Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Estímulo Resposta
Ex: o mecanismo instintivo da fome desencadeia um estimulo que leva o animal a procurar
o alimento de que precisa, ou seja, a fome é o estimulo a procura de alimentos é a
resposta a esse estimulo
Para que os seres vivos sejam capazes de sobreviver necessitam de dispositivos instintivos
que os permita percecionar sensorialmente os sinais enviados pelo mundo que os rodeia e
também permita que estes os interpretem de forma correta para que possam respondam
de forma adequada a esses estímulos.
Estes processos de transação só são possíveis porque o mundo natural se assume como
uma fonte de estímulos que se convertem em sinais e são captados sensorialmente pelo
recetor que responde a esses sinais de forma correta. Podemos dizer que a natureza dos
signos se trata de uma realidade sensorial destinada a assegurar o processo de transação
dos seres vivos, este processo é indispensável à manutenção, preservação e reprodução
dos organismos.
Processo de transação:
Ex: Alguns dispositivos são de tal modo elaborados que têm levado a designá-los como
linguagens, confundindo-os com processos específicos da comunicação humana. Por
exemplo, a dança que as abelhas utilizam para assinalar uma fonte de pólen ( as abelhas
quando regressam a colmeia transmitem as suas colegas em forma de dança a distancia a
que se encontra a fonte de alimento e a orientação a seguir para a encontrar).
Neste sentido, os signos estão destinados a atualizar culturalmente as pulsões que são
responsáveis pelo desempenho das funções das relações. A autonomia que os seres
humanos têm em relação aos sinais que o mundo que o rodeia envia, permite que sejam
capazes de transformar os sinais em signos, isto é, substituir os sinais por signos.
“ao contrario dos outros seres vivos, que estabelecem relações de transação com o meio
ambiente, respondendo mecânica e imediatamente aos estímulos que recebem, o homem
comunica, no sentido próprio deste termo, ao inventar mediações simbólicas, de natureza
cultural”. (página 38)
O homem é ainda capaz de elaborar um mundo só para ele, projetar esse mundo perante
ele e ainda dominá-lo, enquanto os outros seres vivos estão condicionados e submissos
aos instintos inatos com que vem ao mundo.
Linguagem e Mediação
Por mediação entende-se os dispositivos simbólicos, em geral, e a linguagem verbal, em
particular.
A linguagem verbal é o médium por excelência. Diferenciamo-nos dos outros seres vivos
através da linguagem verbal. É ainda através dela que “lemos” uma imagem, um som …
enquanto seres humanos recorremos sempre à linguagem verbal para processar a
significância.
Por exemplo: o Rui chegou atrasado – estamos a designar alguém como podemos também
designar os outros, a envolvente, os objetos, as coisas, entre outros; podemos ainda
utilizar a linguagem para referir coisas: “esta cadeira é castanha e torta”; mas ainda tem a
possibilidade de falar sobre si própria: “o nome do Rui tem 3 letras” – a linguagem
permite-nos falar sobre a linguagem através da própria linguagem.
Aqueles com quem temos uma experiência direta da realidade (os nossos
associados)
Os outros que não possuem a mesma experiência da realidade e de quem
percecionamos as marcas através das suas obras, discursos e imagens (com estes
não temos experiência direta, temos através de marcas que estes deixam, por
exemplo, os atores de Hollywood não temos um contacto direto com eles, mas sim
através dos filmes que estes realizam).
A atividade semiótica é uma das mais persistentes experiências humanas do mundo. Está
presente em todos os momentos da nossa vida, desde que respiramos pela primeira vez,
até ao nosso último suspiro. Podemos, assim, afirmar que a nossa vida está inserida em
complexos e persistentes processos semióticos. Seja desejado ou não por cada um de nós,
o mundo revela-se como um vasto e ilimitado conjunto de signos.
