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Laboratório de Física Experimental III

Prof. Marcelo B. Pisani


Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas- DCET
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC

Experimento 02 – Galvanometria e Medidas Elétricas

1. Introdução

A maioria dos voltímetros mede a ddp (diferença de potencial, também chamada de


voltagem, ou, ainda, de tensão elétrica) através de uma medida interna da corrente que circula pelo
instrumento (neste caso chamado de voltímetro). Um voltímetro comporta-se eletricamente face ao
circuito ao qual é conectado como sendo um resistor de resistência Rint (chamada resistência interna
do instrumento, normalmente de valor bastante elevado, tendendo idealmente ao infinito). A
voltagem aplicada entre terminais "COM" (comum) e "V" resulta então numa pequena corrente que
circula pelo instrumento, cujo valor é registrado normalmente por um medidor analógico chamado
galvanômetro, que compreende a peça principal do instrumento. O galvanômetro usa como
princípio de funcionamento o fato que uma corrente elétrica circulando num conjunto de espiras
condutoras (bobina), em presença de um segundo campo magnético fixo (produzido normalmente
por um ímã permanente), produzir num torque sobre as espiras, movimentando a parte central do
instrumento. Num galvanômetro, este torque é mostrado como a deflexão angular de um ponteiro e
compensado pela força restauradora de uma mola em formato de espiral, fazendo o ponteiro parar
sobre uma posição de equilíbrio entre a força magnética produzida pela corrente e força elástica
restauradora da mola (fig. 1). O conjunto é projetado de forma a ter uma resposta angular linear, ou
seja, o ângulo de deflexão da agulha é diretamente proporcional à corrente que circula pelo
galvanômetro. Esta corrente é normalmente da ordem de alguns microampères para os
instrumentos mais sensíveis, projetados para drenar a menor quantidade de corrente possível, de
forma a não perturbar demasiadamente os circuitos aos quais se conectam e onde se se deseja
realizar as medidas.

a) b)
Fig. 1 – a) Representação esquemática do mecanismo interno de um galvanômetro construído com peças
magnéticas fixas, bobina pela qual circula a corrente a ser medida e mola helicoidal móvel que fornece o torque de
reação ao torque magnético produzido [WIKIPEDIA: Galvanometer].
b) De cima para baixo, modelos elétricos equivalentes de um voltímetro, de um amperímetro, e de um
ohmímetro, todos construídos à base de um mesmo galvanômetro, mostrando as resistências internas multiplicadoras.

Atualmente, a grande maioria dos voltímetros comercializados e utilizados em laboratório é


digital e se utiliza de circuitos eletrônicos integrados e relativamente sofisticados, capazes de
converter uma voltagem, corrente ou resistência apresentada entre os terminais num valor numérico
que é normalmente diretamente exibido num mostrador numérico digital de cristal líquido.

O galvanômetro é também frequentemente utilizado na confecção de amperímetros,


equipamentos próprios para medida de corrente elétrica. Neste caso a resistência interna do
galvanômetro é utilizada para fazer passar uma pequena parte da corrente total medida pelo mesmo,
e uma resistência extra que é conectada em paralelo (“shunt”) com o medidor de forma a desviar
uma parte considerável da corrente, expandindo consideravelmente a escala do instrumento.

O ohmímetro, por sua vez, dispõe de uma resistência série e de uma bateria interna. A
escala do galvanômetro é calibrada de forma não linear para mostrar o resultado da resistência
desconhecida conectada aos terminais, medida em ohms, sendo a corrente máxima associada à
resistência nula (curto circuito entre as pontas de prova) e a corrente mínima ao circuito aberto
(resistência “infinita” entre as pontas em aberto).

Esses 3 instrumentos básicos de medida elétrica (o voltímetro, o amperímetro e o


ohmímetro) serão utilizados nesse experimento para medir a ddp, a corrente e a resistência elétrica
dos circuitos estudados e dos trechos que os compõem. Essas informações serão utilizadas no
estudo preliminar da lei de Ohm, dada pela eq. (1), onde U é a ddp aplicada ao trecho estudado
(em volts), R é o valor da resistência do mesmo trecho considerado (em ohms), e I é a corrente
(em ampères) que passa por essa resistência:

U = R ⋅I (1).

Será possível também estudar de forma preliminar as duas leis de Kirchhoff, que consistem
na “lei dos nós” e na “lei das malhas”. A “lei dos nós” diz que a soma das correntes de todos os
ramos que entram num nó é igual a soma das correntes dos ramos que dele saem:

∑i I i ,entrada = ∑i I i , saída (2),

e é basicamente uma consequência da conservação da carga elétrica.

A “lei das malhas” diz que a soma das ddps sobre uma linha de um circuito (definida como
qualquer caminho fechado através do circuito) é nula:

∑i  U i = 0
(3),

onde normalmente se adota uma convenção de medida de potencial positivo para fontes de energia
(que aumentam o potencial entre seus terminais), e negativa para bipolos que absorvem energia
(diminuem o potencial ao serem percorridos por uma corrente, a exemplo dos resistores utilizados
neste experimento). Esta “lei das malhas” (eq. 3) é uma consequência direta da natureza
conservativa do campo elétrico, que diz que o trabalho elétrico total realizado dentro de um
caminho fechado é nulo:

∮ ⃗E ⋅d ⃗l = 0
(4).

