Na obra de Banksy (2002), pode-se observar a intenção de interação tanto com o suporte (o

muro) como com o local exterior a ela, pois a menina poderia ser só mais uma imagem de uma
pessoa naquela calçada ou até mesmo se confundir com as marcas pretas e cinzas da sujeira e
da poluição que começam a cobrir a tinta branca da parede e passar despercebida para quem
a olha.

O balão vermelho parece estar prestes a se perder no horizonte por um efeito de

profundidade criado pelo artista usando a parte mais limpa da parede. Ao mesmo tempo
pode-se ver que a menina mantém seu braço estático e contraído, como se se forçasse a não
impedir que o balão seja levado pelo vento que sopra a roupa e o cabelo dela... Ao lado direito
há a marca verbal “There is always hope” se sobrepondo em cor branca à parte suja do muro,
o que demonstra que o sentido da frase é em si a significação desse feito artístico nesse
trecho, ou seja a esperança é a própria escrita que cobre a desesperança (representada pela
sujeira).

É perceptível também o fato de a menina estar posta ao lado de um cesto de lixo, o balão ser
de cor vermelha e perto dele nota-se uma outra frase num cartaz amarelo e rasgado que
aparenta não ser pertencente ao trabalho de Banksy, mas como dito antes, esta arte interage
com o que concerne a ela em si e também com o que é externo e complementar a sua
composição, e provavelmente vai interagir com o que ocorrer de modificações no local onde
ela se encontra. Por exemplo se o muro for pintado de branco novamente ou com outra cor e
a frase ficar mais destacada ou até mesmo sumir, se o lixo for retirado dali... Enfim, são fatores
temporais e da intervenção humana que compravam que a obra tem possibilidades de
mudanças no aspecto e no sentido. Mas o que aqui se deve destacar é a presença das cores
vermelha e amarela e o lixo que criam, intencionalmente ou não, uma intertextualidade com a
obra de Andy Warhol (famoso por criticar o consumismo). Pois, no mural Girl with ballon, vê-se
a presença e a aproximação (no caso do amarelo) com estas cores que são utilizadas nas
propagandas e nas embalagens dos produtos como se pode ver na arte Caixas Brillo de Andy
Warhol. E o diálogo entre os dois artistas também ocorre na presença do lixo na obra de
Banksy que denota o destino de todo o consumo mostrado na obra de Warhol.

Apesar das duas obras, em questão, se aproximarem numa possível crítica ao consumismo,
pode-se diferenciá-las nos seus valores e intencionalidades enquanto arte, visto que Warhol
retira produtos de contexto ordinário que não têm admiração, exclusividade e valor artístico e
lhes atribui uma subjetividade e os transforma em algo com estética e peso artístico. Por
outro lado, Banksy coloca em um ambiente ordinário o que já tem pela sociedade um certo
valor estético e conceito de arte. Ou seja, um artista quer a expressão artística dentro de um
contexto incomum e o outro deseja que o comum se torne arte. No entanto, ambos
subvertem o valor social que é dado à arte.

E a subversão de Banksy se comprova no fato ocorrido em 2018, pois ali se evidencia um ato
crítico do artista contra o modo burguês de se relacionar com a arte. Nesse episódio, percebe-
-se que Banksy prefere ver sua obra livre e acessível a todos nos muros de alguma cidade e não
emoldurada e vendida como produto exclusivo de um único indivíduo.