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UNIVERSIDADE NILTON LINS

ENGENHARIA CIVIL

FRANCISCO QUITÉRIO ANDRADE PICANÇO

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE UM FILTRO ANAERÓBIO CONFECCIONADO COM


GARRAFAS PET EM UMA ETE LOCALIZADA NA CIDADE DE MANAUS

MANAUS-AM
2020
FRANCISCO QUITÉRIO ANDRADE PICANÇO

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE UM FILTRO ANAERÓBIO CONFECCIONADO COM


GARRAFAS PET EM UMA ETE LOCALIZADA NA CIDADE DE MANAUS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Nilton
Lins, como requisito parcial à obtenção do
Grau de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Igor Nonato Almeida


Pereira

MANAUS-AM
2020
FRANCISCO QUITÉRIO ANDRADE PICANÇO

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE UM FILTRO ANAERÓBIO CONFECCIONADO COM


GARRAFAS PET EM UMA ETE LOCALIZADA NA CIDADE DE MANAUS

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Nilton
Lins, como requisito parcial à obtenção do
Grau de Bacharel em Engenharia Civil.
RESUMO

O tratamento de efluente ganhou um novo viés com a escassez hídrica, intensificada


pela preocupação demonstrada pelas principais organizações mundiais, no que se
refere à sustentabilidade e ao meio ambiente, de modo que, várias normas e
diretrizes têm sido estabelecidas, no intuito de se priorizar e padronizar o tratamento
da água e o saneamento básico, nos países ao redor do globo. Assim, além das
exigências de atendimento aos padrões de lançamento de efluentes em corpos
aquáticos (cada vez mais restritivos), também se tem investido em tecnologias de
tratamento objetivando as práticas de reuso in loco ou comercialização de água de
reuso. Nesse sentido, dentre as tecnologias amplamente disseminadas e já
consolidadas no país, destacam-se os tanques sépticos e os filtros biológicos, sendo
os filtros preenchidos com material de enchimento, os que mais ganharam espaço
na aplicação no tratamento de esgotos domésticos centralizados e individuais, em
virtude de suas vantagens suas inúmeras vantagens. Com efeito, o filtro anaeróbio
tem recebido grande destaque, ainda, em razão de sua capacidade de reter os
sólidos e de recuperar-se de sobrecargas qualitativas e quantitativas, conferindo
elevada segurança operacional ao sistema e maior estabilidade ao efluente,
produzindo pouco lodo, de operação simples e baixo custo. Diante do acima
exposto, o presente estudo teve por objetivo avaliar a eficiência de um modelo de
filtro anaeróbio, onde seu meio filtrante foi confeccionado a partir do filete da garrafa
PET, projetado para uma Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), localizada na
cidade de Manaus, objetivando demonstrar as vantagens de se utilizar o tratamento
anaeróbico para o tratamento de efluentes, mediante realização de coleta de dados
de análise de afluente aquosos em campo, e verificar se as amostras da saída e
entrada do efluentes encontrados na ETE estão dentro dos padrões de normalidade
padronizados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), aliada à
pesquisa bibliográfica, para consubstanciar os resultados encontrados.

Palavras-chave: Filtro Anaeróbio; PET; ETE; Eficiência.


ABSTRACT

Effluent treatment has gained a new bias with water scarcity, intensified by the
concern shown by major global organizations regarding sustainability and the
environment, so that several standards and guidelines have been established, in
order to prioritize and standardize water treatment and sanitation in countries around
the globe. Thus, in addition to the requirements to meet the patterns of effluent
release in aquatic bodies (increasingly restrictive), it has also been invested in
treatment technologies targeting the practices of on-site reuse or marketing of reuse
water. In this sense, among the technologies widely disseminated and already
consolidated in the country, are highlighted septic tanks and biological filters, being
the filters filled with filling material, those that have gained the most space in the
application in the treatment of domestic sewers centralized and individual, because
of their advantages its numerous advantages. In fact, the anaerobic filter has
received great emphasis, still, because of its ability to retain the solids and to recover
from qualitative and quantitative overloads, giving high operational safety to the
system and greater stability to the effluent, producing little sludge, simple operation
and low cost. In view of the above, the present study aimed to evaluate the efficiency
of an anaerobic filter model, where its filter medium was made from the fillet of the
PET bottle, designed for an Effluent Treatment Station (ETE), located in the city of
Manaus, aiming to demonstrate the advantages of using anaerobic treatment for the
treatment of effluents, by collecting aqueous tributary analysis data in the field, and
verify that the samples of the output and entry of the effluent found in the ETE are
within the normality standards standardized by the National Council of the
Environment (CONAMA), together with the bibliographic research, to consubstantiate
the results found.

Keywords: Anaerobic filter; PET; ETE; Efficiency.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma de um Sistema centralizado de tratamento de esgoto ........... 27


Figura 2. Diferenças entre os sistemas anaeróbios e os sistemas aeróbios ............. 33
Figura 3. Filtro anaeróbio .......................................................................................... 35
Figura 4. Planta baixa ETE........................................................................................ 46
Figura 5. Construção do filtro anaeróbio: aplicação de resina (a); roving (b) ............ 46
Figura 6. Introdução de material de PET no filtro anaeróbio. .................................... 47
Figura 7. Estrutura interna do filtro anaeróbio (corte A) ............................................ 47
Figura 8. Apresentação final da ETE do Comando Militar ......................................... 48
Figura 9. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do
Efluente - janeiro 2019 – Pagina 1 de 2. ................................................................... 63
Figura 10. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do
Efluente - janeiro 2019 – Pagina 2 de 2. ................................................................... 64
Figura 11. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do
Efluente - março 2019 – Pagina 1 de 2. .................................................................... 65
Figura 12. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do
Efluente - março 2019 – Pagina 2 de 2. .................................................................... 66
LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Vantagens e desvantagens dos processos de tratamento anaeróbios .... 32


LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Distribuição dos recursos hídricos e densidade demográfica do Brasil ..... 16


Tabela 2. Padrões de cor, pH, turbidez e temperatura (janeiro/março) ..................... 54
Tabela 3. Resíduos sólidos (janeiro/março) .............................................................. 55
Tabela 4. Resíduos químicos: entrada e saída (janeiro/março) ................................ 56
Tabela 5. Resíduos flutuantes e coliformes .............................................................. 57
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas e Técnicas


CH4 Gás Metano
CO2 Gás Carbônico
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
DQO Demanda Química de Oxigênio
ETE Estação de Tratamento de Efluentes
IBGE Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística
OD Oxigênio Dissolvido
OMS Organização Mundial de Saúde
RAFA Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 14
2.1 GESTÃO AMBIENTAL E SANEAMENTO BÁSICO............................................................. 14
2.1.1 Saneamento básico e esgoto sanitário no Brasil .............................................. 15
2.1.1.1 Principais definições acerca de saneamento básico ..................................... 20
2.1.1.2 Esgotamento sanitário ................................................................................... 22
2.2 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO (ETE) .......................................................... 23
2.2.1 Processos envolvidos em uma ETE ................................................................. 26
2.3 TRATAMENTO ANAERÓBIO ....................................................................................... 30
2.3.1 Filtro anaeróbio: características e propriedades ............................................... 34
2.3.2 Normas técnicas e resoluções voltadas para a construção de um filtro
anaeróbio .................................................................................................................. 36
2.3.2.1 NBR 13969/1997 ........................................................................................... 36
2.3.2.2 Resolução Nº 430/2011 ................................................................................. 39
2.3.3 Gerenciamento do lodo gerado no filtro anaeróbio .......................................... 41
2.3.4 A utilização de materiais alternativos como meio suporte de filtros anaeróbios
.................................................................................................................................. 44
2.4 ETE DO COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA ............................................................... 45
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 49
3.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................... 49
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................ 49
4 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 50
4.1 ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................... 50
4.2 COLETA E ANÁLISE DE DADOS .................................................................................. 50
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 54
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 59
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 61
8 ANEXO................................................................................................................... 63
11

1 INTRODUÇÃO

A água é elemento de caráter indispensável à manutenção da vida de uma


esmagadora maioria de seres vivos, nos mais variados níveis, sendo responsável
pelos mais diversos processos relacionados à fauna e à flora, à biodiversidade e a
vida biológica como um todo, sendo fundamental, também, para o desenvolvimento
de diversas atividades essenciais ao desenvolvimento de uma sociedade, incluindo
a agropecuária, a indústria.
No entanto, foi somente muito recentemente que a poluição dos corpos
hídricos foi considerada um problema mundial, em que o controle ou redução de
seus dejetos passaram a ser vistos como uns dos grandes desafios da gestão, em
nível global, fomentados, principalmente, pelos inúmeros danos ambientais
resultantes das práticas inadequadas das disposições dos resíduos têm influenciado
a busca de conhecimento e a atenção mundial sobre esta questão.
Uma das maiores preocupações previstas nesse quesito reside no fato de
que, no decorrer dos anos, muitos rios deixaram de existir ou foram transformados
em canais naturais de escoamento de esgoto, o impacto do lançamento de efluentes
de Estações de Tratamento de Esgotos (ETE’s) em corpos d’água tem sido motivo
de grande preocupação para a maioria das organizações, de modo que uma série
de legislações ambientais, critérios e políticas procuram influir no nível de tratamento
exigido para garantir que os impactos ambientais provocados pela disposição de
efluentes tratados sejam aceitáveis.
O objetivo do tratamento do esgoto é, pois, remover os poluentes da água
previamente usada pela população, de forma a devolvê-la aos corpos hídricos em
boas condições e de acordo com os parâmetros exigido pelos órgãos ambientais.
Para tanto, são criadas as ETE’s, ou Estações de Tratamento de Efluentes (Esgoto).
Nesse sentido, o saneamento básico, especialmente as estações de
tratamento de esgoto (ETE’s), são fundamentais para garantir que as águas já
utilizadas pela população retornem para a natureza despoluídas, contribuindo com a
prevenção de doenças, a promoção da saúde e a melhora da qualidade de vida da
comunidade.
O desenvolvimento de novas tecnologias é importante para aumentar a
eficiência nos serviços de saneamento básico. Afinal, os sistemas que pertencem ao
12

saneamento são bastante complexos, com redes de distribuição que podem se


estender até por dezenas de quilômetros. Dessa forma, para conseguir a ampliação
da oferta para a população, a otimização do tratamento e a redução dos custos, é
necessário empregar soluções criativas e inovadoras.
Nesse contexto, as empresas do setor de saneamento básico têm buscado
por novas tipologias de tratamento de esgoto, a fim de garantir alta performance
operacional e eficiência na remoção de poluentes. Nas últimas décadas, houve a
entrada de diversos players no setor, que estudam e desenvolvem novas soluções
de tratamento para agregar tecnologia aos processos convencionais já existentes,
aumentando sua performance e fazendo com que eles tragam vantagens técnicas e
econômicas para as empresas de saneamento.
Destarte, atualmente, a procura por processos de tratamento de efluentes
eficientes e de baixo custo tem sido o objetivo de diversas pesquisas, contudo, é
importante salientar que, além de novas tecnologias, é necessário buscar ajustar as
características técnicas e rotinas operacionais, visando uma melhor eficiência para
adequar sistemas de tratamento já existentes.
Nesse sentido, o tratamento biológico tem sido considerado a forma mais
eficiente de remoção da matéria orgânica dos esgotos. O próprio esgoto contém
grande variedade de bactérias e protozoários para compor as culturas microbiais
mistas que processam os poluentes orgânicos. O uso desse processo requer o
controle da vazão, a recirculação dos microrganismos decantados, o fornecimento
de oxigênio e outros fatores. Os fatores que mais afetam o crescimento das culturas
são a temperatura, a disponibilidade de nutrientes, o fornecimento de oxigênio, o pH,
a presença de elementos tóxicos e a insolação
Assim, o filtro anaeróbio tem sido apontado com um dos mais favoráveis tipos
de tratamento de efluente, em razão de seus muitos benefícios, quais sejam: baixo
consumo de energia, baixos custos de implantação, baixa produção de sólidos,
tolerância a elevadas cargas orgânicas e volumétricas e baixo consumo de
nutrientes.
Diante dessa perspectiva, o objetivo deste estudo é avaliar a eficiência da
Estação de Tratamento de Efluentes, localizada na cidade de Manaus, composta por
um filtro anaeróbio construído mediante o emprego de Garrafas PET, no intuito de
analisar se o referido recurso obedece aos parâmetros definidos em uma série de
legislações e normas técnicas de cunho ambiental, tais como a NBR 7229/1993, a
13

NBR 13969/1997 e a Resolução N° 430/2011, do CONAMA, cujos critérios e


políticas procuram influir no nível de tratamento exigido para garantir que os
impactos ambientais provocados pela disposição de efluentes tratados sejam
aceitáveis.
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Gestão ambiental e saneamento básico

