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Universidade de Aveiro Departamento de Electrónica, Telecomunicações e

2008 Informática

Bruno Miguel Soluções Tecnológicas e Impacto da Mobilidade


Rodrigues e Silva Rés Numa Rede WiMAX

i
Universidade de Aveiro Departamento de Electrónica, Telecomunicações e
2008 Informática

Bruno Miguel Soluções Tecnológicas e Impacto da Mobilidade


Rodrigues e Silva Rés Numa Rede WiMAX

Dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos


requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Engenharia
Electrónica e de Telecomunicações, realizada sob a orientação científica da
Prof. Dra. Susana Sargento, Professora Auxiliar Convidada do Departamento
de Electrónica, Telecomunicações e Informática da Universidade de Aveiro

ii
Dedico este trabalho à memória da minha Mãe.

iii
o júri

presidente Prof. Dr. Nuno Borges


Professor Associado do Departamento de Electrónica, Telecomunicações e Informática
da Universidade de Aveiro
orientador Prof. Dra. Susana Sargento
Professora Auxiliar Convidada do Departamento de Electrónica, Telecomunicações e
Informática da Universidade de Aveiro
arguente Prof. Dra. Marília Curado
Professora Auxiliar do Departamento de Informática da Universidade de Coimbra

iv
agradecimentos Agradeço à Professora Susana Sargento, que sempre se mostrou disponível
para esclarecer quaisquer dúvidas, dando sempre as melhores orientações
para que o trabalho corresse bem.

Agradeço também à minha família, cujo apoio ao longo de todo o meu trajecto
académico foi inexcedível.

Agradeço a todos os meus amigos, que proporcionaram os melhores


momentos da minha vida.

v
palavras-chave WiMAX, 802.16, OFDM, OFDMA, Planeamento Celular, Modelos de tráfego,
Classes de Serviço

resumo A área das telecomunicações tem sofrido uma evolução enorme nos últimos
anos. Tanto em termos de comunicações sem fios, como em termos de
ligações de banda larga, assistiu-se a uma adesão massiva por parte do
mercado, o que se traduziu num crescimento enorme, já que a tecnologia tem
que estar um passo à frente da procura, de forma a suprir as carências dos
consumidores. Assim, a evolução persegue um objectivo cada vez mais claro:
possibilidade de possuir conectividade de banda larga em qualquer lugar e
instante. Neste contexto, aparece a nova tecnologia WiMAX (Worlwide
Interoperability for Microwave Access) como uma possibilidade para atingir
este fim.
O assunto desta dissertação incide no estudo da tecnologia WiMAX, mais
concretamente o estudo da norma IEEE802.16 e soluções tecnológicas
existentes com o intuito de apresentar resultados possíveis para a
implementação de uma rede WiMAX. Foi desenvolvida uma aplicação para
projectar possíveis redes WiMAX, que permite simplificar e automatizar o
processo de planeamento de uma rede WiMAX.
Foram idealizados cenários de utilização com perfis bem definidos. São
apresentados resultados de possíveis implementações de uma rede WiMAX
nestes cenários. É também usada a aplicação desenvolvida para apresentar
resultados concretos de planeamento de uma rede WiMAX.

vi
keywords WiMAX, 802.16, OFDM, OFDMA, Cell Planning, Traffic Models, Classes of
Service

abstract The communication industry has suffered massive evolution throughout the
past years. This has happened both in wireless communications and
broadband wired communications, with major adoption by the market. This has
conducted into a big growth, because the technology must always be one step
ahead of the demand, in order to be capable of fulfilling the needs of the
consumers. Therefore, the evolution pursues one clear goal: the possibility to
establish a broadband connection anywhere and anytime. In this context, the
new WiMAX Worlwide Interoperability for Microwave Access) technology
appears as a possibility to reach this goal.
The subject of this thesis is the study of the WiMAX technology, and more
concretely the study of the IEEE802.16 standard and the existent technological
solutions in order to present possible solutions of a WiMAX network
deployment. An application has been developed to project a WiMAX network,
that allows to simplify and automatize the planning procedure of a WiMAX
network.
Some utilization scenarios were idealized, with well defined profiles. Results of
possible WiMAX deployment are presented, in the context of these scenarios.
There are also results of WiMAX planning through the use of the developed
application.

vii
Conteúdos

Agradecimentos v
Resumo vi
Índice de Figuras x
Índice de Tabelas xii
Acrónimos xiii
1. Introdução 1
1.1. Motivação 1
1.2. Objectivos 2
1.3. Estrutura da Dissertação 2
2. Norma IEEE802.16 5
2.1. Pequena Resenha Histórica 5
2.2. Camadas protocolares da norma IEEE 802.16 8
2.3. Arquitectura de Rede 9
2.4. Camada PHY 10
2.4.1. Interfaces 10
2.4.2. OFDM 11
2.4.3. Capacidade de um Sistema OFDM 14
2.5. Camada MAC 16
2.5.1. QoS e Classes de Serviço 18
2.6. Segurança no WiMAX 21
2.7. Aplicações do WiMAX 22
2.7.1. WMAN 22
2.7.2. Acesso à Banda Larga em Áreas Rurais 22
2.7.3. Outras aplicações 23
2.8. Sumário 25
3. Mobilidade 27
3.1. Subchannelization 29
3.2. Capacidade de um Sistema S-OFDMA 30
3.3. Soluções Tecnológicas 34
3.3.1. SISO 35
3.3.2. SIMO 35
3.3.3. MIMO 35
3.3.4. Adaptive Beamforming 36
3.4. Outros Aspectos Introduzidos pela Mobilidade 37
3.4.1. Handover 37
3.4.2. Características de poupança de energia 38
3.4.3. Serviços de Broadcast e Multicast 39
3.5 Sumário 39
4. Parâmetros para Planeamento de uma Rede WiMAX 41
4.1. Caracterização dos Serviços 41
4.2. Alcance e Cobertura 44
4.3. Sistemas Celulares 49
4.4. Análise do espectro disponível na viabilidade da tecnologia 50
4.5. Sectorização 52
4.6 Sumário 53
5. Planeamento Celular 55
5.1. Cenários Considerados e Parâmetros dos Serviços 55
5.2. Célula WiMAX para cada cenário 60
5.2.1. Cenário A (Rural Residencial) 61
5.2.2. Cenário B (Urbano Residencial) 67
5.2.3. Cenário C (Urbano Empresarial) 71
5.2.4 Cenário D (Urbano Misto) 75
5.3 Sumário 80

viii
6. Ferramenta de Planeamento de Redes WiMAX 81
6.1 Introdução 81
6.2. Estrutura da aplicação 82
6.3. Funcionamento 84
6.4 Implementação das funcionalidades da ferramenta 88
6.5. Resultados Práticos 92
6.6. Sumário 97
7. Conclusões e Trabalho Futuro 99
7.1 Conclusões 99
7.2. Trabalho Futuro 100
8. Referências 103

ix
Índice de Figuras

Fig. 1 - Crescimento mundial do número de utilizadores durante o período de 1990- 1


2006 para telefonia móvel, uso da Internet e acesso à Banda Larga
Fig.2.1 – Camadas protocolares da norma IEEE 802.16 [3] 8
Fig.2.2 – As diferentes topologias WiMAX: a primeira imagem refere-se a PMP e a 9
segunda a Mesh
Fig.2.3 – Conceito do sinal OFDM: (a) técnica multi-portadora convencional; (b) 13
técnica de modulação ortogonal
Fig.2.4 – A necessidade de QoS 18
Fig.2.5 – Exemplo de WMAN 22
Fig.2.6 – Aplicações Várias do WiMAX 24
Fig.3.1 – Downlink em PUSC 31
Fig.3.2 – Uplink em PUSC 32
Fig.4.1 – Gráfico das perdas de percurso em função da variação da distância à BS. 46
Fig.4.2 – Gráfico das perdas de percurso em função da variação da altura da BS, à 47
distância de 1Km.
Fig. 4.3 – Comparação entre o SINR (Relação entre sinal, interferência e rúido), para 52
uma célula com 1 sector (à esquerda) e 3 sectores (à direita), tendo ambos os
sistemas um factor de reuso de 3
Fig. 4.4 – Diferentes esquemas de sectorização e reuso de frequências 53
Fig.5.1 – Cenário de utilização adoptado 56
Fig.5.2 – Gráfico da Largura de Banda necessária em função do número de 58
utilizadores, para o horário diurno
Fig. 5.3 - Gráficos ilustrativos das percentagens de tráfego para cada classe em 59
cada cenário, no horário diurno
Fig.5.4 – Gráficos ilustrativos das percentagens de tráfego para cada classe em 60
cada cenário, no horário nocturno
Fig. 5.5 – Esboço de uma célula WiMAX 61
Fig.5.6 – Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário A) 62
Fig.5.7 – BS com 3 sectores 63
Fig.5.8 – Capacidade da célula sectorizada em função do número de utilizadores 63
(Cenário A)
Fig.5.9 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma 64
célula com o alcance da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário A)
Fig.5.10 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a 65
área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário A)
Fig.5.11 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por 65
uma célula com a área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores
(Cenário A)
Fig.5.12 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para 66
células de 1 e 3 sectores (Cenário A)
Fig.5.13 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de 66
utilizadores e distância entre células
Fig. 5.14 – Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário B) 68
Fig.5.15 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por 68
uma célula com o alcance da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário B)
Fig.5.16 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a 69
área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário B)
Fig.5.17 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por 69
uma célula com a área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores
(Cenário B)
Fig.5.18 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para 70
células de 1 e 3 sectores (Cenário B)
Fig.5.19 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de 70

x
utilizadores e distância entre células (Cenário B)
Fig.5.20 – Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário C) 72
Fig.5.21 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por 72
uma célula com o alcance da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário C)
Fig.5.22 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a 73
área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário C)
Fig.5.23 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por 73
uma célula com a área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores
(Cenário C)
Fig.5.24 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para 74
células de 1 e 3 sectores (Cenário C)
Fig.5.25 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de 74
utilizadores e distância entre células (Cenário C)
Fig.5.26 – Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário D) 76
Fig.5.27 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por 76
uma célula com o alcance da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário D)
Fig.5.28 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a 77
área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário D)
Fig.5.29 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por 77
uma célula com a área de cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores
(Cenário D)
Fig.5.30 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para 78
células de 1 e 3 sectores (Cenário D)
Fig.5.31 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de 78
utilizadores e distância entre células (Cenário D)
Fig. 5.32 – Possível implementação de uma rede WiMAX com factor de reuso de 3 79
Fig. 6.1 – Fases de planeamento de uma rede celular 81
Fig. 6.2 – Diagrama simplificado do planeamento de uma rede celular 82
Fig. 6.3 – Vista da janela inicial da ferramenta de planeamento de uma rede WiMAX 84
Fig. 6.4 – Vista do separador “Perfis” da ferramenta de planeamento de uma rede 85
WiMAX
Fig. 6.5 – Vista do separador “Tecnologia” da ferramenta de planeamento de uma 86
rede WiMAX
Fig. 6.6 – Vista da ferramenta de cálculo 87
Fig. 6.7 – Parâmetros tecnológicos utilizados na simulação 92
Fig. 6.8 – Perfis de utilizador presentes na rede 93
Fig. 6.9 – Primeira solução apresentada pela ferramenta de planeamento celular 94
Fig. 6.10 – Solução possível apresentada pela ferramenta de planeamento celular, 95
com 3 sectores
Fig. 6.11 – Outra possível solução apresentada pela ferramenta de planeamento 95
celular
Fig. 6.12 – Outra possível solução apresentada pela ferramenta de planeamento 96
celular, com maior alcance

xi
Índice de Tabelas

Tabela 2.1 – Evolução da norma IEEE 802.16 7


Tabela 2.2 – Especificação da designação das interfaces IEEE 802.16 11
Tabela 2.3 – Cálculo do tempo de símbolo 15
Tabela 2.4 – Codificação do canal para cada modulação 16
Tabela 2.5 – Valores de capacidade útil calculados 16
Tabela 3.1 – Parâmetros de escalabilidade OFDMA, para cada perfil de WiMAX 30
móvel
Tabela 3.2 – Capacidade útil para cada modulação, em downlink PUSC 33
Tabela 3.3 – Capacidade útil para cada modulação, em uplink PUSC 34
Tabela 4.1 – Requisitos de cada serviço 42
Tabela 4.2 – Caracterização dos diversos cenários em estudo 43
Tabela 4.3 – Classe de serviço para cada aplicação 44
Tabela 4.4 – Parâmetros do modelo SUI 45
Tabela 4.5 – Potência no receptor (parâmetros e respectivas unidades) 47
Tabela 4.6 – SNR(Rx) para as diferentes modulações [1] 48
Tabela 4.7 – Sensibilidade no receptor para cada modulação e largura de banda 48
Tabela 5.1 – Utilização dos vários cenários no horário diurno 57
Tabela 5.2 – Utilização dos vários cenários no horário nocturno 58
Tabela 5.3 – Valores usados para simulação no cenário A 61
Tabela 5.4 – Cobertura por modulação no cenário A 62
Tabela 5.5 – Valores usados para simulação no cenário B 67
Tabela 5.6 – Cobertura para cada modulação no cenário B 67
Tabela 5.7 – Cobertura para cada modulação no cenário C 71
Tabela 5.8 – Valores usados para simulação no cenário D 75
Tabela 5.9 – Cobertura para cada modulação no cenário C 75
Tabela 6.1 – Funcionamento da aplicação 91

xii
Acrónimos

AMC Adaptive Modulation Coding


ATM Asynchronous Transfer Mode
BS Base Station
BWA Broadband Wireless Access
CID Connection Identifier
CPS Common Part Sublayer
CS Convergence Sublayer
DAMA Demand Assignment Multiple Access
DFT Direct Fourier Transformation
DSL Digital Subscriber Line
FDD Frequency Division Duplexing
FDM Frequency Division Multiplexing
IP Internet Protocol
LAN Local Area Network
LOS Line of Sight
MAC Medium Access Control
MAN Metropolitan Area Network
MAP Medium Access Protocol
MBS Mobile Broadcast Service
MIMO Multiple Input Multiple Output
MS Mobile Station
NLOS Non Line of Sight
OFDM Orthogonal Frequency Division Multiplexing
OFDMA Orthogonal Frequency Division Multiple Access
OSI Open Systems Interconnection
P2P Peer 2 Peer
PMP Point-to-Multipoint
PUSC Partial Usage of SubCarrier
QoS Quality of Service
RF Radio Frequency
SAP Service Access Point
SDU Service Data Unit
SFID Service Flow Identifier
SIG Sistema de Informação Geográfica
SIMO Single Input Multiple Output
SINR Signal Interference Noise Ratio
SISO Single Input Single Output
SNR Signal Noise Ratio
S-OFDMA Scalable OFDMA
SS Subscriber Station
TDD Time Division Duplexing
TDM Time Division Multiplexing
TDMA Time Division Multiple Access
WiMAX Worlwide Interoperability for Microwave Access
WMAN Wireless MAN

xiii
1. Introdução
1.1. Motivação
A área das telecomunicações sofreu uma evolução enorme nos últimos anos.
No caso das comunicações móveis o número de utilizadores tem crescido de
forma exponencial, já que em 1990 registava-se um número na ordem dos 11
milhões de utilizadores, que
evoluiu para mais de 2 biliões
em 2005, como se pode ver
através da figura 1. Durante
este período também se
assistiu ao crescimento rápido
da Internet, que inicialmente
era um projecto meramente
Fig.1 – Crescimento mundial do número de utilizadores durante
o período de 1990-2006 para telefonia móvel, uso da Internet e académico e evoluiu para um
acesso à Banda Larga [3]
serviço completo com biliões
de utilizadores. Como é lógico, este crescimento da Internet conduziu à procura
de ligações cada vez mais rápidas que permitiram o desenvolvimento de cada vez
mais serviços baseados no uso da Internet. Paralelamente, desenvolveu-se a
utilização massiva de Banda Larga, alargando assim cada vez mais o espectro de
utilização da Internet e tornando os seus utilizadores cada vez mais exigentes. Já
com soluções ―wired” bastante consolidadas no mercado, surge então o conceito
de Broadband Wireless Access (BWA) como uma solução bastante promissora
para fornecer tanto ao utilizador final como a pequenas e médias empresas
ligações de alta velocidade. Torna-se também possível servir áreas cuja
implementação seria bastante difícil e/ou dispendiosa, como por exemplo áreas
de difícil acesso, ou zonas isoladas, tudo isto devido à natureza das ligações sem
fios. Torna-se assim bastante mais rápido implementar uma ligação de alta
velocidade, com características importantes como escalabilidade e flexibilidade.
Neste contexto, a tecnologia WiMAX (Worlwide Interoperability for Microwave
Access) surge como uma tecnologia BWA, com características poderosas em
termos de desempenho, na medida em que é capaz de fornecer taxas de
transferência elevadas de dados a grandes distâncias e para vários utilizadores
em simultâneo (em cenários com ou sem linha de vista). Tem, então, potencial

1
para não só se afirmar como uma tecnologia-chave para os ambientes móveis da
próxima geração, mas também fornecer uma alternativa viável e mais económica
às ligações convencionais DSL ou Cabo.
Para implementar uma rede WiMAX e tirar partido de todas as suas
funcionalidades, é necessário haver um estudo prévio bastante cuidado. O
planeamento celular depende não só de aspectos relacionados com a tecnologia
mas também de muitos outros aspectos relacionados com o ambiente onde é
implementada a rede, já que a existência de vários obstáculos poderá condicionar
de sobremaneira o desempenho e alcance da mesma. Para além disso, também
têm que ser levados em linha de conta os requisitos que é necessário satisfazer,
para que a rede possa servir todos os potenciais utilizadores.

1.2. Objectivos
Os objectivos desta dissertação prendem-se com o estudo da norma
IEEE802.16, para dessa forma poder apontar quais as soluções tecnológicas que
oferece, projectar uma rede sem fios de dimensão metropolitana e desenvolver
uma ferramenta que optimize este processo. Outro dos objectivos passa por
abordar a questão da mobilidade, fundamentando quais as bases em que esta
assenta, na tecnologia WiMAX.

1.3. Estrutura da Dissertação


Esta dissertação está estruturada da seguinte forma:
 O capítulo 2 apresenta um estudo à norma IEEE 802.16, destacando
algumas das suas principais características.
 O capítulo 3 introduz o assunto da mobilidade.
 O capítulo 4 faz um estudo detalhado dos parâmetros para
planeamento de um sistema WiMAX.
 O capítulo 5 faz um estudo detalhado para quatro cenários
previamente idealizados.
 O capítulo 6 apresenta a aplicação desenvolvida no âmbito desta
dissertação, cujo modo de funcionamento está intimamente ligado com
o estudo realizado no capítulo 5.

2
 O capítulo 7 apresenta as conclusões finais após o desenvolvimento do
trabalho, bem como o trabalho futuro.

3
4
2. Norma IEEE802.16
Este capítulo tem como objectivo oferecer uma perspectiva geral acerca da
norma IEEE 802.16, apresentando algumas das características mais importantes.
É, por outro lado, também onde é introduzido o estudo camada física,
apresentando cálculos que serão importantes em capítulos seguintes.
O capítulo encontra-se organizado da seguinte forma: inicialmente, na secção
2.1, é feita uma pequena introdução em que se fala da evolução da tecnologia
desde o seu aparecimento. De seguida, em 2.2, são apresentadas as camadas
protocolares da norma, com uma explicação acerca de cada uma. A arquitectura
de rede vem a seguir (2.3), mostrando as possíveis topologias que o WiMAX
suporta. A secção 2.4 subdivide-se em três partes principais: uma das quais fala
acerca das interfaces existentes na tecnologia WiMAX, e as outras duas focam-se
no estudo de Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM). Destaca-se a
secção de capacidade de um sistema OFDM, pois são realizados cálculos que
mais à frente serão importantes. A secção 2.5 tem como assunto a camada de
controlo de acesso ao meio, introduzindo também o assunto de qualidade e
classes de serviço. A secção 2.6 dá uma vista geral acerca de aspectos de
segurança que a tecnologia contempla. Por fim, a secção 2.7 apresenta várias
aplicações possíveis do WiMAX, desde a cobertura de áreas metropolitanas até
ao acesso a áreas rurais.

