de
Newton-Raphson.

Como se vê na figura 2.3, o método de Newton-Raphson é um método poderoso e que


converge rapidamente para a maioria das funções. Pode-se dizer que esta convergência rápida
ocorre porque, para o cálculo do incremento dado a cada iteração, utiliza-se a informação da taxa de
variação da função, ou seja, estima-se com maior certeza "a direção em que a função está indo, o
que facilita a tarefa de segui-la".
Há, entretanto, dificuldade de convergência para algumas funções. Se f (x) possuir múltiplas
raízes, não há um método simples e seguro para predizer que raiz será obtida. Mesmo com um valor
inicial próximo de uma raiz, o método pode convergir para outra raiz mais remota.

26
Se x(k) estiver próximo de um ponto de máximo ou de mínimo (derivada quase nula), ∆x pode
ficar muito grande, deslocando x(k+1) para longe da solução e aumentando o número de iterações
para que se volte à região da solução. A figura 2.4 ilustra a sensibilidade do método à escolha do
valor inicial.
f (x)

Fig. 2.4 Ilustração da dependência


do valor inicial no método de
Newton-Raphson.
x' (0) = má estimativa inicial
x (0) = boa estimativa inicial

O método de Newton-Raphson pode ser estendido para um sistema de n equações. Assim,


seja o sistema de equações:

 F1 ( x1 , x 2 ,..., x n ) = 0
 F ( x , x ,..., x ) = 0
 2 1 2 n
 (2.36)
...
 Fn ( x1 , x 2 ,..., x n ) = 0

As funções F1, F2, ..., Fn das variáveis x1, x2, ..., xn podem ser expandidas individualmente em
série de Taylor em torno de um ponto x(k) = (x1(k), x2(k), ..., xn(k)), resultando em um sistema de n
séries de Taylor. Cada expansão em série de Taylor representa a expansão de uma das funções Fi(x)
em torno de x(k).
Mais uma vez, assim como se fez no caso unidimensional, desprezando os termos de ordem
superior a primeira ordem, surge um sistema de n séries de Taylor truncadas no termo de primeira
ordem.

O sistema resultante pode ser expresso em forma matricial, na forma:

D = − [ J] ∆ x (2.37)
Onde:

27
 F1 ( x ( k ) ) 
 (k )

 F2 ( x ) 
D=  
 M 
 Fn ( x ( k ) )
 

 ∂F1 ∂F1 ∂F1 


 K 
 ∂x1 x1 = x1( k ) ∂x 2 x2 = x2( k )
∂x n xn = xn( k ) 
 ∂F ∂F2 ∂F2 
 2 K 
[J] =  ∂x1 ∂x 2 ∂x n (k) 
= matriz jacobiana ou matriz de
x1 = x1( k ) x2 = x2( k ) x n = xn derivadas parciais
 M M O M 
 

 nF ∂Fn ∂Fn 
K
 ∂x1 ∂x 2 ∂x n 
 x1 = x1( k ) x2 = x2( k ) xn = xn( k ) 

∆x1 
∆x 
∆x =  2  ; ∆xi = xi – xi(k)
 M 
 
∆x n 

O processo iterativo se inicia a partir de uma solução estimada x(k) = (x1(k), x2(k), ..., xn(k)), que
permite o cálculo da matriz [J] e do vetor D. A seguir, calcula-se o vetor ∆x através de:

∆x = − [J]−1 D (2.38)

Corrige-se a solução estimada com os valores de ∆x, utilizando:

x(k+1) = x(k) + ∆x(k) (2.39)

A seguir, calcula-se o novo vetor D, a nova matriz [J] e recalcula-se o vetor ∆x. Prossegue-se
iterando até que o vetor D apresente todos os seus valores inferiores a uma tolerância
preestabelecida. Assim, o método iterativo de Newton-Raphson fica descrito como apresentado na
equação (2.40):

x(k+1) = x(k) − [J(k)]−1 D(k) (2.40)

2.2.2- Solução do fluxo de carga pelo método Newton-Raphson


Para a solução do fluxo de carga pelo método Newton-Raphson, serão utilizadas as equações
(1.17), repetidas aqui por conveniência, como:
n
PGi − PCi − Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) = 0 (2.41a)
k =1

28
n
QGi − QCi − Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) =0 (2.41b)
k =1

Definindo os resíduos (mismatches) de potência líquida em cada barra como:

∆Pi = PGi − PCi − PTi (2.42a)

∆Qi = QGi − QCi − QTi (2.42b)


esp esp
Vê-se que, dado que são conhecidos os de valores de Pi = PGi − PCi = Pi e Qi = QGi − QCi = Q i
esp esp
para as barras PQ, e Pi = Pi e Vi = V i para as barras PV, o objetivo é encontrar valores de Vi
para as barras PQ e δi para todas as barras, de modo que os ∆Pi e ∆Qi sejam nulos (ou o mais
próximo possível de zero).
O problema consiste então em resolver as equações:
n
∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) = 0
esp
Pi − Vi (2.43a)
k =1

para as barras PQ e PV, e as equações:


n
∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik )
esp
Qi − Vi =0 (2.43b)
k =1

para as barras PQ. Observa-se que há, então, 2nPQ + nPV equações a serem resolvidas. Para tanto,
utilizar-se-á o método de Newton-Raphson.
Para melhor entendimento da aplicação do método ao problema específico, pode-se rescrever
as equações (2.43) como

∆Pi = Pi esp − Pi (Vk , δ k ) = 0 (2.44a)

(para cada barra PQ ou PV)

∆Qi = Qiesp − Qi (Vk , δ k ) = 0 (2.44b)

(para cada barra PQ)

Onde os subscritos k indicam que as funções Pi e Qi dependem das tensões em todas as barras do
sistema, não só da barra i.

Pode-se escrever ∆Pi e ∆Qi em forma vetorial, como:

∆P = P esp − P(Vk , δ k ) = 0 (2.45a)

(vetor de dimensão (nPQ + nPV) x 1)

∆Q = Q esp − Q(Vk , δ k ) = 0 (2.45b)

(vetor de dimensão nPQ x 1)


29
Pode-se definir, em analogia ao vetor D composto pelos Fi (x), definido na introdução ao
método, outro vetor D dos resíduos de potência, como:

 ∆P 
D=  (2.46)
 ∆Q 
Definindo-se o vetor x das incógnitas como

δ 2 
δ 
 3 
 M 
 
δ nPV + nPQ  δ 
x=  = V  (2.47)
V2   
V3 
 
 M 
Vn 
 PQ 
(na suposição de que a barra 1 é a barra de referência), pode-se empregar o método iterativo de
Newton-Raphson, resultando em
( k +1) (k ) (k )
δ  δ  ∆δ 
V  =  +  (2.48)
  V  ∆V 
onde:
(k ) (k )
∆δ  −1 ∆P 
∆V  = −[J ' (k )
]   (2.49)
  ∆Q 
e, portanto, tem-se:
( k +1) (k ) (k )
δ  δ  ( k ) −1 ∆P 
V  =  − [J ' ]   (2.50)
  V  ∆Q

A equação (2.50) representa o método de Newton-Raphson aplicado ao problema do fluxo de


carga.

A matriz [J’(k)] é a matriz jacobiana das equações (2.44), calculada em cada iteração.
Explicitamente, tem-se:

  ∂∆P   ∂∆P  
  ∂δ   ∂V  
J' =      (2.51)
  ∂∆Q   ∂∆Q  
  ∂δ   ∂V  

30
Para facilitar a notação, é usual utilizar:

  ∂P   ∂P  
  ∂δ   ∂V  
J' =       (2.52)
  ∂Q   ∂Q  
  ∂δ   ∂V  

Uma das características principais do método de Newton-Raphson e que se constitui numa


grande desvantagem é o fato de que [J’] tem que atualizada e invertida a cada interação. Em
sistemas com muitas barras, em que a ordem de [J’] é grande, efetuar todas estas operações pode
ser computacionalmente impraticável.
Por isso, a fim de tornar menos onerosa a tarefa de construir [J’], é usual utilizar uma notação
alternativa, em que se substitui ∆V por ∆V/V. Com isso, tem-se
(k )
∆δ  ( k ) −1 ∆P 
(k )
∆V  = −[J ]   (2.53)
 V  ∆Q

onde [J] é a matriz jacobiana modificada.

  ∂P   ∂P  
  ∂δ  V ∂V   [J 1 ] [J 2 ]
J =     = (2.54)
  ∂Q   ∂Q   [J 3 ] [J 4 ]
V
  ∂δ   ∂V  

O motivo pelo qual se torna menos trabalhoso obter [J] com a notação alternativa ficará
evidente agora. Observe-se pela equação (2.50) que a matriz jacobiana é composta de quatro
submatrizes, a saber:

 ∂P 
(1) Submatriz [J 1 ] =  
 ∂δ 

∂Pi ∂ ∂P
J 1 (i, k ) = = [ PGi − PCi − PTi ] = − Ti = −ViVk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (2.55)
∂δ k ∂δ k ∂δ k

∂Pi ∂ ∂P n
J 1 (i, i ) = = [ PGi − PCi − PTi ] = − Ti = −Vi ∑ Vk (−Gik sen δ ik + Bik cos δ ik ) (2.56a)
∂δ i ∂δ i ∂δ i k =1
k ≠i

n
J 1 (i, i ) = Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) + Vi 2 Bii (2.56b)
k =1

J 1 (i, i ) = QTi + Vi 2 Bii (2.56c)

 ∂P 
(2) Submatriz [J 2 ] = V 
 ∂V 
31
∂Pi ∂ ∂P
J 2 (i, k ) = Vk = Vk [ PGi − PCi − PTi ] = −Vk Ti = −ViVk (Gik cos δ ik − Bik sen δ ik ) (2.57)
∂Vk ∂Vk ∂Vk

∂Pi ∂ ∂P
J 2 (i, i ) = Vi = Vi [ PGi − PCi − PTi ] = −Vi Ti (2.58a)
∂Vi ∂Vi ∂Vi
n
J 2 (i, i ) = −Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) − Vi 2 Gii (2.58b)
k =1

J 2 (i, i ) = − PTi − Vi 2 Gii (2.58c)

 ∂Q 
(3) Submatriz [J 3 ] =  
 ∂δ 

∂Qi ∂ ∂Q
J 3 (i, k ) = = [QGi − QCi − QTi ] = − Ti = ViVk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (2.59)
∂δ k ∂δ k ∂δ k

∂Qi ∂ ∂Q n
J 3 (i, i ) = = [QGi − QCi − QTi ] = − Ti = −Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (2.60a)
∂δ i ∂δ i ∂δ i k =1
k ≠i

n
J 3 (i, i ) = −Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) + Vi 2 Gii (2.60b)
k =1

J 3 (i, i ) = − PTi + Vi 2 Gii (2.60c)

 ∂Q 
(4) Submatriz [J 2 ] = V 
 ∂V 

∂Qi ∂ ∂QTi
J 4 (i, k ) = Vk = Vk [QGi − QCi − QTi ] = −Vk = −ViVk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (2.61)
∂Vk ∂Vk ∂Vk

∂Qi ∂ ∂QTi
J 4 (i, i ) = Vi = Vi [QGi − QCi − QTi ] = −Vi (2.62a)
∂Vi ∂Vi ∂Vi
n
J 4 (i, i ) = −Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) + Vi 2 Bii (2.62b)
k =1

J 4 (i, i ) = −QTi + Vi 2 Bii (2.62c)

Observação: os índices i e k dos elementos da matriz jacobiana representam as barras do sistema, e


não a posição dos elementos da matriz.

32
Concluído o cálculo dos elementos da matriz jacobiana, pode-se perceber a obtenção de uma
simplificação muito importante, expressa nas equações (2.63 a) e 2.63 b).
J1 (i, k) = J4 (i, k) (2.63a)

J2 (i, k) = − J3 (i, k) (2.63b)


Esta simplificação decorre da notação alternativa utilizada e permite boa economia no tempo
de processamento e gasto de memória do computador.

Depois de resolvido o problema iterativo de determinar Vi e δi para todas as barras, passa-se


ao cálculo de Pi para a barra de referência e de Qi para as barras PV e de referência, completando o
balanço de potência.
n
Pi = PGi − PCi = Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (2.64a)
k =1

(para a barra de referência)


n
Qi = QGi − QCi = Vi ∑ Vk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (2.64b)
k =1

(para as barras PV e de referência)

2.2.3- Inicialização do método de Newton-Raphson


O método de Gauss-Siedel, conforme se viu na seção anterior, costuma exibir convergência
lenta. Entretanto, em pontos distantes da solução, esta técnica pode ser superior ao método de
Newton-Raphson. Assim, é comum, em alguns programas de fluxo de carga, que as primeiras duas
ou três iterações utilizem o método de Gauss-Siedel para encontrar valores de módulos das tensões
e ângulos de fase que serão utilizados como valores iniciais do algoritmo de Newton-Raphson. Esta
estratégia pode encurtar o número de iterações do método de Newton-Raphson em uma ou duas
iterações.
Entretanto, também pode ocorrer de o método de Gauss-Siedel prejudicar a busca da solução,
pois é comum que em suas primeiras iterações os valores de tensão podem se afastar da solução.
Verificou-se que, na maioria dos casos práticos, o valor inicial E i = 1∠0o permite rápida
convergência.
2.2.4- Critérios de parada do método de Newton-Raphson
Os mesmos critérios de parada citados na descrição do método de Gauss-Siedel podem ser
utilizados para o método de Newton-Raphson.
Em geral, o critério utilizado é o do máximo desvio de potência ficar restrito dentro de uma
tolerância, como:

máx ( ∆ S i ) ≤ ε (2.65)

33
Onde ε é uma tolerância, que assume valores típicos da ordem de 10−4 a 10−2 pu.

2.2.4- Número de iterações, convergência e esforço de computação do método


O método de Newton-Raphson tem excelentes características de convergência desde que
adotada uma razoável estimativa inicial das variáveis. Apresenta convergência quadrática perto da
solução, isto é, quanto mais se aproxima da solução, mais rápido converge para ela. Longe da
solução, no entanto, pode não haver convergência.
O número de iterações necessário para a convergência do método é insensível a alguns fatores
que podem causar problemas em outros métodos (como o de Gauss-Siedel), tais como a escolha do
nó de referência, presença de capacitores série, elementos shunt, entre outros.
Valores do número de iterações para sistemas típicos são da ordem de 3 a 5, adotando-se o
critério de parada de máx ( ∆ S i ) ≤ 0,01 pu. Uma iteração de Newton-Raphson leva um tempo de
aproximadamente 7 iterações de Gauss-Siedel. Portanto, a partir de 35 iterações de Gauss-Siedel, o
método de Newton-Raphson tende a ser mais vantajoso em tempo de computação.
Uma desvantagem do método de Newton-Raphson como foi apresentado, é a necessidade de,
em cada iteração, construir e inverter a matriz jacobiana. Na prática, a inversão é evitada através de
técnicas de fatoração matricial. Além disso, técnicas de ordenação ótima das equações e
armazenamento compacto da matriz jacobiana triangularizada permitem grande economia
computacional, tanto em gasto de memória quanto na diminuição da quantidade de operações
aritméticas necessárias, uma vez que se evita que o computador faça operações com elementos
nulos.
Técnicas de desacoplamento e estratégias como manter o jacobiano constante, ou só atualizá-
lo de duas em duas iterações também podem ser úteis na economia de tempo e processamento.
Ainda assim, a formação do jacobiano e a implementação das técnicas citadas consomem razoável
memória, tempo de processamento e exige sofisticada programação. Mesmo utilizando a
característica de esparsidade da matriz [J], os gastos em memória são proporcionais a n (n =
número de barras do sistema), sendo geralmente bem maiores que os de Gauss-Siedel.
2.2.5- Fatores de aceleração da convergência
A utilização de fatores de aceleração no método de Newton-Raphson tende a produzir
melhores resultados do que no método de Gauss-Siedel.
A razão mais comum para o uso de tais fatores é tornar convergente um processo
eminentemente divergente. A técnica utilizada geralmente é:
( k +1) (k ) (k )
δ  δ  ( k ) −1 ∆P 
V  =  − α[J ]   (2.66)
  V  ∆Q 

Onde 0,7 ≤ α ≤ 1,4. A utilização de α < 1 desacelera a convergência e costuma ser feita em estudos
com grandes cargas ativas e/ou reativas.

