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Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Exatas e Biológicas


Departamento de Física
FIS105 – Fundamentos de Física Experimental

Medições Utilizando Instrumentos Digitais

Introdução:

Daremos continuidade aos temas discutidos na prática de medidas utilizando aparelhos analógicos. Certifique-
se de ter lido e compreendido a introdução daquela prática. Nos concentraremos desta vez em medidas feitas com
um aparelho digital, o multímetro. Para a determinação da incerteza de medição deste equipamento, utilizaremos as
informações fornecidas pelo fabricante.
O experimento que será realizado é a determinação da resistência de resistores e da associação de resistores
por três métodos diferentes. O primeiro método é a leitura do código de cores do resistor. Os resistores comerciais
vêm com marcas que indicam o valor da sua resistência. Consultando a tabela 1, é possível determinar o valor e a
incerteza da resistência:
Tabela 1 – Código de cores dos resistores.

Cores Dígito Multiplicador Tolerância

Preto 0 1 -
Marrom 1 10 1%
Vermelho 2 100 2%
Laranja 3 1.000 3%
Amarelo 4 10.000 4%
Verde 5 100.000 -
Azul 6 1.000.000 -
Violeta 7 10.000.000 -
Cinza 8 - -
Branco 9 - -
Prata - 0,01 10%
Ouro - 0,1 5%

Em seguida, faremos uso das diversas funções de um multímetro. Os equipamentos disponíveis para a prática
podem medir corrente elétrica (amperímetro), tensão elétrica (voltímetro), resistência elétrica (ohmímetro), entre
outras funções, dependendo do modelo.
Utilizando a função ohmímetro do multímetro, podemos determinar diretamente a resistência de um resistor
comercial. Alternativamente, podemos fazer uma medida em um circuito elétrico utilizando um voltímetro e um
amperímetro. A relação entre tensão aplicada num resistor e corrente no circuito é dada pela lei de Ohm (equação 1).

𝑉 = 𝑅𝑖 (1)

sendo V a tensão aplicada ao resistor, i a corrente que passa por ele e R sua resistência. Veja a figura 1, que
esquematiza a montagem do circuito. Para utilizar um multímetro, devemos selecionar a função (voltímetro,
amperímetro, ohmímetro, etc.) e o fundo de escala apropriado. O voltímetro é sempre colocado em paralelo com o
elemento que desejamos medir a tensão aplicada e o amperímetro é sempre colado em série. Colocar o amperímetro
em paralelo danifica o equipamento, muitas vezes permanentemente. Sempre confira com o professor a montagem
do circuito antes de ligar a fonte de tensão.
Figura 1 – Montagem esquemática do circuito para determinação da resistência de um resistor R, utilizando
um voltímetro (V) e um amperímetro (A) e uma fonte de tensão contínua (𝜀).

Podemos combinar em um circuito mais de um resistor. Essa combinação pode ser em série (passa a mesma
corrente por todos os resistores) ou em paralelo (todos os resistores estão submetidos à mesma tensão ou diferença
de potencial). A figura 2 apresenta um diagrama esquemático de dois resistores associado em série. Nesse caso, se
quisermos substituir os dois resistores por um equivalente (que seria percorrido pela mesma corrente se submetido à
mesma tensão total), podemos obter o valor da resistência do resistor equivalente utilizando a equação 2.
𝑅𝑒𝑞 = 𝑅1 + 𝑅2 (2)

Figura 2 – Montagem esquemática do circuito para determinação da resistência de uma associação de


resistores em série, R1 e R2, utilizando um voltímetro (V) e um amperímetro (A) e uma fonte de tensão contínua (𝜀).

A figura 3 apresenta um diagrama esquemático de dois resistores associado em paralelo. Nesse caso, se
quisermos substituir os dois resistores por um equivalente (que seria percorrido pela mesma corrente total se
submetido à mesma tensão), podemos obter o valor da resistência do resistor equivalente utilizando a equação 3.
1 1 1
𝑅𝑒𝑞
=𝑅 +𝑅 (3)
1 2

Figura 3 – Montagem esquemática do circuito para determinação da resistência de uma associação de


resistores em paralelo, R1 e R2, utilizando um voltímetro (V) e um amperímetro (A) e uma fonte de tensão contínua
(𝜀).
Recomendação de leitura:

HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de Física - Vol. 3 - Eletromagnetismo, 10ª
edição. Grupo GEN, 2016. 9788521632092. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521632092/>
Capítulo 26: seções 1 a 4.
Capítulo 27: seções 1 a 3.