2.1. Pequena Resenha Histórica


No final dos anos 90 começaram a ser desenvolvidos produtos direccionados
para BWA, por vários fabricantes de equipamentos de telecomunicações. No
entanto, havia a necessidade de criação de uma norma, para uniformizar os
equipamentos desenvolvidos. Assim, para responder a esta necessidade, foi
criado o grupo de trabalho 802.16, que desde então tem trabalhado para
desenvolver normas para aplicações fixas e móveis de BWA. A norma IEEE
802.16 contém especificações das camadas físicas (PHY) e acesso ao meio
(MAC) para acesso wireless de banda larga. Desde a sua primeira versão (2001)
até à actualidade, a norma tem sido submetida a diversas alterações, sendo-lhe
adicionadas novas funcionalidades.

5
No entanto, o grupo de trabalho referido é responsável por criar
especificações para a família de normas IEEE 802.16, mas não é responsável por
testá-las. Nesse sentido, foi criado em 2001 um grupo industrial denominado
WiMAX Forum. A sua missão é desenvolver e certificar produtos baseados neste
standard, tendo como objectivo estabelecer compatibilidade e interoperabilidade
total entre eles. Apesar do WiMAX Forum ter como objectivo o teste de
equipamentos, desde então a palavra WiMAX e a norma IEEE 802.16 são
facilmente associados como sinónimos, provavelmente por WiMAX ser uma
palavra mais acessível.

A primeira norma da família foi aprovada em Dezembro de 2001 – IEEE


802.16-2001 – focava aplicações fixas de WiMAX, mas surgindo já com um
conceito de Wireless MAN (Metropolitan Area Network). O acesso à rede aos
edifícios era através de antenas exteriores, que comunicavam através de ondas
rádio a uma BS (Base Station) usando uma infra-estrutura do tipo ponto-
multiponto (PMP) e operando a frequências compreendidas entre 10 e 66 GHz.
Ou seja, está-se perante uma tecnologia que se apresenta como uma alternativa
às soluções já existentes ―terrestres‖, como DSL e Cabo. Não era, no entanto
uma norma adequada para BWA, por razões relacionados com espectro, já que
as frequências em espectro sujeito a licença introduzem desafios ao nível de
cumprimentos de onda curtos, limitados a propagação em linha de vista (LOS).
Assim, este motivo foi um dos que motivou as várias emendas que a norma
sofreu.
Em 2002 surgiu a IEEE 802.16c, cujo objectivo foi de assegurar
interoperabilidade entre as várias soluções de serviços de LMDS (Localmultipont
Distribution Service) existentes na gama de 10 a 66 GHz. Para além disto, esta
norma também se direccionou para a realização de testes, avaliações de
performance e criação de perfis. Uma das principais características desta norma é
o facto de ser especificado como uma rede tecnologicamente independente, ou
seja, é possível correr sobre ATM, IP ou frame relay. Outra emenda à norma foi a
IEEE 802.16b, cuja adição principal foi o suporte de qualidade de serviço (QoS),
ao assegurar serviços diferenciados para diferentes tipos de tráfego. Em 2003,
surge a versão final da norma IEEE 802.16-2001, em que são melhorados vários

6
aspectos. Entre eles a melhoria do controlo de acesso ao meio, que suportava
múltiplas especificações na camada física na faixa de 2-11 GHz. Passou então a
ser possível operação sem linha de vista (NLOS) devido à inclusão de gamas
inferiores a 11GHz, extendendo também o alcance geográfico da rede. Surgiram
então novos desafios, como o estudo de fenómenos que degradam o sinal, o que
motivou a inclusão de novas funcionalidades, como técnicas avançadas de
controlo de potência e técnicas de antenas adaptativas. Apareceu também a
opção de implementação de OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing),
sendo alternativa à modulação single carrier.
Em 2004 apareceu a norma IEEE802.16d, mais tarde designada por IEEE
802.16-2004. Esta substituiu as versões anteriores, consolidando-as, assumindo-
se como uma solução de WiMAX fixo. Já em 2005 o grupo de trabalho aprovou a
norma IEEE802.16e-2005, cujas mais valias introduzidas diziam respeito ao
suporte de mobilidade, oferecendo, assim, soluções nómadas e móveis para a
tecnologia. A evolução não se ficou por aqui, no entanto no âmbito desta
dissertação as normas IEEE802.16-2004 e IEEE802.16e-2005 são as mais
importantes.
IEEE 802.16- IEEE 802.16ª IEEE802.16-2004 IEEE802.16e-
2001 2005
Ano (Dezembro) 2001 (Janeiro) 2003 (Junho) 2004 (Dezembro) 2005
Espectro 10-66 GHz 2-11 GHz 2-11 GHz 2-6 GHz
Condições de LOS NLOS NLOS NLOS
Canal
Esquemas de Single Carrier Single Carrier, Single Carrier, Single Carrier,
transmissão 256 OFDM 256 OFDM ou 256 OFDM ou S-
2048 OFDM ODMA com
128,512,1024 ou
2048
subportadoras
Modulação QPSK, 16-QAM, BPSK, QPSK, BPSK, QPSK, 16- QPSK, 16-QAM,
64 QAM 16-QAM. 64- QAM, 64-QAM, 64-QAM, 256-
QAM, 256-QAM 256-QAM QAM
Mobilidade Fixo Fixo Fixo / Nómada Nomáda / Móvel
Tabela 2.1: Evolução da norma IEEE 802.16

7
2.2. Camadas protocolares da norma IEEE 802.16

Fig.2.1 – Camadas protocolares da norma IEEE 802.16 [3]

A norma IEEE 802.16 tem a sua estrutura protocolar bastante bem definida e
cobre as 2 camadas inferiores no modelo OSI: MAC e PHY. A camada MAC tem
como responsabilidade a determinação de qual Subscriber Station (SS) pode
aceder à rede e divide-se em 3 subcamadas, que são Service Specific
Convergence Sublayer (CS), MAC Common Part Sublayer (CPS) e Security
Sublayer, tal como se pode verificar na figura 2.1.
A primeira (CS) transforma dados recebidos através de CS Service Access
Point (SAP) em pacotes MAC. Esta transformação mapeia informação externa em
informação IEEE 802.16 MAC, como fluxos de serviço e connection identifier
(CID). As mensagens são do tipo Service Data Unit (SDU). Há mais que uma
especificação disponível de CS, já que há 2 tipos de tráfego suportados através
de redes IEEE 802.16: ATM e pacotes.
No que concerne à camada MAC CPS, esta é parte nuclear da camada MAC,
uma vez que define o método de acesso ao meio. Fornece funções relacionadas
com duplexagem e channelization, acesso ao canal, entre outros. São assim
dadas regras e mecanismos para acesso ao sistema, alocação de largura de
banda e manutenção da ligação. É também aqui que são feitas decisões relativas
a escalonamento (QoS).

8
A Security Sublayer está compreendida entre a CPS e a camada PHY.
Fornece mecanismos de encriptação e decriptação de dados nas comunicações
com a camada PHY, sendo também usada para autenticação e troca de chaves
de segurança.

2.3. Arquitectura de Rede


Uma rede 802.16 assemelha-se a uma rede celular de telefones. Cada célula
consiste numa BS e uma (ou mais) SS (Subscriber Station). Assim, no que diz
respeito a topologias de implementação, estão definidas 2 bem distintas no
WiMAX: ponto-a-ponto (PTP) e ponto-multiponto (PMP). A primeira refere-se a
uma ligação dedicada que oferece conectividade somente a dois nós: BS e SS.
Trata-se da topologia que utiliza os seus recursos de forma mais ineficiente, o que
assim aumenta consideravelmente os custos de operação. Já a topologia PMP
serve um grupo de SS em vez de efectuar ligações Assim a largura de banda é
distribuída por todos os utilizadores reduzindo assim o custo por cada utilizador.
Cabe à BS a função de fornecer às SS ligação à rede core e, desta forma,
oferecer conectividade. Uma SS poderá assumir a forma de uma antena fixa
exterior, ou um equipamento terminal que poderá ser um dispositivo móvel ou um
componente para um computador. No primeiro caso, a conectividade oferecida
aos utilizadores que se encontrem dentro do edifício onde se encontra a antena
poderá ser feita através de uma rede LAN convencional ou através de uma rede
WiFi.
Um grupo de células pode ser agrupado para formar uma rede, sendo que as
BS estão ligadas através da rede core. As redes IEEE 802.16 também suportam a

Fig.2.2 – As diferentes topologias WiMAX: a primeira imagem refere-se a PMP e a segunda a Mesh

9
topologia mesh, em que as diversas SSs possuem a capacidade de comunicar
entre si sem ter que recorrer necessariamente a uma BS. As redes do tipo mesh
conferem à SS uma maior inteligência do que as redes sem fios tradicionais, uma
vez que cada SS pode actuar como ponto de acesso e tem a capacidade de
reencaminhar pacotes para os seus vizinhos, aumentando desta forma a
cobertura geográfica da rede.

2.4. Camada PHY


A norma IEEE 802.16 suporta várias especificações físicas devido à sua
natureza modular. A primeira versão apenas suportava a modulação Single
Carrier. A partir daí foram incluídos OFDM e S-OFDMA para operar em ambientes
NLOS, bem como permitir mobilidade. Para além disso, inicialmente eram
suportadas bandas de 10-66GHz, tendo passado a ser também suportadas
bandas inferiores a 11GHz.

2.4.1. Interfaces
Cada interface física tem uma designação específica, já que cada variante
tem características bem definidas.

 WirelessMAN-SC
Trata-se de uma especificação definida para operar na banda de frequências
10-66GHz, utilizando modulação single carrier. Neste perfil cada modulação e
esquema de codificação podem ser ajustados individualmente para cada SS. A
norma suporta tanto Frequency Division Duplexing (TDD) como Time Division
Duplexing (FDD) para distinguir uplink e downlink. Também suporta para as SS
half duplex FDD, o que poderá ser mais económico na medida em que não
transmitem e recebem em simultâneo. Esta técnica de duplexagem é comum a
todas as especificações PHY. O acesso na direcção de uplink é feito por
combinação de técnicas de Time Division Multiple Access (TDMA) e Demand
Assignment Multiple Acess (DAMA), sendo então o uplink dividido em múltiplos
slots de tempo. No caso de downlink, é utilizada uma arquitectura PTM usando
Time Division Multiplexing (TDM).
 WirelessMAN-SCa

10
Também se baseia na modulação single carrier, mas opera na banda de
frequências de 2-11 GHz. O acesso é feito através de técnicas de TDMA, tanto
em uplink como downlink, sendo também suportado TDM em downlink.

 WirelessMAN-OFDM
Baseia-se em Orthogonal Frequency Division Multiplexing (OFDM) com uma
transformada de 256 pontos para suportar múltiplas SS na banda de frequências
de 2-11GHz. O acesso é feito através de TDMA.

 WirelessMAN-OFDMA
Esta especificação PHY usa Orthogonal Frequency Division Multiple Access
(OFDMA) para fornecer BWA tanto fixo como móvel, na banda de frequências de
2-11GHz. O acesso múltiplo é feito pelo endereçamento de um subconjunto de
múltiplas portadoras para receptores individuais.

 WirelessHUMAN
Esta especificação opera em bandas inferiores a 11 GHz. Tem como
particularidade o facto de apenas suportar TDD como duplexagem.
Banda de Duplexagem Observações
Frequências
WirelessMAN-SC 10-66 GHz TDD / FDD Single Carrier
WirelessMAN-SCa 2-11 GHz (c/ Licença) TDD / FDD Single Carrier para NLOS
WirelessMAN-OFDM 2-11 GHz (c/ Licença) TDD / FDD OFDM para NLOS
WirelessMAN-OFDMA 2-11 GHz (c/ Licença) TDD / FDD OFDM dividido em grupos
para fornecer acesso múltiplo
numa única banda de
frequências
WirelessHUMAN 2-11 GHz (c/ Licença) TDD Suporta Single Carrier,
OFDM, OFDMA. Tem que
possuir sistema de escolha
dinâmica de frequência para
Tabela 2.2: Especificação da designação das interfaces IEEE 802.16

2.4.2. OFDM
Uma das principais características do canal rádio é o multipath: o sinal que
chega ao receptor contém não só a onda directa que recebe em LOS, mas
também recebe várias componentes resultantes de reflexões, cujo tempo de
chegada é variável e impossível de prever. Os sinais atrasados são resultado de

11
reflexões que a onda sofre devido a vários obstáculos que encontra, como por
exemplo árvores, montanhas, edifícios, automóveis, entre outros. Estas ondas
―atrasadas‖ resultantes de reflexões, interferem com a onda directa e causam
interferências entre símbolos (ISI), o que por sua vez degrada o sinal recebido,
tendo consequências negativas na performance da rede. Assim, é necessário que
uma rede wireless seja desenhada para minimizar estes efeitos adversos.
De forma a criar um sistema de comunicação de banda larga sem fios, é
necessário usar uma transmissão de alto débito de vários megabits por segundo.
No entanto, se os dados são transmitidos numa taxa de transferência de vários
megabits por segundo, o tempo de atraso das ondas que chegam atrasadas é
superior ao tempo de símbolo. Este problema pode ser solucionado através da
utilização de equalizadores adaptativos. No entanto, isto alerta para as
dificuldades enormes envolvidas na operação deste tipo de sinais, já que este tipo
de operações envolve por si só a necessidade da utilização de hardware bastante
dispendioso.
Para ultrapassar este desvanecimento provocado por multipath de forma
menos complexa, surge a técnica OFDM, dado que se trata de um esquema de
transmissão de dados que minimiza o efeito do multipath, evitando desta forma a
utilização de meios complexos para o combater.
OFDM trata-se de um caso especial de transmissão multi-portadora, em que
um único stream de dados é transmitido sobre um número de subportadoras de
baixo nível. Assim, o OFDM pode ser visto tanto como uma técnica de
modulação, como também uma técnica de multiplexagem. Traz inúmeras
vantagens, entre as quais o aumento da robustez do sinal, ficando menos
propenso a desvanecimento selectivo na frequência, ou interferências de banda
estreita. Num sistema de single carrier, a transmissão está mais sujeita a
interferências, podendo falhar facilmente, o que não acontece num sistema
multicarrier, em que apenas uma pequena percentagem das subportadoras será
afectada, cuja resolução poderá passar pela utilização de um algoritmo de
correcção de erros.
Num sistema clássico de dados em paralelo, a banda de frequência do sinal é
dividida na totalidade em N subcanais em frequência. Cada um deles é modulado
com um símbolo diferente, e os N subcanais são multiplexados em frequência,

12
sem existir sobreposição. Para lidar com a ineficiência, foram introduzidas
técnicas com o objectivo de utilizar dados paralelos e FDM com sobreposição de
subcanais em que o espaçamento entre subcanais é igual à taxa de transmissão,
de forma a evitar os problemas aos quais a anterior técnica estava sujeita e
também de forma a utilizar toda a largura de banda de forma mais eficiente. No
entanto, para que esta técnica seja eficiente, é necessário garantir ortogonalidade
entre as diferentes portadoras moduladas.
A palavra ―ortogonal‖ indica que existe uma relação matemática precisa entre
as frequências das portadoras no sistema. Num sistema normal FDM, muitas das
portadoras estão de tal forma separadas que os sinais podem ser recebidos
utilizando filtros e desmoduladores convencionais. Nestes receptores, são
introduzidas bandas de guarda entre as diferentes portadoras e no domínio da
frequência, resultando assim numa redução de eficiência espectral.
É possível, no entanto, colocar as portadoras num sinal OFDM de forma a
que as portadoras individuais se sobreponham e os sinais sejam ainda recebidos
sem interferências provocadas por portadoras adjacentes. Para tal, as portadoras
têm que ser matematicamente ortogonais. O receptor age como um banco de
desmoduladores, em que cada portadora é traduzida para DC, em que o sinal
resultante é integrado sobre um período de símbolo para recuperar os dados
originais. Assim, se as portadoras forem espaçadas de um múltiplo de 1/T, estas
são linearmente independentes, ou seja, são ortogonais.

Fig.2.3 – Conceito do sinal OFDM: (a) técnica multi-portadora convencional; (b) técnica de modulação ortogonal

Para aumentar a eficiência do processo de modulação e desmodulação, bem


como diminuir o custo adjacente ao mesmo, foram introduzidas alterações a este
processo. Passou a ser aplicada a transformada discreta de Fourier (DFT). O uso
de DFT permite o cálculo de valores de correlação no centro da frequência de
cada subportadora, permitindo a recuperação dos dados sem interferências.

13
Assim, o FDM é conseguido por processamento de banda base em detrimento de
filtragem passa-banda, facilitando assim a computação do processo.
O esquema de transmissão OFDM tem várias vantagens chave, das quais se
destaca:
 Trata-se de um modo eficiente de lidar com multipath, já que reduz em
muito a complexidade de implementação em relação a um sistema
single carrier com um equalizador.
 Em canais com reduzidas variações no tempo, é possível melhorar a
capacidade de forma significativa, adaptando a taxa de transmissão de
dados para cada subportadora de acordo com a relação SNR dessa
subportadora em particular.
 OFDM é robusto contra interferências de banda estreita, já que apenas
afectam uma pequena percentagem de subportadoras
Por outro lado, existe também o reverso da medalha, já que o OFDM
apresenta algumas desvantagens:

 É mais sensível a ruído e distorção na frequência obrigando, por isso, a


grande exactidão na sincronização da frequência.
 Tem uma potência de pico relativamente elevada, o que poderá reduzir
a eficiência de um amplificador RF.

2.4.3. Capacidade de um Sistema OFDM


Antes de passar à fase de planear uma rede WiMAX, é necessário
compreender qual a capacidade que é possível disponibilizar aos seus
utilizadores.
A capacidade reflecte-se directamente no número de ligações que o canal
wireless pode suportar sem que haja degradação dos serviços de dados do
mesmo. A capacidade é influenciada por variados factores, que poderão ser
ambientais, dependentes da configuração usada (Largura de Banda do canal) e
natureza do tráfego que percorre o sistema. É, então, bastante importante
compreender todos estes factores e compreender a camada física da norma IEEE
802.16 para perceber quais as implicações da mesma na obtenção da capacidade
total.
14
Para, então, se compreender a capacidade total de um sistema WiMAX
começa por ser necessário saber qual o espectro rádio disponível. Este restringe
o tamanho dos canais em largura de banda de frequência, o que por si só já
restringe a capacidade ―bruta‖ do canal.
Tal como já visto anteriormente, em OFDM o espectro disponível é dividido
em vários canais discretos de banda estreita, subportadoras, sendo que cada
portadora é modulada sobre um tempo de símbolo que é inversamente
proporcional à frequência da portadora, de forma a que as subportadoras tenham
mínimas interferências mútuas entre si. A capacidade de cada subportadora
depende da modulação, que é de 1 bit por subportadora para o caso de BPSK, 2
bits por subportadora para o caso de QPSK, 4 bits por subportadora para o caso
de 16-QAM e 6 bits por subportadora para 64-QAM. Na OFDM-PHY estão
definidas 256 subportadoras, definindo então o espectro de amostragem como
 BW 
Fs  FLOOR n  * 8000 , sendo n o factor de amostragem e BW o tamanho do
 8000 
canal em Hz. Através do espectro de amostragem sabe-se qual o espaçamento
que as 256 subportadoras guardam entre cada, através de f =Fs/256. No
entanto nem todas as 256 subportadoras são usadas, porque há necessidade de
fornecer robustez a interferências entre canais facilitando também, por outro lado,
a filtragem. Assim, há 28 subportadoras de guarda inferiores, 27 superiores e uma
DC, o que significa que apenas 200 subportadoras são usadas efectivamente.
Resta por fim descontar mais 8 subportadoras piloto cuja função é de estimação
de canal. Então, restam 192 subportadoras que efectivamente transportam
informação. Para calcular a capacidade ―bruta‖ do canal há alguns parâmetros
que são necessários:
Parâmetro Obs.
Tb  1 / f Tamanho de símbolo útil
Ts  Tb  G.Tb Tamanho de símbolo efectivo;
1
G , com m={2,3,4,5}
2m
Tabela 2.3 – Cálculo do tempo de símbolo
k
A capacidade ―bruta‖ do canal é então dada por Cbruta  192 , em que k é o
Ts
número de bits por símbolo para a modulação usada. Como é previsível que um
sistema wireless encontre erros ocasionais introduzidos por
transmissões/detecções imperfeitas, são enviados bits redundantes para facilitar a
15
detecção e correcção de erros. A técnica usada é a Forward Error Correction
(FEC), que reduz a capacidade do canal. A norma IEEE 802.16 fornece a tabela
2.4, que por sua vez fornece os parâmetros que restam para calcular a
capacidade útil do canal. O parâmetro ―Coded Block Size” ajusta as taxas de
modulação de forma a que os blocos codificados através da técnica FEC
encaixem perfeitamente no tempo de símbolo quando as 192 subportadoras estão
em uso.

