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Resenhas

Resenhas

Memória e Memória & sociedade: lembrança de


(res)sentimento: velhos
indagações sobre Ecléa Bosi. São Paulo, SP. T.A. Editor,
uma questão 1979.
sensível
Stella Bresciani e Por Juliana Schober
Márcia Naxara
"O narrador conta o que ele extrai da
Narradores de experiência - sua própria ou aquela contada
Javé por outros. E, de volta, ele a torna
Dir. Eliane Café experiência daqueles que ouvem a sua
história"
Memória & Walter Benjamin
sociedade:
lembrança de "Na realidade, não há percepção que não
velhos esteja impregnada de lembranças"
Ecléa Bosi Henri Bérgson

Outras resenhas
Para que servem os velhos? Para lembrar, lembrar muito e lembrar
bem. Esta é uma conclusão simples que pode ser tirada da leitura do
complexo livro Memória & sociedade: lembrança de velhos, da
historiadora da USP Ecléa Bosi. Trata-se de um livro sobre memória
social, ancorado na velhice - essa fase da vida inevitável que muitos
jovens simplesmente ignoram.

"(...) não pretendi escrever uma obra sobre memória, nem uma obra
sobre velhice. Fiquei na interseção dessas realidades: colhi memórias
de velhos" escreve a autora, que dividiu o livro em dois capítulos
iniciais teóricos e um último capítulo no qual se torna uma
personagem narradora, tal como os oito personagens do livro.

As histórias dos personagens de Bosi mostram que a função social


exercida durante a vida ocupa parte significativa da memória dos
velhos, e isso não ocorre por acaso. A memória, na velhice, é uma
construção de pessoas agora envelhecidas que já trabalharam.
Assim, é uma narrativa de homens e mulheres que já não são mais
membros ativos da sociedade, mas que já foram. Isso significa que
os velhos, apesar de não serem mais propulsores da vida presente
de seu grupo social, têm uma nova função social: lembrar e contar
para os mais jovens a sua história, de onde eles vieram, o que
fizeram e aprenderam. Na velhice, as pessoas tornam-se a memória
da família, do grupo, da sociedade.

O homem jovem e ativo, em geral, não se ocupa com lembranças -


não tem tempo para isso. Dos jovens, a sociedade espera produção,
e muitas vezes não se dá conta da violência implícita nesse processo.
Produção nas indústrias, nas minas de carvão, produção de
conhecimento - muita produção. Dos velhos, não. Deles, espera-se a
lembrança. Mas quando não se valoriza essa função social, como
acontece mais correntemente, há um esvaziamento e uma
desvalorização dessa nova etapa da vida.

Mas não é só o tempo "socialmente permitido" que os velhos têm


para se dedicar às suas lembranças. Bosi, em seu livro, lembra que
os velhos têm uma memória social atual mais contextualizada e
definida, pois são expectadores de um quadro já finalizado e bem

http://www.comciencia.br/resenhas/memoria/velhos.htm[8/3/2009 01:36:00]
Resenhas

delineado no tempo. Aos mais jovens, ainda absorvidos nas lutas e


contradições de um presente que os solicita intensamente, falta
experiência para lidar com as lembranças.

A relação estreita entre memória e trabalho mostrada por Bosi em


seu livro, feita pela análise das vidas de seus personagens, e a
constatação de que a função social da velhice, nem sempre
reconhecida, não deveria ser perdida. A autora vê e mostra os velhos
com afeto e compreensão e, ao final do livro, já não separa as suas
próprias memórias das memórias de seus personagens. Ao contrário
de outras publicações do tipo, não coloca os velhos em uma situação
passiva, pois enquanto eles lembram, eles ainda "fazem".

O final do livro é afetuoso e valoriza o trabalho como ponto central


da memória dos velhos: "A memória do trabalho é o sentido, é a
justificação de toda uma biografia. Quando o Sr. Amadeu [um dos
velhos que é personagem] fecha a história de sua vida, qual o
conselho que dá? De tolerância para com os velhos, tolerância
mesmo com aqueles que se transviaram na juventude: Eles também
trabalharam".

Atualizado em 10/03/04

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2003
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http://www.comciencia.br/resenhas/memoria/velhos.htm[8/3/2009 01:36:00]

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