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Como escrever um artigo académico na licenciatura?

Workshop direcionado para a redação de artigos académicos de Direito


Público
Como escrever um artigo académico
na licenciatura?

Plano do Workshop
1. Notas introdutórias
2. O que é esperado de um artigo de um aluno de licenciatura?
3. A ética na investigação científica
4. A escolha do tema
a) Exemplos de elementos-chave de um bom tema
b) Exemplos de tipos de artigos a evitar
c) O “afunilamento” gradual do tema
5. Onde e como pesquisar
a) Jurisprudência
b) Bases de dados internacionais
c) Textos académicos / científicos (“a técnica da nota de rodapé”)
6. A redação do artigo
7. Aspetos formais
a) Introdução
b) Desenvolvimento (ou “corpo” do artigo)
c) Conclusão
d) Bibliografia
e) Anexos
8. Revisão final
1. Notas introdutórias

1. Notas introdutórias

REGULAMENTO DE AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS DO CURSO DE


LICENCIATURA EM DIREITO VERSÃO CONSOLIDADA (versão aprovada em 2015 e
consolidada em 2018)

Artigo 15.º
(Elementos da avaliação contínua)
1. Os elementos de avaliação contínua são compostos por:
a) uma prova escrita, nos termos do artigo seguinte;
b) outros elementos, que podem consistir nomeadamente em trabalhos escritos
de pesquisa ou investigação, recensões e comentários de jurisprudência, resolução
de hipóteses práticas nas aulas ou como trabalho de casa, preparação e realização
de simulações de julgamento, preparação e realização de debates sobre temas
constantes do programa, exposição oral de temas indicados pelo docente, respostas
a perguntas pontuais, respostas no âmbito de chamadas orais especificamente
convocadas para o efeito e assiduidade às aulas.
1. Notas introdutórias

First things first

• A primeira coisa a fazer é apurar os requisitos formais, normalmente definidos


pelo docente
• Tamanho mínimo e máximo do artigo
• Data de entrega
• O professor especificou uma determinada estrutura e/ ou formatação para o
artigo?
• Que tipo de temas podem ser escolhidos? Pode ser escolhido um tema
livre? (dentro, obviamente, do programa da disciplina)
• O processo de escrita do artigo começa com a escolha do tema
• Pode ser pedida uma proposta de tema sujeita a aprovação do docente
• Após a escolha do tema, segue-se a fase da pesquisa
• Um bom artigo será bem estruturado (pode haver condicionamento da estrutura
por parte do docente)
1. Notas introdutórias

Caso se trate de um artigo a submeter para publicação em revista


científica (ou caso o docente não fixe regras de forma e de
estrutura, e o aluno já tenha em vista tentar uma futura
publicação do artigo….)

• Devem ser seguidas as regras constantes do Livro de Estilo/ normas


técnicas da publicação em causa. Exemplos:
• Livro de Estilo da Revista e-Pública
• Normas técnicas da Revista Themis
• Livro de Estilo da Lisbon Law Review /Revista da Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa
2. O que é esperado de um artigo de um
aluno de licenciatura?

2. O que é esperado de um artigo de um aluno de licenciatura?

• No plano de uma licenciatura, espera-se que os alunos


desenvolvam trabalhos académicos de diversa natureza,
aumentando a exigência e complexidade dos mesmos ao longo da
formação.

• Estes trabalhos devem ser devidamente acompanhados pelos


docentes, e podem surgir de duas formas
- por sugestão do docente da cadeira
- por proposta do aluno
2. O que é esperado de um artigo de um
aluno de licenciatura?

• Qualquer trabalho académico bem elaborado exige não só que o


autor conheça o assunto trabalhado, mas também que o apresente
numa linguagem correta e precisa, com coerência na
argumentação, clareza na exposição das ideias, objetividade,
concisão e fidelidade às fontes citadas.

• Diferentemente dos trabalhos realizados no ensino secundário, o


que se pretende ao nível da licenciatura é que o aluno diga o que
acha sobre a questão que estudou e sobre a qual escreve; os seus
argumentos devem ser apoiados em doutrina e jurisprudência
relevante, contudo, nas suas conclusões, é suposto que o aluno
termine o artigo com algumas ideias próprias.
2. O que é esperado de um artigo de um
aluno de licenciatura?

