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Atualização do Sistema de Proteção de Ilhamento Elétrico em uma

Refinaria de Petróleo

Felipe Teodoro de Oliveira

Projeto de Graduação apresentado ao Curso


de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção
do título de Engenheiro.

Orientador: Sebastião Ércules Melo de Oli-


veira

Rio de Janeiro/RJ
Agosto/2014
Oliveira, Felipe Teodoro
Atualização do Sistema de Proteção de Ilhamento Elétrico em uma
Refinaria de Petróleo/ Felipe Teodoro de Oliveira. – Rio de Janeiro/RJ:
UFRJ/Escola Politécnica, Agosto/2014-
XV, 78 p. : il. ; 29,7 cm.
Orientador: Sebastião Ércules Melo de Oliveira
Projeto de Graduação – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Departamento de Engenharia Elétrica, Agosto/2014.
Referências Bibliográficas: 71
1. Proteção de subestações. 2. Blackout. 3. Relé Digital. 4. Estabili-
dade. 5. Sistema Elétrico de Potência. 6. Refinaria. 7. Termoelétrica I.
Oliveira, Sebastião Ércules Melo de. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. III. Escola Politécnica. IV. Departamento de Engenharia Elétrica.

iii
Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar à minha família, à minha mãe Margarida, à minha avó
Tereza e a meu irmão Fernando, pela compreensão em tantos momentos de ausência nesses
últimos anos e pelo imenso apoio, sem o qual certamente essa conquista não seria possível.
Meus agradecimentos também vão para os meus colegas de trabalho, pelo apoio e
pela imensa compreensão na concessão de diversas permutas para que fosse possível meu
comparecimento às aulas e provas.
Agradeço ao Engenheiro Eudifran, o idealizador deste trabalho, e aos outros
engenheiros envolvidos, pelo suporte e boa vontade. Assim como também agradeço ao
companheiro de trabalho Márcio Medeiros, que, gentilmente, cedeu sua monografia para
consulta.
Agradeço ao meu orientador Prof. Sebastião pelo apoio imprescindível.
Agradeço a meus queridos amigos de trabalho Gabriel, Rômulo, Marcos Paulo,
Robson Inácio e Thiago, com os quais compartilhei momentos inesquecíveis na Petrobras
e sempre ofereceram apoio incondicional em qualquer necessidade.
Agradeço à inestimável amizade de Bruno Luiz Riehl, sempre fonte de apoio e
do precioso aprendizado desde o inesquecível período no CEFET. Assim como também
agradeço à amizade de Alessandro Areal, pelas conversas e momentos de descontração, já
que nós três sabemos das dificuldades ocorridas neste últimos anos.
Agradeço também a todas as novas amizades que fiz no Fundão e, por fim, a todos
não citados aqui e que, de certa forma, tenham contribuído para este momento.

iv
Para encontrar a si mesmo, pense por si mesmo.
Sócrates

v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

Atualização do Sistema de Proteção de Ilhamento Elétrico em uma Refinaria de Petróleo

Felipe Teodoro de Oliveira

Agosto/2014

Orientador: Sebastião Ércules Melo de Oliveira

Curso: Engenharia Elétrica

Este trabalho descreve as mudanças feitas na lógica de proteção da subestação de


entrada da Refinaria Duque de Caxias, caracterizada por geração interna própria.
Foi verificado que a proteção antiga não atendia adequadamente as ocorrências de
colapso de tensão no sistema externo, sendo incapaz de identificá-las com velocidade apro-
priada. Para a implementação da atualização desse sistema de proteção, foram utilizados
conceitos apresentados em um artigo técnico que expõe as características diferenciadas
observadas no perfil de tensão de um sistema elétrico quando submetido a um blackout.
Como consequência de déficit na potência reativa necessária ao atendimento dos motores
elétricos, a tensão cai gradualmente mas para amplitudes maiores do que as observadas
durante os curto-circuitos.
Para a elaboração do projeto foi necessário um trabalho amplo de coleta de dados,
aplicação rigorosa de conceitos básicos de proteção e visualização global do sistema.

Palavras-chave: proteção de subestações, blackout, relé digital, estabilidade, sistema elétrico


de potência, refinaria, termoelétrica.

vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Engineer.

Upgrade of Island Protection System of an Oil Refinery

Felipe Teodoro de Oliveira

August/2014

Advisor: Sebastião Ércules Melo de Oliveira

Department: Electrical Engineering

This report describes the changes in the circuit breakers’ protection logic of Duque
de Caxias Oil Refinery substation, which is characterized by its own internal generation.
It was noticed that the old protection system did not guarantee adequate behavior
in response to external system voltage collapse, being unable to identify them in an
appropriate speed. In order to carry out the protection system upgrade, some concepts were
extracted from a technical paper that shows specific characteristics of voltage waveforms
observed during an external system blackout. Due the lack of reactive power for the supply
of the electric motors, the voltage drops gradually, but to larger amplitudes than those
observed during the short circuits.
In order to elaborate the project, a broad work of data collection, rigorous applica-
tion of basic protection concepts and global view of the system were necessary.

Keywords: Substation Protection, Digital Relay, Blackout, Stability, Power Eletrical System,
Oil Refinery, Thermal Power Station.

vii
Lista de ilustrações

Figura 1 – Vista aérea da entrada da Reduc. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3


Figura 2 – Foto da unidade de hidrotratamento de nafta craqueada. . . . . . . . . 3
Figura 3 – Exemplos de zonas de proteção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Figura 4 – Foto de um TC de 138 kV [10]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Figura 5 – Representação da ligação de um TC num circuito. . . . . . . . . . . . . 11
Figura 6 – Foto de um TP com detalhe para os terminais do lado secundário. . . . 12
Figura 7 – Subsistemas principais de um relé digital. Baseado na figura 2.20 de [12]. . 15
Figura 8 – Foto de um disjuntor de alta tensão isolado a SF6 [15]. . . . . . . . . . 17
Figura 9 – Diferentes inclinações das curvas tempo x múltiplo de tape. Extraído de [17]. 19
Figura 10 – Curvas características de tempo x corrente. Extraído de [17]. . . . . . . . 20
Figura 11 – Atuação de um relé direcional. Baseado na figura 2.7 de [7]. . . . . . . . . . 21
Figura 12 – Área de atuação de um relé de impedância num diagrama X x R. Baseado
na figura 3.104 de [4]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 13 – Área de atuação de um relé de admitância num diagrama X x R. Baseado
na figura 3.106 de [4]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 14 – Área de atuação de um relé de reatância num diagrama X x R. Baseado
na figura 3.105 de [4]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 15 – Sistema com correntes circulantes balanceadas sob falta externa. Baseado
na figura 13.2 de [17]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 16 – Sistema com correntes circulantes não balanceadas sob falta interna.
Baseado na figura 13.3 de [17]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 17 – Sequência geral de eventos que levam a um blackout . Baseado na figura 2
de [24]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 18 – Linha de transmissão ligando duas barras genéricas. . . . . . . . . . . . 29
Figura 19 – Configuração de um sistema de potência com três LTs ligando a geração
à carga. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 20 – Curvas características para o sistema íntegro, com Z12 = Xeq (curva I)
0
e para o sistema com uma das LTs aberta, com Z12 = Xeq (curva II). . 31
Figura 21 – Aplicação do critério das áreas iguais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 22 – Curvas características para Tensão vs Potência. . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 23 – Lógica monofásica de separação por subtensão, como proposto por Mozina. 37
Figura 24 – Lógica de separação utilizando a componente de sequência positiva das
tensões, como proposto por Mozina. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 25 – Reprodução do Relé REF542 plus instalado. . . . . . . . . . . . . . . . 43
Figura 26 – Reprodução do IHM (interface homem-máquina) do Relé REF542 plus. 43
Figura 27 – Foto do painel de ilhamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Figura 28 – Diagrama unifilar resumido do sistema elétrico da Reduccom carga
normal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 29 – Diagrama unifilar resumido da ligação entre a Reduc, a UTE-GLB e a
subestação de São José. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 30 – Reprodução da parte traseira do relé SEL-451 . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 31 – Captura de tela do acSELerator R
QuickSet TM SEL-5030 [32] . . . . 48
Figura 32 – Gráfico de afundamento de tensão registrado pelo TF-221001A. . . . . 50
Figura 33 – Diagrama lógico da proteção concebida com relé 67 e subtensão [35]. . 53
Figura 34 – Diagrama lógico da proteção concebida com relé 67 [35]. . . . . . . . . 53
Figura 35 – Diagrama lógico da proteção contra subtensão e inversão de potência
do disjuntor 1A [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Figura 36 – Diagrama lógico da proteção contra subtensão e inversão de potência
do disjuntor 1B [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 37 – Perfis de tensão fase-neutro no primário e secundário do transformador
TF-221001A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 38 – Defeito ocorrido na subestação de Grajaú em janeiro de 2011. [37] . . . 59
Figura 39 – Diagrama lógico da proteção de backup do disjuntor 1A [38]. . . . . . . 60
Figura 40 – Diagrama lógico da proteção de backup do disjuntor 1B [38]. . . . . . . 61
Figura 41 – Diagrama lógico da proteção contra reversão de potência ativa no relé
SEL-451 do disjuntor 1A [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 42 – Diagrama lógico da proteção contra reversão de potência ativa do
disjuntor 1B [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 43 – Diagrama lógico da proteção contra subfrequência e sobrefrequência do
disjuntor 1A [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 44 – Diagrama lógico da proteção contra subfrequência e sobrefrequência no
relé SEL-451 do disjuntor 1B [38]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 45 – Diagrama lógico da proteção contra sobretensão do disjuntor 1A [38]. . 64
Figura 46 – Diagrama lógico da proteção contra sobretensão do disjuntor 1B [38]. . 64
Figura 47 – Diagrama unifilar com o sistema elétrico da Reducilhado. . . . . . . . 65
Figura 48 – Diagrama Elétrico de parte do SEP do Grande Rio [47]. . . . . . . . . 77
Figura 49 – Legenda do diagrama da figura 48 [47]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

ix
Lista de tabelas

Tabela 1 – Resumo das características térmicas nominais de utilidades na Reduc. 41


Tabela 2 – Resumo das características nominais elétricas de utilidades na Reduc. 41
Tabela 3 – Operadores das equações de controle SELogic R
. . . . . . . . . . . . 48
Tabela 4 – Condição operacional da geração térmica da Reduc antes do blackout. 49
Tabela 5 – Condição operacional da geração elétrica da Reduc antes do blackout. 49
Tabela 6 – Condição operacional da geração térmica da Reduc antes do blackout. 66
Tabela 7 – Condição operacional da geração elétrica da Reduc antes do blackout. 67
Tabela 8 – Números padrões de funções e dispositivos de proteção [9]. . . . . . . . 72
Tabela 9 – Principais sufixos usados nos códigos de funções de proteção. [9] . . . . 75

x
Lista de abreviaturas e siglas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANSI American National Standards Institute

