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Análise de Sistemas de Energia Elétrica I

Análise de Redes

Versão 1.1

Jorge L. Jardim

2016
Modelos

Conteúdo

1 Modelos ........................................................................ 5
1.1 Modelo de Ramo ........................................................... 6
1.1.1 Linha de transmissão .................................................... 6
1.1.2 Transformadores ........................................................... 7
1.1.3 Transformador em Fase ................................................ 8
1.1.4 Transformador Defasador ........................................... 10
1.2 Fluxos de Potência Ativa e Reativa ............................. 11
1.2.1 Linha de Transmissão ................................................. 11
1.2.2 Transformador em Fase .............................................. 12
1.2.3 Phase-Shifting Transformer with akm=1 ....................... 12
1.2.4 Modelo Geral para um Componente de Rede ............. 13
1.3 Transformadores de 3 Enrolamentos .......................... 13
1.4 Acoplamento Mútuo em Linhas de Transmissão ......... 14
1.5 Representação de Carga ............................................ 15
1.6 Representação de Geradores ..................................... 16
1.7 Leitura Adicional .......................................................... 16

2 Matrizes de Rede ....................................................... 17


2.1 Matriz de Admitância de Barra .................................... 17
2.3 Matriz de Impedância de Barra ................................... 19
2.4 Matrizes de Laço ......................................................... 20

3 Solução de Equações Lineares ................................ 22


3.1 Eliminação de Gauss .................................................. 23
3.2 Transformação LU ....................................................... 24
3.3 Métodos de fatoração LU ............................................ 25

4 Esparsidade ............................................................... 27
4.1 Princípios dos Grafos .................................................. 27
4.2 Ordenação................................................................... 30
4.3 Armazenamento de Matrizes Esparsas ....................... 31
4.3.1 Esquema de Coordenadas .......................................... 32
4.3.2 Esquema de Lista Adjunta........................................... 32
4.3.3 Esquema de Lista Encadeada..................................... 33

5 Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito


.................................................................................... 35
5.1 Conceitos Teóricos (Revisão) ..................................... 35
5.1.1 Princípio da Superposição dos Nós ............................ 35
5.1.2 Teorema de Thévenin ................................................. 38
5.1.3 Teorema de Norton ..................................................... 41
5.2 Componentes Simétricas ............................................ 42
5.2.1 Teorema Aplicado a Sistemas Trifásicos .................... 43
5.3 Modelos de Equipamentos em Sequência de Fase .... 46

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Modelos

5.3.1 Geradores ................................................................... 47


5.3.2 Linhas de Transmissão ............................................... 48
5.3.3 Transformadores ......................................................... 50
5.3.4 Cargas ......................................................................... 51
5.4 Cálculo de Curto-Circuito ............................................ 52
5.4.1 Métodos para Cálculo de Faltas Simples .................... 52
5.4.2 Métodos Computacionais Gerais ................................ 57
5.4.3 Circuito de Falta em Sequência .................................. 58

6 Fluxo de Potência ...................................................... 64


6.1 Formulação do Problema ............................................ 65
6.1.1 Tipos de Barras ........................................................... 66
6.2 Métodos de Solução .................................................... 67
6.2.1 Método de Gauss-Seidel ............................................. 67
6.2.2 Método de Newton-Raphson ....................................... 68
6.2.3 Método de Newton Aplicado às Equações de Sistemas de
Potência ................................................................................... 69
6.3 Controles Adicionais .................................................... 72
6.3.1 Controle de Tensão por Tap........................................ 72
6.3.2 Controle de Fluxo (MW) com Transformador Defasador72
6.3.3 Outros Controles ......................................................... 73
6.3.4 Limites em Controles ................................................... 73
6.4 Fluxo de Potência Desacoplado .................................. 74
6.5 Método Desaclopado Rápido ...................................... 76
6.6 Método de Fluxo de Potência CC ................................ 77

7 Elos CC....................................................................... 79
7.1 Modos de Solução das Equações de Elos CC ............ 83

8 Elos CC-VSC .............................................................. 84


8.1 Modelo de Elo CC do Tipo VSC .................................. 85
8.1.1 Controles ..................................................................... 86
8.1.2 Perdas ......................................................................... 87
8.1.3 Limites de Controle ..................................................... 87
8.1.4 Rede de Transmissão CC ........................................... 88
8.3 Método de Cálculo do Fluxo de Potência .................... 89
8.3.1 Base de Tensão .......................................................... 93
8.4 Aspectos de Implantação ............................................ 94
8.4.1 Fluxogramas................................................................ 94

9 Análise de Sensibilidade .......................................... 95

10 Fluxo de Potência Continuado ................................. 96


10.1 Método do Vetor Tangente .......................................... 96
10.2 Passo Previsor ............................................................ 97
10.3 Passo Corretor ............................................................ 98

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Modelos

11 Equivalentes de Rede ............................................... 99


11.1 Método Ward ............................................................. 100
11.2 Ward PV .................................................................... 102
11.3 Zona de Acomodação ............................................... 102

12 Avaliação de Segurança Estática .......................... 103


12.1 Estados Operativos ................................................... 103
12.2 Critérios de Segurança .............................................. 103
12.3 Ações Operativas ...................................................... 105
12.4 Análise de Contingências .......................................... 106
12.5 Ferramentas Avançadas para Avaliação de Segurança Online
.................................................................................. 107
12.5.1 Fluxo de Potência Ótimo ........................................... 107
12.5.2 Regiões de Segurança .............................................. 108

13 Bibiografia................................................................ 113

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Modelos

1 Modelos
O modelo adequado para um estudo depende evidentemente do tipo de estudo. Grosso modo,
podemos classificar os estudos de análise de sistemas, conforme a seguinte tabela.

Tipo Estático Dinâmico Função da Multi-Fase


Frequência (Desequilíbrio)
Transitórios Eletromagnéticos X X X
Harmônicos X X
Estabilidade transitória e dinâmica X Em geral não1
Curto-Circuito X X
Fluxo de Potência X
1 – alguns estudos consideram variações de frequência em torno da nominal.

Em Análise I veremos estudos de curto-circuito e fluxo de potência. Análise II cobre estabilidade


transitória e dinâmica. Transitórios eletromagnéticos e harmônicos são tipicamente abordados em
curso específico.

Para Análise I, a rede elétrica é representada de forma estática (equações algébricas) e a frequência
fundamental. Os componentes que exercem algum controle tais como transformadores com tap
controlado, geradores, compensadores estáticos, etc. são representados de forma simplificada e
também por equações algébricas.

A representação da rede para estudos de estabilidade transitória e dinâmica é muito próxima, e em


alguns casos idêntica a utilizada na análise estática. A principais diferenças estão nos modelos dos
equipamentos de controle (geradores, transformadores controláveis, etc.) que passam a ser
modelados por equações diferenciais e algébricas com um nível de detalhe muito maior.

Estudos de transitórios eletromagnéticos, harmônicos e curto-circuito são tipicamente realizados


em ambiente de projeto da rede e procuram dimensionar os equipamentos e os sistemas de proteção
para os limites de estresse aos quais estarão sujeitos e às normas estabelecidas pelos órgãos
reguladores. Todavia, há algumas exceções. Por exemplo, em alguns países, se faz análise de
curto-circuito em ambiente de operação tempo real para verificar se há risco de superação de
capacidade de disjuntores. Mas estes casos são raros.

Os estudos de fluxo de potência (e suas variantes) e estabilidade transitória e dinâmica são


realizados para o planejamento e evolutivo (expansão) da rede e também de forma rotineira para o
planejamento da operação em múltiplos horizontes de tempo.

Outros estudos, tais como os de otimização econômica e confiabilidade, são baseados


tradicionalmente e modelos estáticos da rede.

Este curso trata da modelagem e principais métodos numéricos para solução de problemas de fluxo
de potência e curto-circuito.

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Modelos

1.1 Modelo de Ramo


Os modelos aqui considerados assumem que não há variação das impedâncias com a frequência, ou
seja, são válidos somente para a frequência nominal, e que a simetria entre as três fases, o que
permite a representação unifilar (sequência positiva) da rede.

1.1.1 Linha de transmissão

k m

Figura 1-1 – Modelo equivalente  de uma linha de transmissão.

O modelo equivalente  de uma linha de transmissão mostrada na Figura 1-1 é definido por
sh sh
parâmetros complexos: impedância série z km ; e admitâncias shunt y km e y mk . Estes parâmetros são
definidos como:
z km  rkm  jxkm (1.1)
1
y km  z km  g km  jbkm (1.2)
Onde a condutância série gkm e susceptância série bkm são:
rkm
g km  (1.3)
r  x km
2
km
2

x km
bkm  (1.4)
r  x km
2
km
2

Em geral, a admitância shunt é expressa por:


sh
y km  g km
sh
 jbkm
sh
(1.5)
Para linha rkm e xkm têm valores positivos. Isto significa que gkm é positive e bkm negativa
sh sh
(susceptância indutiva); a susceptância shunt bkm e a condutância shunt g km são ambas positivas em
linhas reais.
As correntes complexas Ikm e Imk (Figura 1-1) podem ser expressas como funções das tensões
complexas nas barras terminais da linha (ramo) k e m:
I km  y km E k  E m   y km
sh
Ek (1.6)

I mk  y km E m  E k   y mk
sh
Em (1.7)
Onde as tensões complexas são dadas por:
Ek  Vk e j k (1.8)

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Modelos

Em  Vme j m (1.9)

1.1.2 Transformadores
A Figura 1-2 mostra um modelo equivalente de um transformador formado por um transformador
ideal no lado primário com relação de espiras (tap) tkm e impedância série zkm que representa as
perdas resistivas e reatância de dispersão. Dados de rede são normalmente formatados como em
(b), e embora as duas representações sejam equivalentes, (a) leva a expressões de fluxo de potência
mais simples, e consequentemente é adotada na sequência deste curso. A conversão dos dados para
este formato é trivialmente feita por (relação de transformação) akm  1 / t km .

p
k m
(a)

p
k m
(b)
Figura 1-2 – Modelo de transformador com relação de transformação
t km  akm e j km (t km  akm
1  j km
e )

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Modelos

1.1.3 Transformador em Fase


A Figura 1-3 mostra um modelo de transformador em fase indicando a tensão no ponto p
intermediário. Neste modelo, a magnitude da relação de transformação de tensão ideal é
Vp
 a km (1.10)
Vk

p
k m

Figura 1-3 – Modelo de transformador em fase


Como  k   p , esta também é a relação entre as tensões complexas nos nós k e p,
j p
Ep Vpe
  a km (1.11)
Ek V k e j k
Não há perda de potência (ativa nem reativa) no transformador ideal (a parte k-p do modelo do
transformador). Isto leva a
*
E k I km  E p I mk
*
0 (1.12)

I km I km
  a km (1.13)
I mk I mk
i.e., as correntes Ikm e Imk estão defasadas de 180o.
A Figura 1-4 representa o modelo  equivalente para o transformador em fase na Figura 1-3.

k m

Figura 1-4 – Modelo equivalente  para um transformador em fase.


Os parâmetros A, B e C deste modelo podem ser obtidos identificando-se os coeficientes das
expressões para as correntes complexas Ikm e Imk associadas com os modelos das Figura 1-3 e Figura
1-4. Da Figura 1-3 resulta
I km  a km y km ( E m  E p )  (a km
2
y km ) E k  (a km y km ) E m (1.14)

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Modelos

I mk  y km ( Em  E p )  (akm y km ) Ek  ( y km ) Em (1.15)

E a Figura 1-4 estabelece que:


I km  ( A  B) Ek  ( A) Em (1.16)

I mk  ( A) Ek  ( A  C ) Em (1.17)
Identificando os coeficientes Ek e Em das expressões (1.14-1.17) resulta
A  akm ykm
B  akm (akm  1) ykm
C  (1  akm ) ykm

I km 𝑎𝑘𝑚 𝑦𝑘𝑚 I mk

m
k
𝑎𝑘𝑚 (𝑎𝑘𝑚 − 1)𝑦𝑘𝑚 (1 − 𝑎𝑘𝑚 )𝑦𝑘𝑚

Figura 1-5 - Modelo  para um transformador em fase.

Observações:
• Transformadores em fase podem ter tap fixo ou variável. Neste caso, a variação do tampo
pode ser manual ou automática. No caso de serem manual, o tap pode ser alterado pelos
operadores a fim de seguirem uma instrução operativa. No caso de serem automáticos, o
controle pode ser exercido com o objetivo de controlar a tensão em uma barra (situação mais
comum) ou o fluxo de potência reativa através do transformador (menos comum).
• Os taps podem variar dentro de limites e em geral em pequenos degraus discretos. Por exemplo,
um transformador pode ter o tap variando de 0.9 p.u./p.u. a 1.1 p.u./p.u., e em 33 degraus
incrementais de aproximadamente 0.0061 p.u./p.u. Como estes degraus são pequenos, muitas
vezes se considera o controle como sendo contínuo, sem que se tenham perdas significativas de
precisão.
• A impedância do transformador, mais precisamente 𝑧𝑘𝑚 , varia com o tap, mas pouco.
Muitos estudos não consideram esta variação. Quando consideram, utilizam uma tabela de
correção fornecido pelo fabricante do equipamento.
• A resistência em geral é pequena e muitas vezes desprezada em estudos de regime.

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Modelos

1.1.4 Transformador Defasador


Transformadores defasadores, tais como o representado na Figura 1-6, são usados para controlar o
fluxo de potência ativa. A variável de controle é o ângulo de fase e a variável controlada em geral
é o fluxo de potência ativa no ramo do próprio transformador.

p
k m

Figura 1-6 – Transformador defasador com t  a km e j km .

Um transformador defasador afeta a fase e a magnitude das tensões complexas Ek e Ep, via a
seguinte relação,
Ep
 t km  a km e j km (1.18)
Ek
Assim,  p   k   km e Vp=akmVk, , o que leva, usando Eq. (1.13) e (1.18), a

I km
 t km
*
 a km e  j km (1.19)
I mk
Assim como no transformador em fase, as correntes complexas Ikm e Imk podem ser expressas em
termos das tensões complexas nos terminais do transformador:
I km  t km
*
y km ( E m  E p )  ( y km ) E k  (t km
*
y km ) E m (1.20)

I mk  y km ( E m  E p )  (t km y km ) E k  ( y km ) E m (1.21)

Não há como se determinar os parâmetros A, B e C para o modelo equivalente  para estas equações,
já que o coeficiente  t km
*
y km de Em na equação de Ikm, difere do coeficiente  t km y km de Ek na
equação de Imk, contanto que a defasagem não seja nula. Isto pode ser inconveniente para alguns
cálculos com o modelo.

Observações:
Assim como os transformadores em fase, os defasadores podem ter defasagem fixa ou variável.
Neste caso, a defasagem pode ser manual ou automática. As automáticas são em geral
implementadas para controle do fluxo de potência ativa através do transformador. Outras filosofias
de controle podem ser adotadas, mas são menos comuns.
Também o controle automático nem sempre é possível, o que deve ser considerado no projeto de
alguns algoritmos de análise de sistemas de potência.

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Modelos

A defasagem também varia em degraus incrementais dentro de limites (ex., + 30 graus).


A impedância de transformadores defasadores, em geral, varia muito com a defasagem. Em alguns
casos, tal variação pode chegar a 100%. Portanto, os algoritmos que modelam variação automática
de defasagem devem ajustar a impedância dos transformadores em função da defasagem. O ajuste
é feito com base em uma tabela, fornecida pelo fabricante do equipamento.

1.2 Fluxos de Potência Ativa e Reativa

1.2.1 Linha de Transmissão

Considere a corrente complexa Ikm na linha de transmissão (2.6) e considere ykm  jbkm . Então,
sh sh

I km  y km Ek  Em   jbkm
sh
Ek (1.22)
*
O conjugado do fluxo de potência complex ( S km  Pkm  jQkm ) é
*
S km  
 Ek* I km  y kmVk e  j k Vk e j k  Vm e j m  jbkm
sh 2
Vk (1.23)
As expressões para Pkm e Qkm podem ser determinadas identificando-se os coeficientes
correspondentes as partes real e imaginária (1.23). Isto resulta em
Pkm  Vk2 g km  Vk Vm g km cos km  Vk Vm bkm sin  km (1.24)

Qkm  Vk2 (bkm  bkm


sh
)  Vk Vm bkm cos km  Vk Vm g km sin  km (1.25)
Os fluxos de potência ativa e reativa na direção oposta, Pmk e Qmk, podem ser obtidos da mesma
maneira, resultando em:
Pmk  Vm2 g km  VkVm g km cos  km  VkVmbkm sin  km (1.26)

Qmk  Vm2 (bkm  bkm


sh
)  VkVm bkm cos km  VkVm g km sin  km (1.27)
O consumo de potência ativa e reativa na linha são dadas por:

Pkm  Pmk  g km (Vk2  Vm2  2VkVm cos km )  g km Ek  Em


2
(1.28)

Qkm  Qmk  bkm


sh
(Vk2  Vm2 )  bkm (Vk2  Vm2  2VkVm cos km )
2
(1.29)
 bkm
sh
(Vk2  Vm2 )  bkm Ek  Em
Note que |Ek-Em| representa a magnitude da queda de tensão através da linha, gkm|Ek-Em|2 representa
as perdas de potência ativa, -bkm|Ek-Em|2 representa as perdas de potência reatvia; e
 bkm
sh
(Vk2  Vm2 ) representa a potência gerada pelo elemento shunt do modelo (assumindo-se que
sh
se trata de uma seção de linha verdadeira, isto é, com bkm<0 e bkm  0 ).

Observação:
Um exame da Eq. (1.29) mostra que quando não há circulação de potência, isto é 𝜃𝑘𝑚 = 0, e
𝑠ℎ
considerando as tensões próximas a um, as perdas reativas são dadas aproximadamente por −𝑏𝑘𝑚
𝑠ℎ
(note que 𝑏𝑘𝑚 é positiva, ou seja, as perdas são negativas, ou, em outras palavras, a linha de
transmissão gera potência reativa. A medida que a corrente aumenta em um dos sentidos, o termo
𝑏𝑘𝑚 (𝑉𝑘2 + 𝑉𝑚2 − 𝑉𝑘 𝑉𝑚 cos 𝜃𝑘𝑚 ) contribui com o aumento de perda reativa (note que 𝑏𝑘𝑚 é

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Modelos

negativo). Quando os dois termos se igualam, se diz que a linha está transmitindo a sua potência
natural. Aumentos adicionais de potência fazem com que a linha de transmissão passe a consumir
potência reativa e consequente redução de tensão nos seus terminais. Para manter o nível de tensão
do sistema em níveis adequados pode ser necessário o suprimento de potência reativa por outras
fontes (geradores, bancos de capacitores, etc.).

1.2.2 Transformador em Fase


A corrente complexa 𝐼𝑘𝑚 em um transformador em fase é expressa como Eq. (1.14)
I km  km y km (akm Ek  Em ) (1.30)
*
O fluxo de potência complexo conjugado ( S km  Pkm  jQkm ) é dado por
*
S km 
 Ek* I km  y km a kmVk e  j k a kmVk e j k  Vm e j m  (1.31)
Separando a parte real e imaginária desta expressão resulta nas seguintes equações de fluxo de
potência ativa e reativa.
Pkm  (akmVk ) 2 g km  akmVk Vm g km cos km  akmVk Vm bkm sin  km (1.32)

Qkm  (a kmVk ) 2 bkm  a kmVk Vm bkm cos km  a kmVk Vm g km sin  km (1.33)
Estas mesmas expressões podem ser obtidas comparando-se as Eqs (1.31) e (1.23); na Eq. (1.31) o
sh 2
termo jbkm Vk não está presente, e Vk é substituído por akmVk. Assim, a expressão para os fluxos de
potência ativa e reativa do transformador em fase são as mesmas derivadas para a linha de
sh
transmissão, exceto por duas modificações: bkm é ignorado, e Vk substituído por akmVk.
Os fluxos de potência na direção oposta, Pmk e Qmk, podem ser obtidos da mesma forma, resultando
em:
Pmk  Vk2 g km  a kmVk Vm g km cos  km  akmVk Vm bkm sin  km (1.34)

Qmk  Vk2 bkm  a kmVk Vm bkm cos  km  a kmVk Vm g km sin  km (1.35)

1.2.3 Phase-Shifting Transformer with akm=1


A corrente complexa 𝐼𝑘𝑚 em um transformador defasador com 𝑎𝑘𝑚 = 1 é a seguinte, Eqs. (1.19) e
(1.20):
I km  y km ( Ek  e  j km Em )  y km e  j km ( Ek e j km  Em ) (1.36)
O fluxo de potência complex conjugado é dado então por
*
S km  Ek* I km  y kmVk e  j ( k  km ) (Vk e j ( k  km )  Vm e j m ) (1.37)
Separando as partes reais e imaginárias destas expressões, resulta nas expressões de potência ativa
e reativa, Pkm e Qkm, respectivamente:
Pkm  Vk2 g km  Vk Vm g km cos( km   km )  VkVm bkm sin(  km   km ) (1.38)

Qkm  Vk2 bkm  Vk Vm bkm cos( km   km )  VkVm g km sin(  km   km ) (1.39)


Assim, como nas linhas de transmissão, estas expressões podem ser obtidas por inspeção
Vk não está presente, e k é
sh 2
comparando-se as Eqs. (1.37) e (1.23): na Eq. (1.37), o termo jbkm
substituído por k+km . Assim, as expressões de fluxo de potência ativa e reativa nos

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Modelos

transformadores defasadores são as mesmas derivadas pra a linha de transmissão, exceto por duas
sh
modificações: ignora-se bkm e substitui-se k com k+km.
Os fluxo de potência ativa e reativa em sentido posto, Pmk e Qmk, podem ser obtidos da mesma
forma, resultando em:
Pmk  Vk2 g km  Vk Vm g km cos( km   km )  Vk Vm bkm sin(  km   km ) (1.40)

Qmk  Vk2 bkm  Vk Vm bkm cos( km   km )  Vk Vm g km sin(  km   km ) (1.41)

1.2.4 Modelo Geral para um Componente de Rede


Combinando as Eqs. (1.24), (1.25), (1.26), (1.27), (1.32), (1.33), (1.34), (1.35), (1.38), (1.39), (1.40)
e (1.41), as expressões gerais para o fluxos de potência de um ramo podem ser escritas como
Pkm  akm
2
Vk2 g km  akmVkVm ( g km cos( km   km )  bkm sin(  km   km )) (1.42)

Qkm  akm
2
Vk2 (bkm  bkm
sh
)  akmVk Vm (bkm cos( km   km )  g km sin(  km   km )) (1.43)

Pmk  Vk2 g km  a kmVk Vm ( g km cos( km   km )  bkm sin(  km   km )) (1.44)

Qmk  Vk2 (bkm  bkm


sh
)  a kmVk Vm (bkm cos( km   km )  g km sin(  km   km )) (1.45)

Para linhas de transmissão akm = 1 e  = 0. Para transformadores em fase  = 0 e bkm


sh
= 0. Para
sh
transformadores defasadores bkm = 0.

1.3 Transformadores de 3 Enrolamentos


Transformadores de três enrolamentos são usados para acoplamento de três níveis de tensão
diferentes. Os fabricantes normalmente especificam as impedâncias de dispersão entre
enrolamentos, dois-a-dois, com o remanescente em aberto. Para representar este tipo de
transformador, se utiliza um equivalente estrela. Considerando o transformador da Error!
Reference source not found., tem-se que
𝑧𝑘 + 𝑧𝑚 = 𝑧𝑘𝑚 (1.46)
𝑧𝑚 + 𝑧𝑗 = 𝑧𝑚𝑗 (1.47)
𝑧𝑗 + 𝑧𝑘 = 𝑧𝑗𝑘 (1.48)
Onde 𝑧𝑘𝑚 , 𝑧𝑗𝑘 e 𝑧𝑚𝑗 são as impedâncias fornecidas pelos fabricantes. Então, tem-se que
1
𝑧𝑘 = 2 (𝑧𝑘𝑚 + 𝑧𝑗𝑘 − 𝑧𝑘𝑗 ) (1.49)
1
𝑧𝑚 = 2 (𝑧𝑘𝑚 + 𝑧𝑘𝑗 − 𝑧𝑗𝑘 ) (1.50)
1
𝑧𝑗 = 2 (𝑧𝑗𝑘 + 𝑧𝑘𝑗 − 𝑧𝑘𝑚 ) (1.51)
Desta forma, criando-se uma barra fictícia, ‘o’, representa-se o transformador de três enrolamentos
como 3 transformadores de dois enrolamentos.

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Modelos

j
𝑧𝑗
𝑧𝑘
k o

𝑧𝑚
m

Figura 1-7– Modelo equivalente de um transformador de 3 enrolamentos.

Para representação de tap no enrolamento j, por exemplo, pode-se seguir o esquema da Figura 1-8.

j
1:a 𝑧𝑗
𝑧𝑘
k o
p
𝑧𝑚
m

Figura 1-8 – Modelo equivalente de um transformador de 3 enrolamentos.

1.4 Acoplamento Mútuo em Linhas de Transmissão


Acoplamento mútuo entre linhas de transmissão ocorre quando estas dividem a mesma faixa de
passagem. Como será visto na análise de curto-circuito, o efeito de tais acoplamentos não é
desprezível.
Se, por exemplo, há em uma rede de sequência positiva 2 linhas mutuamente acopladas, conforme
Figura 2.8, da teoria de circuitos temos que:
𝑉𝑘 − 𝑉𝑚 𝑧𝑘𝑚 𝑧𝑘𝑚𝑗𝑙 𝐼𝑘𝑚
[ 𝑉 − 𝑉 ] = [𝑧 𝑧𝑗𝑙 ] [ 𝐼𝑗𝑙 ] (1.52)
𝑗 𝑙 𝑘𝑚𝑗𝑙

Onde 𝑧𝑘𝑚 é a impedância própria da linha km, 𝑧𝑗𝑙 é a impedância própria da linha jl, e 𝑧𝑘𝑚𝑗𝑙 é a
impedância mútua entre as duas linhas. Note que a alteração simultânea do sentido da corrente e o
da diferença de tensão não altera a matriz de impedâncias, denominada normalmente de matriz de
impedâncias primitivas. As correntes podem então ser determinadas por
𝐼𝑘𝑚 𝑧𝑘𝑚 𝑧𝑘𝑚𝑗𝑙 −1 𝑉𝑘 − 𝑉𝑚
[ 𝐼 ] = [𝑧 𝑧𝑗𝑙 ] [ 𝑉𝑗 − 𝑉𝑙 ] (1.53)
𝑗𝑙 𝑘𝑚𝑗𝑙

Ou
𝐼𝑘𝑚 𝑦𝑘𝑚 𝑦𝑘𝑚𝑗𝑙 𝑉𝑘 − 𝑉𝑚
[ 𝐼 ] = [𝑦 𝑦𝑗𝑙 ] [ 𝑉𝑗 − 𝑉𝑙 ] (1.54)
𝑗𝑙 𝑘𝑚𝑗𝑙

PUC-RJ - DEE - 14 - Análise de Sistemas Elétricos I


Modelos

𝐼𝑘𝑚
𝑧𝑘𝑚
k m
𝑧𝑘𝑚−𝑗𝑙
𝑧𝑗𝑙
j l
𝐼𝑗𝑙

Figura 1-9 – Acoplamento mútuo entre a linha ligando as barras k e m, e a linha ligando a barra j
e l.
Observação:
Não havendo acoplamento mútuo, a matriz de impedâncias é diagonal e se volta a condição trivial
na qual, por exemplo, 𝐼𝑘𝑚 depende só de 𝑉𝑘 e 𝑉𝑚 .

1.5 Representação de Carga


Entre as várias possibilidades para se representar cargas em análises de rede, em geral adota-se uma
combinação de cargas modeladas como impedância constante, corrente constante e potência
constante, o que resulta nas seguintes expressões.
Plk  Plo k ( Ppk  Pik Vk  Pz k Vk2 ) / 100

Ppk  Pik  Pzk  100%

Ql k  Qlo k ( PQpk  PQikVk  Qz kVk2 ) / 100

Qp k  Qi k  Qz k  100%
onde Ppk (Qpk), Pik (Qpk) e Pzk (Qpk) são os percentuais da carga ativa (reativa) da barra k
representados por potência constante, corrente constante e impedância constante respectivamente.
Plok é a potência ativa da barra para uma tensão Vk de 1 pu.

Observação: Os algoritmos de solução de redes devem tomar cuidado com o tratamento de cargas
modeladas como potência constante, pois neste caso, o fluxo de corrente tende aumentar muito com
a diminuição de tensão na barra, o que na maioria das vezes resulta em dificuldades de
convergência. Então, é comum se adotar um mecanismo de proteção que transforma a carga de
potência constante para impedância constante (ou corrente constante) para valores de tensão abaixo
de um nível especificado.

PUC-RJ - DEE - 15 - Análise de Sistemas Elétricos I


Modelos

1.6 Representação de Geradores


Dependendo do tipo de estudo com representação estática da rede, os geradores podem ser
representados por uma fonte de tensão constante atrás de uma reatância (ou o respectivo equivalente
Norton), ou por uma fonte de potência (Pgk) e fonte de potência reativa variável (Qgk). A potência
reativa pode variar de forma a manter uma tensão especificada (Vspeci) em uma barra controlada i
(situação típica de estudos de fluxo de potência). O controle de tensão é chamado de local se i = k
ou remoto em caso contrário.
A potência reativa pode variar dentro dos limites de capabilidade do gerador.

Qg kmin  Qg k  Qg kmax
Sempre que os limites são violados, Qgk é fixado no respectivo limite. Normalmente Qg kmax é
definido pelo limite térmico da armadura ou rotor para a tensão e fator de potência nominal do
gerador. Qkmin é definida como o limite de subexcitação do gerador na potência e tensão nominal do
gerador.
Como este modelo representa a região de capabilidade como sendo retangular, a análise pode ser
conservativa. Em outras palavras, partes da região de capabilidade são ignoradas. Alguns autores
sugerem um modelo mais fidedigno da região de capabilidade.

1.7 Leitura Adicional

[1] Monticelli, A. e Garcia, A. “Introdução a Sistemas de Energia Elétrica”, Editora Edgard


Editora da Unicamp, 2011.
[2] Monticelli, A. “Fluxo de Cargas em Redes de Energia Elétrica”, Editora Edgard Blucher
ltda, 1983.
[3] Ramos, D.S. e Dias, E.M. “Sistemas Elétricos de Potência - Regime Permanente”,
Guanabara Dois, 1983.
[4] Monticelli, A. ‘State Estimation’, 2000.
[5] Paiva, J.P.Sucena ‘Redes de Energia Eléctrica: Uma Análise Sistémica’, Instituto Superior
Técnico, 2011.

PUC-RJ - DEE - 16 - Análise de Sistemas Elétricos I


Matrizes de Rede

2 Matrizes de Rede
Um modelo matemático de redes elétricas em sistemas de grande porte contém muitas equações e,
sempre que possível, são descritos em forma matricial. Pode-se chegar a tais descrições utilizando-
se matrizes de incidência, como normalmente visto em teoria de circuitos. Todavia, a forma mais
prática e usual de descrever sistemas elétricos é via leis de Kirchhoff. A lei de Kirchhoff das
correntes é mais comumente usada, resultando em matrizes referidas às barras, e será a forma
explorada neste curso. As formas matriciais deduzidas a partir da lei de Kirchhoff das tensões
resultam em matrizes referidas aos laços e serão somente mencionadas.