• Ter, pelo menos, uma “ideia-força” (uma tese que se vai tentar
provar);

• Não se pretende um trabalho descritivo, mas sempre


problematizante.
3. A ética na investigação científica

3. A ética na investigação científica

• Os valores e princípios que balizam os trabalhos académicos e de


investigação que decorrem na Faculdade cimentam-se nos
princípios das responsabilidades pessoal e profissional, liberdade e
de integridade.

• A Faculdade zela pelo cumprimento dos requisitos da legislação


nacional e comunitária, pela prossecução das boas práticas
internacionais aplicáveis ao domínio da investigação científica e
adere aos princípios elencados na Carta Europeia do
Investigador, na Deliberação de 13.11.2013 do Conselho Científico
da Faculdade, constante da Ata n.º 10 e no Regulamento Disciplinar
dos Estudantes da U.L. e do Código de Conduta e boas práticas da
U.L.
3. A ética na investigação científica

Plágio

• Apresentar o trabalho de outra pessoa como sendo nosso, parafrasear


textos ou partes deles sem identificar os autores, usar ideias de outrem
por outras palavras, sem identificar o autor, ou sem ter a sua
autorização quando esta é necessária, são exemplos de plágio no meio
académico.

• Em caso de citação, o texto ou partes citadas devem ser colocados


entre aspas (ou itálico) e a respetiva fonte deve ser indicada. Há ainda
situações em que é necessária a autorização do autor.

• A maioria dos estabelecimentos de ensino já tem software próprio que


lhes permite efetuar uma pesquisa através dos sites da internet, para
detetarem eventuais situações de plágio em trabalhos académicos.
3. A ética na investigação científica

A criação literária e artística está protegida pelo Código dos Direitos de Autor e
Direitos Conexos (CDADC).

No âmbito do CDADC, o plágio pode ser tratado de diferentes formas.

Artigo 195.º
Usurpação
1 - Comete o crime de usurpação quem, sem autorização do autor ou do artista, do
produtor de fonograma e videograma ou do organismo de radiodifusão, utilizar uma
obra ou prestação por qualquer das formas previstas neste Código.
(...)

Artigo 196.º
Contrafacção
1 - Comete o crime de contrafacção quem utilizar, como sendo criação ou prestação
sua, obra, prestação de artista, fonograma, videograma ou emissão de radiodifusão
que seja mera reprodução total ou parcial de obra ou prestação alheia, divulgada ou
não divulgada, ou por tal modo semelhante que não tenha individualidade própria.
(...)
3. A ética na investigação científica

A título informativo...

Artigo 197.º
Penalidades
1 - Os crimes previstos nos artigos anteriores são punidos com pena
de prisão até três anos e multa de 150 a 250 dias, de acordo com a
gravidade da infração, agravadas uma e outra para o dobro em caso
de reincidência, se o facto constitutivo da infração não tipificar crime
punível com pena mais grave.
2 - Nos crimes previstos neste título a negligência é punível com
multa de 50 a 150 dias.
3 - Em caso de reincidência não há suspensão da pena.
4. A escolha do tema

4. A escolha do tema

• O tema deve ser escolhido tão cedo quanto possível


• Deve ser um tema a que o aluno possa aportar alguma mais valia:
• O objetivo não deve ser apenas demonstrar que se compreende
um determinado assunto, mas também que se é capaz de
articular uma opinião refletida sobre o tema.

• Metodos de ajuda à escolha:


• Procurar nos manuais da disciplina e fazer zoom in numa
temática geral que lhe pareça interessante;
• A partir daí, procurar literatura mais especializada
• Usar o Google para apurar “o estado da arte” sobre um
determinado tema
4. A escolha do tema

Exemplos de um bom tema:


• Crítica de um caso, ou uma linha de jurisprudência recente (“abordagem
clássica”)

• Explorar um determinado campo jurídico, apontando uma nova direção para


uma área específica do Direito (“abordagem sofisticada”)

• Analisar um outro artigo científico através da crítica a uma teoria ou linha


argumentativa levada a cabo pelo seu autor (recensão);

