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1 Universidade Católica de Brasília (UCB). Águas Claras, Distrito Federal, Brasil. Jornalista e membro do Grupo
de Estudos Avançados de Comunicação Mediática e Organizacional, do PPGCOM/UCB. daniela.martins@ucb.br
2 Universidade Católica de Brasília (UCB). Águas Claras, Distrito Federal, Brasil. Jornalista e membro do referido
Grupo de Pesquisa do PPGCOM/UCB. mateus.lincoln@ucb.br
3 Universidade Católica de Brasília (UCB). Águas Claras, Distrito Federal, Brasil. Jornalista, Relações Públicas,
mestre e doutor em Comunicação, além de coordenador do referido Grupo de Pesquisa do PPGCOM/UCB.
robson.dias@ucb.br
4 Universidade Católica de Brasília (UCB). Águas Claras, Distrito Federal, Brasil. Jornalista, mestre e doutoranda
em Comunicação, além de vice coordenadora do referido Grupo de Pesquisa do PPGCOM/UCB.
eliane.muniz@ucb.br
5 Universidade Católica de Brasília (UCB). Águas Claras, Distrito Federal, Brasil. Publicitário, mestre em
Administração e doutor em Comunicação, além de membro do referido Grupo de Pesquisa do PPGCOM/UCB.
victor.gomes@ucb.br
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo avalia uma narrativa jornalística pronta, acabada e exibida em rede
nacional à luz do Manual para Jornalistas Investigativos (UNESCO, 2009). Essa aplicação leva
em conta o fato de que o dilema ético acontece na hora da execução da reportagem jornalística
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e ele é vivido pela equipe de produção da reportagem. Metodologicamente, esta aplicação não
se ocupou de métodos para vislumbrar essa nuance (como a observação participante). No
entanto, na pesquisa em Jornalismo, é possível avaliar o conflito ético de modo ex-post-facto
com o uso de outros métodos. Neste caso, utilizamos a análise de conteúdo da narrativa final.
E a partir dela, tentamos vislumbrar, na reportagem investigativa produzida, a prática segundo
as normas técnicas e éticas padrão da profissão.
O objeto de análise é o videoteipe (VT) com o título “Sexo, Intrigas e Poder na Igreja
Católica” (CONEXÃOREPÓRTER, 2010), apresentado pelo jornalista investigativo Roberto
Cabrini no programa Conexão Repórter que é exibido todos os domingos à meia-noite no
Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Vale destacar que essa foi a maneira encontrada para
se comparar um conteúdo técnico-deontológico (manual) com a prática da reportagem
(Conexão Repórter). Enquanto o programa traz um viés prático (cotidiano), o manual é focado
em preceitos. E, neste sentido, traz quatro polos como balizas da técnica e da ética para a
produção de material em Jornalismo Investigativo.
A série em apreço despertou polêmicas quando foi exibida (2010) e teve continuação
em anos seguintes (2016). Também chegou a ser premiada na categoria Jornalismo
Investigativo pelo Prêmio ExxonMobil de Jornalismo.
2 OBJETIVOS
O foco deste estudo é avaliar uma narrativa tida como uma prática de excelência em
Jornalismo, no Brasil. Ressaltamos que não se ocupa de controvérsias acerca dos temas
investigados, como direitos humanos, Igreja católica ou pedofilia.
Na sequência, o artigo trabalha o Jornalismo Investigativo e suas nuances e
importância, além do manual utilizado para análise do conteúdo. Apresenta as categorias que
balizam a análise, além da decupagem do VT com análise da narrativa de acordo com o manual
discutindo relações desse confronto.
3 MATERIAL E MÉTODOS
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Na reportagem, Cabrini entrevista os adolescentes que sofreram abusos sexuais e que
detinham arquivos de vídeo como provas e, logo após, o repórter procurava os religiosos para
responderem sobre as acusações. O trabalho de Cabrini pode ser considerado como uma
reportagem original de acordo com Kovach e Rosenstiel (2003), na qual o repórter vai a campo
para realizar entrevistas e coletar dados.
No desenrolar do VT é demonstrado como foi a busca, feita pela produção do
programa, por pronunciamento por parte dos acusados, juntamente dos relatos dos
adolescentes, que chegaram a participar das investigações em determinados momentos.
Como consequências de suas apurações, o Ministério Público Estadual de Alagoas
abriu processo contra os acusados durante a reportagem. O padre Edilson Duarte e o monsenhor
Raimundo Gomes foram condenados a 16 anos de prisão e o monsenhor Luiz Marques foi
condenado a 21 anos de prisão. Todos foram sentenciados pelo juiz João Luiz de Azevedo
Lessa, titular da 1ª Vara Judiciária da Infância e Juventude de Arapiraca.
A série, além de ser condecorada com o Prêmio Esso de Telejornalismo em 2010,
repercutiu em todo o mundo, tendo destaque nos jornais New York Times, Le Monde e El País.
Após o trabalho de Cabrini, o Vaticano reconheceu, pela primeira vez, casos de pedofilia no
país envolvendo sacerdotes da Igreja Católica.