2.1 Matriz de Admitância de Barra


Princípio básico: Lei de Kirchhoff das correntes
𝑛

∑ 𝐼𝑖𝑗 = 𝐼𝑖 (2.1)
𝑗=1
Onde 𝐼𝑖 é a corrente complexa injetada no nó i por uma fonte externa.
𝐼𝑖𝑗 é a corrente deixando o nó i para o nó j via um ramo de ligação entre os dois nós.

Sabemos que

𝐼𝑖𝑗 = 𝑦𝑖𝑗 (𝑉𝑖 − 𝑉𝑗 ) onde 𝑦𝑖𝑗 = 𝑔𝑖𝑗 + 𝑗𝑏𝑖𝑗 (2.2)


Então:

𝐼𝑖 = ∑𝑛𝑗=1 𝑦𝑖𝑗 (𝑉𝑖 − 𝑉𝑗 ) 𝑖 = 1, 2, … , 𝑛 (2.3)


Em geral 𝑦𝑖𝑗 = 𝑦𝑗𝑖 , transformadores defasadores são uma exceção.

Exemplo 1:

𝐼1 𝑦12 𝐼2

𝑦13 𝑦23

𝐼3

𝐼1 = 𝑦12 (𝑉1 − 𝑉2 ) + 𝑦13 (𝑉1 − 𝑉3 )


𝐼2 = 𝑦12 (𝑉2 − 𝑉1 ) + 𝑦23 (𝑉2 − 𝑉3 )
𝐼3 = 𝑦31 (𝑉3 − 𝑉1 ) + 𝑦23 (𝑉3 − 𝑉2 )

Ou
𝐼1 = (𝑦12 + 𝑦13 )𝑉1 − 𝑦12 𝑉2 − 𝑦13 𝑉3
𝐼2 = −𝑦12 𝑉1 + (𝑦12 + 𝑦23 )𝑉2 − 𝑦23 𝑉3

PUC-RJ - DEE - 17 - Análise de Sistemas Elétricos I


Matrizes de Rede

𝐼3 = −𝑦13 𝑉1 − 𝑦23 𝑉2 + (𝑦13 + 𝑦23 )𝑉3

Na forma matricial:

𝐼1 𝑦12 + 𝑦13 −𝑦12 −𝑦13 𝑉1


[𝐼2 ] = [ −𝑦12 𝑦12 + 𝑦23 −𝑦23 ] [𝑉2 ]
𝐼3 −𝑦13 −𝑦23 𝑦13 + 𝑦23 𝑉3

Generalizando
𝑛

∑ 𝑦1𝑗 −𝑦12 … −𝑦1𝑛


1
𝐼1 𝑛 𝑉1
𝐼2 𝑉2
[ ] = −𝑦21 ∑ 𝑦2𝑗 … −𝑦2𝑛 [ ] (2.4)
⋮ 1 ⋮
𝐼𝑛 ⋮ ⋮ ⋱ ⋮ 𝑉𝑛
𝑛

−𝑦𝑛1 −𝑦𝑛2 … ∑ 𝑦𝑛𝑗


[ 1 ]

Em forma compacta

𝐼 = 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 𝑉 (2.5)

Onde 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 é denominada matriz de admitâncias de barra. A regra de formação de 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 é a


seguinte:

𝑦𝑖𝑖 Os elementos da diagonal de 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 são encontrados somando-se as admitâncias dos


ramos que chegam ao nó (barra).
𝑦𝑖𝑗 Os elementos fora da diagonal são o negativo das admitâncias dos ramos entre os nós
i e j. Se não há um ramo entre i e j, o elemento é zero.

Com ((2.5), pode-se obter I a partir de V. Para se obter V a partir de I temos que resolver
−1
𝑉 = 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 𝐼 = 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 𝐼 (2.6)
Onde, 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 é comumente chamada de matriz de impedâncias de barra.

Note que ((2.6) depende da existência de 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . Se 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 é singular (linhas ou colunas
linearmente dependentes), 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 não existe.

No Exemplo 1 pode-se calcular I a partir de V, mas não temos como calcular V a partir de I, pois
se observarmos com cuidado, verificamos que, por exemplo, a terceira linha da matriz de
admitâncias de barra é idêntica a soma da primeira com a segunda linha. Em outras palavras, as
linhas de 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 são linearmente dependentes neste caso, e, portanto, esta matriz é singular.

Na prática o problema de dependência linear é resolvido especificando-se um nó de referência, cujo


valor é zero. Ou seja, as demais tensões são relativas a este nó. Com isto, elimina-se a linha e
coluna da matriz referentes a este nó.

PUC-RJ - DEE - 18 - Análise de Sistemas Elétricos I


Matrizes de Rede

Voltando ao Exemplo 1 e elegendo o nó 3 como de referência, temos

𝐼 𝑦 +𝑦 −𝑦12 𝑉1
[ 1 ] [ 12−𝑦 13 𝑦12 + 𝑦23 ] [𝑉2 ]
𝐼2 12

Desta forma a singularidade é eliminada. Na prática, o nó de referência é o nó terra, cuja tensão é


zero.

Note que se as ligações para o nó 3 (terra) são eliminadas, 𝑦13 e 𝑦23 se anulam e a matriz volta a
ser singular. Então, em sistemas de potência, uma rede sem ramo para a terra resulta em 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎
singular.

Observações sobre 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ;


1. A matriz é complexa e estruturalmente simétrica, podendo não ser numericamente simétrica.
2. A matriz é esparsa porque cada barra (nó) é conectada a poucos nós (nós vizinhos), fazendo
com que a maioria dos elementos 𝑦𝑖𝑗 sejam nulos.
3. Se houver ligações para o nó de referência (terra), 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 pode ser invertida e as tensões
podem ser calculadas a partir das injeções de corrente.

2.2 Alterações na matriz 𝒀𝒃𝒂𝒓𝒓𝒂

Uma vez formada, 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 pode ser modificada usando-se a mesma regra de sua formação. Assim,
para remover um circuito ligando os nós i e j e cuja admitância é 𝑦𝑖𝑗 .
• Subtrai-se 𝑦𝑖𝑗 dos elementos 𝑌𝑖𝑖 e 𝑌𝑗𝑗 .
• Adiciona-se 𝑦𝑖𝑗 aos elementos 𝑌𝑖𝑗 e 𝑌𝑗𝑖 .

2.3 Matriz de Impedância de Barra


Como definido em ((2.6), a matriz de impedância de barra é a inversa da matriz de admitância de
barra.

As vezes é mais conveniente definir 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 como os coeficientes de injeção de correntes na lei de
Kirchhoff das correntes, resolvida para as tensões de barra

𝜕𝑉𝑖
𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎𝑖𝑗 = ; 𝑖 = 1,2, … , 𝑛; 𝑗 = 1,2, … , 𝑛 (2.7)
𝜕𝐼𝑗

Para que (2.7 se aplique é necessário haver uma caminho entre a corrente injetada 𝐼𝑗 e a barra i.

Note que uma coluna de 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 pode ser computada por


𝑧1𝑘 0
⋮ ⋮
𝑧𝑘𝑘 = [𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ]−1 𝐼𝑘 =1
⋮ ⋮
[𝑧𝑛𝑘 ] [ 0 ]

É possível que 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 seja singular se não há como existir uma tensão diferente de zero em alguma
parte do sistema. Isto acontece se, por exemplo, uma barra está curto-circuitada para terra. Neste

PUC-RJ - DEE - 19 - Análise de Sistemas Elétricos I


Matrizes de Rede

caso a tensão da barra é nula e consequentemente, por ((2.7), tem-se uma linha da matriz 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎
nula, e esta matriz é singular. Nestas condições, a matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 não existe.

Dito de forma simples, quando nenhuma barra está conectada à referência (terra), a matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎
existe, mas é singular (𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 não existe), e quando qualquer barra está curto-circuitada para a
referência (terra), 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 existe, mas é singular (𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 não existe).

Propriedades adicionais de 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ;


𝜕𝑉𝑖 𝜕𝑉𝑗
1. Para sistemas lineares, o teorema da reciprocidade se aplica, ou seja, = , ou 𝑧𝑖𝑗 = 𝑧𝑗𝑖 ,
𝜕𝐼𝑗 𝜕𝐼𝑖
implicando em simetria da matriz.
2. Como uma injeção de corrente em um nó k produzirá em geral uma elevação de tensão em
todas as outras barras, 𝑧𝑘𝑙 = 𝑧𝑙𝑘 ≠ 0. Assim, 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 não é esparsa.
3. O comportamento de um sistema visto de um subconjunto de m barras (m<n), pode ser
obtido descartando-se as colunas e linhas não usadas de 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . Esta propriedade torna a
matriz de impedância útil em algumas aplicações tais como em estudos de curto-circuito.
Esta é uma propriedade importante para reduzir significativamente a dimensão do modelo.

Observação: Há algoritmos para construção de 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 a partir dos valores das impedâncias
primitivas. Estes métodos tinham um apelo no passado, quando a capacidade computacional era
muito mais limitada e havia alguma vantagem em termos de menor necessidade de memória, e os
modelos de rede eram de dimensão muito inferior aos atuais. Atualmente, os cálculos envolvendo
𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 usam somente uma partição relativamente pequena desta matriz. Com isto, e considerando
a capacidade computacional muito superior, tais partições são obtivas via inversão parcial da matriz
𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 .

2.4 Matrizes de Laço


A lei de Kirchhoff de corrente leva às matrizes de admitância e impedância de barras. Estas
matrizes são também denominadas de matrizes de admitância e impedância nodal na teoria de
circuitos. A abordagem dual a esta é baseada na lei de Kirchhoff das tensões, que leva às matrizes
de impedância e admitância de laço. Estas matrizes não são usadas em sistemas de potência tanto
quanto as duais de barra, e por esta razão recebem muito menos atenção.

𝐼𝑖 𝐼𝑗 𝐼𝑘

𝑧𝑖𝑘 𝑧𝑗𝑘

Figura 2-1 – Correntes de laço usadas na lei de Kirchhoff das tensões.

A Figura 2-1 ilustra várias correntes de laço. A lei de Kirchhoff das tensões aplicada ao laço i é

𝐸𝑖 = ∑𝑞 𝑧𝑖𝑞 𝐼𝑖 − ∑𝑛𝑗=1 𝑧𝑖𝑗 𝐼𝑗 (2.8)


𝑗≠𝑞

PUC-RJ - DEE - 20 - Análise de Sistemas Elétricos I


Matrizes de Rede

Onde 𝐼𝑖 é a corrente do laço para o qual a lei é aplicada, ∑𝑞 denota a soma de todos os laços que
tocam o laço i, e 𝑧𝑖𝑗 denota a impedância do ramo entre os laços i e j. Se o laço i não toca o laço j,
𝑧 é zero. Também, n é o número total de laços e 𝐸𝑖 é a soma complexa de todas as fontes de tensão
no laço i. Na forma matricial ((2.8) é

𝑉𝑙𝑎ç𝑜 = 𝑍𝑙𝑎ç𝑜 𝐼𝑙𝑎ç𝑜


E por inspeção em (2.8) verifica-se que as regras de construção de 𝑍𝑙𝑎ç𝑜 são as seguintes.
• Os elementos da diagonal de 𝑍𝑙𝑎ç𝑜 são encontrados pela soma das impedâncias no laço.
• Os elementos fora da diagonal são constituídos pelo negativo da impedância entre os dois
laços.
Ou seja, o algoritmo para construção de 𝑍𝑙𝑎ç𝑜 é dual ao da construção de 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . 𝑍𝑙𝑎ç𝑜 é esparsa e
simétrica. 𝑍𝑙𝑎ç𝑜 é não singular se a definição do laços é tal que um laço não esteja incluído em
outro laço.

A inversa de 𝑍𝑙𝑎ç𝑜 é 𝑌𝑙𝑎ç𝑜 , que é a dual de 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . A matriz 𝑌_𝑙𝑎ç𝑜 é cheia.

PUC-RJ - DEE - 21 - Análise de Sistemas Elétricos I


Solução de Equações Lineares

3 Solução de Equações Lineares


Seja o sistema de equações lineares

𝐴𝑥 = 𝑏 3.1

Onde 𝐴 é 𝑛 𝑥 𝑛 e não singular, 𝑥 é um vetor desconhecido de dimensão n, e b é um vetor dado de


dimensão n.

Para se resolver (3.1), por exemplo, pode-se computar a matriz inversa usando-se um dos métodos
numéricos para isto. Mas a inversão explícita não é feita na prática porque, tendo em vista que no
caso de sistemas de potência A é tipicamente densa e de grande dimensão, seria extremamente
ineficiente, e demandaria uma grande quantidade de memória desnecessariamente.

Métodos mais eficientes de solução direta de sistemas lineares são o de eliminação de Gauss e
decomposição LU, que exploram de forma eficiente a esparsidade das equações. Estes métodos se
baseiam no conceito de que sistemas de equações triangulares são ‘fáceis’ de resolver. Estes têm a
forma

𝑈𝑥 = 𝑐 3.2

Onde 𝑈 tem a forma triangular superior (todos os elementos sob a diagonal principal são zero), ou
a forma

𝐿𝑥 = 𝑏 3.3

Onde 𝐿 tem a forma triangular inferior (todos os elementos sobre a diagonal principal são zero).

Por exemplo, para 𝑛 = 3, (3.2) tem a seguinte forma


𝑢11 𝑢12 𝑢13 𝑥1 𝑐1
[ 0 𝑢22 𝑢23 ] [𝑥2 ] = [𝑐2 ] 3.4
0 0 𝑢33 𝑥3 𝑐3

A solução, admitindo-se que 𝑢𝑖𝑖 ≠ 0, é obtida na seguinte sequência

𝑥3 = 𝑐3 /𝑢33
𝑥2 = (𝑐2 − 𝑢23 𝑥3 )/𝑢22
𝑥1 = (𝑐1 − 𝑢12 𝑥2 − 𝑢13 𝑥3 )/𝑢11

Generalizando para qualquer dimensão, temos

𝑥𝑛 = 𝑐𝑛 /𝑢𝑛𝑛
𝑥𝑘 = (𝑐𝑘 − ∑𝑛𝑗=𝑘+1 𝑢𝑘𝑗 𝑥𝑗 )/𝑢𝑘𝑘 ; 𝑘 = 𝑛 − 1, 𝑛 − 2, … ,1 3.5

Este processo é conhecido como substituição para trás (‘back-substitution’). De forma similar, (3.3)
pode ser resolvida pelos seguintes passos.

𝑐1 = 𝑏1 /𝑙11 3.6

PUC-RJ - DEE - 22 - Análise de Sistemas Elétricos I


Solução de Equações Lineares

𝑐𝑘 = (𝑏𝑘 − ∑𝑘−1
𝑗=1 𝑙𝑘𝑗 𝑐𝑗 ) /𝑙𝑘𝑘 ; 𝑘 = 2, 3, … , 𝑛

Este processo é conhecido como substituição para frente.

3.1 Eliminação de Gauss


Uma transformação de uma matriz para a forma triangular é a eliminação de Gauss, que está
ilustrada a seguir. Seja,

𝑎11 𝑎12 𝑎13 𝑥1 𝑏1


[𝑎21 𝑎22 𝑎23 ] [𝑥2 ] = [𝑏2 ] 3.7
𝑎31 𝑎32 𝑎33 𝑥3 𝑏3

Multiplicando a primeira equação por 𝑎21 /𝑎11 e subtraindo da segunda produz o sistema
equivalente

𝑎11 𝑎12 𝑎13 𝑥1 𝑏1


(𝑖) (𝑖) 𝑥
[ 0 𝑎22 𝑎23 ] [ 2 ] = [𝑏2(𝑖) ] 3.8
𝑎31 𝑎32 𝑎33 𝑥3 𝑏3
Onde
(𝑖) 𝑎
𝑎22 = 𝑎22 − (𝑎21 ) 𝑎12
11
(𝑖) 𝑎21
𝑎23 = 𝑎23 − (𝑎 ) 𝑎13
11
(𝑖) 𝑎21
𝑏2 = 𝑏2 − (𝑎 ) 𝑏1
11
Similarmente, multiplicando-se a primeira equação por 𝑎31 /𝑎11 e subtraindo da terceira produz

𝑎11 𝑎12 𝑎13 𝑥1 𝑏1


(𝑖) (𝑖) (𝑖)
[ 0 𝑎22 𝑎23 ] [𝑥2 ] = [𝑏2 ] 3.9
𝑎33 𝑥3
(𝑖) (𝑖) (𝑖)
0 𝑎32 𝑏3
Onde
(𝑖) 𝑎
𝑎32 = 𝑎32 − (𝑎31 ) 𝑎12
11
(𝑖) 𝑎31
𝑎33 = 𝑎33 − (𝑎 ) 𝑎13
11
(𝑖) 𝑎
𝑏3 = 𝑏3 − (𝑎31 ) 𝑏1
11
(𝑖) (𝑖)
Finalmente, multiplicando a nova segunda linha por 𝑎32 /𝑎22 e subtraindo da nova terceira linha
resulta em

𝑎11 𝑎12 𝑎13 𝑥1 𝑏1


(𝑖) (𝑖) (𝑖)
[ 0 𝑎22 𝑎23 ] [𝑥2 ] = [ 𝑏2 ] 3.10
𝑎33 𝑥3
(𝑖𝑖) (𝑖𝑖)
0 0 𝑏3
Onde
(𝑖)
(𝑖𝑖) (𝑖) 𝑎32 (𝑖)
𝑎33 = 𝑎33 − ( (𝑖) ) 𝑎23
𝑎22
(𝑖)
(𝑖𝑖) (𝑖) 𝑎32 (𝑖)
𝑏3 = 𝑏3 − ( (𝑖) ) 𝑏2
𝑎22

PUC-RJ - DEE - 23 - Análise de Sistemas Elétricos I


Solução de Equações Lineares

Este processo pode ser generalizado para dimensão n, com as seguintes fórmulas.

(𝑘)
(𝑘+1) (𝑘) 𝑎𝑖𝑘 (𝑘)
𝑎𝑖𝑗 = 𝑎𝑖𝑗 − ( (𝑘) ) 𝑎𝑘𝑗 𝑖, 𝑗 > 𝑘 3.11
𝑎𝑘𝑘
e
(𝑘)
(𝑘+1) (𝑘) 𝑎𝑖𝑘 (𝑘)
𝑏𝑖 = 𝑏𝑖 −((𝑘) ) 𝑏𝑘𝑗 𝑖>𝑘 3.12
𝑎𝑘𝑘

Observação: assume-se nas equações acima que os elementos 𝑎𝑘𝑘 são diferentes de zero. Isto em
geral é verdadeiro nas matrizes do tipo 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 que têm os elementos da diagonal principal maior
que os fora da diagonal, diz-se assim que são diagonal dominante. De qualquer forma, caso um
mais destes elementos sejam zero, pode-se fazer uma troca de colunas e linhas de tal forma a
eliminar o problema, considerando novamente que a matriz não seja singular.

3.2 Transformação LU

Defina 𝑙𝑖𝑘 para 𝑖 > 𝑘 pela equação


𝑘 𝑘
𝑙𝑖𝑘 = 𝑎𝑖𝑘 /𝑎𝑘𝑘 3.13

Com referência a (3.11), percebe-se que este valor é exatamente o que está multiplicando a k-ésima
(pivô) linha e que subsequentemente subtrai da i-ésima linha na construção da nova i-ésima linha.
Assim, 𝑙𝑖𝑘 é chamado de multiplicador.

Então, seja 𝐿(𝑘) a matriz triangular inferior unitária

1
.
1
𝐿(𝑘) = −𝑙𝑘+1,𝑘 . 3.14
⋮ .
[ −𝑙𝑛,𝑘 1]

Que difere da matriz identidade, I, somente na k-ésima coluna abaixo da diagonal principal, onde
aparece os negativos dos multiplicadores 𝑙𝑖𝑘 . Matrizes da forma (3.14) são frequentemente
chamadas de matrizes triangular inferior elementares. Esta matriz permite que a relação (3.11) seja
expressa em notação matricial como a relação

𝐴(𝑘+1) = 𝐿(𝑘) 𝐴(𝑘) 3.15

Usando estas relações para todos os valores de k resulta na equação

𝑈 = 𝐴(𝑛) = 𝐿(𝑛−1) 𝐿(𝑛−2) … 𝐿(1) 𝐴 3.16

Agora, a inversa de 𝐿𝑘 é dada por

PUC-RJ - DEE - 24 - Análise de Sistemas Elétricos I


Solução de Equações Lineares

1
.
−1 1
(𝐿(𝑘) ) = 𝑙𝑘+1,𝑘 . 3.17
⋮ .
[ 𝑙𝑛,𝑘 1]
Como pode ser verificado multiplicando-se (3.14) por (3.17). Então, multiplicando-se (3.16)
−1 −1
sucessivamente por (𝐿(𝑛−1) ) … (𝐿(1) ) resulta na equação.

−1 −1 −1
𝐴 = (𝐿(1) ) (𝐿(2) ) . . . (𝐿(𝑛−1) ) 𝑈 3.18

A multiplicação direta, usando (3.17), resulta em

1
𝑙21 .
−1 −1 −1 𝑙31 1
(𝐿(1) ) (𝐿(2) ) . . . (𝐿(𝑛−1) ) = 3.19
. 𝑙𝑘+1,𝑘 .
. ⋮ .
𝑙
[ 𝑛1 𝑙𝑛,𝑘 1]

A equação (3.16) pode então ser escrita como uma fatoração triangular.

𝐴 = 𝐿𝑈 3.20

Onde 𝑈 = 𝐴(𝑛) e 𝐿 é a matriz triangular inferior unitária.

A fatoração LU facilita na solução das equações lineares da seguinte forma. Substituindo-se A por
LU em (3.1) tem-se

𝐿𝑈𝑥 = 𝑏 3.21

Se c é dado por

𝑐 = 𝑈𝑥 3.22

Ele pode ser computado pela seguinte equação

𝐿𝑐 = 𝑏 3.23

Via substituição para frente (3.6). Então, x pode ser computado por substituição para trás (3.5).
Como será visto na abordagem de esparsidade de matrizes, há como se manter a esparsidade dos
fatores L e U utilizando-se ordenação das equações (linhas e colunas da matriz), o que também
influencia positivamente o desempenho computacional em função da requerer muito menos
operações numéricas.

3.3 Métodos de fatoração LU


Com base em (3.20) temos

PUC-RJ - DEE - 25 - Análise de Sistemas Elétricos I


Solução de Equações Lineares

min(𝑖,𝑗)

𝑎𝑖𝑗 = ∑ 𝑙𝑖𝑝 𝑢𝑝𝑗 , 𝑖, 𝑗 = 1,2, … , 𝑛 3.24


𝑝=1

Rearranjando, temos

𝑗−1

𝑙𝑖𝑗 = (𝑎𝑖𝑗 − ∑ 𝑙𝑖𝑝 𝑢𝑝𝑗 )/𝑢𝑗𝑗 , 𝑖 > 𝑗 3.25


𝑝=1
𝑖−1

𝑢𝑖𝑗 = (𝑎𝑖𝑗 − ∑ 𝑙𝑖𝑝 𝑢𝑝𝑗 ), 𝑖 ≤ 𝑗 3.26


𝑝=1

Onde uma soma ∑𝑚


𝑘=𝑙 com 𝑚 < 𝑙 é tida como zero.

Algoritmo Doolittle
Neste algoritmo, a sequência computacional envolve a linhas da matriz em ordem crescente, ou
seja, no k-ésimo estágio computa-se na ordem 𝑙𝑘1 , 𝑙𝑘2 , … , 𝑙𝑘,𝑘−1 , 𝑢𝑘𝑘 , … , 𝑢𝑘𝑛 .

Algoritmo Crout
Assumindo que U em vez de L tem elementos da diagonal iguais a um, resulta na seguinte
sequência.

𝑗−1

𝑙𝑖𝑗 = (𝑎𝑖𝑗 − ∑ 𝑙𝑖𝑝 𝑢𝑝𝑗 ), 𝑖 ≥ 𝑗 3.27


𝑝=1
𝑖−1

𝑢𝑖𝑗 = (𝑎𝑖𝑗 − ∑ 𝑙𝑖𝑝 𝑢𝑝𝑗 )/𝑙𝑖𝑖 , 𝑖 < 𝑗 3.28


𝑝=1

PUC-RJ - DEE - 26 - Análise de Sistemas Elétricos I


Esparsidade

4 Esparsidade
Como vimos na aula sobre matrizes, as matrizes mais utilizadas em análise de sistemas de potência
são tipicamente esparsas, ou seja, contém apenas uns poucos elementos por linha ou coluna. Este
é o caso da matriz Ybus e da matriz Jacobiano utilizada na solução de curto-circuitos e do problema
de fluxo de potência, respectivamente. Estes métodos requerem a computação da inversa destas
matrizes. Todavia, as respectivas matrizes inversas são densas. Para sistemas de médio e grande
porte trabalhar com matrizes densas não é desejável devido ao alto requisito de memória necessário
e baixíssimo desempenho computacional.

A solução para este problema é fatorar a matriz de tal forma que os seus fatores também sejam
esparsos. Também como vimos, a fatoração LU ou similar, é utilizada neste caso. Entretanto, a
ordem das linhas e colunas da matriz é crucial para que se mantenha os fatores L e U esparsos.

De forma resumida, o tratamento de matrizes esparsas requer os três principais aspectos, como
segue.
- Escolher um esquema de armazenamento somente para os elementos não nulos da matriz.
- Determinar a ordem de linhas e colunas para fatoração da matriz.
- Adaptar o algoritmo de fatoração para a forma de armazenamento escolhida.
- Adaptar o algoritmo de solução das equações para a forma de armazenamento escolhida.

4.1 Princípios dos Grafos


Esparsidade de matrizes e teoria dos gráficos são assuntos que podem ser relacionados. O padrão
de uma matriz quadrada pode ser representado por um gráfico, por exemplo, e então resultados da
teoria dos gráficos podem ser usados para se obter resultados de matrizes esparsas.

Um grafo orientado consiste de um conjunto de nós (também chamados vértices) e ramos


direcionais entre os nós. Qualquer matriz quadrada tem um grafo associado, e qualquer grafo tem
um padrão de matriz quadrada associada. Para um dada matriz quadrada A, um nodo está associado
a um linha da matriz. Se 𝑎𝑖𝑗 é um elemento, existe um ramo entre os nós i e j no grafo. Isto é
usualmente escrito, na forma de diagrama, como uma linha com uma seta, como ilustrado na figura
abaixo. Por exemplo, a linha entre os nós 1 e 2 corresponde ao elemento 𝑎12 da matriz.

1 2 3
× × ⬚ ⬚
[⬚ × × ⬚]
⬚ × × ×
× ⬚ ⬚ ×

Figura 4-1 – Grafo orientado – matriz assimétrica.

Para uma matriz simétrica, uma conexão entre os nós i e j implica em também haver uma conexão
do nó j para o nó i; assim a seta pode ser desconsiderada e obtemos um grafo não orientado ou
simplesmente grafo, como ilustrado abaixo. Formalmente, G(A), o grafo associado com a matriz
Z, não é uma figura, mas um conjunto X de nós e um conjunto E (do inglês ‘Edge’) de ramos. Um

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Esparsidade

ramo é um par ordenado de nós (𝑥𝑖 , 𝑥𝑗 ) e está associado com os elementos 𝑎𝑖𝑗 e 𝑎𝑗𝑖 da matriz, que
neste caso é simétrica.

1 2 3
× × ⬚ ×
[× × × ⬚]
⬚ × × ×
× ⬚ × ×

Figura 4-2 – Grafo não orientado – matriz simétrica.

Uma operação fundamental no processo de fatoração (ou eliminação de Gauss) de uma matriz é o
de adicionar um múltiplo de uma linha da matriz, digamos a primeira, às outras linhas para fazer
todos os elementos na primeira coluna, abaixo da diagonal, iguais a zero. Por exemplo, na figura
acima, adicionando-se a primeira linha à quarta cria-se um novo elemento na posição (4,2).

A teoria dos gráficos ajuda a visualizar o padrão de mudança de elementos à medida que a
eliminação acontece. Relativo ao grafo 𝐺, o grafo 𝐺𝑦 é obtido removendo-se o nó 𝑦 e adicionando-
se um novo ramo (𝑥, 𝑧) sempre que (𝑥, 𝑦) e (𝑦, 𝑧) sejam ramos de 𝐺 e (𝑥, 𝑧) não seja. Em outras
palavras, a remoção de um nó cria ligação entre os nós aos quais o nó removido está conectado, se
tais ligações não existirem. Por exemplo, 𝐺1 para o gráfico da figura acima teria a representação
da figura abaixo, com o novo ramo (4,2) adicionado. Observe que este é precisamente o grafo
correspondente à submatriz 3x3 que resulta da eliminação do elemento (4,1) no processo de
eliminação de Gauss. Sempre que um elemento novo é adicionado a matriz, o que corresponde no
exemplo ao ramo entre os nós 2 e 4, diz-se que ocorreu um preenchimento (‘fill-in’) na matriz.

2 3
× × ⬚ ×
[⬚ × × ×]
⬚ × × ×
⬚ × × ×

Figura 4-3 – Preenchimento no processo de fatoração.

No processo de fatoração, o preenchimento ocorre nos fatores L e U. Assim, quanto menos


preenchimentos ocorrerem, mais esparsos os fatores LU serão e consequentemente menor no
número de operações aritméticas e menor a necessidade de armazenamento.

Considere o grafo/matriz abaixo.

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Esparsidade

3
× × × × ×
× × ⬚ ⬚ ⬚
× ⬚ × ⬚ ⬚ 4 1 2
× ⬚ ⬚ × ⬚
[× ⬚ ⬚ ⬚ ×]

5
Figura 4-4 – Exemplo de matriz esparsa.

O nó 1 está ‘ligado’ aos demais nós. A eliminação dos elementos da coluna 1 no processo de
eliminação de Gauss resultará na soma da primeira linha da matriz multiplicada por fatores
apropriados às demais linhas resultando no seguinte grafo/matriz.
3
× × × × ×
⬚ × × × ×
⬚ × × × × 4 2
⬚ × × × ×
[⬚ × × × ×]

5
Figura 4-5 – Máximo preenchimento devido a uma má ordenação de linhas e colunas.

A eliminação do nó 1 do grafo resultou no aparecimento de ramos entre todos os demais nós, que
originalmente não existiam. O efeito equivalente na matriz foi o preenchimento de todos os
elementos que eram originalmente nulos. Agora, para ilustrar o efeito da ordenação de linhas e
colunas, consideremos a ordenação da figura abaixo. O processo de eliminação de Gauss, ou
equivalentemente a remoção de nós, não gera nenhum preenchimento na matriz. Por exemplo, para
eliminação do elemento (5,1) adiciona-se a primeira linha multiplicada por um fator à quinta linha.
Com isto somente o elemento (5,5) que já é não nulo, é alterado, não havendo preenchimento. O
mesmo acontece com a eliminação dos demais elementos da quinta linha da matriz.
3
× ⬚ ⬚ ⬚ ×
⬚ × ⬚ ⬚ ×
⬚ ⬚ × ⬚ × 4 5 2
⬚ ⬚ ⬚ × ×
[× × × × ×]

1
Figura 4-6 - Ausência de preenchimentos devido a uma boa ordenação de linhas e colunas.

Portanto, podemos ver que a determinação de uma ‘boa’ ordem das linhas da matriz é crucial para
a diminuição do número de operações numéricas necessárias à fatoração e do espaço necessário
para armazenamento dos fatores.

