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Resumo
O pêndulo invertido é um dos mais clássicos exemplos de sistemas de controle, para
fins didáticos e como plataforma de testes para estratégias de controle. A variação
rotacional deste, também conhecida como pêndulo de Furuta, utiliza o torque de um
único motor acoplado a um braço móvel para simular uma força linear sobre o ponto
de acoplamento do pêndulo, que age como expressão física do controle. O sinal de
comando para tal controle é calculado com base na posição angular oscilante do
pêndulo, que é coletada por um encoder incremental e envida para a unidade de
processamento. Este artigo tem como proposta a construção de um pêndulo de
Furuta, sua identificação e o subsequente desenvolvimento de uma estratégia de
controle capaz de estabiliza-lo em torno de seu ponto de equilíbrio instável. Também
será apresentado um relato das dificuldades encontradas no desenvolvimento deste
projeto, soluções encontradas e nas limitações impostas pelas primeiras ao resultado
final.
2
1.1. Pêndulo de Furuta
Criado em 1992 no Instituto Tecnológico de Tóquio pelo Dr. Eng. Katsuhisa
Furuta [2], o pêndulo que leva seu nome é uma estrutura altamente popular para a
demonstração de leis de controle. O sistema é composto por um braço que,
impulsionado por um motor, gira em um plano horizontal e é perpendicularmente
conectado a um pêndulo de rotação livre em torno de seu eixo de acoplamento. Como
o movimento de tal pêndulo não é diretamente controlado, o sistema é considerado
sub-atuado, no qual o número de atuadores é menor que o de graus de liberdade.
A combinação de estrutura simples e dinâmica complexa tornou este pêndulo
uma ferramenta bastante popular em laboratórios de controle, resultando em
incontáveis estudos publicados sobre métodos de controle aplicados a ele.
Este trabalho tem por objetivo a construção de um pêndulo de Furuta como
descrito acima, a identificação do sistema para a construção de um modelo
matemático do sistema e o desenvolvimento de um controle que mantenha o pêndulo
em posição de equilíbrio instável, mesmo com a ação de interferências exteriores.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A realização deste projeto requer ampla compreensão do comportamento do
sistema pendular e de estratégias de controle que possam ser aplicadas a ele. Com
isto em mente, foram analisadas publicações específicas sobre o caso do pêndulo de
Furuta, tanto quanto sobre pêndulos invertidos em geral.
Uma parte considerável mantinha seu foco apenas nas estratégias de controle
do sistema, com apenas um número relativamente baixo de artigos descrevendo todo
o processo de construção, modelagem e controle. Esta revisão bibliográfica busca,
portanto, encontrar conceitos pontuais que possam ser combinados para uma
conclusão satisfatória do projeto.
3
No artigo de Cazzolato e Prime [2] são apresentadas as forças e dimensões
envolvidas no funcionamento do pêndulo de Furuta, bem como a análise das
interligações entre as mesmas Tais informações são utilizadas para obter as
mencionadas equações não-lineares através de uma formulação Lagrangeana e uma
Newton-Euler iterativa. Os dois processos resultam no mesmo modelo.
θ J +m l +m L + J + m l sen θ +J cos θ
+θ m L l cos θ − θ m L l cos θ =τ
(1)
+θ θ sen 2θ m l + J − J +b θ
θ m L l cos θ +θ m l +J
1 !=τ
+ θ sen 2θ −m l − J +J + b θ + gm l sen θ
2
(2)
4
no eixo de cada braço é ignorável (J =J = 0). Também se considera que eles
Como os braços do sistema são longos e estreitos, o momento de inércia ao
de equilíbrio (J#$ = J + m l + m L ).
inércia total que atua sobre o rotor do motor quando o pêndulo se encontra em posição
θ =
-J#$ J# + J# sen θ − m L l cos θ .
da corrente aplicada ao motor, com base nas equações que descrevem o subsistema
9:;
de um motor CC 0 = ? e o torque produzido pelo mesmo (τ = K A i).
12 4567 2587
9<
13 =7
5
que requer uma análise muito complexa para fornecer uma definição precisa.
Portanto, outros métodos de identificação de sistema devem ser aplicados neste caso.