CA Corrente alternada

CC Corrente contínua

CIC Centro Integrado de Controle

DJ Disjuntor

ECE Esquema de Corte de Emergência

ETAP
R
Electrical Transient Analyzer Program

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

LT Linha de Transmissão

NBR Norma Brasileira Regulamentadora

ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico

RTC Relação de transformação do TC

RTP Relação de transformação do TP

SEP Sistema Elétrico de Potência

SG Steam Generator

SIN Sistema Interligado Nacional

TC Transformador de corrente

TF Transformer

TG Turbogenerator

TP Transformador de potencial

UHE Usina hidrelétrica

UVLS Undervoltage Load Shedding

UTE Usina termoelétrica

xi
Lista de símbolos

Ṽ1 Tensão fasorial na barra 1

Ṽ2 Tensão fasorial na barra 2

P12 Potência ativa no sentido da barra 1 para a barra 2

P21 Potência ativa no sentido da barra 2 para a barra 1

Q12 Potência reativa no sentido da barra 1 para a barra 2

Q21 Potência reativa no sentido da barra 2 para a barra 1

R Resistência elétrica

X Reatância elétrica

Xeq Reatância equivalente pré-falta

Xeq Reatância equivalente pós-falta

I˜ Corrente elétrica fasorial

Z Impedância elétrica

S̃12 Potência Aparente complexa fluindo da barra 1 para a barra 2

S̃21 Potência Aparente complexa fasorial fluindo da barra 2 para a barra 1

δ Ângulo de carga

Re Parte real

Im Parte imaginária

Es Tensão terminal de estador do gerador síncrono

PL Potência ativa da carga

Z12 Impedância entre as barras 1 e 2

M Momento angular

Pe Potência elétrica

Pm Potência mecânica ou de eixo

xii
δ0 Ângulo inicial de conjugado da máquina síncrona

δf Ângulo de carga na extinção da falta

δcrit Ângulo de carga crítico

δmax Ângulo máximo de carga

Fp Força magnetomotriz do enrolamento primário do TC

Fs Força magnetomotriz do enrolamento secundário do TC

< Relutância do circuito magnético do núcleo do TC

Φ Fluxo magnético do nucleo do TC

Np Número de espiras do enrolamento primário do TC ou TP

Ns Número de espiras do enrolamento secundário do TC ou TP

Ip Valor eficaz da corrente primária do TC

Is Valor eficaz da corrente secundária do TP

Temp Temporizador

U Tensão de sequência positiva

U2 Tensão de sequência negativa

Ua , Ub , Uc Tensões fase-neutro das fases a, b e c, respectivamente

bbl/dia Barris americanos de petróleo por dia

F Frequência elétrica

xiii
Sumário

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 A Reduc . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
2 Proteção de Sistemas Elétricos de Potência . . . . . . . . . . . . . . 4
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Motivação para a Proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.3 Características Fundamentais de um Sistema de Proteção . . . . . . . . 5
2.3.1 Seletividade e Zonas de Proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3.1.1 Seletividade amperimétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.3.1.2 Seletividade cronométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.3.1.3 Seletividade lógica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3.2 Velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.3.3 Sensibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3.4 Confiabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.4 Equipamentos de Proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4.1 Transformador de Corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4.1.1 Relação de Transformação dos TCs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.4.2 Transformadores de Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4.2.1 Relação de Transformação dos TPs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4.3 Relés Eletromecânicos de Indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4.4 Relés de Estado Sólido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.4.5 Relés digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.4.6 Disjuntores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4.7 Baterias e Fontes CC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.5 Funções Básicas de Relés de Proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.5.1 Sobrecorrente (50/51) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.5.1.1 Relé de sobrecorrente temporizado (51) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.5.1.2 Relé de sobrecorente instantâneo (50) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5.2 Relé de Religamento (79) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5.3 Relé de Sobrecorrente Direcional (67) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.5.4 Relé Direcional de Potência (32) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.5.5 Relé de Distância (21) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.5.5.1 Relé de Impedância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.5.5.2 Relé de Admitância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.5.5.3 Relé de Reatância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.5.6 Relé de Sobretensão (59) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.5.7 Relé de Subtensão (27) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.5.7.1 Relé de subtensão eletromecânico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.5.7.2 Relé de subtensão digital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.5.8 Relé Diferencial (87) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3 Blackout e Ilhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.2 Blackout . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.3 Tipos de Perturbações no SEP durante um Blackout . . . . . . . . . . . 29
3.3.1 Instabilidade de Frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.3.2 Instabilidade Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.3.2.1 Instabilidade angular de regime permanente . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3.2.2 Instabilidade angular em regime transitório . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.3.3 Instabilidade de Tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.3.3.1 Colapso de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4 Ilhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.5 Desenvolvimento de um Sistema de Descarte por Subtensão . . . . . . . 36
4 Nova proposta de Ilhamento e Execução . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.2 Objeto de Estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.2.1 SEL-451 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2.1.1 Equações de Controle SELogic R
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.3 Motivação da proposta de atualização do Sistema de Ilhamento . . . . . 48
4.4 Proposta de Ilhamento e Execução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.4.1 Implementação da proteção contra subtensão . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.4.1.1 Análise da Proteção contra Subtensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.4.2 Proteção de Sobrecorrente Direcional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4.3 Proteção contra reversão de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.4.4 Proteção contra Desvios de Frequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
4.4.5 Proteção contra sobretensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.5 Nova Ocorrência no SIN e Desempenho do Novo Sistema de Ilhamento . 66

5 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
ANEXO A – Tabela IEEE/ANSI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

xv
ANEXO B – Observações concernentes ao Sistema Elétrico do Grande
Rio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
1

1 Introdução

A função de um Sistema Elétrico de Potência é converter energia de uma de


suas formas naturais disponíveis para a forma elétrica e transportá-la para os pontos
de consumo. Energia raramente é consumida na sua forma elétrica, sendo geralmente
convertida para outras formas tais como calor, luz e energia mecânica. A grande vantagem
da disponibilidade de energia em sua forma elétrica é que a mesma pode ser transportada
e controlada com relativa facilidade e com alto grau de eficiência e confiabilidade [1].
Um sistema elétrico de potência apresenta três componentes principais: estações de
geração, linhas de transmissão e sistemas de distribuição. O sistema de transmissão consiste
nas linhas de transmissão de conexão entre todas as estações geradoras e os sistemas
de distribuição. Um sistema de distribuição conecta todas as cargas individuais numa
dada área às linhas de transmissão. Um sistema de potência bem desenvolvido integra um
grande número de estações geradoras de forma que a energia seja disponibilizada à região
de carga [2].
Desde o surgimento dos primeiros Sistemas Elétricos de Potência, o constante
aumento da demanda fez com que o nível de complexidade destes sistemas fosse acentuado.
A implementação de grandes sistemas interligados é um dos resultados mais notáveis deste
fato, de forma que os estudos de esquemas de proteção exigem hoje um grande acúmulo de
dados e conhecimento avançado de estabilidade de sistemas elétricos de forma a contribuir
para a meta final de um mínimo de confiabilidade.
O objetivo deste trabalho é a exposição e análise da implementação de um sistema
de proteção numa unidade industrial com geração própria. O trabalho trata das mudanças
feitas no sistema de ilhamento elétrico da Refinaria Duque de Caxias em face do ocorrido
durante o blackout de novembro de 2009. Nesse evento, os relés dos disjuntores de inter-
ligação com o sistema externo não foram capazes de identificar com a devida rapidez o
problema em andamento, devido à configuração baseada em detecção de subfrequência
e não colapso de tensão, fenômeno hoje sabidamente inerente aos blackouts no Sistema
Elétrico de Potência. Como resultado, a produção na refinaria foi interrompida por falta
de energia. A motivação deste trabalho reside na importância de apresentar o estado de
um projeto moderno de Proteção Elétrica.
O trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro e o quinto capítulo
são a Introdução e a Conclusão, respectivamente. O segundo capítulo lidará com os
aspectos teóricos básicos relacionados à Proteção de Sistemas Elétricos de Potência. O
terceiro capítulo apresenta informações recentes relativas aos fenômenos de blackout e
ilhamento, incluído o artigo que serviu de base para o projeto do esquema de ilhamento.
Capítulo 1. Introdução 2

O capítulo quatro descreve a implementação e apresenta resultados de análise do esquema


de ilhamento.

1.1 A Reduc
A unidade industrial na qual se encontra o objeto de estudo descrito neste trabalho
é a Refinaria Duque de Caxias, propriedade da Petrobras, localizada em Campos Elíseos,
Duque de Caxias. Em 9 de setembro de 1961, a refinaria iniciou a produção de combustíveis,
direcionada primordialmente para o Rio de Janeiro e sua região de influência. Este foi um
marco para o desenvolvimento industrial do Estado. Ao integrar-se ao parque de refino da
Petrobras, que na época estava em fase de consolidação, a Refinaria Duque de Caxias foi
crescendo em tamanho e importância.
Hoje a refinaria opera ligada a uma ampla rede de indústrias, procurando garantir
suprimento às crescentes demandas do mercado por combustível, lubrificantes, petroquími-
cos e gás. Participa ainda, e de forma intensiva, da cadeia de gás natural, tanto na área de
distribuição quanto na de fornecimento de insumos para a petroquímica.
Com um processo contínuo de modernização, a refinaria comercializa hoje 55
produtos, entre eles: óleo diesel, gasolina, querosene de aviação (QAV), asfalto, nafta
petroquímica, gases petroquímicos (etano, propano e propeno), parafinas, lubrificantes,
GLP, coque, enxofre, etc.. Possui capacidade instalada de 239000 bbl/dia (38000 m3 /d) e
está situada numa área de aproximadamente 13 km2 . Atualmente, atende os mercados
de Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Paraná e Rio
Grande do Sul. A figura 1 reproduz fotografia da entrada da refinaria e a figura 2 de uma
de suas unidades de processo.
A energia elétrica consumida pela Reduc é produzida parcialmente por geração
própria e complementada pelo sistema elétrico externo interligado à Usina Termoelétrica
Governador Leonel Brizola (UTE-GLB) [3].
Capítulo 1. Introdução 3

Figura 1 – Vista aérea da entrada da Reduc.

Figura 2 – Foto da unidade de hidrotratamento de nafta craqueada.


4

2 Proteção de Sistemas Elétricos de Potência

2.1 Introdução
Neste capítulo serão expostos os fundamentos básicos de proteção de sistemas
elétricos de potência. Como esta monografia lida com falhas em sistemas de proteção,
será dada atenção especial às características necessárias a um bom esquema de proteção.
Também serão apresentados os principais equipamentos de proteção, dentre eles o relé
digital, cada vez mais utilizado nas instalações, inclusive na da Reduc. As principais
funções dos relés relevantes para este trabalho serão expostas por fim.