Nos últimos anos, observa-se em âmbito mundial uma crescente conscientização


por parte das indústrias, das instituições acadêmicas e dos órgãos governamentais
acerca da necessidade de um tratamento eficaz ou de uma adequada disposição
final de qualquer tipo de resíduo.
Amaral et al. (apud Tucci 2013), afirmam que as universidades, como
instituições responsáveis pela formação de seus estudantes e, consequentemente,
pelo seu comportamento como cidadãos, devem também estar conscientes e
preocupadas com este problema.
Segundo Aquino e Gutierrez (2012), o conceito de Gestão Ambiental surgiu
através da premissa do desenvolvimento sustentável, sendo uma forma de gerenciar
os recursos naturais e operações de processamento de bens e serviços. Dessa
forma, as políticas de gestão ambiental surgiram necessidade de elaboração de
metas e objetivos em busca da sustentabilidade, criando o compromisso estatal e
empresarial.
Barbieri (2011) caracterizou a gestão ambiental pública como a ação do poder
público de acordo com a política ambiental pública, a qual dispõe as diretrizes e
instrumentos de ação que visam alcançar a melhoria do ambiente.
Na década de 1980, os grupos ecologistas passaram a assumir uma postura
mais ativa diante da sociedade no que dizia respeito às estratégias ambientais
adotadas pelas organizações, iniciando as preocupações ambientais e as práticas
de estratégias chamadas de “adaptação resistente” (SOUZA, 2002).
Na década de 1990, conforme Layrargues (apud Ribeiro e Rooke, 2010),
surgiu o ambientalíssimo empresarial, que teve como seu propulsor o
desenvolvimento sustentável, trazendo o equilíbrio entre os fatores econômicos,
ambientais e sociais, que equilibraram a sustentabilidade organizacional, e a partir
disto foi influenciando diversas organizações, como uma cadeia em série.
Nessa perspectiva, os impactos ambientais estão sendo cada vez mais
evidenciados na atualidade. Na medida em que o processo de exploração e
apropriação da natureza está se dando de maneira desordenada sem nenhum
15

controle e com total desrespeito com um bem tão precioso: o meio ambiente. A
preocupação está voltada para a acumulação e o crescimento econômico sem levar
em consideração o modo que este está sendo feito. Um exemplo é o aumento da
geração de resíduos sólidos típico do mundo atual e do processo capitalista no qual
estamos inseridos. Neste processo capitalista, o consumo é incentivado como forma
de fomentar o desenvolvimento econômico (PEREIRA & CURI, 2012).
Dessa forma, seria possível fazer com que cada ser humano soubesse da
responsabilidade que tem pelo meio em que vive, passando de agente passivo, que
só observa o que acontece ao seu redor, para agente ativo, contribuindo para a
preservação do meio ambiente (PEREIRA & CURI, 2012).
Segundo Tucci (2013), são duas as principais motivações para o tratamento
de efluentes, são elas: a preservação do meio ambiente e a proteção à saúde
pública, sendo, os efluentes industriais e os esgotos domésticos, os principais
responsáveis pela redução do oxigênio em corpos hídricos, aporte na contribuição
de sólidos, nutrientes e micro-organismos patogênicos.
A implantação de uma ETE em uma organização para o tratamento de seus
efluentes é extremamente importante e requer o conhecimento de todo o sistema de
tratamento de efluentes e o que integra uma rede de lançamentos de resíduos, a fim
de proporcionar uma gestão eficaz e eficiente.

2.1.1 Saneamento básico e esgoto sanitário no Brasil

Biologicamente, não existe vida sem água. Os homens, os animais e as


plantas necessitam da mesma para sobreviverem, por exemplo, o corpo humano é
constituído de 65% de água, aproximadamente.
Estando distribuída de forma desuniforme pelo planeta e sendo regida por seu
ciclo, pode apresentar-se em três formas distintas: sólida, líquida e gasosa. Na
forma sólida se encontra principalmente nas geleiras, cerca de 2,2% da água total;
na forma líquida se encontra como água do mar, cerca de 97,0% da água total, e
água doce (subterrânea e superficial), cerca de 0,8% da água total; na forma gasosa
não é contabilizada (VON SPERLING, 2014).
O Brasil é, em razão de suas características hidrográficas, é considerado um
país extremamente privilegiado, abrigando cerca de 12% das reservas mundiais de
água doce. No entanto, a distribuição dessa água ocorre de maneira completamente
16

desigual, de modo que, justamente, as áreas menos povoadas do país é que


concentram a maior parte dos recursos hídricos, conforme a Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição dos recursos hídricos e densidade demográfica do Brasil


Densidade demográfica Concentração dos
Região
(habitante/km2) recursos hídricos do país
Norte 4,12 68,5%

Nordeste 34,15 3,3%

Centro-Oeste 8,75 15,7%

Sudeste 86,92 6,0%

Sul 48,58 6,5%


Fonte: IBGE/Agência Nacional de Águas (2010)

Verifica-se, assim, que a região Norte, que possui uma densidade de apenas
4,12 habitantes para cada quilômetro quadrado, concentra quase 70% de todos os
recursos hídricos disponíveis no Brasil. A maior parte desses recursos encontra-se
nos rios da Bacia do Amazonas e, principalmente, no Aquífero Alter do Chão,
exclusivo dessa região e com um volume de água superior ao Aquífero Guarani, que
se distribui entre as demais áreas (exceto o Nordeste).
O Nordeste, em contrapartida, com uma densidade de 34,15 pessoas para
cada quilômetro quadrado, ao passo em que detém apenas 3,3% de todos os
recursos hídricos do país, o que seria mais do que suficiente se houvesse políticas
públicas de combate à seca nessa área. Vale lembrar que apenas uma parte do
Nordeste – a região do Polígono das Secas – é que eventualmente sofre com a falta
d'água, e não a região nordestina como um todo.
A região Centro-Oeste apresenta um melhor equilíbrio, com uma densidade
demográfica média de 8,75 habitantes para cada quilômetro quadrado, e sua
população total representa pouco mais que 6% do total da população brasileira. A
região possui cerca de 15,7% dos recursos hídricos do país, relativamente bem
distribuídos em seu interior, embora o Pantanal mato-grossense detenha a maior
parte.
17

Já o Sudeste conta com apenas 6% dos recursos hídricos do país e uma


densidade demográfica superior aos 86 habitantes para cada quilômetro quadrado,
média que se acentua muito nas áreas das grandes cidades, principalmente Rio de
Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
A região Sul do Brasil, por sua vez, apresenta um desequilíbrio menor, porém
não menos preocupante. Com uma densidade demográfica de 48,58 habitantes por
quilômetro quadrado e cerca de 15% da população brasileira, os sulistas detêm
cerca de 6,5% da água potável do país.
Assim, a Região Amazônica detém a menor concentração populacional e
dispõe do maior percentual de água superficial existente em solo nacional, enquanto
que o Sudeste, com maior concentração demográfica, dispõe de, apenas, 6% desse
recurso.
Dentre as principais causas para essas disparidades, pode ser citado
crescimento populacional acelerado, o que aumentou a gravidade de alguns
problemas já existentes, uma vez que os investimentos em infraestrutura, incluindo-
se o saneamento básico, geralmente, não seguem o ritmo de crescimento
populacional.
O Brasil registra também elevado desperdício: de 20% a 60% da água tratada
para consumo se perde na distribuição, dependendo das condições de conservação
das redes de abastecimento. Além dessas perdas de água no caminho entre as
estações de tratamento e o consumidor, o desperdício também é grande nas
residências.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA) no Brasil, a água é utilizada
para diversos fins como, irrigação, abastecimento, fins industriais, geração de
energia, mineração, agricultura, navegação, turismo e lazer. Nesse sentido, cada
uso está ligado a uma determinada quantidade e qualidade, com possíveis
alterações nas condições naturais das águas subterrâneas e superficiais.
Dessa forma, foi necessária a criação de uma lei para atender a demanda de
todos os setores, a Lei Nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997 (Brasil, 1997) que dista
sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecendo a água como um
bem de domínio público, é um recurso natural limitado e dotado de valor econômico,
em situações de escassez o uso prioritário é o consumo humano e a dessedentação
de animais, a gestão deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas.
18

Apesar de ser um serviço de saneamento básico essencial para a promoção


da saúde da população e para a proteção ambiental, estima-se que cerca de 2,4
bilhões de pessoas no mundo ainda vivam sem acesso a práticas adequadas de
esgotamento sanitário, o que representa cerca de 32% da população global
(WHO/UNICEF, 2015).
Realizada em setembro de 2019, a Comissão de Serviços de Infraestrutura do
Senado, durante audiência pública, alertou, por meio de seus expositores, para o
fato de que 48% da população brasileira ainda não têm coleta de esgoto, exigindo
uma prestação governamental intensa para modificar esse cenário.
Dados divulgados pelo IBGE, em 2013, demonstraram que, dos 65.130
domicílios investigados, pouco mais da metade possui esse serviço por rede
coletora (55,2%), independente da extensão dessa rede, do número de domicílios
ligados ao sistema de coleta e da qualidade do tratamento do esgoto, havendo
enormes disparidades entre a cobertura na região Sudeste (88,3%) e Norte (19,3%),
por exemplo (PNAD, 2015).
Isso significa que, de 2013 a 2019, pouco mudou a realidade do saneamento
básico nacional, agravada pela ausência de universalização dos serviços de um
esgotamento sanitário adequado, principalmente, nas zonas periféricas e municípios
de menor infraestrutura, sendo o destino mais comum, para os esgotos domésticos,
as fossas rudimentares (53,17%), as fossas sépticas (8,03%), as valas a céu aberto,
bem como a disposição direta em corpos d’água e outras formas de disposição
incorreta (3,35%) (LANDAU E MOURA, 2016).
Um dos principais fatores responsáveis pela de uma infraestrutura apropriada
para o tratamento do esgoto sanitário está relacionado ao crescimento populacional
e o processo de urbanização desordenado, caracterizado pelo surgimento de
diversos impactos ambientais adversos, inclusive o consequente aumento na
geração de esgotos, o que vêm ocasionando um grande desafio para as cidades
brasileiras, mormente nas áreas periféricas. (AURORA; KAZMI, 2015).
Nesse sentido, as cidades do Norte e do Nordeste são consideradas as
regiões mais atingidas pela crescente pressão demográfica, marcada pela ausência
de um saneamento básico à altura do fluxo recebido, especialmente, no que
concerne aos serviços de coleta e o de tratamento dos esgotos sanitários,
resultando na disposição inadequada dos esgotos sanitários nos corpos hídricos
receptores. (AURORA; KAZMI, 2015).
19

Esse déficit nos serviços de esgotamento sanitário, acaba alterando a


qualidade ambiental dos corpos hídricos e, provocando danos diretamente sobre a
saúde da população, devido os esgotos serem diretamente lançados nos cursos
d’água sem passarem por um tratamento adequado, o que agrava ainda mais as
condições ambientais das áreas afetadas pelos despejos de esgotos.
Em verdade, de acordo com “esgotômetro”, medidor de esgoto despejado na
natureza, disponível no site do Trata Brasil, o equivalente a mais de 1,5 milhão de
piscinas olímpicas de esgoto foi lançado ao meio ambiente no Brasil, desde 1º de
janeiro de 2019. (TRATA BRASIL, 2016)
Como resultado, em razão do baixo índice de redes coletoras de esgoto, são
graves os problemas relacionados com a saúde pública e com a degradação
ambiental, pois a maior parte dos efluentes não encontra destinação adequada,
sendo despejado nos rios, lagos, lagoas e no solo sem qualquer tratamento prévio
(ALMEIDA JÚNIOR, et al, 2017)
Tendo em vista a necessidade do saneamento ambiental e do esgoto
sanitário para o desenvolvimento econômico e social da população, é evidente que o
setor de saneamento brasileiro venha sendo, cada vez mais, demandado pela
sociedade para aprimorar seus mecanismos de atuação, sendo convocado a
contribuir significativamente para a melhoria das condições ambientais.
Isso tem motivado os prestadores de serviços de saneamento a refletir sobre
seus planejamentos estratégicos, fazendo-os assumir a postura de empresas
inovadoras aptas a prestar serviços ambientais.
Esse papel torna-se ainda mais relevante em um cenário global de mudanças
climáticas e de escassez hídrica, energética e de nutrientes, exigindo que as ações
correntes sejam executadas de acordo com os requisitos legais atuais, porém em
conformidade também com as demandas do futuro. Essas perspectivas,
normalmente, não são contempladas nas estratégias de universalização dos
serviços de esgotamento sanitário, porém são fundamentais para a perenidade dos
modelos de negócios inerentes aos serviços de saneamento ambiental no Brasil.
Nesse contexto, surgem as estações sustentáveis de tratamento de esgoto
(ETE’s sustentáveis): instalações sanitárias capazes de transformar o esgoto em
recursos que gerem valor para a sociedade, de forma sistemática, integrada e
sustentável.
20

Nas ETE’s sustentáveis o foco está na valorização do esgoto e,


consequentemente, nos produtos e benefícios inerentes ao processo, atualizando a
compreensão acerca do papel dos sistemas de esgotamento sanitário e tornando-os
viáveis no âmbito de uma economia circular.
A aplicação desse conceito exige uma percepção holística em torno da bacia
hidrográfica, abrangendo desde as fontes iniciais da captação dos produtos da
coleta até a cadeia de recuperação de recursos, tendo-se em vista, a redução do
uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.
As ETE’s sustentáveis representam, portanto, um novo marco para o
saneamento básico e tratamento do esgoto sanitário, uma vez que as estações
convencionais consideram o esgoto apenas como um resíduo descartável a partir do
qual precisam ser removidos poluentes e contaminantes antes de sua destinação
final, ao passo que as ETE’s estão preocupadas em executar uma série de
operações unitárias que depuram o esgoto até que suas propriedades possam
atingir padrões aceitáveis de lançamento em corpos hídricos.
Assim, a ETE sustentável está alinhada com o conceito do berço ao berço
(cradle-to-cradle), que inspira a criação de um sistema produtivo circular, no qual o
esgoto é um recurso necessário para ciclos contínuos ao invés de ser considerado
um resíduo descartável. Estudos relatam, por exemplo, que aproximadamente 20%
do nitrogênio e do fósforo manufaturados no mundo estão presentes no esgoto
doméstico e que a energia química proveniente do processamento do esgoto é
equivalente a 4% do consumo de energia elétrica mundial.