Uncoded Overall
Coded
Modulation Block Size Coding
Block Size
(bytes) Rate
BPSK 12 24 ½
QPSK 24 48 ½
QPSK 36 48 ¾
16-QAM 48 96 ½
16-QAM 72 96 ¾
64-QAM 96 144 2/3
64-QAM 108 144 ¾
Tabela 2.4 – Codificação do canal para cada modulação

A capacidade útil por símbolo é, então, C  Cbruta.OCR . Estão então

reunidas as condições para efectuar o cálculo da capacidade, para os diferentes


tamanhos de canal.

Capacidade (Mbps)
Modulação/BW
(MHz) 3,5 MHz 5 MHz 7 MHz 10 MHz 14 MHz 20 MHz
BPSK 1/2 1,45 2,08 2,91 4,16 5,82 8,31
QPSK 1/2 2,91 4,16 5,82 8,31 11,64 16,62
QPSK 3/4 4,36 6,23 8,73 12,47 17,45 24,94
16-QAM 1/2 5,82 8,31 11,64 16,62 23,27 33,25
16-QAM 3/4 8,73 12,47 17,45 24,94 34,91 49,87
64-QAM 2/3 11,64 16,62 23,27 33,25 46,55 66,49
64-QAM 3/4 13,09 18,7 26,18 37,4 52,36 74,81
Tabela 2.5 – Valores de capacidade útil calculados

2.5. Camada MAC


A camada de controlo de acesso ao meio (MAC) de qualquer sistema de
comunicações normalmente descreve ou especifica os parâmetros de
composição de mensagens e transmissão, fornecimento de serviços, alocação de
recursos, suporte de QoS e manutenção da ligação. Está intimamente ligada à
16
topologia do sistema WiMAX, que poderá ser PMP e Mesh, tal como já foi referido
anteriormente.
A informação de alocação dos recursos é feita através das mensagens MAP
(Media Access Protocol) por intermédio do escalonador MAC. Cada ligação é
identificada por um CID (Connection Identifier), que serve como um endereço
temporário para transmissões de dados sobre uma determinada ligação.
No modo de operação PMP, quando a mensagem Downlink MAP (DL-MAP)
não especifica explicitamente que determinada porção da subframe é para uma
SS específica, todas as SS poderão escutar essa porção. As SS verificam os
identificadores de ligação (CID) no Protocol Data Unit (PDU) recebido e retêm
apenas aqueles que lhe são endereçadas. As SS partilham o uplink para a BS
consoante a necessidade. Dependendo da classe de serviço na SS, a esta
podem-lhe ser garantidos direitos de transmissão pela BS após esta receber os
respectivos pedidos. Para além das mensagens endereçadas individualmente,
estas também podem ser enviadas por multicast para um grupo de SS. Em cada
sector as SS são controladas pelo protocolo de transmissão ao nível da camada
MAC, sendo-lhes permitido receber serviços com requisitos ao nível de atrasos e
largura de banda para cada aplicação. O esquema de transmissão é orientado à
ligação, sendo que todas as transmissões de dados estão definidas no contexto
da mesma. Os fluxos de serviço podem ser fornecidos numa SS e as conexões
são associadas com estes fluxos de serviço, sendo que cada um serve para
fornecer serviço de transmissão a uma largura de banda requisitada para a
ligação.
No modo de operação Mesh, nenhum nó consegue transmitir sem ter que ser
coordenado com outros nós. Através de escalonamento distributivo todos os nós
devem coordenar as suas transmissões na respectiva vizinhança e devem fazer
broadcast dos seus schedules para todos os seus vizinhos. Opcionalmente, o
escalonamento pode ser estabelecido directamente com pedidos directos não
coordenados entre 2 nós, que devem garantir que as transmissões resultantes
não irão causar colisões com os dados e também controlo de tráfego de outro nó
na vizinhança. Não há diferença no mecanismo para determinar o escalonamento
para downlink e uplink. Através de escalonamento centralizado, os recursos são
garantidos de uma forma mais centralizada, já que a Mesh BS deve reunir os

17
pedidos de recursos de todas as SS num alcance de determinado número de
saltos. Isso irá determinar a quantidade de recursos garantidos para cada ligação
na rede, tanto em downlink como em uplink, sendo que esta informação será
fornecida a todas as SS dentro do alcance. Todas as comunicações são feitas
num contexto de ligação, que é estabelecida entre dois nós.

2.5.1. QoS e Classes de Serviço


Qualidade de serviço (QoS) permite garantir um determinado desempenho ao
nível de serviços para um fluxo de dados proveniente de uma fonte, tendo um
destino específico. A necessidade de QoS surge quando há múltiplos fluxos de
dados competindo pela capacidade física limitada de uma determinada
transmissão.
No caso do WiMAX, a limitação imposta é a largura de banda da
radiofrequência. Quando há múltiplos fluxos de dados competindo pela mesma
frequência de largura de banda, é necessária uma política de QoS para
determinar qual o fluxo que terá prioridade de uso da interface. Esta política
depende das aplicações do utilizador que estão caracterizadas por parâmetros de
desempenho de QoS. Por exemplo, uma aplicação de VoIP necessita de garantia
de baixa latência, ou uma transmissão de vídeo necessita de elevada largura de
banda apesar de poder suportar um atraso relativamente grande, ou uma
aplicação de e-mail não necessita de nenhuma garantia além da fiabilidade na
entrega dos dados.

Fig.2.4 – A necessidade de QoS

Há vários conceitos relacionados com QoS definidos nas normas IEEE


802.16. O mecanismo principal para fornecer QoS trata-se de associar pacotes
que atravessam a interface MAC num fluxo de serviço identificado pelo respectivo
CID. Um fluxo de serviço neste contexto é um fluxo unidireccional de pacotes ao
qual é atribuída uma determinada QoS. A SS e BS fornecem esta QoS de acordo
com parâmetros definidos para o fluxo de serviço. Os fluxos de serviço existem
tanto na direcção de uplink como na de downlink e podem existir sem terem de

18
facto sido activados para transportar tráfego. Todos os fluxos de serviço têm um
Service Flow Identifier (SFID) de 32-bit; os fluxos de serviço activos e admitidos
também têm um CID de 16-bit.
O objectivo principal das características de QoS é ordenar e escalonar a
transmissão na interface sem fios. No entanto, estas características muitas vezes
precisam de trabalhar em conjunto com mecanismos fora da interface sem fios
para fornecer QoS fim-a-fim, ou para controlar o comportamento das SS. Assim,
os requisitos-chave para QoS são:
 Uma função de registo e configuração para pré-configurar os fluxos de
serviço e parâmetros de tráfego baseados em SS.
 Uma função de sinalização para estabelecer dinamicamente os fluxos
de serviço e parâmetros de tráfego, com QoS activa.
 Utilização de escalonamento MAC e parâmetros de tráfego com QoS
para fluxos de serviço no serviço uplink.
 Utilização de parâmetros de tráfego com QoS para fluxos de serviço
downlink
 Agrupamento de propriedades de fluxo de serviço nas denominadas
classes de serviço, de forma a que as entidades de camadas
superiores e aplicações externas (tanto na SS como BS) possam fazer
pedidos de fluxos de serviço com os parâmetros de QoS necessários
numa forma globalmente consistente.
O fluxo de serviço possui características específicas, que são definidas por
um conjunto de parâmetros QoS como latência, jitter e throughput. Para
normalizar a operação entre SS e BS, estes atributos incluem detalhes acerca de
como a SS requisita alocações de largura de banda para uplink e acerca do
comportamento esperado do escalonador da BS.
Para utilizar recursos de rede como largura de banda e memória de forma
eficiente, a norma IEEE802.16 adopta um modelo de activação de 2 fases, em
que os recursos atribuídos a determinado fluxo de serviço admitido podem não
ser de facto utilizados até que o fluxo de serviço seja activo. Cada fluxo de serviço
admitido ou activo é mapeado para uma ligação através de uma mensagem
Medium Access Protocol (MAP) com um único CID. De forma geral, há três tipos
básicos de fluxos de serviço, nomeadamente

19
 Fluxos de serviço aprovisionados: estes fluxos de serviço não são
imediatamente activados. A rede atribui um SFID para este fluxo de
serviço.
 Fluxos de serviço admitidos: suporta um modelo de duas fases que é
semelhante ao utilizado muitas vezes em aplicações de telefonia. Os
recursos primeiro são ―admitidos‖ e apenas são activados quando a
negociação fim-a-fim termina. Através deste modelo é possível
conservar recursos de rede até que a ligação seja estabelecida.
 Fluxos de serviço activos: após a segunda fase do modelo de
activação, os fluxos de serviço dizem-se ―activos‖.

Tal como já foi referido, os parâmetros de QoS incluem-se numa grande


variedade, que podem incluir prioridade de tráfego, maior taxa de transmissão
suportada, taxa mínima tolerável, tipo de escalonamento, atraso máximo, jitter
tolerado, entre muitos outros. Os fluxos de serviço podem ser fornecidos através
de um sistema de gestão de rede ou podem ser criados dinamicamente através
de mecanismos de sinalização devidamente definidos na norma. O WiMAX define
5 tipos de fluxo de serviço em particular, que são:
 Unsolicited Grant Service (UGS): Suporta pacotes de dados de
tamanho fixo a uma taxa constante (CBR). Este serviço serve, por
exemplo, para transmitir voz não comprimida emulando assim a
comunicação baseada em comutação de circuitos. Este serviço requer
um intervalo de tempo fixo e garante a taxa de transmissão e atraso
para o serviço.
 Real-time Polling Service (rtPS): Este serviço suporta fluxos de serviço
em tempo-real, como vídeo MPEG, em que o tamanho dos pacotes é
variável, bem como a sua periodicidade. Assim, a largura de banda
necessária pode variar a cada instante. Este serviço requer a
implementação por parte da BS de um mecanismo de polling para a SS
num intervalo fixo, para ir actualizando o requisito de largura de banda
para cada intervalo de tempo
 Extended Real-time Polling Service (ertPS): Este serviço foi definido
apenas na norma IEEE802.16e (WiMAX móvel) para suportar fluxos de

20
serviço em tempo-real que geram pacotes de dados variáveis de forma
periódica, como o serviço de VoIP com supressão de silêncio. De
forma adicional, o ertPS constrói-se da eficiência tanto do UGS como
rtPS, ou seja, a BS fornece grants unicast de forma não solicitada
como em UGS, no sentido de poupar na latência de um pedido de
largura de banda. No entanto, as alocações UGS são fixas em
tamanho, o que não acontece neste caso.
 Non-real-time Polling Service (nrtPS): Este serviço é indicado para
aplicações que não sejam de tempo-real que necessitem de garantia
de performance. É necessário que a BS faça polling à SS num intervalo
de tempo fixo, mas que não é um intervalo tão rígido como no caso de
rtPS. Se uma SS não responde ao polling após n vezes, a BS coloca a
SS em espera. Um exemplo de uma aplicação deste serviço é o FTP.
 Best Effort Service (BE): Este serviço não necessita de polling. É
indicado para suportar fluxos de dados que não necessitem de um
determinado mínimo de garantia ao nível do serviço. Um exemplo de
uma aplicação deste serviço é o web browsing.

2.6. Segurança no WiMAX


A segurança em WiMAX tem 2 objectivos, em que um é fornecer privacidade
através da rede wireless e o outro é fornecer controlo de acesso à rede.
A privacidade é conseguida encriptando as ligações entre a SS e a BS. A BS
protege contra acesso não autorizado ao forçar encriptação de fluxos de serviço
através da rede. Um protocolo de Privacy and Key Management versão 2
(PKMv2) é utilizado pela BS para controlar a distribuição de dados da chave para
a SS. Isto permite que a SS sincronize com a BS e assim envie dados da chave.
Para além disto, os dados do utilizador são encriptados usando métodos
comprovadamente robustos para fornecer privacidade, que são métodos de AES
(Advanced Encryptation Standard). A autenticação entre dispositivo e utilizador é
suportada usando o protocolo IETF EAP. Para além disto há protecção das
mensagens de controlo e suporte para rápido (e seguro) handover.

21
2.7. Aplicações do WiMAX
2.7.1. WMAN
O WiMAX, tal como foi referido anteriormente, é uma tecnologia WMAN,
tratando-se, assim, de uma tecnologia de rede sem fios cujo alcance e cobertura
poderão abranger desde alguns blocos de edifícios cidades na sua totalidade
potencial desta tecnologia para fornecer largura de banda sem fios é, de facto, um
dos seus grandes atractivos. As WMANs supostamente irão fornecer serviços de
largura de banda sem fios a baixos custos mas com capacidade equivalente ou
superior às soluções wired existentes no mercado. Existe sempre a vantagem de
uma ligação wireless em relação à ligação wired na medida em que esta poderá
sofrer problemas relacionados com a qualidade do fio, ou problemas devidos à
elevada concentração de utilizadores cujas resoluções implicam uma solução
dispendiosa.
Uma WMAN baseada em WiMAX usa
tipicamente arquitecturas PMP para
fornecer serviços de banda larga, como
Internet rápida ou aplicações multimédia
num raio de vários quilómetros. O alcance
de uma rede WMAN é determinado pela
frequência de largura de banda disponível,
potência de transmissão e sensibilidade do
Fig.2.5 – Exemplo de WMAN
receptor. Numa rede WMAN, cada BS está
ligado a um grupo de utilizadores num cenário NLOS com ligações PMP,
enquanto as BS estão tipicamente ligadas à rede core através de fibra a nós
disponíveis ou através de ligações Ponto-a-Ponto por micro-ondas.

2.7.2. Acesso à Banda Larga em Áreas Rurais


Um dos desafios para os provedores de serviços actuais é o fornecimento de
serviços em áreas rurais. Isto deve-se ao facto de ser impensável chegar a estas
zonas por intermédio de fios, já que a qualidade da banda larga nestes casos
depende de vários factores, desde a qualidade da rede de acesso, a ligação entre
o ponto de acesso local e a rede backhaul e, principalmente, a distância
compreendida entre ambos. Assim, para áreas rurais não se trata de uma solução

22
viável: é muito dispendioso, remoto e seria um processo muito moroso. Os
satélites também se podiam apresentar como uma solução viável para servir
estas áreas, no entanto têm bastantes desvantagens na medida em que têm uma
largura de banda de upstream bastante limitada, indisponibilidade de espectro e
elevados tempos de atraso.
Desta forma, o WiMAX é uma das melhores soluções para servir estas áreas
já que é de baixo custo (no que diz respeito à implementação e também a custos
posteriores) e de fácil implementação, mas com desempenhos similares às
tecnologias DSL ou Cabo. Para além disso, o WiMAX é altamente escalável, na
medida em que o custo de se adicionar uma nova célula é substancialmente
inferior a fazê-lo numa rede wired.
Nestas zonas também poderá haver pequenas/médias empresas, que
poderão beneficiar com esta tecnologia, já que esta poderá ajudar a reduzir
custos.

2.7.3. Outras aplicações


 Acesso de alta velocidade a prédios
Esta aplicação vem ao encontro de problemas existentes actualmente pelas
tecnologias actuais ao fornecer banda larga a prédios, como por exemplo a
utilizadores residenciais, escritórios de pequenas e médias empresas, campus ou
hospitais. Os problemas podem ser tipicamente de implementação, já que se
pode tornar um processo muito lento. O uso de WiMAX vem fornecer este serviço
de forma mais flexível e com custo mais baixo, com desempenhos comparáveis.
 Backhaul
O WiMAX pode ser usado para fornecer backhaul de alta capacidade para
servir múltiplas células e assim permitir a expansão para serviços móveis com um
custo mais baixo do que seria a implementação ―terrestre‖. Para além dos
sistemas celulares, há mais aplicações possíveis, como por exemplo o backhaul
para hot spots de Wi-Fi. Estas soluções são feitas normalmente em cenários de
ligações Ponto-a-Ponto, em LOS, para maximizar o desempenho destas
conexões (também podem ser usados em conjugação com ligações PMP para
oferecer mais serviços).

23
 Ligações privadas entre empresas
O WiMAX pode ser usado por empresas ou redes privadas para fornecer
ligação de escritórios remotos a escritórios centrais. O WiMAX fornece ligações
seguras, fiáveis e de alta velocidade. Esta aplicação pode servir não só empresas
mas outras áreas como ligações governamentais, educação, saúde ou
organizações públicas.
 Sistemas de Vídeo-vigilância sem fios
Esta aplicação combina tecnologias WiMAX com IP e fornece soluções de
monitorização de localizações críticas com segurança, flexibilidade e um bom
binómio qualidade/custo. Há vários exemplos de aplicações, sejam eles
monitorização de zonas susceptíveis a incêndios, cheias, elevado trânsito, ou
segurança em lojas, armazéns, bases militares, entre muitos outros.
 Outras aplicações:
 Instalação de equipamentos de caixas automáticas
Multibanco em zonas rurais.
 Online Gaming
 Comunicação multimédia
 Aplicações médicas (Como monitorização de sinais vitais de
um paciente de forma remota)
 Voz e dados a uma velocidade veicular
 Redes de sensores

Fig.2.6 – Aplicações Várias do WiMAX

24
2.8. Sumário
O capítulo 2 apresentou uma introdução ao assunto da dissertação, focando-
se no estudo da norma IEEE802.16. Foi, portanto, dada uma abordagem
marcadamente mais teórica, em que foram mencionados tanto aspectos
históricos, como aspectos relacionados com o funcionamento da tecnologia de
acordo com a norma. Em relação a aspectos físicos, foi estudada a capacidade
do sistema OFDM, algo que é fundamental para planear estas redes sem fios. Por
fim, é de destacar as várias aplicações do WiMAX que foram apresentadas,
levantando o véu para o enorme potencial que poderá advir da implementação
desta tecnologia num futuro próximo.

25
26
3. Mobilidade
A mobilidade é um dos principais desafios actuais do mundo das
telecomunicações. A tecnologia que permitir mobilidade total será concerteza
bastante bem sucedida e aceite pelos utilizadores finais. Inicialmente, o WiMAX
fora concebido para oferecer apenas serviço fixo ou, no máximo, nómada. Após a
introdução da norma IEEE 802.16e a mobilidade passou a ser suportada pelo
WiMAX.
Este capítulo surge como uma introdução ao assunto da mobilidade. Trata-se
de um assunto que não foi estudado com afinco no âmbito desta dissertação, mas
que merece no entanto atenção, uma vez que é um aspecto bastante importante
que o WiMAX vai introduzir.
Inicialmente vai haver uma introdução à mobilidade e ao OFDMA. De seguida,
aborda-se subchannelization (Secção 3.1), que se trata de uma das introduções
do WiMAX móvel. Tal como no capítulo anterior, agora é feito um estudo ao nível
da capacidade do WiMAX móvel, estudando pormenorizadamente como funciona
um sistema S-OFDMA, na secção 3.2. De seguida, na secção 3.3, são mostradas
diversas alternativas tecnológicas, ao nível de melhoria do desempenho das
antenas. Por fim, são apresentados alguns dos aspectos que passaram a fazer
parte do vocabulário WiMAX, após a introdução da mobilidade (Secção 3.4).