2. Objetivos

 Entender o princípio básico de funcionamento de um galvanômetro, de um voltímetro e de


um amperímetro;
 Realizar medidas de tensão, de corrente e de resistência elétrica com os equipamentos em
questão;
 Montar circuitos elétricos básicos;
 Verificar e utilizar de forma preliminar a lei de Ohm;
 Verificar experimentalmente as leis de Kirchhoff para nós (correntes) e para as malhas
(tensões) para os circuitos construídos.

Procedimento experimental:

Lembre-se de anotar as características dos materiais e os instrumentos utilizados e de avaliar


as incertezas associadas a todas as grandezas do experimento, apresentando-as ao longo do
procedimento experimental e da sessão de resultados do relatório.

PARTE 1

a) Usando o código de cores para resistores, escolha os resistores para montar o circuito da fig.
2. Anote as incertezas nominais e medidas nos valores dos resistores.
b) Configure o multímetro em ohmímetro e meça o valor da resistência dos resistores
escolhidos de forma a verificar experimentalmente seus valores.
ATENÇÃO: A FONTE DE TENSÃO DEVE ESTAR DESCONECTADA DO
CIRCUITO PARA MEDIDA DE RESISTÊNCIAS, SOB RISCO DE SE DANIFICAR
PERMANENTEMENTE O OHMÍMETRO DE OUTRA FORMA.
c) Com o auxílio do protoboard, de pequenos fios de conexão e de cabos banana-jacaré, monte
o circuito mostrado de forma esquemática na fig. 2 (aprenda a fazer a correspondência entre
os símbolos dos diagramas elétricos e os objetos físicos efetivamente conectados entre si).
d) Configure o multímetro para trabalhar como um voltímetro, adequando a escala de tensão
para o circuito montado.
ATENÇÃO: A MEDIDA DE TENSÃO É REALIZADA CONECTANDO-SE O
VOLTÍMETRO EM PARALELO COM OS PONTOS ONDE SE DESEJA MEDIR A DDP.
CERTIFIQUE-SE DE ESTAR NO MODO “V” DO MULTÍMETRO, SOB RISCO DE
DANIFICAR O INSTRUMENTO DE OUTRA FORMA. AO MEDIR TENSÕES
DESCONHECIDAS, COMECE SEMPRE PELA MAIOR ESCALA, ABAIXANDO-A EM
SEGUIDA PARA OBTER O MAIOR NÚMERO DE ALGARISMOS SIGNIFICATIVOS
PARA A MEDIDA.
e) Ajuste a tensão da fonte regulável com auxílio do voltímetro para um valor de 10 V, e anote
a incerteza sobre este valor e a estabilidade do mesmo ao longo do experimento.
f) Com o voltímetro, meça as tensões entre os pontos A e B, B e C, C e D, D e E, E e A. Use
para cada medida o fundo de escala que permita maior precisão de medida, e anote as
respectivas incertezas (sistemáticas e estatísticas) para cada medida realizada.
g) Tomando-se o ponto E do circuito como referência, meça os potenciais elétricos nos pontos
A, B, C e D. Mostre experimentalmente que, dentro das incertezas medidas, podemos
observar que:

U AB = U A − UB ,
U BC = U B − UC ,
U CD = UC − U D ,
U DE = UD −UE .

h) Configure o multímetro para a função amperímetro adequando a escala e os terminais


utilizados para tal.
ATENÇÃO: A MEDIDA DE CORRENTE É REALIZADA CONECTANDO-SE O
AMPERÍMETRO EM SÉRIE COM O RAMO ONDE SE DESEJA MEDIR A MESMA.
ISSO SE FAZ INTERROMPENDO-SE O CIRCUITO ORIGINAL E
REESTABELECENDO O MESMO COM O AMPERÍMETRO EM SÉRIE. CERTIFIQUE-
SE DE ESTAR NO MODO E USANDO OS TERMINAIS “A” ou “mA” DO
MULTÍMETRO. COMECE A MEDIDA DA MAIOR PARA A MENOR ESCALA, SOB
RISCO DE DANIFICAR O INSTRUMENTO CASO UMA CORRENTE MUITO ALTA
SEJA APLICADA. NUNCA CONECTE UM AMPERÍMETRO EM PARALELO COM
UM RAMO DE UM CIRCUITO, ISSO CAUSARÁ UM CURTO CIRCUITO NO
TRECHO CONSIDERADO, ALTERANDO O CIRCUITO ORIGINAL E
POTENCIALMENTE AUMENTANDO MUITO A CORRENTE E DANIFICANDO O
AMPERÍMETRO OU O CIRCUITO ENVOLVIDO POR EXCESSO DE CORRENTE.
i) Meça as correntes nos ramos / pontos A - B, B - C, C - D, D - E, E - A do circuito da
fig. 2. Use para cada medida o fundo de escala que permita maior precisão da medida, e
anote suas respectivas incertezas.

