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A PALEONTOLOGIA E O FUTURO: EXISTE UM CAMINHO

Carlos Walter Kolb

A história de Rio Negro e Mafra na busca do desenvolvimento é basicamente a


mesma. Até mesmo porque a Guerra do Contestado eramos uma só cidade. Em
síntese, tivemos dois grandes ciclos econômicos. O primeiro e mais longo foi o do
extrativismo da madeira e da erva mate que durante mais de 100 anos
representou a atividade econômica principal e chegou inclusive a nos dar uma
posição de destaque no cenário estadual.
Esse ciclo se encerra com a exaustão de matéria-prima pela ação predatória e
ausência de políticos de preservação e planejamento futuro por volta dos anos 60.
Inicia-se então um segundo ciclo onde o extrativismo foi substituído por um
esforço um tanto desordenado na direção da industrialização.
Nossa produção agropecuária nunca foi expressiva, gira hoje em trono de 12% de
nossa atividade econômica. Não temos solos férteis e a topografia também é
desfavorável, o que fez da industrialização a única alternativa para aquele
momento histórico.
Surgem também nesse período as grandes reflorestadoras de Pinus, que se
instalam atraídas pelo baixo preço de nossas terras. E essa é uma atividade que
ainda agrega muito pouco em termos de valores, além de contribuir para o êxodo
rural, o que agrava ainda mais os problemas sociais urbanos. Sem falar nos
impactos ambientais pela substituição das florestas nativas, impactos essas que
nunca foram estudados com profundidade.
E mesmo sem Ter havido um planejamento continuado, contando com ação
isolada das administração municipais e muito heroísmo do empresariado local, as
indústrias surgiram, geraram empregos, arrecadação e respondem por 55% de
nossa atividade econômica.
Porém é inegável que principalmente de alguns anos para cá, observamos novos
paradigmas de produção e competitividade. Por isso não há como negar que, com
raras exceções nosso Parque Industrial está claudicante. A causa principal dessa
crise tem um nome que hoje gera muita polêmica. Falamos da globalização.
Quer gostemos ou não, ela está aí e sua capilaridade com certeza já nos
alcançou.
E aí se faz importante percebermos que não obstante o tema seja tratado na
maioria das vezes de forma ideológica e estereotipada, a questão vai além de
sermos contra ou favor. É necessário entender que a globalização não traduz um
fenômeno único, mas bastante complexo, envolvendo aspectos tecnológicos,
financeiros, comunicacionais, ideológicos e culturais. E ela está posta. Tem que
ser enfrentada com realismo, não só porque dela não podemos fugir mas também
pelo fato de que, dependendo do modo como a enfrentarmos, se o fizermos com
lucidez, poderemos emergir engrandecidos ou, em caso contrário, nossos
problemas com certeza se agravarão.
A prática do dia a dia já coloca hoje o nosso atual ciclo econômico em cheque. A
atividade industrial ou repensa o seu modelo, ou sucumbirá pelas novas
conjunturas internacionais. Mas, mesmo que se faça isso, e queremos crer que
nossos empresários o farão, é inevitável uma redução de espaços para a
ampliação e a geração de empregos nos próximos anos. Pelo menos, bem aquém
de demanda solicitada principalmente pelos nossos jovens que chegam ao
mercado de trabalho.
Está bem claro que chegamos a um novo “PONTO DE MUTAÇÃO”. Se faz
necessário, sob a luz dos novos tempos, buscarmos o TERCEIRO CICLO.
Eis o ponto! O que fazer? Será que existe alguma atividade no mundo hoje em
franca expansão? A resposta é afirmativa. Existe. A chamada “indústria sem
chaminés” cresce de forma expressiva. Mobilizará no ano de 2000 um montante
próximo a 4 trilhões de dólares. (O PIB brasileiro não chegará a 700 bilhões) e é
responsável atualmente por mais de 10% dos empregos do mundo. Claro.
Estamos falando do Turismo. A atividade econômica hoje número 1 do planeta.
Sem muito escolha, esse é o nosso caminho. Temos que nos inserir nesse
processo.
Vamos as questões práticas. Obviamente, turismo se faz com pessoas que por
algum motivo aqui aportem. E como atrair turistas? De certa forma já temos uma
história, temos etnias e tradições que começam a ser resgatadas. Mas isso é
pouco, pois concorreremos com cidades catarinenses que largaram na frente e já
são referência nessa modalidade, ou seja, falta um toque de exclusividade, que
nos diferencie. E que nos tire de um certo lugar comum.
É aí que o destino nos sorriu. Recebemos um presente de quase quatrocentos
milhões de anos que poderá ser o grande diferencial. Nós temos um Sítio
Arqueológico, ou seja, um afloramento de fósseis raros. No início da descoberta
muito polêmica, idéias equivocadas, discussões, até que felizmente prevaleceu o
bom senso. O CENPALEO, Museu da Terra hoje já são realidades configuradas. E
se configuraram porque reuniram um tripé fundamental: O sítio arqueológico; o
cientista determinado e idealista que trouxe a comunidade científica e com ela a
credibilidade, na pessoa do Professor Oscar Rosler; e o arcabouço de uma
instituição que lhes desse abrigo, no caso a UNC, que veio junto trazendo com
ela a entusiasmo e a visão futurista do Professor Mário Fritsch. A isso somou-se o