A tecnologia WiMAX tem como um dos objectivos fornecer aos seus


utilizadores mobilidade total. Inicialmente, a norma IEEE 802.16-2004 apenas
contemplava a vertente fixa do WiMAX, através do uso de OFDM. Já a norma
IEEE 802.16e engloba também a possibilidade de WiMAX móvel. Para isso
introduz-se o uso de OFDMA e S-OFDMA. A partir de agora surgem novos
conceitos na tecnologia, tais como roaming e handoff.
O conceito de mobilidade poderá ser abrangente, na medida em que poderá
englobar quatro cenários distintos:
 Nómada: Capacidade de transportar um aparelho de WiMAX fixo e
ligá-lo num local distinto.
 Portabilidade: Aplicação de acesso do mesmo tipo que o anterior, mas
com a particularidade de ser em aparelhos portáveis.

27
 Mobilidade Simples: Capacidade da estação móvel (MS) se mover a
velocidades relativamente baixas, com pequenas interrupções durante
os processos de handover.
 Mobilidade total: Capacidade da MS se movimentar a velocidades
veiculares sem com isso perder a conectividade.

A técnica OFDMA é utilizada no WiMAX móvel. A transmissão OFDM foi


originalmente desenhada para a transmissão de um único sinal. Assim, de modo
a poder haver múltiplas transmissões por parte de múltiplos utilizadores, teve que
ser associado ao OFDM uma técnica de acesso múltiplo como TDMA ou FDMA,
aparecendo então OFDMA. No entanto, o acesso múltiplo não é a única adição à
tecnologia. Também foi introduzida a escalabilidade na transmissão. A
escalabilidade permite a alteração no tamanho da FFT e assim no número de
subportadoras.
OFDMA torna possível subchannelization tanto em uplink como em downlink,
sendo que os subcanais formam a frequência mínima de recursos alocados pela
BS, possibilitando desta forma que diferentes subcanais sejam alocados a
diferentes utilizadores como um mecanismo de acesso múltiplo. É a este
esquema que se designa de OFDMA. Os subcanais podem ser constituídos quer
pelo uso de subcarriers contíguos como o uso de subcarriers distribuídos de
forma pseudo-aleatória, espalhados pelo espectro de frequência. Os subcanais
formados utilizando subportadoras distribuídas fornecem maior diversidade na
frequência, o que é particularmente útil para aplicações móveis.
O WiMAX define vários esquemas de subchannelization que se baseiam em
portadoras distribuídas por uplink e downlink. Este assunto será tratado mais à
frente, na secção 3.1.
No WiMAX móvel, o tamanho da FFT é escalável de 128 até 2048. Assim,
para aumentos de largura de banda disponível, também se verifica o aumento das
dimensões da FFT, de forma a que o espaçamento entre subportadoras se
mantenha constante, o que permite então que a escalabilidade tenha um impacto
mínimo nas camadas superiores, para além de manter um design de baixo custo.
A escolha deste valor de espaçamento (10.94KHz) deve-se ao facto de possuir
um bom binómio entre requisitos básicos para operação em ambientes fixos e

28
móveis, que são eles o delay spread e o Doppler spread. No que diz respeito ao
primeiro, este espaçamento permite até 20 µs, bom como uma velocidade
veicular que pode atingir aproximadamente 120 Km/h, numa frequência de
operação de 3.5 GHz. Os perfis existentes no OFDMA-PHY implicam o uso de
FFT de 128, 512, 1024 e 2048 em larguras de banda de, respectivamente, 1.25
MHz, 5 MHz, 10 MHz e 20 MHz.

3.1. Subchannelization
As subportadoras disponíveis podem ser divididas em vários grupos de sub-
canais. WiMAX fixo baseado em OFDM-PHY permite esta técnica de
implementação de sub-canais duma forma limitada, na medida em que apenas o
permite para o uplink. A norma define 16 subcanais, em que 1, 2, 4, 8 ou a
totalidade dos conjuntos podem ser atribuídos a um SS no uplink. Isto vai permitir
que o SS transmita usando apenas uma fracção da largura de banda que lhe foi
atribuída pela BS, o que irá resultar em melhorias que poderão contribuir tanto
para uma melhor gestão de tempo de bateria por parte do SS como também para
uma melhor performance ao nível do alcance atingido. A fracção da largura de
banda utilizada poderá ser tão baixa como 1/16 o que por si só já iria resultar
numa melhoria de 12 dB no sinal enviado pelo SS.
Já no caso do WiMAX móvel, que se baseia em OFDMA-PHY, por outro lado,
é permitido subchannelization também no downlink e, neste caso, os subcanais
formam o recurso mínimo de alocação de frequência por parte da BS. Desta
forma, subcanais podem ser atribuídos a utilizadores diferentes como um
mecanismo de acesso múltiplo. É a este esquema de acesso múltiplo que se
denomina OFDMA. Os subcanais podem ser constituídos quer por subportadoras
contíguas como também podem ser distribuídas de forma pseudo-aleatória
através do espectro disponível. A formação de subcanais fornece uma maior
diversidade na frequência, o que é útil na de forma particular em implementações
de WiMAX móvel. A norma define vários esquemas de subchannelization que se
baseiam na distribuição das subportadores tanto para uplink como downlink. Um
desses esquemas denomina-se Partial Usage of SubCarriers (PUSC) e é
obrigatório para todas as implementações de WiMAX móvel. A título de exemplo,

29
é de referir que os perfis de WiMAX definem 15 e 17 subcanais para downlink e
uplink, respectivamente, para operação PUSC na banda dos 5 MHz.
Já o esquema de subchannelization baseado em subportadoras contíguas é
denominado de AMC (Adaptive Modulation and Coding). Apesar de abdicar da
diversidade na frequência, este esquema permite que se explore diversidade
multi-utilizador, alocando sub-canais aos utilizadores baseando-se na sua
resposta em frequência. A diversidade multi-utilizador pode fornecer ganhos
significativos na capacidade geral do sistema, já que o sistema irá fornecer a cada
utilizador o subcanal com melhores características em termos de relação entre
sinal, interferência e ruído. É, portanto, um esquema mais vocacionado para
implementações fixas ou de baixa mobilidade.

3.2. Capacidade de um Sistema S-OFDMA


Existem 4 perfis definidos para WiMAX móvel, para as frequências de 1.25
MHz, 5 MHz, 10 MHz e 20 MHz. Para cada um dos perfis existe um tamanho de
FFT próprio. Portanto, é interessante verificar os parâmetros de escalabilidade S-
OFDMA.
Parâmetros de Escalabilidade OFDMA
Frequência [MHz] 1,25 5 10 20
Freq. Amostragem [MHZ] 1,4 5,6 11,2 22,4
Tamanho FFT 128 512 1024 2048
Nr. Subportadoras 2 8 16 32
Espaçamento Δf (KHz) 10,94 10,94 10,94 10,94
Tempo útil símbolo Tb (µs) 91,41 91,41 91,41 91,41
Tempo de guardaTg (µs) 11,43 11,43 11,43 11,43
Duração símbolo OFDMA Ts (µs) 102,83 102,83 102,83 102,83
Número de símbolos numa trama
OFDMA (5ms) 48 48 48 48
Tabela 3.1 – Parâmetros de escalabilidade OFDMA, para cada perfil de WiMAX móvel

Apesar do tamanho da FFT variar com o tamanho dos canais, o impacto é


mínimo, já que o espaçamento mantém-se constante.
Como já foi referido, o uso de PUSC é obrigatório em WiMAX móvel. Como tal
é interessante estudar a capacidade de um sistema S-OFDMA com
implementação PUSC. Para tal, é necessário compreender como funciona a
alocação dos símbolos numa frame. O funcionamento para UL e DL é diferente.

30
No caso do DL, as subportadoras estão divididas em 6 grupos e só alguns
podem ser usados num sector ou célula. Para além disso os dados e os pilotos
estão organizados em clusters de 14 subportadoras, em 2 símbolos. Os clusters,
por sua vez, dividem-se em 6 grupos, sendo que 2 clusters do mesmo grupo
formam um subchannel. É possível, por exemplo, numa célula sectorizada,
atribuir alguns dos grupos a cada sector numa célula – por exemplo 2 grupos a
cada sector. A figura 3.1 esquematiza o funcionamento de PUSC DL.

Fig.3.1 – Downlink em PUSC

No caso do Uplink, em vez de cluster, os dados e pilotos estão organizados


em Tiles, de 4 subportadoras e 3 símbolos. Aqui, um subcanal é formado por 6
Tiles. A figura 3.2 esquematiza este tipo de organização.

31
Fig.3.2 – Uplink em PUSC

Compreendendo agora estes esquemas, já é possível calcular a capacidade


útil para cada modulação, com PUSC. Faz todo o sentido separar a capacidade,
em downlink e uplink.

32
Cálculo da capacidade DL (PUSC)

Subcarrier/cluster 14 14 14 14

Nr sub 3 15 30 60

Cluster/subchannel 2 2 2 2

Data 96 360 720 1440


Pilot 12 60 120 240
Guard 16 91 183 369
DC 1 1 1 1

Free Slots/frame 21 105 210 420

Bytes por slot


QPSK 1/2 6 6 6 6
QPSK 2/3 9 9 9 9
16-QAM 1/2 12 12 12 12
16-QAM 3/4 18 18 18 18
64-QAM 2/3 24 24 24 24
64-QAM 3/4 27 27 27 27
Capacidade (Mbps)
QPSK 1/2 0,2016 1,0080 2,0160 4,0320
QPSK 2/3 0,3024 1,5120 3,0240 6,0480
16-QAM 1/2 0,4032 2,0160 4,0320 8,0640
16-QAM 3/4 0,6048 3,0240 6,0480 12,0960
64-QAM 2/3 0,8064 4,0320 8,0640 16,1280
64-QAM 3/4 0,9072 4,5360 9,0720 18,1440
Tabela 3.2 – Capacidade útil para cada modulação, em downlink PUSC

Na tabela 3.2 é apresentado o cálculo para a capacidade útil para cada


modulação, em downlink. Os cálculos para o caso do uplink são apresentados na
tabela 3.3.

33
Cálculo da capacidade UL (PUSC)

Subcarrier/cluster 4 4 4 4

Nr sub 4 17 35 92

Cluster/subchannel 6 6 6 6

Data 96 408 840 1680


Pilot 12 60 120 240
Guard 19 91 183 369
DC 1 1 1 1

Free Slots/frame 16 68 140 368

Bytes por slot


QPSK 1/2 6 6 6 6
QPSK 2/3 9 9 9 9
16-QAM 1/2 12 12 12 12
16-QAM 3/4 18 18 18 18
64-QAM 2/3 24 24 24 24
64-QAM 3/4 27 27 27 27
Capacidade (Mbps)
QPSK 1/2 0,1536 0,6528 1,3440 3,5328
QPSK 2/3 0,2304 0,9792 2,0160 5,2992
16-QAM 1/2 0,3072 1,3056 2,6880 7,0656
16-QAM 3/4 0,4608 1,9584 4,0320 10,5984
64-QAM 2/3 0,6144 2,6112 5,3760 14,1312
64-QAM 3/4 0,6912 2,9376 6,0480 15,8976
Tabela 3.3 – Capacidade útil para cada modulação, em uplink PUSC

3.3. Soluções Tecnológicas


A introdução da mobilidade e da norma IEEE 802.16e veio também alargar o
espectro de soluções tecnológicas para a implementação de WiMAX. Algumas já
existiriam em normas anteriores, no entanto a sua implementação justifica-se em
ambientes móveis. Irão ser estudadas:
 SISO (Single Input single Output)
 SIMO (Single Input Multiple Output)
 MIMO (Multiple Input Multiple Output)
 Space Time Coding
 Spacial Multiplexing
 Adaptive Beamforming

34
3.3.1. SISO

SISO significa Single Input Single Output e trata-se da implementação


clássica de WiMAX. Nesta configuração apenas se considera 1 antena de
transmissão na BS e 1 antena de recepção (no equipamento terminal). Pela sua
simplicidade é a tecnologia que está mais sujeita a erros de transmissão, bem
como taxas da mesma mais reduzidas. Portanto espera-se que seja uma
tecnologia à qual não se irá recorrer frequentemente. No entanto, para se estudar
sistemas MIMO começa-se por estudar estes sistemas, já que o desempenho dos
sistemas MIMO depende em muito do desempenho SISO.

3.3.2. SIMO
SIMO (Single Input Multiple Output) trata-se na realidade de uma variante de
MIMO. Neste tipo de transmissão existe 1 antena no transmissor e 2 antenas de
recepção (1x2). Pode-se dizer que esta configuração é a típica de WiMAX. Tira
partido de multipath para melhorar tanto o downlink como o uplink, em termos de
força do sinal recebido quando comparado com a configuração SISO. A existência
de duas antenas de recepção tanto na BS como no equipamento móvel
favorecem a potência do sinal recebido, através do uso de diversidade e da
maximização da combinação de várias técnicas.

3.3.3. MIMO
A configuração MIMO (Multiple Input Multiple Output) não é mais do que a
adição de uma segunda antena de transmissão na configuração anterior. Isto irá
possibilitar dois modos adicionais de downlink com performance melhorada. São
eles Space Time Coding (MIMO Matriz A) e Spacial Multiplexing (MIMO Matriz B).
No primeiro caso, os streams são enviados a partir de cada antena de
transmissão, de forma idêntica. Ou seja, estão a ser enviados streams idênticos
de dados de forma simultânea. Isto fornece diversidade tanto em termos de
espaço como em termos de tempo, tornando-se assim indicado para ambientes
com rápido desvanecimento e multipath já que através de Space Time Coding a
relação entre sinal e ruído (SNR) do sinal recebido na estação móvel é
melhorada. Isto possibilita que a estação móvel suporte modulações mais

35
eficientes, o que vai resultar no final em melhor capacidade downlink, bem como
um maior alcance.
No caso de Spacial Multiplexing, cada antena irá enviar diferentes streams de
downlink. Esta técnica tira partido do Multipath para distinguir entre os diferentes
fluxos de dados. Desta forma, teoricamente, será possível duplicar a capacidade
de downlink em condições favoráveis de canal.
Existe também a possibilidade de tirar partido destes dois modos, através de
MIMO adaptativo. Isto vai permitir que haja comutação entre a MIMO Matriz A e
B, dependendo das condições existentes no canal.
No que diz respeito ao Uplink, a capacidade do canal sofre também melhoria
com o uso de 2 antenas de transmissão. Isto deve-se ao facto de ambas
transmitirem de forma cooperativa nos mesmos slots de tempo – Uplink
Collaborative Spacial Multiplexing.
O uso de MIMO é mais eficaz em áreas urbanas e suburbanas, em que se
espera que o Multipath seja considerável. Caso não haja Multipath suficiente, a
tecnologia MIMO suporta a possibilidade de introduzir diversidade através de
polarização dual, o que fornece dois sinais ortogonais obtendo-se daí uma melhor
performance.
A introdução de MIMO numa BS WiMAX acrescenta complexidade, uma vez
que o próprio uso de 2 antenas obriga a uma gestão de potência e multiplexagem
bastante rigorosas. Isso obriga, certamente, a um custo associado elevado. No
entanto, o ganho em termos de capacidade é considerável, pelo que o recurso a
esta tecnologia compensará.

3.3.4. Adaptive Beamforming


Esta trata-se de mais uma opção avançada de antena que a tecnologia
WiMAX suporta. Poderá ser implementada de mais do que uma forma.
A abordagem mais simples consiste em comutar entre várias antenas cujo
feixe será estreito e direccionado, ou comutar entre diferentes feixes num array de
antenas.
Uma segunda abordagem consiste em implementar um algoritmo que
direcciona dinamicamente o feixe (Direction of Arrival – DOA). Esta técnica é
conhecida por ―Dynamically Phased Array‖.

36
Estas técnicas melhoram a potência do sinal recebido o que por si só fornece
um melhor alcance e capacidades, apesar de continuar sujeito a fenómenos
tipicamente urbanos como scattering e multipath.
Uma terceira técnica de beamforming consiste em determinar os parâmetros
de formação de feixes de forma adaptativa, baseando-se tanto nas condições do
canal como das próprias interferências. Esta técnica denomina-se ―Adaptive
Beamforming” e permite que o array de antenas maximize a potência do sinal
para o utilizador pretendido, possuindo também um mecanismo para anular as
interferências. Através desta técnica é possível implementar outros algoritmos
para melhorar a relação do sinal com o ruído bem como interferência (SINR) nos
vários cenários de propagação. Num cenário de alta mobilidade em que o canal
tem variações rápidas poderá ser um desafio implementar esta técnica de forma
exacta. No entanto existem resultados práticos que atestam uma melhoria no
sinal recebido em cenários urbanos com mobilidade.
A complexidade desta técnica envolve antenas electronicamente
direccionáveis, de forma a poder fornecer fase e amplitudes apropriadas,
envolvendo também técnicas de processamento digital do sinal para analisar a
ligação em tempo-real e dessa forma poder ―manobrar‖ a direcção das antenas.
A vantagem na utilização destas técnicas reside no aumento de alcance que
as mesmas fornecem, sendo, portanto, mais indicado para implementações em
que o alcance é o factor mais importante. Verifica-se uma melhoria tanto na
direcção uplink como downlink. Esta última depende, no entanto, de do alcance
do Media Access Protocol (mensagens MAP), na medida em que a possibilidade
de suporte de vários utilizadores em simultâneo dentro de determinada área
depende do envio de mensagens MAP para todos os utilizadores do sector. Uma
vez que estas mensagens são transmitidas em broadcast, o ganho em alcance de
downlink poderá não ser aproveitado ao máximo já que será necessária a múltipla
repetição das mesmas para assegurar fiabilidade na transmissão.

3.4. Outros Aspectos Introduzidos pela Mobilidade


3.4.1. Handover
A operação de handover, ou também conhecida por handoff trata-se da
possibilidade de um MS se deslocar de uma célula para outra sem que haja

37
interrupção da sessão em curso. Trata-se portanto de uma introdução quase
obrigatória na norma IEEE 802.16e, quando se começa a falar de WiMAX móvel.
Assim, a norma define dois tipos genéricos de handover:
 Hard handover: também é conhecido como break-before-make, já que
implica que a ligação rádio seja desconectada momentaneamente para
depois ser estabelecida com a nova BS. Este tipo de handover não é
muito complexo.
 Soft handover: também é conhecido como make-before-break, uma
vez que a MS estabelece primeiro a ligação rádio com a nova BS e só
depois desliga a anterior com a primeira BS. Existe a possibilidade da
MS ter duas ou mais ligações com duas ou mais BS, podendo depois
optar pela melhor ligação. Este tipo de handover é mais rápido que o
anterior. O Soft Handover pode ser de dois tipos:
 Fast BS Switching: permite que a MS troque rapidamente
de uma BS para outra. A rapidez da troca deve-se ao
facto da MS executar a troca sem ter completado o
processo de entrada na nova BS.
 Macro Diversity Handover: as transmissões são feitas
entre a MS e mais do que uma BS.
Nos perfis de WiMAX, apenas o hard handover é obrigatório, sendo que estes
2 últimos são opcionais.

3.4.2. Características de poupança de energia


O WiMAX móvel possui características que permitem aos aparelhos poupar
energia de forma eficiente. Estes permitem às SS operar durante períodos de
tempo maiores sem haver necessidade de recarregar. Isto é conseguido ao se
desligarem componentes da estação móvel (MS) de forma controlada quando
esta não está a transmitir ou receber dados. Assim, o WiMAX móvel tem definidos
métodos de sinalização que permitem à MS entrar em modos Sleep Mode ou Idle
Mode quando se encontra inactiva. O primeiro é um estado no qual a MS se
desliga e se torna indisponível durante tempos pré-determinados. Já a segunda
hipótese é opcional no WiMAX e permite à MS que se desligue completamente
para que não esteja registado em nenhuma BS e mesmo assim ainda receba

38
mensagens de tráfego broadcast downlink. Este modo é melhor em termos de
poupança de energia na medida em que a MS não se regista em nenhuma BS
específica, ao contrário do sleep mode.

