HALLIDAY, Fred. Repensando as Relações Internacionais. Porto Alegre: Ed.
da Universidade/ UFRGS / FAPA, 1999.
Capítulo 8 - UM COLAPSO SINGULAR: A UNIÃO SOVIÉTICA E A COMPETIÇÃO
INTERESTATAL “UMA NOVA LUZ SOBRE VELHAS QUESTÕES” Final da década de 80 rola o colapso socialista na URSS e no resto do mundo. Novas questões para ciências sociais e internacional. Uma questão é a explicação de porque um sistema econômico e sócio-político, militarmente forte como seu rival desmoronou. Disso surgem outras duas: -o colapso era inevitável? -quando e como começou a crise terminal do sistema socialista soviético? As mudanças que estavam acontecendo criaram uma espécie de laboratório de processos sociais, como: ¹natureza da GF e seu caráter inter-sistêmico (visto no cap anterior); ²padrões de limitações vindos desde cima e o papel dos fatores internacionais em moldá-los; ³possibilidades e perspectivas de transformação de um sistema comunista para um capitalista; 4 variações de competição e seu papel no colapso socialista. “A TRANSFORMAÇÃO DESDE CIMA” Mesmo tendo sido criados inicialmente por movimentos de massa os Estados socialistas se constituíram com maior controle estatal; controle na mão das elites. Capacidades, métodos e objetivos das elites baseadas em sua teleologia e também por questões externas (rivalidade com o capitalismo). Projetos nacionais (elaborar uma grande sociedade - ideológico) e internacionais (fruto da pressão sistêmica). Elites tavam dando ordens pra tentar chegar em um objetivo futuro que não se realizou. Tentativa de criar uma economia planificada, um sistema unipartidário e mudar questões importantes das sociedades (trabalho, gênero). Não dá só pra pensar como um fracasso total: 1-não dá pra saber o que vai continuar dos gov comunistas; 2-forças que vem contra o comunismo podem ter surgido de façanhas ele (educação e urbanização); 3-mesmo se tudo do comunismo sumir não da pra negar que eles mudaram uma sociedade pra caramba (colocando um país como grande na disputa interestatal). Pra entender a “falha” soviética tem que olhar pro interior e pro exterior (nesse segundo tanto -interestatalmente quanto -intersocietalmente [fraqueza socioeconômica]). “A TRANSIÇÃO DO SOCIALISMO PARA O CAPITALISMO” Definitivamente rolou um sistema socioeconômico diferente do capitalista na URSS. Não dá pra pensar que sistemas são influenciados só internamente. Fim do comunismo -> desilusão dupla: -não rolava economia planificada bem; -não dava só pra reformar o sistema. Primeira vez que rolou transição de sistema planificado pra livre-mercadista. Fatores que favoreceram a passagem pro capitalismo: forças sociais e educacionais, vontade capitalista de fornecer ajuda, provável decréscimo da competição interestatal e um modelo alternativo e viável. Dificuldades: falta de capital, contexto legal, acomodação política e econômica. Mudança leva a conflito intersocial. Importância do internacional. ¹Transições autodeterminadas (feudalismo-capitalismo na Euro); ²Transições impostas (que rolaram com as colonizações, sociedade forte e fraca). Ambas são custosas (impostas ainda mais). “Se o internacional impede a heterogeneidade no longo prazo, ele simultaneamente: inibe uma imitação bem-sucedida.” (213). Transição socialista (para uma sociedade mais “civilizada”). A competição interestatal tem que ser levada em conta pra entender o colapso. Coloca que a percepção da performance econômica e ideológica que determinou o resultado. “A luz do que os sociólogos história tem escrito, existem certos pontos de partida óbvios: a própria guerra, a pressão sobre as relações Estado-sociedade devido a necessidade de mobilizar recursos domésticos na preparação para uma possível guerra e a formação e a deformação das instituições domésticas como urn resultado da competição externa.” (214). “OS FATORES INTERNACIONAIS E A GUERRA FRIA” Fator internacional: -interações entre sistemas heterogêneos e desiguais; -pressões impostas pelos capitalistas. Três fatores específicos: -ônus da corrida armamentista; -embargos econom e tecnológ da Otan; -movimentos de guerrilha aliados a soviéticos do terceiro mundo; (formas de competição e pressão inter). “A Corrida Armamentistas” História da corrida armamentista: i)a partir do final de 40’s corrida armamento convencional e nuclear, questão tecnológica, a não ser no espacial eua estava na frente; ii)ônus americano menor (5-10% do PIB em arma, URSS 10-20%); iii)mesmo sem conflito direto, tinha disputa por superioridade estratégica (racionalidade clausewitziana da corrida armamentista), prestígio e status, pressão nos orçamentos-> pressão na relação estado-sociedade. Três variantes do argumento desse gasto soviético: -econômico; -tecnológico; -político (difícil manter o mundo dividido por questão ideológica). “A ênfase precisa, portanto, ser tanto na eficiência e nos mecanismos de alocação do setor civil, como no peso dos gastos militares sobre o PIB: fosse o PIB soviético relativamente mais alto e se os restantes 80% da economia soviética tivessem sido mais eficientemente organizados, o "ônus" do gasto militar teria sido menor e teria, dada uma certa eficiência e níveis razoáveis de crescimento, representado, de qualquer forma, uma percentagem mais baixa do PIB.”