apoio das administrações municipais e fundamentalmente da comunidade.
Num primeiro momento o CENPALEO poderá promover o chamado “turismo
científico”, como aliás já vem fazendo em pequena escala atraindo pessoas de
várias regiões do mundo e do país.
É uma modalidade em franca expansão. Como as várias outras modalidades não
se excluem, muito pelo contrário, se complementam, de imediato é possível
promover ao chamado “turismo de eventos”, com cursos cíclicos e regulares sobre
Paleontologia em convênios com instituições de todo o mundo.
As pessoas que virão tem famílias que podem não ter vocação científica. Caberá
então um planejamento para oferecer modalidades alternativas que os incentivem
a vir. O Turismo Rural por exemplo, que também está em expansão, que oferece
alternativas de renda para populações não urbanas. Teremos que ser criativos.
Por que não implantar em Mafra uma Maria-Fumaça com viagens turísticas,
explorando nossa tradição ferroviária?
Explorar o fato de fazermos parte do caminho das tropas, promovendo eventos
que servirão até para resgatar essa tradição. Reeditarmos os barcos à vapor que
tiveram uma participação expressiva na nossa história, com viagens turísticas pelo
Rio Negro. Explorarmos mais o rio negro, com ajardinamento das margens e
parques ecológicos.
Uma idéia ainda maior: convidar grupos de iniciativa privada para a implantação
de um grande parque temático sobre a Pré-História, único no Brasil e um dos
poucos no mundo (idéia que já está tecnicamente pronta na mente do professor
Oscar) que levaria as pessoas a reedição da Pré-História, numa viagem fantástica
a um passado recriado.
Promover grandes festas típicas, a exemplo das cidades catarinenses, com o
diferencial de termos outros atrativos que ainda reteriam o turista por mais tempos
em nossas cidades.
Enfim, idéias é o que não faltariam. Como referência, o recém instalado Presépio
de Palha no Seminário Seráfico em alguns dias de existência já recebeu a visita
de milhares de pessoas, segundo nos relatou o Prefeito Ari Siqueira.
Vejamos algumas das muitas vantagens da atividade turística:
Baixo Custo de Implantação, se comparado com a industrialização tradicional ( o
governo do Paraná recentemente despendeu milhões de dólares de incentivo para
a implantação de indústrias automobilísticas. O governo do Rio Grande do Sul
perdeu a instalação de uma fábrica da Ford para a Bahia por se recusar a investir
mais de R$250.000,00 por emprego).
Resgata e preserva a cultura local, uma vez que ela represente um dos atrativos.
Não polui o meio ambiente e ainda ajuda a preservá-lo.
Não promove o crescimento horizontal, que produz exclusão social com todas as
mazelas (os índices de violência em São José dos Pinhais cresceram
assustadoramente com a industrialização).
Não depende de matéria-prima, constituindo-se portanto numa atividade
inesgotável.
Absorve mão de obra de todos os níveis, inclusive a desqualificada, que traduz
hoje um problema social extremamente grave.
Observando dados do boletim da Secretaria de Estado do Esporte e Turismo do
Paraná, de 1991 a 1999 podemos ter uma idéia de números reais.
Por exemplo, os gastos individuais do turista gira numa média de 50 a 100 dólares
por dia. O tempo médio de permanência em Foz do Iguaçu gira em torno de 3 a 4
dias. Em Curitiba sobe para 4 a 5 dias.
Em 1997, Foz do Iguaçu recebeu 330.000 hospedes na Rede Hoteleira. Em 1998,
227.000. Uma média de 270.000 (não incluídos os que se hospedaram em casas
particulares, barracas, etc.). Brincando com números, vamos supor 20% desse
total seriam 66.000. Suponhamos 2 dias de permanência, 50 dólares por dia.
Deixamos ao leitor o cálculo dos montantes.
Para quem acha que esses números são otimistas demais, um relato. Na pequena
cidade chamada Mata, no Estado do Rio Grande do Sul havia um sítio
arqueológico de florestas petrificadas. Um padre da localidade, sem muita
metodologia e de forma cientificamente discutível construiu algumas calçadas de
fósseis, bancos, pisos, criando uma espécie de “cidade de árvores petrificadas”.
Pois bem, essa cidade recebe hoje uma média de 10.000 pessoas por mês, ou
mais de 100.000 por ano.
Ninguém é ingênuo em supor que um projeto como esse possa acontecer por si
só. É necessário um rigoroso planejamento. Temos hoje no Brasil profissionais
altamente qualificado na área de gestão de turismo, temos as ONGs, que inclusive
acessam financiamentos internacionais com projetos bem elaborados para os
quais existe disponibilidade financeira.
É necessário convocar as Secretaria Estaduais responsáveis, quem sabe num
grande Congresso Intermunicipal sobre turismo no início de 2001, que marcará o
início de um planejamento tecnicamente estruturado para dar suporte a uma ação
coordenada de implantação.
Com certeza, se reunirmos o poder público e a sociedade organizada, com a
determinação necessária, poderemos dar início a uma caminhada na direção de
melhores dias para nossa gente e as gerações futuras.
Retornaremos o tema em 2001.
O desafio está posto.

O autor é engenheiro civil, professor


da UFPR e coordenador de Estudos
e Pesquisas do Instituto Teotônio
Vilela - Paraná

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