2.2 Motivação para a Proteção


Os Sistemas Elétricos de Potência se encontram, com dada frequência, sujeitos a
falhas nos seus componentes que resultam em interrupções no fornecimento de energia aos
consumidores, resultando em redução da qualidade do serviço prestado.
Dentre os eventos de falha mais comuns aos quais os SEPs são submetidos,
encontram-se os curto-circuitos que dão origem a correntes elevadas atravessando to-
dos os elementos da instalação que estão próximos à região da falta. Como resultado ocorre,
simultaneamente, redução apreciável no perfil de tensão ao longo do sistema elétrico,
ocasionando, muitas vezes, danos irreparáveis às instalações das unidades consumidoras e
a seus equipamentos.
A sobrecarga é outro fator de anormalidade nos SEPs, que pode originar perdas
materiais significativas.
Outros efeitos de igual severidade podem ocorrer nos sistemas elétricos, tais como
as sub e sobretensões com origens distintas, desde descargas atmosféricas a manobras,
entre outras. Em outras ocasiões estão ligadas à ocorrência de curto-circuitos.
Portanto, a considerar que os curto-circuitos, as sobrecargas e as sub e sobretensões
são inerentes ao funcionamento dos SEPs, apesar das precauções e cuidados tomados
durante a elaboração do projeto e a execução das instalações e ainda considerando-se o
atendimento às normas mais severas e as recomendações existentes. As consequências de
tais anormalidades poderão ser irrelevantes ou desastrosas, dependendo do sistema de
proteção implementado para aquela instalação em particular [4].
Segundo (Mamede Filho e Mamede, 2011), a principal função de um sistema
de proteção é assegurar a desconexão de todo sistema elétrico submetido a qualquer
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 5

anormalidade que o faça operar fora dos limites previstos ou a desconexão de parte
dele. Em segundo lugar, o sistema de proteção tem a função de fornecer as informações
necessárias aos responsáveis por sua operação, de modo a facilitar a identificação dos
defeitos e a sua consequente recuperação rápida.
A proteção de um sistema de potência é geralmente projetada tomando-se como
base os fusíveis e os relés incorporados necessariamente a um disjuntor. Este, por sua
vez, aciona as partes mecânicas do dispositivo responsável pela desconexão do circuito e
isolamento em relação à fonte supridora.
O fusível representa o conjunto de inúmeros dispositivos capazes de interromper
um circuito ao qual estão ligados, sempre através da fusão de sua unidade metálica de
proteção. São normalmente usados nos sistemas de distribuição de média tensão e muito
raramente nos sistemas de alta tensão, devido à sua baixa confiabilidade e à dificuldade
de se obter sistemas efetivamente seletivos em todas as subestações.
Os relés representam outra gama de dispositivos, com variadas formas de construção
e funções incorporadas para aplicações diversas, dependendo da importância, do porte e
da segurança da instalação em que serão instalados. Os relés sempre devem atuar sobre
o equipamento responsável pela desconexão do circuito elétrico afetado, normalmente o
disjuntor ou religador.
O defeito em um sistema elétrico é detectado, de forma geral, a partir da aplicação
de um dos seguintes critérios [4]:

• Elevação da corrente;

• Elevação ou redução da tensão;

• Inversão do sentido da corrente;

• Alteração da impedância do sistema;

• Comparação de módulo e ângulo de fase entre as tensões e correntes na entrada e na


saída do sistema.

2.3 Características Fundamentais de um Sistema de Proteção


2.3.1 Seletividade e Zonas de Proteção
Os relés possuem uma área conhecida como zona primária de proteção, mas eles
podem operar apropriadamente em condições fora da zona. Nesses casos, ele provêem
proteção de retaguarda ou backup para a área fora de sua zona primária.
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 6

A seletividade, normalmente exercida a partir da coordenação dentre os relés de


proteção, é o processo de aplicar e configurar os relés de proteção que supervisionam outros
relés de proteção no menor tempo possível dentro da zona primária, mas devem possuir
um retardo de operação nas suas zonas de backup. Isto é necessário para permitir que
os relés primários relacionados a este backup, ou à área supervisionada, tenham tempo
para operar. De outra forma, ambos conjuntos de relés poderiam operar para faltas na
área supervisionada: os relés primários para a área e os relés de backup. A operação da
proteção de backup é incorreta e indesejável neste caso, a menos que a proteção primária
da área falhe para extinguir a falta. Consequentemente, a seletividade ou coordenação de
relés é importante para assegurar o serviço máximo de continuidade com o mínimo de
desconexões [5].
As zonas de proteção são compostas por um ou mais elementos do sistema de
potência, assim como por um ou mais disjuntores. Como o isolamento numa falta é
realizado por disjuntores, eles ajudam a definir os contornos das zonas de proteção. Em
muitos casos, os disjuntores mais próximos às áreas de contorno passam a fazer parte de
duas zonas de proteção, resultando numa área chamada sobreposição de zonas de proteção,
a qual é uma zona de proteção em si. Esta, por sua vez, permite que não haja pontos cegos
entre as zonas de proteção, aumentando a confiabilidade dos sistemas de proteção [6]. A
figura 3 mostra exemplos de zonas de proteção e de sobreposição das mesmas. As zonas 5
e 6 são zonas de proteção de linhas de transmissão; as zonas 2 e 4 são zonas de proteção de
barras; a zona 3 é a zona de proteção do transformador enquanto a zona 1 é a de proteção
o gerador. Notar as zonas de proteção sobrepostas nos disjuntores das barras A e C [7].

B
A
5

3
6
4

C
2

Figura 3 – Exemplos de zonas de proteção.


Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 7

Conforme [4], a seletividade de um sistema de proteção pode ser efetuada por meio
de três diferentes formas: por corrente, por tempo e por lógica.

2.3.1.1 Seletividade amperimétrica

A seletividade amperimétrica, também conhecida como seletividade por corrente,


fundamenta-se no princípio de que as correntes de curto aumentam conforme o ponto de
falha se aproxima das fontes de energia. É mais empregada nos sistemas de baixa tensão,
onde a impedância dos circuitos elétricos é significativa em comparação aos sistemas de
média e alta tensão.
Tal princípio pode ser aplicado em sistemas de distribuição a partir da utilização
de elos fusíveis. Nos sistemas de transmissão de curta distância, as correntes de falta não
apresentam grandes variações nos diferentes pontos de falta, o que dificulta a aplicação
desses procedimentos.

2.3.1.2 Seletividade cronométrica

A seletividade cronométrica se baseia em retardar uma proteção instalada a mon-


tante para que a proteção instalada a jusante tenha tempo suficiente para atuar eliminando
e isolando a falta. Ela se fundamenta no princípio de que a temporização intencional do
dispositivo de proteção próximo ao ponto de defeito deve ser menor do que a temporização
intencional do dispositivo de proteção a montante.
A diferença entre dois tempos de disparo de duas proteções consecutivas deve
corresponder ao tempo de abertura do disjuntor, somado a um tempo de incerteza de
atuação das referidas proteções. A diferença denomina-se intervalo de coordenação, e é
assumida com valores típicos entre 200 e 400 ms. Portanto, temos que:

tco ≥ tp + tab + tarc + tseg (2.1)

onde: tco é o tempo de coordenação; tp o tempo de atuação da proteção (relé); tab é o tempo
de abertura do disjuntor; tarc o tempo de extinção do arco e tseg é um tempo adicional de
segurança [8].
É importante ressaltar que esse tipo de seletividade pode levar a tempos de atuação
da proteção muito elevados, à medida que se aproxima da fonte de suprimento, o que traz
algumas desvantagens de projeto. Em função do tipo de dispositivo de proteção utilizado,
as seguintes combinações de proteção podem ser encontradas nos sistemas elétricos: fusível
em série com fusível; fusível em série com relés temporizados; relés temporizados em série
entre si e relés temporizados e relés instantâneos atuando de forma integrada.
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 8

2.3.1.3 Seletividade lógica

Esse conceito de seletividade é mais moderno e surgiu em função da disseminação


dos relés digitais.
A seletividade lógica é um sistema lógico que combina um esquema de proteção de
sobrecorrente com um esquema de comunicação usando fio piloto ou outro meio equivalente,
de forma a se obter uma proteção de tempo extremamente reduzido, porém seletiva.
A seletividade lógica pode ser mais facilmente aplicada em sistemas radiais, tendo
aplicações em sistemas em anel quando são utilizados relés direcionais.
Tal seletividade elimina os inconvenientes inerentes à utilização de esquemas de
seletividade amperimétrica e cronométrica.
Seu sucesso pode ser comprovado nas novas instalações da Reduc, na qual todos
os novos relés são implantados na versão digital. Para aquelas instalações em operação
nas quais já existem disjuntores de baixa tensão, por exemplo, a seletividade lógica é
impraticável.

2.3.2 Velocidade
É desejável que a proteção isole uma zona problemática tão rápido quanto possível.
Em algumas aplicações isso não é dificil, mas em outras, particularmente onde a seletividade
está envolvida, operações mais velozes podem ser obtidas através de uma proteção mais
complexa e geralmente mais cara. Proteção instantânea ou de tempo curto, embora
desejável, pode resultar em um aumento no número de operações indevidas. Logo, como
via de regra, quanto mais rápida é a operação do dispositivo de proteção, maior é a
probabilidade de ocorrência de operações incorretas. O tempo, geralmente uma grandeza
que assume valores relativamente pequenos, permanece um dos melhores meios de se
distinguir entre transitórios toleráveis e intoleráveis.
O relé de alta velocidade é aquele que opera em menos de 50 ms (três ciclos na
base 60 hertz) (IEEE 100). O termo instantâneo é definido para indicar que não há tempo
(delay) implementado propositalmente no dispositivo. Na prática, instantâneos e de alta
velocidade são usados como sinônimos para descrever relés que operam em 50 ms ou menos.
Disjuntores modernos de alta velocidade operam numa faixa de 17 a 50 ms (um
a três ciclos a 60 Hz), outros operam a menos de 83 ms (cinco ciclos de 60 Hz). Logo,
o tempo total de atuação do sistema de proteção (relés mais disjuntor) tipicamente fica
entre 35 e 130 ms (dois a oito ciclos de 60 Hz).
Em sistemas de tensão mais baixa, nos quais o tempo de coordenação é requerido
entre relés de proteção, os tempos de operação dos relés serão menores, tipicamente na
ordem de 0,2-1,5 s para a zona primária. Relés de primeira zona com tempos maiores do
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 9

que 1,5-2,0 s não são usuais, mas eles existem. Então, velocidade é importante, mas não
é sempre absolutamente requerida, nem é sempre prático conseguir alta velocidade sem
custo adicional e complexidade, o que pode não ser justificado.
Relés microprocessados são um pouco mais lentos do que alguns antigos relés
eletromecânicos e relés de estado-sólido. Isto indica que outras vantagens superam a
necessidade por velocidade [5].

