Você está na página 1de 4

Universidade de Brasília – UnB

Departamento de artes visuais


Disciplina: STCHA 2
Professor: Ludmilla Alves
Aluno: Lucas Moreira de Souza
Matrícula: 211009707

Linguagens Selvagens: Pintura Rupestre e Grafite

O desejo de deixar marcas se encontra presente nos humanos antes do


surgimento da escrita. Foi na pré-história que surgiu a pintura rupestre.
Semelhantemente podemos observar o grafite, a escrita através das figuras
imagéticas nas paredes das cidades. O Objetivo deste ensaio é evidenciar os pontos
que aproximam o grafite da pintura rupestre, que são duas formas de arte distantes
temporalmente, mas que possuem características que as aproximam e dialogam com
o selvagem.
Os homens da pré-história deixaram suas marcas nas paredes das cavernas,
mas não somos capazes de decifrar seus significados com exatidão, o que nos restam
são suposições baseadas no simbolismo hipotético que cada figura carrega e os
resquícios da sensibilidade artística de nossos antecessores.

“Atualmente pode-se dizer que qualquer obra, tenha ela sido


criada com o objetivo dedecorar ou de comunicar, considera-se
como uma manifestação cultural, incluindo-se, também, a pintura
rupestre.” (Lopes, Joana Gonçalves Vieira).

São nas paredes das cidades que alguns artistas que convivem no meio urbano
encontram um espaço de expressão. O grafite possui influência na leitura dos
espaços, e muitas vezes trazem consigo personagens ou frases que causam
desconforto e reflexões, e por isso é considerado expressão, dessa forma, os
grafiteiros transformam as cidades em galerias ao ar livre.

É uma necessidade básica do ser humano de se comunicar


através de imagens e textos. Na história humana, sempre existiram
paredes com pinturas e desenhos, e nas paredes de creches
encontramos testemunhos de uma necessidade básica. (STAHL,
2009, p. 15).

O grafite esteve presente durante vários períodos históricos, mas foi batizado
como grafite durante a década de 1960 em Nova Iorque, surgiu como evolução da
pichação, era usado como forma de protesto por ser um meio de expressão novo e
rebelde, além de estar associado com a cultura hip-hop. “Atualmente, o grafite não é
mais utilizado apenas como forma de protesto, mas, também, como forma de arte que
exibe linhas e figuras que acompanham o cotidiano da cidade” (Lopes, 2011). Um
caráter do grafite é a sua efemeridade, eles surgem e desaparecem das paredes e
dos muros, acompanhando o ritmo e a necessidade de mudança, os artistas urbanos
intervêm nos espaços, territorializando e desterritorializando, enquanto transformam
o espaço com suas expressões.
Nos vemos rodeados pelos signos no ambiente urbano, diariamente nos
deparamos com uma série de símbolos, na medida em que surgem novas estruturas,
surgem junto delas outdoors, placas e pinturas que adotam ícones como forma de
capturar nossa atenção. Vários prédios podem seguir o mesmo padrão arquitetônico,
mas quando os ícones são atrelados a eles, torna-se fácil distingui-los, assim
podemos dizer se é uma loja de construção ou um mercado.

Toda a arquitetura pós-moderna consiste nesta transformação


do prédio em mural, em letreiro, em tela. Painéis luminosos que
reproduzem castelos medievais ou haciendas mexicanas. Em vez de
se construir a representação, se representa a construção (PEIXOTO
1988, p. 1.)

Os comerciantes encontram uma oportunidade de aderir a uma faixada criativa


para os comércios, e surge daí um mercado para os artistas urbanos, com padrões
que se repente por várias cidades. Geralmente são figuras que servem para fisgar o
nosso olhar, e não possuem contexto direto com a informação principal para qual
redireciona os nossos olhos, como na figura abaixo:
Figura 1- Grafite na fachada de um mercado em Praia Grande, Santa Catarina
Fonte: https://www.instagram.com/handpaintedbrazil/

Na pintura rupestre, nossos antepassados utilizavam pigmentos naturais, como


argilas e minerais, misturados com água ou gorduras animais, aplicados nas paredes
de cavernas e rochas com as mãos, ferramentas rudimentares ou escovas
improvisadas, resultando em pinturas duradouras. Diferentemente, o grafite adota
uma abordagem mais industrial, utilizando aerossóis, tintas acrílicas e marcadores em
vez de pigmentos naturais. Apesar da mudança para elementos sintéticos, a essência
de deixar uma marca persiste, pois, a pintura rupestre é conhecida por representar de
forma simples o que poderia ser a vida cotidiana durante a pré-história,
semelhantemente, o grafite utiliza a linguagem visual para transmitir mensagens com
um toque primitivo, evocando a espontaneidade e a expressão instintiva. O grafite
pode ser visto como uma continuação do impulso criativo do ser humano, sua
selvageria está presente não apenas na audácia das cores e formas, mas também na
sua capacidade de desafiar as normas, é como a pintura rupestre adaptada ao
contexto cultural contemporâneo. Ambos podem ser vistos como linguagens que
capturam o estado selvagem de criatividade do ser-humano, o grafite faz isso através
da exploração do ambiente urbano moderno, enquanto a pintura rupestre, fazia
através das pinturas nas paredes de cavernas e rochas. Apesar da distância temporal,
ambas expressões representam a conexão dos humanos e o ambiente ao seu redor.
A cidade, com suas construções e ruas movimentadas, pode ser entendida como uma
selva moderna, onde as interações humanas se assemelham à teia de relações na
natureza. Assim como na selva, a sobrevivência exige adaptação, e a expressão
artística, como o grafite, torna-se a pintura rupestre dessa selva urbana. Duas formas
de linguagens diferentes, mas que dialogam por possuírem um suporte em comum:
As paredes.

Bibliografia:
LOPES, Joana Gonçalves Vieira. Grafite e Pichação: os dois lados que atuam no
meio urbano. Brasília, Brasil, 2011.
PEIXOTO, Nelson Brissac. O Olhar do Estrangeiro.
https://artepensamento.com.br/item/o-olhar-do-estrangeiro/ 1998
STAHL, Johannes. Street art. Königswinter, Alemanha: H.F. Ullmann, 2006.

Você também pode gostar