Fig 2 : Esquema do primeiro circuito proposto, com quatro resistências conectadas em série.

PARTE 2

a) Monte o circuito mostrado na fig. 3.


b) Configure o multímetro em um voltímetro adequando a escala da melhor forma possível à
medida.
c) Meça as tensões entre os pontos A e F, B e E e entre C e D. Utiliza para cada medida o
fundo de escala que permita maior precisão da medida, e anote as respectivas incertezas nas
medidas.
d) Configure o multímetro em um amperímetro adequando a escala.
e) Meça as correntes nos ramos A - B, B - E e C - D e E – F do circuito. Use para cada
medida o fundo de escala que permita maior precisão da medida, e anote as respectivas
incertezas nas medidas.

Fig. 3: Esquema do segundo circuito proposto, com duas resistências conectadas em paralelo.

3. Apresentação dos resultados

APRESENTAÇÃO, PARTE 1
Na introdução teórica:
a) Explique o que é um galvanômetro.
b) Defina o que é o fator multiplicador de um galvanômetro operando como voltímetro e como
amperímetro. Defina e calcule algebricamente esses fatores em função das resistências
multiplicadoras e da corrente máxima do galvanômetro para um amperímetro, para um
voltímetro e para um ohmímetro série.
c) Explique como funciona o código de cores para resistores.

Na parte experimental e de resultados:

a) Calcule a resistência equivalente do circuito com sua respectiva incerteza (dica para a
obtenção da incerteza: obtenha equação para as resistências equivalentes e obtenha a
incerteza nos resultados utilizando propagação de incertezas).
b) Aplique a lei de Ohm para calcular a tensão em cada trecho, ou seja, entre os pontos A e B,
B e C, C e D, D e E, E e A (esse último trecho fornece a resistência equivalente do circuito).
Apresente as respectivas incertezas nas grandezas calculadas.
c) Compare os valores de tensão obtidos nos cálculos acima (Ucalc) com os valores medidos
(Umed) através dos instrumentos usando o erro relativo e as incertezas nos resultados.

U calc − U med
ϵ = × 100 %
U med

d) Compare as correntes medidas e calculadas nos ramos A - B, B - C, C - D, D - E, E - A,


usando o erro relativo. Qual a avaliação / conclusão experimental pode se fazer das
observações realizadas?
e) Aplique a lei das malhas ao circuito da fig. 2, apresente a incerteza no resultado,
comparando-o com o valor esperado.

APRESENTAÇÃO, PARTE 2

a) Calcule a resistência equivalente do circuito com sua respectiva incerteza.


b) Aplique a lei de Ohm para calcular a corrente em cada trecho, ou seja, entre os pontos A e
B, B e E e C e D (o primeiro trecho equivale à resistência equivalente do circuito), e
apresente suas respectivas incertezas.
c) Compare os valores de corrente obtidos nos cálculos acima com os valores medidos usando
o erro relativo.
d) Compare os valores de tensão medidos entre os pontos A e B, B e E e C e D, usando o erro
relativo. Que avaliação você faz de suas observações?
e) Aplique a lei das malhas ao circuito da fig. 3, apresente sua incerteza, comparando-o com o
valor esperado.
f) Aplique a lei dos nós ao circuito da fig. 3, apresente suas incertezas e compare com o valor
esperado.

Exercício de Treino

Obtenha as resistências multiplicadoras para se construir os seguintes instrumentos com um


galvanômetro linear com fundo de escala de IGmáx = 100 A e uma resistência interna de RG = 60 :
• Um voltímetro de fundo de escala de Umáx = 20 V. Qual a resistência interna do voltímetro
construído? Qual a potência dissipada pelo instrumento na condição extrema de medida?
• Um amperímetro de fundo de escala de Imáx = 200 mA. Qual a resistência interna do
voltímetro construído? Qual a potência dissipada pelo instrumento na condição extrema de
medida?
• Um ohmímetro série que meça uma resistência de RX = 1,0 k para uma corrente de IG =
50,0 A ('meio de escala' do galvanômetro), utilizando-se de uma bateria interna de Ubat =
9,0 V. Supondo que a escala de corrente do galvanômetro seja linear, desenhe a posição dos
seguintes pontos na escala angular do ohmímetro construído, em k: RX = {0; 0,5; 2; 5; 10;
20; 100} k e infinito. Qual é a corrente e a potência elétrica dissipada que circula pela
resistência de teste de RX = 1,0 k?

Referências

[WIKIPEDIA: Galvanometer] WIKIPEDIA. Galvanometer. URL: http://en.wikipedia.org/wiki/Galvanometer,


disponível em mar-2013.

[COLORADO] UNIVERSIDADE DO COLORADO. Kit de construção de circuitos DC (Simulador de Circuitos


Elétricos phet). Programa Java disponível em http://phet.colorado.edu/sims/circuit-construction-kit/circuit-
construction-kit-dc_pt_BR.jnlp em ago-2013. Para outros experimentos de física, veja
http://phet.colorado.edu/en/simulations/category/physics .

© FAJ, JR, Prof. Dr. Marcelo B. Pisani < pisani.uesc2013@gmail.com >


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