PUC-RJ - DEE - 29 - Análise de Sistemas Elétricos I


Esparsidade

4.2 Ordenação
Como visto, a preservação da esparsidade depende de uma ordenação apropriada das equações e
variáveis do problema. As equações correspondem às linhas da matriz e as variáveis às suas
colunas.

Todos as estratégias de ordenação têm como objetivo, pelo menos parcial, o de controlar os
preenchimentos. Estas estratégias podem ser classificadas em duas categorias básicas: aquelas que
em cada passo da fatoração minimiza um objetivo para este passo sem levar em consideração os
efeitos nos passos seguintes (estratégias locais) e aqueles que confinam os preenchimentos a uma
forma desejada (por exemplo, dentro de uma banda ou dentro de em pequeno número de colunas).
A simetria ou não da matriz a ser ordenada tem efeito nos detalhes de implementação da estratégia.
Para os problemas de sistemas de potência, as matrizes são estruturalmente simétricas ou quase
simétricas. Neste caso, pode-se forçosamente faze-las simétricas. Outra característica importante
destas matrizes é que também são tipicamente dominantes na diagonal, ou seja, o valor absoluto da
magnitude dos elementos da diagonal é bem maior que os de fora da diagonal. Isto tem um efeito
positivo na precisão numérica dos cálculos, pois utilizar valores pequenos como pivô em uma
fatoração aumenta o acúmulo de erros numéricos.

Assim, sendo as matrizes simétricas e com dominância diagonal, como no caso de sistemas de
potência, é suficiente utilizar os elementos da diagonal como pivô no processo de fatoração, o que
significa que as linhas e colunas da matriz podem ser ordenadas conjuntamente.

Definição: O grau de um nó pertencente a um grafo G é o número de elementos incidentes neste


nó.

Em 1967 Tinney & Walker propuseram três esquemas de ordenação que ficaram conhecidos como
Esquemas 1, 2 e 3.

Esquema 1: Ordene os nós (linha-coluna) na ordem dos respectivos graus (número de elementos a
que estão conectados) antes da eliminação. Este esquema às vezes é referido como ordenação
estática.

Esquema 2: Ordene os nós na ordem dos respectivos graus no ponto que são escolhidos para
eliminação. Isto requer a manutenção da informação das eliminações e preenchimentos dos nós já
ordenados. Este esquema é frequentemente denominado de grau mínimo (‘minimum degree’).

Esquema 3: Ordene os nós na ordem do número de preenchimentos que seriam produzidos pela
sucessivas eliminações. Isto requer a manutenção não somente das variações dos graus, mas
também a simulação do efeito da eliminação nos demais nós ainda não ordenados.

Em todos estes esquemas, a escolha de um nó quando há igualdade de condições (‘tie’) é arbitrária.


Os principais fatos conhecidos a respeito destes esquemas podem ser resumidos como segue:

• O Esquema 1 não é efetivo em preservar a esparsidade, mas é útil como um passo de


inicialização para os Esquemas 2 e 3;
• O Esquema 2 é muito efetivo em preservar a esparsidade. Com uma programação
cuidadosa, não são necessárias buscas e ordenações (exceto agrupamentos simples de graus
produzidos pelo Esquema 1) e o número de operações é proporcional ao número de nós.

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Esparsidade

• O Esquema 3 não é necessariamente mais efetivo em preservar a esparsidade que o Esquema


2. Por outro lado, se bem programado, toma muito pouco mais tempo do que o Esquema 2
para produzir o ordenamento. A chave é manter a anotação das mudanças no número de
preenchimentos que serão produzidos por cada um dos nós já ordenados a medida que a
ordenação progride. Programado adequadamente, o número de operações deste esquema
também é proporcional ao número de nós. Aparentemente, este esquema é pouco usado.

O Esquema 2 é o mais usado na prática e é efetivo para uma vasta gama de problemas. Para redes,
é sempre superior a ordenação na forma de ‘banda’ e outros esquemas utilizados para outros tipos
de problemas. Entretanto, nem sempre produz uma ordenação que minimize a quantidade de
preenchimentos. Isto pode ser demonstrado pelo exemplo simples da figura abaixo. O esquema
ordena o nó 5 como o primeiro, introduzindo uma ligação (preenchimento) entre os nós 4 e 6. A
ordem mostrada no gráfico não produz preenchimentos.

× × × × ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ ⬚
× × × × ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ 2 7
× × × × ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ ⬚
× × × × × ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ 4 5 6
1 8
⬚ ⬚ ⬚ × × × ⬚ ⬚ ⬚
⬚ ⬚ ⬚ ⬚ × × × × × 3 9
⬚ ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ × × × ×
⬚ ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ × × × ×
[⬚ ⬚ ⬚ ⬚ ⬚ × × × ×]
Figura 4-7 – Exemplo em que o Esquema 2 não é ótimo.

4.3 Armazenamento de Matrizes Esparsas

Há várias formas de se armazenar uma matriz esparsa, a melhor forma depende dos tipos de
operação a que a matriz estará sujeita. Uma importante distinção é feita entre estruturas estáticas
que permanecerão fixas e dinâmicas que serão ajustadas para acomodar preenchimentos à medida
com que venham ocorrer. Naturalmente, o sobre custo computacional de ajuste de uma estrutura
dinâmica pode ser significativo. Adicionalmente, o espaço de memória requerido por uma estrutura
estática é conhecido de antemão, ao passo que isto não ocorre no caso de uma estrutura dinâmica.
Os dois tipos são usados em fatoração de matrizes esparsas.

Outro aspecto importante, do ponto de vista computacional, a ser considerado, é a forma e


frequência de acesso aos dados durante as operações numéricas. Os dados são levados da memória
para a unidade de processamento em grupos de elementos armazenados contiguamente, e esta
operação tem um custo (de tempo) elevado. Então, o ideal é que o aproveitamento destes dados
seja máximo, ou seja, que poucos dados no grupo não sejam aproveitados (trazidos inutilmente) e
que o número vezes que os dados são trazidos seja minimizado. Nas operações de matrizes,
procura-se este objetivo fazendo operações por linhas (ou colunas) nas quais os dados da linha (ou
coluna) estejam armazenados de forma contígua. Assim, ao trazer um grupo de dados da memória
para uma operação com a linha (ou coluna) a probabilidade de que todos os elementos da linha (ou
coluna) estejam presentes é alta, minimizando-se a necessidade de acessos à memória.

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Esparsidade

Normalmente o que se quer é uma representação muito compacta que permita fácil manipulação.
Não há uma estrutura melhor, a maioria dos programas usam padrões diferentes de armazenamento
com finalidades diferentes.

4.3.1 Esquema de Coordenadas


Neste esquema, o valor do elemento e suas coordenadas (linha e coluna) são armazenadas de forma
não ordenada. A forma de implementação deste esquema depende da linguagem de programação
utilizada, evidentemente, mas, por exemplo, pode-se utilizar um vetor real e dois inteiros. A figura
e a tabela abaixo ilustram este esquema.

1 0 0 −1 0
2 0 −2 0 3
𝐴= 0 −3 0 0 0
0 4 0 −4 0
[5 0 −5 0 6]

Figura 4-8 – Matriz esparsa não simétrica.

Tabela 4.1 – Aramazenamento não ordenado com coordenadas.


Índice 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Linha 1 2 2 1 5 3 4 5 2 4 5
Coluna 4 5 1 1 5 2 4 3 3 2 1
Valor -1. 3. 2. 1. 6. -3. -4. -5. -2. 4. 5.

O maior problema com este esquema está na inconveniência de acesso por linha ou por coluna. Ele
pode ser usado sem problemas se se deseja multiplica-la por um vetor cheio. Entretanto, a solução
direta de um conjunto de equações lineares, por exemplo, envolve uma sequência de operações com
linhas (ou colunas) da matriz. Há dois esquemas de armazenamento principais que proporcionam
pronto acesso a esta informação: uma coleção de vetores esparsos e uma lista encadeada.

4.3.2 Esquema de Lista Adjunta


O esquema de lista adjunta armazena linhas (ou colunas) de uma matriz em sequência. Os valores
dos elementos da matriz são armazenados de forma ordenada linha-por-linha (ou coluna-por-
coluna). Um vetor inteiro contém o número da coluna de cada elemento, e um vetor inteiro aponta
para a posição em que cada linha (ou coluna) inicia. A tabela abaixo ilustra este esquema de
armazenamento por linha para a matriz da Figura 4-8.

Tabela 4.2 – Armazenamento por lista adjunta (linha-por-linha).


Índice 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Inicio 1 3 6 7 9 12
Coluna 1 4 1 3 5 2 2 4 1 3 5
Valor 1. -1. 2. -2. 3. -3. 4. -4. 5. -5. 6.

Note que não há uma sexta linha. Entretanto, neste esquema, há necessidade de se ter alguma
informação de onde a última linha (quinta, neste caso) termina.

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Esparsidade

Observa-se que este esquema requer um pouco menos necessidade de armazenamento em relação
ao esquema de coordenadas. Mas o mais importante aspecto desta forma de armazenamento é que
ele facilita o acesso às linhas (ou colunas) da matriz. Isto tem muita importância do ponto de vista
computacional, pois o aproveitamento dos dados trazidos da memória para a unidade de
processamento é maior e consequentemente há menos acesso a memória, aumentando muito a
eficiência.

O acesso a todos os elementos de uma linha (i) pode ser feito com o seguinte código exemplificado
em Fortran.

Do k = inicio(i), inicio(i+1) – 1
Col = Coluna(k)
Val = Valor(k)
:
End Do

O problema com este esquema é no caso da estrutura de dados não ser estática, ou seja, quando há
necessidade de introduzir novos elementos, por exemplo, preenchimentos, nas linhas (ou colunas).
Neste caso, seria necessário deslocar vários elementos nos 3 vetores, o que acarreta um sobre custo
computacional. As listas encadeadas tratam melhor esta situação.

4.3.3 Esquema de Lista Encadeada


A essência da lista encadeada (‘linked list’) é que haja um apontador (inicial) para o primeiro
elemento de uma linha (ou coluna) e para cada elemento existe um apontador (ou elo) para o
próximo elemento da linha (ou coluna). Se não há um próximo elemento, o apontador é nulo. A
linha pode ser percorrida acessando-se o primeiro elemento da mesma via o apontador inicial e os
elos até que se encontre um elo nulo. A tabela abaixo ilustra o uso da lista encadeada para a matriz
da Figura 4-8.

Tabela 4.3 –
Índice 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Inicio 1 3 6 7 9
Elo 2 0 4 5 0 0 8 0 10 11 0
Coluna 1 4 1 3 5 2 2 4 1 3 5
Valor 1. -1. 2. -2. 3. -3. 4. -4. 5. -5. 6.

Nota-se uma necessidade maior de armazenamento neste esquema do que no de lista adjunta, mas
ganha-se muito em flexibilidade e eficiência quando há necessidade de alterações frequentes na
matriz. Por exemplo, no caso de se querer inserir um elemento na terceira linha, quarta coluna desta
matriz, adiciona-se este elemento com índice de armazenamento 12, ou seja, na última posição livre
do vetor, e altera-se os elos, da mesma linha. A tabela abaixo ilustra esta operação com o valor do
elemento sendo 3.5. O primeiro elemento na linha 3 (-3.) tem um elo para a posição 12 onde se
encontra o segundo elemento desta mesma linha (3.5) na coluna 4. O elo deste elemento é nulo (0),
indicando que não há mais elementos nesta linha. Assim, para inserção de um valor, a necessidade
de alterações no armazenamento existente foi mínima e, portanto, de baixíssimo custo
computacional.
Tabela 4.4 –
Índice 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

PUC-RJ - DEE - 33 - Análise de Sistemas Elétricos I


Esparsidade

Inicio 1 3 6 7 9
Elo 2 0 4 5 0 12 8 0 10 11 0 0
Coluna 1 4 1 3 5 2 2 4 1 3 5 4
Valor 1. -1. 2. -2. 3. -3. 4. -4. 5. -5. 6. 3.5

Cabe notar, entretanto, que o acesso aos elementos de uma linha neste esquema requer um acesso
indireto da memória, ou seja, para acessar os elementos de uma linha (ou coluna) há necessidade
de primeiro ‘descobrir’ sua posição via o apontador elo. Isto, do ponto de vista computacional não
é eficiente.

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

5 Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito


Um curto-circuito — também chamado de “curto”, “falta” ou “defeito” — ocorre quando dois
pontos de um circuito elétrico, anteriormente separados por um ou mais elementos elétricos ou por
materiais dielétricos, são ligados através de um condutor ou um elemento de baixa impedância.

A principal consequência de um curto-circuito é a elevação dos valores das correntes que circulam
no circuito. Isto ocorre devido à diminuição da impedância entre os dois pontos afetados,
facilitando a circulação de correntes mais elevadas, e podendo ocasionar danos aos equipamentos
elétricos.

Em decorrência da possibilidade de eventos danosos às redes elétricas, são necessários estudos


preventivos, os quais, combinados com medidas práticas, garantirão a integridade do sistema a ser
protegido em condições anormais de operação.

Um dos principais tipos de estudo em curto-circuito é a simulação de condições de falta no sistema


o qual se deseja proteger. Destas simulações, entre outras informações úteis, são obtidos os valores
de corrente e tensão de falta os quais servirão de referência para o dimensionamento de
equipamentos tais como relés e disjuntores, e ajustes de sistemas de proteção.

O curto-circuito é a falha mais comum em qualquer sistema de potência, o que evidencia a


importância de seu estudo. Os principais tipos de curto-circuito são:

• Trifásico
• Trifásico-terra
• Bifásico
• Bifásico-terra
• Monofásico

5.1 Conceitos Teóricos (Revisão)

5.1.1 Princípio da Superposição dos Nós

Os sistemas elétricos representados por fontes de tensão e elementos passivos de rede (impedâncias
na frequência fundamental) são sistemas lineares. Nestas condições, o princípio de superposição
pode ser aplicado à análise destes sistemas. O princípio, para circuitos elétricos, afirma que uma
resposta em um circuito alimentado por mais de uma fonte independente é igual à soma das
respostas para cada fonte agindo individualmente.

Considere o circuito monofásico de três barras, quatro impedâncias e duas fontes de tensão
alternada, conforme mostrado na Figura 5-1.

PUC-RJ - DEE - 35 - Análise de Sistemas Elétricos I


Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

Figura 5-1 - Circuito monofásico usado para aplicação do princípio da superposição

Suponha que, em determinado momento, ocorra um curto entre a barra 1 e a barra de referência. O
novo circuito é exibido na Figura 5-2, onde 𝐼𝑓 é a corrente de falta.

Figura 5-2 - Circuito da Figura 5-1 após ocorrência de curto entre a barra 1 e a barra de referência

Suponha agora que se deseja calcular a tensão na barra 1 após a ocorrência do curto (𝑉1) e que o
valores de 𝐼𝑓 e tensão na barra 1 antes da falta (𝑉10 ) sejam conhecidos. Ao somar 𝑉10 com o valor
de tensão na barra 1 (𝑉1′ ) do circuito da Figura 5-2 com o efeito das fontes de tensão anulado
(circuito correspondente ao da Figura 5-3), teremos, pelo princípio da superposição, o valor de 𝑉1.

Figura 5-3 Circuito da Figura 5-2 com efeito da das fontes de tensão anulado

Matematicamente, o princípio da superposição fornece que:

𝑉1 = 𝑉10 + 𝑉1′ (5.1)

De acordo com o significado de cada termo da equação (5.1), pode-se reescrevê-la da seguinte
maneira:

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

𝑉1 𝑝ó𝑠−𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜 = 𝑉1 𝑝𝑟é−𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜 + ∆𝑉 (5.2)

Por conseguinte, para o cálculo do valor de tensão em determinada barra de um circuito após a
ocorrência de um curto, basta calcular o valor de ∆𝑉 e somar este valor com o valor de tensão pré-
falta.

Obviamente, a análise feita para a barra 1 do circuito da Figura 5-1 pode ser igualmente estendida
a todas as barras de um sistema arbitrário de número de fases também arbitrário. Para o cálculo do
estado (os valores de tensão de todas as barras) de um sistema no qual houve um curto-circuito e
para o qual é válido o princípio da superposição basta utilizar a expressão:

[𝑉𝑖 𝑝ó𝑠−𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜 ] = [𝑉𝑖 𝑝𝑟é−𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜 ] + [∆𝑉] (5.3)

Onde:

o 𝑉𝑖 𝑝ó𝑠−𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜 é o vetor de tensões pós-falta do sistema;


o 𝑉𝑖 𝑝𝑟é−𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜 é o vetor de tensões pré-falta do sistema;
o ∆𝑉 é o vetor de variações de tensão.

[∆𝑉] = [𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ][𝐼𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 ] (5.4)

A representação do sistema via matriz de admitância de barra ajustada para o cálculo do vetor de
variações de tensão fornece:

[𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ][∆𝑉] = [𝐼𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 ] (5.5)

Onde 𝐼𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 é o vetor de correntes de falta.

Desta forma, supondo a matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 conhecida, as variações de tensão das barras em decorrência
de um curto podem ser obtidas através do cálculo das correntes de falta e da resolução de um sistema
linear.

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

5.1.2 Teorema de Thévenin

O teorema de Thévenin estabelece que, sob o ponto de vista de um número arbitrário de terminais
(chamados de terminais ou pontos de interesse), qualquer circuito que contém somente elementos
lineares pode ser substituído por uma fonte de tensão e uma impedância em série. Na Figura 5-4
temos uma ilustração desta equivalência para dois terminais de interesse e um circuito monofásico:

Figura 5-4 - Equivalência entre circuito de elementos lineares e circuito de Thévenin entre dois
pontos.

Primeiramente, será verificado como é feita a extração da impedância de Thévenin entre dois pontos
da matriz 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . Em seguida, será verificado o processo de obtenção dos parâmetros de Thévenin
quando houver mais de dois pontos de interesse, situação na qual temos uma matriz de impedância
de Thévenin.

A relação entre as matrizes 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 e 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 , por definição, é:

[𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ] = [𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ]−1 (5.6)

Presuma que se deseja representar o circuito da Figura 5-1, visto pelas barras 1 e de referência, pelo
seu circuito equivalente de Thévenin. Para fazê-lo, deve-se encontrar os parâmetros 𝑉𝑡ℎ e 𝑍𝑡ℎ .

Pelas expressões (5.2)e (5.4), verifica-se que o vetor 𝑉 (valores de tensão) após a inserção da fonte
de corrente 𝐼𝑓 na barra 1 (circuito da Figura 5-2) é dado pela expressão matricial:

[𝑉] = [𝑉 0 ] + [∆𝑉] = [𝑉 0 ] + [𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ][𝐼𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 ] (5.7)

Expandindo os termos, obtém-se:

𝑉1 𝑉10 𝑍1,1 𝑍1,2 𝑍1,3 𝐼𝑓


0
[𝑉2 ] = [𝑉2 ] + [𝑍2,1 𝑍2,2 𝑍2,3 ] [ 0 ] (5.8)
𝑉3 𝑉30 𝑍3,1 𝑍3,2 𝑍3,3 0

Portanto, o valor da tensão na barra 1 após a inserção da fonte de corrente é dado pela expressão:

𝑉1 = 𝑉10 + 𝑍1,1 𝐼𝑓 (5.9)

Levando em consideração que a fonte de corrente foi conectada entre a barra 1 e a de referência, a
expressão acima é equivalente ao da Figura 5-5.

PUC-RJ - DEE - 38 - Análise de Sistemas Elétricos I


Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

Figura 5-5 - Circuito equivalente de Thévenin do circuito da Figura 5-1 visto das barras 1 e de
referência com uma fonte de corrente

Através da comparação entre o circuito da Figura 5-5 e o circuito equivalente de Thévenin da Figura
5-4, conclui-se que a impedância de Thévenin entre a barra de referência e a barra 1 do circuito da
Figura 5-1 é igual ao valor do elemento da primeira linha e primeira coluna da matriz 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 e a
tensão de Thévenin é igual ao valor de tensão da barra 1. Logo:

𝑍𝑡ℎ = 𝑍1,1 (5.10)


𝑉𝑡ℎ = 𝑉10 (5.11)

Note que os valores de 𝑍𝑡ℎ e 𝑉𝑡ℎ são invariantes, ou seja, independentes do valor da corrente 𝐼𝑓 .

Generalizando-se os conceitos anteriores, conclui-se que, em um circuito arbitrário monofásico, a


impedância de Thévenin entre a barra de referência e a barra genérica 𝑘 é igual ao elemento da
diagonal principal e linha referente à barra 𝑘 da matriz 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 do circuito.

Agora, será verificado o processo de obtenção do parâmetro de impedância nos casos em que há
mais de dois pontos de interesse. Considere o circuito da Figura 5-1 com a inserção de duas fontes
de corrente: fonte 𝐼𝑓 entre a barra 1 e a barra de referência; e fonte 𝐼𝑓′ entre a barra 3 e a barra de
referência (faltas simultâneas). O vetor de tensões após a inclusão das fontes é dado pela expressão
matricial:

𝑉1 𝑉10 𝑍1,1 𝑍1,2 𝑍1,3 𝐼𝑓


0
[𝑉2 ] = [𝑉2 ] + [𝑍2,1 𝑍2,2 𝑍2,3 ] [ 0 ] (5.12)
𝑉3 𝑉30 𝑍3,1 𝑍3,2 𝑍3,3 𝐼𝑓′

Portanto:

𝑉 𝑉0 𝑍1,1 𝑍1,3 𝐼𝑓
[ 1 ] = [ 10 ] + [ ][ ] (5.13)
𝑉3 𝑉3 𝑍3,1 𝑍3,3 𝐼𝑓′

Adicionando e subtraindo 𝑍1,3 𝐼𝑓 na primeira linha e adicionando e subtraindo 𝑍3,1 𝐼𝑓′ na segunda
linha, temos:

PUC-RJ - DEE - 39 - Análise de Sistemas Elétricos I


Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

𝑉1 = 𝑉10 + (𝑍1,1 − 𝑍1,3 )𝐼𝑓 + 𝑍1,3 (𝐼𝑓 + 𝐼𝑓′ )


(5.14)
𝑉3 = 𝑉30 + 𝑍3,1 (𝐼𝑓 + 𝐼𝑓′ ) + (𝑍3,3 − 𝑍3,1 )𝐼𝑓′

As expressões acima são equivalentes ao circuito da Figura 5-6.

Figura 5-6 - Circuito equivalente de Thévenin sob o ponto de vista de três terminais com duas
fontes de corrente

A parte envolvida por linhas tracejadas na Figura 5-6 corresponde ao circuito equivalente de
Thévenin do circuito da Figura 5-1 sob a ótica de três pontos. Por conseguinte:

𝑍1,1 𝑍1,3
[𝑍𝑡ℎ𝑣 ] = [ ] (5.15)
𝑍3,1 𝑍3,3
𝑉0
[𝑉𝑡ℎ𝑣 ] = [ 10 ] (5.16)
𝑉3

A expressão (5.15) mostra que a matriz de impedâncias de Thévenin pode ser construída extraindo-
se da matriz 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 apenas os elementos associados aos pontos de interesse, conforme propriedade
desta matriz vista em Matrizes de Representação de Redes.

O procedimento para obtenção dos parâmetros de Thévenin é igual para circuitos trifásicos, com a
exceção do fato de que os pontos de interesse deixam de ser barras (as quais em circuitos
monofásicos coincidem com nós) e passam a ser os nós das fases das barras de interesse.

PUC-RJ - DEE - 40 - Análise de Sistemas Elétricos I


Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

5.1.3 Teorema de Norton

O teorema de Norton afirma que sob o ponto de vista de um número arbitrário de terminais de
interesse, qualquer circuito contendo somente elementos lineares pode ser substituído por uma fonte
de corrente e uma impedância em paralelo.

Figura 5-7 - Equivalência entre circuito de elementos lineares e circuito de Norton entre dois
pontos

Se um circuito genérico de elementos lineares pode ser representando tanto por um circuito de
Thévenin quanto por um de Norton, então os parâmetros destes dois últimos devem possuir uma
relação. Através da Figura 5-5 e da Figura 5-7, é fácil verificar que:
−1
𝑍𝑡ℎ𝑣 = 𝑍𝑛𝑜𝑟 = 𝑌𝑛𝑜𝑟 (5.17)
𝑉𝑡ℎ𝑣 = 𝑍𝑡ℎ𝑣 . 𝐼𝑛𝑜𝑟 (5.18)

Para os casos de mais de duas barras de interesse, têm-se as seguintes expressões matriciais:

[𝑍𝑡ℎ𝑣 ] = [𝑍𝑛𝑜𝑟 ] = [𝑌𝑛𝑜𝑟 ]−1 (5.19)


[𝑉𝑡ℎ𝑣 ] = [𝑍𝑡ℎ𝑣 ] . [𝐼𝑛𝑜𝑟 ] (5.20)

Logo, para obter a matriz admitância de Norton, basta adotar os mesmos critérios utilizados para a
obtenção da matriz impedância de Thévenin e invertê-la.

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5.2 Componentes Simétricas

Em um trabalho de 1918, Charles LeGeyt Fortescue demonstrou que cada fasor de um conjunto de
𝑛 fasores desiquilibrados poderia ser expresso pela soma de 𝑛 fasores, cada qual pertencente a um
de 𝑛 sistemas de fasores equilibrados de sequências de fase distintas e simétricas.

Considere 𝐹1 , 𝐹2 , 𝐹3 , … , 𝐹𝑛 um conjunto de 𝑛 fasores arbitrários. Matematicamente, o teorema de


Fortescue, mais conhecido como método das componentes simétricas, expressa que:

(0) (1) (2) (𝑛−1)


𝐹1 𝐹1 𝐹1 𝐹1 𝐹1
(0) (1) (2) (𝑛−1)
𝐹2 𝐹2 𝐹2 𝐹2 𝐹2
⋮ ⋮ ⋮ ⋮ ⋮
𝐹𝑖 = 𝐹 (0) + 𝐹 (1) + 𝐹 (2) + ⋯ + 𝐹 (𝑛−1) (5.21)
𝑖 𝑖 𝑖 𝑖

⋮ ⋮ ⋮ ⋮
[𝐹𝑛 ] (0) (1) (2) (𝑛−1)
[𝐹𝑛 ] [𝐹𝑛 ] [𝐹𝑛 ] [𝐹𝑛 ]

(𝑖) (𝑖) (𝑖) (𝑖)


Onde {𝐹1 , 𝐹2 , 𝐹3 , … , 𝐹𝑛 } é o i-ésimo conjunto de fasores equilibrados para o qual vale a
(𝑖) (𝑖)
igualdade arg(𝐹𝑘+1 ) − arg(𝐹𝑘 ) = 2𝜋i/n para todo 𝑘 tal que 1 < 𝑘 ≤ 𝑛 − 1. Note então que os
(0)
fasores 𝐹𝑘 estão em fase.

A importância do teorema, para o cálculo de curto-circuito, reside no fato de que grandezas elétricas
de um circuito elétrico linear desiquilibrado de 𝑛 fases podem ser obtidas, alternativamente, através
de um conjunto de 𝑛 circuitos monofásicos, simplificando consideravelmente as operações.

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5.2.1 Teorema Aplicado a Sistemas Trifásicos

A Figura 5-8 ilustra a aplicação do teorema de Fortescue a tensões trifásicas desbalanceadas.

Figura 5-8 – Tensões trifásicas desbalanceadas e suas componentes simétricas: (a) tensões
desbalanceadas instantâneas e os respectivos fasores; (b) fasores de sequ. Positiva balanceados;
(c) fasores de sequeência negativa balanceados e (d) fasores de sequência zero.

Em circuitos elétricos de três fases, pelo método das componentes simétricas, as tensões de fase de
uma barra 𝑉𝑎 , 𝑉𝑏 e 𝑉𝑐 podem ser decompostas em três sistemas (sequências) de fasores equilibrados,
conforme é mostrado abaixo:

(0) (1) (2)


𝑉𝑎 = 𝑉𝑎 + 𝑉𝑎 + 𝑉𝑎
{𝑉𝑏 = 𝑉𝑏(0) + 𝑉𝑏(1) + 𝑉𝑏(2) (5.22)
(0) (1) (2)
𝑉𝑐 = 𝑉𝑐 + 𝑉𝑐 + 𝑉𝑐

Os fasores com sobrescrito 0, 1 e 2 são, respectivamente, os fasores de sequência zero (em fase),
positiva (2𝜋/3 → 120𝑜 ) e negativa (4𝜋/3 → 240𝑜 ).

Considere um operador a, o qual defasa um fasor em 120° no sentido anti-horário. Temos que:

𝑎 = 1,0 ∟ 120° (5.23)

Da definição do operador a, é possível calcular os valores de certas potências de 𝑎:

𝑎2 = 1,0 ∟ 240° (5.24)

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𝑎−1 = 1,0 ∟ − 120° = 1,0 ∟ 240° = 𝑎2 (5.25)


𝑎 −2 = 1,0 ∟ − 240° = 1,0 ∟ 120° = 𝑎 (5.26)

Utilizando o operador a e a definição de componentes simétricos (Equação (5.21)), podemos


relacionar os fasores de cada sequência:

(0) (0) (0)


𝑉𝑎 = 𝑉𝑏 = 𝑉𝑐 (5.27)
(1) (1) (1)
𝑉𝑎 = 𝑎𝑉𝑏 = 𝑎2 𝑉𝑐 (5.28)
(2) (2) (2)
𝑉𝑎 = 𝑎2 𝑉𝑏 = 𝑎𝑉𝑐 (5.29)

Através das expressões (5.23) a (5.29), podemos reescrever o sistema (5.22) da seguinte maneira:

(0) (1) (2)


𝑉𝑎 = 𝑉𝑎 + 𝑉𝑎 + 𝑉𝑎
{𝑉𝑏 = 𝑉𝑎(0) + 𝑎2 𝑉𝑎(1) + 𝑎𝑉𝑎(2) (5.30)
(0) (1) (2)
𝑉𝑐 = 𝑉𝑎 + 𝑎𝑉𝑎 + 𝑎2 𝑉𝑎

Reescrevendo as expressões acima em termos matriciais, temos:

(0)
𝑉𝑎 1 1 1 𝑉𝑎
[𝑉𝑏 ] = [1 𝑎2 𝑎 ] [𝑉𝑎(1) ] (5.31)
𝑉𝑐 1 𝑎 𝑎2 𝑉 (2)
𝑎

A matriz que permite o cálculo direto (apenas multiplicação entre matrizes) dos fasores de fase a
partir dos fasores de sequência é chamada de 𝑇. Portanto:

1 1 1
[𝑇] = [1 𝑎2 𝑎] (5.32)
1 𝑎 𝑎2

O vetor de tensões de uma barra no domínio das fases será referido como 𝑉 (𝑎𝑏𝑐) , enquanto o vetor
de tensões no domínio das sequência será referido como 𝑉 (012) . Logo, a expressão (5.31) pode ser
reescrita da seguinte maneira:

[𝑉 (𝑎𝑏𝑐) ] = [𝑇][𝑉 (012) ] (5.33)

A inversa de 𝑇, a qual permite o cálculo direto dos fasores de sequência a partir dos fasores de fase,
é dada pela expressão:

−1
1 1 1 1
[𝑇 ] = [1 𝑎 𝑎2 ] (5.34)
3
1 𝑎2 𝑎

Por fim, é importante ressaltar que as relações estabelecidas para as tensões de fase também podem
ser utilizadas para as correntes de fase, ou seja,

[𝐼 (𝑎𝑏𝑐) ] = [𝑇][𝐼 (012) ] (5.35)

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5.3 Modelos de Equipamentos em Sequência de Fase

Em todos os casos de curtos-circuitos, com exceções dos trifásicos, as correntes e tensões são
assimétricas, o que torna o uso das componentes simétricas (Seção 5.2) atraente, pois o cálculo de
um sistema trifásico assimétrico pode ser desmembrado em três sistemas simétricos.