2.1.1.1 Principais definições acerca de saneamento básico

O saneamento básico é definido pela Lei Nº 14.026, de 15 de julho de 2020,


como o conjunto de serviços públicos, infraestruturas e instalações operacionais em
quatro áreas: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais
(BRASIL, 2007).
Além de trazer definições importantes, a lei também estabelece diretrizes
nacionais e princípios fundamentais para a universalização do acesso ao
saneamento, abordando o conjunto de serviços de abastecimento público de água
potável; coleta, tratamento e disposição final adequada dos esgotos sanitários;
21

drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, incluindo, ainda, a limpeza urbana
e o manejo dos resíduos sólidos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), entende-se por
saneamento básico o manejo de todos os elementos do meio físico do homem, que
atuam ou podem atuar prejudicialmente afetando o bem-estar físico, social e mental
do meio em que se encontram. Pode-se entender o saneamento como um grupo de
ações socioeconômicas objetivando a salubridade ambiental, essa salubridade pode
ser definida como a condição normal no que se diz a respeito a vivência da
população, tanto na técnica de inibir e prevenir, quanto na tática de impedir a
incidência de epidemias e endemias associadas ao meio ambiente (RIBEIRO E
ROOKE, 2010).
Diante do exposto, é necessário que exista uma mudança paradigmática no
que concerne ao comportamento do ser humano diante da problemática ambiental
instaurada, como destaca Sorrentino (apud Pereira, 2012, p. 19), ao afirmar que “é
preciso despertar em cada indivíduo o sentimento de ‘pertencimento’, participação e
responsabilidade na busca de respostas locais e globais que a temática do
desenvolvimento sustentável nos propõe”.
O saneamento básico é fundamental para a qualidade de vida da população,
evita a contaminação dos recursos hídricos, a poluição visual, a proliferação de
doenças, e assim diminui índices importantes para o país como a mortalidade
infantil.
De acordo com dados do IBGE, de 2010, doenças relacionadas ao
saneamento básico ineficiente foram responsáveis, em média, por 13.449 óbitos por
ano ao longo do período de 2001 a 2009, 1,31% dos óbitos ocorridos no período.
Todos esses agravados levaram a uma despesa total de 2,141 bilhões de reais no
período de 2001 a 2009, ou seja, 2,84% do gasto total do SUS com consultas
médias e internações hospitalares”. (TEIXEIRA et al., 2014).
Segundo dados divulgados pela OMS, as doenças oriundas da falta
de saneamento básico são decorrentes tanto da quantidade como da qualidade das
águas de abastecimento, do afastamento e destinação adequada dos esgotos
sanitários, do afastamento e destinação adequada dos resíduos sólidos, da ausência
de uma drenagem adequada para as águas pluviais e, principalmente, pela falta de
uma educação sanitária.
22

2.1.1.2 Esgotamento sanitário

No Brasil, o saneamento básico é um direito assegurado pela Constituição e


definido pela Lei nº. 11.445/2007 como o conjunto dos serviços, infraestrutura e
instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza
urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais.
Por sua vez, o esgotamento sanitário, considerado uma das principais fontes
de contaminação da água doce nacional, quando feito de forma inapropriada, de
acordo com as especificações contidas na Lei Nº 14.026, também conhecida como
Lei do Saneamento Básico, recebe a seguinte definição:

"Art. 3º Para fins do disposto nesta Lei, considera-se:


(...)
b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades e pela
disponibilização e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais
necessárias à coleta, ao transporte, ao tratamento e à disposição final
adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até sua
destinação final para produção de água de reuso ou seu lançamento de
forma adequada no meio ambiente;
(BRASIL, 2020)

O esgoto doméstico se diferencia do industrial, animal e hospitalar. No esgoto


doméstico há uma menor exigência de oxigênio para degradar a matéria orgânica do
que no industrial, hospitalar e animal, porém, todos os tipos de esgoto necessitam
de tratamento adequado, evitando assim a poluição e a contaminação do ambiente
(JORDÃO & PESSOA, 2011).
A contaminação das águas pelos esgotos gera implicações ambientais e
implicações na saúde pública, pois, a saúde de uma população está interligada a
qualidade da água consumida. A contaminação por substâncias orgânicas e
degradáveis entre elas o nitrogênio, o fósforo, acarretam uma grande proliferação de
organismos autótrofos que passam a consumir grande parte do oxigênio dissolvido
na água, causando a morte da fauna local. (BACKES, 2016)
Em geral, os sistemas de tratamento de esgotos domésticos empregados são
de caráter biológicos. Os sistemas biológicos de tratamento podem ser descritos por
proporcionarem a aceleração das reações biológicas que ocorrem espontaneamente
23

na natureza, de forma que ocorra a degradação de substâncias poluentes por ação


de microrganismos.
Havendo oxigênio livre (dissolvido), são as bactérias aeróbias que promovem
a decomposição. Na hipótese de ausência do oxigênio, a decomposição se dá pela
ação das bactérias anaeróbias. Assim, a decomposição aeróbia diferencia-se da
anaeróbia pelo seu tempo de processamento e pelos produtos resultantes.
Em condições naturais, a decomposição aeróbia necessita três vezes menos
tempo que a anaeróbia e dela resultam gás carbônico, água, nitratos e sulfatos,
substâncias inofensivas e úteis à vida vegetal. O resultado da decomposição
anaeróbia é a geração de gases como o sulfídrico, metano, nitrogênio, amoníaco e
outros, geralmente, gases malcheirosos.
De acordo com Jordão e Pessoa (2011) e Von Sperling (2017), os esgotos
provenientes de uma cidade são basicamente originados das seguintes fontes:
esgotos domésticos, esgotos industriais e esgotos pluviais. Os esgotos domésticos
são constituídos de esgotos incluindo residências, instituições e comércio, cujas
características físico-químicas sejam aquele particular ao esgoto residencial. Por sua
vez, os despejos de origem industrial constituem-se do despejo dos esgotos do
processo de uma indústria, com características físico-químicas distintas do esgoto
doméstico.
Finalmente, os esgotos pluviais, que muitas das vezes estão ligados de forma
clandestina ao sistema de drenagem urbana, contribuem para a poluição das águas,
e apresentam um impacto significativo sobre o meio ambiente (JORDÃO E
PESSOA, 2011).

2.2 Estação de tratamento de esgoto (ETE)

Estações de Tratamento de Esgoto (ETE’s) são unidades onde o esgoto, após sair
das nossas residências e passar pela rede coletora por meio de um longo sistema
de tubos subterrâneos, é levado para ser tratado, podendo assim, ser devolvido ao
meio-ambiente e lançado em rios, lagos ou no mar. Tem como principal objetivo
reproduzir, em menor espaço de tempo, a capacidade dos cursos d’água de
decompor naturalmente a matéria orgânica. Os processos de tratamento do esgoto
podem ser físicos, químicos e biológicos.
24

O tratamento do esgoto consiste na separação da parte líquida da parte sólida


e no tratamento de cada uma delas, separadamente. O objetivo é reduzir a carga
poluidora de modo que elas possam ser dispostas adequadamente, sem causar
prejuízos ao meio ambiente. Processos físicos, químicos e biológicos são usados
para remover contaminantes e produzir águas residuais tratadas (ou efluentes
tratados) mais seguros para o meio ambiente.
De acordo com Von Sperling (2014), os estudos sobre tratamento de
efluentes sanitários existentes enfatizam a construção de estações de tratamento de
esgoto (ETE) que recolhem todo efluente, enviando-o a um determinado local para
realização do tratamento.
Um dos grandes avanços implantados nas ETE foi a adoção no processo
biológico aerado dos sistemas de aeração por ar difuso, usualmente com os
difusores de bolha fina. Essa tecnologia é altamente empregada e recomendada
para as ETE compactas devido a sua elevada eficiência de tratamento e seu baixo
custo de operação, e especialmente pelo menor consumo de energia elétrica
(FARRUGIA, 2013).
Independentemente de tratar esgotos domésticos ou indústrias, podemos
definir uma ETE como: uma unidade ou estrutura projetada com o objetivo de tratar
esgotos, no qual o homem, através dos processos, simula ou intensifica as
condições de autodepuração que ocorrem na natureza, mas dentro de uma área
delimitada, onde supervisiona e exerce algum controle sobre os processos de
depuração, antes de devolver o efluente tratado ao meio ambiente.
Alguns aspectos ambientais são ocorridos devido a falhas nos sistemas de
tratamento que causam interrupções ocasionais. Esta é uma peculiaridade das ETE,
já que o tratamento de efluentes não pode parar, sua paralisação, de forma geral, já
provoca um impacto ambiental. (MONTEIRO JÚNIOR; RENDEIRO NETO, 2011)
Em relação ao tratamento de efluentes, especificamente, descargas elevadas
de efluentes com elevada carga e microrganismos, sólidos em suspensão, pH ácido
ou alcalino, temperatura alta, nutrientes em excesso, entre outros, contribuem para a
degradação dos corpos receptores ao longo de uma cadeia de abastecimento ou
escoamento de rios afluentes. (MONTEIRO JÚNIOR; RENDEIRO NETO, 2011)
Sob este aspecto, as tecnologias para tratamento dos efluentes líquidos ou
águas residuais classificam-se em grupos distintos de processos biológicos, físicos e
químicos, os quais são definidos de acordo com as características dos efluentes a
25

ser tratado. Esta definição de tecnologia para remover a carga orgânica do efluente
é necessária para a caracterização físico-química desse efluente.
A caracterização é realizada através da análise de sólidos totais, temperatura,
cor, odor, turbidez, Demanda Química de Oxigênio (DQO), Demanda Bioquímica de
Oxigênio (DBO), Potencial Hidrogeniônico (pH), Oxigênio Dissolvido (OD), entre
outros de indicadores qualidade. Os parâmetros de qualidade indicam as
características dos esgotos ou dos corpos hídricos receptores. Os parâmetros
importantes no tratamento de efluentes são aqueles previstos nas exigências legais,
demanda de projeto, operação e análise de desempenho das ETE (JORDÃO &
PESSOA, 2011).
Conforme José Backes (2016), a cor e turbidez se referem principalmente ao
aspecto estético do esgoto. A presença de sólidos dissolvidos é indicativa da
condição de chegada dos esgotos e causa a cor no efluente que chega à ETE. Já a
turbidez se deve ao conteúdo de sólidos em suspensão, microrganismos e algas,
que conferem nebulosidade ao líquido.
A temperatura é de grande importância no tratamento de efluente, por
exemplo, em esgotos domésticos, é superior à das águas de abastecimento, e os
valores variam de acordo com as estações do ano. O pH também é outro parâmetro
importante no controle de ETE, principalmente em processos anaeróbios de
oxidação, pois em pH menor que 5,0 ocorre a inibição da velocidade de nitrificação
(SANT’ANNA JR., 2010).
Dependendo da característica do efluente a ser tratado, podem-se empregar
sistemas de tratamento por processos químicos, físicos ou biológicos. Os processos
físicos incluem o uso de tanques, caixas de areia, grades, peneiras, decantadores,
entre outros. Os processos biológicos empregam microrganismos para a redução da
carga orgânica do efluente. Em processos químicos, por exemplo, pode-se utilizar
hipoclorito de sódio, hidróxido de cálcio ou outros agentes químicos para a redução
e oxidação da matéria orgânica. Geralmente, processos biológicos aeróbios
englobam lodos ativados, filtro biológico, lagoas aeradas e processos anaeróbios
(GUIMARÃES & NOUR, 2001; VON SPERLING, 2005).
A partir desses fatores, observa-se a necessidade de uma ETE que funcione
de maneira correta, para que o efluente não acarrete problemas ambientais e
sociais, visto que a matéria orgânica presente nos efluentes pode ocasionar a
26

redução de oxigênio dissolvido, causando a morte de peixes e outros organismos


aquáticos, escurecimento da água e aparecimento de maus.