6
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Com a base teórica obtida na revisão bibliográfica, o planejamento do projeto a
ser realizado pode ser dividido em três etapas: construção do pêndulo de Furuta,
identificação do sistema e desenvolvimento da lei de controle. É importante também
mencionar que esses procedimentos podem exigir revisões de adaptação a resultados
inesperados.
7
3.1.1. ESTRUTURA
Com base em estruturas encontradas na literatura [3][9], foi verificado que o
projeto exige, além do pêndulo e do braço motor já descritos na literatura, uma base
que mantenha o extremo livre do pêndulo afastado do chão em todos os momentos.
A mais simples solução para isto é que a altura da base seja igual ao comprimento do
pêndulo.
O braço motor, para realizar o acoplamento a ambos motor e sensor, precisou
ser projetado com uma geometria levemente mais complexa que o resto da estrutura,
o que tornaria sua produção de forma manual difícil e demorada; portanto é
recomendável que sejam buscados métodos de fabricação automatizada para o
mesmo. Também é preciso escolher projetar formas de encaixe e escolher um
material que suportem as forças às quais esta peça será submetida.
Base e pêndulo, ao contrário do braço motor, foram projetados com geometrias
muito simples e, sem a necessidade de meios complexos de produção, poder ser
produzidos em madeira.
Uma última explicação pode ser feita sobre o acoplamento do pêndulo ao
sensor; pois com a dificuldade em criar um furo de encaixe apropriado à geometria do
pino do encoder, uma peça de plástico produzida com a mesma técnica de impressão
empregada ao braço pode ser utilizada como meio de junção entre as duas peças
mencionadas.
3.1.2. SENSOR
Um dos processos essenciais para qualquer sistema de controle é o adequado
sensoriamento de sua saída. Como já mencionado, o único sinal de saída analisado
neste sistema será o referente à posição angular do pêndulo em relação ao eixo do
braço motor. Neste projeto, o sensor escolhido para medir tal ângulo foi um encoder
incremental ótico de 800 pulsos por rotação (ppr).
O funcionamento de tal sensor é baseado na emissão de um feixe de luz que,
ao encontrar um disco rotatório dividido em partes translúcidas e opacas, pode ou não
ser identificada por um receptor. A interrupção periódica do feixe causa a saída de um
sinal ondulatório quadrado que, dependendo da largura de seus pulsos, permite a
determinação da velocidade de angular descrevida pelo disco, estando este atrelado
ao sistema cuja rotação deseja-se mensurar.
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Uma limitação deste equipamento, no entanto, é a falta de capacidade para
medir a direção da rotação. Como solução a esse problema é a existência, no disco,
de uma segunda faixa de segmentos intermitentes, acompanhada por seu próprio
conjunto de emissor e receptor de luz. Esta faixa a mais apresenta um sinal atrasado
em 90º em relação ao da primeira, o que permite que o sentido da rotação seja
determinado ao comparar a ordem de subida e decida entre as ondas.
Figura 3: Padrão de segmentos do disco do encoder rotacional e os sinais gerados por este.
3.1.3. ATUADOR
Para dar “forma física” ao sinal de controle que age sobre um pêndulo de Furuta
é necessário utilizar um motor elétrico com rotação e torque altos o suficiente para
realizar movimentos contrários ao movimento do pêndulo com o objetivo de mantê-lo
em posição de equilíbrio ou fazer com que ele retorne à mesma posição.
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O equipamento escolhido foi um motor de corrente contínua (CC) Pittman
modelo GM9236C608 com tensão nominal 12V, atrelado a uma caixa de redução de
razão 19,7:1, que aumenta seu torque em detrimento de sua rotação.
Como o motor possui um funcionamento relativamente simples, variando sua
rotação na mesma razão em que varia sua tensão de alimentação; o mesmo necessita
de um driver capaz de controlar a dita alimentação de acordo com sinais enviados
pelo controlador para obter uma rotação com velocidade e sentido desejados.
3.1.4. CONTROLADOR
Em busca de um controlador versátil e de fácil utilização, foi escolhido um
circuito produzido pela empresa Arduino, que baseia seus produtos em torno da
criação de um ambiente de prototipagem user friendly, com o uso de hardware e
software de código aberto. Esse caráter aberto das tecnologias Arduino permitiu o
surgimento de uma grande comunidade de desenvolvedores no fórum The Arduino
Playground [12], dispostos a compartilhar seus projetos e auxiliar seus pares.