3.4.3. Serviços de Broadcast e Multicast


A camada de acesso ao meio do WiMAX móvel suporta serviços de multicast
e broadcast (MBS). As funções e características relacionas com MBS suportadas
pela norma incluem mecanismos de sinalização para pedir e estabelecer MBS;
acesso da SS a MBS através de uma única ou múltiplas BS, dependendo da sua
capacidade; QoS associada a MBS; uma zona distinta entre a frame MAC com a
sua própria informação MAP destinada a tráfego MBS; métodos de entrega de
tráfego MBS para SS a operar em modo Idle; suporte para macro-diversidade
com vista a melhorar a performance de entrega de tráfego MBS.

3.5. Sumário
Este capítulo mostrou alguns dos aspectos principais acerca da mobilidade
em WiMAX, que foi introduzida na norma IEEE 802.16e. Ao nível da camada
física as alterações foram maiores, na medida em que começou a ser utilizado
OFDMA, em detrimento de OFDM, com alterações notórias provocadas por esse
facto. Este capítulo também abordou algumas das novidades introduzidas pela
mobilidade, como a necessidade obrigatória de haver um handover eficaz, ou a
possibilidade de implementação de técnicas MIMO, com elevados ganhos em
termos de capacidade e/ou alcance.

39
40
4. Parâmetros para Planeamento de uma Rede WiMAX
Após conhecer algumas das características principais da tecnologia WiMAX, é
possível apresentar algumas soluções para a possível implementação de uma
rede WiMAX. Há diversos aspectos que são fundamentais. Um destes aspectos
tem a ver com a previsão da capacidade necessária para a área em questão.
Para tal, aquilo que é proposto neste trabalho passa primeiro por considerar os
serviços mais utilizados no dia-a-dia e os seus requisitos. De seguida, é
necessário definir perfis de utilizadores, em que cada perfil utilizará os ditos
serviços de forma distinta, conforme a natureza das suas necessidades. Desta
forma, já é possível calcular qual a capacidade média que será necessária para
satisfazer estes utilizadores. O passo seguinte consiste em fazer um estudo ao
nível do terreno, ou seja, prever, com base nos elementos que se tem, qual o
alcance que a célula terá e, em média, qual a capacidade que esta irá suportar.
Tendo todos estes elementos e resultados, será então possível analisar as várias
alternativas possíveis, de forma a encontrar a melhor solução para cada caso.
Este estudo incide sobre WiMAX fixo.
Este capítulo mostrará então uma abordagem possível para a parametrização
dos requisitos de uma rede. Para além disso também irão ser discutidos assuntos
relevantes para o planeamento de uma rede WiMAX: alcance / cobertura,
estrutura celular, preocupações ao nível do espectro disponível e sectorização.
O capítulo encontra-se, então, estruturado da seguinte forma: A secção 4.1
denomina-se de Caracterização de Serviços e irá referir quais os serviços
considerados no estudo, bem como seus requisitos e utilizadores-alvo. Na secção
4.2 – Alcance e Cobertura – faz-se um estudo acerca das perdas de percurso
características de sistemas wireless, apresentando um modelo de propagação
que ajuda à previsão das mesmas e caracterizando os tipos de terreno em que o
dito modelo é aplicável.

4.1. Caracterização dos Serviços


Tal como já foi referido anteriormente, a abordagem seguida para a resolução
do problema é a de considerar os vários serviços que são mais utilizados hoje em
dia. Dessa forma, e conhecendo os requisitos dos mesmos para um bom
funcionamento, é possível prever qual a capacidade que o sistema terá que
41
oferecer para poder satisfazer os seus clientes. O tráfego é caracterizado através
da intensidade de tráfego, que se obtém conhecendo a periodicidade e duração
de cada chamada.
Os serviços distinguem-se em duas categorias: Residencial e Empresarial.
Consideram-se então como serviços residenciais VoIP, Dados, IPTV, Peer2Peer,
Media Stream e Jogos Online. Já no que diz respeito aos serviços empresariais,
considera-se a utilização de VoIP, Dados e Videoconferência. Estes são serviços
comuns bastante usados actualmente no quotidiano. Assim, os seus requisitos
em termos de largura de banda necessária considerados estão presentes na
tabela 4.1. Por um lado há serviços cujos requisitos para estabelecimento de
chamada são conhecidos, como é o caso de VoIP ou IPTV. Por outro lado, há
serviços em que a largura de banda é aqui atribuída como um valor razoável,
nomeadamente nos casos de Dados e P2P.

Media Jogos
Tipo de VoIP IPTV Videoconferência
Dados Stream Online P2P
Serviços [18] [19] [11]
[3] [3]
Largura de
Residencial 0,080 1,000 2,000 0,200 0,085 0,500
Banda
Necessária
Empresarial 0,080 2,000 0,384
(Mbps)
Tabela 4.1 – Requisitos de cada serviço

Neste caso, diferenciaram-se os requisitos em termos de uso empresarial ou


residencial, principalmente para enfatizar a maior necessidade empresarial de
transferências de dados.
Para além da distinção feita ao nível do tipo de serviços, também é necessário
distinguir os diversos tipos de terreno onde possa estar a ser implementada a
rede. De facto, este é um dos factores mais importantes que se deve ter em conta
no planeamento de uma rede sem fios, uma vez que o sinal rádio está sujeito a
vários fenómenos que lhe são maioritariamente destrutivos tais como perdas de
percurso, shadowing, mutipath, entre outros. Neste contexto, consideram-se
então três tipos de terreno com características geográficas distintas, o rural,
suburbano e urbano. Este assunto será abordado mais à frente.
Agora, estão reunidas as condições para a criação de diferentes cenários, com
diferentes tipos de utilizadores e necessidades. Consideram-se então quatro
cenários distintos: Rural Residencial (A), Urbano Residencial (B), Urbano
Empresarial (C) e Urbano Misto (D). Este último trata-se de um cenário urbano,

42
em que coexistem utilizadores empresariais e utilizadores residenciais. Em
relação aos tipos de terreno considerados, estes são de Rural para o cenário A,
Suburbano para os cenários B e C, e Urbano para o cenário B.
Cada tipo de utilização tem os seus serviços típicos, com requisitos
específicos em termos de largura de banda, atrasos, jitter, entre outros. Estes
requisitos são cumpridos pela própria tecnologia WiMAX, através do
escalonamento das classes de serviço já referidas: UGS, rtPS, nrtPS, BE e ertPS.
No que diz respeito ao tipo de utilização em cada cenário, esta difere para
cada um deles, na medida em que se considera que os serviços utilizados são
distintos já que é legítimo assumir que utilizadores rurais poderão ter
necessidades de utilizadores urbanos, por exemplo. Assim, para o cenário A
considera-se a utilização de VoIP, dados e IPTV. Já no cenário B considera-se a
utilização de VoIP, IPTV, Dados, Media Streaming, P2P e Jogos Online. No
cenário C considera-se que os serviços utilizados são VoIP, Dados e
Videoconferência. O cenário D, tal como dito anteriormente, é composto por
utilizadores típicos dos cenários B e C, logo os serviços são os do conjunto destes
dois cenários.
Também é levado em linha de conta neste estudo o horário de utilização,
sendo separado em dois períodos distintos: horário diurno e horário nocturno.
Considera-se que as chamadas de cada serviço chegam ao sistema de
acordo com um processo de Poisson com taxa  e têm um tempo de permanência
exponencialmente distribuído de média 1/. Desta forma, a intensidade do tráfego
oferecido é dada por  =  /  [20].
Cenário A Cenário B Cenário C Cenário D
Utilização Utilização Utilização Utilização residencial
residencial residencial empresarial e empresarial
Espaço aberto Espaço suburbano Espaço suburbano Espaço
urbano/denso
VoIP, Dados e IPTV VoIP, Dados, IPTV, VoIP, Dados e VoIP, Dados, IPTV,
Media Stream, P2P Videoconferência Media Stream, P2P,
e Jogos Online Jogos Online e
Videoconferência
Tabela 4.2 – Caracterização dos diversos cenários em estudo

Cada tipo de utilização tem os seus serviços típicos, com requisitos


específicos em termos de largura de banda, atrasos, jitter, entre outros. Por outras
palavras, existe a necessidade de mecanismos de QoS. Estes requisitos são
cumpridos pela própria tecnologia WiMAX, através de escalonamento das classes

43
de serviço já referidas: UGS, rtPS, nrtPS, BE e ertPS. De acordo com as
características de cada serviço, bem como as características de cada classe, as
várias classes são atribuídas aos serviços de acordo com a tabela 4.3.

Aplicações Classe de Serviço


VoIP UGS
Dados BE
IPTV rtPS
Media Stream rtPS
Jogos Online rtPS
P2P nrtPS
Videoconferência rtPS
Tabela 4.3 – Classe de serviço para cada aplicação

4.2. Alcance e Cobertura


As perdas médias de percurso num canal de rádio são normalmente
estimadas utilizando modelos analíticos fundamentadas tanto em leis da Física
como em curvas estatísticas obtidas através de medidas práticas. Para a maioria
dos cenários de implementação práticos, e em particular os casos NLOS, os
modelos estatísticos baseados em dados empíricos tornam-se mais úteis,
principalmente em casos em que as condições geográficas da área são
desconhecidas. De forma geral, o valor médio de perdas de percurso pode ser
modelado utilizando o modelo logarítmico de perdas de percurso dado pela
fórmula (1):
d    d
PL  PLd 0  10n log 10 ( )  20 log 10    10n log 10 ( )(1)
d0  4d 0  d0
Sendo d a distância, d0 uma distância de referência, PLd0 a perda de percursos à
distância d=d0 e n o coeficiente de perdas. Este coeficiente de perdas depende
do tipo de terreno, sendo um valor que normalmente varia entre 2 e 5. Os
modelos logarítmicos de perdas normalmente são extendidos com factores de
correcção adicionais, tornando os modelos aplicáveis a diferentes frequências de
operação e alturas de antena. De modo geral, os modelos empíricos são mais
indicados para sistemas que operam abaixo de 3GHz, sendo que a aplicabilidade
a frequências superiores se torna de certo modo incerta. Assim, surgem hipóteses
para modelos apropriados para bandas de 2.5 e 3.5GHz, como por exemplo o
modelo SUI (Stanford University Interim).

44
O modelo SUI divide-se em 3 tipos de ambiente (A, B e C). O tipo A é
associado à máxima perda de percurso, sendo apropriada para regiões bastante
acidentadas com vegetação de densidade moderada a intensa. Já o tipo C é
apropriado para uma densidade leve de vegetação, sendo que o tipo B é de certa
forma um intermédio entre A e C. Assim, a equação das perdas de percurso
incluindo factores de correcção fica
 4d 0   d 
PL  20 log 10    10 log 10    X f  X h  s(2)
    d0 
Sendo s (s Є [8.2,10.6] dB) o factor de distribuição estatística do tipo lognormal
que é utilizado para calcular o desvanecimento devido a obstáculos,  (expoente
de factor de perdas) , Xf (factor de correcção para a frequência de operação) e Xh
(factor de correcção para a altura da antena do receptor) são dados pelas
fórmulas (3), (4) e (5), respectivamente.
c
  a  bhb  (3), em que hb é a altura do transmissor em metros. Os
hb
parâmetros a, b e c são constantes que dependem do tipo de terreno e estão
presentes na tabela 4.4.
f
X f  6.0 log 10  (4)
2
enquanto Xh depende do tipo de terreno:
h 
X h  10.8 log 10  r (5.1) , para terrenos dos tipos A e B
2

h 
X h  20 log 10  r (5.2) , para terrenos do tipo C
2 

sendo f dado em GHz e hr (altura da antena do receptor) dado em metros.

Parâmetr Tipo Tipo Tipo


os A B C
A 4.6 4.0 3.6
-1
b (m ) 0.007 0.006 0.00
5 5 5
c (m) 12.6 17.1 20
Tabela 4.4 – Parâmetros do modelo SUI

45
A figura 4.1 mostra a variação do valor de perdas de percurso em dB
esperado, baseado no modelo SUI, assumindo valores de frequência de 3.5 Ghz,
altura de receptor de 2m, altura de antena de 45m e factor de distribuição
estatística ‗s‘ de 8.2 dB.

Fig.4.1 – Gráfico das perdas de percurso em função da variação da distância à BS.

Tal como seria de esperar, com o aumento da distância as perdas tornam-se


maiores, sendo que para cenários com maior densidade de obstáculos, as perdas
são maiores. Também é interessante mostrar a variação das perdas de percurso
em função da variação da altura do transmissor. Verifica-se desta forma que a BS
deve estar colocada a uma altura razoável, já que para maior altura, menores são
as perdas de percurso.

46
Fig.4.2 – Gráfico das perdas de percurso em função da variação da altura da BS, à distância de 1Km.

Após saber quais as perdas de percurso associadas a determinada distância,


o passo seguinte é calcular qual o alcance da célula. Para ajudar neste cálculo,
recorre-se à fórmula (6) presente na tabela 4.5. Esta fórmula permite o cálculo da
potência no receptor sendo que um dos seus parâmetros é precisamente as
perdas de percurso, variável com a distância.
PR – Potência no receptor [dBm]
PT – Potência no transmissor [dBm]
PR  PT  GT  GR  LS  PL GT – Ganho do transmissor [dBi]
GR – Ganho do receptor [dBi]
(6) LS – Perdas do sistema (Soma das perdas do
receptor com as do transmissor)[dB]
PL – Perdas de percurso [dB]
Tabela 4.5 – Potência no receptor (parâmetros e respectivas unidades)

Partindo da condição de que PR≥SR (7), e resolvendo a equação em ordem a


PL fica PL  PT  LS  GR  GT  S R (8). Como é sabido, PL é função da distância

percorrida, pelo que relacionando as fórmulas (2), (6) e (7) obtém-se, então, ―d‖
através de:
  4d 0   
  PT  LS  G R  GT  S R  X f  X h  s  20 log   
    
d  d 0. *10^ (9)
 10 
 
 

47
Os parâmetros PT, LS, GR e GT são valores característicos de um sistema
WiMAX. Já os parâmetros Xf, Xh,  e s são dados pelo modelo de propagação. O
parâmetro SR corresponde à sensibilidade do receptor e depende da modulação
usada, bem como da relação entre sinal e ruído no receptor. Este parâmetro é
 N   N subchannels 
dado pela fórmula S R  102  SNR( Rx )  10 log( Fs *   *  (10) , em
 N FFT   16 
que N=192; NFFT=256. O SNR no receptor está definido na norma, e apresenta-se
na tabela 4.6.

Modulação SNR(Rx) [dB]

BPSK ½ 6,4
QPSK ½ 9,4
QPSK ¾ 11,2
16-QAM ½ 16,4
16-QAM ¾ 18,2
64-QAM 2/3 22,7
64-QAM ¾ 24,4
Tabela 4.6 – SNR(Rx) para as diferentes modulações [1]

Aplicando estes valores na fórmula (10), chega-se aos valores de


sensibilidade no receptor, sendo então a partir de agora possível o
dimensionamento das células, ao calcular o alcance para cada modulação.

Sensibilidade do receptor [dB]


Modulação 3,5 MHz 5 MHz 7 MHz 10 MHz 14 MHz 20 MHz
BPSK -96,85 -95,30 -93,84 -92,29 -90,83 -89,28
QPSK 1/2 -93,85 -92,30 -90,84 -89,29 -87,83 -86,28
QPSK 3/4 -92,05 -90,50 -89,04 -87,49 -86,03 -84,48
16-QAM 1/2 -86,85 -85,30 -83,84 -82,29 -80,83 -79,28
16-QAM 3/4 -85,05 -83,50 -82,04 -80,49 -79,03 -77,48
64-QAM 2/3 -80,55 -79,00 -77,54 -75,99 -74,53 -72,98
64-QAM 3/4 -78,85 -77,30 -75,84 -74,29 -72,83 -71,28
Tabela 4.7 – Sensibilidade no receptor para cada modulação e largura de banda

Desta forma, é agora possível calcular o alcance de uma célula WiMAX,


porque já há conhecimento de todos os parâmetros da fórmula (4.1). Os
parâmetros Xf, Xh,  e s dependem do tipo de terreno e alturas do transmissor e
receptor. O parâmetro SR foi calculado e encontra-se na tabela 4.6. Os
48
parâmetros PT, LS, GR, GT são tidos como constantes e irão ser atribuídos em
altura oportuna, consoante valores típicos nesta tecnologia.

4.3. Sistemas Celulares


Na secção anterior tornou-se claro que devido às perdas de percurso apenas
é possível comunicar de forma fiável sobre uma distância limitada. Assim, o
planeamento do alcance da célula é projectado de forma a que no limiar da
distância máxima ainda seja possível comunicar de forma fiável. Para tal, o
controle é feito ao nível da potência de transmissão.
Em sistemas celulares, a área de servico é subdividida em áreas geográficas
menores, a que se denominam de células. Cada célula é servida por uma BS
própria. De forma a minimizar a interferência entre células e garantir fiabilidade de
transmissão, a potência de transmissão é regulada de forma a que a potência no
limiar da célula seja a suficiente. Assim, poderão ser utilizados canais com a
mesma frequência em diferentes células, desde que se garanta que estas estão
espaçadas o suficiente para evitar que haja interferências.
Este espaçamento entre as diferentes células (muito) dificilmente será o
perfeito. Assim é necessário definir um padrão de reuso das frequências de modo
a que o nível de interferência entre BS se mantenha num nível aceitável. Assim, o
factor de reuso tem que ser decidido de forma inteligente, na medida em que por
um lado o espectro disponível tem que ser respeitado e por outro deve-se
maximizar a distância geográfica entre canais que partilhem o mesmo canal.
Conceptualmente, considera-se que as células têm uma forma hexagonal. Trata-
se do modelo mais aceite, principalmente pela simplicidade de cálculos que
apresenta, já que na realidade não se verifica esta forma geométrica (devido aos
vários fenómenos que afectam o sinal, a célula tem a tendência de apresentar
uma forma amebóide).
Os sistemas celulares também têm características importantes ao nível da
escalabilidade, já que permitem que se projectem as células com dimensões
menores, o que possibilita o aumento da capacidade e a diminuição da potência
do sinal. Apesar destes aspectos vantajosos de células de menores dimensões, é
lógico que será necessário utilizar um número maior de BS o que aumenta
consideravelmente os custos de implementação. Por outro lado, se estivermos a

49
imaginar um ambiente de WiMAX móvel, iria implicar uma maior complexidade
neste sistema, na medida em que se iria estar perante handoffs frequentes, bem
como uma maior variabilidade no tráfego desta célula.
Em suma, a estrutura celular apresenta várias vantagens. Estas passam pela
possibilidade de reutilização do espectro electromagnético, o que implica
possibilidade de obter maior capacidade e servir assim um maior número de
utilizadores; em relação a um sistema sem reutilização do espectro, apresenta
menores potências de transmissão; trata-se de uma estrutura descentralizada e
por isso mais robusta; apresenta uma maior adaptabilidade à área que rodeia a
BS, no que diz respeito a área de transmissão, interferência, entre outros. Por
outro lado, o uso de uma estrutura celular poderá levantar alguns problemas,
entre os quais se destaca a interferência com outras células, que se pode
minimizar, mas dificilmente eliminar; em cenários de implementações móveis, é
necessário arquitectar um sistema de handover, para garantir manutenção da
conectividade em transições entre células.
Tendo em conta todos os prós e contras, cabe então ao projectista encontrar
um ponto de equilíbrio entre todos os elementos de uma rede com estrutura
celular, para satisfazer as necessidades dos utilizadores ao melhor custo
possível.

