O documento discute o potencial do turismo como uma nova atividade econômica para substituir os ciclos anteriores de madeira e indústria em Rio Negro e Mafra. Ele destaca o achado de fósseis na região como uma oportunidade única de atrair turistas interessados em paleontologia e sugere várias ideias para desenvolver o turismo científico e de eventos na área.
O documento discute o potencial do turismo como uma nova atividade econômica para substituir os ciclos anteriores de madeira e indústria em Rio Negro e Mafra. Ele destaca o achado de fósseis na região como uma oportunidade única de atrair turistas interessados em paleontologia e sugere várias ideias para desenvolver o turismo científico e de eventos na área.
O documento discute o potencial do turismo como uma nova atividade econômica para substituir os ciclos anteriores de madeira e indústria em Rio Negro e Mafra. Ele destaca o achado de fósseis na região como uma oportunidade única de atrair turistas interessados em paleontologia e sugere várias ideias para desenvolver o turismo científico e de eventos na área.
A história de Rio Negro e Mafra na busca do desenvolvimento é basicamente a
mesma. Até mesmo porque a Guerra do Contestado eramos uma só cidade. Em síntese, tivemos dois grandes ciclos econômicos. O primeiro e mais longo foi o do extrativismo da madeira e da erva mate que durante mais de 100 anos representou a atividade econômica principal e chegou inclusive a nos dar uma posição de destaque no cenário estadual. Esse ciclo se encerra com a exaustão de matéria-prima pela ação predatória e ausência de políticos de preservação e planejamento futuro por volta dos anos 60. Inicia-se então um segundo ciclo onde o extrativismo foi substituído por um esforço um tanto desordenado na direção da industrialização. Nossa produção agropecuária nunca foi expressiva, gira hoje em trono de 12% de nossa atividade econômica. Não temos solos férteis e a topografia também é desfavorável, o que fez da industrialização a única alternativa para aquele momento histórico. Surgem também nesse período as grandes reflorestadoras de Pinus, que se instalam atraídas pelo baixo preço de nossas terras. E essa é uma atividade que ainda agrega muito pouco em termos de valores, além de contribuir para o êxodo rural, o que agrava ainda mais os problemas sociais urbanos. Sem falar nos impactos ambientais pela substituição das florestas nativas, impactos essas que nunca foram estudados com profundidade. E mesmo sem Ter havido um planejamento continuado, contando com ação isolada das administração municipais e muito heroísmo do empresariado local, as indústrias surgiram, geraram empregos, arrecadação e respondem por 55% de nossa atividade econômica. Porém é inegável que principalmente de alguns anos para cá, observamos novos paradigmas de produção e competitividade. Por isso não há como negar que, com raras exceções nosso Parque Industrial está claudicante. A causa principal dessa crise tem um nome que hoje gera muita polêmica. Falamos da globalização. Quer gostemos ou não, ela está aí e sua capilaridade com certeza já nos alcançou. E aí se faz importante percebermos que não obstante o tema seja tratado na maioria das vezes de forma ideológica e estereotipada, a questão vai além de sermos contra ou favor. É necessário entender que a globalização não traduz um fenômeno único, mas bastante complexo, envolvendo aspectos tecnológicos, financeiros, comunicacionais, ideológicos e culturais. E ela está posta. Tem que ser enfrentada com realismo, não só porque dela não podemos fugir mas também pelo fato de que, dependendo do modo como a enfrentarmos, se o fizermos com lucidez, poderemos emergir engrandecidos ou, em caso contrário, nossos problemas com certeza se agravarão. A prática do dia a dia já coloca hoje o nosso atual ciclo econômico em cheque. A atividade industrial ou repensa o seu modelo, ou sucumbirá pelas novas conjunturas internacionais. Mas, mesmo que se faça isso, e queremos crer que nossos empresários o farão, é inevitável uma redução de espaços para a ampliação e a geração de empregos nos próximos anos. Pelo menos, bem aquém de demanda solicitada principalmente pelos nossos jovens que chegam ao mercado de trabalho. Está bem claro que chegamos a um novo “PONTO DE MUTAÇÃO”. Se faz necessário, sob a luz dos novos tempos, buscarmos o TERCEIRO CICLO. Eis o ponto! O que fazer? Será que existe alguma atividade no mundo hoje em franca expansão? A resposta é afirmativa. Existe. A chamada “indústria sem chaminés” cresce de forma expressiva. Mobilizará no ano de 2000 um montante próximo a 4 trilhões de dólares. (O PIB brasileiro não chegará a 700 bilhões) e é responsável atualmente por mais de 10% dos empregos do mundo. Claro. Estamos falando do Turismo. A atividade econômica hoje número 1 do planeta. Sem muito escolha, esse é o nosso caminho. Temos que nos inserir nesse processo. Vamos as questões práticas. Obviamente, turismo se faz com pessoas que por algum motivo aqui aportem. E como atrair turistas? De certa forma já temos uma história, temos etnias e tradições que começam a ser resgatadas. Mas isso é pouco, pois concorreremos com cidades catarinenses que largaram na frente e já são referência nessa modalidade, ou seja, falta um toque de exclusividade, que nos diferencie. E que nos tire de um certo lugar comum. É aí que o destino nos sorriu. Recebemos um presente de quase quatrocentos milhões de anos que poderá ser o grande diferencial. Nós temos um Sítio Arqueológico, ou seja, um afloramento de fósseis raros. No início da descoberta muito polêmica, idéias equivocadas, discussões, até que