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SINOPSE DO CASE: Diferença e Cultura na Observação de Pichações e Grafites em São

Luís/MA 1

Viviane Menezes de Menezes 2


Prof. Dr. Bruno Azevêdo 3

1. DESCRIÇÃO DO CASO

A pichação e o grafite estão em toda a história e em todos os lugares. Desde a


antiguidade até os dias de hoje; se percebia, antes, por meio de pinturas, escritas e desenhos nas
paredes; agora, também com escritas nas paredes, só que mais frequentemente em espaços
urbanos externos como muros, prédios, praças, dentre outras. Os sinais gráficos eram
produzidos desde a pré-história quando o ser humano, em todos os continentes, faziam com as
próprias mãos, ou com o auxílio de pedaços de madeira, pedra, pena ou quaisquer recursos
naturais disponíveis e acessíveis produziam pinturas, desenhos, marcas que representavam algo
para aquela comunidade e que nos remete a compreender nossas origens, que mesmo com
pouco conhecimento, se expressavam, se comunicavam com seus códigos os quais nem sempre
as interpretações hoje realizadas serão justas e fidedignas. Houve no período histórico o
surgimento de mensagens codificadas, mas compreensíveis, os signos pictográficos, pelos
sumérios que facilitariam a comunicação e a prestação de contas dos sacerdotes com o rei; desta
forma abstrata evoluem para a escrita cuneiforme, com símbolos mais sistemáticos, com
imagens, símbolos, mais tarde originou o alfabeto fenício (PAIXÃO, 2011). Daí, foram se
aprimorando a escrita e a linguagem, ao longo dos anos, mas sempre se percebe que as pessoas,
a sociedade, tem a necessidade e o interesse se comunicar, se expressar, se fazer ouvir por seus
pares. No Brasil, um fator interessante, foi a emergência a partir da ditadura militar, incialmente
como protestos e críticas politicas, inclusive, frases como “abaixo a ditadura” para manifestar-
se contra o regime ditatorial (COSTA, 2015), e segundo Benetti (2017) surgiu novos padrões
das pichações, diferente desse período da ditadura, voltado-se mais para uma marca individual,
ou de um grupo, em frases curtas, no intuito de marcar território. O pixo torna-se um meio de
comunicação e manifestação e persistem até os dias de hoje. A pichação tomou conta de várias
cidades, em São Paulo por volta dos anos 80, e, posteriormente, em São Luís nos anos 90; mas
atualmente, o que se pixa em São Luís mesmo são arte ou insultos ou política ou amor?

1
Case apresentado à disciplina de Antropologia Jurídica, da Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
2
Aluna do 3° Período, do Curso de Direito, da UNDB. Turma DT03AV.
3
Professor Doutor, orientador.
2. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DO CASO

2.1. DESCRIÇÕES DAS DECISÕES POSSÍVEIS

2.1.1. As pichações não são arte urbana mas uma expressão de um grupo social em diversas
áreas política, afetiva, territorial.
2.1.2. As pichações são uma manifestação de comunicação própria de uma classe social
marginalizada.

2.2. ARGUMENTOS CAPAZES DE FUNDAMENTAR CADA DECISÃO

2.2.1. As pichações não são arte urbana mas uma expressão de um grupo social.

Poderia ser considerada como arte uma vez que atende a requisitos de expressão artística
porque encontramos manifestação do seu autor de forma criativa e comunicativa no entanto,
apesar das pichações serem manifestações urbanas, não são artes, pois claramente se evidencia
uma repulsa social, ou seja, nas questões estéticas e sociais a percepção social é de retratos ou
rabiscos feios, sem cores, sem formas, pelo contrário, percebe-se como uma sujeira urbana e
não arte urbana (BENETTI, 2017). Por não entender e compreender esse universo de pichações,
o produto oriundo desses pixos é predominantemente interpretado como depredação
patrimonial, transgressão social, criminalidade, marginalidade,... o estranhamento ocasionado
entre parte da sociedade e esse grupo social causa esse desconforto e não aceitação dos pixos.
Surge então, uma modalidade que foi oriunda da pichação mas aceita como arte o grafite.
Segundo Costa (2015) há diferença entre esses dois tipos de manifestação cultural e social,
sendo a principal delas, a forma de intervenção e sua representação urbana em que a pichação
provém das letras e escritas, ininteligíveis, indecifráveis e incompreensíveis; enquanto o grafite
de artes plásticas, com a pintura e a gravura, com cores e contornos mais limpos, são decifráveis
e harmônicos. O pixo privilegia a palavra e a letra ao passo que o grafite se relaciona com o
desenho, a imagem e a pintura. Também se diferenciam em como usam o espaço urbano, sendo
que, os pichadores, buscam notoriedade pública, visibilidade, áreas de inscrição de dominação
do território enquanto que, para os grafiteiros, a preferência é por locais marginalizados pelo
poder público, por isso parcialmente aceitos na sociedade, e estes são tidos como arte urbana.