34
2.2.6- Considerações sobre as técnicas de programação
Computadores digitais apresentam limitações de memória impostas pelo hardware existente.
Em algumas aplicações, computadores com pouca memória podem não são adequados para a
solução de problemas de fluxo de carga. Nestas situações, é comum a utilização de técnicas de
programação em que se faz um compromisso entre os gastos com memória e o tempo de
processamento. Há ainda técnicas que permitem economias de tempo e memória simultaneamente.
Há algumas técnicas gerais, bastante conhecidas e empregadas para armazenamento compacto
de informação e resolução de grandes sistemas de equações lineares. Aqui serão vistas duas destas
técnicas: a programação esparsa e a fatoração triangular de matrizes.
Programação esparsa é uma técnica de programação digital com a qual matrizes esparsas são
armazenadas de forma compacta. Isto é muito importante especialmente em estudos de sistemas de
potência, onde as matrizes [Y] e, consequentemente, [J], costumam apresentar esparsidades
maiores que 99%.
A idéia básica da programação esparsa consiste em armazenar somente os elementos não
nulos da matriz. Há diversas técnicas para este tipo de programação, e o desempenho de cada uma
depende de fatores como simetria da matriz, percentagem de esparsidade, ocorrência de blocos de
elementos nulos, etc.
Uma técnica muito usual em programação esparsa consiste em tabelar os elementos não
nulos, conferindo-lhes índices que permitam saber sua localização na matriz. Por exemplo, a matriz,

0 0 1 0 VAL IL IC
3 1 0 0
1 1 3
A= seria armazenada como 3 2 1
0 0 3 0 1 2 2
  3 3 3
0 0 0 0

A coluna VAL contém os elementos não nulos da matriz e as colunas IL e IC contém as


coordenadas (linha e coluna, respectivamente) correspondentes a cada elemento em VAL. Observe-
se que uma matriz quadrada de dimensão n com nc elementos não nulos necessitaria de somente 3nc
células para o armazenamento completo da matriz.
No caso de as matrizes armazenadas serem simétricas, o espaço de memória necessário é
ainda menor, já que basta armazenar os elementos da diagonal principal e os elementos do triângulo
superior ou inferior da matriz.
Outra técnica muito utilizada para operar com matrizes é a fatoração triangular da matriz, a
qual permite resolver sistemas lineares sem a necessidade de inversão de matrizes. Para
entendimento desta técnica, suponha-se o sistema linear n x n representado em sua forma geral:
Ax=B (2.67)

35
O método clássico para solução de (2.67) é

x = A−1 B (2.68)
Este problema é análogo ao freqüentemente encontrado para sistemas de potência

Ι = [Y] E (2.69)

ou mesmo à atualização do método de Newton-Raphson.

D = − [J] ∆x (2.70)

Observe-se que para n ≈ 10.000, realidade comum para muitos sistemas de energia
interligados, o número de operações aritméticas necessárias para a obtenção da inversa A−1 é
relativamente grande.
Suponha-se então que a matriz A seja fatorada em duas matrizes:
A = LU (2.71)
Onde L é a matriz triangular inferior e U é a matriz triangular superior. Então:
LU x = B (2.72)
Criando uma nova variável w = U x, tem-se:
Lw=B (2.73)
A equação (2.73) pode ser resolvida de forma trivial, já que L tem uma forma especial:

 l 11 0 0 K
l l 22 0 
 21 w =B (2.74)
l 31 l 32 l 33 
 
 L 
Assim, de imediato:

B1
w1 = (2.75)
l 11

Para a linha 2, tem-se:

l 21 w1 + l 22 w2 = B2 (2.76)

B2 − l 21 w1
Logo: w2 = (2.77)
l 22

Como w1 é conhecido de (2.75), w2 pode ser calculado. Este processo continua até que todos
os wi tenham sido determinados. A fórmula recursiva geral para o cálculo de w é:
r −1
Br − ∑ l rq wq
q =1
wr = (2.78)
l rr

36
De posse do vetor w, pode-se encontrar o vetor solução do problema x. De (2.73), tem-se:

u11 u12 u13 K


0 u u 23 
w= 22 x (2.79)
0 0 u 33 
 
L 
A última linha de (2.79) pode ser resolvida de imediato:

wn
xn = (2.80)
u nn

Este valor de xn é, então, substituído na penúltima linha de (2.78) para encontrar:

wn −1 − u n −1 n x n
x n −1 = (2.81)
u n −1 n −1

Este processo de substituição de trás para frente é repetido até que todos os xi sejam
encontrados. A fórmula recursiva geral para calcular x é:
n
wr − ∑ u rq wq
q = r +1
xr = (2.82)
u rr

Como se vê, através da fatoração triangular da matriz A e substituição de trás para frente com
os elementos das matrizes resultantes L e U, a solução de A x = B é encontrada sem necessidade de
calcular a inversa de A.
O processo de fatoração de A em L e U pode ser feito da várias maneiras. Uma das mais
simples é a partir da suposição de que L tem a diagonal principal unitária, ou seja:

 1 0 0 L
l 1 0 
L =  21  (2.83)
l 31 l 32 1 
 
 L 
A matriz U continua como foi apresentada:

u11 u12 u13 K


0 u 22 u 23 
U=  (2.84)
0 0 u 33 
 
L 
Como se sabe, segundo a equação (2.71), A = LU. Portanto:

37
 1 0 0 L u11 u12 u13 K
l 1 0  0 u 22 u 23 
 21  =Α (2.85)
l 31 l 32 1  0 0 u 33 
  
 L  L 
Observando-se a equação (2.85), tem-se logo de imediato:

u11 = A11 ; u12 = A12 ; … ; u1n = A1n (2.86)


Para a segunda linha de A, tem-se que:

l 21u11 = A21
l 21u12 + u 22 = A22
l 21u13 + u 23 = A23
M
e assim por diante. Destas equações extrai-se:
A21
l 21 =
u11
u 22 = A22 − l 21u12
u 23 = A23 − l 21u13
M
A generalização para a expansão da linha r de A é:
c −1
Arc − ∑ l rq u qc
q =1
l rc = ; c = 1, 2, K , r − 1 (2.87a)
u cc
r −1
u rc = Arc − ∑ l rq u qc ; c = r , r + 1, K , n (2.87b)
q =1

As matrizes triangulares, inferior e superior não mantém o mesmo grau de esparsidade que a
matriz original [ Y ]. A diferença é que, em L, aparecem alguns novos elementos em posições que
estavam originalmente vagas. Considerando que o número de operações e as necessidades de
armazenamento dependem basicamente do número de elementos não nulos das matrizes L e U, é
desejável que o aparecimento de novos elementos seja minimizado. Isto pode ser conseguido por
meio do que se chama ordenação ótima.
A ordenação ótima consiste em renumerar os nós da rede, visando uma ordem mais favorável
para as substituições. A fatoração triangular da matriz jacobiana já representa por si só um processo
de ordenação dos nós, mas não se constitui em ordenação ótima, pois apenas ordena segundo a
numeração já existente.

38
A idéia básica dos métodos mais usuais de renumeração consiste em se eliminar primeiro os
nós que tenham o menor número de ligações. Algoritmos mais avançados podem ser utilizados na
ordenação, como a redução dos circuitos por meio da eliminação de Gauss para posterior
eliminação pelo critério do menor número de ligações.

39
Capítulo 3

Otimizações e Variações do Fluxo de Carga


3.1 Métodos desacoplados
O estudo do fluxo de carga se constitui uma aplicação preferencial de métodos numéricos. Os
métodos mais eficientes e seguros, contudo, tendem a demandar grande gasto e tempo de
computação. Assim, é importante buscar estratégias que permitam simplificar os métodos,
diminuindo o esforço computacional, sem, no entanto, deixar que se percam as qualidades
principais dos mesmos.
Um fato a ser considerado aquí é que os métodos numéricos conduzem a melhores resultados
quando incorporam em si as propriedades físicas dos sistemas aos quais são aplicados.

Os métodos desacoplados, como o próprio nome sugere, baseiam-se no desacoplamento Pδ-


QV , ou seja, são obtidos considerando-se o fato de as sensibilidades ∂P/∂δ e ∂Q/∂V serem mais
intensas que as sensibilidades ∂P/∂V e ∂Q/∂δ. Este tipo de relação é mais assegurada a medida que
cresce o nível de tensão, como por exemplo, para redes de transmissão em extra-alta tensão (EAT;
V > 230 kV) e ultra-alta tensão (UAT; V > 750 kV).
Em termos matemáticos, os métodos desacoplados igualam a zero as submatrizes [J2] e [J3]
do jacobiano. Desta forma, o problema passa a ser

∆P  [J 1 ] 0  ∆δ 


∆Q ≅ −  0 [J ] ∆V  (3.1)
   4  
 V 

e, portanto, o problema se resume em dois conjuntos de equações independentes

∆δ = −[J 1 ] −1 ∆P (3.2)

∆V
= −[J 4 ] −1 ∆Q (3.3)
V
Note-se que as equações ainda estão acopladas, já que [J1] depende de Vi e [J4] depende de δi.
Entretanto, um desacoplamento matemático é conseguido no algoritmo de solução, em que se
divide o problema em dois sub-problemas, resolvidos alternadamente. No sub-problema Pδ são
usados os valores atualizados de V; no sub-problema QV são utilizados os valores atualizados de δ.
Em sistemas com predominância de barras PQ, o tempo de processamento para solução do
fluxo de carga reduz-se para um quarto do tempo que seria requerido para a matriz jacobiana
completa.
Apesar do erro introduzido pela simplificação da matriz, a robustez do método de Newton-
Raphson garante a obtenção de uma solução utilizando não mais que uma ou duas iterações
adicionais. Isto acontece porque a introdução de aproximações na matriz jacobiana altera o processo

40
de convergência, isto é, muda o caminho percorrido entre o ponto inicial e a solução, mas não altera
o resultado, pois o problema resolvido permanece o mesmo.
Para ilustrar este ponto, observe-se a figura 2.5, que mostra um exemplo de método
desacoplado que mantém as derivadas constantes.

f (x)

f (x)

(a) (b)

Fig. 3.1 Ilustração da diferença na convergência para:

(a) método de Newton-Raphson convencional; (b) método de Newton-Raphson com jacobiano constante.

Note-se que no caso de 2.5(b), em que as derivadas são mantidas constantes, a convergência é
um pouco mais lenta (exige maior número de iterações), mas conduz ao mesmo resultado.
Assim, de modo geral, pode-se dizer que os métodos desacoplados aproximam o cálculo das
derivadas mas mantém a integridade do modelo da rede e, por isso, não a afetam a solução final do
fluxo de carga.

3.2- Método de Newton Desacoplado


O algoritmo básico do método de Newton-Raphson, desenvolvido na seção precedente, pode
ser colocado na forma:
(k )
 ∆V 
∆P ( k ) = −[J 1 ] ( k ) ∆δ ( k ) − [J 2 ] ( k )   (3.4a)
 V 
(k )
 ∆V 
∆Q (k )
= −[J 3 ] (k )
∆δ (k )
− [J 4 ] (k )
  (3.4b)
 V 

δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.4c)

V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.4d)

41
Devido ao desacoplamento Pδ-QV , os termos [J 2 ] ∆V e [J 3 ] ∆δ são numericamente muito
pequenos em relação a [J 1 ] ∆δ e [J 4 ] ∆V , respectivamente. Pode-se, então, por aproximação,
desprezar os termos menores, trabalhando apenas com [J1] e [J4].
Esta aproximação transforma o problema, que passa agora a ser:

∆P ( k ) = −[J 1 ] ( k ) ∆δ ( k ) (3.5a)
(k )
 ∆V 
∆Q (k )
= −[J 4 ] (k )
  (3.5b)
 V 

δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.5c)

V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.5d)

A recorrência dada pelas equações (3.5) ainda está na forma simultânea, isto é, δ e V são
atualizados ao mesmo tempo. A Segunda etapa da obtenção do método desacoplado consiste em se
aplicar o esquema de resolução alternado, resultando em:

∆P ( k ) = −[J 1 ] ( k ) ∆δ ( k ) (3.6a)

δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.6b)
(k )
 ∆V 
∆Q ( k ) = −[J 4 ] ( k )   (3.6c)
 V 

V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.6d)
Note-se que, colocando-se o algoritmo na forma alternada dada pelas equações (3.6), as
aproximações introduzidas na matriz jacobiana são parcialmente compensadas pelo fato de as
variavéis δ e V serem atualizadas a cada meia iteração.