2.3.3 Sensibilidade
Sensibilidade é a capacidade de o elemento de proteção reconhecer com precisão a
faixa e os valores indicados para a sua operação e não operação. [4]

2.3.4 Confiabilidade
Blackburn, em [5], menciona que a confiabilidade tem dois aspectos: dependabilidade
e segurança. A dependabilidade é definida como “o grau de certeza de que o relé ou
sistema de relés vai operar corretamente” [9]. Segurança “tem relação com o grau de
certeza que o relé ou sistema de relés não vai operar incorretamente” [9]. Em outras
palavras, a dependabilidade indica a habilidade do sistema de proteção de apresentar
um desempenho correto quando exigido, enquanto segurança é sua habilidade de evitar
operações desnecessárias durante manobras normais do dia-a-dia, faltas e problemas que
possam ocorrer fora de sua zona de proteção. Existe frequentemente uma linha muito
tênue de distinção entre transitórios toleráveis em que o sistema de potência pode operar
sem problemas, e aqueles, tais como faltas leves, que podem desencadear e resultar em
um problema maior se o sistema não for rapidamente isolado. Então, a proteção deve ser
segura (não operar em transitórios toleráveis), e ainda assim ter dependabilidade (operar
sob transitórios intoleráveis e faltas permanentes).
Dependabilidade é fácil de obter a partir da realização de testes no sistema de
proteção para se assegurar que o mesmo vai operar como pretendido quando os limites de
operação do SEP são excedidos. Segurança é mais difícil de se obter. Pode existir quase
uma infinidade de transitórios com capacidade de sensibilizar o sistema de proteção e,
pré-determinar todas essas possibilidades é uma tarefa difícil, às vezes impraticável.
Fabricantes frequentemente fazem simulações elaboradas do sistema de potência,
cálculos, e às vezes testes de falta simulados em sistemas de potência energizados para
verificar ambas as características de dependabilidade e de segurança. A prática e melhor
resposta para ambos reside na experiência dos projetistas, confirmada pela experiência de
campo. Finalmente, instalações reais operacionais constituem o melhor e último laboratório.
Isto deveria servir para confirmar somente a confiabilidade, e não ser usado como base
única para o desenvolvimento.
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 10

Geralmente aprimorar a segurança tende a reduzir a dependabilidade e vice-versa.


A utilização do contato de um único relé representa alta dependabilidade, todavia tem o
potencial de acidentalmente ser fechado em transitórios não-previstos ou erro humano, e,
portanto, resultar em uma operação indevida. Para minimizar este problema em potencial,
um segundo relé, tal como um detector de falta, pode ser usado com seu contato de
operação em série com o circuito CC de trip. Agora, ambos devem fechar para o trip do
disjuntor, o qual deve ocorrer para condições de operação intoleráveis ou faltas. Temos
então a segurança aprimorada, já que é menos provável que transitórios ou problemas
extraordinários causem, ambos, a operação dos relés. Entretanto, a dependabilidade fica
reduzida, já que agora existem dois relés que devem operar corretamente. Este arranjo
é usado porque a dependabilidade é ainda bastante alta, junto com uma segurança
aprimorada.
Segurança é muito importante (assim como a dependabilidade), considerando que
os relés são conectados para continuar operando durante todo o tempo de vida do sistema
de potência, submetidos a condições intoleráveis e experimentando todos os transitórios e
faltas externas às suas zonas de proteção. Espera-se que não ocorram faltas ou condições
intoleráveis, logo que não existam ocasiões para os relés operarem. O lado positivo é que
acontecem relativamente poucas faltas num sistema de potência. É estimado que o tempo
de operação acumulado (aquele onde o relé é sensibilizado e opera numa falta interna)
durante o tempo médio de vida de um relé digital é da ordem dos segundos a poucos
minutos, dependendo da velocidade do relé. Este fato contrasta dramaticamente com a
vida de mais de trinta anos de um relé eletromecânico, por exemplo.
Em geral, experiências em sistemas elétricos (de maior ou menor porte), de potência
ou industriais, indicam que os sistemas de relés de proteção possuem uma confiabilidade
maior do que 99 % [5].

2.4 Equipamentos de Proteção


2.4.1 Transformador de Corrente
Este tipo de transformador tem a função de reproduzir proporcionalmente em seu
circuito secundário a corrente de seu circuito primário com a sua posição fasorial mantida,
conhecida e adequada para uso em instrumentos de medição, controle e proteção. Em
suma, o TC deve reproduzir no seu secundário uma corrente elétrica que é uma réplica da
corrente primária do sistema elétrico. Trata-se basicamente de uma amostra.
Suas finalidades se resumem a:

• Isolar os equipamentos de medição, controle e relés do circuito de alta tensão;


Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 11

• Fornecer no seu secundário uma corrente proporcional à do primário;

• Fornecer no seu secundário uma corrente de dimensões adequadas para uso em


medidores e relés.

No Brasil, os TCs têm sua corrente secundária padronizada em 5 A, enquanto na


Europa a mesma é normalizada em 1 A.
A figura 4 é uma foto de um TC de 138 kV, enquanto a figura 5 é uma ilustração
de sua ligação típica e representação simbólica.

Figura 4 – Foto de um TC de 138 kV [10].

X/5
Ip = X

Is = 5 A
Relé

Figura 5 – Representação da ligação de um TC num circuito.

2.4.1.1 Relação de Transformação dos TCs

Como todos os transformadores, os TCs nada mais são do que circutos magnéticos.
Assim, de forma similar à aplicação da Lei de Ohm, podemos dizer que:

Fp − Fs = < · Φ (2.2)
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 12

Se considerarmos o TC ideal, tem-se que < → 0, o que leva a:

Np I˜p − Ns I˜s = 0
Np I˜p = Ns I˜s
Ns ˜
I˜p = Is
Np
Ns
RT C = (2.3)
Np
I˜p
I˜s = (2.4)
RT C

Segundo a ABNT NBR 6856, as correntes primárias dos TCs são 5, 10, 15, 20, 25,
30, 40, 50, 60, 75, 100, 150, 200, 300, 400, 500, 600, 800, 1000, 1200, 1500, 2000, 2500,
3000, 4000, 5000, 6000 e 8000 A [11].

2.4.2 Transformadores de Potencial


Um transformador de potencial é um equipamento destinado especificamente a
fornecer sinal de tensão a instrumentos de medição, controle e proteção.
O TP deve reproduzir com fidelidade em seu secundário uma tensão com o menor
erro possível, sendo esta última, portanto, uma réplica da tensão do sistema elétrico.
São essencialmente unidades monofásicas e podem ser agrupados para gerar as
mais diversas configurações.
Os terminais secundários dos TPs devem gerar 115 V por norma (NBR 6855) [11].
A figura 6 exibe a foto de um TP do Laboratório de Máquinas do Departamento
de Engenharia Elétrica da instituição de ensino do autor deste trabalho.

Figura 6 – Foto de um TP com detalhe para os terminais do lado secundário.


Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 13

2.4.2.1 Relação de Transformação dos TPs

A relação de transformação dos TPs é definida de forma similar àquela dos trafos
de potência, a saber [11]:

Np Ṽp
RT P = = nominal de fase-neutro (2.5)
Ns Ṽsnominal de fase-neutro

2.4.3 Relés Eletromecânicos de Indução


Projetos antigos de relés utilizam forças atuantes que são produzidas pela interação
entre correntes e fluxos, como num motor elétrico. Alguns relés também são baseados nas
forças criadas pela expansão dos metais causada pela elevação de temperatura provocada
pelo fluxo de corrente. Nos relés eletromecânicos, as forças atuantes são criadas pela
combinação dos sinais de entrada, energia armazenada em molas e êmbolos. Os relés
de pistão são geralmente acionados por uma gradeza única, enquanto os relés do tipo
indução podem ser ativados por uma ou mais grandezas. A maioria dos relés existentes em
operação ainda são eletromecânicos com disco de indução, êmbolos ou alavancas, embora
relés de estado sólido e relés digitais estejam apresentando uma rápida disseminação,
particularmente em sistemas de alta tensão [12].

2.4.4 Relés de Estado Sólido


O progressivo desenvolvimento dos sistemas elétricos, seja no crescimento das
tensões e potências de suprimento, ou seja na evolução da complexidade das interligações
e no aumento dos níveis de curto-circuitos, originou a necessidade de se aplicar esquemas
de proteção cada vez mais rápidos, seletivos e estáveis.
Os relés de estado sólido ou estáticos, que sucederam os relés eletromecânicos,
operam com base no funcionamento de circuitos lógicos eletrônicos de estado sólido.
O desenvolvimento desses relés acelerou-se com o advento dos modernos compo-
nentes eletrônicos utilizando semicondutores e com a evolução da técnica de circuitos
impressos.
Funcionalmente, os relés estáticos possuem aplicação idêntica aos relés eletrome-
cânicos, embora apresentando-se como equipamento de carga consideravelmente menor
para os TCs e TPs e com maior operacionalidade, permitindo não só melhor atuação
dos esquemas de proteção tradicionais mas também o desenvolvimento de esquemas de
proteção mais avançados [13].
Os relés de estado sólido possuem limitações quanto a tolerância a altas temperatu-
ras e humidade. Também podem apresentar problemas quando submetidos a sobretensões
e sobrecorrentes [12].
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 14

2.4.5 Relés digitais


Os relés digitais, também chamados microprocessados ou numéricos, são aqueles
que utilizam a amostra de um sinal analógico e que, utilizando um algoritmo apropriado,
produzem uma representação digital de grandezas como correntes e tensões. Com o advento
de microprocessadores robustos de alto desempenho, tornou-se prática a produção desses
tipos de relés.
Os sinais de corrente e tensão de um SEP são processados por condicionadores de
sinal constituídos por circuitos analógicos, tais como transdutores, circuitos supressores de
surto e filtros anti-aliasing, antes de os sinais processados serem amostrados e convertidos
para a forma digital por um conversor analógico-digital. O clock de amostragem provê
pulsos na frequência de amostragem. Frequências típicas de amostragem em uso nos relés
digitais modernos variam de 8 a 32 vezes a frequência fundamental do sistema de potência.
Os sinais analógicos de entrada são geralmente tratados por um circuito sample-and-hold
("amostre e guarde"), para que se consiga obter amostras simultâneas de todos os sinais
independentemente da velocidade de conversão dos dados dos conversores analógico-digital.
O algoritmo do relé processa os dados amostrados para produzir uma saída digital. O
algoritmo é, naturalmente, o coração do relé digital, e uma grande quantidade de algoritmos
tem sido desenvolvida e publicada na literatura [12].
A figura 7 exibe os subsistemas básicos desse tipo de relé. Ele possui diversos canais
de entradas que alimentam, ao final do tratamento dos sinais, o conversor analógico-digital.
Como o conversor apresenta custo relativamente elevado, somente uma unidade é utilizada,
com capacidade de converter um canal de cada vez. Assim, cada canal de entrada coleta
uma amostra do sinal e o armazena analogicamente, usando, por exemplo, um capacitor,
até que o conversor A/D possa obter uma representação numérica do mesmo. O circuito de
conversão utiliza multiplexadores para ordenar e selecionar o sinal que deve ser processado
no conversor.
Os microprocessadores são os elementos que recebem sinais digitais do conversor e
executam as funções de medição, proteção, controle etc. A resultante dessas operações
é exibida no display de cristal líquido do relé e/ou enviada para os canais de saída. Os
microprocessadores também realizam a função de autossupervisão e comunicação serial.
Com relação à memória, os relés podem ser dotados de um ou mais dos tipos
abaixo:

• Memória RAM: É a que armazena dados de variáveis de natureza temporária,


como alarmes, correntes de atuação e outros. Quando há ausência da tensão auxiliar
de alimentação do relé, os dados armazenados são eliminados da memória ram sem
comprometimento do desempenho da unidade.
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 15

I V

Filtros
de surto
Controle
Filtros
Filtros
anti-
Clock de Isoladores
aliasing
amos-
tragem
Conversor Saída
A/D Digital

Processador

RAM ROM EEPROM

Figura 7 – Subsistemas principais de um relé digital. Baseado na figura 2.20 de [12].