4.4. Análise do espectro disponível na viabilidade da tecnologia


O espectro disponível é um dos factores-chave para fornecer serviços de
banda larga em redes sem fios. Há várias bandas de frequências que podem ser
usadas para implementações WiMAX. Cada uma delas tem características cujo
impacto no desempenho do sistema é significativo. É a banda de frequências que
muitas vezes limita as taxas de transferência e alcances de cobertura. No
processo de certificação levado a cabo pelo WiMAX Forum, estão definidas as
bandas de 2.3 GHz, 2.5 GHz, 3.5GHz e 5.7GHz como as que serão mais usadas
para implementação de WiMAX. No caso da Europa, espera-se que a banda de
3.5 GHz seja a mais usada.
No entanto, a escassez de espectro poderá ser uma das limitações da
tecnologia. Como se sabe, o espectro é gerido por entidades reguladoras que
apenas colocam disponível uma pequena quantidade de espectro para uso

50
comercial. A necessidade de servir um número de utilizadores cada vez maior e
oferecer largura de banda a aplicações exigentes mediante o espectro limitado
torna-se um desafio com o qual se tem que lidar. O aspecto referido
anteriormente da sectorização está também intimamente ligado com o problema
da escassez de espectro, na medida em que para se obter uma boa eficiência
espectral recorre-se a esta técnica. Assim, o espectro disponível é dividido entre
as células ou sectores e repetido na área que necessita de cobertura, de modo a
formar um padrão e gerir o espectro disponível – reutilização da frequência.
Para se obter maior capacidade e eficiência espectral, deve-se maximizar a
reutilização da frequência. No entanto, isto poderá aumentar a interferência. Por
todos estes motivos é necessário projectar os esquemas de transmissão e
recepção de forma a que possam operar mesmo quando as condições do sinal
em termos de interferência e ruído (SINR) sejam baixas.
Assim, os operadores terão que projectar as suas redes de forma a obter uma
boa relação entre capacidade e custo de implementação, mediante o espectro
disponível.
No caso de Portugal, a entidade reguladora após ter inquirido o mercado
deliberou a atribuição de 4 licenças, em que cada uma terá uma quantidade de
espectro de 2x28 MHz. Ou seja, cada operadora terá que lidar com 2x28MHz
para gerir a sua rede WiMAX. Os perfis de tamanho de canal existentes são todos
múltiplos inteiros de 1.75 MHz (1.75, 3.5, 7 MHz). Uma implementação
semelhante à da figura 1, com um factor de reuso de 4, por exemplo, e utilizando
canais de 3.5MHz iria significar uma necessidade de 14+14MHz de espectro. Já
para canais de 7 MHz com o mesmo factor de reuso estar-se-ia a usar todo o
espectro disponível. No contexto do primeiro exemplo iria haver uma quantidade
razoável de espectro que não seria usada, o que implicaria um estudo de
custo/implementação para verificar se realmente seria esta a melhor solução, já
que se poderia também fazer uma implementação com células de menores
dimensões e também utilizando canais de menor largura de banda, com um factor
de reutilização maior que 4. Desta forma poder-se-ia usar melhor o espectro e
porventura obter melhor desempenho – menos interferência – mas tendo por
outro lado um custo maior em termos de antenas e BS.

51
4.5. Sectorização
Por vezes a capacidade obtida por célula revela-se insuficiente. Nesse
contexto, o uso da técnica de sectorização pode ser a solução mais eficaz para
resolver esse problema, sendo também altamente recomendada para combater a
interferência co-canal. Este tipo de interferência surge quando canais que usam a
mesma frequência interferem entre si. Esta interferência pode ser minimizada
através de um planeamento cuidado de forma a que diferentes células que usam
a mesma frequência estejam a uma distância suficiente para que tal não se
verifique. Assim, o uso de uma antena direccional em vez de uma antena
omnidireccional na BS pode reduzir de forma significativa a interferência entre os
canais. É normal usar uma sectorização com factor 3, ou seja, dividir uma célula
em 3 sectores. Desta forma está-se a usar 3 vezes mais largura de banda, mas
obtém-se por outro lado um ganho na capacidade da célula de 3 vezes. Como
cada sector pode reutilizar slots de tempo, não se perde capacidade através da
sectorização, sendo que cada sector terá a mesma capacidade nominal que uma
célula inteira. Para além disso, a capacidade é maior do que num sistema celular
não sectorizado já que se reduz consideravelmente a interferência.

Fig. 4.3 – Comparação entre o SINR (Relação entre sinal, interferência e ruído), para uma célula com 1 sector (à
esquerda) e 3 sectores (à direita), tendo ambos os sistemas um factor de reuso de 3 [3]

Através da figura 4.3 é possível verificar que a técnica da sectorização


melhora significativamente a SINR num sistema. As zonas a escuro mostram
SINR elevado. À esquerda, para um sistema celular não sectorizado com factor
de reutilização da frequência de 3, nota-se uma maior percentagem de zonas em
que a interferência e ruído são elevados. No caso da direita, em que se tem o
mesmo factor de reutilização da frequência mas desta vez recorrendo à

52
sectorização, verifica-se que são menores as zonas de ruído e interferência
elevados. Ou seja, em especial as zonas de fronteira da célula são aquelas em
que é claramente benéfica esta técnica.
Esta solução tem, no entanto, algumas desvantagens. Apesar do handover
entre sectores ser mais simples do que handover entre células, entre sectores tal
acontece com maior frequência. Isto resulta num aumento deste tipo de
transferências, podendo sobrecarregar a rede com o overhead que daí resulta.
Existe uma série de combinações possíveis para aplicar a técnica da
sectorização. A figura 4.4 ilustra isso mesmo, podendo-se verificar as diferentes
configurações que resultam da variação do número de células, bem como do
número de sectores por célula e número de frequências diferentes usadas.

Fig. 4.4 – Diferentes esquemas de sectorização e reuso de frequências

4.6. Sumário
Este capítulo apresentou aspectos importantes a ter em conta quando se
pretende efectuar planeamento celular. O planeamento celular envolve vários
factores, o que resulta em várias soluções possíveis. Um exemplo de
manipulação de factores da tecnologia é a possibilidade de sectorização com
enormes vantagens em vários aspectos, mas limitada por aspectos relacionados
com o espectro disponível e/ou custos de implementação.

53
Neste capítulo também foram abordados os serviços que este estudo irá
considerar, apresentando algumas características como requisitos e classe de
serviço.

54
5. Planeamento Celular
Um dos objectivos da dissertação prende-se com a idealização de cenários
específicos com necessidades específicas e efectuar um estudo acerca das suas
necessidades para poder satisfazer essas mesmas carências.
Assim, este capítulo surge nesse sentido, na medida em que neste momento
já estão reunidas as condições para efectuar um cálculo objectivo e oferecer uma
ideia concreta de como poderá ser a célula WiMAX em cada cenário.
Este capítulo está estruturado da seguinte forma: na secção 5.1 serão
apresentados os diversos cenários, parametrizando os serviços. São atribuídos
valores razoáveis ao uso e duração dos diversos serviços em cada cenário, bem
como nos horários diurno e nocturno. A secção 5.2 subdivide-se em quatro,
compostas pelos diversos cenários idealizados, em que se apresenta uma
solução efectiva para cada um deles.

5.1. Cenários Considerados e Parâmetros dos Serviços


Os cenários considerados neste estudo já foram explicitados anteriormente,
bem como os serviços utilizados em cada cenário. São então 4 os cenários,
identificados com as letras de A a D. O primeiro trata-se de um cenário Rural
Residencial. O cenário B é um cenário também residencial, mas urbano, enquanto
o cenário C é urbano empresarial. Por fim, o cenário D é urbano, com utilizadores
empresariais e residenciais.

55
Fig.5.1 – Cenário de utilização adoptado

A tabela 5.1 apresenta, para cada um dos cenários, os parâmetros


considerados para cada tipo de serviço. De notar que cada célula a zero significa
que esse serviço não é utilizado nesse cenário específco. A coluna está
estruturada da seguinte forma: existem 6 linhas principais, que estão divididas
pelos vários cenários idealizados. Os valores presentes nas linhas referentes ao
número de utilizações e duração média das mesmas foram introduzidos de forma
razoável, de forma a espelhar a necessidade de cada um desses cenários. As
restantes linhas são calculadas de acordo com estas duas primeiras. A
intensidade de tráfego –  – caracteriza o tráfego. Como já foi referido no capítulo
4, considera-se que as chamadas chegam ao sistema de acordo com um
processo de Poisson com uma taxa de chegada de , com um tempo de duração
exponencialmente distribuído com média de 1/. O número de utilizações está
relacionado com  – *3600 = Nº utilizações / 12 – que neste caso se apresenta
multiplicado por 3600 por uma questão de apresentação. Por outro lado, 1/ =
Duração * 60. Assim, a intensidade de tráfego é resultado do produto entre  e
1/.
De notar que as várias células a zero significam que esse tipo de serviço não
é utilizado nesse cenário. A intensidade de tráfego caracteriza o tráfego para cada
cenário, já que apresenta, em média, a probabilidade de existir tráfego na rede,

56
para cada serviço. Assim, a secção ―Capacidade‖ em cada uma das tabelas de
utilização (5.1 e 5.2) é obtida através do cálculo do produto da intensidade de
tráfego com a largura de banda necessária para cada serviço. Desta forma,
obtém-se uma caracterização deste tráfego, em termos de capacidade [mbps]. A
capacidade total do sistema não é mais do que o somatório da capacidade de
todos os serviços, multiplicado pelo número de utilizadores presentes na célula,
como é mostrado através das curvas do gráfico da figura 5.2.
Media Jogos
VoIP Dados IPTV Stream Online P2P Videoconferência
Nº de
Utilizações A 5,000 4,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000
neste período B 7,000 6,000 2,000 0,071 0,012 0,024 0,000
(12h) C 30,000 20,000 0,000 0,000 0,000 0,000 3,000
Duração
Média A 10,000 30,000 90,000 0,000 0,000 0,000 0,000
de cada
utilização B 5,000 40,000 60,000 30,000 60,000 30,000 0,000
(min) C 2,000 10,000 0,000 0,000 0,000 0,000 60,000
1/μ (seg) A 600,000 1800,000 5400,000 0,000 0,000 0,000 0,000
B 300,000 2400,000 3600,000 1800,000 3600,000 1800,000 0,000
C 120,000 600,000 0,000 0,000 0,000 0,000 3600,000
*3600 (seg ) A
-1
0,417 0,333 0,083 0,000 0,000 0,000 0,000
B 0,583 0,500 0,167 0,006 0,001 0,002 0,000
C 2,500 1,667 0,000 0,000 0,000 0,000 0,250
A 0,069 0,167 0,125 0,000 0,000 0,000 0,000
ρ (/μ) B 0,049 0,333 0,167 0,003 0,001 0,001 0,000
C 0,083 0,278 0,000 0,000 0,000 0,000 0,250
Capacidade A 0,00556 0,16667 0,25000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000
ρ*LB B 0,00389 0,33333 0,33333 0,00060 0,00008 0,00050 0,00000
(Mbps) C 0,00667 0,55556 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,09600
D 0,01056 0,88889 0,33333 0,00060 0,00008 0,00050 0,09600
Tabela 5.1 – Utilização dos vários cenários no horário diurno

57
Fig.5.2 – Gráfico da Largura de Banda necessária em função do número de utilizadores, para o horário diurno

Já no período nocturno, a utilização de cada serviço nos vários cenários é


dada pela tabela 5.2.

Media Jogos
VoIP Dados IPTV Stream Online P2P Videoconferência
Nº de
Utilizações A 1,000 2,000 1,000 0,000 0,000 0,000 0,000
neste período B 2,000 4,000 1,000 1,000 0,024 0,048 0,000
(12h) C 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Duração
Média A 10,000 30,000 80,000 0,000 0,000 0,000 0,000
de cada
utilização B 5,000 20,000 100,000 30,000 15,000 45,000 0,000
(min) C 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
1/μ (seg) A 600,000 1800,000 4800,000 0,000 0,000 0,000 0,000
B 300,000 1200,000 6000,000 1800,000 900,000 2700,000 0,000
C 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
*3600 (seg ) A
-1
0,083 0,167 0,083 0,000 0,000 0,000 0,000
B 0,167 0,333 0,083 0,083 0,002 0,004 0,000
C 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
A 0,014 0,083 0,111 0,000 0,000 0,000 0,000
ρ (/μ) B 0,014 0,111 0,139 0,042 0,000 0,003 0,000
C 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Capacidade A 0,00111 0,08333 0,22222 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000
ρ*LB B 0,00111 0,11111 0,27778 0,00833 0,00004 0,00149 0,00000
(Mbps) C 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000
D 0,00111 0,11111 0,27778 0,00833 0,00004 0,00149 0,00000
Tabela 5.2 – Utilização dos vários cenários no horário nocturno

58
A diferenciação dos vários serviços também permite, como já foi referido,
distinguir quais as classes de serviço que predominam na rede. Isto poderá ser
um importante trunfo na implementação de uma rede WiMAX, já que a previsão
das classes de serviço que terão predominância na rede pode ter influência na
escolha do melhor algoritmo de escalonamento, podendo assim ser optimizado o
desempenho do escalonador. Apesar do objectivo desta dissertação não ser a
proposta de um mecanismo de escalonamento, é interessante conhecer quais as
classes de serviço que terão maior percentagem de uso, em cada cenário. As
classes para cada serviço foram já atribuídas, remetendo para a tabela 4.3. Desta
forma, sabendo qual a intensidade de tráfego para cada serviço, e agrupando as
várias classes, obtém-se a percentagem de tráfego para cada classe de serviço.
Esta informação encontra-se presente nas figuras 5.3 e 5.4, respectivamente para

Cenário A UGS 1,3158 Cenário B UGS 0,5789


Rural Residencial rtPS 59,2105 Urbano Residencial rtPS 49,7242
(%) nrtPS 0 (%) nrtPS 0,07384
BE 39,4737 BE 0,49623

60 50
50 40
UGS UGS
40
rtPS 30 rtPS
30
nrtPS 20 nrtPS
20
BE BE
10 10

0 0

Cenário C UGS 1,0128 Cenário D UGS 0,7937


Misto (utilizadores
Urbano Empresarial rtPS 14,5847 empresariais e
(%) nrtPS 0 residenciais) rtPS 32,3329
BE 84,4024 (%) nrtPS 0,0373
BE 66,8361

100
80
80
UGS
60 UGS
60 rtPS
rtPS
40 nrtPS 40
nrtPS
BE
20 20 BE
0
0

Fig. 5.3 - Gráficos ilustrativos das percentagens de tráfego para cada classe em cada cenário, no horário
diurno

59
os horários diurno e nocturno.

Cenário A UGS 0,3623 Cenário B UGS 0,2778


rtPS 72,4638 rtPS 71,5627
(%) nrtPS 0 (%) nrtPS 0,37215
BE 27,1739 BE 0,27787

80 80

60 UGS 60 UGS
rtPS rtPS
40 40
nrtPS nrtPS

20 BE 20 BE

0 0

Cenário C UGS 0 Cenário D UGS 0,2778


Urbano Empresarial rtPS 0 rtPS 71,5627
(%) nrtPS 0 (%) nrtPS 0,37215
BE 0 BE 27,7873

1 80

0,8 60
UGS UGS
0,6 rtPS rtPS
40
0,4 nrtPS nrtPS
BE 20 BE
0,2

Agora
0 que já se tem uma ideia acerca das 0necessidades inerentes a cada um
dos cenários, deve-se incidir no estudo da tecnologia para dessa forma conseguir
saber como oferecer estes serviços a cada cenário através do WiMAX.
100 – Gráficos ilustrativos das percentagens de tráfego para cada classe em cada cenário, no horário
Fig.5.4
nocturno
80
UGS
60
rtPS

40 nrtPS
5.2. Célula WiMAX para
BE cada cenário
20
Neste
0
momento, já se compreende o fenómeno de propagação do sinal rádio,
bem como a capacidade que cada modulação pode oferecer. Já existem,
portanto, condições para obter valores elucidativos em cada cenário. Sendo
assim, as próximas secções irão apresentar estudos para os vários cenários
idealizados, com valores concretos para cada um dos valores calculados ao nível
do planeamento celular em termos de distância e capacidade do sistema.

60
5.2.1. Cenário A (Rural Residencial)
Para ser possível calcular o alcance da célula e das várias modulações, é
necessário atribuir a certas constantes valores típicos de WiMAX. Assim, neste
caso foram considerados os valores apresentados na tabela 5.3.

Parâmetro Valor
BW 3.5 MHz
PT 35 dBm
GT 16 dBi
GR 18 dBi
hr 4m
hb 50 m
Ls 1.1 dB
Tabela 5.3 – Valores usados para simulação no cenário A

A cada modulação corresponde uma determinada distância. A figura 5.5


esquematiza as várias modulações ao longo da distância.

Fig. 5.5 – Esboço de uma célula WiMAX

Em cada modulação é necessário calcular a respectiva distância máxima,


bem como a percentagem de cobertura. Para efectuar este cálculo é necessário
3
calcular a área do hexágono: A  3 * d 2 . Assim, tem que se calcular a
2

61
percentagem de área que cada modulação vai cobrir, para posteriormente
perceber, dentro da capacidade total da célula, qual é a ―fatia‖ a que corresponde
cada modulação. A capacidade por modulação remete à tabela 2.5.

Área
Distâncias % Área Capacidade
Modulação Coberta
[km] 2 coberta [Mbps]
[km ]
BPSK 1/2 8,20 53,85 30,83 0,45
QPSK 1/2 6,82 23,85 13,65 0,40
QPSK 3/4 6,11 45,77 26,20 1,14
16-QAM 1/2 4,44 10,27 5,88 0,34
16-QAM 3/4 3,97 17,41 9,97 0,87
64-QAM 2/3 3,01 4,46 2,55 0,30
64-QAM 3/4 2,71 19,08 10,92 1,43
Total 174,69 100,00 4,93
Tabela 5.4 – Cobertura por modulação no cenário A

A coluna ―Capacidade‖ da tabela 5.4 é obtida através do produto entre a


capacidade útil da modulação nesta banda de frequências (Tabela 2.5) com a
respectiva percentagem de área coberta.
Neste momento, como já foi calculada a área total da célula, o número de
utilizadores é então resultado do produto entre área total e densidade de
utilizadores. A curva seguinte (Fig. 5.6) mostra qual o número de utilizadores
deste cenário que uma célula deste tipo tem capacidade para servir.

Fig.5.6 – Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário A)

62
Através do gráfico da figura 5.6 conclui-se que este sistema tem uma
capacidade para servir no máximo 11 utilizadores, num cenário com uma
densidade de 0.063 utilizadores por km 2. Este é, portanto, o valor máximo de
densidade de utilizadores que esta célula poderia suportar. Apesar de se tratar de
um cenário rural, é legítimo pensar que esta célula poderá não ser suficiente.
Assim, poderá ser posta em prática a técnica já referida anteriormente:
Sectorização. Esta solução, ilustrada na figura 5.7, irá produzir um aumento na
capacidade da célula, o que se irá traduzir na possibilidade de poder servir um
número maior de utilizadores por km2.

Fig.5.7 – BS com 3 sectores

Fig.5.8 – Capacidade da célula sectorizada em função do número de utilizadores (Cenário A)

63
Através da comparação entre as figuras 5.6 e 5.8, verifica-se que a
eficiência da célula aumentou consideravelmente, já que agora é possível servir
um maior número de clientes, com a mesma área de cobertura que anteriormente.
No entanto não se tem informações suficientes acerca da área que se vai
cobrir. Assim, é pertinente mostrar o efeito que a variação das dimensões da
célula tem tanto na capacidade como no alcance obtido. Ou seja, se a célula for
projectada para apenas utilizar certas modulações, isso vai-se repercutir
negativamente no alcance obtido e, consequentemente, na área de cobertura. Por
outro lado, obtém-se uma melhoria significativa no que concerne à capacidade da
célula. Os gráficos seguintes ilustram isso mesmo, dando uma ideia das
possibilidades que se poderão ter ao manipular estes parâmetros, no
planeamento de uma rede celular WiMAX.

Fig.5.9 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com o alcance da
mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário A)

64
Fig.5.10 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a área de cobertura da mesma,
para células com 1 e 3 sectores (Cenário A)

Fig.5.11 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com a área de
cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário A)

65
Fig.5.12 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para células de 1 e 3 sectores
(Cenário A)

Fig.5.13 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de utilizadores e distância entre células

Todos estes gráficos ajudam a perceber que há diversas variáveis em jogo


quando se planeia uma rede WiMAX com estrutura celular. Dependendo do caso

66
específico, podem-se manipular diversos factores para encontrar a solução que
melhor se ajuste ao caso. Se por um lado a prioridade for o alcance, o aumento
da capacidade pode ser obtido através da técnica da sectorização. Por outro lado,
pode-se optar por diminuir o alcance e com isso aumentar a capacidade da célula,
o que irá diminuir os custos inerentes à sectorização.