Existem situações em que o sub-problema Pδ, por exemplo, pode convergir antes do sub-
problema QV. Nestes casos, podem-se obter algumas vantagens computacionais iterando-se apenas
o sub-problema ainda não resolvido.
3.3- O Método Desacoplado Rápido
O método desacoplado rápido tem o mesmo algoritmo básico que o método de Newton
desacoplado. A diferença fundamental entre estes dois métodos desacoplados é que no desacoplado
rápido, são feitas ainda mais simplificações, baseadas nas propriedades físicas dos sistemas de
potência, propriedades estas bem caracterizadas pelos elementos da matriz susceptância de barra.
Tomando-se as equações (3.5a) e (3.5b), do método de Newton desacoplado, mas escrevendo-
as de forma ligeiramente diferente, tem-se:

42
 ∂P 
∆P = −   ∆δ (3.7a)
 ∂δ 

 ∂Q 
∆Q = − V  ∆V / V (3.7b)
 ∂V 
Das equações (2.56c), e (2.62c) tem-se que:

∂Pi
= QTi + Vi 2 Bii (3.8)
∂δ i

∂Qi
Vi = −QTi + Vi 2 Bii (3.9)
∂Vi

É usual em sistemas elétricos de potencia que, quando expresso em por unidade:

| Vi
2
Bii | >> QTi (3.10)

Portanto:

∂Pi
= Vi 2 Bii (3.11)
∂δ i

∂Qi
Vi = +Vi 2 Bii (3.12)
∂Vi

Tomando-se agora as equações (2.55), e (2.61) tem-se que:

∂Pi
= −ViVk (Gik senδ ik − Bik cos δ ik ) (3.13)
∂δ k

∂Qi
Vk = −ViVk (Gik sen δ ik − Bik cos δ ik ) (3.14)
∂Vk

Considerando que:

δik ≅ 0 (3.15 a)

cos δ ik ≅ 1 e senδ ik ≅ 0 (3.15b)

Pode-se aproximar as expressões (3.13) e (3.14) para:

∂Pi
= ViVk Bik (3.16)
∂δ k

∂Qi
Vk = ViVk Bik (3.17)
∂Vk

Com essas aproximações, as equações (3.7 a) e (3.7 b) podem ser expressas em forma
matricial como:
43
∆P / V = −[B'] ∆δ (3.18)

∆Q / V = −[B' '] ∆V (3.19)

Onde: [B’] = matriz de susceptâncias [B] sem as linhas e colunas referentes à barra de
referencia;
[B’’] = matriz susceptância [B] sem as linhas e colunas referentes às barras PV e de
referência.

Para se ter idéia da simplificação que estas suposições práticas introduzem, note-se que,
agora, os ∂P/∂δ não são mais funções não-lineares de δ e V, mas sim constantes! Além disso, não é
mais necessário inverter o jacobiano a cada iteração, bastando inverter [B] uma única vez.
Para simplificar ainda mais o método e completar o desacoplamento, são feitas ainda as
seguintes considerações:
- omite-se de [B’] a representação de elementos que afetam predominantemente os fluxos
reativos, tais como reatâncias shunt e tapes em fase de transformadores controladores;
- omite-se de [B’’] a representação de componentes que afetam predominantemente os
fluxos ativos, tais como tapes em quadratura de transformadores defasadores.
Com isto, chega-se ao método desacoplado rápido em sua forma final:

∆P / V = −[B'] ∆δ (3.20a)

δ ( k +1) = δ ( k ) + ∆δ ( k ) (3.20b)

∆Q / V = −[B' '] ∆V (3.20c)

V ( k +1) = V ( k ) + ∆V ( k ) (3.20d)

em que foi utilizada mais uma vez a estratégia de solução alternada de ∆δ e ∆V.
O método desacoplado rápido foi originalmente proposto por Alsac e Stott, em 1974.

3.4- Critério de parada dos métodos desacoplados


Em geral, utilizam-se os mesmos critérios do método de Newton-Raphson convencional.
A sequência de solução das equações (3.20) deve ser realizada até que se atinjam as
tolerâncias do critério de parada, o qual pode ser:

máx (  ∆Pi ) ≤ εp ; máx (  ∆Qi ) ≤ εq (3.21)

44
3.5- Aspectos computacionais dos métodos desacoplados
A convergência dos métodos desacoplados é mais lenta que a do método tradicional, sendo
esta característica, no entanto, compensada pela rapidez das iterações.
A convergência do método desacoplado rápido é geométrica, levando, para sistemas típicos, 4
a 7 iterações para convergir, independentemente do número de barras do sistema. Levando em conta
que o tempo de duração de uma iteração do método desacoplado correponde, em média, a 1/5 do
tempo de uma iteração do método de Newton-Raphson, que os gastos com memória são cerca de
40% menores e que a dificuldade na implementação dos programas diminui sensivelmente, pode-se
concluir que os métodos desacoplados, principalmente o método desacoplado rápido, oferecem boas
vantagens sobre todos os demais até hoje implementados.

3.6- Ajustes e Controles Automáticos em Fluxo de Carga

Para tornar a solução de Fluxo de Carga a mais real possível, devem-se incluir os efeitos de
equipamentos automáticos de controle e os limites superiores e inferiores de certas variáveis. Os
ajustes mais usuais praticados são:
o Ajustes de tapes em fase de transformadores;
o Ajustes de tapes em quadratura de transformadores defasadores;
o Correção de violação de limites de tensão em barras PQ, podendo ser realizado via
controle local, ou controle remoto;
o Ajustes de limite de geração de potência reativa em barras PV;
o Ajustes de intercâmbio de potência ativa entre áreas.

3.6.1- Estratégias Adotadas:


Os ajustes são incorporados aos métodos de solução no momento em que uma
convergência aproximada do processo iterativo é obtida, para se evitar oscilações desnecessárias na
solução numérica. Então, de um modo geral, o problema de ajustes e controles pode ser formulado
como ilustrado na Figura 3.2, ou seja, deseja-se determinar um parâmetro controlador X de forma a
ajustar uma grandeza Y em um valor especificado YESP dentro de uma certa tolerância.

Figura 3.2 – Representação esquemática genérica do problema de ajustes e controles automáticos no


problema de fluxo de carga.
45
3.6.2- Ajuste em transformadores com tapes em fase

A implementação dos ajustes automáticos de tapes em fase pode ser realizada como
ilustrado na Figura 3.3, onde :

- é a tensão especificada a ser regulada pela ação de variação do tape;

- é a tensão calculada que corresponde a posição atual do tape do transformador


( );

∆V e ∆P - são os erros verificados de tensão e de posição de tape que devem ser


corrigidos, sendo α uma constante de proporcionalidade.

+ ∆V ∆P
SISTEMA
α
EQUAÇÕES

Figura 3.3 – Representação esquemática do ajuste de tape em fase de transformadores com tape
variável sob carga (OLTC)

Desta forma a nova posição do tape, , pode ser obtida pela relação:

∆P = - = ( - ) (3.22)

Neste ajuste tem-se que o parâmetro controlador é o tape P, e as grandezas controladas são
as tensões ou , respectivamente as tensões primária e secundária do transformador, como

ilustrado pelo modelo apresentado na Figura 3.4.

Figura 3.4 – Representação de um transformador com relação de tape 1:P


46
No ajuste automático deve-se considerar o fator de proporcionalidade α, como sendo
positivo (+ α), se a tensão a ser ajustada for a tensão do lado j (k=j), e negativo (- α), se a tensão a
ser ajustada for do lado i (k=i). Também se considera usualmente α = 0,01, para os métodos de
Gauss e Gauss-Siedel, e α = 1, para os métodos Newton-Raphson e Desacoplados.

3.6.3- Algorítmo para a incorporação do Controle de Tape em Fase

CERTIFICAR SE ATINGIU
CONVERGÊNCIA APROXIMADA

CALCULAR: -

CALCULAR: = + ∆P

VOLTAR AO PROCESSO ITERATIVO


DO FLUXO DE CARGA COM

FAZER UMA OU MAIS ITERAÇÕES

Figura 3.5 – Fluxograma para a incorporação do ajuste de tape em fase em transformadores OLTC.

Deve-se notar que a mudança de tape em transformadores é uma operação de natureza


discreta, pois o tape se caracteriza por um valor minimo, um valor máximo, entre os quais as
mudanças são feitas de forma discreta, conforme o passo. Então, os dados que especificam um

47
transformador são usualmente: tape minimo (tmin); tape máximo (tmax); tape (que corresponde a
posição atual do tape); e o passo.

3.6.4 – Ajuste do tape em quadratura de transformadores defasadores

A figura 3.6 ilustra um transformador defasador, cujo tape em quadratura é jq.

1: jq ܻ݆݅

Figura 3.6 – Representação de um transformador defasador puro, cujo tape é dado por jq.

Neste tipo de transformador, o parâmetro controlador é o tape jq, e a grandeza controlada é o


fluxo de potência ativa no ramo i-j, ou seja Pr, que pode corresponder aos fluxos Pij ou Pji. Para o
ajuste deste tape pode-se escrever que:

=
– ( - ) (3.23)

Onde:
- corresponde a nova posição do tape q;

- corresponde à posição atual deste tape;


- fluxo de potência ativa especificada para o ramo i-j;

- fluxo de potência ativa atual no ramo i-j;


- fator de proporcionalidade, sendo positivo para o fluxo de i-j, e negativo para o fluxo
de j-i.

3.6. 5 – Limites de Tensão em barras PQ

Como visto anteriormente, barras do tipo PQ têm suas tensões reguladas dentro de uma
faixa, entre um valor mínimo e um valor máximo, os quais são normalmente definidos em
resoluções do agente regulador, para que seja mantida uma boa qualidade de tensão no sistema
elétrico. O controle da tensão pode ser executado de forma local, por meio de injeções de potência
reativa, usualmente a partir de bancos de capacitores, reatores e compensadores síncronos, ou
remotamente, a partir de outras barras do tipo PV, as quais dispõem de mecanismos próprios de
48
injeção de potência reativa no sistema elétrico. Na figura 3.7 estão ilustrados os dois casos de
controle, sendo o controle local exercido na própria barra i com a injeção da potência reativa
requerida (Qi) a partir de um banco de capacitores, e o controle remoto exercido a partir de uma
barra k, do tipo PV, com a injeção da potência reativa requerida, neste caso Qk.

Figura 3.7 – Ilustração de ações de controle para controlar a tensão da barra i (Vi ) dentro de valores
mínimo e máximo especificados .

3.6.5.1- Controle Local


Utilizando-se o método desacoplado rápido de solução do fluxo de carga, pode-se obter
rapidamente uma estimativa da potência reativa a ser injetada na barra i, , de modo a trazer a
tensão Vi para dentro do intervalo especificado. Para tanto, utiliza-se o seguinte algoritmo:

i) Varia-se a fonte de potência reativa de uma quantidade ∆Q proporcional ao erro de


tensão ∆Vi = ViLim - ViAtual
ii) Usam-se fatores de sensitividade para estimar a potência reativa a ser injetada. No caso
do método desacoplado rápido, esses fatores são obtidos como:

(3.24)

(3.25)

Desprezando-se as variações em outras barras, pode-se escrever que a variação de tensão na


barra i é obtida pela relação (3.26), onde o fator de sensibilidade Sii corresponde ao valor negativo
do elemento da diagonal da matriz (B” )-1.

(3.26)

E, portanto, a quantidade de potência reativa a ser injetada na barra i para corrigir o desvio
de tensão é dada, de forma aproximada por:
49
(3.27)
3.6.5.2 - Algorítmo de Implementação do Ajuste Local

Figura 3.8 – Fluxograma de implementação do ajuste local para a correção de desvios de tensão em
barras PQ.

3.6.5.3 – Implementação do Ajuste por Controle Remoto

Esse ajuste é típico de barras PQ, cuja tensão é controlada pela tensão de uma barra PV.
Também é uma situação típica de compensador síncrono conectado no terciário de transformadores
de 3 enrolamentos, com a finalidade de controlar a tensão no primário ou no secundário do
transformador. Na figura 3.9 encontra-se a representação esquemática para a implementação do

50
controle remoto da tensão na barra i do tipo PQ, a partir da tensão da barra n, do tipo PV,
considerando-se a situação genérica de existirem também um conjunto de barras j do tipo PV e um
conjunto de barras k do tipo PQ, também ligadas à barra i.

Figura 3.9 – Representação genérica de implementação do controle remoto de tensão de uma barra
PQ (barra i), a partir de uma barra PV especifica (barra n), considerando também outras barras PQ
(conjunto de barras k), e outras barras PV (conjunto de barras j).

3.6.5.4 – Incorporação do Ajuste por Controle Remoto Utilizando o Método Desacoplado


Rápido
Considerando a representação esquemática apresentada na figura 3.9, pode-se escrever que a
potência reativa transferida a partir da barra i é dada por:

(3.28)

Se for dado um acréscimo , na tensão da barra n, do tipo PV, esta variação irá afetar a tensão da
barra i, e de todas as barras PQ, do conjunto k, ligadas à barra i, mas não alterarão as tensões das
barras PV, do conjunto j. Neste caso pode-se escrever para a potência reativa transmitida a partir da
barra i:

51
(3.29)
Dividindo-se a expressão (3.29) por (Vi + ∆Vi), obtém-se (3.30):

(3.30)

O termo [QiT/(Vi + ∆Vi)] é expandido em série de potência, truncada no segundo termo, obtendo-se:

(3.31)

Definindo-se a expressão:

(3.32)

E substituindo-se (3.32) e (3.31) em (3.30), obtém-se a expressão:

(3.33)

Que pode ser escrita como:

52
(3.34)

Escrevendo a expressão (3.34) para cada barra do tipo PQ do sistema, obtém-se a equação matricial:

(3.35)

Onde:

K=

3.6.5.5 – Suposições Simplificadoras do Método Desacoplado Rápido

1. Pode-se considerar que . Logo

2. Fazendo-se , tem-se que =

Então a solução do sistema linear expresso na equação (3.36) corresponde a variação da


tensão na barra de interesse (PQ) para uma variação de 1 pu na tensão da barra PV controladora.

(3.36)

Desta forma, a partir de uma regra de três, pode-se calcular a variação necessária na tensão
da barra n, ∆Vnnec, para obter a variação de tensão requerida na barra i, ∆Vireq, de modo a corrigir
a tensão dessa barra. A regra de três pode ser escrita como:

53
produz qualquer.

Para necessita-se de

Logo se obtém:

3.6.5.6 – Algorítmo do Ajuste Remoto

Figura 3.10 – Fluxograma para o algoritmo de implementação de controle remoto de tensão em uma
barra PQ.