Em 2016, o Conexão Repórter voltou à Arapiraca com o documentário “Seis Anos
Depois”, em que Cabrini mostra o que aconteceu com os personagens da reportagem de 2010
e as consequências da repercussão midiática do caso.
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o maior número possível de versões para que o leitor/ telespectador possa tirar sua própria
conclusão.
Por outro lado, a tensão que é muito típica no jornalismo investigativo discorre sobre
o comportamento dos entrevistados e demonstra como esse fator pode ser útil para que o
profissional aproveite esses momentos de nervosismo/ medo para aprofundar ainda mais sua
investigação.
Por fim, a hipótese da reportagem, que normalmente ocorre durante as reuniões de
pauta, é um tipo de levantamento por meio do qual se buscam respostas para as questões
listadas. Dessa forma, o jornalista deve fazer uma investigação significativa para descobrir
quais pistas são verdadeiras, quais são falsas e, dependendo das respostas, encontrar outras
linhas de investigação. Isso indica que toda resposta vem de uma complexa apuração e não de
achismos.
4 DESENVOLVIMENTO
O jornalismo investigativo, por muitas vezes, é conhecido pelos temas polêmicos que
aborda e por desempenhar uma das principais funções do Jornalismo numa sociedade
democrática: exercer os atributos de Quarto Poder, ou seja, fiscalizar o cumprimento dos
deveres dos outros três poderes e buscar informações que sejam de interesse público.
De acordo com Fortes (2005), o avanço do jornalismo investigativo brasileiro tem forte
ligação com o fim do período ditatorial (1964-1985) e, consequentemente, com o impeachment
do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992). Foi neste ínterim que esta área obteve
progressos no país.
Os sucessivos escândalos ocorridos entre 1990 e 1992, durante a gestão do presidente
Fernando Collor de Mello, resultaram em uma febre investigatória francamente
disseminada na imprensa nacional. Pode-se dizer que o impeachment de Collor é o
marco zero do jornalismo investigativo no Brasil. A partir dele, jornalistas e donos de
empresas de comunicação viram-se diante de uma nova e poderosa circunstância,
com consequências ainda a serem dimensionadas. (FORTES, 2005, p.10)
4
Mesmo que esta cobertura jornalística do dia a dia e a investigativa tenham os mesmos
fins (de trazer informações de interesse público), seus processos de produção são diferentes.
Sobre esta disparidade, Burgh diz:
A cobertura jornalística tradicional é essencialmente reativa – envolve procurar pelas
pautas do dia que possuam elementos de interesse humano ou público (...) O
jornalismo investigativo, em contrapartida, é um processo muito mais cansativo,
nebuloso e por vezes, até tedioso (BURGH, 1999, p. 173).
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Hunter compreende que o investigativo é uma parte do Jornalismo que tenta modificar
a realidade, diferenciando-se do hard news (como são chamadas, no meio jornalístico, as
notícias do cotidiano), que tende a demonstrar ao público a realidade tal como ela é.
Desta forma, para que uma reportagem consiga alcançar seus objetivos e causar efeitos
reais, ela precisa ser trabalhada como uma história: em que os fatos e os personagens não são
mais importantes do que a narrativa em si, mas estão todos inseridos nesta.
Assim, o texto necessita de uma boa construção desde o seu planejamento até a sua
fase de entrevistas. No Manual é bastante explorada a utilização das hipóteses, que devem estar
presentes ao longo de todo o trabalho de apuração, sendo substituídas ou aprimoradas de acordo
com os dados coletados. Com isto, Hunter deixa claro a importância de se trabalhar com a
história e não com interesses próprios, empresariais ou de terceiros.
O autor trata logo de desconstruir a ideia de que o Jornalismo Investigativo lida apenas
com temas polêmicos, importantes e obscuros. Ele indica que matérias investigativas podem
abordar coisas boas, por exemplo, o sucesso de determinadas empreitadas. O que importa é o
trabalho minucioso de análise em que, muitas vezes, a melhor estratégia é começar pelas
informações e fontes já disponíveis ao público, visando encontrar o que outros deixaram passar.
Tendo nas fontes humanas uma das principais preocupações e abordagens do Manual,
Hunter prescreve algumas orientações sobre como lidar com elas. Tanto para o repórter quanto
para a fonte, é necessário ter cuidado para não expor ao perigo a vida de ambos, seja na relação
da fonte com outros integrantes do assunto retratado ou na relação entre o profissional e a
própria fonte. Assim, ele aborda a importância do anonimato. Também são indicadas formas
de como contatar, obter informações e manter um bom relacionamento com a fonte ao longo
da realização do trabalho. Além disso, a obra também aborda a questão da organização das
informações apuradas. Lembrando que no Jornalismo Investigativo, o tempo para apuração
tende a ser maior, logo tem-se uma pesquisa maior e há uma quantidade superior de material a
ser ordenado. Hunter destaca que essa organização é feita conforme os avanços da averiguação.
O autor também mostra quais os caminhos que o repórter deve seguir para ter uma organização
rica em detalhes e que, posteriormente, facilite o seu trabalho.