felizmente prevaleceu o bom senso. O CENPALEO, Museu da Terra hoje já são realidades configuradas. E se configuraram porque reuniram um tripé fundamental: O sítio arqueológico; o cientista determinado e idealista que trouxe a comunidade científica e com ela a credibilidade, na pessoa do Professor Oscar Rosler; e o arcabouço de uma instituição que lhes desse abrigo, no caso a UNC, que veio junto trazendo com ela a entusiasmo e a visão futurista do Professor Mário Fritsch. A isso somou-se o apoio das administrações municipais e fundamentalmente da comunidade. Num primeiro momento o CENPALEO poderá promover o chamado “turismo científico”, como aliás já vem fazendo em pequena escala atraindo pessoas de várias regiões do mundo e do país. É uma modalidade em franca expansão. Como as várias outras modalidades não se excluem, muito pelo contrário, se complementam, de imediato é possível promover ao chamado “turismo de eventos”, com cursos cíclicos e regulares sobre Paleontologia em convênios com instituições de todo o mundo. As pessoas que virão tem famílias que podem não ter vocação científica. Caberá então um planejamento para oferecer modalidades alternativas que os incentivem a vir. O Turismo Rural por exemplo, que também está em expansão, que oferece alternativas de renda para populações não urbanas. Teremos que ser criativos. Por que não implantar em Mafra uma Maria-Fumaça com viagens turísticas, explorando nossa tradição ferroviária? Explorar o fato de fazermos parte do caminho das tropas, promovendo eventos que servirão até para resgatar essa tradição. Reeditarmos os barcos à vapor que tiveram uma participação expressiva na nossa história, com viagens turísticas pelo Rio Negro. Explorarmos mais o rio negro, com ajardinamento das margens e parques ecológicos. Uma idéia ainda maior: convidar grupos de iniciativa privada para a implantação de um grande parque temático sobre a Pré-História, único no Brasil e um dos poucos no mundo (idéia que já está tecnicamente pronta na mente do professor Oscar) que levaria as pessoas a reedição da Pré-História, numa viagem fantástica a um passado recriado. Promover grandes festas típicas, a exemplo das cidades catarinenses, com o diferencial de termos outros atrativos que ainda reteriam o turista por mais tempos em nossas cidades. Enfim, idéias é o que não faltariam. Como referência, o recém instalado Presépio de Palha no Seminário Seráfico em alguns dias de existência já recebeu a visita de milhares de pessoas, segundo nos relatou o Prefeito Ari Siqueira. Vejamos algumas das muitas vantagens da atividade turística: Baixo Custo de Implantação, se comparado com a industrialização tradicional ( o governo do Paraná recentemente despendeu milhões de dólares de incentivo para a implantação de indústrias automobilísticas. O governo do Rio Grande do Sul perdeu a instalação de uma fábrica da Ford para a Bahia por se recusar a investir mais de R$250.000,00 por emprego). Resgata e preserva a cultura local, uma vez que ela represente um dos atrativos. Não polui o meio ambiente e ainda ajuda a preservá-lo. Não promove o crescimento horizontal, que produz exclusão social com todas as mazelas (os índices de violência em São José dos Pinhais cresceram assustadoramente com a industrialização). Não depende de matéria-prima, constituindo-se portanto numa atividade inesgotável. Absorve mão de obra de todos os níveis, inclusive a desqualificada, que traduz hoje um problema social extremamente grave. Observando dados do boletim da Secretaria de Estado do Esporte e Turismo do Paraná, de 1991 a 1999 podemos ter uma idéia de números reais. Por exemplo, os gastos individuais do turista gira numa média de 50 a 100 dólares por dia. O tempo médio de permanência em Foz do Iguaçu gira em torno de 3 a 4 dias. Em Curitiba sobe para 4 a 5 dias. Em 1997, Foz do Iguaçu recebeu 330.000 hospedes na Rede Hoteleira. Em 1998, 227.000. Uma média de 270.000 (não incluídos os que se hospedaram em casas particulares, barracas, etc.). Brincando com números, vamos supor 20% desse total seriam 66.000. Suponhamos 2 dias de permanência, 50 dólares por dia. Deixamos ao leitor o cálculo dos montantes. Para quem acha que esses números são otimistas demais, um relato. Na pequena cidade chamada Mata, no Estado do Rio Grande do Sul havia um sítio arqueológico de florestas petrificadas. Um padre da localidade, sem muita metodologia e de forma cientificamente discutível construiu algumas calçadas de fósseis, bancos, pisos, criando uma espécie de “cidade de árvores petrificadas”. Pois bem, essa cidade recebe hoje uma média de 10.000 pessoas por mês, ou mais de 100.000 por ano. Ninguém é ingênuo em supor que um projeto como esse possa acontecer por si só. É necessário um rigoroso planejamento. Temos hoje no Brasil profissionais altamente qualificado na área de gestão de turismo, temos as ONGs, que inclusive acessam financiamentos internacionais com projetos bem elaborados para os quais existe disponibilidade financeira. É necessário convocar as Secretaria Estaduais responsáveis, quem sabe num grande Congresso Intermunicipal sobre turismo no início de 2001, que marcará o início de um planejamento tecnicamente estruturado para dar suporte a uma ação coordenada de implantação. Com certeza, se reunirmos o poder público e a sociedade organizada, com a determinação necessária, poderemos dar início a uma caminhada na direção de melhores dias para nossa gente e as gerações futuras. Retornaremos o tema em 2001. O desafio está posto.
O autor é engenheiro civil, professor
da UFPR e coordenador de Estudos e Pesquisas do Instituto Teotônio Vilela - Paraná