3.6.6 – Limites de Geração Reativa em Barras PV Utilizando o Método Desacoplado Rápido

Os valores de potência reativa gerada em barras PV devem ser mantidos sob limites
especificados, por razões de estabilidade e qualidade da tensão nos sistemas elétricos. Para levar em
54
conta, de forma automática, este tipo de ajuste nos cálculos de fluxo de carga, usa-se como variável
de controle o módulo da tensão local da barra PV sob controle, de acordo com os seguintes passos:

1) A potência transferida da barra i (do tipo PV) cuja geração de potência reativa deseja-se
controlar, para o resto do sistema é dada :

(3.37)

2) Utilizando a transformação (3,32), a equação (3.37) pode ser escrita como:

(3.38)

3) Se for dado um acréscimo de no módulo da Vi , haverá um acréscimo , na potência


reativa transferida na barra i, bem como nas tensões das barras PQ conectadas à barra i.
Neste caso a equação (3.38) pode ser expandida como:

(3.39)

Sendo:

4) Desenvolvendo o primeiro termo da expressão (3.39), em série de potência, truncando no


termo de 2ª. ordem pode-se escrever:

(3.40)

De onde se obtém:

55
(3.41)

Ou

(3.42)

5) Desprezando em presença de resulta:

(3.43)
Ou

(3.44)

A expressão (3.44) relaciona a variação na potência reativa transferida (ou gerada) com as variações
nas tensões da barra i e das barras PQ ligadas à barra i. Portanto é necessário determinar
as variações para se utilizar a expressão (3.44).
6) Para a determinação das variações provoca-se uma variação = 1,0 pu,
utilizando o procedimento análogo àquele utilizado para o controle remoto de barras PQ,
visto anteriormente, ou seja:
7) Resolver a equação

Com b = onde k é o índice genérico da barra PQ ligada a barra i.

O vetor obtido na solução acima fornece as variações procuradas.


8) Uma vez calculado os valores dos pode-se montar a seguinte regra de três:
9)

56
Portanto

Algoritmo Para Incorporar o Controle de Geração de Reativo em Barras PV

57
3.6.7- INTERCÂMBIO DE POTÊNCIA ATIVA ENTRE ÁREAS

1 – Este tipo de controle aparece quando dois ou mais sistemas são interligados, e é necessário
ajustar o intercâmbio de potência ativa de cada sistema dentro de certos limites.

2 – Tendo-se N sistemas interligados precisa-se de N-1 variáveis de controle, que são as gerações
ativas em barras P-V.

58
3.7 Fluxo de carga linearizado ou CC
3.7.1- Linearização do fluxo de carga
O fluxo de carga até agora apresentado constituiu-se num problema não-linear e bastante
complexo do ponto de vista analítico, envolvendo os balanços de potências ativa e reativa. Notou-se
também que o problema altamente complexo poderia ter solução simples se empregados métodos
iterativos adequados para resolvê-lo, como ocorreu com a aplicação do método desacoplado rápido,
cujas suposições simplificadoras levaram em conta características intrínsecas, que normalmente
estão presentes nos sistemas elétricos nos níveis de transmissão em alta e extra-alta tensão.
Em aplicações de planejamento da expansão dos sistemas elétricos, as quais se situam em
horizonte de longo prazo, de poucos anos à alguns anos, muitas outras suposições simplificadoras
podem ser feitas, que simplificam consideravelmente o problema do fluxo de carga. A longo prazo
é perfeitamente razoável que se planeje operar o sistema com tensões nominais, ou sejam, iguais a
1,0 p.u. em todas as barras. Nestas condições é irrelevante considerar-se o balanço de potência
reativa, de forma que para o problema de fluxo de carga, basta a consideração do balanço de
potência ativa, o que constitui o princípio básico do Fluxo de Carga CC. Para a formulação do fluxo
de carga CC pode-se partir da expressão (3.45), que representa o fluxo de potência ativa entre dois
nós genéricos i-k, do sistema:

Pik = Vi2gik − ViVk [gik cos δik − bik sen δik] (3.45)

Então, para aplicações de planejamento de longo prazo, e considerando sistemas de alta e


extra-alta tensão nos quais as reatâncias indutivas são muito maiores que as resistências, e que as
aberturas angulares sejam pequenas, pode-se processar as seguintes aproximações:

Vi ≅ Vk ≅ 1 pu (3.46a)

sen δik ≅ δik (3.46b)


1
bik ≅ (3.46c)
x ik

O fluxo Pik pode então ser aproximado por:


δi − δk
Pik = (3.47)
x ik

Esta equação tem a mesma forma da Lei de Ohm aplicada a um resistor percorrido por uma
corrente contínua, sendo Pik análogo à intensidade de corrente, δi e δk análogos às tensões terminais

59
e xik análogo à resistência. Por esta razão, o modelo de fluxo de potência ativa baseado na equação
(3.47) é também conhecido como modelo CC.
Seja a injeção de potência na barra i definida por:

Pi = PGi − PCi
(3.48)
n
Ou Pi = ∑ xik−1δ ik (3.49)
k =1
k ≠i

n n
Ou ainda Pi = ( ∑ x ik−1 )δ i + ∑ (− xik−1δ k ) (3.50)
k =1 k =1
k ≠i k ≠i

A equação (3.30) pode ser escrita em notação matricial, assumindo a forma:

P = [ B] δ (3.51)

onde: P = vetor das injeções líquidas de potência ativa.

δ = vetor dos ângulos de fase das tensões nodais.


[B] = matriz tipo admitância nodal cujos elementos são:

Bik = −1 / xik (3.52a)


n
Bii = ∑1 / xik (3.52b)
k =1
k ≠i

A matriz [B] é singular pois é necessário definir o nó de referência, e elimina-lo da


representação matricial. Para resolver o problema, adota-se uma das barras como referência (δi =
0o), restando assim um sistema não-singular de dimensão (n−1). Os ângulos desconhecidos das
(n−1) barras podem ser calculados a partir das injeções de potência líquida especificadas nas barras
através da expressão:

δ = [B’]−1 P (3.53)
Como se vê, trata-se de uma solução trivial de sistema linear, feita por meio da inversão da
matriz [B’]. A condição matemática para que o modelo CC forneça uma solução é que a matriz [B’]
seja não-singular, o que equivale a exigir que a rede seja conexa.
Nos casos em que haja transformadores em fase, é válida a relação:

Pik = aik xik−1 δik (3.54)

60
onde aik é a relação de transformação; a expressão (3.54) pode ser demonstrada a partir do mesmo
raciocínio empregado para a equação (3.26). Quando houver transformadores defasadores, pode-se
utilizar a expressão:

Pik = xik−1 (δik + φik) (3.54)

para a qual admite-se que a abertura efetiva (δik + φik) entre as barras i e k é da mesma ordem de
grandeza de δik .

3.7.2- Representação das perdas ativas no fluxo de carga CC


Em redes de transmissão com dimensões elevadas, o montante das perdas pode ser
considerável quando comparado com o nível de geração na barra de referência. Como a injeção de
potência ativa na barra de referência não é especificada a priori, sendo dada pelas perdas de
transmissão (só conhecidas após a resolução do problema) mais a carga líquida de todas as outras
barras (carga menos geração), a não contabilização (pelo menos aproximada) das perdas de
transmissão pode resultar em erros razoáveis na determinação da potência ativa da barra de
referência.
Seja então a equação (1.16a), rescrita abaixo com uma pequena modificação na notação:
n
Pi = Vi ∑ Vk (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (3.55)
k =1

onde Pi é a potência ativa injetada na barra i, definida por Pi = PGi − PCi = PTi . Aproximando Vi =
Vk = 1 pu e rearranjando-se o somatório, pode-se escrever:
n
Pi = Gii + ∑ (Gik cos δ ik + Bik sen δ ik ) (3.56)
k =1
k ≠i

Considerando-se que:

Gik = − g ik (3.57a)
n
Gii = ∑ g ik (3.57b)
k =1

Bik ≅ x ik−1 (3.57c)

Obtém-se:
n n
Pi = ∑ (1 − cos δ ik ) g ik + ∑ ( xik−1 sen δ ik ) (3.58)
k =1 k =1
k ≠i k ≠i

Aproximando-se as funções seno e cosseno por suas séries de Taylor truncadas, tem-se:

61
1 2
cos δ ik ≅ 1 − δ ik (3.59a)
2

sen δ ik ≅ δ ik (3.59b)

Obtém-se, finalmente,
1 n n
Pi − ∑ ik ik ∑ xik−1δ ik
2 k =1
g δ 2
= (3.60)
k =1
k ≠i k ≠i

Para interpretar o significado do termo com g ik δ ik2 na expressão (3.60), pode-se fazer uma
comparação desta expressão com a expressão para cálculo das perdas na linha de transmissão entre
as barras i e k pelo modelo CA:

Perdas = Pik + Pki = g ik (Vi 2 + Vk2 − 2ViVk cos δ ik ) (3.61)

1 2
Fazendo-se as aproximações Vi = Vk = 1 pu e cos δ ik ≅ 1 − δ ik , obtém-se:
2

Perdas = Pik + Pki = gik δik2 (3.62)

1 n
Portanto, o termo ∑ g ik δ ik2 no lado esquerdo na expressão (3.60) pode ser entendido como
2 k =1
k ≠i

a metade das perdas ativas de todas as linhas adjacentes à barra i. Isto significa que o efeito das
perdas pode ser representado como cargas adicionais obtidas pela divisão das perdas de cada linha
do sistema entre suas barras terminais, sendo metade para cada barra.
Com esta representação, o modelo CC passa a assumir a forma:

P + Pperdas = [B’] δ (3.63)

Observe-se que nesta formulação há uma indeterminação, já que Pperdas depende dos δik e
estes ângulos só serão conhecidos quando o problema for resolvido. Um procedimento que pode ser
adotado para resolver o sistema da equação (3.63) consiste em:

- calcular uma solução temporária δ* resolvendo-se o sistema P = [B’] δ;

- calcular Pperdas através de δ*;


- resolver, por fim, o sistema (3.63) a partir dos valores de perdas obtidas no passo anterior,
obtendo-se uma nova solução δ, com a qual se pode estimar os fluxos ativos no sistema.
3.7.3- Vantagens, aplicações e limitações do fluxo de carga CC
Conforme se observa na equação (3.53), o fluxo de carga CC consiste num problema linear,
que não necessita de métodos iterativos para ser resolvido. É baseado em aproximações derivadas
do acoplamento Pδ e apresenta resultados tanto melhores quanto mais alto for o nível de tensão.

62
A potência reativa e a magnitude das tensões terminais não fazem parte do problema. A
solução apenas fornece valores de ângulos de fase, a partir dos dados de potência ativa injetada em
cada barra e configuração e parâmetros do sistema.

3.8 Fluxo de carga trifásico


3.8.1- Motivações para estudos de fluxo de carga trifásicos
Aplica-se o fluxo de potência trifásico nos casos em que a simplificação unifilar não é
possível, sendo necessário descrever em detalhes as grandezas de cada fase.
Este tipo de situação ocorre em condições de operação desbalanceadas, isto é, situações em
que as tensões e correntes de cada fase não apresentam os mesmos módulos por fase, e
defasamentos de 120º graus entre fases. Os principais motivos que levam ao desbalanceamento são
existência de cargas monofásicas e bifásicas, normalmente presentes nos sistemas de baixa tensão,
como também a indução magnética entre fases, nos sistemas de alta e extra alta tensão que operam
sem transposição de fases.
Além destes casos, há outras motivações para os estudos de fluxo de carga trifásicos como:
- Verificação da necessidade de transposição de linhas de transmissão em estudos de
planejamento, através da análise técnico-econômica dos efeitos dos desbalanços
introduzidos pelas mesmas. Como se sabe, correntes de seqüência negativa e zero
circulando através de máquinas elétricas produzem sobreaquecimento e torques pulsantes,
cujas conseqüências sobre a vida útil dos equipamentos deve ser ponderada com base em
informações dos fabricantes, e o custo de projetos não-convencionais dessas máquinas
confrontado com o custo da transposição das linhas em análise;
- Em estudos de operação, e com vistas principalmente a subsidiar a calibração dos relês de
proteção de terra, devem ser avaliados os desbalanços introduzidos por linhas de
transmissão parcialmente transpostas e, principalmente, avaliadas as correntes de
circulação entre circuitos múltiplos de linha de transmissão mutuamente acoplados;
- Comparação, em planejamento, de diferentes alternativas para os esquemas de
transposição;
- Avaliação do desbalanço introduzido pela presença de grandes cargas desequilibradas no
sistema;
- Verificação da influência, nas perdas do sistema, da adoção de cabos pára-raios aterrados,
permitindo um estudo técnico-econômico de comparação de alternativas entre a utilização
de cabos guarda aterrados ou isolados;
- Avaliações de condições operativas decorrentes de abertura monopolar;
- Análise de faltas simultâneas;
- Estudos de transitórios de ligação de transformadores, bem como de carregamento
assimétrico dessas máquinas;
63
- Avaliação da influência da saliência dos geradores (saliência de regime, ou seja, Xq ≠ Xd)
nas correntes de desequilíbrio em regime permanente.

3.8.2- Formulação do fluxo de carga trifásico


Para levar em conta as três fases no estudo de fluxo de carga, é necessário expandir os vetores
E e I . Para o vetor E , substitui-se cada tensão de barra pelas três tensões de fase correspondentes.
Para o vetor I , substitui-se cada injeção de corrente individual pelas três correntes de fase. Os
vetores resultantes, E 3φ e I 3φ , possuem dimensão igual ao triplo da dimensão dos vetores E e I
correspondentes.
Para a situação desbalanceada, são válidas as relações

E 3φ = [Z]3φ I 3φ (3.64)

I 3φ = [ Y ] 3φ E 3φ (3.65)

Onde as matrizes [Z]3φ e [Y] 3φ são as versões trifásicas de [Z] e [Y] , sendo as regras de formação
das matrizes impedância e admitância trifásica idênticas às de suas análogas monofásicas (ou
unifilares).
Na formulação do método de Newton-Raphson para o caso trifásico, a diferença básica é na
dimensão dos vetores ∆V e ∆δ, que aumentam de um fator de 3, de modo a representar magnitudes
e ângulos de fase das três tensões de fase. Diversos outros métodos são empregados na formulação
de fluxo de carga trifásico, entre os quais se destacam os métodos somatório de potências e
somatório de correntes, adequados para aplicações em sistemas radiais.