O próximo passo citado na obra é como a redação deve ser feita. Ou seja, como passar
essas informações para o público. Hunter mostra como essa narração investigativa deve ser
construída e cita pontos cruciais para que essa reportagem receba a atenção das pessoas tendo
como base a estrutura cronológica e a estrutura picaresca. A primeira é feita de acordo com o
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tempo, enquanto a segunda dá maior importância ao local/lugar do acontecimento. É preciso
escolher qual das duas estruturas seguir para dá prosseguimento ao trabalho.
Após isso, o autor fala sobre a importância da edição. Neste aspecto, Hunter fala sobre
três fatores essenciais neste processo: coerência, fluidez e nível de detalhamento.
O Manual mostra ainda que antes da publicação do material é necessário um controle
de qualidade que envolve critérios técnicos e éticos. Sobre este assunto, o pesquisador destaca
os erros cometidos e o quanto é importante a correção. O guia ainda mostra que todos os
detalhes precisam ser revisados com cautela.
Como o jornalismo é uma profissão que envolve poder, a responsabilidade ou conduta
do repórter é extremamente importante. Logo, também é abordado no material esse
posicionamento. Ainda destaca como o jornalista deve agir diante de fontes perigosas.
Para concluir, o Manual faz análise do último ponto (publicação). Já que houve toda
uma trajetória nesta obra para explicar como essa narração investigativa deve ser produzida, o
pesquisador salienta alguns fatores essenciais durante esse último processo, como a edição
apropriada e manchetes que realmente tenham a ver com o conteúdo da reportagem.
Como visto, o conteúdo da obra abrange uma riqueza de informações que podem levar
a uma melhoria do trabalho investigativo e contribuir para que os profissionais dessa categoria
tenham um instrumento para se nortear quando estiverem com dúvidas de como agir em
determinadas circunstâncias.
As fontes são cruciais para o jornalismo. Quanto mais fontes, maior é a pluralidade de
informações. Porém, é importante destacar que as fontes possuem direitos que devem ser
respeitados. Conforme dito por Schmitz (2011, p. 30), “entre o jornalista e a fonte se estabelece
uma relação de confiança que pode incluir o compromisso do silêncio quanto à origem da
informação. Essa informação envolve questões legais, éticas e deontológicas”. Desta forma, o
anonimato da fonte torna-se um meio de proteção muito importante e utilizada no jornalismo.
Quando o assunto é a investigação jornalística, esta ferramenta faz-se mais importante
ainda, visto que, muitas vezes, os assuntos trabalhados envolvem temas delicados nos quais a
exposição dos envolvidos na matéria pode acarretar diversos problemas, fazendo com que o
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profissional recorra a outras formas de se obter informações, como as fontes anônimas e as
gravações em off.
Antes de explanar sobre essa categoria que é mencionada no Manual para Jornalistas
Investigativos e na maioria das obras voltadas para esta área, é essencial que se entenda o que
é o anonimato. De acordo com o dicionário Silveira Bueno (2000, p. 66), o anonimato significa
“estado do que não se tem nome ou que o esconde”. Esse é um tema muito delicado e que não
pode ser ignorado pelo jornalista.
Esse tipo de conduta é previsto no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (Fenaj).
O Artigo 6º do referido Diploma Legal determina que é dever do jornalista “não colocar em
risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha”. Já no Artigo 7º do mesmo
código é dito que, no exercício de sua profissão, o jornalista não pode “expor pessoas
ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que
parcial, pela voz, traços físicos, indicação de locais de trabalho ou residência, ou quaisquer
outros sinais”. Como visto, o profissional também tem deveres a cumprir com as fontes que
entrevista e, quando se trata de Jornalismo Investigativo, a atenção precisa ser redobrada.
Outra distinção que é importante ser esclarecida são as expressões “em off” e “on”.
Esse tipo de pedido, quando não atendido, pode acarretar muitos transtornos, então é importante
que o jornalista conclua a entrevista e tenha a exatidão do que pode ser publicado e do que foi
falado apenas para a obtenção de conhecimento. Durante uma entrevista é comum se ouvir das
fontes, frases do tipo “deixe essa informação em off”.
Segundo Hunter (2009), há dois momentos para se discutir o uso desse tipo de
informação. “O (a) repórter promete não usar as informações fornecidas pela fonte, a não ser
que elas surjam inteiramente a partir de outra fonte” (HUNTER, 2009, p. 49). Ou seja, é
provável que durante outra entrevista as informações passadas pela primeira fonte “em off”
venham à tona durante outra ocasião (entrevista com outra fonte). Dessa forma, o repórter não
pode ser impedido de publicá-la. Outra situação citada por Hunter (2009) é que esse tipo de
informação pode ser utilizado, entretanto a fonte não é revelada.
No caso do “on”, “o(a) repórter pode usar as informações e atribuí-las à fonte”
(HUNTER, 2009, p. 49). Porém, é preciso que haja uma conversa entre o entrevistado e o
jornalista para que tudo fique bem claro em relação à essa escolha. A preferência pelo
anonimato é uma decisão da fonte e isso também vale para as informações que ela concede.
“Ao prestar uma informação em on, o jornalista presume que a fonte deseja ser identificada,
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embora, às vezes, a identificação se faz de maneira vaga ou indireta, geralmente por
incompetência do repórter (...)”. (SCHMITZ, 2013, p. 29).