Enquanto seres humanos conseguimos partilhar alguns dos processos semióticos com
outros seres vivos, como com o passarinho, as abelhas e o cão. Os animais são portadores
de mecanismos instintivos e inatos, aos quais não conseguem escapar, mas através dos
cinco sentidos são capazes de desenvolver, tal como os seres humanos, atos semióticos.
Sendo a linguagem um processo semiótico de excelência é nela que tudo tem um começo
e um fim. Quando acontece algo recorremos à linguagem para percecionar, conceber,
comunicar e interpretar desde o primeiro segundo até ao último que esse acontecimento
ocorreu.
Só posso comunicar sobre as coisas nomeando-as por palavras porque o homem é o único
ser vivo que sendo um “ser de linguagem” tem a capacidade ou a faculdade de
denominar/de nomear mediante processos de abstração.
“É por isso que aquilo que não sabemos dizer não existe realmente para nós, não integra o
nosso mundo humano” (A.D.R, Introdução à Semiótica, página 10)
“Tal conceção podia fazer crer que a linguagem exprime, como um utensílio, qualquer
coisa- uma ideia? (…) Mas o que é esta ideia?” (página 17)
Sempre que nos ocupemos do assunto linguagem, ela apresenta-se sempre como um
sistema excessivamente complexo que se apresenta problemas de várias naturezas.
Deste modo, podemos afirmar que a materialidade da linguagem é caracterizada pelo som,
pela escrita e pela gestualidade. É esta materialidade que concebe, expressa e comunica o
pensamento. A linguagem representa todo o pensamento bem como toda a sua
constituição, isto porque “a linguagem é simultaneamente o único modo de ser do
É então, que não devemos aceitar a conceção que define que “a linguagem é o instrumento
do pensamento”, porque exige que ocorra um antes (o pensamento) e um depois (a
linguagem). Quer isto dizer, que a linguagem acabaria por exprimir algo exterior a si e que
na base desta conceção estaria um pensamento sem linguagem.
Acaba por ser considerada não aceitável uma vez que o pensamento é linguístico. Não há
linguagem sem pensamento e vice-versa. Podemos, então, afirmar que toda a linguagem é
pensamento e todo o pensamento é linguagem.
Resposta:” A linguagem é tudo isso simultaneamente e não pode existir umas destas
funções sem a outra” (página 17)
A linguagem que cada um de nós produz (por exemplo: a língua portuguesa) dependa da
cultura em que cada um se insere e de acordo com os seus processos de socialização.
Mensagem
Destinador Destinatário
Cada sujeito falante é destinador e destinatário da sua própria mensagem, uma vez que é
capaz simultaneamente de enviar uma mensagem decifrando-a e compreendendo-a. Cada
sujeito falante só é capaz de enviar uma mensagem que seja capaz de decifrar e
compreender, caso contrário, supõe-se que não seja capaz de emitir a mensagem. Assim,
a mensagem que o destinador envia ao destinatário, é primeiro destinado ao que fala: é
então que podemos concluir que “falar é falar-se”.
Mensagem
Mensagem
Destinador Destinatário
Mensagem
“falar e falar-se”
Linguística (língua de
um ponto de vista
Gramática (normal)
formal) – Ferdinand de Linguagem Verbal
Saussure (1857-1913)
Gramáticas Comparadas
Termo “língua” não se refere a uma língua especifica, mas ao que é comum em todas elas.
Então: a fala é “sempre individual e o individuo é sempre senhor dela”; é “um ato individual
de vontade e de inteligência”.
Língua e Discurso
Émile Benveniste (1902-1976)
Por exemplo: quando dizemos algo triste a rir estamos a marcar a estrutura obrigatória da
língua com um cunho pessoal, é uma espécie de atualização desta estrutura, mas nunca
uma alteração da mesma.
Para o plano do discurso é preciso analisar a oposição entre fala e história. Benveniste
afirma que quando falamos de história, não há locutor porque a história é como um todo.