• Memória ROM: Somente pode ser acessada para leitura do conteúdo. Nela é
armazenado um conjunto de informações proprietárias do fabricante do relé.

• Memória PROM: É uma memória ROM que pode ser programada eletricamente.

• Memória EEPROM: Consiste numa memória PROM em que os dados armaze-


nados podem ser eliminados eletricamente. Nesta classe de memória, são gravadas
informações de caráter variável que não podem ser eliminadas com a ausência da
tensão auxiliar, tais como energia acumulada, ajuste das proteções, contagem de
eventos etc.

Também existem relés digitais, sendo estes mais antigos, com as seguintes caracteristicas
de memória:

• Memória EPROM: Memória do tipo semelhante à ROM que pode ser programada
eletricamente diversas vezes. Antes de qualquer gravação, seu conteúdo prévio é
apagado com uso de raios ultravioleta antes de qualquer regravação.

• Memória FLASH: Semelhante à memória EEPROM, com a diferença de que as


informações podem ser apagadas eletricamente, aplicando um determinado tipo de
tecnologia.
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 16

Nos estágios iniciais de seu desenvolvimento, os relés digitais eram projetados para
substituir funções de proteção existentes, tais como proteções de linhas de transmissão,
transformadores e barras. Alguns relés usavam microprocessadores para tomar a decisão de
atuar ou não a partir dos sinais analógicos digitalizados, enquanto outros continuavam a
aplicar conceitos analógicos para tomada de decisão e técnicas digitais para implementação
da lógica necessária e das funções auxiliares. Em todos os casos, entretanto, a vantagem
maior do relé digital era a habilidade de se auto-diagnosticar. Esta capacidade podia ser
extraída de alguns relés analógicos, com grande esforço, custo e complexidade. Além disso,
o relé digital provê a capacidade de comunicação que permite avisar aos operadores de
sistema quando não estão funcionando corretamente, permite realizar diagnósticos remotos
e possíveis correções, e as leituras podem ser feitas de forma remota ou no campo (através
da interface homem-máquina, ou IHM).
Outra característica foi adicionada à confiabilidade do sistema de proteção digital: a
habilidade de se adaptar, em tempo real, para condições de mudança no sistema de potência,
como uma propriedade herdada da área dos softwares. Essas mudanças podem ser iniciadas
por sinais de entrada locais ou por sinais enviados de um computador central. A capacidade
de auto-diagnóstico, a natureza hierárquica e as habilidades de compartilhamento de dados
dos microprocessadores, e a propriedade de se adaptar a diferentes configurações e outras
características para as condições atuais de dado sistema em tempo real, fazem dos relés
digitais os preferidos para os sistemas de proteção modernos [12].

2.4.6 Disjuntores
Um disjuntor é um dispositivo eletromecânico que funciona como um interruptor
automático. Sua principal função é a interrupção de correntes de falta tão rapidamente
quanto possível, limitando a um mínimo as possíveis avarias causadas aos equipamentos
pelos curto-circuitos.
Além das correntes de falta, o disjuntor deve ser capaz de interromper correntes
normais de carga, correntes de magnetização de transformadores e reatores e as correntes
capacitivas de bancos de capacitores e de linhas de transmissão em vazio.
Esses dispositivos também devem ser capazes de fechar circuitos elétricos não só
durante condições normais de carga como na presença de curtos.
Os disjuntores devem ser mecanicamente capazes de abrir em tempos tão curtos
quanto 2 ciclos, após terem permanecido fechados por muitos meses [14].
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 17

Figura 8 – Foto de um disjuntor de alta tensão isolado a SF6 [15].

2.4.7 Baterias e Fontes CC


Dado que a função primária de um sistema de proteção é conter a falha, a habilidade
de acionar um disjuntor através de um relé não pode ser comprometida durante uma falta,
quando a tensão CA em uma subestação pode não apresentar amplitude suficiente. Por
exemplo, um curto simétrico pode resultar em tensão CA praticamente nula na saída de
uma subestação. Energia para o sistema de trip, assim como energia para suprimento dos
relés, não pode portanto ser obtida do sistema CA e é, usualmente, provida por um banco
de bateias.
As baterias são permanentemente conectadas através de um carregador ao sistema
CA, de forma que, durante condições normais, ficam em estado de suspensão. O carregador
tem uma capacidade suficiente para prover todos os carregamentos necessários para as
baterias. Usualmente as baterias são especificadas para manter um nível de potência
CC adequado por 8 a 12 horas após um blackout. Apesar das baterias possuírem alta
confiabilidade, não é incomum, em subestações de alta tensão, haver baterias duplicadas,
cada conjunto de baterias conectado ao seu próprio carregador e grupo de relés. Relés
eletromecânicos são conhecidos por produzirem transitórios severos nos terminais das
baterias durante a operação, o que pode causar atuações indevidas de outros relés sensíveis
na subestação ou mesmo danificá-los. Portanto, é comum separar relés eletromecânicos e
equipamentos de estado-sólido através da conexão a diferentes conjuntos de baterias [12].
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 18

2.5 Funções Básicas de Relés de Proteção


A nomenclatura de funções básicas dos relés de proteção segue o sistema adotado
como padrão para equipamentos de manobra automática pelo IEEE e incorporado à norma
American National Standard ANSI/IEEE C37.2. O sistema é utilizado em diagramas de
conexões, livros de instrução e especificações [12]. Números de dispositivos com letras no
sufixo fornecem identificação conveniente das funções básicas de equipamentos elétricos,
tais como disjuntores, relés, chaves, etc. Quando algumas unidades do mesmo tipo de
dispositivo são usadas num circuito ou sistema, um número precedendo o número do
dispositivo é usado para diferenciá-los. Letras seguindo o número do dispositivo dão
informação adicional sobre a aplicação, utilização ou grandezas de atuação [5]. Uma lista
dos números de funções mais comuns pode ser vista no anexo A.

2.5.1 Sobrecorrente (50/51)


São os relés que atuam para uma corrente maior do que a de seu ajuste [11].
Segundo [12], a principal aplicação dos relés de sobrecorrente ocorre nos sistemas radiais
aos quais eles fornecem proteção de fase e de neutro.
Todos os ramais dos sistemas elétricos são normalmente protegidos por relés de
sobrecorrente que é considerada a proteção mínima a ser garantida. Há uma extensa
diversidade de relés que desempenham tal função.
As proteções com relés de sobrecorrente são utilizadas em alimentadores de média
tensão, linhas de transmissão, geradores, motores, reatores e capacitores, e, de modo
geral, nos esquemas de proteção onde são necessários tempos de operação inversamente
proporcionais às correntes que circulam no sistema [4].
Os relés de sobrecorrente geralmente são compostos por duas unidades, uma
instantânea e outra temporizada, de forma que, nos esquemas elétricos de proteção, os
relés recebem os números 50 e 51 como indicativo das duas funções de proteção. Se o relé
está ligado para proteção de fase, as suas unidades são conhecidas como 50/51 de fase. No
caso de estar realizando a proteção de neutro ou terra, diz-se unidades 50/51 de neutro ou
terra (50/51N) [16].

2.5.1.1 Relé de sobrecorrente temporizado (51)

Originalmente tinha-se, basicamente, um medidor de watt-hora com contatos e um


disco de deslocamento restrito. Hoje o projeto é bastante diferente, exceto pelo fato de
que as versões eletromecânicas ainda usam o princípio fundamental do disco de indução.
Os relés de sobrecorrente temporizados podem ser de tempo definido ou de tempo
inverso. Estes últimos possuem vários tapes, cada qual representando a corrente mínima
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 19

na qual a unidade inicia a operação, conhecida como corrente de pick-up. A abscissa das
curvas características é indicada em múltiplos de tape ou corrente de pick-up. Isto é feito
pela conveniência de prover uma única escala para todos os tapes. Assim, com um tape
de 5, um múltiplo de 5 na curva representa 25 A, com tape 2 representa 10 A, e assim
por adiante. A figura 9 apresenta três diferentes características de temporização dos relés
(normalmente inversa, muito inversa e extremamente inversa) em função dos múltiplos
do tape, enquanto a figura 10 mostra, para uma determinada característica inversa, uma
série de curvas características e suas denominações em função do multiplicador do tempo
de operação [5].

Figura 9 – Diferentes inclinações das curvas tempo x múltiplo de tape. Extraído de [17].
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 20

Figura 10 – Curvas características de tempo x corrente. Extraído de [17].

2.5.1.2 Relé de sobrecorente instantâneo (50)

Estes relés atuam instantaneamente para qualquer corrente maior que seu ajuste.
O nome instantâneo indica que o relé é propositalmente não temporizado e não tem
característica temporizada. Porém, os mesmos possuem um tempo correspondente ao da
movimentação dos seus contatos. Este último depende do projeto e tipo de fabricação. Os
relés eletromecânicos mais velozes atingem 2,3 ciclos e os eletrônicos 0,7 ciclos [11].