3.9 Fluxo de carga harmônico


3.9.1- Harmônicos em sistemas de energia elétrica
Grande parte dos estudos sobre sistemas elétricos em regime permanente senoidal consideram
que todas as tensões e correntes têm a mesma freqüência (normalmente 50 ou 60 Hz para a maioria
dos sistemas existentes). A presença de elementos de linha de transmissão ou cargas não-lineares,
tais como fornos a arco, retificadores, lâmpadas de descarga e equipamentos eletrônicos em geral,
provoca o aparecimento de correntes e tensões com formas de onda distorcidas, não-senoidais. Tais
formas de onda são periódicas, podendo ser descritas em termos de série de Fourier como:

v(t ) = a o + ∑ a h sen (hω o t + φ h ) (3.66)
h =1


i (t ) = c o + ∑ c h sen (hω o t + θ h ) (3.67)
h =1

Feitas estas considerações, pode-se calcular a potência envolvida como:

64
p(t) = v(t) i(t) (3.68)
Com base na expressão (3.68), pode-se mostrar que a potência ativa (ou média) é dada por:

P = a o c o + ∑ a h c h cos (φ h − θ h ) (3.69)
h =1

A potência reativa, por sua vez, é dada por:



Q = ∑ a h c h sen (φ h − θ h ) (3.70)
h =1

Já a potência aparente é dada por:


∞ ∞
S = ( ∑ a h2 ) ( ∑ c h2 ) (3.71)
h =0 h =0

No caso de v(t) e i(t) senoidais, pode-se demonstrar que:

S 2 = P2 + Q2 (3.72)

Para o caso não-senoidal, a equação (3.72) não é válida. A discrepância D é uma componente
de distorção, que tem a mesma natureza de Q, e que surge dos produtos de termos de freqüências
harmônicas. Os volt-ampères de distorção são dados por:

D = S 2 − P2 − Q2 (3.73)

Observe-se que, na presença de harmônicos, a potência ativa se mantém, surgindo um termo


adicional D que possui a mesma natureza de Q, isto é, D pode ser convertido em Q, e vice-versa.
O fator de potência, originalmente dado por:
P P
F. P. = = (3.74)
S P + Q2
2

sofre diminuição, por efeito da distorção harmônica, passando a valer:


P
F. P. = (3.75)
P2 + Q2 + D2

Em se tratando de harmônicos, é comum definir uma grandeza para medir o nível de distorção
da forma de onda. Esta grandeza é denominada distorção harmônica total (DHT) ou taxa de
distorção harmônica (TDH), sendo dada por:

∞ 2
a 
DHT(%) = 100 ∑  h  (3.76)
h = 0  a1 
h ≠1

65
3.9.2- Formulação do fluxo de carga harmônico
O fluxo de carga harmônico é executado em casos em que a presença de cargas ou fontes não-
lineares tem potencial de provocar níveis altos de distorção harmônica. Aplicações típicas para o
fluxo de carga harmônico estão no projeto de filtros, determinação de interferências no
funcionamento de relês e em sistemas de comunicações e no dimensionamento de bancos de
capacitores, a fim de evitar fenômenos de ressonância. Outra aplicação muito importante reside no
estudo de sistemas que contêm elos de corrente contínua em alta tensão.
As correntes e tensões não senoidais são descritas por suas séries de Fourier e as influências
mútuas entre estas grandezas são modeladas por uma submatriz de derivadas parciais de cada
corrente harmônica em relação a cada tensão harmônica de barra. Esta submatriz é incorporada ao
jacobiano. Para a montagem destas submatrizes harmônicas, a matriz [ Y ] da rede é modificada de
acordo com a freqüência considerada (sob a consideração de que z n = r + j h x ).

3.10 Fluxo de Carga Ótimo


3.10.1- Introdução
O Fluxo de Potência Ótimo é uma ferramenta que tem por finalidade fornecer a melhor
condição operacional de um sistema elétrico sob um determinado objetivo. O objetivo pode ser, por
exemplo, a condição de operação tal que o sistema apresente perdas mínimas. O problema não é
simples, pois a solução encontrada deve respeitar os limites operativos dos equipamentos que
compõem a rede elétrica assim como atender outras restrições inerentes à operação de um sistema
elétrico.

3.10.2- Aplicações do Fluxo de Potência Ótimo


O Fluxo de Potência Ótimo tem aplicação em vários problemas de planejamento da
expansão e operação dos sistemas elétricos e de operação em tempo-real, tais como:
o Despacho econômico e seguro (operação em tempo-real, simulação do despacho em estudos
de planejamento da operação e expansão);
o Redespacho preventivo e corretivo (operação em tempo-real);
o Minimização de perdas;
o Alocação de fontes de potência reativa (planejamento da expansão do suporte de reativos);
o Planejamento da expansão de sistemas de transmissão;
o Outras

3.10.3 - Formulação do Problema


O Fluxo de Potência Ótimo é geralmente formulado como um problema de Programação
Não Linear, da seguinte forma:
Minimizar f(z) (3.77)
sujeito às restrições:
66
g(z) = 0 (3.78)
h(z) ≤ 0 (3.79)
Onde:
f(.) é a função objetivo,
g(.) são as restrições de igualdade,
h(.) são as restrições de desigualdade.
z é o vetor de variáveis do problema.

3.10.3.1- Variáveis do Fluxo de Potência Ótimo

As variáveis do problema de Fluxo de Potência Ótimo são divididas em variáveis


dependentes ou de estado e variáveis independentes ou de controle. Entende-se por variáveis de
estado o conjunto mínimo de variáveis capaz de caracterizar unicamente o estado de operação da
rede elétrica. Normalmente as variáveis de estado são os módulos e os ângulos das tensões de fase
em cada barra do sistema elétrico.
As variáveis independentes, ou de controle, são as que, durante o processo de solução, serão
alteradas com a finalidade de se encontrar o ponto ótimo de operação. Na prática, estas variáveis
podem ser:
- Potência ativa gerada em cada máquina;
- Módulo da tensão nas barras de geração;
- Potência reativa gerada;
- Posição de tap de transformador;
- Susceptância shunt de bancos de capacitores e reatores;
- Potência transmitida entre links DC;
- Fluxo de intercâmbio entre áreas;
- Reatância de capacitor série.

3.10.3.2- Restrições de Igualdade


No FPO, o conjunto de restrições de igualdade é na verdade o fechamento do balanço de
carga e geração da rede elétrica. As restrições são as equações da rede, tal como no Fluxo de
Potência convencional.
Pode-se ainda incluir às restrições de igualdade características particulares de operação da
rede elétrica, como a fixação de determinadas variáveis ou combinação de variáveis do sistema.

67
3.7.3.3- Restrições de desigualdade
As restrições de desigualdade são inequações representando limites físicos relacionados com
a capacidade térmica de transmissão de potência dos componentes da rede ou limites operacionais
relacionados com aspectos de segurança da operação do sistema.
No problema de FPO é comum haver limites para as seguintes variáveis:
- Módulo da tensão:
Vimin ≤ Vi ≤ ViMax (3.80)
onde: Vimin valor mínimo permitido para a tensão na barra i;
Vimax valor máximo permitido para a tensão na barra i
- Tap de transformador:
aij min ≤ aij ≤ aij Max (3.81)
onde: aij min valor mínimo permitido para o tap do transformador no circuito i-j
aij max valor máximo permitido para o tap do transformador no circuito i-j

- Ângulo de defasamento:

ᵠij min ≤ ᵠij ≤ ᵠij max (3.82)

onde: ᵠij min valor mínimo permitido para o ângulo de defasamento no circuito i-j

ᵠij max valor máximo permitido para o ângulo de defasamento no circuito i-j
- Potência ativa gerada:
PGi min ≤ PGi ≤ PGi max; (3.83)
onde: PGi min valor mínimo permitido para geração de potência ativa no gerador i
PGi max valor máximo permitido para geração de potência ativa no gerador i
- Potência reativa gerada:
QGi min ≤ QGi ≤ QGi max (3.84)
onde: QGi min valor mínimo permitido para geração de potência reativa no gerador i
QGi max valor máximo permitido para geração de potência reativa no gerador i

- Potência reativa capacitiva alocada:


0 ≤ QCi ≤ QCi max (3.85)
onde: QCi max valor máximo permitido para alocação de potência reativa capacitiva na barra i

- Potência reativa indutiva alocada:


0 ≤ QIi ≤ QIi max (3.86)

68
onde: QIi max valor máximo permitido para alocação de potência reativa indutiva na barra i

- Potência ativa alocada:


0 ≤ PAi ≤ PAi max (3.87)
onde: Pai max valor máximo permitido para alocação de potência ativa na barra i

- Carregamento nos circuitos:


P2ij + Q2ij ≤ Sij max (3.88)
Onde: Sij max é o máximo carregamento do circuito em termos de potência aparente.

- Rejeição de Carga:
Existem algumas situações, como, por exemplo, a de sistemas com problemas de tensão ou
carregamento nos circuitos, onde pode ser necessário diminuir a carga em determinadas barras de forma
a viabilizar a operação do sistema. Estes cortes de carga são modelados matematicamente através do
fator FCi presente nas equações de balanço ativo e reativo e o qual apresenta os limites:
0 ≤ FCi ≤ 1 (3.90)
Observar que FCi = 1 significa que a carga total da barra é considerada enquanto FCi = 0 anula o valor
de sua carga.
- Intercâmbio entre áreas:
ITi min ≤ ITi ≤ ITi max (3.91)
Onde: ITi min limite inferior para o intercâmbio líquido na área i
ITi max limite superior para o intercâmbio líquido na área i

3.4. Função Objetivo


Várias funções objetivo são utilizadas no problema de FPO. A seguir, uma breve descrição
das funções objetivas mais utilizadas na prática e sua descrição matemática geralmente utilizada.

Mínimas perdas ativas - Visa diminuir o valor total das perdas no sistema. Essa função pode ser
representada de duas maneiras:

• Minimização da injeção de potência ativa na barra flutuante (barra swing).

f = Pg swing (3.92)

• Minimização do somatório das perdas ativas em todos os ramos da rede.

f= ∑ (Pji + Pij)
(t,f)eΩ
(3.93)

Onde:
Pij – fluxo de potencia ativa da barra i para a barra j.
Pji – fluxo de potência ativa da barra j para a barra i.
69
Ω – É o conjunto de circuito na região a ser otimizada.

Mínimo custo de geração de potência ativa – Visa representar o despacho econômico da rede. O
custo de geração de potência ativa é normalmente representado como uma função linear em relação
à potência ativa gerada em cada máquina.

f= ∑C
i∈IG
pi PGi (3.94)

Onde:
IG – Conjunto de geradores de potência ativa controláveis.
Cpi – é o custo de geração de potência ativa no gerador i.
PGi – Geração de potência ativa no gerador i.

Mínimo desvio de potência ativa – É utilizada quando se deseja encontrar uma solução em que
todas as restrições sejam atendidas, porém sem se distanciar do despacho de geração pré-
especificado.
1
f = ∑ ρ ( PGi − PGi0 )2 (3.95)
2 i∈IG
Onde:
IG – Conjunto de geradores de potência ativa controláveis,
ρ - peso associado ao desvio de potência ativa,
PGi – Geração de potência ativa no gerador i.
PG0i – É o valor pré-especificado de geração de potência ativa no gerador i.

Mínimo Corte de Carga – Tem por objetivo encontrar uma solução para o problema em casos de
emergência aliviando a carga do sistema, se necessário, para restabelecer limites operativos como o
carregamento de linhas e tensões nas barras. A função é representada pelo somatório dos custos das
cargas cortadas em cada barra, ou seja:

f = ∑ C fci (1 − FCi ) PLi (3.96)


i∈IC

Onde:
IC – conjunto de barras candidatas ao corte de carga,
Cfci - custo de corte de carga na barra i,
FCi – Fração de carga efetiva na barra i,
PLi – Carga original da barra i.

Mínimo Custo de Alocação de Fontes de Reativos - Essa função objetivo é utilizada no


planejamento de instalações de novas fontes de potência reativa. Uma formulação utilizada é:

f = ∑ (cqci QCi + cqii QI i ) (3.97)


i∈I Q

Onde:
IQ – conjunto de barras candidatas a injeção de potência reativa,
cqci – custo de injeção de potência reativa capacitiva,
cqii – custo de injeção de potência reativa indutiva,
QCi – montante de injeção de potência reativa capacitiva,
QIi – montante de injeção de potência reativa indutiva.
70
Neste caso, nota-se que na solução do problema, quando a função objetivo for igual a zero, significa
que a rede não precisa de novas fontes de suporte de reativo para manter as tensões nas barras
dentro de seus limites.

Máximo Carregamento - Esta função objetivo pode ser utilizada no contexto de colapso de tensão
ou em estudos econômicos na determinação da máxima capacidade de atendimento de carga de um
sistema de potência. O objetivo desta função é maximizar a carga, mantendo o mesmo fator de
potência, de um conjunto de barras da rede a pré-especificado.

A função objetivo é representada matematicamente por:

f = ∑ PLi (3.98)
i∈Ω

Onde:
Ω - conjunto de barras que devem ter suas cargas maximizadas,
PLi – carga na barra i.

Máxima transferência de Potência Ativa – Maximiza a transferência de potência ativa entre áreas
vizinhas ou em um conjunto de circuitos pré-especificados.

A função objetivo é dada por:

f = ∑
( i , j )∈Ω
Pij (3.99)

Onde:
Ω - conjunto de circuitos para o qual deve-se maximizar o somatório dos fluxos,
Pij – fluxo de potência ativa no circuito (i,j).

3.10.4. Métodos de Solução do Fluxo de Potência Ótimo

3.10.4.1. Métodos Baseados em Programação Linear


O Fluxo de Potência Ótimo pode ser representado como um Problema de Programação
Linear. Um problema de Programação Linear é na verdade um caso particular de um Problema de
Programação Não Linear.
No caso de um Problema de Programação Linear, tanto a função objetivo, quanto as
restrições são lineares. O Fluxo de Potência Ótimo é um problema não linear, que pode ser
aproximado através de linearizações sucessivas. As equações originais do problema são resolvidas
com uma sucessão de aproximações lineares da forma:

MIN . f '( z 0 + ∆z ) (3.100)


s.a.

g '( z 0 + ∆z ) = 0 (3.101)
h '( z 0 + ∆z ) ≤ 0 (3.102)

71
Onde:
z0 é o valor inicial de z,
∆z é a variação em relação ao ponto inicial,
f’, g’ e h’ são aproximações lineares das funções não lineares originais.
Cada linearização calcula a direção do ponto ótimo ∆z através da linearização da função objetivo e
das restrições. Entretanto, a solução iterativa do problema linear, equações (3.100 a 3.102), não
garante a solução do problema não linear original, equações (3.77 a 3.79). Portanto, deve-se
executar um fluxo de potência convencional entre cada linearização.

As metodologias de solução do FPO baseadas em Programação Linear têm como vantagem


a eficiente detecção de casos sem solução real, a facilidade na resolução de problemas de FPO com
análise de segurança e tempos relativamente reduzidos de resolução.
Os métodos de “Programação Linear” mais comuns utilizados na solução do FPO são o
método Simplex, o método baseado no Vetor Gradiente e o Método de Pontos Interiores para
Programação Linear.

3.10.4.2. Métodos Baseados em Programação Não Linear

As equações representativas do FPO são não lineares e em alguns casos, difíceis de serem
aproximadas por funções lineares. Por conta disto, têm-se optado por resolver diretamente o
problema não linear de FPO através de técnicas de Programação Não Linear. Neste caso, tem-se a
característica de modelar mais precisamente o problema. No entanto, há uma perda em termos
computacionais nesses métodos, pois a solução é mais lenta.
Alguns dos métodos de programação não linear utilizados na solução do FPO são o de
Programação Quadrática Sequencial, Método do Gradiente Reduzido e Método de Newton. Estes
métodos têm sua importância dentro do contexto histórico de desenvolvimento do FPO com
formulação não linear. No entanto, o Método dos Pontos Interiores trouxe ganho significativo de
desempenho, principalmente em se tratando de problemas de grande porte. Em especial, o algoritmo
primal-dual tem apresentado excelentes resultados tanto em aplicações computacionais, quanto em
desenvolvimento teórico.