• Prever e/ou sugerir desenvolvimentos legislativos numa determinada área


jurídica;

• Desenvolver um estudo comparativo jurisprudencial entre vários tribunais/


jurisdições (importante, sobretudo, no DIP e DF);

• Sugerir novas abordagens legais para um determinado problema jurídico que


se considera deficientemente tratado pelo legislador.
4. A escolha do tema

Exemplos de um mau tema (What not to do):


• Artigos que demonstram um problema mas não apontam
qualquer solução (sem valor acrescentado);

• Uma mera descrição de um Acórdão;

• Artigos que se limitam a descrever o que consta da lei.

E, continuar a refinar o tema à medida da investigação, sem nunca


perder de vista o objetivo de responder às perguntas formuladas
no espaço disponível para a escrita.
5. Onde e como pesquisar

5. Onde e como pesquisar

a) Jurisprudência
b) Bases de dados internacionais
c) Textos académicos / científicos (“a técnica da nota de rodapé”)
5. Onde e como pesquisar

a) Jurisprudência
Jurisprudência nacional:

• www.dgsi.pt
• www.tribunalconstitucional.pt

Jurisprudência Internacional:
• Curia
• Tribunal Europeu dos Direitos do Homem
• Tribunal Internacional de Justiça
5. Onde e como pesquisar

b) Bases de dados internacionais


Através do site da Biblioteca da FDUL seguir para “Bases de dados”
5. Onde e como pesquisar
5. Onde e como pesquisar

Ligação off campus (VPN)

https://www.fd.ulisboa.pt/faculdade/servic
os/informatica/vpn/
5. Onde e como pesquisar

c) Textos académicos (“a técnica da nota de rodapé”)

• Partir de um texto base (pode ser um texto doutrinário, um artigo, um


manual ou uma CRP/ código anotado).
• “Recolher” notas de rodapé e daí “abrir a pesquisa”.
• Pesquisar no site da biblioteca da FDUL (pesquisa avançada) + Biblioteca da
Procuradoria Geral da República + Biblioteca do TC + Biblioteca da
Assembleia da República (livros e revistas científicas...).
• Pesquisar revistas científicas internacionais partindo, ou das notas de
rodapé, ou pesquisando no Google.
• Pesquisar no Google por pelo assunto e nome de uma autor que já se
tenha percebido que se dedica ao tema.
• Pode-se pesquisar no site de cada uma das revistas científicas
internacionais.
• Estudos em homenagem a… (pesquisar no site da biblioteca)
6. A redação trabalho

6. A redação do trabalho
• Começar a escrever tão cedo quanto possível: fugir ao “dilema da
folha branca” – inicialmente o que se escreve não tem de ser
perfeito, importa é começar a escrever;
• Outro problema de começar a escrever tarde é que se esquecem as
primeiras leituras e tem de se voltar a reler;
• Uma boa forma de começar a escrever é criar um “esqueleto” do
artigo, ou seja, organizar os títulos de cada secção que se projeta vir
a ter o artigo;
• Após este primeiro passo, deve-se começar a preencher as
secções
• Não é necessário seguir a ordem da estrutura do texto, ou seja,
por exemplo, começar pela introdução;
6. A redação do trabalho

• Adotar “ciclos de escrita e pesquisa”, isto é, dispensar algum tempo à


leitura e pesquisa e, imediatamente, escrever na secção
correspondente, e repetir este ciclo até o “corpo” do trabalho estar
finalizado;
• Ao começar a escrita cedo, e utilizando este método, vão-se
descobrindo “lacunas” no artigo e é possível retomar a pesquisa
imediatamente para as colmatar;
• Quão cedo se deve começar a escrita?
• Assim que possível.
• Até quando se pode adiar?
Para saber o mínimo de tempo de que se precisa para escrever um
artigo tem de se saber quantas páginas se consegue escrever por dia
(assim, se o trabalho tiver 15 páginas e o aluno souber que consegue
escrever 5 páginas por dia, precisa de 3 dias inteiros) – NOTA: Esta
técnica é altamente desaconselhada.
6. A redação do trabalho

Referências e notas de rodapé


Um bom trabalho é aquele que tem suficientes referências relevantes e se
sustenta num leque variado de fontes reputáveis.