2.5.2 Relé de Religamento (79)


O relé de religamento é um relé de tempo que ativa o dispositivo de fechamento do
disjuntor após um tempo previamente definido. O tempo ajustado no relé de religamento é
chamado de tempo morto porque durante este período o sistema ou a fase correspondente
fica sem tensão.
A temporização tem como objetivo esperar a extinção do arco elétrico e a desioni-
zação do ar no ponto de falta antes do religamento. [11]

2.5.3 Relé de Sobrecorrente Direcional (67)


Quando um sistema de potência não é radial, um relé de sobrecorrente pode não
ser capaz de prover a proteção adequada. Considere a zona de proteção para a linha com
fontes além dos terminais da LT, como mostrado na figura 11. Neste caso, dependendo
das potências das fontes elétricas em cada terminal da linha e da impedância da LT,
existe a possibilidade de que uma falta em F2 (a qual está fora da zona de proteção da
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 21

linha de transmissão) provoque uma corrente, através do relé do disjuntor à esquerda do


barramento B, suficiente para a sensibilização deste relé. Nesse caso, o disjuntor à esquerda
do barramento B atuará para uma falta em F1 e em F2 , o que é inaceitável. A inserção de
relés direcionais para o comando dos disjuntores resolve o problema, pois os mesmos não
operam quando a falta está fora da zona de proteção, e sim quando a falta provoca uma
corrente no sentido direto (isto é, na direção da zona de proteção) [7]. A direcionalidade é
dada pela comparação fasorial das posições relativas da corrente de operação e tensão de
polarização. Esta defasagem é que produz o sentido da corrente de operação [11].

A B
F1 F2
× ×

Figura 11 – Atuação de um relé direcional. Baseado na figura 2.7 de [7].

2.5.4 Relé Direcional de Potência (32)


O relé direcional de potência possui características construtivas idênticas ao dire-
cional 67, com a diferença de ser mais robusto. É fundamental para proteger geradores
síncronos contra a motorização. Sua corrente de pick-up é normalmente fixada em 5 % a
10 % da corrente nominal, porém em sentido inverso [11].
O relé 32 é polarizado por tensão e reconhece o fluxo da corrente correspondente.
Sua operação se baseia na tensão fase-fase e na corrente de linha, sendo, portanto, função
da corrente, tensão e ângulo de fase. Sua calibração é em termos de potência ativa ou
reativa [4].

2.5.5 Relé de Distância (21)


Mudanças nas configurações das redes dos SEPs levam à necessidade da alteração
do ajuste e coordenação dos relés de sobrecorrente que atuam na proteção de um sistema
elétrico. Isto implica em um problema com relação à operação do sistema que está
sendo submetido frequentemente a manobras para garantir a continuidade e qualidade
do fornecimento da energia elétrica. O relé de distância supre esta deficiência [11]. Eles
respondem à impedância, reatância ou admitância entre a localização do relé e o ponto
da falta, grandezas estas obtidas pela comparação entre tensão e corrente da malha de
falta [12] [5]. Portanto, esses relés são configurados em função da impedância, reatância
ou admitância associadas ao comprimento do sistema de transmissão sob proteção [5].
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 22

2.5.5.1 Relé de Impedância

Sua característica operacional está indicada na figura 12.

X
Não opera Relé de Impedância

Opera
Z linha
R
0

Figura 12 – Área de atuação de um relé de impedância num diagrama X x R. Baseado na


figura 3.104 de [4].

2.5.5.2 Relé de Admitância

Sua caracterísitica operacional está indicada na figura 13.

Não opera
Relé mho

Opera

Z linha

R
0

Figura 13 – Área de atuação de um relé de admitância num diagrama X x R. Baseado na


figura 3.106 de [4].

2.5.5.3 Relé de Reatância

Sua caracterísitica operacional está exposta na figura 14.


Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 23

Não opera Relé de reatância

Opera X linha

0 R

Figura 14 – Área de atuação de um relé de reatância num diagrama X x R. Baseado na


figura 3.105 de [4].

2.5.6 Relé de Sobretensão (59)


Os relés de sobretensão são dispositivos destinados à proteção de sistemas elétricos
submetidos a níveis de tensão acima dos valores máximos, de forma a garantir a integridade
dos equipamentos elétricos em operação. Os níveis máximos de tensão admitidos num
SEP atingem 110 % do valor nominal, devendo-se admitir como ajuste do relé valores não
inferiores a 115 % para unidades temporizadas e 120 % para unidades instantâneas [4].
O relé de sobretensão eletromecânico é, construtivamente, idêntico ao relé de
sobrecorrente tanto para a unidade instantânea quanto para a temporizada [18].

2.5.7 Relé de Subtensão (27)


Os relés de subtensão são dispositivos destinados à proteção de sistemas elétricos
submetidos a níveis de tensão abaixo dos valores mínimos que garantam as necessidades
mínimas dos equipamentos elétricos em operação.
Pode ser visto em [4] que os níveis mínimos de tensão admitidos num SEP são de
80 a 90 % do valor de referência, devendo-se admitir para o ajuste do relé valores não
inferiores a 90 % para unidades temporizadas e 80 % para unidades instantâneas.

2.5.7.1 Relé de subtensão eletromecânico

Construtivamente são idênticos aos relés de sobretensão, porém sua operação


acontece somente quanto há uma redução da tensão elétrica da instalação. Características
e esquemas de ligação são similares aos relés de sobretensão.

2.5.7.2 Relé de subtensão digital

Como será visto nos itens 4.2 e 4.4, o sistema de ilhamento, tema do presente
trabalho, foi implantado com relés digitais. Os relés digitais de subtensão recebem o sinal
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 24

analógico de subtensão e o converte para a forma digital. Também possuem função de


autoverificação (autocheck).
Em geral, na parte frontal dos relés digitais de subtensão existe um display contendo
quatro dígitos para indicação automática de tensão secundária ou primária. Tais relés
permitem um ajuste da relação de transformação, caracterizada por uma constante de
multiplicação. Em geral, podem ser fornecidos nas versões monofásicas e trifásicas e ser
conectados a um canal de comunicação serial, permitindo monitoração e telecomando,
através da conexão em redes de transmissão de dados supervisionados. [4]
Unidade de subtensão instantânea: Quando o valor da tensão presente no
sistema se torna inferior à tensão ajustada, os contatos de saída se fecham instantaneamente
(na prática, o mais rápido possível), permanecendo fechados até atingir o valor de dropout
(tensão de rearme), superior à tensão de partida da unidade instantânea.
Unidade de subtensão temporizada: Nessa unidade, os contatos de saída
fecham temporizadamente até a tensão se reduzir ao valor de dropout.

2.5.8 Relé Diferencial (87)


O relé diferencial pode apresentar formas variadas, dependendo do equipamento
que está protegendo. Este tipo de relé pode ser definido como: "um relé que opera quando
a diferença fasorial entre duas ou mais grandezas elétricas excede um valor determinado"
[19]. Portanto, pode ser usado para a comparação de corrente ou tensão.
A proteção diferencial é largamente empregada na proteção de transformadores
de potência, cabos subterrâneos, máquinas síncronas, barramentos, cubículos metálicos e
linhas de transmissão curtas [18].
O princípio de operação é exemplificado nas figuras 15 e 16. Teoricamente não há
corrente circulando através do relé e, portanto, o mesmo não será sensibilizado para faltas
fora da zona de proteção (figura 15). Da mesma forma, sob condições normais, as correntes
entrando e saindo da zona protegida são iguais, fazendo com que o relé permaneça inativo
pelo balanço de correntes. Por outro lado, sob faltas internas (dentro da zona protegida),
o relé opera (figura 16). Isto ocorre basicamente devido à reversão do sentido da corrente
que atravessa um dos transformadores de corrente (TCB ) [17].
Capítulo 2. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência 25

TCA TCB F1
×

87

Figura 15 – Sistema com correntes circulantes balanceadas sob falta externa. Baseado na
figura 13.2 de [17].

TCA F2 TCB
×

87

Figura 16 – Sistema com correntes circulantes não balanceadas sob falta interna. Baseado
na figura 13.3 de [17].

A considerar que, na prática, os TCs não são idênticos, já que estão sujeitos a
diferenças de fabricação, diferenças no carregamento pré-falta e diferenças de saturação, daí
a necessidade do limiar de corrente do relé não ser zero. Naturalmente a sensibilidade do
relé é afetada, o que pode ser resolvido com a utilização de relés com bobinas de operação
e restrição. Estes últimos são chamados relés diferenciais percentuais [20].
26

3 Blackout e Ilhamento

3.1 Introdução
Neste capítulo, inicialmente são indicadas as principais características de um
blackout e as perturbações a partir das quais esse fenômeno pode ser originado ou mesmo
que ele pode provocar. Foco maior é dado ao Colapso de Tensão, fenômeno inerente
a apagões em sistemas grandes interligados e com gerações distantes da carga. Muita
informação e conceitos foram extraídos de dois artigos de Charles J. Mozina ([21] e [22]),
sendo a lógica de ilhamento implantada na Reduc, no que concerne ao colapso de tensão,
baseada em [21]. A alteração do sistema de ilhamento na refinaria foi fundamentada nas
observações realizadas em meados da década passada por engenheiros da área de proteção
de que a tensão, e não a frequência, era a grandeza ideal a ser monitorada a fim de se
implementar soluções de proteção mais eficientes contra colapsos de tensão em instalações
industriais com geração própria. Portanto, um dos objetivos deste capítulo é demonstrar
tal conclusão.
Finalmente, nos dois últimos subitens, o conceito de ilhamento é definido e a
filosofia de sistemas de descarte por subtensão é detalhada.

3.2 Blackout
Blackout é a ausência de potência transmitida para um conjunto de cargas. Em [23],
esse tipo de fenômeno é considerado desastroso em sistemas de potência, todavia ocorrendo
em toda parte do mundo. Blackouts em larga escala raramente ocorrem, porém quando
acontecem podem causar danos sociais e perdas econômicas elevadas. Como exemplo, o
grande colapso de 14 de agosto de 2003, resultando na falta de energia no nordeste dos
Estados Unidos e parte do Canadá, provocou perdas econômicas estimadas entre $ 7 e $
10 bilhões, deixando 50 milhões de consumidores sem energia.
A gravidade de tal ocorrência, assim como outras no mesmo período, levou o IEEE
a preparar uma força tarefa, a IEEE Task Force on Blackout Experience, Mitigation, and
Role of New Technologies que foi a motivação do artigo [24] que, por sua vez, apresenta a
“anatomia” de um blackout. Segundo o artigo, a maioria das faltas de energia são iniciadas
por um único evento (ou múltiplos eventos relacionados entre si tais como faltas e operações
indevidas de relés de proteção) que gradualmente levam a quedas de energia em cascata e
eventualmente ao colapso do sistema inteiro ou de uma grande área. É possível, ainda,
em muitos casos, identificar meios de mitigação do evento inicial ou minimização de seus
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 27

impactos para reduzir os riscos de trips em cascata subsequentes de linhas e geração.