72
3.10.4.3. Método de Pontos Interiores Primal-Dual

No método de pontos interiores, o problema inicial apresentado nas equações (3.77 a 3.79) é
transformado em um problema contendo apenas restrições de igualdade. As restrições de
desigualdade são incorporadas à função objetivo através de barreiras logarítmicas.

Capítulo 4

Equivalentes Externos de Redes Elétricas


4.1. INTRODUÇÃO

O objetivo de um equivalente externo é permitir que uma rede elétrica reduzida seja
utilizada para a realização de estudos em determinada área ou região de interesse do sistema, sendo
as regiões externas representadas de maneira aproximada. No geral a utilização de equivalentes
externos está associada a estudos de planejamento da expansão e da operação de sistemas de
potência. O estudo de equivalente está associado aos seguintes aspectos:

Do ponto de vista dos equivalentes é conveniente dividir o sistema interligado em três


partes:

Sistema Interno (SI) – É a área de interesse de estudo ou controle, que pode ser a parte monitorada
da rede elétrica de uma determinada empresa;

Sistema Externo (SE) – É formado pelas partes não essenciais para o estudo, podendo ser
substituídas por equivalentes.

Fronteira (F) – São as barras que ligam os sistemas interno e externo.

73
Desta forma, uma adequada representação do SE em estudos de análise de segurança
permite que seja determinado, com razoável precisão, a reação externa a contingências simuladas
no SI. Os equivalentes externos podem a ser entendidos como modelos reduzidos do SE, conectado
às barras da fronteira entre o SI e o SE, onde a modelagem do SE conectado ao sistema em estudo
(SI) passa a ter caráter importantíssimo em análise de segurança, pois um equivalente externo deve
ser capaz de representar, convenientemente, as reações do SE à contingências no SI.

4.2. EQUIVALENTE WARD FORMA LINEAR

Neste método clássico desenvolvido por J.B.Ward, considera-se inicialmente uma rede
representada por um modelo linear, utilizando um modelo formado pelo SI, SE e as barras de
fronteira, conforme representado na figura 4.1 a seguir:

Figura 4.1 – Partição do sistema de potência em Sistema Interno (SI), Sistema Externo (SE) e Fronteira.

Pode-se representá-lo de acordo com a formulação nodal das equações da rede elétrica por:

YE = J (4.1)

Onde:

Y = matriz de admitâncias nodais; E = vetor de tensões nodais e J = vetor das injeções de


correntes nas barras.

A Eq. (4.1) pode ser expandida para representar as partições interna, fronteira e externa,
como:

(4.2)

74
Da Eq. (4.2), relativo ao SE, tem-se:

De onde:

(4.3)

Substituindo a Eq.(4.3) na equação contida em (4.2) referente às barras de fronteira, obtém-


se:

Ou ainda,

Definindo-se as relações:

(4.4)

(4.5)

Onde a Eq. (4.4) representa o circuito equivalente da rede externa e a Eq.(4.5) representa as injeções
de corretes equivalentes na fronteira.

Após a redução do sistema de interesse o modelo resultante fornece a seguinte equação


matricial:

(4.6)

Observa-se que os elementos que surgem da redução do sistema externo representados pelos
elementos YFEYEE-1 distribui as injeções originais do SE sobre as barras da fronteira acoplada ao
SI. Das Eq's. (4.4) e (4.5), observa-se que somente as barras de fronteira são afetadas pelo
equivalente. Geralmente estas barras tornam-se totalmente interconectadas quando o SE é
substituído por seu equivalente. As injeções de corrente nas barras de fronteira serão modificadas
75
para refletir o efeito das injeções nas barras do SE, que deixam de ser representadas com o uso do
equivalente.

Figura 2- Sistema reduzido

A figura 4.2 ilustra topologicamente o equivalente obtido, onde o circuito equivalente representa a
parte passiva do sistema externo, e é formado por ligações serie entre as barras de fronteira e
ligações “shunt” para a terra.

Por vezes para a realização dos cálculos dos equivalentes, utiliza-se o método da eliminação
de Gauss, que utiliza operações básicas de eliminação de linhas e colunas.

O modelo Ward linear considera geradores e cargas como dispositivos de injeção de


corrente constante. Entretanto, as injeções variam com as condições de carregamento, e portanto,
com o ponto de operação. Para levar em conta esta variação, as injeções de corrente devem ser
transformadas em injeções de potência nas barras de fronteira, gerando o Equivalente Ward na
forma não linear.

4.3 - EQUIVALENTE WARD ESTENDIDO

4.4 – EQUIVALENTE REI

76
Capítulo 5

Avaliação da Segurança Estática de Sistemas de


Potência
5.1. Considerações Iniciais

A operação segura de um sistema elétrico implica em grande número de decisões que


devem ser tomadas, desde o planejamento até as ações do dia a dia e que podem ter reflexos de
natureza econômica nas empresas, pois, a necessidade de implementar soluções técnicas no sentido
de tornar a operação do sistema mais segura, implica em maiores custos operacionais, pois,
segurança e economia, normalmente são conflitantes. A busca por soluções que atendam tanto aos
critérios técnicos quanto econômicos tem demandado um grande esforço de engenharia no sentido
de desenvolver sistemas de supervisão e controle que disponibilizem dados e informações cada vez
mais precisos e confiáveis para avaliação das variáveis de estado dos sistemas.

5.2- Considerações sobre operação dos sistemas elétricos em regime permanente

Em operação de regime permanente os sistemas elétricos devem respeitar as


restrições de carga e de operação, para que tenham uma operação segura. As restrições de carga
estão relacionadas ao equilíbrio (balanço) entre a geração e a carga. Estas restrições traduzem o fato
de que o Sistema Elétrico de Potência deve satisfazer a demanda de carga. Portando, são Restrições
de Igualdade, e são expressas pela equação:

g( x , y ) = 0 (5.1)

Onde: x e y são vetores de variáveis dependentes e de variáveis de


controle.

As restrições de operação refletem a necessidade de que os limites operacionais dos


equipamentos do sistema (geradores, linhas de transmissão, transformadores, etc.) não podem
exceder os limites permitidos de operação. Portanto, são Restrições de Desigualdade, e são
representadas por:

h( x , y ) ≤ 0 (5.2)

Onde: h é um vetor de funções não lineares.

Em condições normais de operação o sistema elétrico de potência possui um


equilíbrio entre a geração e a demanda de potências ativa e reativa; além disso, este equilíbrio

77
permite que os componentes do sistema tenham um bom funcionamento e não comprometa a sua
vida útil. Assim tem-se que a restrição de carga tem relação com o equilíbrio de potência, enquanto
que as restrições de operação estão relacionadas com o funcionamento dos componentes do sistema.
A seguir são analisadas as equações para um melhor entendimento do significado destas restrições
operacionais.

5.2.1. Restrições de Carga (Igualdade)

Estas restrições são representadas pelo fluxo de carga e estão relacionadas a


necessidade de equilíbrio entre a geração e a demanda de potências ativa e reativa, e são dadas pelas
equações:

PG - PC - PT = 0 (5.3)

QG - QC - QT = 0 (5.4)

Onde:

PG e QG - potências ativa e reativa geradas;

PC e QC – potências ativa e reativa consumidas;


PT e QT - potências ativa e reativa transmitidas.

Estas equações representam o equilíbrio do sistema entre o suprimento e a demanda


de carga. No suprimento, além da geração estão incluídos os sistemas de compensação de reativos.

5.2.2. Restrições de Operação (desigualdade)

As restrições de operação podem ser do tipo rígido e flexível. O tipo rígido são
aquelas que são definidas e especificadas, tais como, a faixa de variação de um comutador de tap de
um transformador operando sob carga, enquanto que as do tipo flexível são aquelas que tem uma
flexibilidade associada, tais como as tensões na barra e os ângulos de fase entre as tensões de barra
que obedecem a uma faixa de variação.

Para melhor caracterizar as restrições de operação, são descritos a seguir como elas
se apresentam nos principais componentes de um sistema elétrico.

b) Restrição de Geração – A potência entregue por um gerador é dado por:

S G = PG2 + QG2 (5.5)

Onde:

S G - potência aparente (MVA).

78
PG - potência ativa (MW).

QG - potência reativa (MVAr).

Considerando que, esta potência não poderá exceder um valor definido S G max . Esta é
uma restrição do tipo rígida e dada por:

PG2 + QG2 ≤ S G2 max (5.6)

A máxima potência ativa de um gerador está limitada principalmente por


considerações térmicas de circulação de corrente no estator e no rotor, além da máxima potência
mecânica da turbina. A mínima potência também é um fator limitador (restrição) para as unidades
geradoras tanto hidráulicas quanto térmicas. Portanto a potência de geração PG não pode sair da
faixa estabelecida pela desigualdade:

PG min ≤ PG ≤ PG max (5.7)

Da mesma forma, a máxima e mínima potência reativa de um gerador está limitada


pelo sobreaquecimento do rotor e estator, e pelo limite de estabilidade do gerador. Portanto, a
potência reativa de geração QG não poderá estar fora da faixa definida pela desigualdade:

QG min ≤ QG ≤ QG max (5.8)

Estas restrições são do tipo rígido, pois um gerador não pode suprir mais potência do
que permite sua capacidade, assim também para sua mínima geração, devido a questões de desgaste
e redução da vida útil e de estabilidade, conforme ilustrado na Figura 5.1 onde está representada a
curva de capacidade de um gerador síncrono de pólos lisos com todos os seus limites operacionais.

Figura 5.1 – Curva de capacidade de um gerador síncrono, com seus limites operacionais.
79
b) Restrições de Linhas de transmissão – O fluxo de potência ativa e reativa de uma
linha de transmissão é limitado pela capacidade térmica, relacionada ao fluxo de corrente, e é dado
por:

C LT ≤ C LT max (5.9)

ou ainda,

PLT2 + Q LT
2
≤ S LT
2
(5.10)

Onde:

C LT max - Máxima capacidade de fluxo de potência através da LT.

c) Restrições de transformadores de potência – O fluxo de potência ativa e reativa de


um transformador de potência é limitado pela sua capacidade de máximo sobreaquecimento de seus
enrolamentos, e pode ser dado por:

C T ≤ C T max (5.11)

ou ainda,

PT2 + QT2 ≤ S T2 (5.12)

Onde:

C T max - Máxima capacidade de transmissão do transformador.

d) Restrição de tensão – É importante que o módulo e o ângulo de fase da tensão


variem dentro de certos limites, caso contrário, alguns equipamentos conectados ao sistema não
operarão de forma satisfatória. Assim, para uma barra de geração tem-se que:

V G min ≤ V G ≤ V G max (5.12)

θ G min ≤ θ G ≤ θ G max (5.13)

Onde:

V G - Módulo da tensão nodal na barra de geração.

θ G - Ângulo de fase da barra de geração

80
Esta restrição é do tipo flexível, pois, definida uma faixa de variação, como por
exemplo, ±5% de variação para o módulo de tensão, esta pode ser modificada somente para casos
de extrema necessidade de operação do sistema.

5.3- Controle de segurança de Sistemas de Potência

O controle de Segurança de um sistema de potência é uma das atividades mais


complexas realizadas pela operação destes sistemas, pois, tem como objetivo, manter o sistema
operando, sem ocorrência de sobrecargas em equipamentos e atendendo a toda a demanda de carga
dos consumidores, sob qualquer condição de operação, isto é, atender a todas as restrições de carga
e operação conforme foram descritas anteriormente. A análise de segurança é responsável pela
realização dos estudos que abrangem a maioria dos problemas associados ao funcionamento dos
sistemas de energia elétrica. As metodologias destinadas à análise de segurança que estão
disponíveis na literatura especializada fazem suas inferências baseadas em índices que medem a
severidade dos efeitos impostos ao sistema em consequência da ocorrência de defeitos.

5.3.1- Estados de Operação de um Sistema de Potência

Para permitir uma melhor interpretação das várias condições operacionais


decorrentes das contingências, o funcionamento do sistema elétrico de potência pode ser dividido
nos seguintes estados operativos:

1. Estado Normal;
2. Estado de Alerta;
3. Estado de Emergência;
4. Estado Extremo;
5. Estado Restaurativo.

Estes estados de operação são caracterizados pelo atendimento ou não das restrições
de igualdade e das restrições de desigualdade que descrevem o funcionamento do sistema em seu
aspecto estático, ou seja, estes estados são identificados através da observação do cumprimento ou
não das equações e inequações que governam os sistemas elétricos de potência.

A ocorrência de contingências pode levar o sistema elétrico a transitar entre estes


estados, bem como a aplicação de ações corretivas que podem ser: redespacho de geração, corte de
carga, chaveamento de equipamentos elétricos, reajuste do perfil de tensão nodal.

Na Figura 5.2 estão definidos os principais estados do sistema elétrico, bem como as
transições possíveis entre eles.

81
Figura 5.2 – Estados de operação de um Sistema de Potência e suas transições.

5.3.2- Estado Normal

Este estado é caracterizado por ser a condição operativa em que os valores de todas
as variáveis do sistema estão dentro de uma faixa normal de operação e nenhum equipamento do
sistema encontra-se sobrecarregado, ou seja, o sistema está intacto, suprindo totalmente a demanda
de carga, e nenhuma violação dos limites de operação. Neste estado, existe margem de reserva de
capacidade associada à geração, transmissão, etc. suficiente para proporcionar um nível adequado
de segurança, mesmo havendo ocorrência das contingências ou perturbações como perda de
geração, variações de carga, entre outras, que frequentemente ocorrem no sistema.
5.3.3- Estado de Alerta

O sistema passará ao estado de alerta se a segurança operacional atingir seu limite


pré-definido. Neste estado, o sistema ainda estará operando com todas suas variáveis dentro de seus
limites normais e todas as restrições operativas encontram-se satisfeitas, porém, há riscos de não
serem atendidas, caso venham ocorrer contingências no sistema, o que poderá fazer o sistema passar
para o estado de emergência ou diretamente para o estado extremo dependendo naturalmente da
severidade da contingência. Este estado é considerado inseguro, portanto, a restauração do sistema
do estado de alerta para normal deverá ser realizado por meio de ações preventivas, como o
redespacho de geração ou aumento das reservas do sistema.