2.2.1 Processos envolvidos em uma ETE

A água residuária é definida como um líquido constituído de resíduos


resultantes da atividade humana, seja ela de origem doméstica ou industrial,
enquanto que os efluentes são a parcela líquida que sai de qualquer unidade de
tratamento de esgoto. (ALMEIDA JÚNIOR, et al, 2017).
Desta forma, as águas residuárias devem passar por um sistema de
esgotamento sanitário, que são um conjunto de instalações que reúne coleta,
tratamento e disposição das águas residuária.
Atualmente, o termo esgoto é o mais frequentemente utilizado para
caracterizar os despejos provenientes das diversas modalidades do uso e da origem
das águas, tais como as de uso doméstico, comercial, industrial, as de utilidades
públicas, de áreas agrícolas, de superfície, de infiltração, pluviais, e de outros
efluentes sanitários (JORDÃO; PESSOA, 2011).
Os esgotos de origem doméstica contêm aproximadamente 99,9% de água,
sendo a fração restante compostas por sólidos orgânicos e inorgânicos, e devido a
essa fração de 0,1% que se faz necessário tratar os esgotos, pela ocorrência dos
problemas de poluição dos corpos hídricos. Já os esgotos de origem industrial têm a
sua composição extremamente variável, dependendo do tipo de produto a ser
fabricado e o processo industrial aplicado. (JORDÃO; PESSOA, 2011).
São três os processos que constituem o tratamento de efluentes: os
processos físicos, os químicos e os biológicos, onde cada um possui sua devida
importância, sendo que, no final do tratamento, os efluentes podem retornar ao meio
ambiente, tranquilamente.
Na etapa processual física são removidos sólidos em suspensão por meio de
separações físicas, como peneiramento, gradeamento, sedimentação, flotação e
caixas separadores de gorduras e óleos. Dessa forma, a matéria orgânica e
inorgânica que está suspensa é removida, assim como microrganismos, podendo
até ser eliminada através da filtração em areia ou por meio de membranas.
Durante as etapas químicas, como o nome já indica, são empregados
diversos produtos químicos, para que diversos poluentes possam ser removidos.
27

Além disso, ao passar por esse processo de tratamento de efluentes, a mistura dos
efluentes que será tratada nos processos seguintes fica condicionada e, finalmente,
os processos biológicos constituem o último passo no tratamento de efluentes.
Nesse processo, são reproduzidos fenômenos da natureza, para que a
matéria orgânica em suspensão seja dissolvida, ou para que essa matéria se
transforme em sólidos sedimentáveis, por exemplo. A diferença é que o tempo para
que esses processos aconteçam é menor que o tempo que a natureza leva, pois,
esses processos acontecem em ambientes controlados.
Em um sistema convencional de tratamento de esgoto, centralizado e de
grande porte, o processo de tratamento dos efluentes consiste no direcionamento de
todo o esgoto doméstico coletado para uma estação (ETE), podendo abranger até
quatro níveis de tratamento: preliminar, primário, secundário e terciário, conforme
mostra a Figura 1, incluindo-se as etapas físicas, químicas e biológicas.
O tratamento preliminar refere-se basicamente à remoção de sólidos
grosseiros, como pedaços de madeira, tecidos, areia, plástico, papel e cabelo. A
remoção ocorre por meio de grades e desarenadores. Depois de separados do
esgoto, esses sólidos devem ser dispostos de maneira adequada, devendo ser
direcionados preferencialmente a um aterro sanitário.
O tratamento primário tem como objetivo a remoção de sólidos sedimentáveis
por meio de decantadores. Esses sólidos que se acumulam no fundo dos
decantadores são denominados lodo primário e, depois de separados, são
direcionados para outras unidades de tratamento responsáveis pelo seu
adensamento, digestão biológica, secagem e disposição final adequada.

Figura 1. Fluxograma de um Sistema centralizado de tratamento de esgoto

Fonte: Tonetti, et al, 2018.


28

Além dos sólidos sedimentáveis, o tratamento primário também remove


sólidos flutuantes que se acumulam na parte superior do decantador. Os sólidos
flutuantes são normalmente ricos em óleos e gorduras (graxas), e esse material
também é removido e direcionado para outras unidades responsáveis pelo seu
tratamento específico, junto com o lodo primário. O esgoto é então direcionado para
a próxima etapa de tratamento, denominada tratamento secundário.
O tratamento secundário processa, principalmente, a remoção de sólidos e de
matéria orgânica não sedimentares e, eventualmente, nutrientes como nitrogênio e
fósforo. Após as fases primária e secundária a eliminação de DBO deve alcançar
90%. É a etapa de remoção biológica dos poluentes e sua eficiência permite
produzir um efluente em conformidade com o padrão de lançamento previsto na
legislação ambiental.
Basicamente, são reproduzidos os fenômenos naturais de estabilização da
matéria orgânica que ocorrem no corpo receptor, sendo que a diferença está na
maior velocidade do processo, na necessidade de utilização de uma área menor e
na evolução do tratamento em condições controladas.
Por seu turno, o tratamento terciário envolve a remoção de componentes
específicos, como os nutrientes – Nitrogênio e Fósforo – e a desinfecção do esgoto
tratado. Essa etapa do tratamento é pouco comum nas ETE’s brasileiras, em
decorrência de seu alto custo.
O esgoto tratado que sai das ETE’s normalmente é lançado em corpos de
água. Para que isso possa ser feito, o esgoto deve ter algumas características
específicas para lançamento em corpo hídrico, em acordo com a legislação
ambiental e, ainda, em conformidade com a qualidade das águas do corpo receptor,
dada pelo seu enquadramento.
No Brasil, existem normas principais que determinam a qualidade mínima que
o esgoto tratado deve ter para que possa ser disposto nos corpos de água,
especificando os parâmetros físicos, químicos e biológicos a serem atendidos:
Resolução CONAMA nº 357, de 2005, e Conama nº 430, de 2011. Além destas, leis
de âmbito estadual e mesmo municipal também devem ser atendidas, quando
existirem.
Assim, para que o esgoto tratado possa ser disposto em corpos hídricos – tais
como lagoas, córregos e rios – ele deve ter uma certa qualidade, a fim de não
29

causar impacto ambiental e nem oferecer risco de contaminação das águas a serem
utilizadas pela população.
Cabe mencionar, ainda, que esses sistemas devem passar por manutenção
adequada e na frequência necessária, para que funcionem conforme o planejado e
possam produzir um esgoto tratado de boa qualidade. Em algumas situações, a
simples associação do Tanque Séptico ao Filtro Anaeróbio atenderia a quase todas
as exigências para o lançamento de esgotos tratados em corpos hídricos, faltando
apenas um polimento final para o aumento do oxigênio dissolvido (OD) até os níveis
mínimos que não prejudiquem o corpo hídrico receptor.
No caso de unidades menores, como comunidades isoladas e indústrias de
pequeno porte, principalmente do ramo de alimentos e bebidas, o tratamento
biológico, precedido do tratamento físico é uma das alternativas mais econômicas e
eficientes para a degradação da matéria orgânica de efluentes biodegradáveis.
Nesse processo ocorre a ação de agentes biológicos como bactérias, protozoários e
algas. Essa degradação pode ocorrer por meio do tratamento biológico aeróbio e
anaeróbio.
Assim, com mecanismos de remoção de ordem física, o tratamento preliminar
é composto basicamente por unidades de remoção de sólidos grosseiros, como
grades e peneiras; unidades de remoção de areia, como desarenadores; unidades
de medição da vazão, como calhas de dimensões padronizadas, vertedores e
tubulações fechadas. Como principais finalidades para remoção de sólidos
grosseiros estão a proteção aos dispositivos de transporte dos esgotos (bombas e
tubulações), proteção das unidades de tratamento subsequentes e proteção dos
corpos receptores. (VON SPERLING, 2014).
Em seguida, é realizado o tratamento secundário, de forma mais rápida e
controlada o que naturalmente ocorre em corpos receptores através da
autodepuração, consistindo na remoção da matéria orgânica, principal poluente em
sistemas hídricos por consumir oxigênio na sua degradação e ocasionar a
mortandade de animais, proliferação de algas e desequilíbrio ambiental. Para
realizar este processo é necessário que estes micro-organismos estejam em contato
com o material orgânico presente no esgoto que servirá como alimento para os
mesmos.
Os organismos presentes no esgoto variam de acordo com o processo de
tratamento. Em tratamentos aeróbios a presença de bactérias e protozoários é
30

expressiva, contando com a presença de micro metazoários em menor escala. Em


nível mundial é um dos sistemas mais utilizados por necessitar de baixos requisitos
de área e gerar efluentes de elevada qualidade.
Portanto, há uma grande diversidade de variações deste sistema, devido a
isto, as principais são divididas em categorias de acordo com: idade do lodo
(sistemas de carga convencional e de baixa carga), fluxo (contínuo e intermitente) e
objetivos do tratamento (DBO, nitrogênio e/ou fósforo).

2.3 Tratamento anaeróbio

O tratamento biológico é um dos processos mais eficientes e econômicos


para a degradação de materiais orgânicos contidos em efluentes biodegradáveis.
Durante esse processo, acontece a ação de agentes biológicos, como, por exemplo,
algas, protozoários e bactérias, podendo ocorrer tanto através do tratamento
anaeróbio de efluentes ou do tratamento aeróbio.
O tratamento anaeróbio consiste no processo biológico em que se realiza a
fermentação da matéria orgânica presente no efluente sem a presença de oxigênio
no sistema, e cujos produtos finais além do efluente menos poluído são o dióxido de
carbono e o gás metano, se apresentando, portanto, como uma das melhores
alternativas para o tratamento de subprodutos altamente poluidores, como resíduos
sólidos, efluentes da agroindústria, esgoto sanitário doméstico e dejetos de animais.
A produção de metano e de efluente estabilizado é muito importante na digestão
anaeróbia e pode ser utilizada como combustível e biofertilizante, respectivamente.
Há muito conhecido, o processo anaeróbio, nas últimas décadas, teve
importantes avanços no conhecimento de seus fundamentos, principalmente na
microbiologia e na concepção dos reatores, sendo, comumente, aplicados, para o
tratamento de efluentes industriais com alto teor de matéria orgânica, os reatores
biológicos anaeróbios, em virtude das vantagens técnicas e econômicas, e um dos
principais é o reator anaeróbio de fluxo ascendente com manta de lodo (UASB).
Trata-se de um sistema onde ocorre elevada remoção de material orgânico
suspenso e solúvel, inclusive substâncias tóxicas, como os fenóis, porém a remoção
de nutrientes é baixa, tornando-o, assim, o mais indicado para a manipulação de
31

efluentes domésticos, em razão da pequena quantidade de sólidos gerada,


dispensando a necessidade de energia externa, pequena área construída, custo
operacional baixo e tolerante a cargas orgânicas elevadas.
Entretanto, cabe mencionar que, assim como todo e qualquer sistema, ele
também possui algumas desvantagens como em determinadas situações em que o
processo de decomposição demora a iniciar, normalmente necessita de um pós-
tratamento, pois somente esse sistema não atende aos limites exigidos pela
legislação.
As bactérias presentes podem ser sensíveis a determinados compostos, e
também ocorre a geração de fortes odores devido a produção de gás sulfídrico. No
processo de digestão anaeróbia aproximadamente entre 70 e 90% da matéria
orgânica existente no efluente é transformada em gás metano e entre 5 a 15%
transformada em biomassa microbiana, formando o lodo nas profundezas do reator.
Ainda restam cerca de 10 a 30% de material, caracterizado como não degradado
(Almeida Júnior, et al, 2017)
O uso de sistemas de tratamento anaeróbio em dois estágios pode melhorar a
estabilidade, facilitar a operação, possibilitar a redução do volume dos reatores e
reduzir os problemas com a duplicação excessiva de bactérias acidogênicas e
consequente diminuição das arquéias metanogênicas. (BACKES, 2016)
Desse modo, a grande vantagem do uso do processo anaeróbio em dois
estágios é a acomodação no reator do primeiro estágio das variações das cargas
orgânicas do afluente, permitindo a aplicação de cargas constantes no segundo
estágio. Além disso, visa à otimização do tempo de retenção celular, melhoria das
condições ambientais e de nutrição, fornecimento de substratos específicos e
controle da toxicidade.
A maior aceitação de sistemas de tratamento anaeróbio se deve a dois
fatores principais: as vantagens, consideradas inerentes ao processo da digestão
anaeróbia em comparação com o tratamento aeróbio e a melhoria do desempenho
dos sistemas anaeróbios modernos, tendo-se um aumento muito grande não
somente da velocidade de remoção do material orgânico, mas também da
porcentagem de material orgânico digerido, pode-se visualizar no quadro 1.
32