Nós podemos falar de história, mas nós só ouvimos, não falamos como se a história fosse
da nossa autoria. O discurso, por outro lado, é qualquer enunciação que integre nas
estruturas do locutor e auditor tendo como efeito de influenciar o outro (o auditor). O
discurso é individual, ou seja, é da nossa autoria. Tudo o que dizemos através do
pensamento e das nossas vivências é válido para nós próprios com o objetivo de influenciar
o pensamento do outro que o que dizemos é certo.
A imagem acústica não é o som em si mesmo, mas “a marca psíquica desse som a
representação que dele nos é dada pelo testemunho dos nossos sentidos”.
Assim, um signo é “uma realidade psíquica com duas faces, sendo uma o conceito e a
outra a imagem”, e vice-versa, podendo o conceito ser a imagem e a imagem o conceito.
O signo é arbitrário – quer isto dizer que não existe qualquer relação necessária, motivada
entre o significante e o significado. Saussure não esta a dizer que a relação do signo com o
mundo é a arbitrária, mas sim a relação que este tem dentro dele é que é arbitraria.
Ou seja, é arbitrário, mas com regras, por exemplo, a palavra “vela” podíamos associar a
uma imagem acústica “mesa”, mas associamos a imagem de uma “vela”, porque foi assim
que o coletivo estipulou e é assim que nos aprendemos/recebemos por herança. Deste
modo, existe uma relação de arbitrariedade entre o conceito e a imagem, mas ao mesmo
tempo é lhe imposto regras, nos podíamos não chamar “vela” a uma vela, mas chamamos
porque é assim a regra.
O “arbitrário” do signo quer dizer normativo, absoluto, válido e obrigatório para todos os
sujeitos que falam a mesma língua.
Quer isto dizer que, para Benveniste, não é a relação entre o significante e o significado
que é arbitrário, como defendia Saussure, mas a ligação que se faz entre significante e
significado é necessária – o conceito e a imagem acústica são inseparáveis e encontram-
se em “simetria estabelecida”. O que é arbitrário é a relação desse signo com a realidade
que ele nomeia, com o exterior real que este simboliza.
“Um signo, ou representamen (primeiro vértice do signo), é uma coisa qualquer que está
para alguém em lugar de outra coisa qualquer sob um especto ou a um titulo qualquer.
Dirige-se a alguém, isto é, cria no espírito desta pessoa um signo equivalente ou talvez, um
signo mais desenvolvido. A este signo que ele cria dou o nome de interpretante (segundo
vértice do signo) do primeiro signo. Este signo está em lugar de qualquer coisa: do seu
objeto. Está em lugar deste objeto (terceiro vértice do signo), não sob todos os aspetos,
mas em referência a uma espécie de ideia a que por vezes tenho dado o nome de
fundamento do “representamen”. (A.D.R, Introdução à Semiótica, página 20)
Representamen
Objeto
Representado Interpretante
O ícone que estabelece uma relação de semelhança com o objeto - por exemplo: o
desenho de um arvore (nos sabemos que aquilo é uma representação não é uma
arvore na realidade), o mapa de um território (não confundimos o mapa com o
território, sabemos qual é a realidade);
O índice/indício não se parece forçosamente com o objeto, mas é afetado por ele, ou
seja, tem algo em comum com o objeto, isto é, mantém uma relação de
continuidade. - por exemplo: o fumo é um índice de fogo (não é semelhante ao fogo,
ou seja, fumo não é fogo mas sim um indicio deste); o odor é um índice de jantar;
Hiato(distancia) Intransponível
Palavras Coisas
(objeto)
Não se deve pensar que, pelo facto de esta dimensão se relacionar com a
“representação de Pierce”, foi Pierce que desenvolveu a dimensão em questão – há
apenas uma ligação. Esta dimensão está ligada à semântica.
Por exemplo: quando ouvimos “o sol é amarelo” sabemos que foi a professora que o
disse. O que é posto em causa é o porquê de o sujeito, neste caso, a professora, dizer o
que diz. Mas na dimensão anterior (referencial) o importante foi o que se disse. Assim,
não estamos a pôr em causa a frase, mas o porquê do dito. E é posto em causa porque
o dito foi dito por alguém.