82
5.3.4- Estado de Emergência

O sistema passará para o estado de emergência se ocorrer um distúrbio de alta


severidade, quando estiver no estado de alerta. Este estado é caracterizado pela violação das
restrições de operação, como por exemplo, as tensões nas barras estão baixas e/ou as cargas nos
equipamentos excederam seus limites operacionais de emergência de curto prazo. O sistema ainda
está intacto e poderá ser restaurado para o estado de alerta pelo início de ações do controle de
emergência como: eliminação de falta, controle dos sistemas de excitação dos geradores, corte
seletivo de carga, entre outros. Caso as medidas não sejam aplicadas, ou não sejam suficientes para
restauração, o sistema passará para o estado restaurativo.

O objetivo da identificação do estado de emergência é avaliar se o sistema está em


processo de perda de integridade, onde nestes casos a resposta no tempo é prioritária enquanto
aspectos econômicos são temporariamente deixados em segundo plano. O controle de emergência
consiste na tomada de ações rápidas como último recurso, para evitar interrupção parcial ou total no
fornecimento de energia. Quando o controle preventivo (tentativa de mudança do estado de
emergência para o estado de alerta) não é aplicado ou não é efetivo, dispositivos de proteção local
automáticos atuarão de forma a preservar de danos irreparáveis os componentes do sistema por
operação em condições proibitivas. Este procedimento acarreta distúrbios futuros e o resultado é a
interrupção em cascata e a possibilidade de paralisações como divisão do sistema e blackout parcial
ou total.
5.3.5- Estado Extremo

O estado extremo ocorre quando as medidas adotadas para restaurar o sistema de


potência do estado de emergência para o estado de alerta não forem suficientemente bem sucedidas.
Neste caso as restrições de carga e operação são violadas, e algumas medidas extremas, como
rejeição de carga, e a separação entre áreas de geração, devem ser tomadas, com o objetivo de
garantir a integridade dos equipamentos, e manter a maior parte do sistema em operação e evitar ao
máximo o colapso total da rede de energia.

5.3.5 - Estado Restaurativo

O estado restaurativo se caracteriza pela execução das ações de controle em que são
conectados novamente os componentes que se encontram fora de serviço como unidades geradoras,
linhas de transmissão, transformadores, restabelecimento das cargas desligadas durante o estado
extremo.

O estado restaurativo é atingido quando uma emergência é eliminada por


desligamento manual ou automático de equipamentos ou de partes do sistema, efetuado pelo centro
83
de controle ou por dispositivos locais. Apesar das restrições operacionais serem atendidas, porém, o
sistema não está intacto, isto é, cargas não são atendidas, alguns equipamentos ainda estão fora de
operação. Na ocorrência de se passar do estado de emergência para o estado restaurativo, sacrifica-
se a integridade do sistema, inclusive com o desligamento de cargas, em benefício da observância
das restrições de operação e da prevenção de colapso total. Neste estado, a tarefa é minimizar a
quantidade de energia não entregue pela perda de geração, e tão logo que possível, escolher as
cargas a serem reconectadas em ordem de prioridade. O sistema transita deste estado para o estado
de alerta ou para o estado normal, dependendo das condições que o sistema apresenta naquele
momento.

5.4 - Conceito de Segurança de Sistemas de Potência.

Diante do que foi descrito no item anterior, pode-se conceituar segurança como
sendo a habilidade de um sistema de potência, em operação, de suportar perturbações, devido a
contingências, sem passar para o estado de emergência. Este conceito refere-se à operação, tanto
sob o aspecto estático quanto dinâmico. No aspecto estático, ou de pequenas oscilações, os modelos
são lineares e poderão ser solucionados a partir de várias técnicas disponíveis na literatura, como
por exemplo, álgebra matricial, método de perturbação, análise de sensibilidade, análise nodal entre
outras. Quando o caso envolve a análise do comportamento do sistema frente às grandes
perturbações como, curto-circuito, perda de geração, perda de equipamentos, etc, os modelos são
não lineares e representados por equações algébricas e diferenciais.

84
Bibliografia

[1] KUSIC, G. L – Computer-Aided Power System Analysis. Editora Prentice- Hall, 1986.

[2] ARRILAGA, J.; C. P. Arnold – Computer Modelling of Electric Power Systems. John
Wiley, 1983.
[3] GROSS, Charles A. Power System Analysis. Second Edition. New York: John Wiley &
Sons Inc., 1986.
[4] HEYDT, G. T. Computer Analysis Methods for Power Systems. New York: Macmillan
Publishing Company, 1986.
[5] MONTICELLI, Alcir & GARCIA, Ariovaldo. Introdução a Sistemas de Energia Elétrica.
Campinas: Editora da Unicamp, 2000.
[6] MONTICELLI, Alcir. Fluxo de carga em redes de energia elétrica. São Paulo: Edgard
Blücher, 1983.
[7] MOHAN. Ned; UNDELAN, Tore M.; ROBBINS, William P. Power Electronics:
converters, applications, and design. 2nd ed. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1995.
[8] RAMOS, Dorel Soares & DIAS, Eduardo Mário. Sistemas Elétricos de Potência Regime
Permanente Volume 2. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1983.

85
Anexo A
EXEMPLO DE ESTADOS DE OPERAÇÃO DOS SEE
É exemplificado o estado de operação normal, alerta, emergência, extremo e
restaurativo, através do sistema de nove barras que possui as seguintes características de operação.

Tabela 1 – Dados de Barra.


Número Tipo Pd (MW) Qd (Mvar) Shunt (Mvar) Base (kV)
1 Referência 0.00 0.00 0.00 345
2 PV 0.00 0.00 0.00 345
3 PV 0.00 0.00 0.00 345
4 PQ 0.00 0.00 0.00 345
5 PQ 90.00 30.00 0.00 345
6 PQ 0.00 0.00 0.00 345
7 PQ 100.00 35.00 0.00 345
8 PQ 120.00 40.00 0.00 345
9 PQ 80.00 25.00 0.00 345
Tabela2 – Dados de Geração.
Barra Pg Qg Qmax Qmin Base Pmax Pmin
(MW) (Mvar) (Mvar) (Mvar) (MVA) (MW) (MW)
1 0.00 0.00 300 -300 100 250 10
2 163.00 0.00 300 -300 100 250 10
3 85.00 0.00 300 -300 100 250 10
Tabela 3 – Dados de Ramos.
Da Barra Para Barra R (pu) X (pu) B (pu) Sn (MVA)
1 4 0.00 0.0576 0.00 250
4 5 0.017 0.092 0.158 250
5 6 0.039 0.17 0.358 150
3 6 0.00 0.0586 0.00 300
6 7 0.0119 0.1008 0.209 150
7 8 0.0085 0.072 0.149 250
8 2 0.032 0.161 0.00 250
8 9 0.032 0.161 0.306 250
9 4 0.01 0.085 0.176 250

Com este sistema será representado os estados de operação aplicando contingências em que
caracterize cada ponto de operação.

1. Estado Normal

Nesse estado de operação o sistema permanece operando com todas as restrições de


igualdade e desigualdade atendidas, indicando que a geração é suficiente para atender a carga total
do sistema mais as perdas de transmissão, não existindo equipamentos em sobrecarga, nenhuma
tensão fora de sua faixa de operação e nenhuma área estando com seu limite de exportação ou
importação violado. Na figura 1 e tabela 4 estão os dados que exemplificam tal operação
apresentando uma folga de operação dos equipamentos.

86
BARRA 4 BARRA 5 BARRA 6 BARRA 3
4 5 6 3
67.8 -67.0 -23.0 23.2 -85.0 85.0 85.0
G
-2.9j -8.4j -21.6j -12.7j 3.9j 0.3j 0.3
0.984 1.000 7
BARRA
61.8 -61.3 7
90.0
BARRA 1 8.8j -25.0j
1 1.001
144.2 144.2 -144.2
G
9.5 9.5j 2.5j BARRA 8
1.000 8 38.8 -38.7
0.976
-3.1j -10.0j
BARRA 9 BARRA 2
9 2
76.4 -75.8 -4.2 4.2 -163.0 163.0 163.0
G
0.4j -12.6j -12.4j -17.1j -19.7j 37.2j 37.2
0.998 0.985 0.982 1.000

80.0 120.0

Figura 1 – Diagrama Unifilar do SEP Operando sob Condições Normais.

Tabela 4 – Fluxo de Potência nas Linhas sob Condições Normais.

Da Barra Para Barra Fluxo de Potência


1 4 57.8%
2 8 66.9%
3 6 28.3%
4 5 27.2%
4 9 30.6%
5 6 21.4%
6 7 41.6%
7 8 16.4%
8 9 7.2%

2. Estado de Alerta
O sistema se torna inseguro com a redução das margens de reserva ou com o
desligamento de algum equipamento. Neste caso, todas as restrições de desigualdade ainda são
atendidas, porém, se ocorrer outro defeito o sistema poderá atingir o modo de operação de
emergência. Nesse exemplo a usina 3 esta fora de operação e houve um aumento de carga, levando
o sistema a operar próximo do seu limite.

Na figura 2 a representação unifilar permite verificar os geradores operando


próximos do limite de geração e as tensões nas barras próximo do limite inferior. Na tabela 5 o
fluxo de potência na linha 1-4 e 2-8 se apresentam no limite.

87
BARRA 4 BARRA 5 BARRA 6 BARRA 3
4 5 6 3
130.5 -127.5 7.5 -7.4 0.0 0.0
4.0j -2.4j -27.6j -5.3j 0.0j 0.0j
0.955 0.972 7
BARRA
7.4 -7.3 7
120.0
BARRA 1 5.3j -24.5j
1 0.972
240.3 240.3 -240.3
G
49.6 49.6j -14.9j BARRA 8
1.000 8 93.5 -92.7
0.956
3.5j -10.5j
BARRA 9 BARRA 2
9 2
109.8 -108.5 -11.5 11.5 -240.0 240.0 240.0
G
10.9j -16.5j -18.5j -9.6j -28.9j 67.7j 67.7
0.981 0.958 0.969 1.000

120.0 135.0

Figura 2 – Diagrama Unifilar do SEP Operando sob Condições de Alerta.

Tabela 5 – Fluxo de Potência nas Linhas sob Condições de Alerta.

Da Barra Para Barra Fluxo de Potência


1 4 98.1%
2 8 99.7%
3 6 0.00%
4 5 53.2%
4 9 45.0%
5 6 19.9%
6 7 6.3%
7 8 39.0%
8 9 6.2%

3. Estado de Emergência
Possui toda sua carga atendida, porém, com violação do limite de operação do
sistema com uma linha ou barra fora da sua faixa segura de operação. Na figura 3 pode se visualizar
as tensões nas barras 5, 7, 8 e 9, fora do limite de operação que é de ±5% da tensão base e o fluxo
de potência na linha 6-7 acima do permitido. Através da tabela 6 se observa que a linha 6-7 esta
operando a 141.3%.

88
BARRA 4 BARRA 5 BARRA 6 BARRA 3
4 5 6 3
218.1 -209.5 119.5 -112.9 -85.0 85.0 85.0
G
23.6j 8.7j -38.7j 35.9j -75.6j 84.0j 84.0
0.932 1.000 7
BARRA
197.9 -192.4 7
90.0
BARRA 1 39.7j -11.4j
1 0.952
218.2 218.2 -218.2
G
52.6 52.6j -23.6j BARRA 8
1.000 8 -91.5 92.4
0.899
19.3j -23.6j
BARRA 9 BARRA 2
0.755 9 2
-67.8
0.0 -124.9 134.4 -163.0 163.0 163.0
G
-9.9j -40.0j 66.4j -125.7j 157.9j 157.9
0.978 0.750 0.907 1.000

125.0 120.0

Figura 3 – Diagrama Unifilar do SEP Operando sob Condições de Emergência.

Tabela 6 – Fluxo de Potência nas Linhas sob Condições de Emergência.

Da Barra Para Barra Fluxo de Potência


1 4 89.8%
2 8 90.8%
3 6 39.8%
4 5 89.8%
4 9 0.00%
5 6 89.8%
6 7 141.3%
7 8 42.5%
8 9 66.1%

4. Estado Extremo

O estado extremo ocorre quando as medidas adotadas para restaurar o sistema de


potência do estado de emergência para o estado de alerta não forem suficientemente bem sucedidas.
Neste caso, representado na figura 4, houve o ajuste da potência gerada nas usinas 2 e 3 com a
finalidade de retorna o sistema para o estado de alerta, porém a violação das tensões nas barras 7, 8
e 9 permaneceram, o que leva a necessidade do corte de carga para manter o restante do sistema
integro.

89
BARRA 4 BARRA 5 BARRA 6 BARRA 3
4 5 6 3
108.5 -106.4 16.4 -16.3 -120.0 120.0 120.0
G
1.0j -5.4j -24.6j -9.2j -24.3j 33.4j 33.4
0.976 1.000 7
BARRA
136.3 -133.8 7
90.0
BARRA 1 33.5j -31.3j
1 0.983
108.5 108.5 -108.5
G
7.8 7.8j -1.0j BARRA 8
1.000 8 -33.7 33.8
0.932
-8.2j -3.7j
BARRA 9 BARRA 2
0.787 9 2
-36.6
0.0 -125.0 133.7 -220.0 220.0 220.0
G
-10.8j -39.2j 60.4j -92.2j 133.7j 133.7
0.997 0.781 0.927 1.000

125.0 120.0

Figura 4 – Diagrama Unifilar do SEP Operando sob Condições Extremas tendo Ajuste de
Geração.

O próximo passo para restabelecer o sistema levando para dentro das restrições de
igualdade e desigualdade, foi cortar a carga na barra 9 de 125 MW. Esta carga é a principal
consumidora de potência reativa e leva as tensões na barra 9 e adjacentes para abaixo do limite
inferior de operação. Com sua retirada, como mostra a figura 5, o sistema volta a operar dentro dos
limites, respeitando as restrições de igualdade e desigualdade.

BARRA 4 BARRA 5 BARRA 6 BARRA 3


4 5 6 3
130.9 -128.0 38.0 -37.3 -85.0 85.0 85.0
G
-3.7j 4.0j -34.0j 2.1j -2.5j 6.8j 6.8
0.981 1.000 7
BARRA
122.3 -120.5 7
90.0
BARRA 1 0.4j -5.6j
1 0.997
130.9 130.9 -130.9
G
6.2 6.2j 3.7j BARRA 8
1.000 8 -20.4 20.5
0.979
15.6j -29.4j
BARRA 9 BARRA 2
1.058 9 2
-24.4
0.0 -0.0 0.4 -100.0 100.0 100.0
G
-19.5j 19.5j -49.5j -6.1j 12.4j 12.4
0.999 1.050 0.994 1.000

120.0

Figura 5 – Diagrama Unifilar do SEP Operando sob Condições Extremas tendo Corte de Carga.