Logo, as impedâncias do circuito em análise devem estar representadas no domínio de sequência.


Aplicando-se a transformação (5.33) a um circuito trifásico, temos em forma matricial.

[𝑉 (𝑎𝑏𝑐) ] = [𝑇][𝑉 (012) ] = [𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝐼 (𝑎𝑏𝑐) ] = [𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝑇][𝐼 (012) ] (5.36)
ou
[𝑉 (012) ] = [𝑇]−1 [𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝑇][𝐼 (012) ] = [𝑍 (012) ][𝐼 (012) ] (5.37)

Ou seja, para encontrarmos as impedâncias no domínio de sequência aplicamos a seguinte


transformação.

[𝑍 (012) ] = [𝑇]−1 [𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝑇] (5.38)

Podemos obter também a matriz de admitâncias de barra no domínio de sequência a partir da matriz
de impedância de barra neste domínio via inversão.
−1
[𝑌 (012) ] = [𝑍 (012) ] (5.39)

O interesse nesta formulação vem do fato de que, na prática, estas duas matrizes são diagonais, o
que facilita muito a análise do sistema, pois podem ser dividias em três matrizes menores e
(0) (1) (2)
independentes, por exemplo, 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 , 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 e 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 .

(012)
As matrizes 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 de um sistema de 𝑛 barras podem ser construídas através da formação de três
matrizes de ordem 𝑛, uma para cada sequência, com todos os seus elementos inicialmente nulos.

Entretanto, para a montagem das matrizes 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 e 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 , é necessário o conhecimento sobre
modelagem básica dos componentes elétricos no domínio de sequência, o que será visto a seguir.

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5.3.1 Geradores

Considere geradores conectados em estrela aterrado e acoplados à barra genérica 𝑖, conforme Figura
5-9.

Figura 5-9 - Geradores conectados em Estrela aterrada

As relações entre valores de tensão e correntes são expressas abaixo:

𝑉𝑎 𝐸𝑎 𝑧 0 0 𝐼𝑎 𝑧𝑛
[𝑉𝑏 ] = [𝐸𝑏 ] − [0 𝑧 0] [𝐼𝑏 ] − [𝑧𝑛 ] 𝐼𝑛 (5.40)
𝑉𝑐 𝐸𝑐 0 0 𝑧 𝐼𝑐 𝑧𝑛

Daí:

𝐸𝑎 𝑧𝑛
[𝑇][𝑉 (012)
] = [𝐸𝑏 ] − 𝑍. [𝑇][𝐼 (012)
] − [𝑧𝑛 ] 𝐼𝑛
𝐸𝑐 𝑧𝑛

Multiplicando ambos os membros à esquerda por T-1, obtém-se:

𝐸𝑎 𝑧𝑛
[𝑇 −1 ][𝑇][𝑉 (012) ] = [𝑇 −1 ] [𝐸𝑏 ] − [𝑇 −1 ]. 𝑍. [𝑇][𝐼 (012) ] − [𝑇 −1 ] [𝑧𝑛 ] 𝐼𝑛
𝐸𝑐 𝑧𝑛
0 𝑧𝑛
[𝑉 (012) ] = [𝐸𝑎 ] − 𝑍. [𝑇 −1 ]. [𝑇][𝐼 (012) ] − [ 0 ] 𝐼𝑛
0 0

Da Figura 5-9 e do teorema de componentes simétricos, tem-se:

𝐼𝑛 = 𝐼𝑎 + 𝐼𝑏 + 𝐼𝑐 = 3𝐼 (0) (5.41)

Logo:

0 𝑧 + 3𝑧𝑛 0 0
(012)
[𝑉 ] = [𝐸𝑎 ] − [ 0 𝑧 0] [𝐼 (012) ] (5.42)
0 0 0 𝑧

A expressão acima equivale aos circuitos mostrados abaixo:

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

Figura 5-10 Circuitos de sequência positiva, negativa e zero de um gerador síncrono.

Onde:

𝑍 (0) = 𝑧 + 3𝑧𝑛
{ 𝑍 (1) = 𝑧 (5.43)
𝑍 (2) = 𝑧

Portanto, para incluir na rede um gerador conectado à barra, as seguintes operações devem ser
realizadas nas matrizes 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 :

(0) −1
𝑌𝑖,𝑖′ = 𝑌𝑖,𝑖 (0) + 𝑍 (0)
(1) −1
𝑌𝑖,𝑖′ = 𝑌𝑖,𝑖 (1) + 𝑍 (1) (5.44)
(2) (2) (2) −1
𝑌𝑖,𝑖′ = 𝑌𝑖,𝑖 +𝑍

Para geradores conectados em Estrela não aterrada ou em Delta, os circuitos de sequência positiva
e negativa são iguais, enquanto que o de sequência zero é um ramo aberto. Portanto, para as ligações
(0)
dos tipos Estrela não aterrada ou Delta, não há alteração dos elementos da matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 .

5.3.2 Linhas de Transmissão


Em cálculos de curto-circuito, é normalmente utilizado o modelo de linha curta, representado
apenas por parâmetros série, os quais são resistência — normalmente desprezada em cálculos de
falta — e uma reatância. A capacitância shunt da linha é normalmente desprezada, mas pode ser
facilmente incluída na diagonal das matrizes de admitância de barras.

Considere uma linha de transmissão curta idealmente transposta conectada a barras genéricas 𝑖 e 𝑗,
de impedância própria (para cada fase) 𝑍𝑝 e impedância mútua entre as fases 𝑍𝑚 , cuja representação
é exibida na Figura 5-11:

Figura 5-11 Modelo de linha de transmissão curta idealmente transposta

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

Na forma matricial, temos a seguinte relação entre valores de tensão e corrente:

𝑉𝑎 − 𝑉𝑎′ 𝑉𝑎𝑎′ 𝑍𝑝 𝑍𝑚 𝑍𝑚 𝐼𝑎
[𝑉𝑏 − 𝑉𝑏′ ] = [𝑉𝑏𝑏′ ] = [𝑍𝑚 𝑍𝑝 𝑍𝑚 ] [𝐼𝑏 ] (5.45)
𝑉𝑐 − 𝑉𝑐′ 𝑉𝑐𝑐′ 𝑍𝑚 𝑍𝑚 𝑍𝑝 𝐼𝑐

Ou:

[𝑉 (𝑎𝑏𝑐) ] = [𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝐼 (𝑎𝑏𝑐) ]


[𝑇 −1 ][𝑉 (012) ] = [𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝑇 −1 ][𝐼 (012) ]
[𝑉 (012) ] = [𝑇][𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝑇 −1 ][𝐼 (012) ]

Conclui-se então que:

[𝑍 (012) ] = [𝑇][𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝑇 −1 ] (5.46)

Assim:

1 1 1 𝑍𝑝 𝑍𝑚 𝑍𝑚
1 1 1 1
(012)
[𝑍 ] = [1 𝑎 2 𝑎 ] [𝑍𝑚 𝑍𝑝 𝑍𝑚 ] [1 𝑎 𝑎2 ] (5.47)
3
1 𝑎 𝑎2 𝑍𝑚 𝑍𝑚 𝑍𝑝 1 𝑎2 𝑎

Do qual resulta:

𝑍𝑝 + 2𝑍𝑚 0 0
(012) 0 𝑍𝑝 − 𝑍𝑚 0 ] [𝐼 (012) ]
[𝑉 ]=[ (5.48)
0 0 𝑍𝑝 − 𝑍𝑚

Portanto, os circuitos de sequência devem ser representados na Figura 5-12:

Figura 5-12 - Circuitos de sequência positiva, negativa e zero de uma linha de transmissão curta
idealmente transposta.

Onde:

𝑍 (0) = 𝑍𝑝 + 2𝑍𝑚
{ 𝑍 (1) = 𝑍𝑝 − 𝑍𝑚 (5.49)
𝑍 (2) = 𝑍𝑝 − 𝑍𝑚

(0)
Para a matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 , têm-se as seguintes operações:

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

(0) −1

𝑌𝑖,𝑗 = 𝑌𝑖,𝑗 (0) − 𝑍 (0)
(0) −1
𝑌𝑗,𝑖′ = 𝑌𝑗,𝑖 (0) − 𝑍 (0)
(0) −1 (5.50)
𝑌𝑖,𝑖′ = 𝑌𝑖,𝑖 (0) + 𝑍 (0)
(0) −1

𝑌𝑗,𝑗 = 𝑌𝑗,𝑗 (0) + 𝑍 (0)

(1) (2)
O procedimento é análogo para as matrizes 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 e 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 .

5.3.3 Transformadores
As impedâncias de sequência positiva e negativa de um transformador podem ser iguais à sua
impedância de dispersão. Então, as representações nos circuitos de sequência positiva e negativa
de um transformador de dois enrolamentos cujas barras terminais são as barras genéricas 𝑖 e 𝑗 são
exibidas na Figura 5-13. A relação de tap em geral é desprezada nas análises de curto-circuito.

Figura 5-13 - Circuitos de sequência positiva e negativa de um transformador de dois


enrolamentos.

Portanto, para inclusão do transformador, devem ser realizadas as seguintes operações na matriz de
sequência positiva:

(1) −1

𝑌𝑖,𝑗 = 𝑌𝑖,𝑗 (1) − 𝑍 (1)
(1) −1
𝑌𝑗,𝑖′ = 𝑌𝑗,𝑖 (1) − 𝑍 (1)
(1) −1 (5.51)
𝑌𝑖,𝑖′ = 𝑌𝑖,𝑖 (1) + 𝑍 (1)
(1) −1

𝑌𝑗,𝑗 = 𝑌𝑗,𝑗 (1) + 𝑍 (1)

O procedimento é análogo para a sequência negativa.

Para a impedância de sequência zero, entretanto, varia de circuito aberto a um valor pequeno
dependendo das conexões dos enrolamentos do transformador, método de aterramento e construção
do transformador, ou seja, os tipos de núcleo. O tipo de núcleo afeta a magnitude da impedância,
mas a forma de aterramento e conexão dos enrolamentos alteram dramaticamente o circuito
equivalente de sequência zero do transformador.

A Figura 5-14 mostra os possíveis modelos de sequência zero de transformadores de dois


enrolamentos de acordo com o tipo de conexão dos enrolamentos (triângulo ou estrela) e
aterramento.

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

Figura 5-14 - Circuitos de sequência zero de um gerador de acordo com o tipo de conexão dos
enrolamentos

Inspecionando-se a Figura 5-14, verifica-se que apenas as ligações Estrela aterrada – Estrela
aterrada e Estrela aterrada – Delta necessitam de representação no circuito de sequência zero. Nas
demais configurações, temos ramos abertos, os quais não alteram o circuito.

Se a ligação de ambos os enrolamentos for Estrela aterrada, tem-se:

(0) −1

𝑌𝑖,𝑗 = 𝑌𝑖,𝑗 (0) − 𝑍 (0)
(0) −1
𝑌𝑗,𝑖′ = 𝑌𝑗,𝑖 (0) − 𝑍 (0)
(0) −1 (5.52)
𝑌𝑖,𝑖′ = 𝑌𝑖,𝑖 (0) + 𝑍 (0)
(0) −1

𝑌𝑗,𝑗 = 𝑌𝑗,𝑗 (0) + 𝑍 (0)

Para ligações Estrela aterrado – Delta, tem-se:

(0) −1
𝑌𝑖,𝑖′ = 𝑌𝑖,𝑖 (0) + 𝑍 (0) (5.53)

5.3.4 Cargas
Os circuitos de sequência de cargas de impedância constante são iguais aos do gerador, com exceção
do circuito de sequência positiva, no qual não temos uma fonte de tensão. Ademais, assim como o
gerador, as cargas não possuem ramos no circuito zero em ligações Delta e Estrela não aterrada.

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5.4 Cálculo de Curto-Circuito


A vantagem significativa da teoria das componentes simétricas é que esta resulta em um método
matemático que nos permite decompor um sistema trifásico complexo e desbalanceado durante um
curto-circuito em três conjuntos de equações separadas. Os conjuntos de correntes e tensões em
sequência positiva, negativa e zero são, cada um, calculados pelos circuitos de mesma sequência,
ou seja, no mesmo eixo de referência de sequência. As sequências de correntes e tensões são então
facilmente transformadas de volta ao eixo de referência de fase. Entretanto, a criação dos três
circuitos de sequência monofásicos e desacoplados é baseada na suposição que o sistema trifásico
original (sem defeito) é perfeitamente balanceado. Na realidade, isto não acontece. Todavia, a
suposição de ser balanceado é razoável, tendo em vista que as diferenças entre grandezas das fases
são suficientemente pequenas. Atualmente, a maioria dos aplicativos de análise de curto-circuito
fazem os cálculos via referência de sequência e convertem os resultados para referência de fase nos
estágios final dos cálculos.

5.4.1 Métodos para Cálculo de Faltas Simples


Como visto na Seção (5.1.2), a análise de uma falta utilizando o princípio da superposição é feita
com base no circuito equivalente de Thévenin do sistema. Então, o primeiro passo necessário é
calcular este circuito. Para pequenos sistemas, isto pode ser feito manualmente com relativa
facilidade, mas para sistemas de médio e grande porte métodos computacionais são necessários.

A partir dos circuitos equivalentes em sequência, pode-se facilmente derivar as expressões para
cálculo de correntes e tensões de faltas simples, usando-se o princípio da superposição, como segue.

Suponha uma falta na barra k de um sistema equilibrado trifásico arbitrário na qual:

• 𝐼𝑓𝑎 , 𝐼𝑓𝑎 e 𝐼𝑓𝑎 são as correntes que saem do sistema durante a falta através das fases a, b e c
respectivamente;
(0) (1) (2)
• 𝐼𝑓𝑎 , 𝐼𝑓𝑎 e 𝐼𝑓𝑎 são, respectivamente, as componentes zero, positiva e negativa das correntes
de falta;
(0) (1) (2)
• 𝑉𝑘𝑎 , 𝑉𝑘𝑎 e 𝑉𝑘𝑎 são, respectivamente, as componentes zero, positiva e negativa das tensões
na barra k durante a falta;
• 𝑉𝑓 é a tensão na fase a da barra k antes da falta.

Figura 5-15- Correntes de Falta

Pelo princípio da superposição e pelo teorema de Thévenin (Equação (5.7)), valem as seguintes
expressões paras as componentes de tensão da barra k:

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

(0) (0) (0) (0)


𝑉𝑘𝑎 = 𝑉𝑘𝑎𝑝𝑟é−𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 + ∆𝑉 (0) = 0 − 𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎
(1) (1) (1) (1)
𝑉𝑘𝑎 = 𝑉𝑘𝑎𝑝𝑟é−𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 + ∆𝑉 (1) = 𝑉𝑓 − 𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎 (5.54)
(2) (2) (2) (2)
𝑉𝑘𝑎 = 𝑉𝑘𝑎𝑝𝑟é−𝑓𝑎𝑙𝑡𝑎 + ∆𝑉 (2) = 0 − 𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎

Pelo teorema dos componentes simétricos, valem as seguintes expressões:

(0)
𝐼𝑓𝑎
1 1 1 1 𝐼𝑓𝑎
(1)
𝐼𝑓𝑎 = [1 𝑎 𝑎2 ] [𝐼𝑓𝑏 ] (5.55)
3
(2) 1 𝑎2 𝑎 𝐼𝑓𝑐
[𝐼𝑓𝑎 ]
(0)
𝐼𝑓𝑎 𝐼
1 1 1 𝑓𝑎
(1)
𝐼
[ 𝑓𝑏 ] = [1 𝑎2 𝑎 ] 𝐼𝑓𝑎 (5.56)
𝐼𝑓𝑐 1 𝑎 𝑎2 (2)
[𝐼𝑓𝑎 ]
(0)
𝑉𝑘𝑎 1 𝑉𝑘𝑎
(1) 1 1 1
[𝑉𝑘𝑎 ] = [1 𝑎 𝑎2 ] [𝑉𝑘𝑏 ] (5.57)
3
(2) 1 𝑎2 𝑎 𝑉𝑘𝑐
𝑉𝑘𝑎
(0)
𝑉𝑘𝑎 1 1 1 𝑉𝑘𝑎
(1)
[𝑉𝑘𝑏 ] = [1 𝑎2 𝑎 ] [𝑉𝑘𝑎 ] (5.58)
𝑉𝑘𝑐 1 𝑎 𝑎2 (2)
𝑉𝑘𝑎

Os valores das variáveis de falta são obtidos através da combinação das Equações (5.54) a (5.58)
com as condições do tipo de falta analisado.

Exemplo 1: Curto-circuito monofásico através de impedância 𝑍𝑓 na fase a.

Figura 5-16 Curto monofásico

Além das Equações (5.54) a (5.58), temos as seguintes condições para esta falta em particular:

𝐼𝑓𝑏 = 0; 𝐼𝑓𝑐 = 0; 𝑉𝑘𝑎 = 𝑍𝑓 ∙ 𝐼𝑓𝑎 (5.59)

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

De (5.55) e (5.59), temos:


(0)
𝐼𝑓𝑎
1 1 1 1 𝐼𝑓𝑎
(1)
𝐼𝑓𝑎 = [1 𝑎 𝑎2 ] [ 0 ] (5.60)
3
(2) 1 𝑎2 𝑎 0
[𝐼𝑓𝑎 ]
Do qual resulta:

(0) (1) (2) 𝐼𝑓𝑎


𝐼𝑓𝑎 = 𝐼𝑓𝑎 = 𝐼𝑓𝑎 = (5.61)
3

Daí a equação (5.54) pode ser reescrita da seguinte maneira:

(0) (0) (0)


𝑉𝑘𝑎 = −𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎
(1) (1) (0)
𝑉𝑘𝑎 = 𝑉𝑓 − 𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎 (5.62)
(2) (2) (0)
𝑉𝑘𝑎 = −𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎
{
De (5.58), (5.59), (5.61) e (5.62), temos:

(0) (1) (2) (0) (1) (2) (0) (0)


𝑉𝑘𝑎 = 𝑉𝑘𝑎 + 𝑉𝑘𝑎 + 𝑉𝑘𝑎 = 𝑉𝑓 − (𝑍𝑘𝑘 + 𝑍𝑘𝑘 + 𝑍𝑘𝑘 )𝐼𝑓𝑎 = 3𝑍𝑓 𝐼𝑓𝑎 (5.63)

(0)
Resolvendo para 𝐼𝑓𝑎 , temos:

(0) (1) (2) 𝑉𝑓


𝐼𝑓𝑎 = 𝐼𝑓𝑎 = 𝐼𝑓𝑎 = (0) (1) (2) (5.64)
𝑍𝑘𝑘 + 𝑍𝑘𝑘 + 𝑍𝑘𝑘 + 3𝑍𝑓

(0)
Com o valor de 𝐼𝑓𝑎 , é possível calcular facilmente as demais variáveis.

Através da análise das Equações (5.54) e (5.64), nota-se que o circuito da Figura (5.56) satisfaz tais
equações, portanto elas podem ser obtidas através dos circuitos de sequência conectados em série.

Figura 5-17 - Conexões do circuito de sequência em uma falta fase-terra

Exemplo 2: Curto-circuito entre as fases b e c através de impedância 𝑍𝑓 , Figura 5-18.

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

Neste caso, faz-se 𝐼𝑓𝑎 = 0, 𝐼𝑓𝑏 = −𝐼𝑓𝑐 , e 𝑉𝑘𝑏 − 𝑉𝑘𝑐 = 𝐼𝑓𝑏 𝑍𝑓 , o que resulta na seguinte corrente de
falta.

Figura 5-18 – Falta entre duas fases.

De (5.55)
(0)
𝐼𝑓𝑎 0
(1) 1 1 1 1
2 ] [−𝐼𝑓𝑐 ]
𝐼𝑓𝑎 = [1 𝑎 𝑎
3
(2) 1 𝑎2 𝑎 𝐼𝑓𝑐
[𝐼𝑓𝑎 ]
(0)
𝐼𝑓𝑎 = 0
(1) (2) 1
𝐼𝑓𝑎 = −𝐼𝑓𝑎 = 𝐼𝑓𝑏
√3
De (5.4)
(0)
𝑉𝑘𝑎 = 0
(1) (1) (1)
𝑉𝑘𝑎 = 𝑉𝑓 − 𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎
(2) (2) (1)
{ 𝑉𝑘𝑎 = 𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎

Então, considerando 𝑉𝑘𝑏 − 𝑉𝑘𝑐 = 𝐼𝑓𝑏 𝑍𝑓

(1) (2) (1) (2) (1)


𝑉𝑘𝑏 − 𝑉𝑘𝑐 = 𝑎𝑉𝑘𝑎 + 𝑎2 𝑉𝑘𝑎 − 𝑎2 𝑉𝑘𝑎 − 𝑎𝑉𝑘𝑎 = √3𝐼𝑓𝑎 𝑍𝑓 = 𝐼𝑓𝑏 𝑍𝑓
(1) (2) (1)
(𝑎 − 𝑎2 )𝑉𝑘𝑎 + (𝑎2 − 𝑎)𝑉𝑘𝑎 = √3𝐼𝑓𝑎 𝑍𝑓
(1) (2) (1)
√3𝑉𝑘𝑎 − √3𝑉𝑘𝑎 = √3𝐼𝑓𝑎 𝑍𝑓
(1) (1) (2) (1) (1)
√3(𝑉𝑓 − 𝑍𝑘𝑘 )𝐼𝑓𝑎 − √3𝑍𝑘𝑘 𝐼𝑓𝑎 = √3𝐼𝑓𝑎 𝑍𝑓
(1) (1) (2)
√3𝑉𝑓 = √3𝐼𝑓𝑎 (𝑍𝑓 + 𝑍𝑘𝑘 + 𝑍𝑘𝑘 )

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Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

(1) (2) 𝑉𝑓
𝐼𝑓𝑎 = −𝐼𝑓𝑎 = (1) (2) (5.65)
𝑍𝑘𝑘 + 𝑍𝑘𝑘 + 𝑍𝑓

Para os demais tipos de falta também existem associações dos circuitos de sequência que permitem
a obtenção rápida das equações desejadas:

Figura 5-19 Tipos de faltas e suas respectivas associações dos circuitos de sequência.

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5.4.2 Métodos Computacionais Gerais

A dedução de fórmulas fechadas por tipo de falta é mais difícil e não flexível no caso faltas mais
complexas como, por exemplo, as que envolvem mais de uma barra. Nestes casos, em geral se
utiliza métodos computacionais genéricos, que não requerem uma fórmula específica para cada tipo
de falta. O princípio geral é o acoplamento de um circuito genérico de falta ao ponto, ou pontos,
de falta. Este princípio é descrito a seguir.

Como se supõe que os circuitos originais são equilibrados, os três circuitos de sequência são
desacoplados. Uma falta pode ser representada por um circuito como o da Figura 5-20 que é
acoplado as três fases em um ponto do sistema. Então, dependendo dos valores de 𝑍𝑓𝑙𝑡𝑎 , 𝑍𝑓𝑙𝑡𝑏 , 𝑍𝑓𝑙𝑡𝑐
e 𝑍𝑓𝑙𝑡𝑔 , as impedâncias de sequência do circuito de falta podem não ser desacopladas. Então através
do circuito de falta, as três sequências podem interagir.

Figura 5-20 - Circuito de falta.

Utilizando os teoremas da superposição, Thévenin e Norton, o procedimento padrão para o cálculo


de curto-circuito requer os seguintes passos.
(012)
1. Montagem das três matrizes 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ;
2. Calculam-se os respectivos circuitos equivalentes de Thévenin visto da barra de falta;
3. Calcula-se o circuito de falta em sequência;
4. Acoplam-se os três circuitos de sequência ao circuito de falta;
5. Calculam-se as correntes e tensões na referência sequência; e
6. Transforma estas tensões e correntes para referência de fase.

5.4.2.1 Circuitos Equivalentes em Sequência

Os circuitos equivalentes de Thévenin podem ser facilmente calculados a partir das matrizes de
sequência. Suponha que k seja o índice de uma sequência arbitrária (positiva, negativa ou zero) e
que a barra onde a falta ocorre é a barra i, que corresponda à linha 𝑖 nas matrizes 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . O cálculo
(𝑘)
da 𝑖-ésima coluna da matriz 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 é expresso pela fórmula:

−1
(𝑘) (𝑘)
[𝑧𝑖 𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ] = [𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ] . [𝑒𝑖 ] (5.66)

Onde 𝑒𝑖 é o vetor com 1 na sua 𝑖-ésima linha e 0 nas demais linhas. A impedância de Thévenin
vista por esta barra é o elemento na linha i deste vetor, ou seja, o elemento 𝑧𝑖𝑖 da matriz 𝑍𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 .

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Conforme visto, a tensão do equivalente Thévenin de sequência positiva é a tensão pré-falta no


ponto de falta, e as tensões dos equivalentes de Thévenin de sequência negativa e zero são zero.
Assim, tem-se o circuito equivalente durante a falta.

1
𝑍𝑡ℎ𝑣

1
𝑉𝑡ℎ𝑣 ~ 2
𝑍𝑡ℎ𝑣
Circuito
de
Falta em
0 Sequência
𝑍𝑡ℎ𝑣

Ref

Figura 5-21 – Acoplamento dos circuitos em sequência.

5.4.3 Circuito de Falta em Sequência

O circuito de falta, Figura 5-20, pode se modelado como segue .

𝑉𝑓𝑙𝑡𝑎 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 + 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑎 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 𝐼𝑓𝑙𝑡𝑎


[𝑉𝑓𝑙𝑡𝑏 ] = [ 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 + 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑏 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 ] [𝐼𝑓𝑙𝑡𝑏 ] (5.67)
𝑉𝑓𝑙𝑡𝑐 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑔 + 𝑧𝑓𝑙𝑡𝑐 𝐼𝑓𝑙𝑡𝑐

Removendo o subscrito flt para simplificar a notação temos

𝑉𝑎 𝑧𝑔 + 𝑧𝑎 𝑧𝑔 𝑧𝑔 𝐼𝑎
[𝑉𝑏 ] = [ 𝑧𝑔 𝑧𝑔 + 𝑧𝑏 𝑧𝑔 ] [𝐼𝑏 ] (5.68)
𝑉𝑐 𝑧𝑔 𝑧𝑔 𝑧𝑔 + 𝑧𝑐 𝐼𝑐

E a matriz de impedância de falta em fase é então definida por

𝑧𝑔 + 𝑧𝑎 𝑧𝑔 𝑧𝑔
(𝑎𝑏𝑐)
𝑍𝑓𝑙𝑡 = [ 𝑧𝑔 𝑧𝑔 + 𝑧𝑏 𝑧𝑔 ] (5.69)
𝑧𝑔 𝑧𝑔 𝑧𝑔 + 𝑧𝑐

Por exemplo, para representar uma falta monofásica para terra, fazemos 𝑧𝑎 = 0, 𝑧𝑔 = 0, 𝑧𝑏 = ∞,
𝑧𝑐 = ∞. De forma similar, representamos um curto-circuito entre duas fases (a e b) fazendo 𝑧𝑎 =
0, 𝑧𝑔 = ∞, 𝑧𝑏 = 0, 𝑧𝑐 = ∞.

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A matriz de impedância de falta em sequência é calculada usando-se a mesma transformação para


as matrizes do sistema, ((5.38), ou seja,

[𝑍 (012) ] = [𝑇]−1 [𝑍 (𝑎𝑏𝑐) ][𝑇] (5.70)

Com isto temos que

𝑧 + 𝑧𝑏 + 𝑧𝑐 + 9𝑧𝑔 𝑧𝑎 + 𝑎2 𝑧𝑏 + 𝑎𝑧𝑐 𝑧𝑎 + 𝑎𝑧𝑏 + 𝑎2 𝑧𝑐


(012) 1 𝑎
𝑍𝑓𝑙𝑡 = [ 𝑧𝑎 + 𝑎𝑧𝑏 + 𝑎2 𝑧𝑐 𝑧𝑎 + 𝑧𝑏 + 𝑧𝑐 𝑧𝑎 + 𝑎2 𝑧𝑏 + 𝑎𝑧𝑐 ] (5.71)
3
𝑧𝑎 + 𝑎2 𝑧𝑏 + 𝑎𝑧𝑐 𝑧𝑎 + 𝑎𝑧𝑏 + 𝑎2 𝑧𝑐 𝑧𝑎 + 𝑧𝑏 + 𝑧𝑐

Entretanto, como visto, para este modelo algumas impedâncias podem ser infinitas para algumas
(012)
condições de falta e o resultado é que 𝑍𝑓𝑙𝑡 se torna indefinida. Este problema pode ser resolvido
(012)
invertendo-se 𝑍𝑓𝑙𝑡 para obter a matriz de admitância de falta em sequência, como segue.

𝑦𝑔 𝑦𝑡 𝑦𝑔 𝑦𝑙 𝑦𝑔 𝑦𝑘
(012) 1
𝑌𝑓𝑙𝑡 = [𝑦𝑔 𝑦𝑘 𝑦𝑔 𝑦𝑡 + 3𝑦𝑚 𝑦𝑔 𝑦𝑙 − 3𝑦𝑛 ] (5.72)
3(𝑦𝑡 + 𝑦𝑔 ) 𝑦 𝑦 𝑦𝑔 𝑦𝑘 − 3𝑦𝑝 𝑦𝑔 𝑦𝑡 + 3𝑦𝑚
𝑔 𝑙

Onde
𝑦𝑡 = 𝑦𝑎 + 𝑦𝑏 + 𝑦𝑐
𝑦𝑙 = 𝑦𝑎 + 𝑎2 𝑦𝑏 + 𝑎𝑦𝑐
𝑦𝑘 = 𝑦𝑎 + 𝑎𝑦𝑏 + 𝑎2 𝑦𝑐
𝑦𝑚 = 𝑦𝑎 𝑦𝑏 + 𝑦𝑏 𝑦𝑐 + 𝑦𝑎 𝑦𝑐
𝑦𝑛 = 𝑦𝑏 𝑦𝑐 + 𝑎𝑦𝑎 𝑦𝑏 + 𝑎2 𝑦𝑎 𝑦𝑐
𝑦𝑝 = 𝑦𝑏 𝑦𝑐 + 𝑎2 𝑦𝑎 𝑦𝑏 + 𝑎𝑦𝑎 𝑦𝑐
1
𝑦𝑎 = 𝑍
𝑎
1
𝑦𝑏 = 𝑍
𝑏
1
𝑦𝑐 = 𝑍
𝑐
1
𝑦𝑔 = 𝑍
𝑔

Pode-se então determinar está matriz para as condições específicas para cada tipo de falta.

Curto-circuito trifásico para terra: faz-se 𝑌𝑎 = 𝑌𝑏 = 𝑌𝑐 = 𝑌, resultando em

𝑦𝑔 𝑦 0 0
(012) 1
𝑌𝑓𝑙𝑡 = [ 0 𝑦𝑔 𝑦 + 3𝑦 2 0 ] (5.73)
3𝑦 + 𝑦𝑔 2
0 0 𝑦𝑔 𝑦 + 3𝑦

Como o circuito de falta em sequência é desacoplado os três circuitos em sequência são resolvidos
separadamente. Ainda, como as tensões de Thévenin nos circuitos de sequência zero e negativa são
nulas, as correntes nestes circuitos também são nulas e somente a sequência positiva é de interesse,
como esperado.