2.1.2. As pichações são uma manifestação de comunicação própria de uma classe social
marginalizada.
O “pichador” seria esse sujeito que dribla os contratos sociais, conforme Araújo (2018),
que se expressa peculiarmente de forma diferente dos habitualmente discursivo artísticos,
políticos, sociais aceitos na sociedade, tem linguagem própria, um modo “certo” de utilizar a
linguagem, um padrão somente dessa classe, e buscam legitimar e tomar posse de outros modos
de inserção de um mundo letrado”. Eles entendem como comunicação, entre seus pares. Uma
expressão codificada capaz de ser entendida e compreendida pelos próprios pichadores,
comunicação fechada de uma classe específica, dentro da diversas classes sociais que existem,
há os pichadores como uma classe marginalizada socialmente, mas que perfeitamente emitida
e recebida dentro desse grupo, vista por seus praticantes como uma forma de comunicação, não
só pela escrita em si, mas pela simbologia e significação dada ao pixo, por exemplo, um
chamado a competição (COSTA, 2015). Por vezes essa comunicação parte desse grupo e quer
atingir a sociedade e as autoridades, nesse momento é que se observa criticas de cunho político
ou social, bem menos observado nos dias de hoje em São Luís, por exemplo, que mais observa-
se é a demarcação territorial, em que o pichador, no seu bairro ou na região onde está cravada
a sua quebrada é transcrito sua identificação ou “marca” nos muros e paredes pela tinta do pixo
(MITTIMANN, 2012). De acordo com Durkeim (1996, p. XXIII, apud SILVA, 2016, p. 93)
fazemos parte de um grupo social, de um espaço, de um tempo, de combinações de ideias,
sentimentos, posicionamentos... os pichadores tem uma intelectualidade muito particular,
própria e complexa, representativa e coletiva, que a comunicação comum entre esses agentes e
o meio inserido pode gerar empatia, sentimento de proteção e segurança, um poder dado pelo
meio social. Os espaços são marcados por distinções sociais, classes distintas e aceitação ou
estranhamento, o que é bem visível na própria prática da pichação (ARAÚJO, 2018), e nesse
sentindo que se pode empoderar os pichadores em detrimento ao meio em que ele está inserido;
inclusive por essa “identificação social”, moradores sente-se seguros e protegidos estando sob
a gestão de facção de pichadores por considerar as regras impostas no pixo (MARTINS, 2017).

2.3. DESCRIÇÕES DOS CRITÉRIOS E VALORES CONTIDOS NA DECISÃO

2.3.1. As pichações não são arte urbana mas uma expressão de um grupo social.
- Fatos sociais. Arte urbana. Alteridade e estranhamento.
2.3.2. As pichações são uma manifestação de comunicação própria de uma classe social
marginalizada.
- Linguagem e comunicação. Estratificação social. Aceitação e poder social.
REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Maria Carolina da Silva Araújo. Pixo, Logo (Re)Existo: reflexões sobre os
conceitos de autoria e escrita na busca pela (re)existência. Rev. ABPN. Caderno Temático.
v. 10. 2018. p. 629-650.

BENETTI, Fabiana de Jesus. Pixo: a tinta e o fluxo que escorrem. Diaphonía. V. 3, n.1,
2017. p. 199 – 208.

COSTA, Antonio Marcos Melo. Pichação e gangue na década de 1990: experiências de


intervenção urbana na cidade de São Luís. São Luís, 2015.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro, Jorge


Zahar editor, 2000.

MARTINS, Arthur Nunes Lopes. Pixo: manifesto urbano de contracultura e direito à


cidade. Monografia apresentada ao Curso de Direiton– UNDB São Luís, 2017. 59f.

MITTMANN, Daniel. O sujeito-pixador: tensões acerca da prática da pichação paulista.


Rio Claro, 2012.

PAIXÃO, Sandro José Cajé da. O meio é a paisagem: pichação e grafite como
intervenções em São Paulo. São Paulo, 2011.

PIXO. Dir. João Wainer e Roberto T. Oliveira. Brasil, 2009. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=7LTSa-FP_5w

SILVA, Eduardo Faria da. Pixo [manuscrito]: o lado oculto ao direito. Minas Gerais, 2016.

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