90
5. Estado Restaurativo
Neste estado toda ou parte da carga não esta sendo atendida, em que tal estado se
caracteriza pela execução de ações de controle que conecta novamente os componentes que se
encontram fora de serviço, como: unidades geradoras, linhas de transmissão, transformadores,
restabelecimento de cargas desligadas durante o estado extremo. Na figura 6, o processo de
restabelecimento se inicia com o religamento da linha 4-9, o que permite posteriormente o
religamento da carga.

BARRA 4 BARRA 5 BARRA 6 BARRA 3


4 5 6 3
57.8 -57.2 -32.8 33.2 -85.0 85.0 85.0
G
0.9j -13.6j -16.4j -17.5j 10.6j -6.4j -6.4
0.993 1.000 7
BARRA
51.8 -51.4 7
90.0
BARRA 1 6.9j -24.5j
1 1.005
63.7 63.7 -63.7
G
-14.8 -14.8j 17.3j BARRA 8
1.000 8 48.8 -48.6
0.983
-2.2j -10.5j
BARRA 9 BARRA 2
9 2
5.9 -5.9 5.9 -5.8 -163.0 163.0 163.0
G
-18.2j 0.2j -0.2j -30.1j -7.6j 24.6j 24.6
1.009 1.016 0.990 1.000

120.0

Figura 6 – Diagrama Unifilar do SEP Operando sob Condições Restaurativas tendo o


Religamento da Linha 4-9.

Na tabela 7 se verifica que com o religamento da linha 4-9 sem a carga de 125MW
na barra 9, o fluxo de potência nesta linha volta a operar com uma margem de folga. O próximo
passo será restabelecer a carga.

Tabela 7 – Fluxo de Potência nas Linhas sob Condições de Restauração.

Da Barra Para Barra Fluxo de Potência


1 4 26.1%
2 8 65.9%
3 6 28.4%
4 5 22.9%
4 9 7.6%
5 6 24.6%
6 7 34.6%
7 8 20.2%
8 9 12.4%

91
Segundo passo após o restabelecimento dos equipamentos do sistema, que nesse caso
foi a linha 4-9, por ordem de prioridade se tem o restabelecimento da carga na barra 9 que levará o
SEP ao estado de operação normal com todas as restrições de igualdades e desigualdades sendo
atendidas, como mostra a figura 7.
BARRA 4 BARRA 5 BARRA 6 BARRA 3
4 5 6 3
74.0 -73.1 -16.9 17.1 -85.0 85.0 85.0
G
-6.3j -3.7j -26.3j -7.7j -3.3j 7.6j 7.6
0.973 1.000 7
BARRA
67.9 -67.3 7
90.0
BARRA 1 11.1j -26.1j
1 0.997
190.4 190.4 -190.4
G
36.9 36.9j -15.2j BARRA 8
1.000 8 32.8 -32.7
0.969
-4.4j -8.9j
BARRA 9 BARRA 2
9 2
116.3 -114.8 -10.1 10.2 -163.0 163.0 163.0
G
21.5j -25.4j -24.6j -3.4j -32.3j 50.5j 50.5
0.985 0.952 0.974 1.000

125.0 120.0

Figura 7 – Diagrama Unifilar do SEP Operando sob Condições Restaurativas tendo o


Religamento da Carga na Barra 9.

Na tabela 8 se observa que o fluxo de potência permanece dentro dos limites de operação
com uma margem de folga de no mínimo 22.4%, o que caracteriza o sistema elétrico operando em
estado normal com uma margem de folga na geração.

Tabela 8 – Fluxo de Potência nas Linhas sob Condições de Restauração.

Da Barra Para Barra Fluxo de Potência


1 4 77.6%
2 8 68.3%
3 6 28.4%
4 5 30.2%
4 9 48.0%
5 6 21.4%
6 7 46.0%
7 8 14.0%
8 9 4.4%

92
ANEXO B

SUPERVISÃO E CONTROLE EM SISTEMAS ELÉTRICOS

1. Componentes de um Sistema de Supervisão

Os Centros de Operação do Sistema são constituídos por um Sistema de Supervisão e


Controle (SSC) que possibilita monitorar o Sistema Elétrico de Potência (SEP), e são constituídos
de hardware e software que se conectam ao sistema elétrico por meio de equipamentos de medição,
proteção, controle e telecomunicação, possibilitando a supervisão e o controle à distância. Essa
supervisão é possível através da aquisição de pontos de entrada (analógicos ou digitais) e o controle
de pontos de saída (comando em equipamentos do sistema elétrico).

Os SSC são também chamados de telecontrole quando sua ação de controle e


supervisão é realizada à distância, e apresentam uma estrutura típica como ilustrado na Figura 1.

CENTRO DE SISTEMA DE
SUPERVISÃO E ALIMENTAÇÃO (UPS)
CONTROLE

BANCO DE BATERIAS
DE
MODEM TELECOMUNICAÇÃO

BANCO DE BATERIAS
MEIOS DE DA SUBESTAÇÃO E
COMUNICAÇÃO REMOTA
Linhas físicas
Microodas
Carrier (OPLAT)
Fibra Óptica
Satélite

MODEM PROCESSO
ELÉTRICO
Disjuntores
RELÉS Transformadores
UNIDADE DE AUX. Proteção
AQUISIÇÃO DE Chaves seccionadoras
DADOS E
COMANADOS TRANSDUTOR

Figura 1 – Processo de Supervisão e Controle.

A figura 1 apresenta o processo de supervisão e controle à distância no qual percebe-


se quatro estruturas básicas distintas:

• Centro de Supervisão e Controle: este centro é constituído por ambientes de


hardware e software nos quais são armazenados os aplicativos, tais como:

93
estimação de estado, análise de contingências, controle automático de geração e
outros.

• Unidade de Aquisição de Dados e Comando (UAC): esta unidade é formada por


equipamentos responsáveis por realizar a interface adequada com o processo de
modo a obter dados e efetuar comandos. A interface é feita por meio de
transdutores e relés auxiliares.

• Sistema de Telecomunicação: responsável por estabelecer a comunicação entre


os equipamentos de aquisição de dados e o SSC. Os meios de comunicação
utilizados são os mais diversos, tais como: fibra óptica, microondas, ondas
portadoras por linhas de alta tensão, satélites e etc.

• Sistema de Alimentação Ininterruptiva: tem a responsabilidade de suprir a


energia caso ocorra falha na alimentação através da rede elétrica. Esse sistema
deve ter autonomia suficiente para alimentar as cargas críticas quando da
ocorrência de perturbações no sistema elétrico.

2- Sistema de Supervisão e Controle (SSC)

O SSC é um conjunto de funções hierarquizadas e interligadas, que permitem com


que os dados do sistema elétrico de potência possam ser visualizados e tratados pelas equipes de
operação.

Permitem que sejam monitoradas e rastreadas as informações de geração,


transmissão ou distribuição. Essas informações são coletadas através de equipamentos de aquisição
de dados, manipulados, analisados e apresentados ao usuário. Estes sistemas são chamados de
SCADA (Supervisory Control And Data Acquisition).

2.1 - SCADA

O termo SCADA se refere a sistemas de supervisão, controle e aquisição de dados


compostos por um ou mais computadores monitorando e controlando um processo.

Hoje em dia os sistemas de automação apresentam uma tecnologia computacional e


de comunicação bem mais acessível, com automatização da monitoração e controle dos processos,
com a coleta de dados em ambientes complexos dispersos geograficamente e disponibilizando estes
dados em redes corporativas das empresas e de uma maneira amigável ao operador.

Os SCADA também monitoram sinais de alarmes de processo permitindo o aviso ao


operador de quando uma variável ultrapassa uma condição estabelecida, sendo estes eventos
94
gravados em um banco de dados específico, permitindo ao operador verificar os mesmos a qualquer
tempo.

2.1.1 Componentes Físicos do Sistema SCADA

A parte física de um sistema de supervisão pode ser dividida basicamente em:


atuadores, sensores, rede de comunicação, UTR de aquisição/controle e computadores para
monitoração central. A figura 2 mostra de forma abrangente a estrutura física do sistema SCADA.

Figura 2 – Estrutura do Sistema de Supervisão e Controle.

Os sensores são transdutores ligados aos equipamentos monitorados pelo sistema


SCADA, que tem a função de converter grandezas físicas como tensão, corrente, vazão em sinais
padrões analógicos ou digitais que serão lidos pelas UTR’s.

Os atuadores são dispositivos que atuam sobre o processo a ser controlado, ligando
ou desligando equipamentos, tais como disjuntores, chaves seccionadoras e geradores.

O controle e monitoramento do processo começa nas UTR’s ou nos blocos de


entrada/saída dos CLP’s com a aquisição dos dados das variáveis dos respectivos sensores.

O Controlador Lógico Programável (CLP ou PLC) é um equipamento de controle


industrial microprocessado, criado inicialmente para efetuar especificamente o controle lógico de
variáveis discretas, e atualmente usado para praticamente todos os tipos de controle. A Rede de
Comunicação é o meio por onde fluem as informações entre os CLP/UTR e o sistema SCADA.
Considerando-se os requisitos dos sistemas e as distâncias envolvidas, podem ser implementadas
por meio de fibras ópticas, linhas dedicadas ou discadas, ethernet, sinal de rádio e outros.

As estações de interface com o operador são as principais unidades do sistema


SCADA, sendo responsáveis por receber as informações vindas dos CLP/UTR e interagir com os
processos conforme os eventos detectados. Estes dados podem estar disponíveis em um único
computador ou em uma rede de computadores, permitindo que as informações adquiridas sejam
compartilhadas.
95
2.1.2 - Software de Supervisão

O software de supervisão se encontra no Centro de Operação e disponibiliza os dados


adquiridos em telas para os usuários. O software possui duas funções principais que são obter
periodicamente dados da UTR e controlar dispositivos remotos.

Figura 3 – Sistema de Supervisão e Controle da Eletrobrás Eletronorte (cortesia Eletronorte).

O propósito do software de supervisão é facilitar a IHM, permitindo ao usuário


verificar e efetuar comandos de operação e supervisão disponibilizados em telas configuradas, estas
representando o processo através de um computador. Na figura 3 pode-se verificar a tela de
supervisão da Eletrobrás Eletronorte (SE Boa Vista) com equipamentos e dados obtidos pelas
UTR’s.

O software de supervisão é estruturado em uma série de telas e janelas compostas de


objetos que representam os diferentes equipamentos do processo que estão classificados de acordo
com o tipo de informação apresentada.

Atualmente existem diversos software comerciais que podem ser utilizados na


construção de um software de supervisão entre os quais se pode destacar:

• LabView da National Instruments;

• InTouch da Wonderware;
96
• Elipse SCADA da Elipse;

O sistema de supervisão apresentado pode ser dividido em: processo físico, hardware
de controle, rede de comunicação e software de supervisão. Este deve apresentar telas que permitam
ao operador monitorar o processo e realizar ações adequadas baseadas nos dados mostrados.

2.2 - Sistema EMS/SCADA

A análise de segurança em sistemas de potência é formada por um conjunto de ações


e procedimentos executado pelo centro de operação. O primeiro procedimento a ser realizado é a
aquisição das grandezas elétricas do sistema, desempenhada pelo SCADA que tem a finalidade de
receber a medição de campo realizadas pelas UTR. O SCADA faz a interface entre as medições e a
rede de comunicação interligada aos centros de operação.

Para as medidas adquiridas no campo, ao chegarem no SSC é realizada a análise de


segurança do sistema através de ferramentas computacionais que formam o sistema EMS (Energy
Management System). A figura 4 apresenta a configuração do sistema.

O sistema EMS se encontra equipado com funções de gerenciamento de energia que


auxiliam os operadores na tomada de decisões, garantindo uma operação segura do sistema e o
atendimento da carga.

EMS Centro de Controle

Rede de Comunicação

SCADA

RT RT RT RT RT
U U U U U

Dispositivos
Figura 4.4 Monitorados no Sistema
– Configuração Subestação
do Sistema EMS/SCADA.

Figura 4- Integração entre o SCADA e o EMS

As funções de gerenciamento de energia podem ser classificadas em dois grupos: um


primeiro grupo responsável pelo tratamento das informações obtidas pelo sistema SCADA e o
segundo com funções de análise de redes.

O primeiro grupo é composto por duas ferramentas responsáveis por informar a


situação atual do sistema elétrico através de informações obtidas em tempo real:

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• Configurador de Rede: determina a configuração atual da rede elétrica a partir
das informações obtidas em tempo real sobre a condição de aberto/fechado de
chaves e disjuntores.

• Estimador de Estado: calcula o estado da rede (módulo e ângulo de tensão nos


barramentos) a partir de dados de medição (fluxo de potência, módulo de
tensão, corrente e etc) coletados do SEP.

O segundo grupo possui funções de análise de rede que apresenta um subgrupo maior
de ferramentas computacionais, onde são apresentadas as principais funções de análise de rede
quem compõem o sistema EMS:

• Fluxo de Potência Ótimo: otimiza o ponto de operação do sistema elétrico com


base em critérios pré-definidos, como o mínimo corte de carga ou de despacho
econômico da geração;

• Análise de Contingências: simula uma lista pré-definida de contingências do


sistema. O impacto de cada contingência no sistema é avaliado de forma a
determinar se o estado atual atende às restrições de segurança;

• Controle de Emergência: tem por objetivo normalizar o sistema eliminando as


violações de limites pré-estabelecidos;

• Estabilidade de Tensão: avalia a estabilidade de tensão do sistema frente a


aumentos sucessivos de carga, estabelecendo os limites máximos de
transferência de potência e o ponto de instabilidade de tensão do sistema.

Estas ferramentas equipam o sistema EMS/SCADA, o tornando seguro e confiável


no auxílio ao operador nas tomadas de decisões do SEP.

Evolução da Arquitetura dos EMS/SCADA

Os sistemas EMS/SCADA atualmente em operação apresentam uma arquitetura que


combinam ambas as configurações presente na figura 5, tendendo a migrar para a situação da figura
5(b). Pode-se verificar, a princípio, os sistemas EMS/SCADA completamente desconectados dos
demais sistemas corporativos e utilizando tecnologias proprietárias de conhecimento restrito. Estas
características tornavam o sistema praticamente imune a ataques externos no sistema digital de
supervisão e controle (figura 5(a)).

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Figura 5 – Arquitetura de Sistemas EMS/SCADA.

O ponto marcante nesta evolução está relacionado com a utilização predominante do


protocolo TCP/IP em todo tipo de comunicação na arquitetura da figura 5 (b), em substituição a
comunicação via protocolos proprietários especificamente projetados para a comunicação entre o
SCADA e os equipamentos ou sistemas remotos. Em decorrência ao estabelecimento do TCP/IP
como protocolo padrão para comunicação através da rede de computadores em que simplifica e
viabiliza a comunicação do centro de controle, vem acontecendo uma maior exposição a risco de
acessos não autorizados ao sistema.

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