Esta questão também é relevante no que toca ao plágio.

Há três maneiras possíveis de fazer as referências em nota de rodapé,


sendo a terceira errada e profundamente desaconselhada:
1. Ir fazendo as notas de rodapé à medida que se escreve o texto,
deixando-as completas e prontas;
2. Ir fazendo as notas de rodapé à medida que se escreve o texto, mas
fazendo apenas um “resumo” da nota (exemplo, nome do autor e
primeiras palavras da obra e página)
3. Forma errada: deixar as notas de rodapé para fazer no fim do trabalho;
6. A redação do trabalho

1. A primeira forma tem a vantagem de ficar tudo pronto, mas pode levar à
quebra do raciocínio na escrita do texto do artigo, que é interrompido para
escrever a nota.
2. A segunda tem a vantagem de interromper um pouco menos o raciocínio,
mas implica que no fim se volte atrás para corrigir todas as notas.
3. A terceira forma é altamente desaconselhada porque, no fim do trabalho,
o mais provável é o aluno já não se lembrar a que obra se referia, página,
etc..

Outras notas a reter:


• Evitar citações muito longas: se indispensáveis, devem ficar em nota de
rodapé.
• Os “à partes” devem ficar em nota de rodapé.
7. Aspetos formais

7. Aspetos formais

a) Introdução
b) Desenvolvimento (ou “corpo” do trabalho)
c) Conclusão
d) Bibliografia
e) Anexos
7. Aspetos formais

Título
• A escolha do título não deve ser menosprezada. Deve ser original e
criativo, pelo que é aconselhado fazer uma pré-investigação de
todos os títulos existentes, de forma a não plagiar um título já
usado.
• Deve ser conciso, exprimindo com exatidão aquilo que se pretende,
pelo que se desaconselham títulos que apenas são descodificáveis
pelo próprio autor.
• Deve ser claro na sua formulação, sem ambiguidades, sem ser
demasiado generalista; se for necessário, deve-se acrescentar um
subtítulo que esclareça de vez o assunto específico do trabalho.
7. Aspetos formais

Título
Alguns exemplos comuns de títulos mal conseguidos, por serem
ambíguos, generalistas, sem definir claramente o objeto de estudo,
usando fórmulas “batidas”, ou escolhendo temas já muito estudados:

«A Emergência dos Media»


«A Mulher na Sociedade Vitoriana»
«Reforma Agrária e Desenvolvimento Económico»
«Introdução ao Direito»
«A Revolução Portuguesa - O Passado e o Futuro»
«A Integração Europeia»
«Portugal à Deriva»
«O Existencialismo em Jean-Paul Sartre»
7. Aspetos formais

Título
Exemplos de bons títulos :

A consciência nacional portuguesa: ensaio de história das ideias políticas / Martim de


Albuquerque. - Lisboa: [s.n.], 1974. - 376 p. : 19 il. ; 23 cm . - Tese de doutoramento em
História Moderna e Contemporânea pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

As represálias: estudo de história do direito português, sécs. XV e XVI / Ruy Manuel de


Albuquerque. - Lisboa: R.M.Albuquerque, 1972. - v. ; 24 cm . - Tese dout. em Ciências
Histórico-Jurídicas, Univ. de Lisboa, 1972.

Os partidos políticos no direito constitucional português: dissertação de doutoramento em


Ciências Jurídico-políticas na Faculdade de Direito de Lisboa / Marcelo Rebelo de Sousa. -
Braga: Livr. Cruz, 1983. - 718, [5] p. ; 25 cm . - Dissertação de doutoramento em Ciências
Jurídico-políticas na Faculdade de Direito de Lisboa.
7. Aspetos formais

Título
Estes títulos possuem as seguintes qualidades:

• contêm as palavras mais importantes no início do título;


• não têm palavras ambíguas ou de duplo sentido;
• em alguns casos, desdobram-se em subtítulos para especificar o
âmbito particular da tese;
• incluem todas as palavras-chave que permitirão a qualquer
investigador ou leitor identificar a tese numa consulta bibliográfica.
7. Aspetos formais