Quadro 1. Vantagens e desvantagens dos processos de tratamento anaeróbios


Vantagens Desvantagens
as bactérias anaeróbias são suscetíveis à inibição por
baixa produção de sólidos;
um grande número de compostos;
a partida do processo pode ser lenta na ausência de
baixo consumo de energia;
lodo de semeadura adaptado;
alguma forma de pós-tratamento é usualmente
baixa demanda de área;
necessária;
a bioquímica e a microbiologia da digestão anaeróbia
baixos custos de implantação;
são complexas e ainda precisam ser mais estudadas;
possibilidade de geração de maus odores, porém
produção de metano;
controláveis;
remoção de nitrogênio, fósforo e patogênicos
tolerância a elevadas cargas orgânicas;
insatisfatória;
possibilidade de preservação da
possibilidade de geração de efluente com aspecto
biomassa, sem alimentação do reator, por
desagradável;
vários meses;
aplicabilidade em pequena e grande
escala;
baixo consumo de nutrientes.
Fonte: próprio autor

Assim, as diversas características favoráveis dos sistemas anaeróbios,


passíveis de serem operados com elevados tempos de retenção de sólidos e
baixíssimos tempos de detenção hidráulica, são também, tecnologias simples e de
baixo custo, com algumas vantagens quanto à operação e à manutenção, tornando-
se, o tratamento anaeróbio de esgotos domésticos, bem mais atrativo para os países
de clima tropical e subtropical, que são principalmente os países em
desenvolvimento, como o Brasil, (NUNES, 2012).
Além disso, nos sistemas aeróbios, ocorre somente cerca de 40 a 50% de
degradação biológica, com a consequente conversão em CO 2. Verifica-se uma
enorme incorporação de matéria orgânica como biomassa microbiana (cerca de 50 a
60%), que vem a constituir o lodo excedente do sistema. O material orgânico não
convertido em gás carbônico ou em biomassa deixa o reator como material não
degradado (5 a 10%), (NUVOLARI, 2011).
Nos sistemas anaeróbios, verifica-se que a maior parte do material orgânico
biodegradável presente no despejo é convertida em biogás (cerca de 70 a 90%), que
33

é removido da fase líquida e deixa o reator na forma gasosa. Apenas uma pequena
parcela do material orgânico é convertida em biomassa microbiana (cerca de 5 a
15%), vindo a se constituir o lodo excedente do sistema.
Além da pequena quantidade produzida, o lodo excedente apresenta-se via
de regra mais concentrado e com melhores características de desidratação. O
material não convertido em biogás ou biomassa deixa o reator como material não
degradado (10 a 30%), (NUNES, 2012).
A Figura 2 possibilita uma visualização mais clara de algumas das vantagens
da digestão anaeróbia em relação ao tratamento aeróbio, notadamente no que se
refere à produção de gás metano e à baixíssima produção de sólidos.

Figura 2. Diferenças entre os sistemas anaeróbios e os sistemas aeróbios

Sistemas Anaeróbios X Sistemas Aeróbios


Biogás
(70 a 90%)

CO2 Reator Efluente


Matéria (40 a 50%) Anaeróbio (10 a 30%)
Orgânica
(100% DQO)
Reator Efluente (5 a 10%)
Aeróbio

Fonte: Internet

Percebe-se, assim, que nos sistemas anaeróbios, a maior parte do material


orgânico biodegradável presente no despejo é convertida em biogás (cerca de 70 a
90%), que é removido da fase líquida e deixa o reator na forma gasosa, enquanto
que, nos sistemas aeróbios, ocorre somente cerca de 40 a 50% de degradação
biológica, com a consequente conversão em CO2, demonstrando o primeiro ser o
mais indicado em termos de menor impacto ambiental e reaproveitamento,
especialmente, no que se refere à produção de gás metano e à baixíssima produção
de sólidos.
34

Assim, o desenvolvimento de filtros e reatores fundamentados no processo


anaeróbio tem sido bastante priorizado nas últimas décadas, promovendo mudanças
profundas na concepção dos sistemas de tratamento de águas residuárias.
A maior aceitação de sistemas de tratamento anaeróbio se deve a dois
fatores principais: as vantagens consideradas inerentes ao processo da digestão
anaeróbia em comparação com o tratamento aeróbio e a melhoria do desempenho
dos sistemas anaeróbios modernos, tendo-se um aumento muito grande não
somente da velocidade de remoção do material orgânico, mas também da
porcentagem de material orgânico digerido.
O melhor desempenho dos sistemas anaeróbios, por sua vez, é o resultado
da melhor compreensão do processo da digestão anaeróbia, que permitiu o
desenvolvimento de sistemas modernos, muito mais eficientes que os sistemas
clássicos.

2.3.1 Filtro anaeróbio: características e propriedades

Embora venham sendo utilizados para tratamento de esgotos desde a década


de 1950, os filtros anaeróbios tornaram-se populares no Brasil somente a partir de
1982, quando a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) revisou a Norma
sobre construção e instalação de tanques sépticos e disposição dos efluentes finais,
recomendando o uso de filtros anaeróbios para pós-tratamento dos efluentes de
tanques sépticos.
O filtro anaeróbio consiste, inicialmente, de um tanque contendo material de
enchimento, que forma um leito fixo, alimentado com esgoto ou efluente de outra
unidade de tratamento. Na superfície do material de enchimento ocorre a fixação e o
desenvolvimento de microrganismos, que também se agrupam, na forma de flocos
ou grânulos, nos interstícios deste material. O fluxo através do meio filtrante, e do
lodo ativo, é que confere alta eficiência aos filtros anaeróbios.
Desse modo, o filtro anaeróbio (Figura 3) é formado por uma câmara
preenchida com material filtrante, que permite a fixação de micro-organismos
responsáveis pela degradação da matéria orgânica dissolvida. O filtro pode
apresentar um compartimento inferior sem recheio (fundo falso), com a função de
reter o lodo produzido, que também possui micro-organismos responsáveis pelo
tratamento. Geralmente, seu fluxo é ascendente (de baixo para cima).
35

Figura 3. Filtro anaeróbio

Fonte: Tonetti, 2018.

É recomendável, no entanto, que o filtro anaeróbio seja precedido de um


tanque séptico, ou de um Biodigestor ou Reator Anaeróbio compartimentado,
evitando, assim, o entupimento do material filtrante, conforme as especificações
contidas na NBR 13969/1997.
Na verdade, o meio filtrante nos filtros anaeróbios, aplicados ao tratamento de
esgotos, é o próprio lodo que adere ao meio suporte e que se acumula nos
interstícios, mas é de fundamental importância que se busque e desenvolva
alternativas de materiais para enchimento de filtros anaeróbios, para torná-los cada
vez mais vantajosos como solução de alta relação benefício/custo para tratamento
de esgotos no Brasil. (MELO, 2013)
No tratamento de esgotos domésticos, um tanque séptico deve ser instalado
antes do filtro anaeróbio, evitando o entupimento do material filtrante, de modo que
todo o material filtrante deve ser mantido afogado, isto é, totalmente preenchido com
esgoto para evitar a oxigenação do meio, (MELO, 2013).
Podem ser utilizados vários materiais para enchimento de filtros anaeróbios.
Evidentemente, deve-se preferir materiais inertes, resistentes, leves, que não
apresentem alterações em sua composição a longo prazo, além de facilitar a
distribuição do fluxo e dificultem a obstrução, tenham preço baixo e sejam de fácil
36

aquisição. (Ex: brita, seixo, conduíte picado, anéis de plástico, cacos de tijolos ou
telhas).
O material mais utilizado para enchimento de filtros anaeróbios no Brasil é a
pedra britada N° 4, que é um material muito pesado e relativamente caro, devido ao
custo da classificação granulométrica. Ademais, a brita N° 4 tem um índice de vazios
muito baixo, em torno de 50%, o que acarreta necessidade de maior volume do
reator e menor capacidade de acumular lodo ativo por unidade de volume.
Entretanto, no intuito de potencializar, ainda mais, seu caráter ecológico e
sustentável, alguns filtros anaeróbios já estão sendo preenchidos com materiais
alternativos, como bambu e cascas de coco, ou ainda, como é o caso do projeto
desenvolvido neste estudo, utilizando-se garrafas recicláveis.
Para tratamento de esgotos sanitários em regiões de clima quente, o uso de
sistemas totalmente anaeróbios, compostos com filtro anaeróbio antecedido de
decanto-digestor ou reator de manta de lodo, é perfeitamente viável, tanto do ponto
de vista tecnológico como do econômico, e pode propiciar efluentes com
concentrações médias de DBO abaixo de 60 mg/L e de sólidos suspensos abaixo de
20 mg/L, que facilita a desinfecção, com ótimo aspecto visual e sem problemas de
maus odores.
Portanto, estações de tratamento de esgotos totalmente anaeróbias, com o
filtro anaeróbio assegurando eficiência satisfatória na remoção de matéria orgânica e
sólidos suspensos, pode ser a solução viável para grande parte dos problemas
causados por esgotos sanitários no Brasil, pelo menos, como um passo importante
na busca da preservação do meio e da proteção da saúde pública.

2.3.2 Normas técnicas e resoluções voltadas para a construção de um filtro


anaeróbio

2.3.2.1 NBR 13969/1997

Sobretudo, em razão das necessidades de saneamento básico efetivo das


áreas não abrangidas por sistema de rede coletora e tratamento de esgotos de
porte, vislumbrando a proteção do meio ambiente e do manancial hídrico, tornou-se
37

imperativo oferecer alternativas coerentes de tratamento de esgoto voltadas para a


satisfação de tais demandas.
Isso significa que, muito embora o fabricante ou usuário possua a liberdade
de desenvolver processos biosustentáveis mais compactos, econômicos e
eficientes, é indispensável a verificação de alguns aspectos técnicos por ocasião do
estudo para implantação do sistema, tais como os dados sobre vazões reais a
serem tratadas, as características do esgoto, do solo, do nível aquífero e das
condições climáticas locais.
É igualmente importante que sejam avaliados padrões de emissão
estabelecidos nas leis, tendo em vista a necessidade de proteção do manancial
hídrico da área circunvizinha, disponibilidade da água etc., para seleção das
alternativas que compõem o sistema local de tratamento de esgotos. As mesmas
observações relativas ao consumo de água valem para determinados poluentes,
cuja tecnologia para sua remoção ainda é onerosa, como é o caso do fósforo.
Sendo assim, a NBR 13969/1997 foi elaborada para oferecer aos usuários do
sistema local de tratamento de esgotos, que têm tanque séptico como unidade
preliminar, alternativas técnicas consideradas viáveis para proceder ao tratamento
complementar e disposição final do efluente deste. Destarte, no que se refere às
definições de filtro anaeróbio, a referida norma, traz a seguinte definição:

3.4 Filtro anaeróbio de leito fixo com fluxo ascendente; filtro


anaeróbio: Reator biológico com esgoto em fluxo ascendente, composto de
uma câmara inferior vazia e uma câmara superior preenchida de meio
filtrante submersos, onde atuam microrganismos facultativos e anaeróbios,
responsáveis pela estabilização da matéria orgânica. (ABNT, 1997, grifo
nosso)

De tal modo, o filtro anaeróbio consiste em um reator biológico onde o esgoto


é depurado por meio de microrganismos não aeróbios, dispersos tanto no espaço
vazio do reator quanto nas superfícies do meio filtrante, sendo utilizando,
principalmente, como mecanismo de retenção dos sólidos.
Outro fator digno de menção diz respeito aos impactos que as oscilações de
temperatura do esgoto exercem sobre todo o processo anaeróbio, de modo que sua
aplicação deve ser feita de modo criterioso. Ademais, trata-se de um processo O
processo bastante eficiente na redução de cargas orgânicas elevadas, desde que as
38

outras condições sejam satisfatórias. Os efluentes do filtro anaeróbio podem exalar


odores e ter cor escura.
Quanto às dimensões do filtro anaeróbio, a NBR 13969/1997 estabelece que:

O volume útil do leito filtrante (Vu), em litros, é obtido pela equação: V u = 1,6
NCT onde:
N é o número de contribuintes;
C é a contribuição de despejos, em litros x habitantes/ dia;
T é o tempo de detenção hidráulica, em dias
NOTA - O volume útil mínimo do leito filtrante deve ser de 1 000 L.
(ABNT, 1997)

Além disso, a altura do leito filtrante, já incluindo a altura do fundo falso,


segundo o aludido dispositivo técnico, deve ser limitada a 1,20 m, enquanto que a
altura do fundo falso deve ser limitada a 0,60 m, já incluindo a espessura da laje.
No que se refere à construção do fundo falso, em caso de dificuldades, todo o
volume do leito pode ser preenchido por meio filtrante, de maneira que o esgoto
afluente deve ser introduzido até o fundo, sendo distribuído sobre todo o fundo do
filtro através de tubos perfurados.
Por sua vez, a altura total do filtro anaeróbio, em metros, é obtida pela
seguinte equação:
H = h + h1 + h2
onde:
H é a altura total interna do filtro anaeróbio;
h é a altura total do leito filtrante;
h1 é a altura da calha coletora;
h2 é a altura sobressalente (variável). (ABNT, 1997)

A distribuição de esgoto afluente no fundo do filtro anaeróbio deve ser feita ou


de tubos perfurados (de PVC ou de concreto), instalados sobre o fundo inclinado do
filtro, ou através de tubos verticais com bocais perpendiculares ao fundo plano, com
uma distância entre aqueles de 0,30 m, a área do fundo do filtro a ser abrangida por
cada bocal de distribuição deve ser inferior a 3,0 m2.
Quanto às especificações do material filtrante, a NBR 13969/1997 estabelece
que podem ser utilizados brita, peças de plástico (em anéis ou estruturados) ou
outros materiais resistentes ao meio agressivo.
39

No caso de brita, utilizar a nº 4 ou nº 5, com as dimensões mais uniformes


possíveis, não sendo permitida a mistura de pedras com dimensões distintas, a não
ser em camadas separadas, para não causar a obstrução precoce do filtro. Caso se
opte por utilizar peças de plástico, o fundo falso pode ser dispensado, substituindo-o
por telas em aço inoxidável ou por próprio material já estruturado. (ABNT, 1997)
Por fim, o filtro anaeróbio deve possuir uma cobertura em laje de concreto,
com a tampa de inspeção situada em cima do tubo-guia para drenagem, substituível
pela camada de brita, nos casos de se ter tubos perfurados para coleta de efluentes
e onde não houver acesso de pessoas, animais, carros ou problemas com odor, com
a parede sobressalente acima do solo, de modo a impedir o ingresso de águas
superficiais.