4.3.2 Contraditório
Para que isso aconteça, as mais diversas fontes precisam ser procuradas. Schmitz (2009)
cita quais os tipos de fontes existentes e as divide em grupo, ação, crédito e qualificação. Dentre
a classificação feita no trabalho de Schmitz (2009), estão as fontes duvidosas. Como o próprio
nome indica, as informações passadas por essas fontes são controversas e podem gerar o caos
na sociedade, se não forem checadas. Por outro lado, o jornalista precisa ter certeza que essa
informação não é verídica, já que o jornalismo não é um local para julgamentos.
Por isso, mesmo que o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros apresente brechas,
não se pode negar que esse documento aborda muitas temáticas que são fundamentais para os
jornalistas. Há itens que merecem destaques e podem guiar o profissional a construir um
trabalho de qualidade.
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Outro aspecto que merece destaque está no artigo 7º que afirma que o jornalista não
pode “impedir a manifestação de opiniões divergentes ou o livre debate de ideias”. (CÓDIGO
DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS, 2007, p. 2). Portanto, ouvir os diferentes
lados durante uma apuração, seja ela investigativa ou não, é um fator primordial para se ter uma
reportagem mais rica em detalhes e para diminuir as chances de cometer equívocos.
Quando se fala de erros, um dos que marcaram os lapsos cometidos pela imprensa
brasileira é o caso Escola Base ocorrido em 1994, em São Paulo. Essa história tem muito
destaque em obras que abordam a importância da ética no jornalismo e que tratam do poder
deste profissional. “Erros jornalísticos podem provocar mortes sociais que mais se parecem
com sentenças perpétuas de sofrimento, ou matar de verdade”(Christofoletti, 2008, p. 20).
Foram essas as consequências para a vida dos envolvidos na Escola Base, já que abuso
sexual é um assunto muito delicado e que causa muita revolta na sociedade. Entretanto, o
jornalismo trouxe à tona um tema polêmico, mas sem a apuração devida. Logo, aqueles
apontados como culpados se tornaram as vítimas.
De acordo com Christofoletti (2008), o grande problema foi o absoluto crédito que os
jornalistas deram à fonte oficial deixando o contraditório de lado e esse tipo de ação é
mencionada por outros autores.
Quando um veículo de comunicação atribui culpa aos envolvidos de um crime antes
que os fatos tenham sido apurados, ou que as partes envolvidas tenham tido a chance
de se defender, é inevitável o risco de se cometer uma injustiça. Expor pessoas que
podem ser inocentes a opinião pública, tendo por base suposições, fere ao exercício
ético do Jornalismo. (SILVA, 2009, p. 131).
Dessa forma, ao invés de apurar de modo rigoroso e contribuir para que a verdade
viesse a público, o que os profissionais causaram foi o caos na sociedade e uma turbulência sem
fim na vida das pessoas que estavam sendo acusadas. Então, não basta ter o poder, é preciso
saber utilizá-lo. Jornalista é um formador de opinião, tudo que publica pode atingir direta ou
indiretamente a vida de milhares de pessoas. Logo, os envolvidos no caso Escola Base, podem
falar com exatidão sobre o poder midiático e suas consequências quando não trabalhadas de
maneira responsável.
O Jornalismo Investigativo lida diretamente com fontes perigosas, com a figura dos
acusados e das vítimas. Essas pessoas normalmente estão mais tensas, pois, em determinadas
situações, as mesmas podem sofrer retaliações por parte da sociedade e até mesmo da Justiça,
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o que causa desconforto. Por outro lado, Hunter (2009) afirma que o jornalista não pode tratar
suas fontes de modo diferenciado e diz que todos têm o direito de resposta. Até porque, como
dito anteriormente, não é função do jornalista acusar, mas sim buscar a verdade.
Como visto, ao trabalhar rotineiramente com temas delicados e polêmicos, é comum
entrevistar pessoas com alto nível de nervosismo ou que demonstrem algum tipo de
medo. Assim, Hunter (2009, p. 46) explica como o jornalista deve lidar com as fontes e explora
algumas técnicas de entrevista, entre elas, a tensão na voz. Esses e outros sinais precisam ser
observados pelo jornalista durante uma entrevista.
Esse tipo de comportamento pode levar o jornalista a fazer outras indagações a fim de
saber real o motivo para que a pessoa tenha agido desta forma e até mesmo para saber qual o
tipo de fonte está mais segura, qual apresenta medo e a que é mais agressiva.
Por outro lado, essas reações não são motivos para se tirar conclusões, por exemplo,
se a pessoa ficou agressiva é porque tem culpa. Essa deve ser uma razão para que o jornalista
investigue mais a fundo e busque o que está por trás de cada atitude. Desta forma, os momentos
de tensão podem ser utilizados para favorecer o trabalho investigativo e colaborar para o
processo de apuração. Claro, sempre prezando pelos direitos das fontes.
4.3.4 Hipótese
Para se construir uma boa matéria é necessário que esta seja bem planejada.