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Curto-circuito monofásico para terra através de uma impedância: faz-se 𝑧𝑎 = 𝑧𝑓 ou 𝑌𝑎 = 1/𝑧𝑓 ,


𝑧𝑔 = 0 ou 𝑦𝑔 = ∞ e 𝑧𝑏 = 𝑧𝑐 = ∞ ou 𝑦𝑏 = 𝑦𝑐 = 0, resultando em

(012) 1 1 1 1
𝑌𝑓𝑙𝑡 = [1 1 1] (5.74)
3𝑧𝑓
1 1 1

Curto-circuito entre fases através de uma impedância: faz-se 𝑧𝑏 = 𝑧𝑐 = 𝑧𝑓 /2 ou 𝑦𝑏 = 𝑦𝑐 = 2/𝑧𝑓 ,


𝑧𝑔 = ∞ ou 𝑦𝑔 = 0 e 𝑧𝑎 = ∞ ou 𝑦𝑎 = 0, resultando em

(012) 1 0 0 0
𝑌𝑓𝑙𝑡 = [0 1 −1] (5.75)
𝑧𝑓
0 −1 1

Curto-circuito entre fases para terra através de uma impedância entre fases e para terra: faz-se 𝑧𝑏 =
𝑧𝑐 = 𝑧𝑓 ou 𝑦𝑏 = 𝑦𝑐 =/𝑧𝑓 , 𝑧𝑔 = 0 ou 𝑦𝑔 = ∞ e 𝑧𝑎 = ∞ ou 𝑦𝑎 = 0, resultando em

(012) 1 2 −1 −1
𝑌𝑓𝑙𝑡 = [−1 2 −1] (5.76)
3𝑧𝑓
−1 −1 2

5.4.3.1 Acoplamento dos Circuitos em Sequência

Dos teoremas de Norton e Thévenin, temos as seguintes equivalências (vistas através dos nós A e
R) antes da falta:

Figura 5-22 - Teoremas de Norton (esquerda) e Thévenin (direita)

Generalizando para as matrizes em sequência temos que:


−1
(012) (012)
𝑌𝑛𝑜𝑟 = [𝑍𝑡ℎ𝑣 ] (5.77)
(012) (012)
Onde 𝑌𝑛𝑜𝑟 e 𝑍𝑡ℎ𝑣 são matrizes diagonais.

(012) (012) (012)


𝑉𝑡ℎ𝑣 = 𝐼𝑡ℎ𝑣 𝑍𝑡ℎ𝑣 (5.78)
Ou
(012) (012) (012)
𝐼𝑛𝑜𝑟 = 𝑌𝑛𝑜𝑟 𝑉𝑡ℎ𝑣 (5.79)
Em um circuito simples, tem-se a situação da Figura 5-23 durante a falta.

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Figura 5-23 - Circuito após a falta

Novamente generalizando para as matrizes de sequência, a Equação (5.79), durante a falta, passa a
ter a seguinte forma:
(012) (012) (012) (012)
𝐼𝑛𝑜𝑟 = (𝑌𝑛𝑜𝑟 + 𝑌𝑓𝑙𝑡 )𝑉𝑓𝑙𝑡 (5.80)
(012) (012) (012)
Como 𝑌𝑛𝑜𝑟 e 𝑌𝑓𝑙𝑡 são conhecidas e supondo que 𝐼𝑛𝑜𝑟 também seja (por exemplo, pela
condição de fluxo de potência antes da falta), é possível obter através da Equação (5.80) as tensões
(012)
em sequência no ponto de falta (𝑉𝑓𝑙𝑡 ). Finalmente, pode-se calcular a corrente de falta:
(012) (012) (012)
𝐼𝑓𝑙𝑡 = 𝑌𝑓𝑙𝑡 ∙ 𝑉𝑓𝑙𝑡 (5.81)
Pelo princípio da superposição, pode-se obter uma maneira alternativa de cálculo da corrente de
falta:
(012) (012) (012) (012)
𝐼𝑓𝑙𝑡 = 𝑌𝑛𝑜𝑟 ∙ (𝑉𝑡ℎ𝑣 − 𝑉𝑓𝑙𝑡 ) (5.82)
Um resumo das instruções fornecidas anteriormente para cálculo de curto-circuito é fornecido a
seguir:
• Cálculo das propriedades do circuito equivalente de Thévenin (𝑉𝑡ℎ𝑣 , 𝑍𝑡ℎ𝑣 );
• Cálculo das correntes injetadas de Norton (𝐼𝑛𝑜𝑟 ) através da Equação (5.78);
• Inserção do circuito de falta nos pontos de falta, alterando a matriz de admitância de Y𝑛𝑜𝑟
para Y𝑛𝑜𝑟 + Y𝑓𝑙𝑡 ;
• Cálculo das tensões nos pontos de falta (𝑉𝑓𝑙𝑡 ) com o auxílio de (5.80);
• Cálculo das correntes de falta (𝐼𝑓𝑙𝑡 ) com o auxílio de (5.82).

5.4.3.2 Tensões no Sistema Durante a Falta


Conhecidas as correntes de falta, determinam-se as variações das tensões de sequência em todas as
barras do sistema com o auxílio das expressões a seguir:

(0) (0)
𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . ∆𝑉 (0) = −𝐼𝑓𝑙𝑡 (5.83)
(1) (1)
𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . ∆𝑉 (1) = −𝐼𝑓𝑙𝑡 (5.84)
(2) (2)
𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 . ∆𝑉 (2) = −𝐼𝑓𝑙𝑡 (5.85)

(𝑘)
Onde −𝐼𝑓𝑙𝑡 é o vetor de injeções de corrente de falta. O elemento deste vetor na barra de falta é
calculado pela equação (5.81) ou (5.82) e os demais elementos são nulos.

As tensões de fase de uma barra 𝑖 após a ocorrência de um curto podem ser calculadas com o auxílio
do princípio da superposição:
(𝑎𝑏𝑐) ∗ (𝑎𝑏𝑐) (012)
𝑉𝑖 = 𝑉𝑖 + 𝑇. ∆𝑉𝑖 (5.86)

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5.4.3.3 Singularidades na Matriz 𝒀𝒃𝒂𝒓𝒓𝒂 de Sequência Zero


Nas seções anteriores deste capítulo, mostrou-se como cada componente do sistema é representado
nos circuitos de sequência. No entanto, os passos mostrados são insuficientes para operações com
(0)
a matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 , que tem uma característica peculiar: como alguns componentes não possuem
representação no circuito de sequência zero, a matriz pode possuir mais elementos nulos do que as
(1) (2)
matrizes 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 e 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 .

Defina um grupo isolado de barras como sendo um conjunto de barras no qual há ao menos um
caminho entre duas barras arbitrárias desse conjunto (ou seja, a impedância equivalente entre duas
barras quaisquer do grupo possui valor finito) e não há caminho entre as barras do conjunto e a
barra de referência ou outra barra do sistema.

Em virtude da característica do circuito zero, existe a possibilidade de presença, no circuito zero,


de um ou mais grupos isolados. Na Figura 5-24 temos um exemplo de circuito zero nestas
condições.

Figura 5-24 - Circuito zero com um grupo isolado, que consiste nas barras 4 e 5

(0)
Para a matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 ser singular, é condição suficiente haver uma só barra sem caminho para a
(0)
barra de referência. No caso de um grupo isolado de uma só barra, temos uma linha na matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎
com apenas elementos nulos. Já nos casos em que há um grupo isolado de mais de uma barra, temos
linhas dependentes (as barras 4 e 5 da figura anterior consistem em um grupo isolado).

Como visto em Matrizes de Representação de Redes, para o grupo isolado de barras, dado um vetor
de injeção de correntes, temos infinitos conjuntos possíveis de vetores de tensão para as barras do
(0)
grupo. Logo, 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 deve ser uma matriz singular.

(0)
O problema de singularidade da matriz 𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 pode ser facilmente contornado através da conexão
de uma impedância fictícia de módulo alto (por exemplo, |𝑍| = 107 Ω) entre a barra de referência
e uma barra de cada grupo isolado. Desta forma, o número mínimo de impedâncias fictícias
necessárias é igual ao número de grupos isolados.

A inserção das impedâncias fictícias pode ser realizada logo após o término de construção da matriz
(0)
𝑌𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎 , momento no qual é possível inspecionar quais as barras que não possuem caminho para a
terra. A busca pelos grupos isolados pode ser realizada por algoritmos de teoria de grafos, tais como
a “busca em largura”.

A Figura 5-25 ilustra o processo de inserção de impedância fictícia.

PUC-RJ - DEE - 62 - Análise de Sistemas Elétricos I


Componentes Simétricas e Análise de Curto-Circuito

Figura 5-25 - Circuito da Figura 9 após a inserção de uma impedância fictícia

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Fluxo de Potência

6 Fluxo de Potência
O cálculo de fluxos de potência é basicamente o de satisfazer a lei de Kirchhoff de Correntes para
todos os nós (barras) do sistema elétrico. Em termos das equações de potência, isto significa que a
potência gerada menos a carga em cada barra tem que ser igual à potência fluindo pelos ramos
conectados à barra.

Considere uma barra da rede conforme mostrado na Figura 6-1. A injeção líquida na barra, 𝐼𝑘 , está
relacionada à corrente fluindo nos ramos incidentes na barra, conforme a lei de Kirchhoff.

𝐼𝑘 + 𝐼𝑘𝑠ℎ = ∑ 𝐼𝑘𝑚 (6.1)


𝑚∈Ω
Onde 𝐼𝑘𝑚 = 𝑌̅𝑘𝑚 (𝑉̅𝑘 − 𝑉̅𝑚 ) = (𝑔𝑘𝑚 + 𝑗𝑏𝑘𝑚 )(|𝑉𝑘 |/𝜃𝑘 − |𝑉𝑚 |/𝜃𝑚 )

Onde Ω é o conjunto de barras conectadas a barra k através de um ramo.

Figura 6-1 – Injeção de corrente na barra.

De forma similar, a potência conjugada injetada na barra é dada por 𝑆𝑘∗ = 𝑃𝑘 − 𝑗𝑄𝑘 = 𝐸𝑘∗ 𝐼𝑘 ou

(6.2)
𝑃𝑘 = 𝑃𝑘𝑠ℎ + ∑ 𝑃𝑘𝑚
𝑚∈Ω
𝑄𝑘 = 𝑄𝑘𝑠ℎ + ∑ 𝑄𝑘𝑚 (6.3)
𝑚∈Ω
Na prática, ((6.2) e ((6.3), são expressas em termos da geração e carga conectadas à barra, ou seja,
0 = −𝑃𝑔𝑘 + 𝑃𝑙𝑘 + ∑ 𝑃𝑘𝑚 = −𝑃𝑔𝑘 + 𝑃𝑙𝑘 + 𝑃𝑒𝑘 (6.4)
𝑚∈Ω
0 = −𝑄𝑔𝑘 + 𝑄𝑙𝑘 + ∑ 𝑄𝑘𝑚 = −𝑄𝑔𝑘 + 𝑄𝑙𝑘 + 𝑄𝑒𝑘 (6.5)
𝑚∈Ω
Onde 𝑃𝑔𝑘 (𝑄𝑔𝑘 ) e 𝑃𝑙𝑘 (𝑄𝑙𝑘 ) são respectivamente a geração e carga ativa (reativa) na barra k, e 𝑃𝑒𝑘
(𝑄𝑒𝑘 ) é a soma dos fluxos ativos (reativos) para as barras adjacentes.

Estas equações são funções não-lineares das seguintes variáveis: magnitude (𝑉𝑖 ) e ângulo (Θ𝑖 ) de
todas as barras do sistema, taps (𝑎𝑖𝑗 ) e ângulos de defasamento (𝜑𝑖𝑗 ) de transformadores, geração
das barras (𝑃𝑔 , 𝑄𝑔𝑖 ) e cargas das barras (𝑃𝑙𝑖 , 𝑄𝑙𝑖 ). Isto pode ser visto substituindo-se 𝑃𝑒𝑘 e 𝑄𝑒𝑘 pelo
𝑖
somatório de fluxos em um ramo genérico. Conforme visto na aula de Modelos de Componentes
de Redes, estes fluxos são expressos da seguinte forma.
2
𝑃𝑘𝑚 = 𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘2 𝑔𝑘𝑚 − 𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘 𝑉𝑚 (𝑔𝑘𝑚 cos(θ𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) + 𝑏𝑘𝑚 sin(𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 )) (6.6)

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Fluxo de Potência

2 𝑠ℎ
𝑄𝑘𝑚 = −𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘2 (𝑏𝑘𝑚 + 𝑏𝑘𝑚 )
(6.7)
+ 𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘 𝑉𝑚 (𝑏𝑘𝑚 cos(θ𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) − 𝑔𝑘𝑚 sin(𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ))
𝑃𝑚𝑘 = 𝑉𝑘2 𝑔𝑘𝑚 − 𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘 𝑉𝑚 (𝑔𝑘𝑚 cos(θ𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) − 𝑏𝑘𝑚 sin(𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 )) (6.8)
𝑠ℎ
𝑄𝑚𝑘 = −𝑉𝑘2 (𝑏𝑘𝑚 + 𝑏𝑘𝑚 )
(6.9)
+ 𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘 𝑉𝑚 (𝑏𝑘𝑚 cos(θ𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) + 𝑔𝑘𝑚 sin(𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ))

Lembrando que para linhas de transmissão akm = 1 e  = 0, para transformadores em fase  = 0 e


sh sh
bkm = 0, e para transformadores defasadores bkm = 0

As cargas podem ser representadas como uma combinação de potência, corrente e impedância
constante, como segue.

𝑃𝑙𝑘 = 𝑃𝑙0𝑘 (𝑃𝑃𝑘 + 𝑃𝐼 𝑘 𝑉𝑘 + 𝑃𝑍𝑘 𝑉𝑘2 )/100, onde 𝑃𝑃𝑘 + 𝑃𝐼 𝑘 + 𝑃𝑍𝑘 = 100 (6.10)
𝑄𝑙𝑘 = 𝑄𝑙0𝑘 (𝑄𝑄𝑘 + 𝑄𝐼 𝑘 𝑉𝑘 + 𝑄𝑍𝑘 𝑉𝑘2 )/100, onde 𝑄𝑄𝑘 + 𝑄𝐼 𝑘 + 𝑄𝑍𝑘 =
(6.11)
100

Onde 𝑃𝑃𝑘 (𝑄𝑄𝑘 ), 𝑃𝐼𝑘 (𝑄𝐼𝑘 ), e 𝑃𝑍𝑘 (𝑄𝑍𝑘 ) são respectivamente os percentuais de potência constante,
corrente constante, e impedância constante da carga ativa (reativa) da barra k. 𝑃𝑙0𝑘 (𝑄𝑙0𝑘 ) é a carga
ativa (reativa) com a tensão 𝑉𝑘 em 1 pu.

Os geradores são representados como uma fonte de potência ativa constante, 𝑃𝑔 , e potência reativa
𝑘
variável, 𝑄𝑔𝑘 . A potência reativa de saída varia de forma a manter uma tensão especificada para a
barra k.

A potência reativa do gerador é permitida variar dentro dos limites de capabilidade do gerador. Na
realidade, estes limites dependem da potência ativa gerada, mas é comum representar estes limites
por valores máximo e mínimo em programas de fluxo de potência. Assim, tem-se que

𝑄𝑔𝑚𝑖𝑛
𝑘
≤ 𝑄𝑔 ≤ 𝑄𝑔𝑚𝑎𝑥
𝑘 (6.12)
𝑘

Ocorrendo uma violação dos limites, 𝑄𝑔 é fixado no limite violado e a tensão da barra passa a
𝑘
variar.

6.1 Formulação do Problema


O conjunto de equações (6.2)e (6.3) pode ser sub determinado, sobre determinado ou simplesmente
determinado dependendo de como de variáveis sejam definidas como dependente e independente.
Um dos elementos chave para a solução do problema, assim como outros problemas algébricos, é
ter o número de equações igual ao número de variáveis independentes. Todavia, somente isto não
garante a existência de solução e se esta é única. Na verdade, as soluções de fluxo de potência não
são únicas. É mais provável que a solução encontrada seja a mais próxima da condição inicial.

O problema básico do cálculo de fluxo de potência é determinar todas as variáveis a partir da


especificação das cargas (ativa e reativa) e geração ativa. Assim, os valores de 𝑃𝑔𝑘 , 𝑃𝑙𝑖 e 𝑄𝑙𝑖 têm
que ser especificados como dados de entrada do problema. Como há controle de tensão em barras
de geração, também se especifica o valor desejado de tensão para estas barras. Então, o problema
consiste em calcular as tensões (módulo e ângulo) de barras sem controle de tensão, taps e

PUC-RJ - DEE - 65 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

defasagens em transformadores que satisfazem (6.2)e (6.3). A potência reativa dos geradores, 𝑄𝑔 ,
𝑘
é tratada como uma variável dependente, pois tendo-se as tensões complexas em todas barras do
sistema, a potência reativa injetada nas barras de geração é calculada diretamente. Note que para
barras que não são de geração esta potência é nula.

Outro requisito básico é que o perfil de tensão ao longo do sistema seja mantido dentro de limites
específicos. Isto é obtido fixando-se a tensão, V, que sejam controladas por geradores, componentes
shunt controláveis e tap de transformadores.

6.1.1 Tipos de Barras


Assim, as candidatas a variáveis independentes são 𝑉 em barras não controladas, 𝜃, 𝑎 e 𝜑. Para se
manter de forma sistemática o número de equações igual ao de variáveis, uma prática é definir as
barras por tipo. Para cada barra corresponde um número de equações e variáveis. Assume-se
inicialmente que os taps, 𝑎, e defasagens, 𝜑, são mantidos constantes. Então, temos os ângulos das
tensões, 𝜃, para as barras cujas tensões são controladas e as magnitudes, 𝑉, e ângulos, 𝜃, das tensões
para as outras barras.

6.1.1.1 Barras de Geração


Assumamos também que os geradores controlam as tensões das respectivas barras. Este tipo de
barra é usualmente chamada de barra PV porque para elas se especifica a potência ativa gerada (P)
e a magnitude da tensão (V). Em outras palavras, conhecemos a sua geração ativa e a sua tensão.
Portanto, uma barra PV tem somente uma variável independente, 𝜃, e requer uma equação, (6.2).
Note que a potência reativa, 𝑄𝑔 , não é especificada, pois é considerada como variável dependente.

6.1.1.2 Barras de Carga


Barras de carga, ou seja, sem geração, são usualmente denominadas de barra PQ porque as potências
ativa, P, e reativa, Q, da barra são especificadas. Estas barras têm duas variáveis independentes, 𝑉
e 𝜃, e requer duas equações, (6.2) e (6.3).

6.1.1.3 Barras de Balanço de Cargas (Swing)


Até aqui o equilíbrio entre variáveis e equações está sendo mantido, mas o sistema ainda é sobre
determinado. A razão para isto é que está faltando uma referência de ângulo. Note que as equações
(6.6) a (6.9) são definidas em função de diferenças angulares e não aos ângulos absolutos das barras.
Então, se adicionarmos, por exemplo, uma constante aos ângulos das tensões, a solução é a mesma,
ou seja,

(𝜃𝑘 − 𝜃𝑚 ) = [(𝜃𝑘 + 𝜃0 ) − (𝜃𝑚 + 𝜃0 )]

Portanto, os ângulos não são completamente determinados. A solução para este problema é
especificar um dos ângulos como ângulo de referência (normalmente 0o). Em princípio, o ângulo
de qualquer barra pode ser especificado como referência. Na prática, é conveniente especificar o
ângulo de uma barra de geração. Neste caso, denomina-se esta barra como barra Swing (ou de
balanço), ou VΘ. Com isto a barra Swing tem a sua tensão e ângulo especificados.
Consequentemente, não contribui com nenhuma equação para o problema. As potências ativa e

PUC-RJ - DEE - 66 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

reativa da barra Swing são calculadas após a solução ser encontrada. Assim, a potência ativa e
reativa gerada nesta barra são variáveis dependentes.

Especificar o ângulo de referência em uma barra de geração tem uma segunda vantagem importante,
que é a alocação das perdas residuais na rede. Como 𝑃𝑔 não é especificado para este tipo de barra,
a diferença entre geração e carga ativa totais da rede será alocada na barra Swing. Isto é mais
realista do que se esta diferença fosse alocada em uma barra de carga. Note, entretanto, que se a
geração ativa nos demais geradores não é corretamente especificada, o desbalanço de carga e
geração pode ser muito alto e consequentemente forçar a geração na barra swing para valores muito
além da capacidade da mesma, o que não é realista. Então, dependendo do nível de desbalanço,
pode não se encontrar uma solução ou, caso encontre, pode ser necessário fazer correções para
eliminar a sobrecarga do gerador na barra swing.

Então, considerando que os taps e defasagens são constantes, o problema é totalmente determinado.
O número de equações e variáveis independentes fica balanceado. Considerando um sistema com
n barras, sendo m barras de geração, tem-se um total de 2n-m-1 variáveis e equações.

O uso de taps e defasadores será analisado em seguida.

Exemplo 1: Um sistema com 2 barras de geração (1 e 4) e duas barras de carga (2 e 3) e


considerando a barra 4 como swing, tem uma equação P (6.2) para a barra 1 e duas equações P (6.2)
e Q (6.3) para as barras 2 e 3, totalizando 5 equações.

6.2 Métodos de Solução


O conjunto de equações e variáveis do problema de fluxo de potência pode ser formulado como um
problema geral de encontrar a solução de um conjunto de equações não lineares da forma

0 = 𝑓(𝑥) (6.13)

Onde 𝑓(𝑥) é uma função vetorial de variáveis independentes 𝑥 (𝑉, 𝜃, 𝑎 𝑒 𝜑).

6.2.1 Método de Gauss-Seidel


Este método usa um processo iterativo denominado de Jacobi, no qual a partir de uma estimativa
inicial para 𝑥 as variáveis são calculadas explicitando-se uma por equação e calculando-a em função
das demais. Por exemplo, dado um sistema de equações lineares.

𝑎11 𝑥1 + 𝑎12 𝑥2 + ⋯ + 𝑎1𝑛 𝑥𝑛 = 𝑏1


𝑎21 𝑥1 + 𝑎22 𝑥2 + ⋯ + 𝑎2𝑛 𝑥𝑛 = 𝑏2

𝑎𝑛1 𝑥1 + 𝑎𝑛2 𝑥2 + ⋯ + 𝑎𝑛𝑛 𝑥𝑛 = 𝑏𝑛

Resolve-se para 𝑥1 utilizando-se a primeira equação, para 𝑥2 utilizando-se a segunda e assim


sucessivamente. Ou seja,
1
𝑥1 = (𝑏 − 𝑎12 𝑥2 − 𝑎13 𝑥3 − ⋯ − 𝑎1𝑛 𝑥𝑛 )
𝑎11 1
1
𝑥2 = (𝑏 − 𝑎21 𝑥1 − 𝑎23 𝑥3 − ⋯ − 𝑎2𝑛 𝑥𝑛 )
𝑎22 1

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Fluxo de Potência

1
𝑥𝑛 = (𝑏 − 𝑎𝑛1 𝑥1 − 𝑎𝑛2 𝑥𝑛 − ⋯ − 𝑎𝑛𝑛−1 𝑥𝑛−1 )
𝑎𝑛𝑛 𝑛

O processo se repete até que não ocorram variações significativas nos valores das variáveis.

Aplicado a sistemas de potência, o método usa a seguinte expressão.

𝑛
(𝑙+1) 1 𝑃𝑘 − 𝑗𝑄𝑘
𝑉𝑘 = [ (𝑙)
− ∑ 𝑌𝑘𝑖 𝑉𝑖 ] (6.14)
𝑌𝑘𝑘 𝑉 𝑣 𝑖=1
𝑖≠𝑘
Onde l é o número da iteração.

As principais vantagens deste método são o baixo custo computacional e baixo requisitos de
memória. Por outro lado, é um método com baixa taxa de convergência (requer muitas iterações)
e com altos índices de insucesso, principalmente para redes com mau condicionamento
(impedâncias com magnitudes muito diferentes) e impedâncias negativas. Adicionalmente, o
método sofre com o tratamento de alguns tipos de controle, como por exemplo, controle de tap.

Devido às vantagens computacionais, este método foi muito utilizado no passado quando o poder
computacional era extremamente limitado comparado ao atual. Alguns programas comerciais ainda
utilizam este método como forma de estabelecer uma condição inicial para métodos mais
avançados.

6.2.2 Método de Newton-Raphson


O método de Newton-Raphson é atualmente o mais utilizado atualmente para a solução do problema
de fluxo de potência. Este método oferece características de convergência muito superiores ao de
Gauss-Seidel, embora com custo computacional muito mais elevado. Entretanto, mesmo para
grandes sistemas, o problema de fluxo de potência não chega a demandar um esforço elevado para
os recursos computacionais disponíveis atualmente.

O método resolve (6.13) iterativamente aproximando estas equações por uma série de Taylor
truncada, ou seja,

𝑓(𝑥 𝑣 + ∆𝑥 𝑣 ) ≅ 𝑓(𝑥 𝑣 ) + 𝑓′(𝑥 𝑣 )∆𝑥 (6.15)

Onde 𝑓 ′ (𝑥 𝑣 ) é a matriz Jacobiano e v é o número da iteração.

Na solução, ∆𝑥 = 0 e 𝑓(𝑥) = 0. Então, a solução é encontrada resolvendo-se iterativamente a


seguinte equação.

∆𝑥 𝑣 = −[𝐽(𝑥 𝑣 )]−1 𝑓(𝑥 𝑣 ) (6.16)


𝑥 𝑣+1 = 𝑥 𝑣 + ∆𝑥 𝑣 (6.17)

Até que ∆𝑥 𝑣 < 𝜀 ou 𝑓(𝑥 𝑣 ) < 𝜀, onde 𝜀 é uma pequena tolerância.

PUC-RJ - DEE - 68 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

6.2.3 Método de Newton Aplicado às Equações de Sistemas de Potência


Particionando-se as variáveis independentes em 𝑉 e 𝜃, pode-se escrever (6.2) e (6.3) da seguinte
forma.

0 = 𝑓𝑝 (𝑉, 𝜃)
(6.18)
0 = 𝑓𝑞 (𝑉, 𝜃)

Então, aplicando (6.16) e (6.17) a (6.18), temos

𝜕𝑓𝑝 𝜕𝑓𝑝 −1
∆𝑉 𝑣 𝑓𝑝 (𝑉 𝑣 , 𝜃 𝑣 )
[ 𝑣 ] = − [ 𝜕𝑉 𝜕𝜃 ] [ ] (6.19)
∆𝜃 𝜕𝑓𝑞 𝜕𝑓𝑞 𝑓𝑞 (𝑉 𝑣 , 𝜃 𝑣 )
𝜕𝑉 𝜕𝜃
𝑉 𝑣+1 𝑉𝑣 ∆𝑉 𝑣
[ 𝑣+1 ] = [ 𝑣 ] + [ 𝑣 ] (6.20)
𝜃 𝜃 ∆𝜃

Os elementos da matriz Jacobiano são as derivadas parciais das equações (6.2) e (6.3) com relação
às variáveis independentes (𝑉 𝑒 𝜃). Considerando a geração e a carga como constantes, o problema
é então calcular as derivadas parciais de 𝑃𝑒 e 𝑄𝑒 , ou seja,

Pei Pei Pei Pei


, , , ,
Vi  i Vm  m
Qei Qei Qei Qei
, , ,
Vi i Vm  m

Onde m é a barra adjacente a barra i.

Como 𝑃𝑘𝑚 ≠ 𝑃𝑚𝑘 e 𝑄𝑘𝑚 ≠ 𝑄𝑚𝑘 para modelos de transformadores, as derivadas dependem da
orientação com respeito ao lado do tap do transformador. Então, considerando que k é a barra no
lado do tap e m no lado da impedância, que podem ser facilmente obtidas a partir das expressões
(6.6) a (6.9) ,as derivadas são as seguintes.

Potência Ativa
Pkm
 akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.21)
 m
Pmk
 akmVkVm  bkm cos km     g km sin  km    (6.22)
 k
Pkm
 akmVkVm  bkm cos km     g km sin  km    (6.23)
 m
Pmk
 akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.24)
 m
P
Vk km  2akm 2
Vk2 g km  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.25)
Vk
P
Vk mk  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.26)
Vk

PUC-RJ - DEE - 69 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

Pkm
Vm  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.27)
Vm
P
Vm mk  2Vk2 g km  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.28)
Vm

Potência Reativa
Qkm
 akmVkVm  g km cos km     bkm sin  km    (6.29)
 k
Qmk
 akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.30)
 k
Qkm
 akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.31)
 m
Qmk
 akmVkVm  g km cos km     bkm sin  km    (6.32)
 m
Qkm
Vk  2akm
2
Vk2 (bkm  bkm
sh
)  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.33)
Vk
Qmk
Vk  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.34)
Vk
Q
Vm km  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.35)
Vm
Q
Vm mk  2Vk2 (bkm  bkm sh
)  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.36)
Vm

As equações acima são suficientes para a montagem da matriz Jacobiano considerando que taps e
defasagens de transformadores são constantes. Entretanto, é possível verificar que os termos na
diagonal se somarão resultando em:

Pei P
Vi  Vi  im  Pei  Vi 2 Gii (6.37)
Vi m k Vi

Pei P
   im  Qei  Vi 2 Bii (6.38)
 i m k  i

Qei Qim
Vi  Vi   Qei  Vi 2 Bii (6.39)
Vi m k Vi

Qei Qim
  Pei  Vi 2 Gii (6.40)
 i m k  i

Onde Gii  g
m k
im e Bii  b
m k
im

Os elementos fora da diagonal são então retirados do conjunto (6.21) a (6.36), ou seja,

PUC-RJ - DEE - 70 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

Pk P
  km  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.41)
 m  m
P P
Vm k  Vm km  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.42)
Vm Vm

Potência Reativa

Qk Q
  km  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.43)
 m  m
Qk Qkm
Vm  Vm  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.44)
Vm Vm

Portanto, o conjunto de equações (6.37) a (6.44) contém os elementos da matriz Jacobiano.

No caso das cargas serem função da tensão, (6.10) e (6.11), as derivadas parciais das cargas com
relação a magnitude de tensão da barra devem ser adicionadas ao elemento da diagonal da matriz
correspondente a barra da carga.

Exemplo 2: Para o sistema do Exemplo 1 (2 barras de geração e duas barras de carga) temos as
seguintes equações e respectivo Jacobiano.