• Um bom trabalho deve estar bem estruturado, por forma a ter


uma introdução, um desenvolvimento (ou “corpo do artigo”) e
uma conclusão bem definidos;

• Como referido, o “esqueleto”, que pode evoluir à medida da


escrita, no final deve ter uma estrutura que faça sentido e seja
fácil de seguir para o leitor;

• É abstratamente possível fazer todo um artigo em texto corrido,


mas é desaconselhado: cada secção deve estar bem identificada
com um título.
7. Aspetos formais

§ Um comentário de jurisprudência obedece a cânones


próprios:

Deve começar por identificar o acórdão, apresentando a sua


referência completa.
a. Pode depois ter um breve sumário, de um parágrafo,
contendo uma síntese da questão jurídica controvertida e da
problemática que será analisada.
7. Aspetos formais

a) Introdução
• O primeiro objetivo da introdução é contextualizar o leitor e
articular o tema que será explorado, dando-lhe uma panorâmica
daquilo que se pretende atingir com o comentário;
• Deve apresentar-se ao leitor, de forma clara e sucinta, o tema ou
tese que se vai defender, e de seguida apontar os assuntos que
vão ser tratados e como vão ser tratados;
• Uma boa definição do que cabe e do que não cabe no âmbito
do artigo defende o aluno;

• Um segundo objetivo pode ser explicar ao leitor porque é que


aquele tema específico é relevante;
7. Aspetos formais

a) Introdução
Deve fazer-se uma apresentação sintética da situação sub judice,
descrevendo os trâmites processuais seguidos, a matéria de facto
provada, o teor e fundamentos da decisão recorrida, as alegações
do recorrente e contra-alegações do recorrido e as questões de
Direito suscitadas.
7. Aspetos formais

• Pelo exposto, escrever a introdução implica já conhecer a


estrutura definitiva do artigo e saber como este irá ser concluído
– daí que possa acontecer que a introdução seja a ultima parte
do artigo a ser escrita ou terminada;

• Nalguns artigos poderá fazer sentido indicar que tipos de


metodologias foram utilizados durante a análise, como seja:
indicar as fontes jurídicas que vão ser utilizadas, o recurso a um
determinado método interpretativo, etc.;
• Se houver lugar ao uso de metodologias não jurídicas, como
seja o uso de métodos quantitativos ou qualitativos, isso deve
ser mencionado;
7. Aspetos formais

b) Desenvolvimento (ou “corpo do artigo”)


Há diversas formas de estruturar esta secção, mas, preferencialmente esta deverá
estar dividida em três passos: (i) discussão acerca da(s) questões de facto e de
Direito selecionadas (ii) apresentando a posição e fundamentação do acórdão
objeto de análise e (iii) os inerentes comentários críticos fundamentados e
problematizantes do aluno (o valor-acrescentado que aporta ao tema).

i) Contexto jurídico e factual relevante


Factualidade do caso
- Expor sumariamente os factos relevantes
- Adaptar o desenvolvimento dos factos à dimensão do trabalho
Questões de Direito
- Apresentar a análise efetuada pelo Tribunal
- Analisar a doutrina e jurisprudência quanto à questão jurídica e confrontá-la com a
decisão tomada
- Apontar a título preliminar as insuficiências/valências da decisão
7. Aspetos formais

ii) Análise dos problemas (apresentação da posição e fundamentação do


acórdão objeto de análise)

• É aqui que se vai defender, pelo menos, uma “ideia-força” (tese do aluno);
• Ir direto ao ponto;
• Analisar as fontes apropriadas ao caso concreto, levantar a questão jurídica a
presente e partir para a sua análise e discussão;
• Apresentar posições divergentes na doutrina e/ou jurisprudência e apreciá-
las criticamente – em modo de “diálogo” entre elas ou sistematizando-as em
blocos de acordo com um determinado critério que deve ser explicitado;
• Se possível, apresentar posição própria ou, pelo menos, adotar uma e
explicar porquê.
• É também aqui que deve ficar demonstrado que aquilo que se tenta provar (a
“ideia-força”) é verdade.
7. Aspetos formais

iii) Valor-acrescentado (comentários críticos fundamentados e


problematizantes do aluno)
• O valor-acrescentado pelo aluno será a sua análise original do
tema ou eventuais recomendações sobre os assuntos abordados,
que deverão seguir-se, no texto, à análise;