Objetivo:
Familiarizar o estudante com procedimentos básicos de medições com instrumentos digitais (multímetros),
cálculo de incerteza e propagação de incertezas. Determinar a resistência de um resistor por 3 métodos diferentes.
Determinar a resistência de associações em série e em paralelo de resistores.

Materiais:
Dois resistores com resistências diferentes e entre 100 Ω e 1000 Ω, cabos flexíveis para ligação, dois
multímetros, placa para montagem de circuitos elétricos, fonte regulável de tensão contínua com indicador de
corrente e tensão.

Procedimento experimental:
1. O grupo deverá registrar e calcular tudo que for pedido neste roteiro. Os valores obtidos devem ser
colocados na folha de síntese e os cálculos necessários devem ser feitos no espaço indicado, com clareza e organização.
Familiarize-se com os materiais que serão utilizados na prática e identifique todos os componentes. Lembre-se de
registrar na folha de síntese sempre as unidades dos valores e incertezas juntamente com os valores.
2. Pegue um dos resistores, que será chamado de R1. Utilizando a tabela 1, determine a resistência e a
tolerância deste resistor. Calcule a incerteza a partir da tolerância e expresse o resultado com valor, incerteza e
unidade de medida.
3. Repita o mesmo procedimento para o outro resistor (R2) e registre os valores.
4. Utilize o multímetro na função ohmímetro. Escolha o fundo de escala adequado. O valor do fundo de
escala deve ser maior que o valor a ser medido. Por exemplo, se fosse usado um resistor de 300 Ω, o fundo de escala
de 200 Ω seria inadequado. É necessário utilizar o fundo de 2.000 Ω (ou 2 kΩ). O fundo de 20 kΩ também seria
inadequado. Não gire a chave rotativa para mudar o fundo de escala com o multímetro conectado ao resistor ou ao
circuito. O resistor deve ser conectado aos terminais de entrada com o símbolo Ω e COM. Seguindo estas instruções,
meça a resistência de R1 e R2. Registre os valores na folha de síntese.
5. Utilizando a tabela abaixo, fornecida no manual do equipamento*, calcule a incerteza da resistência
de cada resistor e expresse os valores finais obtidos para cada com unidade e número correto de algarismos
significativos.

Exemplo de como usar a tabela.


Valor medido 1.572 Ω (fundo de escala de 2.000 Ω). Para esse fundo de escala, a incerteza será ±(0,8% + 5𝐷).
Primeiro, calcule 0,8% de 1.572 Ω:
0,8% de 1.572 Ω = 12,576 Ω
Segundo, some ao valor acima 5D. D representa 1 na última casa que o multímetro mede naquele fundo de escala.
Neste caso, é a unidade. 5D = 5 Ω.
Incerteza: 17,576 Ω. Manter dois algarismos significativos e escrever o resultado final:
𝑅 = (1.572 ± 18)Ω
Tabela 2 – Informações do fabricante do multímetro para uso na função ohmímetro. * O modelo que cada grupo
está usando pode ser diferente, porém a forma com que o cálculo é feito é a mesma e usaremos a tabela abaixo por
simplicidade.