5.2.2. Cenário B (Urbano Residencial)


À semelhança do que foi feito no cenário anterior, começa-se por atribuir
alguns valores típicos a constantes que são necessárias para a obtenção de
resultados, que estão presentes na tabela 5.5.
Parâmetro Valor
BW 5 MHz
PT 30 dBm
GT 16 dBi
GR 18 dBi
hr 2m
hb 35 m
Ls 1.1 dB
Tabela 5.5 – Valores usados para simulação no cenário B

Este cenário não é semelhante ao anterior, na medida em que aqui o


planeamento celular deve ser feito ao nível da capacidade por célula em
detrimento da área da mesma. Isso é óbvio uma vez que a densidade de
utilizadores para um cenário deste tipo será, em princípio, mais elevada do que no
caso anterior, o que irá fazer com que a necessidade de capacidade seja maior.
Já a pensar nisso opta-se por utilizar canais de largura de banda maior, isto é, 5
MHz em vez de 3.5 MHz. O tipo de terreno considerado é o suburbano.
Área
Distâncias % Área Capacidade
Modulação Coberta
[km] 2 coberta [Mbps]
[km ]
BPSK 1/2 3,39 8,28 27,69 0,58
QPSK 1/2 2,89 3,82 12,78 0,53
QPSK 3/4 2,62 7,65 25,59 1,59
16-QAM 1/2 1,98 1,79 6,00 0,50
16-QAM 3/4 1,79 3,22 10,76 1,34
64-QAM 2/3 1,41 0,86 2,88 0,48
64-QAM 3/4 1,28 4,28 14,29 2,67
Total 29,91 100,00 7,69
Tabela 5.6 – Cobertura para cada modulação no cenário B

Uma célula com estas características tem uma cobertura de 29.91 Km 2 e


capacidade máxima de 7.69Mbps, como mostra a tabela 5.6.

67
Fig. 5.14 - Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário B)

Depois do estudo feito no cenário anterior, optou-se por já mostrar a


capacidade por célula neste cenário, para células de 1 e 3 sectores. Tal como
anteriormente, o recurso a células de 3 sectores aumenta consideravelmente a
eficiência da mesma, já que regista um aumento da capacidade e, por
conseguinte, torna-se possível servir uma maior densidade de utilizadores. A
figura 5.14 mostra isso mesmo.

Fig.5.15 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com o alcance da
mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário B)

68
Fig.5.16 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a área de cobertura da mesma,
para células com 1 e 3 sectores (Cenário B)

Fig.5.17 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com a área de
cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário B)

69
Fig.5.18 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para células de 1 e 3 sectores
(Cenário B)

Fig.5.19 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de utilizadores e distância entre células
(Cenário B)

Este cenário foi idealizado como sendo tipicamente uma zona residencial.
Isso reflectiu-se no alcance, que relativamente ao caso anterior foi inferior. Já a
densidade de utilizadores também será maior, o que alerta para a necessidade de
um planeamento bastante cuidado. Como foi possível de visualizar através dos

70
gráficos apresentados, o aumento de alcance de uma célula paga-se caro com a
diminuição da capacidade da mesma. Se, por um lado, for conhecida a densidade
de utilizadores deste cenário, remetendo ao gráfico 5.18 poderá encontrar-se a
melhor alternativa para responder às necessidades deste cenário.
Em suma, a análise dos gráficos 5.15 a 5.19 ajuda a encontrar um ponto de
equilíbrio entre as várias variáveis que influenciam o planeamento de uma rede
WiMAX. Se a prioridade for o alcance da célula, poderá conseguir-se aumento da
capacidade através da implementação da técnica da sectorização. Se, mesmo
assim, a densidade de utilizadores servidos não for suficiente, poderá actuar-se
sobre o alcance da célula, já que a sua redução proporciona aumento da
capacidade.

5.2.3. Cenário C (Urbano Empresarial)


Neste cenário considera-se que o tipo de terreno é o mesmo que o caso
anterior – suburbano – logo os resultados são idênticos. A diferença reside no tipo
de tráfego e tipo de necessidades inerentes ao mesmo, já que se trata de um uso
empresarial. Assim, em relação aos parâmetros de simulação, estes são iguais
aos do cenário anterior (B). A tabela que nos dá a cobertura desta célula, para
cada modulação é, então, igual ao caso anterior (tabela 5.5).
Área
Distâncias % Área Capacidade
Modulação Coberta
[km] 2 coberta [Mbps]
[km ]
BPSK 1/2 3,39 8,28 27,69 0,58
QPSK 1/2 2,89 3,82 12,78 0,53
QPSK 3/4 2,62 7,65 25,59 1,59
16-QAM 1/2 1,98 1,79 6,00 0,50
16-QAM 3/4 1,79 3,22 10,76 1,34
64-QAM 2/3 1,41 0,86 2,88 0,48
64-QAM 3/4 1,28 4,28 14,29 2,67
Total 29,91 100,00 7,69
Tabela 5.7 – Cobertura para cada modulação no cenário C

71
Fig.5.20 – Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário C)

As necessidades de capacidade deste cenário são bastante semelhantes ao


caso anterior, logo não se esperam diferenças de maior.

Fig.5.21 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com o alcance da
mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário C)

72
Fig.5.22 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a área de cobertura da mesma,
para células com 1 e 3 sectores (Cenário C)

Fig.5.23 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com a área de
cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário C)

73
Fig.5.24 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para células de 1 e 3 sectores
(Cenário C)

Fig.5.25 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de utilizadores e distância entre células
(Cenário C)

Este cenário tal como se previra é bastante semelhante ao cenário B, até por
ter sido considerado como tendo o mesmo tipo de terreno. O que difere está
relacionado com o número de utilizadores, na medida em que as necessidades
empresariais são diferentes das residenciais.

74
A análise dos gráficos 5.21 a 5.25 permite a escolha da melhor opção que
relaciona as várias variáveis que estão envolvidas no processo do planeamento
celular. O facto deste cenário ser tipicamente empresarial é um aspecto bastante
importante, já que os seus utilizadores serão bastante exigentes. Isto leva a
pensar que neste caso a capacidade deverá ser favorecida em detrimento do
alcance. No entanto, existe a possibilidade de obter aumento de capacidade
através da técnica de sectorização, sem o alcance ser afectado.

5.2.4. Cenário D (Urbano Misto)


Este cenário é tipicamente urbano, na medida em que se considera um
terreno bastante acidentado (Tipo A, modelo SUI), com uma densidade bastante
elevada de utilizadores, com necessidades residenciais e empresariais. Os
valores utilizados em simulação, neste caso, são apresentados na tabela 5.8.

Parâmetro Valor
BW 5 MHz
PT 25 dBm
GT 16 dBi
GR 18 dBi
hr 2m
hb 50 m
Ls 1.1 dB
Tabela 5.8 – Valores usados para simulação no cenário D

Os resultados de alcance, área de cobertura e capacidade são apresentados


na tabela 5.9.
Área
Distâncias % Área Capacidade
Modulação Coberta
[km] 2 coberta [Mbps]
[km ]
BPSK 1/2 1,32 1,21 26,56 0,55
QPSK 1/2 1,13 0,56 12,41 0,52
QPSK 3/4 1,03 1,15 25,28 1,57
16-QAM 1/2 0,79 0,28 6,04 0,50
16-QAM 3/4 0,72 0,50 11,00 1,37
64-QAM 2/3 0,57 0,14 3,00 0,50
64-QAM 3/4 0,52 0,71 15,70 2,94
Total 4,55 100,00 7,95
Tabela 5.9 – Cobertura para cada modulação no cenário C

Neste terreno as perdas de percurso condicionam bastante as dimensões da


célula, que neste caso são bastante mais reduzidas que nos cenários anteriores.

75
Fig.5.26 – Capacidade da célula em função do número de utilizadores (Cenário D)

Fig.5.27 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com o alcance da
mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário D)

De notar que se está a considerar que metade dos utilizadores são do tipo
empresarial e metade são do tipo residencial.

76
Fig.5.28 – Gráfico da variação da capacidade máxima suportada pela célula com a área de cobertura da
mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário D)

Fig.5.29 – Gráfico da variação do Número Máximo de utilizadores suportado por uma célula com a área de
cobertura da mesma, para células com 1 e 3 sectores (Cenário D)

77
Fig.5.30 – Gráfico da variação da densidade máxima suportada por uma célula, para células de 1 e 3 sectores
(Cenário D)

Fig.5.31 – Gráfico 3D que mostra a relação entre capacidade, número de utilizadores e distância entre células
(Cenário D)
Tal como nos cenários anteriores, através da análise dos gráficos 5.27 a
5.31 é possível encontrar a solução melhor no que diz respeito à manipulação dos
diversos factores envolvidos no planeamento celular. Tendo em conta de que este
cenário terá uma grande densidade de utilizadores, é legítimo pensar que o seu
requisito em termos de capacidade será maior, tendo que ser favorecido em
detrimento da área de cobertura da célula.

78
Neste cenário verifica-se, no entanto, uma menor área de cobertura devido
ao tipo de terreno considerado – urbano. Isso exige reflexão na medida em que a
área de cobertura de uma célula representa uma percentagem pequena em
relação à área metropolitana de uma cidade. Ou seja, é necessário planear não
só uma célula mas sim um conjunto de células. Isto obriga a pensar na
reutilização de frequências, isto é, fazer o planeamento celular tendo em conta as
frequências de cada célula, para que não haja interferências entre si. Os sistemas
mais complexos exigem um factor de reutilização da frequência de 7, ou seja, 7
frequências distintas. No entanto, um factor de reutilização da frequência de 3 é
bastante mais simples e será suficiente para a complexidade deste cenário.
Também tem que se ter em linha de conta aspectos relacionados com o espectro
disponível, já que não se podem utilizar mais canais do que os permitidos pela
entidade reguladora.

Fig. 5.32 – Possível implementação de uma rede WiMAX com factor de reuso de 3

Na figura anterior está representada uma possível implementação de uma


rede celular WiMAX com factor de reutilização da frequência de 3. Neste caso,

duas células com a mesma frequência estariam à distância de D  R 3k , em que


k neste caso é 3 (factor de reutilização da frequência) e R é o alcance da célula,
para garantir que qualquer interferência seja desprezável.
Restaria agora planear o número de células para este cenário consoante a
área que seria necessário abranger, bem como a densidade de utilizadores da
mesma.

79
5.3. Sumário

Neste capítulo apresentaram-se soluções para os 4 cenários de utilização que


foram idealizados no âmbito desta dissertação. Este estudo consistiu em definir
cada cenário, e posteriormente definir o perfil de utilizador para cada cenário. De
seguida efectuou-se o cálculo das distâncias para cada modulação, de onde é
possível retirar a área da célula. Com a introdução dos cálculos para a obtenção
da capacidade por célula foi então possível comparar este valor com o obtido
como requisito. Assim, foram apresentadas soluções para suprir as carências de
cada um destes cenários.

80
6. Ferramenta de Planeamento de Redes WiMAX
Até este ponto, todos os cálculos efectuados foram feitos utilizando várias
plataformas, de forma não automatizada. No entanto, para fazer um correcto
planeamento de uma rede, de acordo com os cenários em questão, justifica-se a
criação de uma ferramenta que simplifique, automatize e generalize todo este
processo.
Um dos objectivos deste trabalho prende-se com a realização de uma
aplicação cuja função é ajudar no planeamento de uma rede WiMAX, através da
criação de um algoritmo eficiente, apresentando uma solução para a
implementação da rede, tendo como entrada qualquer cenário.
Assim, este capítulo será iniciado através de uma pequena introdução onde
será abordada de forma simplificada a estrutura da aplicação. Na secção 6.2 é
explicada a estrutura já de forma mais detalhada. A secção 6.3 é dedicada à
apresentação de resultados obtidos através do uso da ferramenta desenvolvida.

6.1. Introdução
Para efectuar este planeamento, é necessário ter em linha de conta uma série
de aspectos, bem como seguir todos os passos de forma faseada. Este processo
pode ser dividido em 3 fases principais: Dimensionamento, Planeamento e
Optimização.

Fig. 6.1 – Fases de planeamento de uma rede celular

No que diz respeito à fase de dimensionamento, esta consiste na introdução


por parte do utilizador dos dados importantes de entrada. Os dados a introduzir
referem-se tanto a características que modelam o tráfego, como também se
referem a características importantes para o dimensionamento físico da célula.
Na fase de planeamento, os dados que foram anteriormente introduzidos são
tratados. Inicialmente caracterizando o tráfego em termos de requisitos de
capacidade e também caracterizando a propagação do sinal rádio.
Posteriormente, o dimensionamento das células será feito mediante a

81
combinação de alguns factores, cálculos efectuados, as especificações do
utilizador e também as soluções tecnológicas existentes.
Por último, a fase de optimização terá lugar após o resultado apresentado
pela ferramenta. Esta fase permite que o utilizador faça alguns ajustes no
resultado obtido, optando por outro tipo de solução que julgue ser mais
conveniente.

Fig. 6.2 – Diagrama simplificado do planeamento de uma rede celular

6.2. Estrutura da aplicação


A aplicação foi concebida para efectuar todos os passos necessários à
planificação de uma célula WiMAX, seguindo os passos descritos no capítulo
anterior. Possui um design simples e intuitivo, permitindo ao utilizador obter de
forma bastante rápida e simples os cálculos para uma célula WiMAX.
O interface com o utilizador é feito basicamente em dois formulários. O
formulário inicial consiste na recolha de toda a informação que é necessária para
a execução dos cálculos. No separador principal, o utilizador selecciona qual o
tipo de terreno em que pretende implementar a rede. Para além disso também
terá que introduzir quais os requisitos que cada serviço deve ter. Estão já
introduzidos nestes campos valores por defeito, concordantes com os já
apresentados no capítulo 4. No separador seguinte, o utilizador tem a
possibilidade de definir os perfis de utilizadores que pretende ―colocar‖ na sua
rede. Pode, assim, seleccionar utilizadores residenciais e/ou utilizadores
empresariais. Aqui poderá também, para cada tipo de utilizador e para cada
82
serviço, definir a periodicidade das utilizações, bem como a duração de cada
uma, tanto para horário diurno como nocturno. O preenchimento destes campos é
fundamental para a obtenção da intensidade de tráfego, que irá ser fundamental
para a caracterização dos requisitos do serviço. Ao seleccionar cada tipo de
utilizador, fica também activa a possibilidade de definir qual a densidade dos
mesmos (utilizador por km2). Por último, o terceiro separador permite ao utilizador
definir aspectos fundamentais na tecnologia a implementar. Aqui é possível definir
o rácio entre downlink e uplink, bem como outros parâmetros, tais como as alturas
das antenas emissora e receptora, ganhos do sistema, entre outros. Existem
algumas opções que estão desactivadas por defeito, que são a possibilidade de
optar entre WiMAX Fixo e Móvel e opções ao nível da tecnologia, que são a
possibilidade de escolher SIMO, MIMO e Adaptive Beamforming. A razão pela
qual é impossível seleccionar estas opções prende-se com o facto de não ter sido
ainda implementada a parte móvel, ficando essa possibilidade em aberto.
Neste formulário foram implementadas também algumas soluções que têm
meramente em perspectiva a simplificação de processos para o utilizador. São
elas a possibilidade de guardar e posteriormente carregar as definições do
programa.
Após estar completa a introdução de todos os dados neste formulário, o
cálculo é feito noutro formulário. O programa inicialmente irá apresentar uma
solução para o problema. A solução apresentada tem como critério principal o
custo mais baixo de implementação. Ou seja, dentro de todas as possibilidades
de servir estes clientes, o programa irá apresentar uma solução tendo em conta
dois critérios principais: o principal é o menor número de sectores, enquanto o
secundário é o menor tamanho dos canais. No entanto esta solução não é
vinculativa, na medida em que o utilizador poderá fazer diversos ajustes, sendo
imediatamente apresentado o efeito que esse ajuste irá fazer. Os ajustes são
feitos em trackbars, sendo que uma horizontal permite alterar o alcance da célula.
Já através de uma trackbar vertical irão ser efectuados ajustes ao nível do
tamanho dos canais. O número de sectores que a célula terá, também pode ser
alterado.

83
6.3. Funcionamento
Na secção anterior já foi apresentada a aplicação de um modo geral. Aqui
será dada uma explicação mais aprofundada.
Antes de mais, a linguagem de programação escolhida para o
desenvolvimento deste programa foi C#. A razão pela escolha desta linguagem
prendeu-se com algumas das potencialidades que apresenta, sendo que a
principal foi o facto de permitir o uso de arrays multidimensionais. Ou seja, por
exemplo a linguagem C (ou C++), permite o uso de arrays de apenas uma
dimensão, sendo que o utilizador pode contornar esta situação ao criar um array
composto por elementos em que sejam todos eles do tipo array também. No
entanto, em C#, um array poderá ser criado de raíz com as dimensões desejadas.
Neste caso, como já estavam desenvolvidas diversas funções em MATLAB que
lidavam directamente com variáveis matriciais de dimensões [MxN], seria mais
fácil a sua adaptação para a linguagem C#, já que a mesma suporta este tipo de
variáveis.

Fig. 6.3 – Vista da janela inicial da ferramenta de planeamento de uma rede WiMAX

Na figura 6.3 apresenta-se a janela inicial da aplicação desenvolvida. Tal


como já foi dito anteriormente, é possível ao utilizador configurar os diversos

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serviços, preenchendo os espaços com os requisitos que cada serviço terá. No
caso do serviço de dados, tal como já foi considerado no capítulo 4, é feita a
distinção entre residencial e empresarial, para realçar que neste campo específico
poderá haver diferentes necessidades de largura de banda. É possível
seleccionar também o tipo de terreno que mais se ajuste às necessidades,
podendo optar entre cada um dos 3 tipos de terreno definidos pelo modelo SUI.
As opções de Guardar e Abrir permitem que sejam guardadas num ficheiro
todas as preferências do utilizador. A função guardar não faz mais que percorrer
todos os campos existentes neste programa: NumericUpdowns, checkBoxs e
Radios, guardando tudo no ficheiro especificado anteriormente. Obviamente, a
função Abrir irá preencher todos estes campos com os dados previamente
guardados em ficheiro.

Fig. 6.4 – Vista do separador “Perfis” da ferramenta de planeamento de uma rede WiMAX

O separador ―Perfis‖ possui o aspecto da figura 6.4. Aqui o utilizador tem a


possibilidade de seleccionar quais os utilizadores que existirão na rede. Para um
cenário tipicamente residencial, a escolha apenas recai no Utilizador Residencial.
Para cenários empresariais, a escolha recai em Utilizador Empresarial. Existe
também a possibilidade de seleccionar os dois tipos de utilizador. Após esta

85
selecção, cabe ao utilizador seleccionar o tipo de utilização que há de cada
serviço. Ao alterar o número de utilizações, bem como a duração das mesmas, o
utilizador está directamente a configurar a intensidade de tráfego desta rede.
Como se pode verificar, existe a distinção entre horário diurno e horário nocturno.
O comportamento do programa perante esta distinção é de seleccionar aquele
que tiver maior exigência em termos de tráfego.

Fig. 6.5 – Vista do separador “Tecnologia” da ferramenta de planeamento de uma rede WiMAX

A figura 6.5 apresenta o aspecto do separador ―Tecnologias‖. Na parte de


especificações, configuram-se principalmente os parâmetros que vão afectar
directamente o alcance da célula. O campo ―Largura de Banda Disponível‖ terá
que ser preenchido com a quantidade de espectro disponível, atribuído pela
entidade reguladora.
Tal como já foi referido anteriormente, esta ferramenta foi inicialmente
idealizada para WiMAX Fixo, sendo por isso que a opção entre Fixo e Móvel se
encontra desactivada. No que diz respeito às soluções tecnológicas que
melhoram o desempenho do WiMAX, nesta aplicação só foram implementadas
SISO e Sectorização. Por esse motivo, e pelo facto de serem também opções
tipicamente para WiMAX móvel, as restantes opções encontram-se desactivadas.