Geralmente, o planejamento acontece durante a reunião de pauta, quando um ou mais jornalistas
se une às editoras e editores para discutir determinado tema com o qual se queira trabalhar. Para
Miranda (2016, p. 03), “as sugestões de pauta partem da observação do cotidiano dos jornalistas
envolvidos no processo. Esses profissionais analisam o comportamento da sociedade e criam
temas que julgam interessantes para a audiência que lhes prestigia”.
Após a reunião de pauta e com sugestões das editoras e editores e outros jornalistas, o
profissional tem em mãos uma hipótese que norteará os próximos passos da investigação.
Segundo Hunter (2009, p. 14), “(a hipótese) define questões específicas que devem ser
respondidas se você quiser descobrir se ela faz sentido ou não”.
Assim, o interessado terá de comprovar quais dados são verdadeiros e quais são falsos
sobre aquela história e, reunindo todas as informações prévias às quais poderia dispor de fontes
abertas, pode-se restringir a pesquisa ao que ainda falta ser compreendido ou quais novas
hipóteses podem surgir a partir daí.
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No Manual para Jornalistas Investigativos (UNESCO, 2009) é definido que as
hipóteses podem atuar como diversas histórias que norteiam o trabalho do jornalista, em que, a
cada nova informação acrescentada, pode se confirmar as histórias anteriores ou fazer com que
surja uma nova história que mude os rumos da investigação.
Dentre as vantagens para o jornalista de se trabalhar com histórias, pode-se
considerar o fato de estar aberto a novas informações e propenso a encontrar novos rumos para
a investigação. Destarte, a suposição original pode ser comprovada ou refutada e cabe ao
profissional não se apegar ao gancho que o fez iniciar a pesquisa, como afirma Hunter:
Se você simplesmente tentar provar a qualquer custo que uma hipótese é verdadeira,
a despeito das evidências contrárias, você se juntará às fileiras dos mentirosos
profissionais do mundo [...]. O objetivo de uma investigação está mais além de provar
que você tem razão. O objetivo é encontrar a verdade. Uma investigação baseada em
uma hipótese é uma ferramenta que pode cavar uma boa medida da verdade, mas ela
também pode cavar uma profunda cova para os inocentes. (HUNTER, 2009, p. 17).
Esta categoria pode ser configurada como uma das ferramentas importantes do
Jornalismo Investigativo para se direcionar o profissional dentre as fontes e os depoimentos
recolhidos, utilizando e comprovando as informações recebidas sem desconsiderar outras
possíveis rotas para o fato averiguado. Outros autores também discorrem sobre o uso da
hipótese durante a apuração, como Fortes (2005, p. 33): “Faz, por exemplo, com que o jornalista
passe a trabalhar sobre hipóteses plausíveis e aprenda a se safar de falsas pistas e manipulações
de fontes inescrupulosas”. Ou seja, nem sempre os fatos são as únicas coisas com as quais o
profissional precisa se atentar.
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Quadro 1 – Categorização da narrativa em balizas elementares do Jornalismo
Investigativo
Imagens do coroinha e
do monsenhor em
práticas sexuais.
“Nossa investigação
Monsenhor Luiz. começa quando
00:02:10 00:03:40 tivemos acesso a este Hipótese Sim
vídeo, enviado por um
morador”. – Roberto
Cabrini.
Conteúdo do
Vídeo: “Imagens
fortes que
00:02:55 00:03:00 Roberto obviamente não Anonimato da Fonte Sim
Cabrini. podemos mostrar
em sua
totalidade”
(CABRINI,2010).
Mesmo que não
apareça nas legendas,
por um breve
Monsenhor Luiz. momento é falado o Anonimato da Fonte
03:30:00 00:03:33 nome de uma das Sim³
vítimas dos abusos
sem qualquer
distorção na voz.
Seriam as condições
de anonimato
solicitadas pela fonte?
Vão à Arapiraca
para investigar a
teoria inicial.
13
Imagens do
monsenhor Luís
celebrando a
missa.
Monsenhor Luiz. Provavelmente obtidas Anonimato da Fonte
00:05:36 00:05:44 sem a autorização do Não
mesmo.
Imagens do
monsenhor Luís
celebrando a
missa.
Provavelmente obtidas
sem a autorização do
00:05:59 00:06:03 Monsenhor Luiz. mesmo. Anonimato da Fonte Não
“Oficialmente,
monsenhor Luís Tem
uma imagem de auto
respeito” – Roberto
Cabrini.
Imagens distorcidas
dos três garotos
supostamente
abusados.
00:06:18 00:06:20 Fabiano, Flávio e Anonimato da Fonte Sim
Anderson.
“Continuamos a nossa
investigação” –
Roberto Cabrini
Entrevistando os
envolvidos.
Testando a
hipótese inicial.
14
“Os rostos não
serão mostrados
00:07:03 00:07:09 para preservar a Anonimato Sim³
Roberto integridade física da Fonte
Cabrini. de cada um”
(CABRINI,2010).
“Fabiano é o primeiro
00:07:20 00:0723 Roberto nome, o sobrenome Anonimato da Fonte Sim
Cabrini. não divulgaremos”
(CABRINI, 2010).