2.3.2.2 Resolução Nº 430/2011

A Resolução Nº 430, promulgada em 13 de maio de 2011, pelo Conselho


Nacional do Meio Ambiente, dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de
efluentes em corpos de água receptores, estabelecendo condições, parâmetros,
padrões e diretrizes para gestão desses lançamentos, conforme previsto em seu
artigo primeiro:

Esta Resolução dispõe sobre condições, parâmetros, padrões e diretrizes


para gestão do lançamento de efluentes em corpos de água receptores (...)
Parágrafo único. O lançamento indireto de efluentes no corpo receptor
deverá observar o disposto nesta Resolução, quando verificada a
inexistência de legislação ou normas específicas, disposições do órgão
ambiental competente, bem como diretrizes da operadora dos sistemas de
coleta e tratamento de esgoto sanitário. (BRASIL, 2011)
.
Trata-se, assim, de legislação regulamentar padrão acerca de condições,
parâmetros, padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes em corpos
de água receptores, devendo ser utilizada como referência, também, nos em caso
de ausência de regulamentação específica local, municipal ou estadual, em se
tratando de lançamento indireto de efluentes no corpo receptor.
No que lhe toca, o referido diploma legal, ainda, legisla quanto à capacidade
de suporte do corpo receptor, descrevendo-se como o correspondente ao “valor
40

máximo de determinado poluente que o corpo hídrico pode receber, sem


comprometer a qualidade da água e seus usos determinados pela classe de
enquadramento” (BRASIL, 2011).
Em seguida, seu artigo terceiro, traz que:

Art. 3º Os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser


lançados diretamente nos corpos receptores após o devido tratamento e
desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta
Resolução e em outras normas aplicáveis. (BRASIL, 2011)

Observa-se, assim, que é necessário haver um tratamento prévio, nos termos


da supramencionada lei, em observância aos seus padrões, condições e exigências,
para que os efluentes de uma fonte poluidora sejam despejados diretamente nos
corpos receptores.
Tais exigências encontram-se listadas no art. 16 da Resolução Nº 430/2011 e
incluem, dentre outros:

I - Condições de lançamento de efluentes:


a) pH entre 5 a 9;
b) temperatura: inferior a 40°C, sendo que a variação de temperatura do
corpo receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura;
c) materiais sedimentáveis: até 1 ml/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff.
Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja
praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão estar virtualmente
ausentes;
d) regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média
do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos
permitidos pela autoridade competente;
(...) (BRASIL, 2011)

O inciso II, do mesmo artigo, traz um quadro com as exigências relacionadas


aos padrões de lançamento de efluentes, definindo níveis aceitáveis para uma série
de substâncias, tais como: selênio, sulfeto, mercúrio, boro, zinco benzeno,
clorofórmio, cádmio, chumbo, arsênio, fluoreto, cianeto, cobre, níquel, dentre outros.
Os parágrafos 1º e 2º do artigo 16 trazem, ainda, que os efluentes oriundos
de sistemas de disposição final de resíduos sólidos de qualquer origem, inclusive os
41

efluentes oriundos de sistemas de tratamento de esgotos sanitários, devem atender


às condições e padrões definidos neste artigo.
Finalmente, dos artigos 24 ao 28, são dispostas as diretrizes para gestão de
efluentes, onde resta estabelecido que os responsáveis pelas fontes poluidoras dos
recursos hídricos deverão realizar o automonitoramento para controle e
acompanhamento periódico dos efluentes lançados nos corpos receptores, com
base em amostragem representativa dos mesmos (art. 24), devendo as coletas de
amostras e as análises de efluentes líquidos e em corpos hídricos, ser realizadas de
acordo com as normas específicas, sob responsabilidade de profissional legalmente
habilitado (art. 25).

2.3.3 Gerenciamento do lodo gerado no filtro anaeróbio

O lodo é toda a matéria orgânica removida ao longo do tratamento do esgoto.


Portanto, sua quantidade e natureza depende das características do efluente inicial
e do processo de tratamento escolhido (PEDROZA et al., 2010).
Em média, estima-se que cada ser humano produza cerca de 120g de sólidos
secos diários lançados nas redes de esgoto. O esgoto, quando não contém resíduos
industriais, é basicamente composto por 99,87% de água, 0,04% de sólidos
sedimentáveis, 0,02% de sólidos não sedimentáveis e 0,07% de substâncias
dissolvidas (NUVOLARI et al., 2011).
O tratamento de esgoto por processo biológico resulta em dois tipos de
resíduos: o efluente líquido pronto para ser devolvido ao meio ambiente e o lodo
(primário e secundário) que é um material pastoso com grande concentração de
microrganismos, sólidos orgânicos e minerais. (METCALF E EDDY, 1991, apud
Nuvolari et al., 2011).
Assim, o tratamento do lodo tem a finalidade de reduzir o volume e o teor de
matéria orgânica. Primeiramente realiza-se o adensamento. Esse processo tem a
finalidade de diminuir a quantidade de água presente no lodo, diminuindo, portanto,
seu volume.
É importante ressaltar que a Resolução Nº 357, de 17 de março de 2005, do
CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) estabelece parâmetros aos
efluentes que voltam à natureza e classifica os corpos de água. Essa norma prevê
prisão a quem não cumprir as medidas estabelecidas por ela.
42

Todos os sistemas de tratamento de esgoto produzem alguma quantidade de


lodo, mas em alguns casos essa quantidade é muito pequena e acaba ficando retida
dentro do próprio sistema. No entanto, entre o filtro anaeróbio abordado nesta
publicação, produz uma quantidade mais significativa de lodo ao longo da sua
operação, o qual deve ser removido periodicamente para o correto funcionamento
dos sistemas.
Em geral, os lodos de tanques sépticos e filtros anaeróbios apresentam
elevados teores de umidade e por isso o lodo fresco tem aspecto líquido, sendo às
vezes difícil diferenciá-lo do próprio esgoto.
O lodo gerado no tratamento de esgotos apresenta elevadas concentrações
de microrganismos nocivos à saúde humana e animal, além de cistos e oocistos de
protozoários, como Giardia e Cryptosporidium, e ovos de helmintos (vermes), de
modo que a sua disposição inadequada pode acarretar a contaminação, muitas
vezes irreversível, da água e do solo. Sendo assim, é muito importante que a sua
manipulação, reuso e destinação final sejam bem planejados, avaliando-se, em cada
caso, as possibilidades e limitações do local. (TONETTI, 2018)
Vale destacar que, até muito recentemente, não havia a preocupação com o
correto descarte do lodo, buscando-se apenas a forma mais fácil e barata de livrar-
se desse resíduo, sendo os métodos mais comumente utilizados, a disposição do
lodo sólido em aterros sanitários e o descarte do lodo líquido em corpos hídricos e
em alto-mar.
No entanto, com a ideia de sustentabilidade ambiental cada vez mais
difundida, nos dias de hoje, a descarga oceânica é proibida no Brasil e em diversos
países, por acarretar grande impacto ambiental, sendo fundamental destacar que o
lodo removido de tanques sépticos, assim como os despejos resultantes de outros
reatores anaeróbios, não pode, de maneira alguma, ser despejado em corpos
hídricos.
Muito embora não exista, ainda, um arcabouço legal que trate,
especificamente, do lodo gerado por sistemas descentralizados, individuais ou
semicoletivos, pode-se mencionar as resoluções do Conama Nº 375/2006 e Nº
380/2006, que definem critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de
esgoto gerados especificamente em ETE’s, além de vetarem a utilização agrícola de
lodos provenientes de tratamento individual coletados por veículos, antes do seu
tratamento em uma estação de tratamento de esgotos.
43

A Resolução CONAMA 375/2006, seção VIII, preconiza que a estocagem do


lodo numa propriedade deve ser feita em local com declividade máxima de até 5%,
com distância mínima de segurança de rios, poços, lagos, minas e afins que varia de
15 a 100m e por período máximo de 15 dias. Também proíbe que a estocagem seja
feita diretamente sobre o solo. O manuseio e carregamento de caminhões na área
de estocagem poderão ser feitos com pás carregadeiras de rodas ou
retroescavadeiras com caçambas frontais (BRASIL, 2006).
De acordo com a NBR 7229/1993 (ABNT, 1993), o processo de limpeza que
remove lodo e escuma dos tanques sépticos deve ser realizado a intervalos de 1 a 5
anos e a taxa de acumulação dos sólidos depende muito do esgoto a ser tratado,
sendo mais elevada para esgotos contendo maior concentração de sólidos
suspensos (CHERNICHARO, 2016).
No filtro anaeróbio, o lodo pode encontrar-se aderido ao material suporte,
retido entre o material suporte ou retido no fundo falso. De acordo com a NBR
13969/1997 (ABNT, 1997) o filtro anaeróbio deve ser limpo quando for observado o
entupimento do leito filtrante, fazendo-se a remoção do lodo com uma bomba de
recalque e, quando necessário, aplicando-se jatos de água sobre a superfície do
leito filtrante. A remoção deve ser feita de modo a não haver contato entre as
pessoas e o lodo removido e aproximadamente 10% do volume de lodo deve ser
deixado no interior do tanque para que o tratamento possa ter continuidade após a
limpeza.
Devido ao crescimento urbano acelerado, a produção de lodo gerado nas
Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) aumenta na mesma proporção, sendo seu
gerenciamento bastante complexo e demanda custos elevados, muito embora esse
resíduo represente, em média, apenas, 1% a 2% do volume total do esgoto tratado.
Diante da necessidade de preservação ambiental ao se destinar corretamente
os resíduos sólidos resultantes do tratamento de esgoto, surge o desafio de
encontrar formas economicamente viáveis e ecologicamente seguras para reutilizar
o lodo, reintegrando um produto de descarte ao ciclo produtivo.
Algumas das alternativas mais usuais para o aproveitamento ou disposição
final do lodo de sistemas de tratamento de esgoto são: a) uso agrícola ou florestal
(após leito de secagem); b) recuperação de solos degradados (após leito de
secagem); c) coleta por caminhão limpa fossa e posterior tratamento em ETE ou
secagem e disposição em aterros sanitários; d) incineração; e) reuso industrial:
44

produção de agregado leve, fabricação de tijolos e cerâmica e produção de cimento.


(TONETTI, et al., 2018)
Observa-se, assim, que o material resultante do sistema de tratamento de
efluentes pode ser reutilizado das mais variadas formas, como em aterros sanitários,
na recuperação de solos degradados e, mais recentemente, alguns estudos
vislumbram sua aplicação como insumo agrícola, fertilizante ou mesmo na
construção civil, sendo a agricultura, a forma que pode ser considerada como a mais
adequada em termos técnicos, econômicos e ambientais.