Por exemplo o senhor diz “não sou culpado!” o que pertence a ordem do verdadeiro ao
falso é a relação do que esta a ser dito e o mundo, ou seja, se e verdade ou não que ele
disse aquilo. Em relação a segunda dimensão tem a ver com a ordem das convicções,
ele estará a dizer a verdade ou a mentir, ou seja, a convicção do senhor é que não é
culpado.
Conceção Simbólica
Esta conceção sublinha a autonomia da dimensão simbólica em relação à função
referencial, por considerar que a presença do homem ao mundo não é imediata, mas
mediatizada pela linguagem.
Antes de alguém poder designar um objeto a palavra já tem de ter sido construída
mentalmente, pois não os objetos que estão a ser designados, mas sim os seus conceitos
isso é que diferencia.
Dimensão Interlocutiva
Esta dimensão integra as três dimensões da linguagem: a referencial, a manifestadora e a
significa (de significação). NÃO É UMA 4ºDIMENSÃO
Nem o mundo, nem o homem, nem a linguagem são entidades singulares e autónomas.
Quando falamos, trocamos linguagens diversas, com interlocutores diferentes acerca de
uma multiplicidade de mundos diferentes.
Realidade
- linguagem – “mundo/referente” Sujeito/discurso-referência
Na linguagem natural utilizamos, por vezes, vários referentes para nos referirmos a um
mesmo designado. Por exemplo: «Planeta Vénus», em português, pode ser designado por
“estrela da manhã”, “estrela d’Alva”, “estrela da tarde”. Mas outras vezes referimo-nos a
vários designados com um mesmo referente. Por exemplo: «canto» designa o canto de
É importante não confundir referente com realidade, são dois termos diferentes. O
referente é aquilo a que nos referimos quando falamos, uma realidade do discurso ou uma
construção da linguagem. Já a realidade é aquilo que pressupomos como existente, mas
que, em si mesmo, escapa a qualquer possibilidade de referência.
Se observarmos com atenção o que se passa quando falamos, verificamos que maneira
como nos referimos às coisas não é autónoma à maneira como imaginamos como é o que
o nosso alocutário a vai descodificar. É por causa disto, que quando falamos com uma
criança ou com um adulto a maneira não é a mesma. Verificamos, ainda, que o processo
de codificação, onde o locutor constrói a referência, não é autónomo à maneira como o
locutor pressupõe que o alocutário vai realizar o processo de descodificação, no qual o
alocutário identifica a referência do discurso produzido pelo locutor.
Referência Social: quando o locutor faz referência a pessoas, não pode deixar de referir a
natureza da sua relação com as pessoas que a designa. Por exemplo: «Tu gostas de ler
romances», «O senhor gosta de ler romances» - no primeiro exemplo, o locutor designa
um grau de proximidade ou de familiaridade com o alocutório, enquanto no segundo
exemplo faz referência a uma relação de distância social ou cerimoniosa com o
interlocutor. Assim, para além de ter uma referência díctica, estes enunciados têm
também uma referência social. As formas de tratamento como designações profissionais
ou estatuárias (como por exemplo: Senhor Doutor, Vossa Excelência, Senhor Presidente,
Senhor Primeiro-Ministro) têm referências sociais.
Exemplo: “Quem empresta uma borracha” temos de ancorar esta afirmação o locutor para
percebermos “Quem me empresta uma borracha
Referência Metalinguística: é a referência que faz uma utilização opaca das unidades
verbais, como «Helena», na frase: “Helena escreve-se com 6 letras” e «Eu», na frase “Eu é
a primeira pessoa”, referem-se a eles próprios e a nada mais, e o locutor não as utiliza
como termos transparentes, que remetem para referentes, mas para fazer alusão destes
termos.