Novamente são
mostradas imagens
parciais da fonte, mas
sem a mesma edição
recebida em imagens de
00:07:19 00:07:25 Fabiano. outros entrevistados. Anonimato da Fonte Sim³
Seriam as
condições de
anonimato
solicitadas pela
fonte?
15
São mostradas vozes
sem distorção e
imagens parciais da
fonte que não
receberam a mesma
edição percebida em Anonimato da Fonte
00:11:46 00:14:48 Flávio. outras imagens. Sim³
Seriam as
condições de
anonimato
solicitadas pela
fonte?
“Estamos nos
aproximando da casa Entrevistando o
00:15:10 --¹ onde está o acusado. Testando a Hipótese Sim
monsenhor Luís” – hipótese oficial.
Roberto Cabrini.
16
O acusado se irrita
Monsenhor Luiz. com as perguntas.
00:20:20 00:22:32 Tensão Nulo²
“Não admito que o
senhor venha
até minha casa saber
disso” – Monsenhor
Luís.
“Entrando nisso, o
00:21:14 00:21:16 Monsenhor Luiz. senhor já está Nulo²
avançando” (LUIZ, Tensão
2010).
17
São mostradas voz sem distorção e imagens parciais
da fonte que não receberam a mesma edição
percebida em outras imagens.
Seriam as condições de anonimato solicitadas
Motorista particular pela fonte?
do Monsenhor Luiz. Anonimato da
00:24:48 00:25:25 Fonte Sim³
Ouvindo o acusado.
18
“Uma hora de negociação e monsenhor
Raimundo aceita falar, mas ele impõe uma
condição não podemos gravar o seu rosto,
apenas sua voz “. (CABRINI, 2010).
Roberto Anonimato da
00:32:25 00:32:34 Cabrini. Fonte Sim
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Advogado “Flávio, ex-coroinha que gravou o vídeo do monsenhor
00:35:38 00:36:36 Daniel Luiz fazendo sexo com Fabiano, recebe o telefonema do Hipótese Sim
Fernandes. advogado Daniel Fernandes” – Roberto Cabrini.
20
Um dos entrevistados se exalta ao
desconfiar de que pode estar sendo
gravado por microfones escondidos.
00:42:08 00:42:38 Padre Edilson. “Desconfiado, ele quer se certificar de que Tensão Nulo²
a conversa não está sendo gravada.” –
Roberto Cabrini. “Cadê o microfone?” –
Padre Edilson.
Roberto
00:42:43 00:42:56 Cabrini. Hipótese/Tensão Não
21
Fonte concorda em utilizar gravador escondido, mas
tem-se uma filmagem não autorizada do escritório do
Advogado Daniel advogado.
00:44:28 00:45:52 Fernandes e Anonimato da Não
Fabiano. Fonte
Com as categorias baseadas no Manual, foi realizada a análise do VT e, com isto, foi
possível construir um mapa onde estão traçadas as relações de acordo ou desacordo entre o
material teórico e o material prático.
Considerando o trabalho de verificação, cada categoria teve suas particularidades
para ser analisada. No “anonimato da fonte”, verificamos que o Conexão Repórter tem
grande preocupação com as fontes, ocultando/alterando sua imagem e preservando os seus
nomes reais. Como está expresso no Art. 6º inciso VI, acerca dos deveres dos jornalistas,
“não colocar em risco a integridade das fontes e dos profissionais com quem trabalha”.
(CÓDIGO DE ÉTICA DOS JORNALISTAS BRASILEIROS, 2007, p. 1).
As fontes entrevistadas obtiveram um tratamento diferenciado do que pode acontecer
em outros tipos de reportagens, como ficar de costas para câmera, mostrando somente a silhueta
ou recebendo, na edição, uma sombra escura para que o rosto fosse preservado. De acordo com
o Manual para Jornalistas Investigativos da Unesco (2009):
A coisa mais importante que você pode fazer em uma investigação é proteger a
confidencialidade de fontes que poderiam correr riscos por estarem em contato com
você. Esse requisito é especialmente forte quando estamos falando de fontes que
pedem para permanecer anônimas. A promessa do anonimato significa que você deve
fazer tudo para não deixar qualquer traço em relação às fontes. (Hunter, 2009, p.43).
Ainda de acordo com Hunter (2009, p. 43), “dê à fonte um apelido ou codinome (“Fonte
A”, “Fonte B”). Nunca use o nome real da fonte em discussões ou anotações”. Entretanto, o
Conexão Repórter trabalha com reportagem televisiva e, neste caso, optou por apresentar o
primeiro nome dos entrevistados o que, provavelmente, foi feito em acordo com os
entrevistados.
Porém, as vozes permanecem sem nenhuma modificação, o que pode ter sido
combinado anteriormente com as fontes por vontade ou escolha das mesmas, o que não implica
em negligência por parte da produção do programa.