• ANÁLISE CRÍTICA DA QUESTÃO JURÍDICA POR REFERÊNCIA À FACTUALIDADE


• Identificar concretamente onde reside a concordância/discordância
• Relacionar os factos com a questão jurídica, designadamente para efeitos de
assumir como poderia a posição ser diferente se a factualidade tivesse diferentes
contornos
• Identificar as normas/princípios que depõem em sentido contrário; Identificar a
interpretação mais correta sem mudança de normas ou princípios
• Apresentação da concordância ou discordância sustentada
7. Aspetos formais

iii) Valor-acrescentado (comentários críticos fundamentados e


problematizantes do aluno)

• Espera-se que o aluno domine o tema analisado ao ponto de


poder formular algumas conclusões próprias, ainda que simples
ou, eventualmente, apresentar algumas recomendações
dirigidas aos problemas identificados no acórdão.
(Comentário a um acórdão)

• Este tipo de trabalho académico é muito mais do que um mero resumo informativo do
acórdão em causa e das posições doutrinárias relevantes.

• Além da apresentação e análise dos factos e do Direito, o comentário deve trazer


outras ideias e referências complementares e levar a cabo uma crítica ao acórdão sub
judice.

• Ou seja: quem escreve um comentário deve ter a capacidade de relacionar a questão


jurídica em análise no acórdão com outros textos e outras ideias sobre o mesmo
problema, de uma forma direta e assertiva.

• Ou seja, antes de partir para a etapa da escrita, é muito importante fazer uma leitura
atenta e profunda, quer do acórdão, quer da doutrina e jurisprudência relevantes.
• A crítica jurisprudencial abarca um breve resumo inicial,
mas exige a postura e a opinião de quem escreve.

• Deve-se deixar claro qual é a sua opinião sobre o tema e associá-


lo com as perspetivas de outros autores de forma
contextualizada.

• Não esquecer de utilizar referências e citações para garantir a


base teórica e científica do trabalho.

• Mas, atenção: não basta copiar e colar várias informações,


opiniões e trechos, o texto deve ser articulado.
• O comentário jurisprudencial é um texto com uma forte
carga argumentativa.

• A sua estrutura deve incorporar uma introdução, um


desenvolvimento e uma conclusão.
• No entanto, essa estrutura, não tem obrigatoriamente de
ser explicitamente demarcada, como seria num artigo
científico, por exemplo. Isto é, não é necessário incluir os
subtítulos “Introdução”, “Desenvolvimento” e “Conclusão”.
Organização de tarefas sugerida

1.º passo – Leitura crítica

• Ler o acórdão com atenção e fazer anotações.


• Estudar todo o material complementar para a análise.
• Destacar, sublinhar e fazer comentários sobre as partes
importantes.
• Ao mesmo tempo que se lê, deve definir-se o que é
importante, útil, inovador, relevante, controverso e
válido nas posições das partes em confronto no acórdão,
e nas fontes complementares que forem utilizadas.
Organização de tarefas sugerida

Identificar a(s) tese(s) em disputa no acórdão.

- Pergunte-se: quais são as ideias que cada parte defende ou

ataca?

- Assinale a tese principal.

- Destacar os tópicos e partes dos textos que pareçam ser mais

significativos, por exemplo: as explicações ou as evidências

encontradas que corroborem os pontos de vista em confronto

e o adotado pelo TC.


Organização de tarefas sugerida

2.º passo: Análise textual

• Será que o ponto de vista defendido pelo TC é jurisprudência


assente sobre o tema?
• Segue uma linha jurisprudencial ou escola de pensamento? Qual?

• (o mesmo para as partes)


Organização de tarefas sugerida

Avaliar a forma como os conceitos foram utilizados.

O TC usou os conceitos de um modo claro e rigoroso, ou de forma confusa,

desadequada?

Pronuncie-se sobre isso, valorizando ou identificando o que considera errado ou

confuso e como esses pontos poderiam ser melhorados.

Avaliar como foram trabalhados os argumentos.