Utilizações da linguagem
(a dupla tese da referencialidade da linguagem)
Existe um paradoxo onde muitos caem porque reconhecem que a linguagem se refere ao
mundo e confundem as condições de verdade dos enunciados com as condições de
aceitabilidade ou de sucesso da referência aos seus próprios signos e com o ato de
enunciação. Assim, não reconhecem a autonomia da referência ao mundo em relação aos
processos de significação e de enunciação.
É a natureza dupla dos signos que nos permite referir ao mundo exterior e designar o
próprio processo de enunciação, ou seja, além da função representativa, os signos
possuem valores dícticos e auto-reflexivos que podem ser utilizados tanto de maneira
transparente, para designarem o mundo e a enunciação, como de forma opaca, para se
referirem a si próprios.
Por exemplo 1: «os campos estão verdes» é um valor de representação; Exemplo 2: «Eu
gosto de campos verdes» é um valor díctico e ambos os exemplos são de ocorrência
referencial.
Exemplo 2: «Este e esta são pronomes», são valores auto-reflexivos porque fazem menção.
Este exemplo é de ocorrência auto-reflexiva.
Nos exemplos que se seguem: «Eu não falo português» ou «Eu não estou aqui», o que está
aqui é a coexistência, no mesmo ato enunciativo, de funções diferentes e autónomas da
linguagem, como a função de representar uma realidade exterior e a função de se referir
ao próprio facto de enunciação de que é feito ou é o resultado.
Entre aquilo que o enunciado asserta e aquilo que a enunciação mostra, existe uma
relação de abismo.
Uma enunciação só pode ser propriamente referida por um outro processo de enunciação
que refira o primeiro, encaixando-o num novo processo de enunciação.
Por exemplo: Máquina: enunciação / fotografia: enunciado (não existe foto sem máquina)
primeiro enunciação– eu estou a tirar uma foto a um monte, um novo processo de
enunciação – alguém que tira uma foto a mim a tirar uma foto ao monte.
“Logo que alguém se declara locutor e assume a língua, implanta o outro em face de si,
qualquer que seja o grau de presença que atribui a este outro. Qualquer enunciação é,
explicita ou implicitamente, uma alocução pede um alocutário”. Benveniste citado por
Adriano, p.86
Enunciação Enunciado
Contrato Referencial
Define a aceitabilidade e razoabilidade e a relevância dos processos de referência
É um ato realizado implicitamente ou pressuposto pelos interlocutores
Ex: O João tem um filho que é engenheiro, mas o João não tem filhos
Cada vez que se questiona a enunciação implicitamente iniciamos um contrato referencial
pois o antigo foi quebrado
Em suma: a enunciação não está sujeita às condições de verdade, uma vez que a
substituição de dícticos pelos referentes que eles designam nem sempre corresponde
exatamente ao que os locutores querem dizer. É, ainda, através do processo de referência
que o discurso recebe as marcas subjetivas e intersubjetivas da enunciação.
A subjetividade estando presente na totalidade do discurso, é impossível os interlocutores
deixarem de ter em conta os pressupostos para darem sentido às significações que trocam
entre si. Mas desta natureza pressuposta da subjetividade depende a constituição do
sentido do discurso. Daqui decorre a existência de quadros de sentidos que definem as
fronteiras que delimitam o espaço dentro do qual determinadas realidades são razoáveis e
plausíveis e foram do qual seriam absurdas. É neste sentido, que os quadros de sentido
dão origem à criação de um contrato referencial – este define a aceitabilidade, a
razoabilidade e a relevância dos processos de referência e é um ato realizado
Modalidades da Experiência
A experiência revelou-se um conjunto heterogéneo de componentes entrelaçadas – cada
uma com os seus princípios e as suas exigências – que se relacionam entre si. É possível
agrupar em 3 modalidades as diferentes componentes da experiência: a modalidade
originária, a modalidade tradicional e a modalidade moderna da experiência.
São modalidades paradigmáticas da experiência que coexistem em todos os tempos e em
todas as sociedades. Manifestam-se na dimensão simbólica da cultura (em particular a
linguagem) como também na sua dimensão técnica.