No entanto, a equipe faz o uso, em muitos momentos, de câmera oculta ou microfone
escondido para alcançar os seus objetivos e, inclusive, filma sem a autorização dos
entrevistados em determinados momentos, mesmo que pare em gravação a pedido deles em
outros instantes. Isto pode evidenciar a declaração de Burgh (1999, p. 175) que fala de uma
única alternativa para se obter resultados para a apuração: “se os jornalistas investigativos
fossem obrigados a ser moralmente dignos, não teriam condições de sondar o mundo sórdido
que precisam investigar, nem seriam, portanto, capazes de desempenhar sua função”. Ainda há
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espaço aqui para se debater a discussão comentada por Christofoletti (2008) sobre o uso de
câmeras ocultas e a exposição a situações perigosas ao relembrar o caso do Tim Lopes. Todavia
é válido mencionar que nenhuma informação é justificável para colocar a vida dos profissionais
(ou dos/as entrevistados/as) em risco. “Não custa nada repetir: jornalista não é policial”
(CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 66).
“Contraditório” foi a categoria com maior conexão entre a série e o Manual, em que os
requisitados apresentados no diploma referido foram contemplados na reportagem. Não houve
momentos em que esta classe pudesse ser confundida ou tivesse a sua definição associada à
outras classes.
Ao longo de todo o trabalho realizado, Cabrini e sua equipe demonstraram cuidado em
sempre ouvir os possíveis acusados e as possíveis vítimas. Como afirma Teixeira (2007, p. 15):
“deve ouvir todos os lados envolvidos em um acontecimento, que deve avaliar o conteúdo
informativo que tem nas mãos e que, no final do processo, seu objetivo nada mais é que levar
informação à sociedade”.
Outro aspecto que merece destaque são as falas de Roberto Cabrini para interceder as
entrevistas. O apresentador mostra o quanto esse tipo de trabalho exige um cuidado especial
com as fontes e destaca a importância de uma apuração que mostre todos os lados envolvidos,
em conformidade ao que é determinado no Art. 12º, inciso I:
Ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições
envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de
acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas. (CÓDIGO DE ÉTICA
DOS JORNALISTAS BRASILEIROS, 2007, p. 3).
Com relação à “Tensão”, esta pôde ser verificável em diversos momentos do VT.
Assim como havia sido anunciado por Hunter (2009) quanto mais delicado fosse o assunto ou
maior fosse o perigo para o entrevistado, um clima de conflito se instalava. Durante a realização
deste trabalho ficou nítido que esse fator estava diretamente ligado ao tipo de indagação feita
por Cabrini. Um exemplo disso é quando Cabrini faz a pergunta inesperada ao monsenhor Luiz:
“Com seus 58 anos de sacerdote, o senhor já abusou alguma vez de algum coroinha?”. Durante
essa indagação se percebe uma alteração na voz e no comportamento do padre.
Por ser um assunto muito polêmico, a alteração de voz é a menor das tensões, pois
ocorrem muitas situações em que os acusados não tinham interesse em se manifestar, já que
apresentavam um certo receio. O que demonstra o que havia sido assegurado por Burgh (1999),
quando reiterou que o profissional precisaria se adequar às abordagens diferentes que o campo
investigativo exigiria dele.
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Também pôde ser percebido que, quando envolvimento do repórter aumentava, os
níveis de estresse acompanhavam. Nota-se ainda que a equipe soube aproveitar as alterações de
voz/comportamentais das fontes como uma deixa de se investigar mais a fundo, como se os
pequenos sinais indicassem que haveria algo a mais. Como havia sido demonstrado por Hunter
ao orientar sobre as informações nas entrelinhas:
Escute os momentos em que a voz do entrevistado muda de tom, pois esse é um sinal
garantido de tensão [...] por fim, esteja alerta quando a fonte responder a uma pergunta
que você não fez. Isso significa que a fonte está procurando lhe dizer o que realmente
importa, ou que ela está tentando evitar certo território? Se for este último caso, então
esse território é provavelmente o que você precisa explorar, agora e mais adiante.
(HUNTER, 2009, p. 47).
Foi necessário deixar claro que a Tensão não pode estar em conflito ou em concordância
com o Manual, já que ela apenas acontece como um produto das situações às quais estão
submetidos os profissionais, entrevistados e demais participantes na investigação.
No Manual Para Jornalistas Investigativos, a principal forma utilizada para orientar o
leitor é através de histórias que ilustrem os conceitos apresentados. Da mesma forma, Hunter
(2009) propõe que as reportagens investigativas sejam encaradas como histórias, em que, para
cada informação descoberta, uma hipótese seja formada ou descartada.
Diversas vezes pôde ser validada, no VT, a utilização pela equipe do programa do
método apresentado na “Hipótese”: ao surgirem novos personagens, ao serem acrescentadas
novas informações e na comprovação de teorias preliminares, como elucidou Hunter:
Primeiro, certifique-se se você está, de fato, contando uma história verdadeira – não
apenas uma história na qual cada fato é verdadeiro, e sim uma história na qual os fatos
se somam para compor uma verdade mais ampla. Se uma explicação alternativa faz
mais sentido do que a sua própria explicação, então há algo de errado. (HUNTER,
2009, p. 76).
Roberto Cabrini seguiu, na maior parte das vezes, o comportamento proposto por
Hunter (2009) quando afirmou que o jornalista não deve se apegar ao seu ponto de vista e se
prender às suspeitas pessoais. Deste modo, temos:
Você cria uma afirmação daquilo que pensa que a realidade é, com base nas melhores
informações de que você dispõe, e, então, procura novas informações que possam
provar ou refutar a sua afirmação. Esse é o processo de verificação. Como mostramos
acima, se a hipótese como um todo não puder ser confirmada, os seus termos
separados podem ser, ainda assim, individualmente verificados. (HUNTER, 2009, p.