O modelo utilizado neste projeto é o Arduino MEGA 2560, que, centrado em
um controlador ATmega2506, apresenta velocidade de clock de 16MHz, 56 portas I/O
digitais (dos quais 15 são capazes de produzir saídas PWM), 16 entradas analógicas
e memória flash de 256KB.
Com a altíssima importância do tempo de amostragem (T) em um sistema de
controle discreto, é preciso que cada ciclo de execução do software de controle seja
realizado em um tempo inferior a T. Uma interrupção interna ativada pelo clock do
controlador pode ser criada e programada para atender a tal restrição; sendo
necessário para isto conhecer o tempo de execução do loop e ajustar T de acordo.
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projeto do sistema de controle. O modelo deve ser, então, aproximado em forma linear
no entorno de seus pontos de equilíbrio.
0 0 J#$ J# − m L l 0 θ 0
E HE H
D0 0 0 # # θ
J$ J − m L l G D G 0
D0 gm l L G +I # Jτ
θ −b J# b m l L G Dθ G J
E H D
C0 −gm l J#$ b m l L −b J#$ F Cθ F −m l L
Dθ G
G=
(5)
Dθ J#$ J# − m L l
D G
Cθ F
0 0 J#$ J# − m L l 0 θ 0
E HE H
D0 0 0 J#$ J# − m L l G Dθ G + I 0 Jτ
θ D0 gm l L −b J# −b m l L G θ J#
E H D GD G
C0 gm l J#$ −b m l L −b J#$ F Cθ F m l L
Dθ G
G=
(6)
Dθ J#$ J# − m L l
D G
Cθ F
11
ΘN z O + ΘP z Q + ΘR z + ΘS z + ΘT
G z =
z O + Θ z Q + Θ z + ΘQ z + ΘO (7)
Y =Ψ∙Θ
em (9).
(8)
−y 3 −y 4 ⋯ −y N − 1 `
Θ
E H E H
−y 2 −y 3 ⋯ −y N − 2
D G DΘ G
y 4 D−y 1 −y 2 ⋯ −y N − 3 G DΘQ G
D−y 0 −y 1 ⋯ −y N − 4 G DΘO G
y 5
I J=D u 4 u 5 ⋯ u N G ∙ DΘN G
⋮ Du 3 G ΘP
(9)
u 4 ⋯ u N−1
y N D G D G
Θ
Du 2 u 3 ⋯ u N−2 G D RG
Du 1 u 2 ⋯ u N−3 G DΘS G
Cu 0 u 1 ⋯ u N−4 F CΘT F
Por fim, para determinar o modelo do sistema, deve-se apenas isolar a matriz
dos parâmetros Θ (10) e aplicar seus valores calculados a (7).
Θ = Ψ` Ψ 5
Ψ` Y (10)
Assim, é gerado um modelo do sistema que pode ser usado como base para o
desenvolvimento do controle e simulado em softwares apropriados.
12
compreendido, do ponto de vista do pêndulo, como linear; similar ao modelo clássico
de pêndulo invertido [13].
A escolha da estratégia de controle apropriada deve levar em conta a resposta
do sistema a sinais escolhidos para verificação e ao modelo resultante do processo
de identificação; mas certas opções podem ser estudadas para aplicação.
3
de t
u t = K g e t + K 2 h e t dt + K 1
$ dt (11)
enkp − enk − 1p
unkp = K g ∙ enkp + unk − 1p + K 2 ∙ T ∙ enkp + K 1 ∙
T
(12)
13
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A base da estrutura e o pêndulo foram construídos de acordo com as
especificações mencionadas na metodologia. Quanto ao braço do motor, a
abordagem inicial foi a de produzi-lo pelo processo de “impressão 3D” a partir de um
modelo virtual desenvolvido com o uso do software Solid Works.