Mas ao esquecer-se a origem desses saberes, eles convertem-se em tradicionais uma vez
que se tornam disponíveis para receber explicações racionalizadas, não esquecendo nunca
a sua indicação e a sua permanente adaptação aos interesses particulares. A este
processo correspondem as diferentes formas de mitificação (mitos).
É então, que dizemos que a experiência tradicional tem uma sabedoria tradicional,
experiência particular e localizada no mundo.
Este contribui ainda para a distinção entre o saber dizer (domínio do discurso) e do saber
fazer (domínio da intervenção técnica) em relação à função pragmática do saber.
A formulação do saber disciplinar é eminentemente discursiva e especializada – implica a
referência a formas societárias diferenciadas. Assim, rompe com a tradição.
O saber acaba por ter então duas modalidades do saber: a discursiva e a pragmática. A
automatização da função pragmática em relação à função discursiva da competência
corresponde de facto à automatização moderna do campo científico em relação ao campo
técnico.
Mas é importante deixar claro que a experiência moderna não é exclusiva das sociedades
que se nomeiam como modernas.
É neste sentido que podemos falar na viragem da modernidade associada aos ideiais do
Iluminismo ou das Luzes. Surge ainda uma deslocalização da experiência que passou a
integrar outras visões do mundo – esta deslocalização está atualmente mais marcada
porque há interações em todos os sentidos. Se falamos de deslocalização da experiência
também podemos falar de uma mundialização da experiência.
A validade das normas tidas como universalmente vinculadas deixou de se pode explicar
com o recurso a interpretações que implicavam a intervenção de um ente divino.
A escolha do destino de cada um passa a ser sinonimo num sentido social, da existência de
possibilidades infinitas, já que a posição social é um dado aberto, uma vez que deixa de
depender do nascimento (ou seja, podemos ser o que queremos apenas temos de
trabalhar por isso, enquanto que antigamente o nosso destino era definido pelo
nascimento, a nossa posição social definia o que seriamos no futuro e hoje isso não nos
define)
O individualismo acentua-se no sentido em que cada homem se interessa pela forma como
deixa a sua marca no Mundo. Cada um de nós constrói a sua identidade e projetos
individuais em contextos onde distintas esferas sociais entram em conflitos.
“Numa sociedade moderna e complexa, os mapas de orientação são cada vez mais
ambíguos, tortuosos e contraditórios” (J.C.C, página 119)
Os campos sociais constituem instituições sociais, esferas de legitimidade que impõe com
autoridade indiscutível atos de linguagem, discursos e práticas conformes, dentro de um
domínio específico de competência; impõem uma ordem axiológica própria – um conjunto
de valores que impõe a todos com uma força vinculativa. A legitimidade de um campo
social incide sobre todo o processo de institucionalização dos valores que lhe são próprios,
desde a sua criação e gestão até à sua imposição e sanção.
Os campos sociais asseguram a sua visibilidade pública pela imposição de uma simbólica
própria.
Os campos sociais têm um corpo social que é constituído pelo conjunto de detentores da
legitimidade instituinte desse mesmo campo (por exemplo: no campo político as pessoas
que integram um partido são o corpo social). Mas a característica principal do corpo social
é a sua visibilidade; a visibilidade é tanto maior quanto mais formal for a organização do
respetivo campo.
Dos processos e das funções entre os diferentes campos sociais resultam reflexos
(dimensões públicas – noção de interface entre os diferentes campos sociais) que se
projetam em casa um dos campos e o atravessam (por exemplo: no campo político
podemos encontrar dimensões religiosas).
O campo dos media não gere um domínio da experiência específico (que lhe seja próprio),
mas um domínio constituído por uma parte dos domínios da experiência que os restantes
campos sociais nele delegam.