0 = 𝑃1 = 𝑃𝑔 − 𝑃𝑙 1 − 𝑃1𝑠ℎ − ∑ 𝑃1𝑚
1 𝑚∈Ω1

0 = 𝑃2 = 𝑃𝑔 − 𝑃𝑙 2 − 𝑃2𝑠ℎ − ∑ 𝑃2𝑚
2 𝑚∈Ω2

0 = 𝑃3 = 𝑃𝑔 − 𝑃𝑙 3 − 𝑃3𝑠ℎ − ∑ 𝑃3𝑚
3 𝑚∈Ω3

0 = 𝑄2 = 𝑄𝑔 − 𝑄𝑙 2 − 𝑄2𝑠ℎ − ∑ 𝑄2𝑚
2
𝑚∈Ω2

0 = 𝑄3 = 𝑄𝑔 − 𝑄𝑙 3 − 𝑄3𝑠ℎ − ∑ 𝑄3𝑚
3
𝑚∈Ω3

Considerando a ordenação das variáveis como [𝜃1 𝜃2 𝜃3 𝑉2 𝑉3 ] a matriz Jacobino é

𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝜕𝑃1


𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3
𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3
𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3
𝐽=
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3
𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3
𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3
[ 𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 ]

PUC-RJ - DEE - 71 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

6.3 Controles Adicionais

6.3.1 Controle de Tensão por Tap


Se um tap de transformador controla uma barra em um valor especificado, então a tensão da barra
não varia. A variável passa então a ser o tap e não mais a tensão da barra, mantendo o equilíbrio
entre número de variáveis e equações. Há formas alternativas de se modelar este problema. Uma
destas formas é simplesmente trocar no conjunto de equações a tensão pelo tap (ou relação de
transformação a). Por exemplo, admitindo que no Exemplo 2 a barra 2 seja controlada pelo tap de
um transformador, então teríamos a seguintes variáveis [𝜃1 𝜃2 𝜃3 𝑎2 𝑉3 ] e a matriz
Jacobiano ficaria como

𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝝏𝑷𝟏 𝜕𝑃1


𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝝏𝒂𝟐 𝜕𝑉3
𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝝏𝑷𝟐 𝜕𝑃2
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝝏𝒂𝟐 𝜕𝑉3
𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝝏𝑷𝟑 𝜕𝑃3
𝐽=
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝝏𝒂𝟐 𝜕𝑉3
𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝝏𝑸𝟐 𝜕𝑄2
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝝏𝒂𝟐 𝜕𝑉3
𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝝏𝑸𝟑 𝜕𝑄3
[ 𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝝏𝒂𝟐 𝜕𝑉3 ]

As derivadas das equações de fluxo de potência com relação à relação de transformação são
facilmente obtidas a partir de (6.6) - (6.9), ou seja,

Pkm
akm  2akm
2
Vk2 g km  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.45)
akm
P
akm mk  akmVkVm g km cos km     bkm sin  km    (6.46)
akm
Q
a km  2akm 2
Vk2 (bkm  bkm
sh
)  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.47)
a
Q
a mk  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.48)
a

6.3.2 Controle de Fluxo (MW) com Transformador Defasador


O controle de fluxo de MW por transformador defasador é integrado ao problema como uma
restrição a mais, mais especificamente, incluindo-se uma equação que force o fluxo no
transformador (ramo i-m, por exemplo) ser igual a um valor especificado, ou seja,

0 = 𝑃𝑠𝑝𝑒𝑐 𝑖𝑚 − 𝑃𝑖𝑚 (6.49)


Como equação a mais, há necessidade de uma variável a mais, que evidentemente é o ângulo de
defasagem do transformador, 𝜑𝑖𝑚 .

PUC-RJ - DEE - 72 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

Supondo, por exemplo, que no sistema do Exemplo 1 haja um transformador entre as barras 2 e 3,
então teríamos uma equação adicional para o ramo do transformador

0 = 𝑃𝑠𝑝𝑒𝑐 23 − 𝑝23

Para variáveis ordenadas como [𝜃1 𝜃2 𝜃3 𝑉2 𝑉3 𝜑23 ], o Jacobiano seria

𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝜕𝑃1 𝜕𝑃1


0
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3
𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2 𝜕𝑃2
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 𝜕𝜑3
𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3 𝜕𝑃3
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 𝜕𝜑3
𝐽=
𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2 𝜕𝑄2
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 𝜕𝜑3
𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3 𝜕𝑄3
𝜕𝜃1 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 𝜕𝜑3
𝜕𝑝23 𝜕𝑝23 𝜕𝑝23 𝜕𝑝23 𝜕𝑝23
0
[ 𝜕𝜃2 𝜕𝜃3 𝜕𝑉2 𝜕𝑉3 𝜕𝜑3 ]

6.3.3 Outros Controles


Outros controles são possíveis, embora menos comuns. Um exemplo é o controle de fluxo de Mvar
em um transformador por controle de tap. Neste caso, a modelagem do problema é análoga a do
transformador defasador, na qual se adiciona uma restrição (equação) a mais a ser satisfeita na
solução e consequentemente uma variável (tap ou relação de transformação a mais).

Outro exemplo é o controle de intercâmbio, no qual se pretende que a soma de fluxos em ramos
que interconectam uma área do sistema com outras seja igual ou próxima a um valor estabelecido.
Para implementá-lo, é necessário que as áreas cujos intercâmbios são controlados tenham margem
de regulação de potência disponível. Este tipo de controle é mais utilizado quando se tem áreas de
concessão contendo transmissão e geração sobre a qual se tem controle e os contratos de
intercâmbio, em geral de longo termo, com outras áreas são bem estabelecidos. Esta costumava ser
a estrutura tradicional dos sistemas elétricos de potência, e ainda é em muitos países e sistemas
interligados. Recentemente, a estrutura econômica e financeira dos sistemas elétricos tem mudado
muito e as concessões de transmissão e geração são espalhadas e não contiguas. Neste caso, o
controle de intercâmbios também pode ser feito, por exemplo, entre regiões, mas seria necessário
ter uma classificação nos dados indicando que região os equipamentos pertencem. Em função disto,
o conceito de área que antes estava atrelado a área de concessão de uma empresa, é usado
atualmente para definir regiões e empresas recebem a classificação de ‘proprietário’.

6.3.4 Limites em Controles


Os controles disponíveis no sistema são limitados evidentemente. Por exemplo, os geradores não
podem fornecer ou absorver potência reativa ilimitadamente. A limitação de corrente de estator ou
de campo para evitar superaquecimento e danos ao gerador não permite que isto aconteça. Então,
é possível que as condições do sistema sejam tais que exijam a estes geradores operarem no limite
PUC-RJ - DEE - 73 - Análise de Sistemas Elétricos I
Fluxo de Potência

máximo de suas capacidades. Quando isto acontece, o gerador passa a fornecer uma quantidade
fixa de Mvar (máxima ou mínima). Isto se traduz na modelagem através da seguinte expressão.

𝑄𝑔𝑚𝑖𝑛 ≤ 𝑄𝑔 ≤ 𝑄𝑔𝑚𝑎𝑥 6.50

Quando esta limitação ocorre durante a solução do problema de fluxo de potência, a potência reativa
do gerador deixa de ser uma variável dependente e passa a ser um valor especificado.
Consequentemente, a tensão que estava sendo controlada em um valor especificado passa a flutuar,
ou seja, se torna uma variável do problema. Então, neste momento, a barra com tensão controlada
passa do tipo PV para o tipo PQ e a respectiva equação de balanço de carga reativa para a barra é
adicionada ao problema. Assim, tem-se uma equação e uma variável a mais.

É importante observar que este efeito pode ocorrer transitoriamente no processo iterativo. Ou seja,
em uma iteração o gerador é forçado a ficar no limite de Mvar, mas na iteração seguinte as condições
que o forçaram a isto podem deixar de existir. Então, é importante que se verifique esta
possibilidade de retornar a barra ao controle, tipo PV.

O mesmo efeito pode ocorrer com os controles de tap e defasadores, que estão limitados a valores
máximo e mínimo.

6.4 Fluxo de Potência Desacoplado


No passado, a solução de um problema de fluxo de potência exigia um esforço computacional
relativamente alto, mesmo para sistemas de médio porte. A maior parte deste esforço exigido está
na inversão (fatoração e solução) da matriz Jacobiano. Então, uma aproximação simples do
problema, reduzindo significativamente este esforço, foi desacoplar a solução dos ângulos e
tensões. O conceito principal que viabiliza esta abordagem é que os fluxos de potência ativa são
muito mais sensíveis a variações angulares do que a variações nos módulos das tensões.
Matematicamente, isto pode ser expresso por

𝜕𝑃𝑘𝑚 𝜕𝑃𝑘𝑚 𝜕𝑃𝑘𝑚 𝜕𝑃𝑘𝑚


≫ ou ≫
𝜕𝜃𝑘𝑚 𝜕𝑉𝑘 𝜕𝜃𝑘𝑚 𝜕𝑉𝑚

Então, os termos correspondentes às derivadas de fluxos de potência ativa com relação aos módulos
das tensões são desprezados nesta abordagem.

De forma análoga, os fluxos de potência reativa são muito mais sensíveis a variações nos módulos
das tensões do que nos ângulos, ou seja,

𝜕𝑄𝑘𝑚 𝜕𝑄 𝜕𝑄𝑘𝑚 𝜕𝑄𝑘𝑚


≫ 𝜕𝜃𝑘𝑚 ou ≫
𝜕𝑉𝑘 𝑘𝑚 𝜕𝑉𝑚 𝜕𝜃𝑘𝑚

Assim, despreza-se também às derivadas de fluxo de potência reativa com relação aos ângulos das
tensões. Com tais simplificações, a iteração, que no método de Newton é definida em (6.19), passa
a ter a seguinte forma.

𝜕𝑓𝑝 −1
0 𝑣 𝑣
[
∆𝑉 𝑣
] = − [ 𝜕𝜃 ] [𝑓𝑝 (𝑉 , 𝜃 )] (6.51)
∆𝜃 𝑣 𝜕𝑓𝑞 𝑓𝑞 (𝑉 𝑣 , 𝜃 𝑣 )
0
𝜕𝑉

PUC-RJ - DEE - 74 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

Ou
𝜕𝑓𝑝 −1
[∆𝜃 𝑣 ] = [ ] [𝑓𝑝 (𝑉 𝑣 , 𝜃 𝑣 )] (6.52)
𝜕𝜃
−1
𝜕𝑓𝑞
[∆𝑉 𝑣 ] = [ ] [𝑓𝑞 (𝑉 𝑣 , 𝜃 𝑣 )] (6.53)
𝜕𝑉

Assim, desprezando-se as variações do fluxo de potência ativa com a tensão e do reativa com o
ângulo, do conjunto de derivadas (6.37) - (6.40) usadas no método de Newton, são usadas as
seguintes expressões.

Potência Ativa

Pei P
  im  Qei  Vi 2 Bii (6.54)
 i mk  i
Pk P
  km  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.55)
 m  m

Potência Reativa
Qei Qim
Vi  Vi   Qei  Vi 2 Bii (6.56)
Vi m k Vi

Qk Qkm
Vm  Vm  akmVkVm bkm cos km     g km sin  km    (6.57)
Vm Vm

Onde Gii  g
m k
im e Bii  b
m k
im

Há estratégias alternativas para a solução do fluxo de potência desacoplado. Por exemplo, se pode
iteragir somente utilizando (6.52) até que as mudanças no vetor de correção de ângulos sejam
menores que uma tolerância e em seguida iteragir somente com (6.53) até que as correções nos
módulos das tensões sejam menores que uma tolerância. Repete-se então este processo até que
todas as correções ou funções sejam menores que a tolerância.

Outra alternativa seria resolver (6.52) e (6.53) de forma alternada até que as variações sejam
menores que a tolerância estabelecida.

Com este método, a necessidade de armazenamento para a matriz é de um quarto do necessário para
o método de Newton e o esforço computacional na fatorização tem aproximadamente o mesmo
ganho.

Atualmente, este método não oferece atrativos tendo em vista que o problema de fluxo de potência
pelo método de Newton não representa uma carga computacional elevada, mesmo para sistemas de
grande porte. No caso de aplicativos que tenham que resolver milhares de soluções de fluxo de
potência, pode haver ainda alguma vantagem em adotá-lo.

Uma possível deficiência deste método é que para condições de estresse no sistema, caracterizadas
por grandes transferências de potência relativas às capacidades dos sistemas de transmissão, as
sensibilidades de potência ativa em relação a variações de tensão e de potência reativa em relação

PUC-RJ - DEE - 75 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

a variações angulares aumentam, o que pode dificultar a convergência do método e, por


conseguinte, anular o ganho de esforço computacional, pois mais iterações serão necessárias, ou
mesmo não permitir a convergência.

6.5 Método Desaclopado Rápido


O método Desacoplado Rápido simplifica ainda mais o problema fazendo que a matriz utilizada no
processo iterativo seja constante. Com isto evita-se os cálculos necessários para atualizá-la e as
sucessivas fatorações. Assim, a matriz é construída e fatorada somente uma vez. Não há ganhos
de armazenamento, mas significantes ganhos de esforço computacional.

A simplificação é feita a partir das seguintes observações.


i) As resistências dos circuitos são muito menores que as reatâncias.
ii) Os ângulos entre os terminais de um circuito são pequenos.
iii) As tensões e taps são muito próximas, em p.u., de 1.

Se as diferenças angulares são pequenas, então pode-se aproximar 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑘𝑚 ) ≅ 1 e 𝑠𝑒𝑛(𝜃𝑘𝑚 ) ≅


𝜃𝑘𝑚 . Também, se as resistências são pequenas com relação às reatâncias, as condutâncias são
despreszadas. Então, tomando os ângulos e taps por 1 p.u., pode-se reescrever as expressões (6.21)
- (6.24), (6.33) a (6.36), como

Potência Ativa
Pei P
  im  Qei  Bii (6.58)
 i mk  i
Pk P
  km  bkm (6.59)
 m  m

Potência Reativa
Qei Qim
Vi  Vi   Qei  Bii (6.60)
Vi m k Vi

Qk Qkm
Vm  Vm  bkm (6.61)
Vm Vm

Onde Gii  g
m k
im e Bii  b
m k
im

Considerando ainda que 𝐵𝑖𝑖 ≫ 𝑄𝑒𝑖 , tem-se:

Pei P
  im   Bii (6.62)
 i mk  i
Pk P
  km  bkm (6.63)
 m  m

Potência Reativa
Qei Qim
Vi  Vi    Bii (6.64)
Vi m k Vi

PUC-RJ - DEE - 76 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

Qk Qkm
Vm  Vm  bkm (6.65)
Vm Vm

Assim como no método Desacoplado, estratégia para a solução com o método Desacoplado Rápido
pode ser alternada com uma iteração 𝑃𝜃 e uma 𝑄𝑉 ou repetir cada uma destas por n vezes antes de
passar a outra.

O método Desacoplado Rápido é muito mais rápido computacionalmente que o Newton e o


Desacoplado, mas exibe a pior convergência dos três. Este método ainda é muito usado em centros
de controle para análise de milhares de contingências. Outra aplicação típica é o de filtragem de
contingências. Alguns programas também o recomendam como uma forma de inicialização do
método de Newton.

6.6 Método de Fluxo de Potência CC


Os métodos acima expostos são denominados de métodos de solução de fluxo de potência CA, por
estarem relacionados à solução dos problemas de circuitos CA que são não lineares. Embora a
solução do método desacoplado utilize uma matriz constante, o problema continua não linear
porque as funções para as quais se deseja saber a solução, (6.18), permanecem não lineares.

No método de solução de fluxo de potência CC a função a ser resolvida também é linearizada,


utilizando as mesmas suposições que levaram ao método Desacoplado Rápido. Adicionalmente,
só se está interessando em saber quais são os ângulos das tensões. As magnitudes são assumidas
serem 1 p.u. Assim, aplicando tais suposições à equação de fluxo de potência, (6.6), temos
2
𝑃𝑘𝑚 = 𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘2 𝑔𝑘𝑚
(6.66)
− 𝑎𝑘𝑚 𝑉𝑘 𝑉𝑚 (𝑔𝑘𝑚 cos(θ𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) + 𝑏𝑘𝑚 sin(𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ))

Tensões e taps iguais a 1 p.u.

𝑃𝑘𝑚 = 𝑔𝑘𝑚 − (𝑔𝑘𝑚 cos(θ𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) + 𝑏𝑘𝑚 sin(𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 )) (6.67)

Resistências desprezadas.

𝑃𝑘𝑚 = −𝑏𝑘𝑚 sin(𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) (6.68)

Assumindo 𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 pequeno.

𝑃𝑘𝑚 = −𝑏𝑘𝑚 (𝜃𝑘𝑚 + 𝜑𝑘𝑚 ) (6.69)

Considerando a defasagem constante, pode-se representar de forma equivalente o efeito de


−𝑏𝑘𝑚 𝜑𝑘𝑚 , como uma carga na barra k e uma injeção positiva na barra m. Assim, temos

𝑃𝑘𝑚 + 𝑏𝑘𝑚 𝜑𝑘𝑚 = −𝑏𝑘𝑚 𝜃𝑘𝑚 (6.70)


E
𝑃𝑚𝑘 − 𝑏𝑘𝑚 𝜑𝑘𝑚 = −𝑏𝑘𝑚 𝜃𝑚𝑘 (6.71)

Na forma matricial as equações linearizadas tem a seguinte forma

PUC-RJ - DEE - 77 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência

𝑃 = 𝐵𝜃 (6.72)
Onde P é o vetor de injeções líquidas de potência ativa (geração menos carga), 𝜃 é o vetor de ângulos
de barra, e B é a matriz de coeficientes nodais tal que

𝐵𝑘𝑚 = 𝑏𝑘𝑚
𝐵𝑘𝑘 = −𝐵𝑘𝑘

Da mesma forma que na solução do fluxo de potência não linear, é necessário que se tenha uma
referência angular fixada, para que B não seja singular. As equações da barra cujo ângulo tenha
sido escolhido como referência são removidas, ou seja, a linha e coluna relacionadas com esta barra
são removidas da matriz B.

O fluxo de potência linear ou CC é muito simples e em geral de pouca ou nenhuma utilidade na


análise de redes CA. Entretanto, nas aplicações econômicas de sistemas de potência este método é
de grande utilidade, não só por ser bem mais simples e com garantia de encontrar uma solução (não
há problema de convergência evidentemente), mas porque em muitos casos é o único método
aplicável. Em tais aplicações, o fluxo de potência CC permite definir com alguma aproximação os
fluxos nos circuitos do sistema via equação (6.69) e, por exemplo, garantir que despachos
econômicos do ponto de vista de custos de geração não violem carregamentos de circuitos.

PUC-RJ - DEE - 78 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC

7 Elos CC
Elos de corrente contínua são tipicamente usados para transmissões a longas distâncias, transmissão
por cabos submarinos e interconexão de sistemas com frequências diferentes. Em geral a
transmissão é feita ponto a ponto, ou seja, um terminal recebe energia e o outro fornece energia.
Sistemas com múltiplos terminais foram tentados no passado sem muito sucesso.

Um elo ponto a ponto consiste de dois terminais conversores e uma linha de transmissão. Um
conversor converte a tensão alternada em contínua. O conversor que recebe energia é denominado
de retificador e o que fornece energia é chamado de inversor. A figura abaixo ilustra um conversor,
onde Id e Vd são respectivamente a corrente e tensão contínuas.

Er+jEi
1:T
Id
P+jQ
Vd
HT LT

Ir+jI
i

Figura 7-1 – Diagrama de um conversor CA/CC.

Uma ponte conversora de seis pulsos é mostrada na figura a seguir. Os tiristores são disparados em
sequência de tal forma que a tensão no polo positivo para o negativa seja sempre positiva.

Figura 7-2 – Ponte conversora de seis pulsos.

A conversão da tensão CA em CC se dá através do chaveamento da forma de onda senoidal trifásica


em instantes de tempo, referidos ao cruzamento desta onda por zero, via tiristores. O tempo do
chaveamento (disparo) é determinado pelo ângulo em relação ao cruzamento por zero.
Considerando que meia onda tem 180 graus, a tensão retificada é máxima para um ângulo de

PUC-RJ - DEE - 79 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC

chaveamento zero e zero para um ângulo de chaveamento de 180 graus. A figura a seguir ilustra a
forma de onda retificada para alguns valores do ângulo de disparo (alfa). Para ângulos de disparo
superiores a 90 graus, a tensão CC se torna negativa. Esta é a condição de operação de um inversor.

PUC-RJ - DEE - 80 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC

Figura 7-3 – Efeito do ângulo de disparo na forma de onda retificada.

O chaveamento é tal que há sempre um par de tiristores conduzindo a corrente. Entretanto, transição
de um para de tiristores para outro não ocorre instantaneamente. Por um curto período de tempo
dois pares conduzem simultaneamente. Este período é representado pelo ângulo de comutação, 𝜇.
A figura abaixo ilustra o processo.

Figura 7-4 – Transição da tensão da fase a para b; ângulo de comutação.

Para efeito de cálculo de fluxo de potência os conversores representam uma injeção, positiva ou
negativa, de potência. Esta injeção é basicamente uma função da tensão CA no terminal do
conversor e das especificações de controle do elo.

Equações do Retificador

A equação que relaciona a tensão contínua com a corrente e a tensão CA no retificador é a seguinte.
Vd r  Vdor cos  r  Rc r Id 7.1
Onde
Vd r é a tensão CC no retificador;
Id é a corrente CC na linha de transmissão do elo;
 r é o ângulo de disparo do retificador;
Vdor  (3 2 /  ) Ncr Tapr Er  KdTapr Er
Ncr é o número de pontes conversoras em série;

PUC-RJ - DEE - 81 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC

Tapr é o tap do transformador dor conversor;


Er é a magnitude da tensão do lado de alta tensão (HT) do transformador retificador;
Rc r  (3 /  ) Xcr ;
Xcr é a reatância de comutação do retificador.

A potência injetada na rede é dada por


Pr  Pd r  Vd r Id 7.2
Onde Pr é a potência ativa entrando no conversor
Pdr é a potência CC através do conversor.

Qr  Pr tan r 7.3
Onde Qr é a potência reativa entrando no conversor;
 r é o ângulo de fator de potência do conversor.
cos r  V d r / Vdor  cos  r  Rc r Id / Vdor 7.4

Equações do Inversor

Vdi  Vdoi cos  i  Rci Id ou 7.5


Vdi  Vdoi cos  i  Rci Id ou 7.6
Vdi  Vdoi cos  i  Rci Id 7.7
Onde
Vdi é a tensão CC no inversor;
 i é o ângulo de disparo do inversor;
     , é o ângulo de disparo avançado do inversor;
 é o ângulo de extinção do inversor (180 − 𝛼 − 𝜇);
Vdoi  (3 2 /  ) NciTapi Ei ;
Nci é o número de pontes conversoras em série no inversor;
Tapi é o tap do transformador;
Ei é a magnitude da tensão no lado de alta (HT) do transformador;
Rci  (3 /  ) Xci ;
Xci é a reatância de comutação do inversor.

A potência injetada pelo inversor é dada por


Pi  Pdi  Vdi Id 7.8
Onde Pi é a potência ativa fluindo da rede para o conversor;
Pdi é a potência CC na linha de transmissão do elo.

Qi  Vdi Id tan i 7.9


Onde QI é a potência reativa fluindo da rede para o conversor;
i é o ângulo de fator de potência do conversor.
cosi  V di / Vdoi  cos i  Rci Id / Vdoi 7.10

Equação da Linha de Transmissão

PUC-RJ - DEE - 82 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC

𝑉𝑑𝑟 − 𝑉𝑑𝑖 = 𝑅. 𝐼𝑑 7.11


Onde R é a resistência da linha CC.

Modos de Controle

Os elos podem ser especificados para controlar o fluxo de potência ou a corrente CC. Este controle
é efetuado por um dos conversores, ficando o outro conversor com o controle da tensão CC. Desta
forma, quatro controles possíveis são os seguintes.
I. Controle de Pd no retificador e Vd no inversor;
II. Controle de Id no retificador e Vd no inversor;
III. Controle de Pd no inversor e Vd no retificador;
IV. Controle de Id no inversor e Vd no retificador.

O ângulo de disparo (alfa) e de extinção (gama) também devem ser especificados para todos os
modos de controle. Com isto os taps dos conversores variam para que a tensão especificada seja
obtida. Caso um tap atinja o limite máximo de regulação, o ângulo de disparo (extinsão) passa a
variar.

7.1 Modos de Solução das Equações de Elos CC

Dois modos de solução são tipicamente utilizados.

Solução Alternada
A forma mais simples é intercalar a solução das equações do elo com a solução das equações CA
pelo método de Newton, por exemplo. Neste caso, antes de cada iteração do método de Newton,
calcula-se as injeções de potência nos dois terminais como função das tensões CA nos dois
terminais. Resolve-se então, a iteração do método de Newton considerando estas injeções
constantes. Repete-se o processo até a convergência de todas as equações.

Este método é de simples implementação, mas ter convergência lenta caso pelo menos uma das
tensões CA varie muito através das iterações.

Solução Simultânea
Uma alternativa que oferece melhor convergência é resolver simultaneamente as equações do elo
com as equações do sistema CA. Com isto, o número de equações e variáveis do problema é
aumentado com a inclusão das equações e variáveis do elo. As variáveis a serem incluídas
dependem do modo de controle, ou seja, quais grandezas são especificadas e quais variam.

PUC-RJ - DEE - 83 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

8 Elos CC-VSC
A transmissão em corrente contínua convencional utiliza elementos semicondutores, tiristores, que
permitem a passagem de corrente por meio de um comando de disparo aplicado ao terminal ‘gate’,
Figura 8-1. A extinção da condução ocorre pela reversão da tensão sobre o tiristor e consequente
passagem da corrente por zero.

Catodo
Gate

Anodo

Figura 8-1 – Símbolo do Tiristor.

Semicondutores com capacidade tanto de iniciar a condução quanto interrompe-la são ditos
completamente controláveis. Estes podem ser do tipo GTO (Gate Turn-off Thyristor) ou IGBT
(Insulated Gate Bipolar Transistor), Figura 8-2.

GTO IGBT

Coletor

Catodo
Gate
Gate

Anodo Emissor

Figura 8-2 – Símbolos dos GTO e IGBT.

O GTO é uma versão mais avançada do tiristor convencional, com uma característica similar de
acionamento da condução, mas com a habilidade de interromper a condução em um tempo diferente
do da passagem da corrente por zero. Este tipo de funcionalidade tem possibilitado o
desenvolvimento de novos equipamentos para a indústria e para a transmissão em sistemas de
potência com grande capacidade em MW. Uma desvantagem do GTO é que requer muita energia,
pulsos negativos, para interromper a corrente.

O IGBT é o dispositivo mais usado atualmente na indústria e aplicações de alta potência devido a
sua capacidade de corrente e baixas perdas.

Os conversores CA-CC baseados em elementos completamente controlados têm grandes vantagens


sobre os convencionais em termos de controlabilidade e desempenho. Por exemplo, com os
completamente controláveis, pode-se controlar tanto a potência ativa quanto a reativa.

Nos conversores CC-AC que usam semicondutores totalmente controlados a entrada CC pode ser
uma fonte de tensão (tipicamente um capacitor) ou uma fonte de corrente (tipicamente uma fonte

PUC-RJ - DEE - 84 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

de tensão em série com um indutor). Então, com referência ao princípio operacional básico, os
conversores podem ser classificados como Conversores de Fonte de Tensão (Voltage Source
Converters – VSC) ou conversores de fonte de corrente. Por razões econômicas e de desempenho,
a maioria dos conversores é baseada na tecnologia VSC.

Usando estes conversores em diferentes configurações, pode-se construir diferentes tipos de


controladores de fluxo de potência. Exemplos destes controladores são os equipamentos FACTS
(flexible AC transmission systems) tais como STATCOM (static synchronous condenser), SSSCs
(solid state series controllers), UPFC (unified power controler) e HVDC-VSC. Os conversores CC-
AC também são empregados em painéis solares. Nesta aula, é examinado o uso da tecnologia VSC
nos elos CC.

Há várias topologias de VSC atualmente em uso. As mais usadas são a convencional trifásica de
dois níveis, e a de múltiplos níveis. A topologia do VSC de dois níveis está ilustrada na Figura 8-3.

a
Vcc b Vca
c

Figura 8-3 – Topologia de dois níveis de um VSC.

8.1 Modelo de Elo CC do Tipo VSC


A Figura 8-4 mostra uma configuração genérica de um VSC utilizado em sistemas de transmissão.

Conversor
+
Transformador
Reator de Fase
Vdc
Vs
Filtro
_

Figura 8-4 – Estação conversora.

Devido às suas características, os conversores podem ser modelados como fontes de tensão sobre
as quais se pode controlar tanto o módulo quanto a fase. Então, o circuito equivalente representativo
do VSC para fins de cálculo de fluxo de potência pode ser o mostrado na Figura 8-5.

PUC-RJ - DEE - 85 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

𝑆𝑐ҧ 𝑆𝑠ҧ
𝑉̅𝑐 𝑍ҧ𝑐 𝑉̅𝑓 𝑍ҧ𝑡 𝑉̅𝑠

𝑄𝑓 𝐵𝑓

Figura 8-5 – Diagrama unifilar equivalente de uma estação conversora VSC.

A relação entre as tensões CA e CC para uma ponte de IGBTs de seis pulsos é dada por
√3
𝑉𝑐 = 2√2 𝑚𝑎 𝑉𝑑𝑐 𝑒 𝑗𝛿𝑐
Para modulação linear de pulso ou, para onda quadrada (supermodulação),
√6
𝑉𝑐 = 𝜋 𝑚𝑎 𝑉𝑑𝑐 𝑒 𝑗𝛿𝑐
Onde 𝑉𝑑𝑐 é a tensão entre polos, 𝑚𝑎 é o fator de modulação de amplitude da tensão, é igual a 1 para
operação com onda quadrada e menor que 1 para um nível de modulação via PWM ou com o uso
de uma topologia da ponte em múltiplos níveis. Através de 𝛿𝑐 se controla o ângulo de fase da tensão
CA.
Do circuito da Figura 8-5, são extraídas as seguintes relações.
𝑆𝑠 = 𝑃𝑠 + 𝑗𝑄𝑠

𝑃𝑠𝑓 = −𝑉𝑠2 𝐺𝑡 − 𝑉𝑠 𝑉𝑓 [𝐺𝑡 cos(𝛿𝑠 − 𝛿𝑓 ) + 𝐵𝑡 sin(𝛿𝑠 − 𝛿𝑓 )] 8.1

𝑄𝑠𝑓 = −𝑉𝑠2 𝐵𝑡 − 𝑉𝑠 𝑉𝑓 [𝐺𝑡 sin(𝛿𝑠 − 𝛿𝑓 ) − 𝐵𝑡 cos(𝛿𝑠 − 𝛿𝑓 )] 8.2

𝑃𝑐𝑓 = 𝑉𝑐2 𝐺𝑐 − 𝑉𝑐 𝑉𝑓 [𝐺𝑐 cos(𝛿𝑐 −𝛿𝑓 ) + 𝐵𝑐 sin(𝛿𝑐 −𝛿𝑓 )] 8.3

𝑄𝑐𝑓 = −𝑉𝑐2 𝐵𝑐 − 𝑉𝑐 𝑉𝑓 [𝐺𝑐 sin(𝛿𝑐 −𝛿𝑓 ) − 𝐵𝑐 cos(𝛿𝑐 −𝛿𝑓 )] 8.4

𝑄𝑓 = −𝑉𝑓2 𝐵𝑓 8.5
Os controles do módulo e do ângulo da tensão Vc podem ser efetuados de forma independente.
Consequentemente, pode-se controlar tanto a potência ativa quanto a reativa do conversor. Assim,
pode-se controlar a potência ativa num valor fixo de referência ou fazê-la variar para que a tensão
CC seja controlada em um valor especificado. Em outras palavras, podemos definir um controle
de potência constante ou controle de tensão CC constante para um conversor. Com relação à
potência reativa, pode-se mantê-la em um valor constante ou fazê-la variar para controlar o módulo
da tensão terminal Vs.