2.3.4 A utilização de materiais alternativos como meio suporte de filtros anaeróbios

Os filtros anaeróbios são caracterizados pela matéria orgânica estabilizada


através da ação de microrganismos, que ficam retidos nos interstícios e apoiados no
material suporte que constitui o leito, pelo qual ocorre a percolação dos efluentes
líquidos (BAETTKER, et al, 2016).
Dessa forma, o tipo de material utilizado como recheio em filtros anaeróbios
pode ser determinante na eficiência do tratamento de efluentes, de modo que a
escolha dos materiais utilizados como meio suporte para imobilização da biomassa
tem efeito no desempenho dos filtros, pois, além de estes reterem fisicamente os
sólidos suspensos, devem ser adequados à fixação dos microrganismos para
formação do biofilme (GARCIA et al., 2008; ALMEIDA; OLIVEIRA; CHERNICHARO,
2011)
Nesse contexto, muitos materiais alternativos vêm sendo, sistematicamente,
avaliados pela comunidade científica, como a precursora brita, a argila e o carvão
(Amaral; Lange; Borges, 2014), sendo estes dois últimos mais frequentes em
pesquisas em escala de bancada e piloto. Além destes, também têm sido avaliados
alguns materiais de menor custo considerados não convencionais e/ou resíduos,
com destaque para anéis plásticos, fragmentos de pneu, cilindros ou esferas
perfuradas de polietileno, anéis de bambu, cascas de coco e garrafas de
Politereftalato de etileno (PET).
O Politereftalato de Etileno - o PET quando comparado a outros materiais
apresenta boa durabilidade, se arranjado na forma de fios pode oferecer cavidades
semelhantes à dos outros meios propostos para acúmulo de biofilme. “O PET
45

proporciona alta resistência mecânica (impacto) e química, suportando o contato


com agentes agressivos” (ABIPET, 2012)
Trata-se de um material facilmente obtido por redes de reciclagem, visto que
é um dos plásticos mais consumidos e descartados pela população brasileira,
possuindo propriedades que o apontam como um potencial meio suporte para os
filtros anaeróbios, apresentando uma produção simplificada sem tratamento químico.
A possibilidade da aplicação no fio do PET no formato de novelo foi
descoberta através da observação dos resultados contraproducentes, até então, das
pesquisas executadas pelo IFCE utilizando o fio do PET no formato de peneira e
com regime de alimentação em batelada. A proposta deste projeto sendo financiada
traz chances de se testar o desempenho do fio do PET no formato de novelo, e em
fluxo contínuo, ou seja, na configuração em que na prática eles seriam utilizados.
Nesse contexto, o presente estudo teve por objetivo demonstrar a eficiência
de uma ETE, cujo filtro anaeróbio foi produzido com fios estruturados de
Politereftalato de Etileno (PET), no intuito de apresentar uma excelente alternativa
para o uso em biofiltros, tendo em vista a matéria-prima de baixo custo, facilmente
acessível e com características, aparentemente, ideais para otimizar o tratamento de
efluentes no próprio domicílio ou até em ETE’s centralizadas.

2.4 ETE do Comando Militar da Amazônia

A ETE selecionada para o presente estudo foi a ETE biológica, do Comando


Militar da Amazônia, localizada na Avenida Coronel Teixeira, Nº 4715, Pavilhão
Comando, no bairro Ponta Negra, constituída por um filtro anaeróbio preenchido
com meio filtrante com filete de garrafas PET, apresentando a estrutura
demonstrada pela Figura 4.
O filtro anaeróbio e a câmara de reação contam com as mesmas dimensões,
ambos apresentando 3m de comprimento por 2,35m de circunferência.
Para cada 1m3 de volume de filtragem, para a confecção de filetes suficientes
para preencher um filtro anaeróbio dessa natureza, são necessárias,
aproximadamente, 1200 unidades de garrafas PET, de 1,5L a 2,0L. no entanto, na
46

confecção do filtro anaeróbio alvo deste estudo, foram utilizadas 2400 unidades de
garrafas PET, recortadas em filetes (Figura 5).

Figura 4. Planta baixa ETE

Fonte: Projeto Executivo – AZ Engenharia Eireli

Para a confecção da estrutura externa dos tanques, foram utilizadas bobinas


cilíndricas formadas por mechas de filamentos contínuos de fibra de vidro
Advantex® enroladas paralelas, sem torção, para uso geral em laminação de
aspersão, formando uma manta que, coberta por resina-base, cria uma estrutura
laminada. (Figura 5)

Figura 5. Construção do filtro anaeróbio: aplicação de resina (a); roving (b)

(a) (b)
Fonte: próprio autor
47

Após construída toda a estrutura externa foram inseridos, no filtro anaeróbio


2m3 de filetes de PET, obtidos do recorte de garrafas plásticas. Ao final, a ETE em
questão, após finalizada, apresentou a seguinte composição conforme ilustrado na
Figura 6.

Figura 6. Introdução de material de PET no filtro anaeróbio.

Fonte: próprio autor

Figura 7. Estrutura interna do filtro anaeróbio (corte A)

Fonte: Projeto Executivo – AZ Engenharia Eireli


48

Ao final, após a reunião de todas as etapas descritas anteriormente, a ETE do


Comando Militar da Amazônia, externamente, contou com a disposição contida na
Figura 8.

Figura 8. Apresentação final da ETE do Comando Militar

C D E

Fonte: próprio autor

Assim, podem ser identificadas, perfeitamente, na figura acima, as seguintes


estruturas: casa de máquinas (A); caixa de gradeamento e elevatória (B), filtro
anaeróbio (C), câmara de reação (D), câmara anóxica de sedimentação (E).
49

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Avaliar a eficiência de um filtro anaeróbio confeccionado com garrafas PET,


em uma ETE localizada na cidade de Manaus.

3.2 Objetivos Específicos

 Discutir os impactos de um saneamento básico ineficiente para a sustentabilidade


ambiental;
 Descrever de que forma a distribuição de água potável no Brasil é prejudicada
pela falta de saneamento ambiental;
 Apresentar os principais tipos de tratamento de esgoto e seus processos
intrínsecos;
 Demonstrar as vantagens de se utilizar o tratamento anaeróbico para o
tratamento de efluentes;
 Verificar a eficiência de um filtro anaeróbio produzido mediante o emprego de
garrafas pet, em uma ETE localizada na cidade de Manaus, mediante análise físico-
química e microbiológica.
50

4 MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 Área de estudo

O referido estudo foi baseado em uma pesquisa de campo, através da coleta


e análise química do material encontrado em uma estação de Tratamento de
Efluentes (ETE), situada na Av. Coronel Teixeira, Nº 600, bairro Ponta Negra,
Manaus/Amazonas.
Para tanto, se utiliza-se em diversas etapas, da pesquisa bibliográfica, para
fundamentar o tema em comento, tanto nas fases introdutórias quanto na discussão
dos resultados, servindo de parâmetro de comparação para os resultados
encontrados no local escolhido.
A coleta foi realizada in loco e os volumes coletados, no dia 29/01/2019,
foram enviados para o laboratório especializado, com a finalidade de se obter os
dados mais fidedignos possíveis para, então, compará-los com os padrões e
exigências contidos na legislação vigente (Resolução nº 430/2011 - CONAMA),
dirigidas ao despejo de efluentes e nas normas técnicas pertinentes da Associação
Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT), destinadas à padronização de fossas
sépticas e filtros anaeróbios.

4.2 Coleta e análise de dados

No intuito de consubstanciar o assunto em comento, o método de pesquisa


utilizado, incialmente, foi o da pesquisa bibliográfica, incluindo a apreciação de
diversos estudos realizados nos últimos dez anos, relacionados ao tratamento de
efluentes, saneamento básico e tratamento anaeróbio, com ênfase em filtros
anaeróbios. Nas palavras de Marina de Andrade Marconi e Eva Marisa Lakatos:

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia


já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,
material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações
em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar
51

o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado
sobre determinado assunto. (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 182)

Coaduna de mesma opinião, Antônio Carlos Giz, ao asseverar que:

A pesquisa bibliográfica é elaborada com base em material já publicado.


Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso
como livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos
científicos. (GIL, 2010, p.29-31)

Ademais, a pesquisa bibliográfica costuma ser bastante utilizada no meio


acadêmico, servido como base para o que pesquisador que se “utiliza de dados ou
de categorias já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados”.
(DEL-MASSO, et al., 2014, p. 11)
Sendo assim, cabe ressaltar que, embora o referido estudo se apresente
como pesquisa qualitativa, o levantamento bibliográfico será de suma importância
para a contextualização do tema, além de corroborar ou refutar as informações
encontradas. Assim, proceder-se-á, também, com a avaliação atenta e sistemática
de livros, leis, diretrizes, protocolos, periódicos, documentos, textos, artigos e
publicações digitais dos últimos dez anos, relacionados à temática.
De tal modo, para cumprir os objetivos propostos para este estudo foi utilizado
todo e qualquer material de fonte reconhecida, publicado nos últimos dez anos,
necessário à contextualização do tema, assim como do entendimento dos
significados das variáveis envolvidas, analisando-se os resultados relativos à
utilização de filtros anaeróbios em ETE’s, comparando-se os resultados encontrados
entre si e em relação à legislação do CONAMA, Resolução Nº 430/2011.
Para a efetiva análise da eficiência de um filtro anaeróbio confeccionado com
garrafas PET, em uma ETE localizada na cidade de Manaus, procedeu-se com uma
pesquisa de campo, conceituada por Oliveira, da seguinte maneira:

A pesquisa qualitativa, por sua vez, tem o ambiente natural como fonte
direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. Segundo
os autores, a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do
pesquisador com o ambiente e a 25 situação que está sendo investigada
geralmente, por meio do trabalho intensivo de campo. (OLIVEIRA, 2011, p.
16)
52

Segundo Gil, uma pesquisa de campo traz as seguintes características:

Nestas, os procedimentos analíticos são principalmente de natureza


qualitativa. E, ao contrário do que ocorre nas pesquisas experimentais e
levantamentos em que os procedimentos analíticos podem ser definidos
previamente, não há fórmulas ou receitas predefinidas para orientar os
pesquisadores. Assim, a análise dos dados na pesquisa qualitativa passa a
depender da capacidade e do estilo do pesquisador. (GIL, 2010, p. 175).

O foco da pesquisa qualitativa demanda compreender e aprofundar o


conhecimento sobre os (SAMPIERI, COLLADO; LÚCIO, 2013)
Neste caso, essa abordagem diferencia-se da quantitativa, pois quando se
pensa em uma pesquisa em que os dados seriam interpretados de acordo com
aspectos particulares das respostas dos pesquisados, percebe-se que nada que
envolvesse esta etapa poderia ser predefinido. Isso porque:

A análise dos dados nas pesquisas experimentais e nos levantamentos é


essencialmente quantitativa. O mesmo não ocorre, no entanto, com as
pesquisas definidas como estudos de campo, estudos de caso, pesquisa-
ação ou pesquisa participante. Nestas, os procedimentos analíticos são
principalmente de natureza qualitativa. E, ao contrário do que ocorre nas
pesquisas experimentais e levantamentos em que os procedimentos
analíticos podem ser definidos previamente, não há fórmulas ou receitas
predefinidas para orientar os pesquisadores. Assim, a análise dos dados na
pesquisa qualitativa passa a depender muito da capacidade e do estilo do
pesquisador (GIL, 2010, p. 194).

O caminho trilhado na abordagem qualitativa parte do particular para o geral,


uma vez que se utiliza do método indutivo, sem que se almeje testar hipótese, uma
vez que, estas, são elaboradas, conforme asseveram Hernandez Sampiri, Collado e
Lúcio:

As técnicas de coleta de dados, da mesma maneira como as hipóteses e


conceitos, podem ser redefinidas durante o percurso em que se desenvolve
o estudo. Nesse sentido, o pesquisador qualitativo utiliza técnicas para
coletar dados, como a observação não estruturada, entrevistas abertas,
revisão de documentos, discussão em grupo, avaliação de experiências
53

pessoais, registro de histórias de vida, e interação e introspecção com


grupos ou comunidades. (SAMPIERI, COLLADO & LUCIO, 2013, p. 34).

Infere-se, assim, que o método indutivo procede inversamente ao dedutivo:


parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do trabalho
de coleta de dados particulares. De acordo com o raciocínio indutivo, a
generalização não deve ser buscada aprioristicamente, mas constatada a partir da
observação de casos concretos suficientemente confirmadores dessa realidade.
(GIL, 2010, p. 10).
Destarte, o método indutivo, de acordo com o entendimento clássico, é o
método que parte do geral e, a seguir, desce ao particular, considerando o
conhecimento como baseado na experiência; a generalização deriva de
observações de casos da realidade concreta e são elaboradas a partir da apreciação
de constatações particulares.
54

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para averiguar a eficácia da referia ETE, procedeu-se com a coleta do


material encontrado no local, tanto na entrada quanto na saída do efluente aquoso
da referida ETE, nos dias 29 de janeiro e 28 de março, de 2020, e, em seguida,
enviou-se a amostra obtida ao laboratório, para a respectiva análise físico-química e
biológica do material encontrado, no intuito de verificar suas propriedades e,
consequentemente, atestar sua eficiência em filtrar os resíduos destinados à referida
ETE.
Para tanto, foram utilizados como parâmetros de normalidade e de
aceitabilidade, os valores atribuídos pela Resolução CONAMA Nº 430, de 13 de
maio de 2011, observando-se, assim, o disposto nos artigos 16 e 21.
As metodologias utilizadas para as determinações analíticas realizadas estão
contidas no Standard Methods for the examination of Water and Wastewater 23ª ED
e foram utilizados os seguintes equipamentos: Phmetro Digital PG 2000,
Condutivímetro HI 2300, Turbidímetro Digital HI, Estufa Incubadora DBO AT - 650 e
Espectrofotômetro Digital DR 3900.
No que se refere à aspectos como pH, cor, temperatura e turbidez, foram
encontrados os seguintes resultados, conforme disposto no quadro a seguir (Tabela
2):
Tabela 2. Padrões de cor, pH, turbidez e temperatura (janeiro/março)

Janeiro Março
Resolução Entrada da Saída da Entrada da Saída da
Parâmetros
CONAMA ETE ETE ETE ETE
pH 5,0 a 9,0 6,44 5,97 6,87 6,31
663 mg/L. Pt 42 mg/L. Pt 446 mg/L. Pt 30 mg/L. Pt
cor Sem Referência
Co Co Co Co
Temperatura Inferior à 40 °C 24,9 °C 28,6 °C 29,2 °C 31 °C
Turbidez (UH) Até 100 NTU 105 NTU 21,40 NTU 138 NTU 4,57 NTU
Fonte: elaborado pelo próprio autor.