A fundamentação baseia-se em fontes sólidas?

Confirmar a credibilidade das referências citadas ao longo do acórdão e se elas

realmente reforçam o ponto de vista defendido.

NOTA: Quando um autor usa o conteúdo de um site claramente tendencioso, o raciocínio fica

comprometido. Pelo contrário, a argumentação fica mais robusta ao citar fontes tão

imparciais quanto possível.


Organização de tarefas sugerida

3.º Passo: redação do trabalho

(remissão para o que já foi dito atrás)


Organização de tarefas sugerida

Conselhos:
• Evitar apresentar as suas ideias dizendo "eu acho" ou "na minha opinião”,
sem que estas estejam suportadas numa fonte ou argumento científico de
autoridade. É esperado que o aluno expresse as suas opiniões, mas deve
apoiá-las em evidências científicas.

• Apoie sua posição com evidências detalhadas do(s) texto(s) examinado(s).

• Não esquecer de fazer sempre referência das citações e paráfrases.

• Apresentar sempre um breve resumo do que está em análise. Não assuma


que, porque seu leitor sabe o assunto do trabalho, não é necessário
mencionar o título e objeto do mesmo.
Organização de tarefas sugerida

Outras questões importantes a serem analisadas:


• Quais são pontos fortes e pontos fracos da decisão do TC?
• O propósito de um comentário a um acórdão não é meramente informar,
mas principalmente apresentar a visão do aluno sobre o problema dele
constante que decidiu criticar – dar a sua opinião.
• O trabalho deve fornecer informações, interpretação e crítica. As
informações ajudarão o leitor a entender a natureza do trabalho em
análise; A interpretação explicará o problema em causa, exigindo, portanto,
a correta compreensão do mesmo, e na crítica discutirá as suas opiniões
sobre o tema, devendo apresentar argumentos fortes para as sustentar.
• Atenção aos votos dissidentes: o voto de vencido de hoje poderá ser
jurisprudência futura.
– “The Great Dissenter” - John Marshall Harlan
7. Aspetos formais

NOTA IMPORTANTE: Não é suposto que o


aluno, a este nível de ensino, crie toda
uma nova teoria sobre um determinado
assunto! – apenas que consiga articular
algumas ideias simples sobre como
resolver ou desenvolver o problema em
discussão.
7. Aspetos formais

c) Conclusão

• Devem ser sumariados os pontos principais da


discussão e as conclusões a que se foi chegando ao
longo da análise;

• Pode ser feita em “texto corrido” ou por pontos.


7. Aspetos formais

d) Bibliografia

• Devem ser indicadas todas e apenas as obras citadas no artigo;


• É um erro GRAVE acrescentar qualquer obra que não tenha sido
mencionada no texto;
• Um bom truque para ter a certeza de que se está a incluir tudo e
apenas o que é suposto é fazer copy/paste de todas as notas de
rodapé para outro ficheiro e apagar as obras repetidas em mais
que uma nota; no fim, colocar por ordem alfabética do apelido do
autor (em maiúsculas) – Exemplo:

MIRANDA J, Manual de Direito Constitucional, Tomo VI, Coimbra,


2001.
7. Aspetos formais

• Na bibliografia não se incluem páginas de livros/monografias;


isso poderá ser feito para indicar o início e fim de artigos em
revistas científicas.

e) Anexos
Excertos de legislação ou diagramas que sejam pertinentes, devem
figurar nesta secção, no final do trabalho.
8. Revisão final

8. Revisão Final
Pode ser usada uma espécie de checklist para garantir que o trabalho
está pronto a ser entregue:

ü O artigo cumpre as especificações formais e estruturais indicadas


pelo docente?
ü Todas as notas de rodapé e bibliografia estão corretas?
ü O título reflete adequadamente o conteúdo do que foi escrito e
informa o leitor sobre o tema em estudo?
ü A introdução e a conclusão batem certo?
ü O trabalho está devidamente formatado?

Em caso de resposta afirmativa a todas estas perguntas,


o artigo está pronto!
Dúvidas?
Obrigada pela atenção!

Mafalda Serrasqueiro
mafaldaserrasqueiro@fd.ulisboa.pt

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