“Na cidade-estado grega desenvolvida, a esfera da polis, que é comum (koine) aos
cidadãos livres, está rigorosamente separada da esfera do oikos, que é própria (idia) de
cada individuo” (Habermas, a transformação da esfera publica, página 71)
“Esta esfera publica de representação não se constitui como um âmbito social, como uma
esfera do que é publico, sendo antes, se o termo pode ser transposto para ela, algo como
um sinal de estatuto” (Habermas, a transformação da esfera publica, página 76)
A partir do século XV, é a corte do soberano que se torna o centro do ato de tornar publico,
do ato de “publicitar”
A partir do século XVI (modernidade) surge uma nova organização económica da sociedade
→ automatização das esferas pública e privada. Passamos a ter uma esfera privada
responsável pelo mercantilismo (a esfera privada diz respeito aos processos de troca) e
passamos a ter uma esfera pública responsável pela dimensão política e pelas funções do
governo.
No século XVIII: novo modelo de organização da sociedade civil com a articulação da esfera
pública e da esfera privada.
Esfera Pública
Literária (clubes,
Espaço Íntimo da imprensa) (mercado Corte
Família Conjugal de bens culturais) (sociedade aristocrático-
(intelligentsia «Cidade» cortesã)
burguesa)
Surge o declínio da esfera pública a partir do último quartel do século XIX e século XX:
A esfera pública é um campo de conflito social, onde importantes debates sobre o futuro
das nossas sociedades têm lugar.
A capacidade de intervenção desses recetores tem a ver com o facto de, enquanto
consumidores, poderem realizar escolhas.
Resumindo: os produtos que circulam nos mass media são formas simbólicas
mercantilizadas e reprodutíveis que se tornam disponíveis, em amplas abrangências de
tempo e espaço, para pública circulação e receção.
É então, que surgiram quatro dimensões do impacto interacional dos meios técnicos:
→ Os meios técnicos modificam a maneira como as pessoas agem para com os outros que
estão distantes: os meios técnicos permitiram que as pessoas pudessem comunicar
→ Os meios técnicos modificam a maneira como as pessoas agem em resposta aos outros
que estão distantes: os meios técnicos podem criar novas oportunidades para as pessoas
agirem em resposta a outras que estão distantes espacial e/ou temporalmente. A natureza
e o objeto da ação responsiva refletem-se no facto de as mensagens serem recebidas por
audiências que podem abranger milhares e milhões de pessoas; e essas pessoas podem
agir de uma maneira ou de outra, como resposta às mensagens que eles receberam. As
ações responsivas são dadas por desconhecidos e as maneiras de resposta àquilo que foi
dito ou mostrado pode ser difícil de definir-se. É então, que esta ação responsiva pode ser
variada e diversificada.
→ O facto de as pessoas terem começado a filmar os seus próprios eventos modificou o fluxo
de sentido único das imagens e reintegrou a experiência da vida no ecrã. (a existência da
máquina de filmar permitiu que as nossas experiências passassem pelo ecrã; altera o
sentido único das imagens porque eu enquanto consumidor posso consumir e ver as minhas
imagens – é possível registar os momentos e ver esses conteúdos que, por vezes, a nossa
memória pode não alcançar, como as memórias de quando erámos mais pequeninos).
Para que a audiência se pudesse manifestar teve de esperar pela internet (1995) – a
espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores (CMC). Permitiu que
surgissem novas formas de sociabilidade e novas formas de vida urbana adaptadas ao novo
ambiente tecnológico, nomeadamente as comunidades virtuais.
O que sabemos sobre o que está a acontecer na internet? – Tal como nas redes pessoais
físicas, a maioria dos laços existentes nas comunidades virtuais são especializadas e
diversificadas.
Uma maior utilização da internet leva a mais laços sociais, incluindo laços físicos.
Não existem isoladas das restantes formas de sociabilidade, mas reforçam a tendência
para a ‘privatização da sociabilidade’ (a reconstrução de redes sociais em torno do
indivíduo, o desenvolvimento de comunidades pessoais físicas e online).