8.1.1 Controles
Na prática, se tem pelo menos um conversor controlando a tensão CC e os demais controlando
potência ativa, e em geral os conversores controlam o módulo da tensão terminal. Então, sob o

PUC-RJ - DEE - 86 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

ponto de vista do cálculo de fluxo de potência, um conversor controlando a potência ativa e a tensão
terminal se comporta como uma barra de geração, ou seja, é uma barra do tipo PV.
Similarmente a um gerador, o conversor VSC pode atingir um limite de potência reativa, de corrente
ou de tensão. Nestes casos, pode haver a perda da capacidade de controle de tensão e
consequentemente passar para uma operação com potência reativa constante. Então, no cálculo de
fluxo de potência a barra terminal do conversor passa a ser do tipo PQ.

8.1.2 Perdas
A potência CC difere da CA do conversor devido às perdas nos transistores. O modelo sugerido
para o cálculo destas perdas é o seguinte.
𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 = 𝑎 + 𝑏. 𝐼𝑐 + 𝑐. 𝐼𝑐2 8.6
Onde Ic é a corrente no conversor, dada por
√𝑃𝑐2 + 𝑄𝑐2
𝐼𝑐 = 8.7
√3𝑉𝑐

8.1.3 Limites de Controle


A fim de garantir a integridade dos equipamentos do conversor, alguns limites operacionais são
impostos, como segue.
Limite de Corrente
O limite de corrente é uma restrição do conversor, e portanto definido como Icmax. Pode ser
conveniente defini-lo como uma expressão para a potência máxima terminal em função da corrente
máxima do conversor. A potência de saída é dada por
𝑆̅𝑠 = 𝑉 ̅𝑠 𝐼𝑠∗ҧ 8.8
como
𝑉̅𝑠 = 𝑉̅𝑓 − 𝑍ҧ𝑡 𝐼𝑠ҧ 8.9
e
𝑉̅𝑠 + 𝑍𝑡ҧ 𝐼𝑠ҧ
𝐼𝑠ҧ = 𝐼𝑐ҧ − 8.10
𝑗𝐵𝑓
obtem-se, substituindo-se (8.9) e (8.10) em (8.8).
1 −𝑗𝐵𝑓
𝑆𝑠ҧ = −𝑉𝑠2 ( ) + 𝑉̅𝑠 𝐼𝑐𝑚𝑎𝑥
∗ҧ
( ) 8.11
−𝑗𝐵𝑓 + 𝑍ҧ𝑡 ∗
−𝑗𝐵𝑓 + 𝑍ҧ𝑡∗
Limite de Potência Reativa
Nos conversores VSC que usam modulação de largura de pulso (PWM – Pulse Width Modulation),
o fator de modulação têm limites superior e inferior para evitar sobre-modulação e o surgimento de
componentes harmônicas. Como consequência os limites máximo e mínimo de potência reativa
são fixados (ex., ± 0.5 p.u.).
Limite de Tensão
Com a tecnologia de conversores de múltiplos níveis modulares (MMC – Modular Multilevel
Converter), a potência reativa é limitada pela corrente na região indutiva. O limite inferior de tensão
pode ser omitido neste caso.
Estes limites podem ser implementados como limites na tensão do conversor. Os limites de tensão
podem ser obtidos aplicando-se uma transformada estrela-triângulo às impedâncias representadas
na Figura 8-5. Isto é mostrado na Figura 8-6, com as impedâncias complexas equivalente do
triângulo dados por
𝑍𝑡 𝑍𝑐 +𝑍𝑐 𝑍𝑓 +𝑍𝑓 𝑍𝑡
𝑍1 =
𝑐 𝑍
𝑍𝑡 𝑍𝑐 +𝑍𝑐 𝑍𝑓 +𝑍𝑓 𝑍𝑡
𝑍2 = 𝑍𝑓

PUC-RJ - DEE - 87 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

𝑍𝑡 𝑍𝑐 +𝑍𝑐 𝑍𝑓 +𝑍𝑓 𝑍𝑡
𝑍3 = 𝑍𝑡

𝑆𝑐ҧ 𝑍ҧ2
𝑉̅𝑐 𝑆𝑠ҧ 𝑉̅𝑠

𝑍ҧ3 𝑍1ҧ

Figura 8-6 – Pi-equivalente do conversor VSC.

Reescrevendo 𝐼𝑠∗ҧ em (8.8) em termos de 𝐼1ҧ e 𝐼2ҧ resulta em


𝑆𝑠ҧ = 𝑉̅𝑠 (𝐼2∗ҧ − 𝐼1∗ҧ ) 8.12

𝑉̅𝑐∗ − 𝑉̅𝑠∗ 𝑉̅𝑠∗


𝑆𝑠ҧ = 𝑉̅𝑠 ( − ∗) 8.13
𝑍ҧ2∗ 𝑍1ҧ
Reescrevendo esta equações em termos de admitâncias e limite de tensão no conversor, tem-se
𝑆𝑠ҧ = −𝑉𝑠2 (𝑌̅1∗ + 𝑌̅2∗ ) + 𝑉̅𝑠 𝑉̅𝑐𝑚
∗ ̅∗
𝑌2 8.14
̅ ̅ ̅ ̅
com 𝑉𝑐𝑚 podendo tanto representar 𝑉𝑐𝑚𝑖𝑛 quanto 𝑉𝑐𝑚𝑎𝑥 . 𝑉𝑐𝑚𝑎𝑥 é a tensão máxima que pode ser
gerada pelo conversor sem que ocorra sobre-modulação. O limite inferior 𝑉̅𝑐𝑚𝑖𝑛 pode ser escolhido
de forma a obedecer ao limite mínimo de potência reativa. Este limite pode ser omitido em um
conversor MMC ou quando nenhum limite de reativo mínimo é imposto ao conversor.

8.1.4 Rede de Transmissão CC


A rede de transmissão CC é modelada de forma convencional, utilizando-se o teorema de Kirchhoff,
como segue. Para cada conversor a injeção de corrente CC é dada por
𝑛

𝐼𝑑𝑐𝑖 = ∑ 𝐺𝑖𝑗 (𝑉𝑑𝑐𝑖 − 𝑉𝑑𝑐𝑗 ) 8.15


𝑗=1
𝑗≠𝑖
onde 𝐺𝑖𝑗 = 1/𝑅𝑖𝑗
Em forma matricial, pode-se escrever
𝐼𝑑𝑐 = 𝐺𝑑𝑐 𝑉𝑑𝑐 8.16
Estas equações podem ser escritas em termos da potência CC do conversor. Para uma configuração
monopolar, tem-se
𝑃𝑑𝑐𝑖 = 𝑉𝑑𝑐𝑖 𝐼𝑑𝑐𝑖 8.17
Para as configurações monopolar simetricamente aterrada e bipolar, a injeção de potência é dada
por
𝑃𝑑𝑐𝑖 = 2𝑉𝑑𝑐𝑖 𝐼𝑑𝑐𝑖 8.18
Então, reescrevendo (15) em termos de potência resulta em

PUC-RJ - DEE - 88 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

𝑃𝑑𝑐𝑖 = 2𝑉𝑑𝑐𝑖 ∑ 𝐺𝑖𝑗 (𝑉𝑑𝑐𝑖 − 𝑉𝑑𝑐𝑗 ) 8.19


𝑗=1
𝑗≠𝑖
Esta equação pode ser resolvida pelo método de Newton-Raphson.

8.2 Exemplos de Aplicação


A Figura 8-7 mostra um exemplo de uma linha de transmissão do tipo HVDC-VSC ponto a ponto.
A Figura 8-8 mostra um exemplo de multi-terminal.

Conv 1 Conv 2
.00033+j.0033 j.01 j.01 j.01 j.01 .00033+j.0033
1 4
2 3
j.1 j.1 .5.+j.1
.Vdc1=1.

Figura 8-7 – Exemplo de transmissão ponto a ponto.


Conv 2
j.01 j.01 .00033+j.0033

3 4
j.1 .5.+j.1

Conv 1
.00033+j.0033 j.01 j.01
1
2
j.1
.Vdc1=1.

j.01 j.01 .00033+j.0033

3 4
j.1 .5.+j.1
Conv 2

Figura 8-8 – Exemplo de transmissão multi-terminal.

8.3 Método de Cálculo do Fluxo de Potência


Um método simples de resolver os sistemas CA-CC é a solução sequencial deste sistemas. Assim,
ao início de cada iteração da solução CA, resolve-se o sistema CC e atualiza-se, se necessário as
variáveis de interface, que são Ps e Qs.
Os passos para o cálculo do sistema CC são os seguintes:
i. A partir de Ps e Qs calcula-se a tensão e a corrente nos conversores.
ii. Calcula-se a potência CC considerando as perdas.
PUC-RJ - DEE - 89 - Análise de Sistemas Elétricos I
Elos CC-VSC

iii. Verifica-se se o conversor está operando fora dos limites, e em caso positivo, ajustam-se as
potências ativa e reativa seguindo um critério pré-estabelecido.
iv. Resolve-se a rede CC considerando pelo menos uma das barras CC como slack. Para este
tipo de barra a tensão CC, em vez da potência, é especificada.
v. Sabendo-se o valor das tensões em todas as barras CC e das correntes nos circuitos,
determina-se a potência das barras CC do tipo slack.
vi. Determina-se as variáveis CA do conversor relativo à barra slack CC.
Tensão e Corrente na Conversora
𝑉𝑐 = 𝑉𝑓 + 𝑍𝑐 𝐼𝑐 8.20
onde
𝑉𝑠 𝑆𝑠∗ 𝑍𝑓 + 𝑍𝑡
𝐼𝑐 = + ( ∗ ) 8.21
𝑍𝑓 𝑉𝑠 𝑍𝑓

𝑆𝑠∗
𝑉𝑓 = 𝑉𝑠 + 𝑍𝑡 ( ∗ ) 8.22
𝑉𝑠
Verificação dos Limites
A potência terminal do conversor deve ser interior ao círculo definido por
𝑟 2 = √(𝑃𝑠 − 𝑃𝑜 )2 + (𝑄𝑠 − 𝑄𝑜 )2 8.23
onde
1
𝑃𝑜 + 𝐽𝑄𝑜 = −𝑉𝑠2 ( ∗ ) 8.24
𝑍𝑓 + 𝑍𝑡∗

𝑍𝑓∗
𝑟 = 𝑉𝑠 𝐼𝑐𝑚𝑎𝑥 | ∗ | 8.25
𝑍𝑓 + 𝑍𝑡∗
Os limites de tensão também devem ser interiores aos círculos com raio e centro definidos como
segue
𝑃𝑜 + 𝐽𝑄𝑜 = −𝑉𝑠2 (𝑌̅1∗ + 𝑌̅2∗ ) 8.26

𝑟 = 𝑉𝑠 𝑉𝑐𝑚 𝑌2 8.27
Substituindo 𝑉𝑐𝑚 com 𝑉𝑐𝑚𝑖𝑛 ou 𝑉𝑐𝑚𝑎𝑥 em (8.27) fornece as expressões analíticas para os limites de
reativo para tensão inferior e superior, respectivamente. Somente a solução de sinal positivo é de
interesse, pois a outra solução se refere ao ponto de cruzamento com a parte inferior do círculo de
limite de tensão.
Os limites de reativo são verificados para todos os conversores (Ps ou Vdc especificados).
Adicionalmente, o conversor com Vdc especificado deve ter o limite de potência ativa também
verificado.

Solução da Barra CC Slack


A injeção de potência ativa 𝑃𝑠 no conversor com barra CC slack é calculado a partir da sua potência
CC, 𝑃𝑑𝑐 , considerando as perdas no conversor (𝑃𝑐 = 𝑃𝑑𝑐 + 𝑃𝑙𝑜𝑠𝑠 ). Como as perdas no conversor,
transformador e reator dependem da corrente, que não são conhecidas a priori, um processo iterativo
adicional é necessário para o cálculo de 𝑃𝑠 . Durante este processo, 𝑉̅𝑠 e 𝑄𝑠 são mantidas constantes.
Basicamente, tem-se que calcular as tensões 𝑉̅𝑐 e 𝑉̅𝑓 , dados 𝑉̅𝑠 , 𝑄𝑠 e 𝑃𝑐 .
Para este cálculo utilizam-se as equações de balanço de cargas nas barras c, f, e s do conversor,
como segue.
Barra C (V, δ, Q desconhecidos, P constante):
𝑓(1) = 0 = 𝑃𝑐 − 𝑃𝑐𝑓 8.28
Barra s (P desconhecido, V, δ, Q constantes)

PUC-RJ - DEE - 90 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

𝑓(2) = 0 = 𝑄𝑠 − 𝑄𝑠𝑓 8.29


Barra f (V, δ desconhecidos, balanço de P e Q nulos):
𝑓(3) = 0 = 𝑃𝑓𝑐 − 𝑃𝑓𝑠 8.30
𝑓(4) = 0 = 𝑄𝑓𝑐 − 𝑄𝑓𝑠 − 𝑄𝑓 8.31
𝑄𝑓 , 𝑃𝑐𝑓 𝑒 𝑄𝑠𝑓 , são dados pelas Equações (8.5), (8.3) e (8.2) respectivamente. 𝑃𝑓𝑐 , 𝑃𝑓𝑠 , 𝑄𝑓𝑐 , 𝑄𝑓𝑠 são
dados por
𝑃𝑓𝑐 = 𝑉𝑓2 𝐺𝑐 − 𝑉𝑓 𝑉𝑐 [𝐺𝑐 cos(𝛿𝑓 − 𝛿𝑐 ) + 𝐵𝑐 sin(𝛿𝑓 − 𝛿𝑐 )] 8.32

𝑄𝑓𝑐 = −𝑉𝑓2 𝐵𝑐 − 𝑉𝑓 𝑉𝑐 [𝐺𝑐 sin(𝛿𝑓 − 𝛿𝑐 ) − 𝐵𝑐 cos(𝛿𝑓 − 𝛿𝑐 )] 8.33

𝑃𝑓𝑠 = 𝑉𝑓2 𝐺𝑡 − 𝑉𝑓 𝑉𝑠 [𝐺𝑡 cos(𝛿𝑓 − 𝛿𝑠 ) + 𝐵𝑡 sin(𝛿𝑓 − 𝛿𝑠 )] 8.34

𝑄𝑓𝑠 = −𝑉𝑓2 𝐵𝑡 − 𝑉𝑓 𝑉𝑠 [𝐺𝑡 sin(𝛿𝑓 − 𝛿𝑠 ) − 𝐵𝑡 cos(𝛿𝑓 − 𝛿𝑠 )] 8.35


As quatro variáveis do sistema de Equações (8.28-8.31) podem ser encontradas usando-se o método
Newton-Raphson, tendo as seguintes equações resolvidas iterativamente.
𝐽. ∆𝑥 = −𝑓
8.36
𝑥 (𝑛) = 𝑥 (𝑛−1) + ∆𝑥 𝑛 = 1, 2, …

Onde 𝑥 ≜ (∆𝛿𝑐 , ∆𝛿𝑓 , ∆𝑉𝑐 /𝑉𝑐 , ∆𝑉𝑓 /𝑉𝑓 ) e


𝑑𝑓1 𝑑𝑓1 𝑑𝑓1 𝑑𝑓1
𝑉𝑐 𝑉𝑓
𝑑𝛿𝑐 𝑑𝛿𝑓 𝑑𝑉𝑐 𝑑𝑉𝑓
𝑑𝑓2 𝑑𝑓2
0 0 𝑉𝑓
𝑑𝛿𝑓 𝑑𝑉𝑓
𝐽= 8.37
𝑑𝑓3 𝑑𝑓3 𝑑𝑓3 𝑑𝑓3
𝑉𝑐 𝑉𝑓
𝑑𝛿𝑐 𝑑𝛿𝑓 𝑑𝑉𝑐 𝑑𝑉𝑓
𝑑𝑓4 𝑑𝑓4 𝑑𝑓4 𝑑𝑓4
𝑉𝑐 𝑉𝑓
[𝑑𝛿𝑐 𝑑𝛿𝑓 𝑑𝑉𝑐 𝑑𝑉𝑓 ]
Sendo
𝑑𝑓1
= −𝑄𝑐𝑓 − 𝐵𝑐 𝑉𝑐2 8.38
𝑑𝛿𝑐

𝑑𝑓1
= 𝑄𝑐𝑓 + 𝐵𝑐 𝑉𝑐2 8.39
𝑑𝛿𝑓

𝑑𝑓1
𝑉𝑐 = 𝑃𝑐𝑓 + 𝐺𝑐 𝑉𝑐2 8.40
𝑑𝑉𝑐

𝑑𝑓1
𝑉𝑓 = 𝑃𝑐𝑓 − 𝐺𝑐 𝑉𝑐2 8.41
𝑑𝑉𝑓

𝑑𝑓2
= −𝑃𝑠𝑓 − 𝐺𝑡 𝑉𝑠2 8.42
𝑑𝛿𝑓

𝑑𝑓2
𝑉𝑓 = 𝑄𝑠𝑓 − 𝐵𝑡 𝑉𝑠2 8.43
𝑑𝑉𝑓

PUC-RJ - DEE - 91 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

𝑑𝑓3
= 𝑄𝑐𝑓 − 𝐵𝑐 𝑉𝑓2 8.44
𝑑𝛿𝑐

𝑑𝑓3
= 𝑄𝑓𝑐 − 𝑄𝑓𝑠 − (−𝐵𝑐 + 𝐵𝑡 )𝑉𝑓2 8.45
𝑑𝛿𝑓

𝑑𝑓3
𝑉𝑐 = 𝑃𝑐𝑓 + 𝐺𝑐 𝑉𝑓2 8.46
𝑑𝑉𝑐

𝑑𝑓3
𝑉𝑓 = 𝑃𝑐𝑓 − 𝑃𝑠𝑓 + (𝐺𝑐 − 𝐺𝑡 )𝑉𝑓2 8.47
𝑑𝑉𝑓

𝑑𝑓4
= −𝑃𝑐𝑓 − 𝐺𝑐 𝑉𝑓2 8.48
𝑑𝛿𝑐

𝑑𝑓4
= 𝑃𝑐𝑓 − 𝑃𝑠𝑓 + (𝐺𝑐 − 𝐺𝑡 )𝑉𝑓2 8.49
𝑑𝛿𝑓

𝑑𝑓4
𝑉𝑐 = −𝑄𝑐𝑓 − 𝐵𝑐 𝑉𝑓2 8.50
𝑑𝑉𝑐

𝑑𝑓4
𝑉𝑓 = −𝑄𝑐𝑓 + 𝑄𝑠𝑓 + 𝑉𝑓2 (𝐵𝑐 − 𝐵𝑡 + 2𝐵𝑓 ) 8.51
𝑑𝑉𝑓

Solução da Rede CC
A solução de uma rede CC monopolar aterrada em todos os polos, basicamente consiste em resolver
pelo método Newton-Raphson o conjunto de equações (8.19). Entretanto, para redes bipolares com
retorno metálico, pode ser necessário representar matematicamente os circuitos dos polos positivos
e negativos e de retorno.
Aplicando igualmente a lei de Kirchhoff, tem-se a equação fundamental para cada nó, Eq. (8.15)
que por conveniência é repetida a seguir.
𝑛

𝐼𝑑𝑐𝑖 = ∑ 𝐺𝑖𝑗 (𝑉𝑑𝑐𝑖 − 𝑉𝑑𝑐𝑗 ) 8.52


𝑗=1
𝑗≠𝑖
onde 𝐺𝑖𝑗 = 1/𝑅𝑖𝑗
Cabe lembrar que neste caso 𝑉𝑑𝑐 a é tensão em relação ao nó de referência e não a tensão CC do
conversor. Assim, para cada bipolo, têm-se três valores de tensão: positiva, negativa e de neutro.
Na formulação a seguir, a tensão de CC de um conversor é representada pelo subscrito em
maiúsculas, 𝑉𝐷𝐶 , e corresponde à tensão do polo menos a tensão de neutro. As tensões dos polos
positivo, negativo e neutro são representadas 𝑉𝑑𝑐+ , 𝑉𝑑𝑐− e 𝑉𝑑𝑐𝑟 respectivamente. Assim,
𝑉𝑑𝑐± = 𝑉𝐷𝐶± + 𝑉𝑑𝑐𝑟 8.53
É considerando nesta implementação que o nó de referência está aterrado e consequentemente sua
tensão é zero.
A corrente 𝐼𝑑𝑐 injetada em polos positivos e negativos é dada por
𝑃±𝑖
𝐼𝑑𝑐𝑖 = 8.54
𝑉𝑑𝑐± 𝑖 − 𝑉𝑑𝑐𝑟

PUC-RJ - DEE - 92 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

A corrente injetada em nós neutros é dada por


𝑃+𝑖 𝑃−𝑖
𝐼𝑑𝑐𝑖 = − 8.55
𝑉𝑑𝑐+ 𝑖 − 𝑉𝑑𝑐𝑟 𝑉𝑑𝑐− 𝑖 − 𝑉𝑑𝑐𝑟
Por questões de simplicidade o método de Gauss pode ser adotado para a solução destas equações.
Nota: A resistências entre nós de retorno que estejam aterrados são consideradas nulas.
As equações 8.52 a 8.55 são resolvidas na forma matricial dada por
𝐼∓𝑟 = 𝐺∓𝑟 𝑉∓𝑟

8.3.1 Base de Tensão


Como usual, a base de potência é a mesma para todo o sistema. Então, a determinação dos valores
por unidade para o lado CC requer que a tensão ou a corrente base seja especificada. Como usual,
opta-se por especificar o valor nominal de tensão.
A tensão entre polos, em um conversor com modulação linear de pulsos é dada por
𝑉𝑑𝑐 = 2√2. 𝑛. 𝑚𝑎 . 𝑉𝑎𝑐𝑟𝑚𝑠 /√3 = 1.633𝑛. 𝑚𝑎 . 𝑉𝑎𝑐𝑟𝑚𝑠 8.56
E no caso de conversores de múltiplos níveis e onda quadrada, a relação é dada por
𝑉𝑑𝑐 = 0.5. 𝜋√2. 𝑛. 𝑚𝑎 . 𝑉𝑎𝑐𝑟𝑚𝑠 /√3 = 1.283𝑛. 𝑚𝑎 . 𝑉𝑎𝑐𝑟𝑚𝑠 8.57
Onde 𝑉𝑎𝑐𝑟𝑚𝑠 é a tensão efetiva ou tensão base do lado CA, n é o número de conversores em série, e
𝑚𝑎 é o fator de modulação de amplitude do conversor. Assim, um valor de tensão CC base comum
para os dois tipos de conversores é dado pela tensão de pico de linha (fase-fase)
𝑉𝑑𝑐𝑏𝑎𝑠𝑒 = 𝑛. √2𝑉𝑐𝑎𝑏𝑎𝑠𝑒
Com esta definição, 𝑚𝑎 é ajustado para estabelecer o valor de tensão CC em pu especificado para
o conversor. Este seria o valor base para um único polo. No caso de bipolo, a tensão base é dividida
por dois.
Uma alternativa seria especificar
𝑉𝑑𝑐𝑏𝑎𝑠𝑒 = 𝑛. √2𝑉𝑐𝑎𝑏𝑎𝑠𝑒 /√3
Ou seja, a tensão de pico fase neutro do lado CA correspondente à tensão CA base.

PUC-RJ - DEE - 93 - Análise de Sistemas Elétricos I


Elos CC-VSC

8.4 Aspectos de Implantação

8.4.1 Fluxogramas
Os conversores VSC são resolvidos no início de cada iteração do cálculo de fluxo de potência pelo
método de Newton. As potências injetadas pelos conversores na rede CA são atualizadas no início
de cada iteração. O fluxograma da Figura 8-9 ilustra o processo de cálculo destas injeções.
Resolve conversores
com potência
especificada

Resolve a rede CC

Resolve conversores
com tensão
especificada

Figura 8-9 – Solução do elo CC-VSC

Tanto a solução dos conversores que têm a potências CC especificada, quando a dos que têm a
tensão CC especificada é ilustrada no fluxograma da na Figura 8-10.

Cálculo das Tensões


CA do Conversor

Verificação de
Limites

Sim
Limite
aplicado
?
Não
Figura 8-10 – Cálculo das tensões CA dos conversores.

PUC-RJ - DEE - 94 - Análise de Sistemas Elétricos I


Análise de Sensibilidade

9 Análise de Sensibilidade
Análises de sensibilidade são úteis quando se quer corrigir tensões e fluxos em um caso de fluxo de
potência e há vários controles disponíveis. Então, procura-se identificar, via análise de
sensibilidade quais controles são mais efetivos para tais correções.

A análise de sensibilidade é obtida a partir da matriz Jacobiano, como segue. O problema de fluxo
de potência convencional, que é o problema de balanço de potência ativa e reativa em todos dos
nós, é definido pelas seguintes equações.
 0  Pg  Pl  Pe
 9.1
0  Qg  Qcap  Qrea  Ql  Qe
Que podem ser generalizadas como,
f ( x, u )  0 9.2
Onde 𝑥 é o conjunto de variáveis dependentes (ex., módulos e ângulos das tensões), e 𝑢 é o conjunto
de variáveis de controle (ex., geração de MW).

A relação entre estes dois conjuntos de variáveis podem ser definidas como
1
f f  f  f
0  x  u  x    u 9.3
x u  x  u
 f 
Onde   é a matriz Jacobiano do fluxo de potência pelo método de Newton.
 x 
Assim, para definir a sensibilidade de uma variável que seja função de variáveis dependentes g (x)
(ex., fluxo de MW da barra 𝑘 para a barra 𝑚, ou seja, 𝑃𝑘𝑚 ) com relação a um conjunto de variáveis
de controle, 𝑢, escreve-se:
T T 1
 g   g   f  f
Pkm  g ( x)  Pkm    x  Pkm      u 9.4
 x   x   x  u
Com isto, é possível dizer que o vetor de índices de sensibilidade é definido como
 u1 
 u 
Pkm  s1 s2 ... sn   2  9.5
 : 
 
 u n 
T 1
 g   f  f
Onde s     
 x   x  u
É importante notar que para qualquer injeção ∆𝑃 no sistema há uma variação correspondente de
−∆𝑃 na barra de balanço de cargas (swing). Então, a análise de sensibilidade envolvendo injeções
de potência é dependente da localização da barra.

PUC-RJ - DEE - 95 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência Continuado

10 Fluxo de Potência Continuado


O método de fluxo de potência continuado permite que se faça uma transição suave entre dois
pontos de operação (soluções de fluxo de potência para condições operativas diferentes). É útil,
por exemplo, para mudar o nível de carregamento do sistema ou redespachar geração. O redespacho
reduz geração em um grupo de geradores e aumenta em outro grupo. Também pode ser utilizado
para encontrar o máximo carregamento de um sistema. O máximo carregamento é difícil de ser
calculado com um programa de fluxo de potência convencional porque a matriz Jacobiano é
singular no ponto de máximo carregamento e mal condicionada no entorno deste, dificultando a
convergência do cálculo. O método da continuação é tal que evita este mal condicionamento.

O único problema com o método da continuação é que assume-se que o sistema é contínuo. Isto
não é verdadeiro no caso das equações de fluxo de potência devido, por exemplo, às limitações de
MW/Mvar, e controles discretos (tap e shunts). Os limites não são os maiores problemas porque as
equações podem ser consideradas contínuas por partes durante o processo de solução. Já os
controles discretos têm que ser considerados contínuos em parte da solução e discretos em outros,
podendo causar alguma dificuldade na aplicação do método.

Uma das formas de implementação do método da continuação é com o método do vetor tangente,
que consiste em dois passos principais, ligados via o parâmetro de continuação. O primeiro passo
é chamado de Previsor, e o segundo de Corretor. No passo previsor, as variáveis dependentes são
estimadas no próximo ponto de operação. No passo corretor, basicamente se processa um fluxo de
potência similar ao convencional a partir da aproximação obtida no passo previsor, mas mantendo
uma variável constante. Está variável é chamada de Parâmetro de Continuação. O ciclo previsor-
corretor é repetido até que a solução (patamar de carga, máximo carregamento, etc.) seja obtida.

10.1 Método do Vetor Tangente

Este método resulta da aplicação do algoritmo de continuação ao problema de fluxo de potência. O


primeiro procedimento é reformular as equações de fluxo de potência adicionando-se um fator
incremental, por exemplo, para cargas e gerações, resultando em:

Pg  Pg0  KPg 10.1


Pl  Pl0  Kpl 10.2
Qg  Qg 0  KQg 10.3
Ql  Ql 0  KQl 10.4

Onde lambda, 𝜆, é o fator de incremento de carga/geração aplicados às barras do sistema, Pg0, Pl0,
Qg0 e Ql0 são os valores iniciais de geração e carga, e KPg, KPl, KQg, KQl são os fatores de
variação de geração e carga, definidos para cada barra do sistema.

As equações do sistema passam a ser descritas como


f  x,    0 10.5
Para resolver este problema, o algoritmo de continuação parte de uma solução conhecida e usa o
esquema preditor-corretor para encontrar soluções subsequentes com níveis diferentes de carga e
geração.

PUC-RJ - DEE - 96 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência Continuado

A previsão da próxima solução é obtida dando-se um passo de dimensão predefinida na direção


tangente ao caminho da solução.
f x  x,      f x,    f ' x,  x,    0  f ' x,  x,    0
T T
10.6
No passo corretor, processa-se o cálculo de fluxo de potência, tomando-se como condição inicial o
ponto de operação estimado no passo previsor, e mantendo uma variável constante. Esta variável
é chamada de parâmetro de continuação. O ciclo preditor-corretor é repetido até a solução ser
obtida.

O parâmetro de continuação pode ser o fator de incremento, lambda, ou a tensão em uma das barras.
A decisão de qual usar é baseada em qual tem a maior derivada, computada no passo Previsor. A
Figura abaixo mostra como o processo funciona.

V Previsor #1 ( tem a maior derivada)


Corretor #1 ( é o parâmetro de continuação)
Vetor tangent #1

Previsor #2 (V tem a maior derivada)

Vetor tangent #2

Corretor #2 (V é o parâmetro de continuação)

Figura 10-1 – Exemplo de dois ciclos previsor-corretor com parâmetros de continuação diferentes.

10.2 Passo Previsor

A primeira tarefa no passo previsor é calcular o vetor tangente. Este cálculo é obtido via matriz
Jacobiano aumentada, que tem uma coluna extra, associada com a variável adicional lambda. Para
balancear o número de equações e variáveis, uma equação adicional deve ser incluída ao problema.
Isto pode ser feito escolhendo-se uma magnitude diferente de zero (digamos, um) para um dos
componentes do vetor tangente. Em outras palavras, se t é usada para denotar o vetor tangente:
 x 
t     t k  1 10.7
  
Isto resulta em:
 f x,   x   0 
      10.8
 e k      1
Onde 𝑒𝑘 é um vetor vetor com todos elementos iguais a zero exceto na posição k-ésima, que é igual
a um. Se o índice k é escolhido corretamente, escolhendo-se t k  1 uma norma diferente de zero
é imposta ao vetor tangente e garante que o Jacobiano aumentado é não-singular no ponto de
máximo carregamento. Usa-se +1 ou -1 dependendo de como a variável está mudando. Uma vez
que o vetor tangente tenha sido encontrado, o tamanho do passo na direção deste vetor deve ser
ajustado de tal forma que a previsão do ponto de operação esteja no raio de convergência do
corretor. Uma boa estimativa para este passo é o inverso da norma do vetor tangente, ou seja,
 x  1  x 
   t   10.9
     

PUC-RJ - DEE - 97 - Análise de Sistemas Elétricos I


Fluxo de Potência Continuado

10.3 Passo Corretor

O processo de corrigir a estimativa da solução é baseado em uma parametrização local, onde o


conjunto de equações iniciais é aumentado por uma equação, que especifica o valor de uma variável.
Esta variável é o parâmetro de continuação, que pode ser a tensão de uma barra ou o fator de
incremento lambda. Considerando que 𝜂 seja o valor do parâmetro de continuação (V ou 𝜆) o novo
sistema a ser resolvida pode ser expresso da seguinte forma.
 f  x,  
 V     0 10.10
 k 
Ou
 f  x,  
      0 10.11
 
O método Newton-Raphson é usado para resolver este problema.