O primeiro problema apresentado por tal abordagem foi a impossibilidade de,
devido ao limite dimensional da peça que a impressora poderia produzir, dotar a peça
de um contrapeso capaz de equiparar-se à força conjunta exercida por encoder e
pêndulo. Além disso, o polímero acrilonitrila butadieno estireno (ABS), utilizado como
matéria prima na impressão, mostrou-se excessivamente maleável; o que foi
particularmente problemático na junção do braço com o eixo do motor, que foi
deformada ao ponto da inutilidade, com o eixo girando em falso e o braço
permanecendo imóvel.
A alternativa escolhida foi o uso de lâminas de acrílico como matéria prima a
partir das quais, seções horizontais foram cortadas a laser e unidas posteriormente.
Neste processo foi possível a implementação do contrapeso adequado, ainda com a
adição de um cilindro de latão na extremidade oposta ao acoplamento do pêndulo
para melhor aproximar o centro de gravidade do sistema ao eixo do motor, reduzindo
o momento fletor sobre este.
No projeto da base, a versão inicial desta, com formato quadrado e de grande
área, teve de ser substituída por uma com tampo circular com área bastante reduzida;
devido à interferência causada na saída devido ao atrito da base com o braço do motor
em movimento.
14
Figura 4: Versão final do pêndulo de Furuta construído para este projeto.
Fonte: O autor.
15
4.1. Identificação do sistema
Apesar da dificuldade previamente mencionada em obter valores precisos para
certos parâmetros do modelo do sistema, outros (comprimentos e massas) são
facilmente obtidos por medições simples.
Cθ F
Cθ F
Mesmo com tal substituição, ainda não é possível produzir um modelo aceitável
do sistema. Para tanto, é utilizado o método de mínimos quadrados.
16
Apesar deste projeto ter o objetivo de equilibrar o pêndulo no ângulo π rad, ele
deve ser identificado tendo 0 rad como referência, por ser esta a única posição onde
ele pode ser estabilizado sem um sistema de controle.
A alteração da posição angular foi observada por 20s em intervalos de
T=0,001s, enquanto um torque variável era aplicado pelo motor. Os vetores coletados
de ambas entrada e saída foram puderam ser aplicados às matrizes Y e Ψ de (9) para,
por fim, obter os parâmetros Θ em (10).
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Figura 5: Gráfico de identificação do sistema.
Fonte: O autor.
Fonte: O autor.
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4.2. Projeto e aplicação do sistema de controle
Tentativas iniciais de projetar um controlador através do método de Ziegler-
por K g ∙ 20 = 50.
seria aplicado. Desta forma, o ganho proporcional do controlador pode ser estimado
enkp − enk − 1p
unkp = 2,5 ∙ enkp + 0,01736 ∙
T
(17)
19
Um primeiro teste deste controlador foi feito para tentar estabilizar o pêndulo
em seu ponto estável (0 rad), verificações preliminares da resposta em um cenário
mais simples.
Figura 7: Posição angular do pêndulo e sinal de entrada em torno do ponto de equilíbrio estável.
Fonte: O autor
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5. CONCLUSÃO
Os desafios encontrados durante o desenvolvimento deste projeto foram vários.
Tanto estrutura e software, quanto a conexão entre estes apresentou desafios
inesperados ao início do processo.
A parte estrutural, ao início do projeto, não havia sido considerada uma possível
fonte de grandes preocupações. Isso revelou-se um grande engano, visto que a
produção de novas peças devido a interferências causadas pela geometria da
estrutura e materiais inadequados à operação tomou um longo tempo até que
resultados satisfatórios fossem atingidos.
O maior obstáculo encontrado foi, no entanto, a incompatibilidade da alta
precisão do sensor em relação à frequência de clock do controlador; cuja percepção
tardia impossibilitou medidas eficientes de correção (preferencialmente a substituição
de uma das partes por um modelo mais adequado). Tal discrepância afetou
grandemente a performance do sistema, ocasionando erros na percepção dos pulsos
necessária para a determinação da posição angular do pêndulo, impedindo a correta
percepção de velocidades angulares altas e, consequentemente impossibilitando o
21
6. REFERÊNCIAS
[5] WANG, J-J. Simulaion studies of inverted pendulum based on PID controller.
Simulation Modelling Practice and Theory, vol. 19, n.1, p. 440-449 Jan.
2011.
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