86
Por fim, existe a secção ―Rácio DL:UL‖, que permite escolher qual a relação
entre Downlink e Uplink. É frequente no mundo das telecomunicações existir esta
preocupação na implementação de redes. Isto deve-se ao facto de tipicamente as
aplicações necessitarem de maiores débitos no sentido downlink do que uplink,
sendo que não se justifica a maior parte das vezes estes terem a mesma largura
de banda reservada.
Após o preenchimento correcto de todos estes parâmetros, o utilizador pode
pressionar em ―Calcular‖ para que o programa inicie o tratamento de todos os
dados introduzidos. Será então iniciada a ferramenta de cálculo tal como é
apresentado na figura 6.6.

Fig. 6.6 – Vista da ferramenta de cálculo

Quando a ferramenta de cálculo é apresentada, todo o processamento dos


dados já foi feito. O manejamento das barras vertical e horizontal vai produzir, por
isso, novos resultados de forma bastante rápida. A barra horizontal confere a
possibilidade de aumentar ou diminuir o tamanho da célula. Este factor vai ter
influência directa na área da célula, o que por conseguinte irá afectar o Nº de
Utilizadores, a Capacidade Total da Célula e a Capacidade Necessária. A barra

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vertical permite a selecção de canais de diferente tamanho. Este factor vai ter
influência directa em diversos campos. São eles a Largura de Banda Necessária
e as distâncias para cada modulação. O efeito da alteração destas distâncias é o
já descrito na explicação do movimento da barra horizontal. Por fim, o número de
sectores também pode ser ajustado. A alteração deste parâmetro irá ter influência
directa na Capacidade Total da Célula, bem como na Largura de Banda
Necessária.
O utilizador pode manejar livremente cada um dos parâmetros que a
aplicação permite. Quando a capacidade da célula não é suficiente para satisfazer
as necessidades, a cor do texto na Capacidade Necessária aparece a vermelho.
Se por outro lado a Largura de Banda Disponível for menor que a Necessária, o
texto nesta última também será vermelho.

6.4. Implementação das Funcionalidades da Ferramenta


A implementação da ferramenta não consiste apenas na aplicação directa das
várias fórmulas apresentadas até ao momento. Na realidade, existe toda uma
estratégia adoptada desde o início para manter a estrutura da aplicação coerente,
fornecendo valores correctos.
Todos os cálculos são feitos da seguinte forma: no próprio código do
programa já foram introduzidas 2 matrizes, com os parâmetros de capacidade e
sensibilidade. São matrizes de dimensões 7x6, em que as 6 colunas
correspondem ao tamanho do canal, e as 7 linhas correspondem a cada
modulação. Assim, todos os cálculos feitos a seguir irão colocar os respectivos
resultados no mesmo formato.
Inicialmente o programa calcula as distâncias para cada modulação, em cada
largura de banda. Depois de saber as distâncias, o passo seguinte é calcular a
área. Com este cálculo é já possível saber o número de utilizadores, multiplicando
a densidade de utilizadores com a área total da célula. O conhecimento do
número total de utilizadores permite então saber qual a capacidade necessária.
A capacidade do sistema depende sempre do número de sectores
considerado. Caso a opção de sectorização não tenha sido seleccionada, a
capacidade é multiplicada por um factor de 1. Caso contrário, é multiplicada por
um factor igual ao número de sectores que foi seleccionado.

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Uma vez que todos estes cálculos são feitos na inicialização da aplicação
calculadora, e estão todos guardados em arrays de iguais dimensões, a
manipulação da barra horizontal e vertical não faz mais do que posicionar os
valores seleccionados nestes arrays. Isso possibilita que o cálculo de novos
valores seja praticamente instantâneo.
Outra das estratégias adoptadas na concepção da ferramenta foi o uso de
variáveis globais para armazenar os resultados. Este uso facilita não só a
passagem de parâmetros entre os diversos formulários, mas também permite que
na apresentação dos resultados não seja necessária a execução dos cálculos a
cada ajuste feito por parte do utilizador.
As funções chave do funcionamento da aplicação são as seguintes:
 Extracção dos valores no formulário : Trata-se de uma função
simples, que extrai todos os valores introduzidos pelo utilizador,
armazenando-os em variáveis previamente definidas.
 Cálculo de intensidade de tráfego: Trata-se de uma função que
mediante os valores relacionados com os vários serviços no que diz
respeito a periodicidade e duração das chamadas, efectua o cálculo da
intensidade de tráfego para cada serviço.
 Cálculo da capacidade para cada serviço: Após o cálculo da
intensidade de tráfego, esta função irá usar estes valores para cálcular
a capacidade necessária para cada serviço, através do produto entre
intensidade de tráfego para cada serviço e respectivo requisito de
capacidade.
 Armazenamento das tabelas de Sensibilidade e Capacidade: São
introduzidos no código as tabelas 2.5 e 4.7, em variáveis de dimensão
[7x6].
 Cálculo da matriz distância: Esta função aplica as fórmulas já
apresentadas anteriormente que fornecem a distância máxima para
cada modulação. Assim, esta função irá devolver uma matriz, em que
cada coluna corresponde às Larguras de Banda consideradas, e cada
linha às várias modulações permitidas em WiMAX fixo.
 Cálculo da matriz área: através da matriz distância é calculada a
área para cada modulação.

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 Cálculo da matriz capacidade total necessária: Após estar
calculada a área, é possível saber qual o número de utilizadores que é
necessário servir, já que a densidade de utilizadores é uma das
entradas que a aplicação exige ao seu utilizador. Assim, após o
produto entre densidade de utilizadores e área, obtém-se o número de
utilizadores. Este número multiplicado pela capacidade necessária para
cada serviço oferece a capacidade total necessária.
 Cálculo da capacidade total da célula WiMAX: Sabendo qual a área
para cada modulação e qual a capacidade total que cada modulação
oferece é efectuado o cálculo da capacidade total, em que Capacidade
Total é igual ao somatório do quociente entre a capacidade de cada
modulação e a respectiva área que esta abrange.
Após todos estes cálculos estarem efectuados, a aplicação efectua a escolha
da melhor opção, tendo como critério principal o custo mais baixo de
implementação, tal como já foi referido. Assim, a estratégia por detrás desta
implementação consiste na realização de vários ciclos repetitivos, em que todas
as hipóteses de capacidade total da célula são comparadas com a capacidade
necessária. Assim, a prioridade na escolha da implementação mais económica
prende-se com o critério da sectorização; para que o menor número de sectores
seja o seleccionado, basta que a ordem pelos quais os elementos são
comparados seja do maior para o menor. Desta forma, inicialmente são
analisados os valores com maior número de sectores, de forma decrescente até
ao menor número, sendo assim guardada a opção com menor número de
sectores.
Todo o funcionamento da aplicação está esquematizado na tabela 6.1.

90
Os valores introduzidos pelo utilizador são extraídos e
armazenados em variáveis.

Mediante os valores introduzidos, é efectuado o cálculo da


intensidade de tráfego para cada serviço ().

Conhecida a intensidade de tráfego para cada serviço, é calculada


a capacidade para cada serviço. CServiço=*RequisitoServiço

Conhecida a sensibilidade do receptor, calculam-se as várias


distâncias, para cada modulação e para cada Largura de Banda
(MHz) considerados.
  4d 0   
  PT  LS  G R  GT  S R  X f  X h  s  20 log   
  
d  d 0. *10^   (4.1)
 10 
 
 

O cálculo da área é imprescindível para determinar o número de


utilizadores, já que um dos dados que a aplicação necessita é a
densidade de utilizadores

Sabendo o número de utilizadores (N) e a capacidade para cada


serviço, é calculada a capacidade total necessária.
CTotal Necessária= N* (CServiços)

Mediante a área de cobertura de cada modulação, é feito o cálculo


da capacidade total da célula.
CTotal Célula= (CModulação*(AreaModulacao/AreaTotal))

A aplicação efectua os cálculos das várias opções, seleccionando


aquela que exige menor número de sectores e menor tamanho do
canal em termos de largura de banda.

Como todos os valores estão guardados em forma de matriz, é


permitido ao utilizador o acesso a duas barras na aplicação
(fig.6.6), cuja acção permite visualizar as várias soluções
calculadas pela ferramenta. Actuando sobre a barra horizontal, o
utilizador altera o alcance da célula, enquanto a barra vertical
permite alterar a largura de banda do canal. Os resultados são
apresentados de forma imediata na aplicação
Tabela 6.1 – Funcionamento da aplicação

91
6.5. Resultados Práticos
Agora que o funcionamento do programa está explicado, torna-se necessário
utilizar um exemplo ilustrativo do mesmo. Desta forma, idealiza-se então uma
rede WiMAX. Em termos de parâmetros tecnológicos, estes são apresentados na
figura 6.7. A figura 6.8 apresenta, por sua vez, os perfis de utilizadores e
respectiva densidade. Já o tipo de terreno considerado é urbano e os requisitos
para cada serviço mantêm-se inalterados em relação aos que foram considerados
no capítulo 5.

Fig. 6.7 – Parâmetros tecnológicos utilizados na simulação

92
Fig. 6.8 – Perfis de utilizador presentes na rede

Após todos estes dados terem sido correctamente introduzidos na ferramenta,


esta apresentou a solução da figura 6.9 como a melhor. Os critérios desenhados
nesta ferramenta são, como já foi dito, o menor número de sectores possível e o
tamanho do canal. Assim, esta solução apresenta apenas um sector, com um
canal de 5 MHz. No entanto, o alcance da célula é de 1.55 km, o que poderá não
ser suficiente para cobrir toda a área que se pretende. Assim, poderiam
apresentar-se algumas soluções para este problema. Uma delas seria a de usar
uma estrutura celular, com várias células com as mesmas características. Isto
poderia implicar um maior custo de implementação.

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Fig. 6.9 – Primeira solução apresentada pela ferramenta de planeamento celular

A ferramenta permite o ajuste de todos os parâmetros para encontrar o que


melhor se ajuste ao caso de estudo. Mantendo o tamanho do canal e aumentando
o número de sectores para 3, é possível aumentar o alcance até 2.33 km, o valor
máximo até onde a capacidade total da célula é superior à necessária. Com esta
solução, presente na figura 6.10, o ganho em alcance permite cobrir uma área
maior, e consequentemente servir um maior número de utilizadores. No entanto,
está-se a usar uma solução com 3 sectores. Ainda poderá existir a possibilidade
de conseguir um alcance semelhante utilizando um número menor de sectores,
bastando para tal alterar o tamanho do canal. Como se considera ter uma Largura
de Banda de 27 MHz, existe ainda uma boa margem de manobra para utilizar
este espectro. A figura 6.11 é resultado deste tipo de manipulação. Ao reduzir o
número de sectores e aumentar o tamanho do canal para 10 MHZ, foi possível
encontrar uma solução para este problema, sendo que a célula passa a ter um
alcance de 2Km mas tem capacidade para satisfazer as necessidades existentes.
É possível também encontrar mais soluções à medida que se aumenta o tamanho
do canal. Exemplo disso é a figura 6.12, em que o tamanho do canal é o máximo
e se consegue um alcance de 2.45 Km.

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Fig. 6.10 –Solução possível apresentada pela ferramenta de planeamento celular, com 3 sectores

Fig. 6.11 – Outra possível solução apresentada pela ferramenta de planeamento celular

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Fig. 6.12 – Outra possível solução apresentada pela ferramenta de planeamento celular, com maior alcance

Como é evidente, a ferramenta simplifica em muito o processo de cálculo que


envolve o planeamento de uma célula WiMAX. No entanto, cabe ao utilizador
escolher a melhor opção que se enquadre no caso de estudo. Há todo um
conjunto de factores que devem ser postos em consideração: alcance pretendido,
custo de implementação, largura de banda disponível. No entanto, estes são os
factores com os quais o utilizador terá que lidar numa fase inicial, já que também
terá que ter em linha de conta factores relacionados com a escalabilidade. Se por
exemplo optar por canais de elevada largura de banda, provavelmente terá que
enfrentar problemas de escassez de espectro se pretender colocar novos
sectores ou construir uma estrutura celular com uma reutilização de frequências
elevada.
Conclui-se, portanto, que o leque de opções é alargado e a aplicação
desenvolvida ajuda a perceber rapidamente as várias opções existentes. Cabe,
no entanto, ao utilizador seleccionar a opção que melhor satisfaça as
necessidades presentes do caso em estudo, sem esquecer as necessidades
futuras.

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6.6. Sumário
Este capítulo dedicou-se à apresentação da aplicação de planeamento
WiMAX desenvolvida no âmbito da dissertação. Assim, foi possível conhecer o
seu modo de funcionamento, tendo sido obtidos resultados de forma bastante
mais rápida e simples do que anteriormente.
Os resultados são expressos em termos de capacidade da célula e número
de utilizadores, como ficou presente nas figuras 6.9 a 6.12. A possibilidade de
alterar vários parâmetros é uma mais valia, já que permite a obtenção de
diferentes resultados, sendo que as figuras seleccionadas apenas são alguns
exemplos deste processo de optimização.

97
98
7. Conclusões e Trabalho Futuro
7.1. Conclusões
Neste trabalho efectuou-se um estudo acerca da possibilidade de
implementação da tecnologia WiMAX em quatro cenários distintos. Em cada um
dos cenários estudou-se o efeito de diversos parâmetros para se conseguir
encontrar uma solução para suprir as carências dos seus utilizadores, em termos
de capacidade.
Foi possível verificar que há certos factores que têm bastante influência no
desempenho do sistema e, como tal, devem ser planeados cuidadosamente. Um
exemplo disso mesmo é a altura a que se encontra a BS, que deverá ser elevada
para que as perdas de percurso sejam minimizadas. Outro factor que é bastante
influente é a largura de banda escolhida. Conclui-se que para canais com maior
espectro consegue-se melhor desempenho. Mas o espectro é, normalmente, algo
controlado e regulamentado pelo que se poderá tornar um entrave a escolha de
maior largura de banda. Por outro lado, por vezes o projectista deve planear a
rede celular tendo em vista o desempenho em detrimento do alcance para poder
servir uma densidade de utilizadores realista. Assim, ao reduzir o tamanho das
células é possível aumentar a capacidade das mesmas.
Apresentou-se uma solução para uma aplicação que simplifica o processo de
planeamento de uma rede WiMAX. Através da sua utilização é possível de forma
rápida fazer um estudo acerca das várias possibilidades de implementação de
uma célula, obtendo resultados a nível de alcance, capacidade, número de
utilizadores que pode servir, largura de banda.
Este estudo serve, no entanto, para apenas se ter uma ideia um pouco vaga
acerca da implementação de um cenário WiMAX, uma vez que carece de
bastantes informações geográficas que poderão ser bastante importantes para a
obtenção de um planeamento mais eficiente. Fenómenos como por exemplo a
refracção no topo de edifícios, ou shadowing não são previstos pelo modelo
empírico utilizado (SUI). Para fazer um planeamento o mais eficiente possível
recomenda-se o recurso a software SIG (Sistema de Informação Geográfica), já
que este tipo de software lida com informações topográficas da área a
implementar, podendo prever com bastante precisão quais as zonas LOS ou
NLOS usando, também, modelos de propagação bastante completos.

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No que diz respeito aos resultados obtidos, pode-se dizer que se tem agora
uma perspectiva bastante melhor acerca da capacidade de uma rede WiMAX
para satisfazer as necessidades de utilizadores fixos. Na verdade, existe toda
uma variedade de parâmetros que se deve ter em conta quando se está a
projectar este tipo de redes e, após os resultados obtidos, já é possível prever
qual o efeito que cada um deles apresenta.
O WiMAX é uma tecnologia cujo potencial é enorme, por estar a ser
desenvolvido tendo em vista a resolução de problemas reais. Utiliza a tecnologia
OFDM (e S-OFDMA), o que permite um bom desempenho ao mesmo tempo que
oferece robustez para fazer face a problemas típicos de comunicações sem fios.
Trata-se de uma tecnologia que tem uma particularidade bastante importante:
o facto de suportar QoS. A existência de classes de serviço permite que haja
diferenciação no tipo de tráfego que circula na rede. Assim, é possível oferecer
melhor serviço ao tráfego que seja considerado prioritário, como por exemplo
conversações em tempo real.
As inúmeras aplicações que esta tecnologia pode oferecer poderão tornar-se
uma mais valia num futuro próximo, já que vão de encontro a um dos objectivos a
atingir pelo mundo das telecomunicações: Ubiquidade. Através desta tecnologia
será possível oferecer acesso à internet a locais até agora inacessíveis ou aos
quais seria bastante dispendiosa a implementação de qualquer serviço com fios.
Em termos de uso rural, o WiMAX é, de facto, uma solução aliciante para fornecer
serviços de voz, dados e televisão a zonas que até então não seriam cobertas.
Estas zonas terão boas condições para a implementação de redes sem fios, na
medida em que não terão muitos obstáculos com efeitos destrutivos no sinal.

7.2. Trabalho Futuro


Na secção 6 ficou bastante claro que a aplicação desenvolvida possui
funcionalidades que se encontram desactivadas. Assim, a ferramenta de
planeamento celular ainda só tem desenvolvidos os módulos para fazer o
planeamento de WiMAX Fixo.
No entanto, antes de passar para o WiMAX móvel e ainda WiMAX com
topologia em malha, é necessário primeiro efectuar alguns cálculos,
nomeadamente no que diz respeito às soluções tecnológicas. Como todo o
estudo está feito em termos de capacidade, terá que ser feita uma previsão
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acerca do impacto que a introdução de cada uma dessas tecnologias terá em
termos de capacidade. Para além disto, também será necessário perceber qual o
efeito no alcance obtido. A aplicação terá, então, que ter um melhor algoritmo de
escolha da melhor opção de implementação, na medida em que o algoritmo
implementado poderá revelar-se insuficiente.
Posto isto, pode-se dizer que como trabalho futuro se pode considerar o
estudo detalhado de WiMAX móvel e em malha, para posterior integração na
aplicação desenvolvida.

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8. Referências
[1] IEEE, IEEE Standard for Local and Metropolitan Area Networks—Part 16:
Air Interface for Fixed Broadband Wireless Access Systems, Standard 802.16-
2004, IEEE, New York, 2004.
[2] IEEE, IEEE Standard for Local and Metropolitan Area Networks—Part 16:
Air Interface for Fixed Broadband Wireless Access Systems, Standard 802.16-
2005, IEEE, New York, 2005.
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Prentice Hall, 2007
[4] – Ahson S., ILYAS M., WiMAX Applications, CRC Press, 2007
[5] – Ahson S., ILYAS M., WiMAX Technologies, CRC Press, 2007
[6] - Ahson S., ILYAS M., WiMAX Standards and Security, CRC Press, 2007
[7] – Nuaymi L, WiMAX – Technology for Broadband Wireless Access, John
Wiley and Sons, 2007
[8] – Jain R, WiMAX PART I: PHY, Washington University of Saint Louis, 2008
[9] – Ramamurthy H and Gadh R, 802.16 Network Planning Tool, WINMEC,
2003
[10] – Gray D, A Comparative Analysis of Mobile WiMAX Deployment
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[11] – Sargento S., Gestão de Recursos em Redes com Suporte de Qualidade
de Serviço, 2003
[12] – Zhang Y., Hwa Chen H., Mobile WiMAX Toward Wireless Metropolitan
Area Networks, Taylor and Francis Group, 2008
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IEEE, Croatia, 2006
[14] – K.Raghunath, Fixed WiMAX Cell Design, 2007
[15] – Pareek D., The Business of WiMAX, Wiley, 2006
[16] – www.anacom.pt
[17] – www.wimax360.com
[18] – www.bandcalc.com
[19] – www.iptvarticles.com
[20] – Sargento S., Nogueira A, Textos de Apoio de Análise de Redes de
Telecomunicações, Universidade de Aveiro, 2007

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