PUC-RJ - DEE - 98 - Análise de Sistemas Elétricos I


Equivalentes de Rede

11 Equivalentes de Rede
Modelos de redes reduzidas de sistemas de potência são usadas tipicamente para avaliações de
segurança online, planejamento de redes de grandes dimensões e simulações em tempo real. Para
avaliações de segurança online, a representação de partes não observadas (sem medições) via
equivalentes reduzidos melhora o desempenho computacional, que é a um dos principais requisitos
para aplicativos online, e é necessária quando não se dispõe de informações sobre o estado da rede
não observada. No caso de simulação em tempo real, não se tem como representar, pelo menos a
custo razoável, sistemas de grande porte devido a limitações de hardware e consequentemente a
redução da rede se faz necessária. Para estudos de planejamento, as reduções de rede fazem sentido
se o modelo completo é muito grande e o foco da análise está restrita a uma parte relativamente
pequena do sistema. Em particular, para estudos que demandam uma grande quantidade de
simulações (por exemplo, análise repetida de muitas contingências), o uso de equivalentes pode
economizar uma muito tempo.

No problema de equivalentes de rede, define-se um subsistema de interesse, usualmente


denominado de sistema interno, e o resto do sistema é definido como sistema externo. O sistema
interno é preservado inteiramente, e o sistema externo é substituído por um sistema equivalente
reduzido. A figura abaixo mostra o esquema geral. As barras de fronteira são o único ponto de
interconexão entre os sistema interno e externo.

Barras de
Fronteira

Sistema Sistema
Interno Externo

Figura 11-1 – Sistemas interno e externo.

Também se reconhece que às vezes é necessário ou conveniente reter partes do sistema externo.
Tais partes tipicamente exercem um efeito não desprezível no sistema interno. Exemplos típicos
são fontes que colaboram significativamente para o controle de tensão do sistema interno e ramos
cujo status influencia os fluxos no sistema interno. Normalmente denomina-se estas partes do
sistema externo que são retidas de zona de acomodação.

Alguns requisitos importantes para os modelos equivalentes externos são os seguintes:


a) Deve ser compatível com um programa de fluxo de potência, ou seja, não pode ser somente
um modelo matemático;
b) Deve ser matematicamente bem condicionado para evitar problemas de convergência do
modelo completo;

PUC-RJ - DEE - 99 - Análise de Sistemas Elétricos I


Equivalentes de Rede

c) Deve preservar, com boa acurácia, as sensibilidades do sistema externo original para
variações no sistema interno.

Os Itens (b) e (c) estão relacionados e, em termos práticos, implicam, na análise de regime
permanente, os fluxos através da rede externa devam ser equivalentes àqueles do sistema original e
que as respostas de MW e Mvar do sistema externo para alterações no sistema interno também
devam ser próximas àquelas no sistema original.

Obviamente, a medida que a dimensão do sistema é reduzida, parte dos efeitos da rede externa é
removida e a resposta global não é exatamente a mesma do sistema original. Mas é possível se
encontrar modelos reduzidos cujas respostas sejam muito próximas do sistema original.

Não existe uma solução exata para o problema de redução de redes, mas soluções satisfatórias. Na
prática, o processo de redução de redes requer tentativas e ajustes repetidos até que se obtenha um
modelo satisfatório.

Um processo de redução de redes tipicamente envolve os seguintes passos:


i. Remove-se (corta-se) elementos do sistema que se sabe de antemão que não exercem
influência na área de interesse (sistema interno).
ii. Define-se a área de interesse;
iii. Especifica-se as partes do sistema externo que serão retidas (zona de acomodação);
iv. Calcula-se a rede equivalente;
v. Verifica-se a acurácia do sistema equivalente comparando-se os resultados de contingências
com os do sistema original.

No passo (i) pode-se remover, por exemplo, ilhas elétricas que não fazem parte do sistema interno,
barras de baixa tensão em regiões distantes da área de interesse, etc.

A especificação das partes do sistema externo a serem retidas pode ser feita com base na experiência
do analista ou determinada por análise de sensibilidade.

Para a redução da rede externa, a literatura propõe duas abordagens. Uma é baseada no método
REI e a outra no método Ward. A literatura também oferece algumas variantes para cada um destes
métodos. Dependendo da variante e detalhes de implementação, ambas podem oferecer bons
resultados. Entretanto, o método Ward tem sido mais utilizado e implementado com sucesso em
programas comerciais.

11.1 Método Ward


Considerando a definição dos subsistemas interno e externo a matriz de admitâncias pode ser
particionada como segue.
Yee Yeb 0  Ve   I e 
Y Y Y   V    I 
 be bb bi   b   b  11.1
 0 Yib Yii  Vi   I i 
Onde os subscritos b, e e i estão referidos às barras de fronteira (‘boundary’), sistema externo e
sistema interno respectivamente. Dado que Ie é conhecido, (102.1) pode ser reduzida a
Ybbeq Ybi  Vb   I beq 
      11.2
 Yib Yii  Vi   I i 

PUC-RJ - DEE - 100 - Análise de Sistemas Elétricos I


Equivalentes de Rede

Onde
𝑒𝑞 −1
𝑌𝑏𝑏 = 𝑌𝑏𝑏 − 𝑌𝑏𝑒 𝑌𝑒𝑒 𝑌𝑏𝑒 11.3
𝑒𝑞 −1
𝐼𝑏 = 𝐼𝑏 − 𝑌𝑏𝑏 𝑌𝑒𝑒 𝐼𝑒 11.4
O efeito do sistema externo no interno é representado por (2.2) via injeções de corrente nas barras
de fronteira e novas conexões entre estas barras, como mostrado na figura abaixo. Rigorosamente,
o ponto de operação do sistema reduzido é o mesmo que o do sistema original. Idealmente, o
sistema reduzido deveria responder a variações como o sistema original. Esta é a parte desafiadora
do problema. Note que embora a redução em (2.2) seja exata no ponto de operação, ela não garante
que respostas a variações sejam as mesmas do sistema original. Isto se deve em parte devido a
natureza não linear do problema de fluxo de potência e em parte devido a supressão de elementos
ativos no processo de redução.

Barras de
Fronteira
𝐼𝑏𝑒𝑞𝑖

Sistema Externo
𝐼𝑏𝑒𝑞𝑗
Reduzido a injeções
Sistema e ramos
Interno equivalentes
𝐼𝑏𝑒𝑞𝑘

Figura 11-2 – Sistema após a redução.

Uma alternativa para computação das injeções de corrente (10.4) que pode ser derivada de (10.2),
quando as injeções nas barras externas Ie não são conhecidas, é a seguinte.

𝐼𝑏𝑒𝑞 = 𝑌𝑏𝑏
𝑒𝑞
𝑉𝑏 + 𝑌𝑏𝑖 𝑉𝑖 11.5
Nesta equação Vb e Vi pertencem ao sistema interno somente.

Um aspecto crítico deste método é a forma de se levar em conta as cargas e os elementos shunt.
Eles podem ser convertidos em admitância constante e adicionados à matriz de admitâncias (10.1).
Esta variante é denominada de Ward-Admitância. Alternativamente, estes elementos podem ser
convertidos em injeções de corrente e adicionados às injeções das barras, ou simplesmente
ignorados, ou seja, não incluídos na Equação (10.1). De fato, as duas últimas alternativas conduzem
à mesma matriz de admitâncias, e uma vez que as tensões nas barras de fronteira sejam conhecidas,
as injeções nestas barras podem ser calculadas por (10.5).

Outra consideração importante é que a computação em (10.3) tipicamente resulta em uma submatriz
𝑒𝑞
𝑌𝑏𝑏 densa, se não se tomar cuidado em evitar a adição de pequenas admitâncias nesta submatriz,
−1
como um resultado da computação de 𝑌𝑒𝑒 pelo método de Eliminação de Gauss. Então, durante o
processo de fatoração, preenchimentos com admitâncias que tenham valor inferior a um
determinado valor não devem ser efetuados, ou seja, são desprezados.

PUC-RJ - DEE - 101 - Análise de Sistemas Elétricos I


Equivalentes de Rede

11.2 Ward PV
Uma das consequências da redução de (10.2) é que as fontes de controle de tensão no sistema
externo são perdidas. Assim, embora o ponto de operação do sistema interno seja exatamente o
mesmo que no sistema original, a resposta global do sistema para variações de tensão no sistema
interno pode ser bastante diferente, o que afeta negativamente a acurácia de uma análise de
contingências, por exemplo.

Uma forma de eliminar esta deficiência é reter todas as barras PV no sistema externo ou pelo menos
aquelas que têm influência no controle de tensão da área interna. Uma forma de se terminar tal
influência é via análise de sensibilidade.

11.3 Zona de Acomodação


Como mencionado, a zona de acomodação (buffer zone) consiste de elementos retidos no sistema
externo. Tais elementos podem ser determinados via análise de sensibilidade, por experiência do
analista ou simplesmente se estabelecendo uma vizinhança do sistema interno.

Duas análises de sensibilidade podem ser muito úteis. Uma relaciona os ramos na rede externa cuja
mudança de status causa variações de fluxo na rede interna superiores a um determinado nível
preestabelecido. A outra identifica quais fontes de controle de tensão na rede externa influenciam
o controle de tensão na área interna.

PUC-RJ - DEE - 102 - Análise de Sistemas Elétricos I


Avaliação de Segurança Estática

12 Avaliação de Segurança Estática


A segurança elétrica de um sistema elétrico de potência está diretamente relacionada com a
continuidade e qualidade do fornecimento de energia. Um sistema é dito seguro se é capaz de
fornecer energia com tensões e fluxos de potência dentro dos limites de projeto, em sincronismo,
na frequência especificada, e com todas as cargas supridas, mesmo quando sujeito a distúrbios
previstos que podem acarretar na perda de um ou mais elementos.

A operação em sincronismo e com a frequência estabelecida são temas relacionados à Segurança


Dinâmica e vistos no curso de Análise II. Os demais temas podem ser analisados do ponto de vista
estático.

12.1 Estados Operativos


A Figura 12-1 mostra uma classificação dos possíveis estados de operação de um sistema elétrico
de potência. Como definido, o nível seguro requer o suprimento de todas as cargas e que os critérios
de segurança não sejam violados.

Figura 12-1 – Estados operativos de um sistema elétrico de potência.

12.2 Critérios de Segurança


Os critérios de segurança em uma avaliação de segurança estática são tipicamente os seguintes:
• Tensões dentro dos limites de projeto. Por exemplo, entre 0.95 e 1.05 p.u. da tensão
nominal de projeto da barra do sistema. Tensões muito baixas ou muito altas significam
deterioram a qualidade da energia, pois podem causar mal funcionamento ou defeito em
equipamentos da rede ou aparelhos consumidores. Em transformadores, por exemplo,
tensões altas causam aumento da corrente de magnetização e consequentemente elevação
de temperatura, podendo acarretar em desligamento do mesmo.

PUC-RJ - DEE - 103 - Análise de Sistemas Elétricos I


Avaliação de Segurança Estática

• Fluxos de potência inferiores à capacidade dos circuitos. Em transformadores, fluxos


acima da capacidade podem causar perda de vida útil, devido à deterioração de isolamentos,
sobreaquecimento e consequente desligamento. Em linhas de transmissão, o aumento
excessivo da corrente e temperatura no condutor causam uma distensão nos cabos e aumento
das respectivas flechas, diminuindo a distância para o solo e aumentando o risco de
‘flashover’.
• Geradores devem operar dentro dos limites de capabilidade para os quais foi projetado. A
potência máxima dos geradores é normalmente limitada pela capacidade da turbina. A
potência ativa mínima está relacionada a um mínimo fluxo de energia primária (ex., vapor
ou água) para que não ocorra cavitação nas pás das turbinas e consequentemente danos às
mesmas. A potência reativa máxima gerada está relacionada com a corrente máxima de
excitação do gerador e/ou corrente máxima de armadura. Estas limitações são impostas por
controles no sistema de excitação e coordenadas com sistemas de proteção. A potência
reativa máxima absorvida está relacionada a um mínimo de excitação necessário para que o
gerador possa manter o sincronismo com a rede. Dependendo do projeto do gerador, a
corrente de armadura também pode ser um fator limitante para a absorção de potência
reativa.
• Limite operacional causado pela máxima transferência de potência. Como se sabe, uma
rede elétrica tem uma capacidade máxima de transferência de potência, implicando que
mesmo havendo capacidade de geração, a carga pode não ser suprida devido à limitação nos
circuitos da rede. Em termos práticos, o que pode ocorrer é que um distúrbio que cause a
perda de um ou mais circuitos pode impossibilitar o suprimento da carga demanda. Neste
caso, dois fenômenos podem ocorrer. Um é na situação em que a carga se comporte como
uma impedância constante e diminuirá a sua demanda naturalmente via uma redução de
tensão. Esta redução pode ser tal que viole o critério estabelecido e, portanto, não é
aceitável. A outra situação é a que a carga se comporte como uma potência constante e,
como esta potência não pode ser suprida, as tensões colapsam. A grosso modo este é um
fenômeno parecido com o que acontece com os motores de indução, que são bloqueados
com a queda acentuada ou total da tensão. Portanto, o critério de segurança deve observar
estes limites operacionais.

Na solução do problema de fluxo de potência, os limites acima podem ser classificados em dois
tipos, os rígidos e os flexíveis. Os limites de geração são ditos limites rígidos porque em regime
não se tem como operar fora deles. Já para os limites térmicos de circuitos e os limites de tensão
pode-se admitir alguma violação sem grandes consequências para a operação. Adicionalmente, os
limites flexíveis admitem pequenas violações por poderem ser corrigidos via ação dos operadores
em tempos suficientemente curtos de forma a não causarem consequência indesejadas.

A Figura 12-1 detalha os outros estados operativos (seguro com correção, alerta, emergência, etc.).

Assumindo que o sistema esteja operando em estado seguro, a transição para um estado mais
deteriorado (ex., seguro para seguro com correção) ocorre em função de um distúrbio
(contingência), que pode ser uma perda de um ou mais circuitos ou geradores. A transição de volta
para um estado seguro se dá através de ações dos operadores do sistema. Estas ações podem ser
preventivas ou corretivas.

Evidentemente que nenhum sistema pode ser dito seguro para qualquer contingência. Então, diz-
se que um sistema é seguro para um conjunto de contingências com grau de severidade estabelecido.
Este grau é estabelecido no critério de projeto do sistema elétrico. Sistemas que são projetados para
suportar contingência com alto grau de severidade evidentemente que deverão operar com maior
PUC-RJ - DEE - 104 - Análise de Sistemas Elétricos I
Avaliação de Segurança Estática

segurança elétrica. Todavia, isto implica em maior investimento em equipamento e,


consequentemente, maiores tarifas para os consumidores e necessidade de financiamento. Do ponto
de vista da análise estática da rede, o critério de severidade padrão era o da perda de um elemento
da rede. Convencionou-se chamar este critério de N-1, ou seja N equipamentos menos um.
Atualmente é comum a adoção também de critérios N-2, ou seja, a avaliação de contingências que
causem a perda de dois elementos da rede. Tipicamente esta perda é a de dois circuitos de
transmissão paralelos que utilizem a mesma faixa de servidão.

12.3 Ações Operativas


Quando o sistema opera em condições seguras, uma análise de contingência pode indicar violações
dos critérios à condição do sistema após a contingência. Nesta situação, os operadores podem tomar
medidas preventivas, ou seja, mover o ponto de operação para uma condição na qual suporte sem
violações as condições operativas pós-contingências. Tais ações são denominadas de ações
preventivas.

Se o sistema já se encontra em condição de violação de um critério de segurança (ex., tensão abaixo


do limite em um ou mais barramentos), Emergência Corrigível, o operador deve tomar uma ação
corretiva.

As ações preventivas e corretivas são baseadas em análises do sistema via ferramentas


computacionais (fluxo de potência, análise de sensibilidade, análise de contingência e/ou fluxo de
potência ótimo) ou na experiência do operador com o sistema. No caso de usar a experiência, o
operador conhece os recursos que influenciam diretamente as grandezas que pretende corrigir. Por
exemplo, ele pode conhecer a relação (sensibilidade) de um reator com a tensão de uma barra ou de
o despacho de geração em um local com o fluxo de um circuito. Em geral este tipo de ação é efetiva
para problemas relativamente simples.

No caso de problemas mais complexos, como por exemplo, os envolvendo os limites operacionais,
a ação deve ser baseada em análises da rede. Estas análises podem ser feitas previamente (off-line)
ou online. Quando feitas previamente são denominadas de análises do planejamento da operação.
O sistema é avaliado em situações extremas e as limitações operacionais são estabelecidas em
instruções, tabelas e gráficos (ábacos ou nomogramas) e disponibilizadas no sistema de supervisão
e controle para os operadores. As situações extremas partem de casos representando condições
operativas extremas, ou seja, cargas máxima e mínima, despachos variados de geração e diversas
configurações topológicas da rede.

Quando realizadas em ambiente de operação, ou seja, online, as análises partem de casos obtidos
via estimação de estado. Ou seja, medidas de tensão e fluxo de potência ou corrente são coletadas
da rede e enviadas para o sistema de supervisão e controle via unidades de terminais remotas. Estas
medidas contêm erros e para se conhecer o estado operativo mais provável da rede é necessários
processá-los via o estimador de estado. Tipicamente, o estimador é um método de regressão que
ajusta as medidas ao modelo da rede. A Figura 12-2, ilustra o processo típico de análise de sistemas
de potência em ambiente de operação. Quando aplicativos de análise de redes são incorporados a
um sistema de supervisão e controle (SCADA), o sistema é mais frequentemente denominado de
Sistema de Gerência de Energia (EMS – Energy Management System).

Em geral, o modelo de rede no sistema consiste em uma parte da qual se tem medidas (observada)
e uma parte externa da qual não se tem medidas, mas deve ser representada por influenciar de

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alguma forma o comportamento da área observada. Na parte externa, utiliza-se um equivalente de


redes reduzido, cujo estado é estimado com pseudomedidas.

12.4 Análise de Contingências

A análise de contingências detecta possíveis limitações na rede. Esta análise é feita com um
programa de fluxo de potência. Partindo da condição inicial que representa o estado operativo atual,
aplica-se a perturbação, normalmente desligando um (N-1) ou dois (N-2) circuitos, e calcula-se
novamente o fluxo de potência para verificar a ocorrência de violações nesta condição. Havendo
violações, o analista pode determinar as medidas de correção com base na sua experiência e/ou
recorrer a análises de sensibilidade ou método de fluxo de potência ótimo – FPO para sugerir
automaticamente as medidas necessárias. Embora os FPO sejam ferramentas muito poderosas, o
seu uso não é simples em função da dificuldade de se manter as ações preventivas/corretivas
restritas a um conjunto pequeno de ‘ações práticas’.

Figura 12-2 – Estimação de estado e análise de segurança online.

Em um ambiente de planejamento da operação, o conjunto de medidas preventivas e corretivas


encontradas limitam o estado de operação da rede a uma região relacionada com um estado
operativo inicial, configurado pela carga, despacho de geração e topologia da rede. Tal região pode
ser disponibilizada aos operadores por meio de regras (se o estado e tal, deve-se obedecer as
seguintes instruções) e/ou ábacos/nomogramas. Estes delimitam duas grandezas do sistema, como,
por exemplo, geração em duas regiões diferentes a uma região em um espaço bidimensional.

Em um ambiente de operação em tempo real não há condições de se fazer uma análise. As


ferramentas computacionais de avaliação de segurança devem ser automáticas e prover informações
concisas sobre as medidas preventivas ou corretivas necessárias. Com base na análise de
contingências, o operador pode ter uma boa noção da medida necessária em casos de violações mais

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Avaliação de Segurança Estática

simples, mas para situações mais complexas devem recorrer as instruções operativas estabelecidas
no planejamento da operação ou a ferramentas mais avançadas.

12.5 Ferramentas Avançadas para Avaliação de Segurança Online

Há duas possibilidades de uso de ferramentas mais avançadas para avaliação de segurança e


indicação de ações preventivas/corretivas. Uma é o fluxo de potência ótimo com restrições de
segurança (SCOPF – Security Constrained Optimal Power Flow). A outra é o cálculo online de
regiões de segurança.

12.5.1 Fluxo de Potência Ótimo


O fluxo de potência ótimo tem a seguinte formulação geral.
min 𝑓(𝑢)
𝑠. 𝑎 𝑔(𝑥, 𝑢) = 0 12.1
ℎ(𝑥, 𝑢) ≤ 0
Onde 𝑓(𝑥) é uma função objetivo a ser minimizada, estando a solução sujeita a (s.a) restrições;
𝑔(𝑥) é o conjunto de equações de balanço de cargas;
ℎ(𝑥) é o conjunto de equações definindo os limites das variáveis do sistema;
𝑢 é o conjunto de variáveis de controle (potência gerada, carga, taps, etc.);
𝑥 é o conjunto de variáveis dependentes (tensões, ângulos).

A função objetivo pode ter diversas formas, mas uma forma comumente usada para medidas
preventivas ou corretivas é o mínimo desvio do ponto de operação. Ou seja, se deseja mover o
ponto de operação para um ponto seguro com o menor esforço possível, ou seja, movendo ponto de
operação o mínimo possível. Isto também tem implicações práticas no sentido que muito
provavelmente o ponto de operação atual já está otimizado por um critério econômico e, portanto,
não se deseja afastar muito deste ponto.

As equações de balanço de carga garantem a viabilidade (lei de Kirchhoff).

As equações de limites (rígidos ou flexíveis), ℎ(𝑥, 𝑢), garantem que a solução proposta não viola
os limites dos equipamentos. Mas o que diferencia substancialmente um problema de fluxo de
potência ótimo de um fluxo de potência com restrições de segurança é que no último estas restrições
devem ser satisfeitas para o ponto base e para todas os estados pós-contingência. Ou seja, o
conjunto destas restrições é n vezes o conjunto de equações do ponto de operação pré-contingência,
onde n é o número de contingências. Este é um problema complexo do ponto de vista
computacional. Com isto o problema pode ser reformulado como segue.

min 𝑓(𝑢)
𝑠. 𝑎 𝑔(𝑥, 𝑢) = 0 12.2
ℎ𝑘 (𝑥, 𝑢) ≤ 0 𝑘 = 1,2, … , 𝑛

A Figura 12-3 ilustra o problema do fluxo de potência ótimo com restrições de segurança. O ponto
de operação ótimo com segurança pertence a interseção das regiões definidas pelas restrições
impostas por todas as contingências. O resultado do processamento do SCOPF são as ações de
controle necessárias para mover o ponto de operação para a região segura.

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Avaliação de Segurança Estática

Vários métodos têm sido propostos para a solução de fluxos de potência ótimo. Estes métodos
podem tanto ser de programação linear (Simplex ou Pontos Interiores Linear) quanto não linear
(Quadrático, Pontos Interiores, etc.). Entretanto, para o problema de SCOPF, somente o método de
programação linear sequencial se provou efetivo, principalmente por tratar de forma eficiente a
dimensão elevada do problema. O algoritmo básico deste método é o seguinte.
i. Calcula-se as contingência no ponto de operação. Não havendo violação de restrições e
sendo o ponto de operação ótimo, termina-se o processo, tendo o ponto de operação como
seguro.
ii. As restrições violadas nas contingências são resolvidas, na forma linearizada, em conjunto
com a função objetivo, também linearizada, pelo método de programação linear.
iii. As alterações nas variáveis de controle (ex., despacho de geração) são efetivadas e um fluxo
de potência com estas alterações é calculado. Então, retorna-se ao passo (i).

Figura 12-3 – Ilustração gráfica do problema de fluxo de potência ótimo com restrições de
segurança.

12.5.2 Regiões de Segurança


Uma alternativa para a avaliação da segurança é a computação de regiões de segurança. Estas
regiões são calculadas para troncos de interligação de sistemas nos quais se conhece a existência de
gargalos de transmissão. Em geral, este tipo de avaliação é similar ou igual ao que é feito no
planejamento da operação. O analista de sistema de potência conhece os gargalos no sistema de
transmissão e define os limites neste sistema em função de despachos de geração, níveis de carga e
configurações topológicas da rede. Com base em tal levantamento, estabelece nomogramas a serem
seguidos pela operação em tempo real do sistema.

Quando feito em ambiente de planejamento, utiliza-se condições operativas extremas (ex., carga
leve e carga pesada) e às vezes condições intermediárias (ex., carga média), de forma a cobrir várias
possibilidades operativas. Adicionalmente, o estudo deve ser repetido para diferentes despachos de
geração e condições topológicas.

Quando feito online, a geração, carga e condições topológicas são conhecidas, o que elimina grande
parte das incertezas. Então pode-se calcular uma região de segurança considerando a variação de
algumas destas condições. Tipicamente, varia-se a geração, pois mudanças no despacho de geração

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Avaliação de Segurança Estática

são ações muito efetivas para resolver problemas de segurança, principalmente com relação às
correções de limites térmicos em circuitos e carregamento máximo.

Uma região de segurança simples é a que define a capacidade de transferência nos dois sentidos
entre dois subsistemas, Figura 12-4. A exportação de um subsistema para outro implica em aumento
de geração em um e diminuição em outro. A equação que define o espaço de busca dos limites é a
seguinte.

𝑃1 + 𝑃2 = 𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 12.3


Assumindo que a carga e as perdas variam muito pouco com o despacho de geração, e portanto as
considerando constantes, esta equação representa uma reta. Ou seja, o problema é achar o despacho
de geração máximo nos dois subsistemas, o que define a região (segmento de reta) entre estes
despachos como sendo a região segura.

Figura 12-4 – Limites de transferência entre dois subsistemas.

Assumindo-se que a condição inicial seja segura, ou seja, esteja entre os limites de geração máximo
dos dois subsistemas, a busca pelos limites consiste em tomar uma direção, por exemplo, aumentar
G2 e diminuir G1 na mesma proporção e processar as contingências neste novo ponto de operação.
Não havendo violação, repete-se o processo (aumento de G2 e diminuição de G1) até que pelo
menos uma contingência viole um dos critérios de segurança e, por conseguinte, caracterize o ponto
de operação como inseguro. O limite esta entre os dois pontos calculados (o seguro e o inseguro).
Caso se deseje encontrar o limite com grande precisão, pode-se proceder a uma busca binária entre
estes dois pontos. Em seguida, calcula-se o limite na direção oposta, com usando o mesmo
procedimento.

O processo de aplicação de contingências até encontrar um limite de carregamento máximo é


ilustrado na Figura 12-5 para uma situação em que a carga é aumentada, mas para o carregamento
máximo em um sistema de transmissão é o mesmo. Processa-se as contingências em pontos
sucessivos de incremento de carga ou transferência de potência. A contingência mais restritiva
define o limite de transfer

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Avaliação de Segurança Estática

Figura 12-5 – Carregamento máximo considerando contingências.

Pode-se também aumentar a complexidade do problema acrescentando outro parâmetro ou variável


de controle. Por exemplo, no caso em que o limite de transmissão é dependente de geração em três
regiões diferentes tem-se a situação ilustrada na Figura 12-6. Neste caso a busca por limites deve
ser feita em muito mais direções. No caso da transferência entre dois subsistemas (ou regiões) são
duas direções de busca. No caso de três subsistemas, para se ter uma boa definição dos limites,
pelo menos oito direções são necessárias, o que aumenta significativamente o esforço
computacional. Com três subsistemas, a equação básica definindo o espaço de busca de limites é a
seguinte.

𝑃1 + 𝑃2 + 𝑃3 = 𝑃𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 + 𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 12.4


Novamente, considerando para efeito de simplificação que a carga e as perdas são constantes, esta
equação define um plano embutido em um espaço tridimensional. Todavia, para definir uma
direção é suficiente definir os incrementos de geração em duas regiões (ex., G1 e G2) tendo em
vista que com isto o incremento de geração na terceira fica automaticamente definido, ou seja,

∆𝑃1 + ∆𝑃2 = −∆𝑃3 12.5

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Avaliação de Segurança Estática

Figura 12-6 – Região de segurança com 3 grupos de geração.

A região neste caso pertence ao plano definido por (1.4). Os limites (ou contorno) da região de
segurança é traçado conectando-se os limites encontrados nas direções de busca. Um limite pode
ser de geração, ou seja, não há como aumentar mais a geração em uma determinada área, ou de
segurança, o ponto a partir do qual uma ou mais contingências deixam de convergir.
Adicionalmente outros contornos correspondentes a outros critérios de segurança, como limites de
tensão ou carregamento de circuitos, também são calculados e os respectivos contornos mostrados
de forma sobreposta. A Figura 12-7 ilustra uma região de segurança. Note que os três diagramas
correspondem a uma mesma região. Como a região está contida em um plano, o que se mostra é a
projeção nos planos ortogonais (G1xG2, G1xG2, G2xG3). A região vermelha é a região insegura,
a verde é a segura, e a amarela é a que ocorre violação de limite térmico. Adicionalmente, observa-
se um contorno laranja que corresponde a um limite a partir do qual ocorre violação de tensão.

A rigor, para o cálculo de uma região de segurança estática, pode-se usar somente o método de
fluxo de potência. A movimentação no espaço de busca é realizada por redespacho de geração e
cálculo do fluxo de potência para tais condições, e o processamento de contingência também é feito
por cálculo de fluxo de potência.

Como visto em aula anterior, o método de fluxo de potência continuado pode ser útil para deslocar
o ponto de operação. Por isso, pode trazer benefícios para o cálculo de regiões de segurança.

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Avaliação de Segurança Estática

Figura 12-7 – Regiões de segurança.

Um dos aspectos de interesse nas regiões de segurança é que ela mostra de forma visual as ações
preventivas e corretivas para violações de segurança e de limites térmicos. Tendo informações
sobre a contingência que causa violação de tensão e o local da violação, o operador pode utilizar
recursos de controle de tensão próximos (reatores, capacitores, taps, etc.) para tentar prevenir ou
corrigir o problema.

Regiões de segurança podem ser calculadas para diversas partes da rede e utilizando variáveis de
controle (grupos de geração) diferentes.

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Bibiografia

13 Bibiografia
• Monticelli, Fluxo de Carga em Redes de Energia Elétrica, Editora Edgard Blücher Ltda.,
1983;
• I.S. Duff, A.M. Erisman, J.K. Reid, Direct Methods for Sparse Matrices, Oxford University
Press, 1989.
• S.A. Soman, S.A. Khaparde, S. Pandit, Computational Methods for Large Sparse Power
Systems Analysis: An Object Oriented Approach, Kluwer Academic Publishers, 2002.
• P.M. Anderson, Analysis of Faulted Power Systems, IEEE Press, 1995.
• M. Morozowski Filho, Matrizes Esparsas em Redes de Potência, Livros Técnicos e
Científicos, 1981.

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