18).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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investigar mais a fundo, pensando na alteração comportamental dos entrevistados como dicas
de que havia algo a mais a ser descoberto.
Todo o esforço de apuração foi conduzido como uma história a ser contada, em que
cada fato descoberto proporcionou uma nova hipótese que definiria os rumos da reportagem
final, acordando assim com o que havia sido demonstrado pelo Manual. Contudo, o caso
investigado tinha um peso maior por se tratar de direitos humanos (abuso de vulnerável) o que
o tornava de fácil empatia para com os envolvidos. Assim, é de se esperar que os/as
profissionais se deixassem envolver numa conjuntura geral, mas não se pode esquecer que o/a
jornalista deve estar preparado para manter sua imparcialidade perante as fontes e todas as
outras circunstâncias, sem se comprometer com elas. Este envolvimento pode ser percebido
quando Cabrini se adianta ao julgar o comportamento de um dos acusados como um veredito,
sem que as autoridades competentes tivessem operado no ocorrido.
Além disso, este mesmo instante pode demonstrar as dificuldades em se normatizar a
ação dos profissionais no Jornalismo Investigativo. Pois, aqui, duas categorias que foram
retiradas do Manual acabam se confrontando na análise do VT. Não conseguimos compreender
se o repórter tomou a investigação como pessoal ou se usou do momento de tensão como uma
pista para se aprofundar na análise. Vale ressaltar também que são necessários mais estudos
voltados para o Jornalismo Investigativo que tratem de todos os seus atributos no seu fazer
cotidiano e não somente sobre o que seria certo ou errado, ético ou antiético. Desta forma, a
teoria e a prática estariam mais próximas, alinhadas com o cotidiano dos profissionais. Também
há uma grande lacuna bibliográfica de pesquisa que ensaiem sobre os momentos de tensão entre
repórteres e fontes durante a apuração e o uso das hipóteses como ferramentas importantes. O
trabalho abordou estas duas esferas (tensão e hipótese) que foram extraídas do Manual e vistas
durante a reportagem analisada. No entanto, não foram encontrados referenciais teóricos que
falem sobre o assunto para que pudéssemos expandir a nossa verificação e, como já dito, o
Jornalismo Investigativo está mais propenso a lidar com a tensão diariamente e é onde se tem
mais vantagens em se trabalhar com hipóteses.
Por outro lado, o estudo atingiu o seu objetivo: identificar premissas do Manual no VT
(se existem ou não). Mencionamos ainda que, como um dos propósitos adjacentes, foi
percebido, por meio da pesquisa, que a cobertura investigativa exige de seus/suas profissionais
especialidades além do que se está acostumado quando se lida apenas com a cobertura comum.
É essencial que os/as jornalistas saibam confrontar as fontes, sondando cada um dos sinais
externalizados pelas mesmas durante a abordagem. Também é indispensável que os/as
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periodistas tenham nas hipóteses uma ferramenta essencial de apuração para que possam lidar
com diferentes caminhos a serem averiguados numa mesma história e não se apeguem a visões
pessoais ou se prendam a uma verdade única apontada por algum/a informante.
Durante a execução da pesquisa houve dificuldade em relação a encontrar referenciais
teóricos, pois, o Jornalismo Investigativo é pouco explorado no meio universitário no Brasil. O
VT “Sexo, Intrigas e Poder na Igreja Católica” pode ser demonstrado como um exemplo deste
ambiente, pois, a matéria seguiu, em grande parte do tempo, o que apontava o Manual Para
Jornalistas Investigativos, mas em alguns instantes, a equipe atuava de forma diferente. O
Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros não menciona, ainda, como proceder em abordagens
com fontes perigosas. Com uma bibliografia abrangente, o que traria uma discussão maior sobre
o assunto, é provável que a atuação dos profissionais fosse outra. No entanto, o trabalho visa
contribuir para que haja mudança nesse cenário e para que mais estudantes e pesquisadores/as
discorram sobre este campo e façam com que se tenha um maior número de estudos
relacionados a ele.
Como visto, o Jornalismo Investigativo busca realizar uma das funções primordiais na
profissão: trazer à luz fatos de interesse público que se encontram ocultos por pessoas que
cometem atos ilícitos. Claro, que todo jornalismo deve ter esse objetivo em sua essência,
entretanto o investigativo trabalha diariamente com temas obscuros e com fatos polêmicos e é
um mundo que envolve riscos, interesses e maior grau de responsabilidade.
Por fim, assim como as outras especialidades jornalísticas, o investigativo também
merece atenção por parte dos estudantes e pesquisadores, logo a análise buscou trazer essa
realidade, seus empecilhos e êxitos. Desta forma, o estudo também pretende fazer com que as
pessoas conheçam mais a fundo o trabalho de um jornalista investigativo, seu cotidiano e
contribuições quando feito de forma plena e percebam a brecha existente entre o “como deve
ser” e o “como é”.
6 REFERÊNCIAS
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