(217). Na questão tecnológica a URSS tava atrás e tentando imitar os EUA, que era pior que só estar protegido. Questão política de um mundo nuclear era importante também (ameaça à humanidade). “As Pressões Econômicas” Uns colocavam que o comércio internacional poderiam estabilizar a URSS, outros que ele levaria a sua derrocada. Coloca que interações econômicas e pressões foram danosas pra URSS e que ela não soube fazer uso das vantagens do comércio com os capitalistas. Caso da abert da Polônia no início do 70’s: curto prazo foi bom com bens de consumo e investimento, mas no longo foi ruim graças ao aumento da dívida externa que fazia pressão em ganhos internos. Pra URSS foi bom no curto prazo pois conseguiu lucros com trigo e petróleo, mas uns argumentam que no longo prazo foi ruim porque esses lucros adiaram mudanças importantes. Na questão tecnológica, esteve sempre atrás dos ocidentais, correndo pra imitar ou roubar tecnologia. Não fez bom uso das tecnologias que tinha, pouca interação civil-militar. Falta de incentivo à inovação (economia planificada), terceira revolução industrial 70’s (tecnologia de ponta, computador) deixou o ocidente bem na frente. Não foi fazendo concessões pra acabar com as sanções, acabou cedendo de vez. Centralização política fazia absorver os impactos. “A Erosão do Bloco” Terceiro fato de ajudou no recuo soviético foi o custo (econômicos e diplomáticos) de apoiar econômica e militarmente os aliados do 3° mundo. “Superextensão imperial”. Americanos criaram a “Doutrina Reagan” de apoio a guerrilhas anti-comunistas porque viram que o 3° mundo era o elo fraco soviético. Coloca que essa questão talvez não foi tão importante. O impacto diplomático foi grande: apoio a revolucionários atrapalhou a relação com os Eua e a invasão do Afeganistão deu motivo pra acabar com as relações. Na questão econômica eles nem investiam tanto (0,25% do PIB) e faziam apoios de forma variadas, que podiam até ajudá-los. O apoio não era tão eficiente. Não era o ponto mais fraco da URSS o terceiro mundo. “UM FRACASSO COMPARATIVO” A análise mostrou duas categorias de impacto externo as “tradiconal-imperial” e as de “relação Leste-Oeste”. Ambas podem ser questionadas como grande causadoras. Necessário argumento de nível histórico teórico. Como um sistema internacional de Estado entrou em colapso (não foi pela guerra, não teve desafios políticos vindos de baixa importantes [exceto Polônia], mesmo com problemas sociais e econômicos a população tava aguentando). O que rolou não foi um “colapso” mas a decisão dos líderes de introduzirem novas políticas no sistema. Mas por quê? ¹endógenamente (‘paralisia socioeconômica” - taxa de crescimento em queda, corrupção, crise ambiental, prob sociais) ²exógenamente(“falta de competitividade internacional”). A ideia de paralisia, colocada como “estagnação”, ainda teleologicamente poderia ser resolvida caso mudassem algo (e ainda tinham crescimento), o que matou foi a percepção de atraso relativo aos EUA. Último estágio da percepção de atraso foi pela década de 1980, rolou já em 1917 quando não rolou rev na alemanha. Décadas de 50 e 60 com terceiro mundo apoiando e tecnologia espacial fez o pessoal acreditar que iam até passar o Ocidente. URSS sempre esteve atrás militarmente. Década de 80 começou a mostrar um cenário pior. Também um sistema internacional criado pela URSS era quantitativamente e qualitativamente mais fraco que o ocidental. Mercado capitalista era mais forte economicamente e mais bem integrado. Urrs não conseguia integrar os setores. Questão militar (Pacto de Varsóvia) também era mais fraco, principalmente qualitativamente. Fracasso no nível internacional fez os problemas internos terem de ser solucionados (produção menor, gap nos padrões de vida em relação ao ocidente e relativo sucesso da democracia americana). Questão econômica foi de grande importância, uma vez que notou-se o gap no padrão de vida, o sistema político-social foi desacreditado. Separação da sociedade soviética tanto física (pouca comunicação e viagens) quanto psicológica, achavam que estavam melhores sempre. Não deixavam quem vinha de fora falar a verdade. Mudanças (aberturas) políticas e econômicas de Gorbachev a partir de 1985 acabaram levando a um desejo de maior abertura. Duas fases do colapso: -controlada (1985-89) -descontrolada (89-91) (quando a situação da URSS e da Euro Orient ficaram fora do controle). Podiam ter resistido se não fossem as primeiras reformas. Uma fase levou a outra, mas não de forma planejada. Uma vez sem garantia militar os regimes desmoronaram. Ação de líderes como o da Alemanha Ocidental foi importante (sedução). “OS TRÊS NÍVEIS DE COMPETIÇÃO INTERNACIONAL” Não da pra negar que questões mais realistas foram de grande importância (competição nos níveis econômico, militar e político). Um nível parece interferir no outro. Dimensões: -Interestatais, -socioeconômicas -ideológicas (elemento de poder, como os países emulam as grandes potências, elemento de poder, influência). Questões interestatais e econômicas foram bem importantes. Pressões dos estados ocidentais e interferência de firmas ocidentais. POrém a questão ideológica foi muito importante ->contraste entre padrões e condições de vida leste-oeste. Questão do padrão de vida quem interferência de propaganda dos estados e econômica, mas não somente. Acontece de maneira não coordenada e penetrante. Estados são sim importantes mas não são os únicos responsáveis pelas ri. “Existe claramente uma relação entre o poder e o poder ideológico, concretizado pelo controle da imagem e dos meios de difusão” (230). Hegemonia de Gramsci com questões ideológicas e culturais. “Se o comunismo se rendeu, quase sem disparar nenhum tiro, foi porque o instrumento de competição internacional no final do século XX foi tanto a t-shirt como a canhoneira.” (230).