Porém, dada a complexidade e grandeza dos SEPs modernos, não é possível eliminar
totalmente o risco baseado nas lições aprendidas das causas raízes e natureza dos eventos.
Para a visualização das correlações entre eventos no sistema quando um blackout
se encontra em desenvolvimento, a figura 17 exibe um fluxograma da sequência geral de
eventos. Tipicamente, a causa básica do blackout pode ser rastreada até a desenergização
de um elemento único da transmissão ou geração. A maioria desses eventos tendem a ser
resultado de falhas de equipamentos (equipamentos antigos, operação indevida de um
elemento de proteção, etc.) ou fatores ambientais (por exemplo, contato com galhos de
árvores e descargas atmosféricas). Erro humano também pode ser um fator de contribuição.
Se planos apropriados de contingência são seguidos, a maioria dos SEPs modernos são
projetados para serem capazes de operar de forma segura e estável para uma única
contingência. Entretanto, dependendo da severidade do evento, o sistema pode entrar
num estado de emergência subsequente ao distúrbio, particularmente nos horários de pico
de demanda. Então, se ações de controle automático ou intervenções de operação não
são tomadas decisivamente, o sistema pode ficar suscetível a outras falhas e problemas
em cascata. Também, porém raro, é possível que um segundo evento ocorra enquanto o
sistema se encontra no estado de alerta.
No caso em que ações operacionais ou de controle automático não são tomadas, as
consequências podem ser numerosas. Linhas de transmissão podem ficar sobrecarregadas
devido à redistribuição de potência depois da falha inicial, com atuação consequente da
proteção, e, então, um processo de abertura de linhas em cascata pode se iniciar. Em
algum ponto do sistema, então, problemas de desempenho dinâmico do sistema elétrico de
potência podem acontecer, normalmente quando se tem maiores distâncias elétricas entre
carga e geração.
A partir da análise de oito grandes blackouts ocorridos nas últimas décadas, Lu et
al. em [23] dividiram as fases do fenômeno entre progressão contínua e cascata em alta
velocidade. No período de progressão contínua, a evolução dos eventos em cascata é lenta,
e o sistema pode manter o balanço entre geração e consumo. Durante este período, o
incidente majoritário é a sobrecarga em cascata. Por causa da velocidade lenta de piora da
situação no período de progressão contínua, esta fase pode ser uma boa oportunidade para
o operador do sistema tomar ações expeditas que impeçam ou retardem a disseminação
da sobrecarga em cascata, o que pode impedir a ocorrência de blackout ou reduzir seus
efeitos. Quando os eventos chegam ao ponto de iniciar o efeito cascata em alta velocidade,
o balanço entre geração e consumo pode ser quebrado, diversos equipamentos do sistema
podem ser desenergizados rapidamente pelos dispositivos de proteção e o sistema corre
risco de colapsar em um intervalo de tempo bastante curto. No período de trip em cascata
em alta velocidade é geralmente muito tarde para que o operador do sistema possa tomar
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 28

Sistema de Potência
em operação normal

Evento Inicial:
– Falha de equipamento Reconfiguração do
– Abertura de LTs
devido à operação sistema por ação do
indevida de relés operador (dezenas
– Abertura de LTs devido de minutos a horas)
à sobrecarga/raio/falta

Operação de correção
Sistema estável
Controles automáticos apro-
priados (UVLS, UFLS, etc.)

manual/automática Sim
mas em Estado
apropriada (se-
de Emergência
gundos a minutos)

Não

Desenergizações em cascata:
– Falha adicional de equipa- Ocorrência de segundo
mento ou operação indevida evento independente
– Abertura em cascata antes do reajuste
de LTs sobrecarregadas do sistema devido
– Sistema de divide devido ao primeiro evento
a problemas de estabilidade

Estágios Finais do Colapso:


– Sistema se divide en-
tre ilhas sem controle
– Grande disparidade entre
carga/geração em ilhas leva
a colapso de frequência
– Grande disparidade entre
reservas reativas e carga
leva a colapso de tensão

Blackout

Figura 17 – Sequência geral de eventos que levam a um blackout . Baseado na figura 2 de


[24].
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 29

ações que impeçam o rápido espalhamento do blackout .


Conforme [21], blackouts podem levar a perturbações de diferentes características
nos sistema elétricos de potência, conforme descrito a seguir.

3.3 Tipos de Perturbações no SEP durante um Blackout


3.3.1 Instabilidade de Frequência
Em um sistema elétrico de potência, a frequência pode ser considerada como uma
das medidas do balanço entre geração e consumo de potência ativa. Quando este balanço
é atendido, a frequência fica no seu ponto nominal (60 Hz, no caso brasileiro). Quando
a carga excede a geração, a frequência cai. A taxa de declínio depende da inércia dos
geradores dentro do sistema. Sob condições normais, ocorrem mudanças leves no nível de
frequência quando a carga repentinamente aumenta ou um gerador sofre trip, resultando
num leve (geralmente na ordem de centihertz) decréscimo de frequência até os geradores
remanescentes assumirem a nova condição de carga. Contudo, caso haja um desbalanço
grande entre potência ativa gerada e consumida, a frequência experimentará variação
significativa. Esquemas de subfrequência no sistema das empresas responsáveis pela geração
e pela transmissão são projetados para restaurar o balanço de potência através de descarte
de carga [21]. Tais efeitos podem ser analisados de forma detalhada em [25].

3.3.2 Instabilidade Angular


Considere o circuito da figura 18.

Ṽ1 Ṽ2
P12 Q12 R + jX Q21 P21

Figura 18 – Linha de transmissão ligando duas barras genéricas.

Temos que:
V˜1 − V˜2
I˜ = (3.1)
R + jX
Assim:
6 V˜1 −6 V˜2 )
˜ ˜∗ ˜ V˜1∗ − V˜2∗ |V˜1 |2 − |V˜1 ||V˜2 |ej (
S̃12 = P12 + jQ12 = V1 I = V1 = (3.2a)
R − jX R − jX
( 6 V˜2 −6 V˜1 )
|V˜2 | − |V˜1 ||V˜2 |e
2 j
S̃21 = P21 + jQ21 = V˜2 (−I˜∗ ) = (3.2b)
R − jX
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 30

Assumindo δ = 6 Ṽ1 − 6 Ṽ2 , e considerando-se que P = Re(S̃) e Q = Im(S̃), temos:


1 
2 ˜1 ||V˜2 | cos δ + X|V˜1 ||V˜2 | sen δ

P12 = R| Ṽ 1 | − R|V (3.3a)
R2 + X 2
1 
2 ˜1 ||V˜2 | cos δ − R|V˜1 ||V˜2 | sen δ

Q12 = 2 X|Ṽ 1 | − X| V (3.3b)
R + X2
1 
2 ˜1 ||V˜2 | cos δ + X|V˜1 ||V˜2 | sen δ

P21 = 2 R| Ṽ 2 | − R|V (3.3c)
R + X2
1 
2 ˜ ˜ ˜ ˜

Q21 = 2 X|Ṽ 2 | − X| V1 || V2 | cos δ − R|V 1 ||V 2 | sen δ (3.3d)
R + X2

3.3.2.1 Instabilidade angular de regime permanente

Em sistemas de transmissão de alta potência e alta tensão, a relação X/R é bastante


alta, de modo que é possível, sem alterações significativas no resultado final, considerar
R = 0 em situaçõs práticas. Assim, das equações 3.3a e 3.3c, resulta:

|Ṽ1 ||Ṽ2 |
P12 = −P21 = sen δ (3.4)
Xeq

A figura 19 mostra um arranjo simples de um SEP. Desprezando-se a resistência, temos


que o valor da reatância equivalente longitudinal entre a fonte e a carga é Xeq . A curva I
da figura 20 corresponde a esta situação. Conforme o ângulo de carga δ varia, é possível
ver que o valor de P12 será máximo quando δ = 90◦ . Logo,

|Ṽ1 ||Ṽ2 |
Pmax = (3.5)
Xeq

Es

F1
Z
×

Figura 19 – Configuração de um sistema de potência com três LTs ligando a geração à


carga.

Todavia, caso ocorra uma contingência em que uma das linhas seja isolada, a nova
0 0
reatância equivalente do sistema será Xeq , e Xeq > Xeq . Dessa forma, a potência máxima
0 0
possível de ser transmitida para a carga decairá de Pmax para Pmax , onde Pmax < Pmax .
0 0
Se Pmax for maior do que PL , o sistema permanecerá estável. Porém, se Pmax for menor
do que PL , o SEP entrará em colapso, com as máquinas da fonte geradora tendendo à
aceleração. A figura 20 ilustra esta última condição, com a curva II abaixo da reta PL .
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 31

Pe

Pmax I
PL
0
Pmax
II

δ
0 90◦ 180◦

Figura 20 – Curvas características para o sistema íntegro, com Z12 = Xeq (curva I) e para
0
o sistema com uma das LTs aberta, com Z12 = Xeq (curva II).

3.3.2.2 Instabilidade angular em regime transitório

Após a extinção de uma falta, mesmo que a configuração do sistema vá para uma
outra condição estável de regime permanente ou mesmo volte ao estado inicial, os geradores
síncronos em uma dada usina podem perder sua estabilidade, dependendo do tempo em
que ela ficou alimentando a corrente de curto. Daí a necessidade da análise da instabilidade
angular de regime transitório, ou seja, da análise do comportamento da usina geradora
durante a falta e nos instantes posteriores. Como pode ser visto em [2], para analisarmos
a estabilidde transitória de um gerador síncrono, é necessário definir sua equação swing, a
saber:
d2 δ
M 2 = Pm − Pe (3.6)
dt
Dessa equação, é possível fazer o seguinte desenvolvimento:

d2 δ dδ dδ
M = (P m − P e )
dt2 dt dt
2
1 d(dδ/dt) dδ
M = (Pm − Pe )
2 dt s dt
dδ Z δ
2(Pm − Pe )
= dδ (3.7)
dt δ0 M
onde δ0 é o ângulo de carga quando o gerador está operando em sincronismo antes da
perturbação, de forma que dδ/dt = 0. O ângulo δ não sofrerá mais variações, de forma
que o gerador ou máquina equivalente vai operar mais uma vez na velocidade síncrona
depois do distúrbio, quando dδ/dt = 0 ou quando:
Z δ
2(Pm − Pe )
dδ = 0 (3.8)
δ0 M
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 32

O ângulo de carga de máxima excursão angular δmax resultante da aceleração


angular do gerador durante o curto-circuito pode ser determinado a partir da interpretação
gráfica da equação 3.8 e da área sombreada A1 da figura 21. A curva I corresponde ao
sistema pré-falta, enquanto a curva II se relaciona ao sistema pós-falta. A área sombreada
A1 da figura 21 é: Z δf
A1 = (Pm − Pe )dδ (3.9)
δ0
enquanto a área A2 é dada por:
Z δmax
A2 = (Pe − Pm )dδ (3.10)
δf

Logo, Z δmax
A1 − A2 = (Pm − Pe )dδ (3.11)
δ0

É possível notar que a equação 3.8 é satisfeita quando A1 = A2 . Essa condição se refere a
δf = δcrit . Para um carregamento inicial dado, se a falta for extinta após o ângulo δ passar
por δcrit , tem-se que A1 > A2 e o gerador não voltará à condição estável inicial. Porém,
caso o curto-circuito seja extinto para um ângulo δf < δcrit , será possível obter A1 = A2
e a máquina conseguirá voltar ao estado pré-falta. Este é chamado de critério das áreas
iguais [2][26].