6. Agora monte o circuito esquematizado na figura 1 utilizando o resistor R1. Com a fonte desconectada
do circuito, regule a tensão para 5 V. Peça ajuda do seu professor. Conecte um multímetro como voltímetro (se
utilizaremos 5 V na fonte, o fundo de escala apropriado é o de 20 V) e o outro como amperímetro. Utilize a lei de Ohm
para calcular a corrente esperada no circuito e escolher o fundo de escala apropriado. Utilize o valor de R1 medido
com o Ohmímetro. Se houver dúvida do fundo de escala, sempre opte pelo maior. Se for necessário trocar o fundo
de escala, desconecte o multímetro do circuito primeiro. Nunca ligue o amperímetro em paralelo com a fonte. Para
usar o multímetro como voltímetro, além de escolher o fundo de escala correto girando a chave rotativa, conecte os
cabos que farão a ligação do equipamento com o circuito nos terminais V (polo mais próximo da saída + da fonte) e
COM (polo mais próximo da saída - da fonte). Para usar o multímetro como amperímetro, além de escolher o fundo
de escala correto girando a chave rotativa, conecte os cabos que farão a ligação do equipamento com o circuito nos
terminais mA (polo mais próximo da saída + da fonte) e COM (polo mais próximo da saída negativa da fonte). O
terminal mA pode ser utilizado para corrente de até 200 mA. Para valores maiores, é necessário conectar o cabo ao
terminal de 10 A (ou 20 A, dependendo do modelo) e colocar a chave rotativa neste fundo de escala.
7. Registre os valores de tensão e corrente medidos e, utilizando as tabelas 3 e 4, determine a incerteza
dos valores. Registre também o valor final na folha de síntese.
8. Repita os passos 6 e 7 para o resistor R2. Para trocar os resistores, desconecte os multímetros do
circuito e desligue a fonte. Troque o resistor, verifique se há necessidade de mudar o fundo de escala do amperímetro.
Por fim, ligue novamente a fonte e conecte os multímetros.
9. Monte o circuito com os dois resistores em série, conforme a figura 2. Repita os passos 6 e 7 para este
circuito. Tome todas as precauções listadas no item 8. Utilize a equação 2 para estimar a resistência da associação em
série e escolher o fundo de escala do amperímetro. Registre os valores na folha de síntese.
10. Monte o circuito com os dois resistores em paralelo, conforme a figura 3. Repita os passos 6 e 7 para
este circuito. Tome todas as precauções listadas no item 8. Utilize a equação 3 para estimar a resistência da associação
em paralelo e escolher o fundo de escala do amperímetro. Registre os valores na folha de síntese.
Tabela 3 – Informações do fabricante do multímetro para uso na função voltímetro para tensão contínua. * O
modelo que cada grupo está usando pode ser diferente, porém a forma com que o cálculo é feito é a mesma e
usaremos a tabela abaixo por simplicidade.

Tabela 4 – Informações do fabricante do multímetro para uso na função voltímetro. * O modelo que cada grupo
está usando pode ser diferente, porém a forma com que o cálculo é feito é a mesma e usaremos a tabela abaixo por
simplicidade.

11. Desligue a fonte, desconecte os cabos e desligue os multímetros.


12. Utilizando os valores de corrente e tensão medidos para os resistores individuais e para as associações
𝑉
em série e em paralelo juntamente com a lei de Ohm (equação 1: 𝑅 = 𝑖 ), calcule os valores de: resistência R1,
resistência R2, resistência equivalente da associação em série (Req-série) e resistência equivalente da associação em
paralelo (Req-paralelo). Registre os valores na folha de síntese.
13. Utilizando a incerteza padrão combinada, calcule a incerteza das resistências calculadas em 12 e
registre seus valores na folha de síntese.
Desenvolvimento do cálculo da incerteza padrão combinada (exemplo):
𝜕𝑓 2 𝑉 𝑉
𝑢𝑐 (𝑦) = √∑𝑛𝑖=1 (𝜕𝑥 ) 𝑢2 (𝑥𝑖 ) . Neste caso 𝑅 = 𝑖 , a função que estamos calculando é a resistência: 𝑅(𝑉, 𝑖) = 𝑖
𝑖

e as variáveis são 𝑉 e 𝑖 (𝑛 = 2).


𝜕𝑅 2 𝜕𝑅 2 1 2 −𝑉 2
𝑢𝑐2 = (𝜕𝑉) 𝑢2 (𝑉) + ( 𝜕𝑖 ) 𝑢2 (𝑖) = ( 𝑖 ) 𝑢2 (𝑉) + ( 𝑖2 ) 𝑢2 (𝑖)
14. Expresse o valor de cada resistência com sua incerteza e unidade com o número correto de algarismos
significativos.
15. Compare os valores obtidos para as resistências 1 e 2 pelos 3 métodos e comente.

OPCIONAL (a critério do professor):

16. Podemos comparar os valores medidos das resistências equivalentes para as associações em série e
em paralelo com os valores esperados calculados a partir dos valores de R1 e R2.
17. Utilize os valores de R1 e R2 (e suas incertezas) obtidos nos itens 12 e 13. Utilizando a equação 2, calcule
o valor esperado para a associação em série desses dois resistores. Utilizando a incerteza padrão combinada, calcule
a incerteza do valor da resistência equivalente e expresse o valor final.
18. Utilize os valores de R1 e R2 (e suas incertezas) obtidos nos itens 12 e 13. Utilizando a equação 3, calcule
o valor esperado para a associação em paralelo desses dois resistores. Utilizando a incerteza padrão combinada,
calcule a incerteza do valor da resistência equivalente e expresse o valor final.
19. Compare os valores obtidos nos itens 17 e 18 com os valores calculados nos itens 12, 13 e 14 e
comente os resultados.

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