Comparando-se os dados analisados referentes ao material coletado na ETE,


no mês de janeiro, no que se concerne pH, cor, temperatura e turbidez, tendo como
55

referência a Resolução Nº 430/2011, do CONAMA, na saída do efluente, todos


encontravam-se dentro dos padrões normalidade previstos. Em contrapartida, vale
destacar que o elemento cor apresentou consideráveis variações na entrada (663
mg/L. Pt Co) e na saída da ETE (42 mg/L. Pt Co), em drástica redução, após o
tratamento.
Quanto ao mês de março, os aspectos acima mencionados, com exceção do
pH, sofreram significativas alterações, principalmente no que diz respeito à cor e à
temperatura, conforme exposto na Tabela 2.
No que concerne aos resíduos sólidos, os resultados encontrados, nas duas
coletas, realizadas, respectivamente, em janeiro e em março de 2019, podem ser
analisados mediante o disposto na Tabela 3. Verificou-se, assim, que a entrada de
resíduos sólidos, no mês de janeiro, foi, consideravelmente, superior à entrada de
resíduos apresentada no mês de março. No entanto, a eficácia do filtro se manteve
estável, considerando que os resultados finais, do último mês, acompanharam as
devidas proporções, equivalentes ao mês inicial de análise.

Tabela 3. Resíduos sólidos (janeiro/março)


Janeiro Março
Parâmetros Resolução Entrada Saída da Entrada Saída da
CONAMA da ETE ETE da ETE ETE
Sólidos Totais (mg/L) Sem Referência 655 mg/L 98 mg/L 471 mg/L 75 mg/L
Sólidos Totais Sem Referência 225 mg/L 27 mg/L 146 mg/L 19 mg/L
Dissolvidos (mg/L)
Sólidos Até 1,0 ml/L 1,9 ml/L 0,1 ml/L 1,2 ml/L 0,1 ml/L
Sedimentáveis (mg/L)
Sólidos Voláteis Sem Referência 346 mg/L 59 mg/L 280 mg/L 38 mg/L
(mg/L)
Sólidos Suspensos Sem Referência 430 mg/L 71 mg/L 325 mg/L 56 mg/L
(mg/L)
Sólidos Fixos (mg/L) Sem Referência 285 m/L 38 mg/L 196 mg/L 27 mg/L
Fonte: elaborado pelo próprio autor.

Nesse sentido, no mês de janeiro, a quantidade de resíduos sólidos recebido,


foi na ordem de 655 mg/L, dos quais saíram da ETE, apenas, 98 mg/L, resultando
em uma filtragem de 85% do conteúdo, ao passo que no mês de março, o volume de
56

resíduos sólidos captado correspondeu à 471 mg/L, dos quais 396 mg/L foram
retidos (84%), de modo que o percentual filtrado permaneceu, praticamente, o
mesmo, na cada dos 85%.
No que tange aos resíduos químicos, os principais elementos encontrados
foram: nitrato, nitrito, sulfato, fósforo, fosfato e nitrogênio amoniacal, conforme
demonstrado na Tabela 4, de modo que, referente à filtragem do nitrato, portanto,
em ambos os meses de coleta, a taxa permaneceu na casa dos 80%, sendo
79,69,31% para o mês de janeiro e 80,00% para o mês de março, ou seja, uma
diferença irrisória. Por outro lado, a eficiência da filtragem de nitritos, foi na ordem de
21,25%, em janeiro, subindo para 87% em março.
No entanto, o melhor índice encontrado, dentre os resíduos químicos filtrados,
foi no mês de março, relativo à filtragem de fósforo total, de 98%. Em contrapartida,
a filtragem do fosfato, em ambos os meses, esteve na faixa dos 71 e 72%,
respectivamente.
Em relação ao nitrogênio amoniacal, a eficiência do filtro anaeróbio da ETE se
mostrou excelente, filtrando 92% do material inicial, no mês de janeiro e, por sua
vez, 94%, no mês de março.

Tabela 4. Resíduos químicos: entrada e saída (janeiro/março)


Janeiro Março
Resolução Entrada Saída da Entrada Saída da
Parâmetros
CONAMA da ETE ETE da ETE ETE
Nitrato (mg/L) Até 10 mg/L 9,60 mg/L 1,95 mg/L 6,0 mg/L 1,20 mg/L
Nitrito (mg/L) Até 5,0 mg/L 4,0 mg/L 0,85 mg/L 3,80 mg/L 0,50 mg/L
< 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,001
Sulfato (mg/L) Sem Referência
mg/L mg/L mg/L mg/L
Sulfeto (mg/L) Até 1,0 mg/L 1,90 mg/L 0,39 mg/L 1,0 mg/L 0,20 mg/L
0,800 0,016 0,600 0,010
Fósforo Total Até 0,025 mg/L
mg/L mg/L mg/L mg/L
Fosfato Sem Referência 9,50 mg/L 1,80 mg/L 6,50 mg/L 1,20 mg/L
Nitrogênio
Até 20 mg/L 63,0 mg/L 5,0 mg/L 52,0 mg/L 3,0 mg/L
Amoniacal
Fonte: elaborado pelo próprio autor.
57

Por fim, no que diz respeito aos materiais flutuantes e coliformes totais, foram
analisados os volumes de óleos e graxas de origem animal e vegetal, além de
medidos os índices de DQO e OD, sendo obtidos os seguintes valores, referentes às
duas datas de coleta (Tabela 5):

Tabela 5. Resíduos flutuantes e coliformes


Janeiro Março
Resolução Entrada da Saída da Entrada Saída da
Parâmetros
CONAMA ETE ETE da ETE ETE
Óleos e graxas
Até 20 mg/L n.d n.d n.d n.d
(minerais) (mg/L)
Óleos e graxas
(animais/vegetais) Até 50 mg/L 66mg/L 4,80 mg/L 78,0 mg/L 6,50 mg/L
(mg/L)
Material Flutuante Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente
Sem 535,50 656,00 79,00
DQO 42,0 mg/L
referência mg/L mg/L mg/L
Superior a
OD n.d 3,3 mg/L n.d 2,7 mg/L
2,0 mg/L
9.200 120 10.600 250
Sem
Coliformes Totais NMP/100 NMP/100 NMP/100 NMP/100
referência
ml ml ml ml
Coliformes 3.800 30 5.200 65
Sem
Termotolerantes NMP/100 NMP/100 NMP/100 NMP/100
referência
ml ml ml ml
Fonte: elaborado pelo próprio autor.

Dos 9.200 NMP/100 ml coliformes totais despejados na ETE em comento, no


mês de janeiro, apenas 120 NMP/100 ml foram destinados aos recursos hídricos,
representando, aproximadamente, 98% da eficácia de filtragem, percentual repetido
no mês de março. A mesma taxa de sucesso pôde ser aferida no que se refere aos
coliformes termotolerantes, ficando entre 99,3% (janeiro) e 98,75% (março).
No que importa à demanda química de oxigênio (DQO), foram obtidos os
seguintes percentuais: 92%, em janeiro e 87%, em março. E, por fim, no que refere
ao oxigênio dissolvido (OD), os valores, em ambos as datas analisadas,
58

apresentaram níveis, relativamente, acima do padrão estabelecido pela Resolução


do CONAMA, utilizada como referência, anexo as análises de efluentes aquosos
realizadas.
59

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Politereftalato de Etileno - o PET quando comparado a outros materiais


apresenta boa durabilidade, visto que, se arranjado na forma de fios pode oferecer
cavidades semelhantes à dos outros meios propostos para acúmulo de biofilme,
proporcionando alta resistência mecânica (impacto) e química, suportando o contato
com agentes agressivos”.
Sendo assim, o presente estudo teve por objetivo analisar a real eficiência de
um filtro anaeróbio produzido com o Politereftalato de Etileno, proveniente de
garrafas descartáveis, realizando a análise do material coletado, na entrada e na
saída da ETE escolhida, em duas datas distintas, de modo a confirmar a
fidedignidade dos dados encontrados, após resultados enviados pelo laboratório
especializado.
Foram analisados aspectos físico-químicos, como cor, pH turbidez e
temperatura, além de aspectos de natureza química e microbiológica, dividindo-os
por sessões e considerando-os de acordo com suas características e propriedades
essenciais.
No que diz respeito aos aspectos físico-químicos, todos os itens analisados, à
saída do efluente da ETE, encontravam-se em perfeitas condições de despejo,
plenamente de acordo com a Resolução Nº 430/2011, do CONAMA, cujos valores
foram respeitados como referência.
Referente à filtragem de compostos químicos como nitritos, nitratos, sulfetos,
fósforo total, e nitrogênio amoniacal, os resultados foram complemente satisfatórios,
em relação ao padrão observado, com exceção dos valores relacionados aos
fosfatos e sulfatos, que não contavam com nenhum parâmetro pré-estabelecido pela
aludida legislação.
Quanto aos coliformes totais despejados na ETE em comento, tanto no mês
de janeiro quanto no mês de março, foram alcançados 98% da eficácia de filtragem,
quase na mesma faixa aferida no âmbito dos coliformes termotolerantes, ficando
entre 99,3% (janeiro) e 98,75% (março).
Nesta senda, de acordo com os resultados analíticos obtidos através da
coleta e análise posterior do material coletado na ETE do referido Comando Militar, o
Efluente aquoso Proveniente da Saída da ETE, apresenta qualidade suficiente para
60

não causar impacto ambiental junto ao meio hídrico receptor, conforme determina a
Resolução N° 430 do CONAMA, em seus artigos 16 e 21.
61

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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filtrante - Areia, antracito e pedregulho. 1 ed. Rio de Janeiro: ABNT, 1990. 7 p.

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Janeiro: ABNT, 2011. 53 p.

NBR 13969: Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e disposição


final dos efluentes líquidos - Projeto, construção e operação. Rio de Janeiro, 1997. 60
p.

NBR 7229: Projeto, construção e operação de sistemas de tanques sépticos. Rio de


Janeiro: ABNT, 1993. 15 p.

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ABNT, 1999. 74 p.

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Genilson Oliveira Costa. Diagnóstico dos impactos ambientais provocados pelo
lançamento de esgotos no rio Piancó em Pombal-PB. Revista GeoSertões
(Unageo/CFP-UFCG). vol. 2, nº 3, jan./jun. 2017.

BRASIL. Lei Nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14026.htm. Acesso em: 10 de
setembro de 2020.

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anaeróbio em escala piloto para o tratamento de efluente sanitário com a adição de
papel higiênico como fonte de matéria orgânica. (2016). Trabalho de Conclusão de
Curso. Curso de Engenharia Ambiental. Centro Universitário UNIVATES.

CONAMA. Ministério do Meio Ambiente. Resolução Conama Nº 375, de 29 de agosto de


2006. Define critérios e procedimentos, para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em
estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras
providências. Brasília, DF: Publicação DOU, 30 ago. 2006a. n. 167, Seção 1, p. 141-146.

Resolução Conama Nº 380, de 31 de outubro de 2006. Retifica a Resolução CONAMA no


375/06 – Define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados
em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras
providências. Brasília, DF: Publicação Dou, 7 nov. 2006b. n. 213, Seção 1, p. 59-59.

Resolução Nº 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de


lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução no 357, de 17 de março de
2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. Disponível em
http://www.adasa.df.gov.br/images/stories/anexos/8Legislacao/Res_CONAMA/Resol
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Disponível em:
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MDG assessment. Geneva: World Health Organization (who) And The United
Nations Children’s Fund (UNICEF), 2015.
63

8 ANEXO
Figura 9. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do Efluente -
janeiro 2019 – Pagina 1 de 2.

Fonte: H2O Da Amazônia – Laboratório de Análises.


64

Figura 10. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do Efluente -


janeiro 2019 – Pagina 2 de 2.

Fonte: H2O Da Amazônia – Laboratório de Análises.


65

Figura 11. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do Efluente -


março 2019 – Pagina 1 de 2.

Fonte: H2O Da Amazônia – Laboratório de Análises.


66

Figura 12. Dados de Coleta e Análise da Qualidade Físico-química e Biológica do Efluente -


março 2019 – Pagina 2 de 2.

Fonte: H2O Da Amazônia – Laboratório de Análises.

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