Pe

II

A2
PL

A1

δ
0 δ0 δf δcrit δmax 180◦

Figura 21 – Aplicação do critério das áreas iguais.

3.3.3 Instabilidade de Tensão


Estabilidade de tensão é a habilidade de um sistema de potência de manter seus
níveis de tensão aceitáveis em todas as barras do sistema sob condições de operação
normais e após uma perturbação. Um sistema entra num estado de instabilidade de tensão
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 33

V2

100 %

Locus dos pontos críticos

P12
0%

Figura 22 – Curvas características para Tensão vs Potência.

quando um distúrbio, incremento de demanda e mudança na condição de operação do


sistema causam um progressivo e incontrolável afundamento de tensão. O principal fator
que causa instabilidade, como será mais detalhado adiante, é a inabilidade do sistema de
potência de atender a demanda por potência reativa.
Voltando para a figura 18, considerando a barra 1 uma barra ligada a um gerador
e a barra 2 ligada à uma carga, a figura 22 mostra as curvas de V2 vs P12 para diferentes
valores de fator de potência desta carga. As curvas azuis correspondem a fatores de potência
de carga atrasados; a curva preta se relaciona a fator de potência de carga unitário; as
curvas vermelhas referem-se a fator de potência de carga adiantado. O lugar geométrico
dos pontos de operação críticos é mostrado tracejado. Normalmente, somente pontos de
operação sobre os pontos críticos representam condições operacionais satisfatórias. Uma
súbita redução no fator de potência (incremento em Q12 ) pode levar o sistema para uma
condição instável, operando abaixo do lugar geométrico dos pontos críticos [1].

3.3.3.1 Colapso de tensão

Esse é um dos pontos cruciais deste trabalho. Como já dito na Introdução, as


mudanças realizadas no sistema de proteção da interconexão da refinaria com o sistema
externo foi advinda justamente da constatação do nítido colapso de tensão resultante do
blackout .
O colapso de tensão é o processo em que uma sequência de eventos acompanhando
uma instabilidade de tensão numa parte significativa do sistema leva a perfis de baixos
níveis de tensão considerados inaceitáveis. O colapso de tensão pode se manifestar sob
várias formas.
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 34

Interconexões com sistemas vizinhos de geração levam a uma maior segurança e


economia na operação de um Sistema Elétrico de Potência. O primeiro é consequência da
assistência mútua que sistemas interligados proporcionam entre suas unidades geradoras.
Já a economia vem da menor necessidade de reserva de geração em cada bloco do SEP.
Além disso, ocorrem transferências de energia mais eficientes. O reconhecimento de tais
benefícios vem desde o início da implementação dos sistemas interligados, resultando numa
maior interconexão entre SEPs ao longo do desenvolvimento dos mesmos. Como exemplo,
grande parte dos sistemas de transmissão e distribuição das concessionárias nos Estados
Unidos e no Canadá, assim como no Brasil, constitue parte fundamental de um sistema de
potência interligado. O resultado é um sistema grande e complexo, cujo planejamento e
cuja segurança operacional constituem problemas complexos de grande relevância [1].
Segundo [21], um sistema interligado é altamente dependente do seu sistema de
transmissão para fornecer as potências às cargas. Dada a predominância de reatância
indutiva nas LTs, tais sistemas possuem altas perdas reativas na transmissão.
Considere novamente a figura 18. Assuma que a barra 1 está conectada a um gerador
e que a barra 2 está conectada a uma carga. Também considere estas três condições: o
módulo de Ṽ1 é mantido constante pelo controle de excitação do enrolamento de campo
do gerador ligado à barra 1; Ṽ1 é a tensão de referência, ou seja, 6 Ṽ1 = 0◦ e a linha de
transmissão é puramente indutiva. Das equações 3.3a e 3.3b, temos que:
X X
Ṽ2 = Ṽ1 − Q12 − j P12 (3.12)
Ṽ1 Ṽ1
Alterações na potência ativa P12 não geram mudanças significativas na magnitude de Ṽ2 .
Porém, alterações na potência reativa Q12 afetam diretamente o seu módulo, pois se trata
de uma parcela em fase com Ṽ2 , o que por sua vez exibe a dependência da magnitude da
tensão sobre a carga com relação ao fluxo de potência reativa na LT [27]. Logo, numa
contingência em que ocorra o desligamento de uma das LTs, as linhas remanescentes serão
submetidas a um maior fluxo de potência ativa cada, causando perdas reativas maiores nas
mesmas. A fim de atender a carga reativa demandada, maior em razão das perdas reativas
maiores, haverá um aumento no fluxo de potência reativa, resultando em decréscimo no
módulo da tensão na carga e no perfil de tensões ao longo do sistema.
Como a potência reativa não pode ser transmitida a longas distâncias, a perda
súbita de linhas de transmissão resulta numa necessidade instantânea por potência reativa
local para compensar as perdas crescentes advindas do transporte de potência em número
menor de LTs. Caso o suporte reativo não esteja disponível por alguma razão, fatalmente
as tensões nas barras do SEP em questão irão decair. A frequência do sistema, por outro
lado, permanecerá estável dado que a potência ativa dos geradores remotos continua a
fluir nas LTs remanescentes [21].
Dadas estas razões, segundo [21], a tensão, e não a frequência, deve ser tomada
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 35

como principal indicador de que o SEP está sob solicitação de maior severidade. Ademais,
pode ser visto em outro artigo, [28], que esta constatação tem levado ao desenvolvimento de
novas medidas adotadas pelos operadores dos sistemas de transmissão e das concessionárias
ao redor do mundo para que se evite eventos em cascata que contribuam para falhas
catastróficas. Descarte de carga por subtensão tem sido cada vez mais adotado por
setores das concessionárias e em indústrias com geração interna em complemento a seus
esquemas existentes de descarte por subfrequência. Scutariu e MacDonald em [28] prossegue
afirmando que, em adição e esses esquemas, algumas outras técnicas foram desenvolvidas
para evitar eventos em cascata. Entre elas estão a reconfiguração preventiva sob situações
operacionais críticas e a implementação de estratégias de autocorreção através do uso de
sistemas “inteligentes” que, por sua vez, conseguem determinar por si mesmos as ações que
devem ser tomadas para se recuperar de condições operacionais vulneráveis. Estas últimas
são específicas para sistemas de transmissão e sistemas das concessionárias, todavia com
aplicação limitada aos sistemas industriais, tal como o desse trabalho.
Sistemas de potência industriais com geração interna, tais como o da Reduc, são
tipicamente protegidos por relés de subfrequência que podem iniciar esquemas de descarte
de cargas dentro do sistema e desconexão dos circuitos de interconexão com o sistema de
transmissão. Porém, no contexto dos blackouts que são causados por eventos em cascata
levando à subfrequência e à subtensão, proteção baseada somente em relés de subfrequência
não atendem as expectativas de uma separação eficaz do sistema. Como será visto no
capítulo 4, não só isso foi comprovado na Reduccom o apagão de 2009, como a própria
sugestão de proteção de [21] foi amplamente explorada.

3.4 Ilhamento
Quando grupos de máquinas num sistema de potência perdem o sincronismo, eles se
separam do sistema de potência, e ilhas são formadas. Cada ilha resultante deve apresentar
um balanço entre geração e carga, de forma a continuar operando sob frequência nominal
e, posteriormente, ser possível a reconexão com a rede integrada. Na prática tal balanço
entre carga e geração dentro das ilhas pode não ser possível. Nesses casos, ações adicionais
corretivas (tais como descarte de cargas ou geração) devem ser empregadas para se alcançar
algo próximo da normalidade dentro das ilhas.
A formação de ilhas e a posterior restauração é conseguida por sistemas de des-
carte automático de cargas e esquemas de restauração. Adicionalmente, procedimentos
operacionais podem ser definidos através de simulações offline de planejamento para
ressincronização das cargas. O sistema de potência está frequentemente num estado não
previsto durante os estudos de planejamento e, consequentemente, alguns desses esquemas
podem não operar como esperado na prática (vide item 4.3) [12].
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 36

Quando a exigência de carga excede significativamente a capacidade de geração, a


frequência decresce. O sistema de potência somente poderá se manter em operação normal
se parte da carga for descartada até haver balanço entre potência gerada e consumida.
Práticas atuais envolvem a aplicação de relés de subfrequência em vários pontos do sistema
de alimentação às cargas, com configuração para, progressivamente, removerem blocos de
carga até o decaimento da frequência cessar e retornar aos níveis normais. Geralmente a
subfrequência é utilizada (função 81), mas a taxa de variação de frequência também tem
sido utilizada em algumas aplicações.
Relés de frequência também podem ser usados para executar ou supervisionar a
restauração da carga até o sistema estabilizar e compatibilizar a geração disponível à carga
remanescente. Se a restauração de cargas é feita automaticamente, as cargas devem ser
adicionadas em pequenas parcelas, com intervalos de tempo suficientes para o ajuste do
sistema, para evitar o decaimento excessivo da frequência [5].

3.5 Desenvolvimento de um Sistema de Descarte por Subtensão


Como foi comentado no item 3.3.3.1, a prática comum de separação de um sistema
elétrico de potência com geração própria utilizando a frequência como medida de segurança
não é a mais adequada, de forma que centros geradores estão começando a reconhecer esse
fato. A organização norte-americana Western Electricity Coordinating Council, WECC,
sem fins lucrativos, tem desenvolvido guias de descarte de carga baseado em subtensão
para os seus membros [21].
O projeto de esquemas seguros de separação por subtensão para eventos como
extinção lenta de falta requerem alguma lógica, assim como um relé que possa medir
com exatidão a tensão dentro dos limites aceitáveis. Uma incerteza de medição de ±0, 5
V, numa base de 120 V é requerida para o relé de subtensão. Também é necessário que
haja uma alta razão pickup/dropout. Esta razão necessita ser próxima de 100 % para que,
quando a tensão se recuperar da falta, o relé possa rapidamente resetar-se para a condição
de stand-by. A fim de se atender tais requisitos, relés digitais são quase que exclusivamente
utilizados para serem usados em UVLSs (descarte por subtensão).
Em outro artigo publicado pelo IEEE em 2007, referenciado em [22], Mozina explica
que a filosofia dos UVLSs é que, quando existe uma perturbação no sistema e a tensão
afunda para um nível abaixo de um valor pré-selecionado por um tempo acima de um
valor pré-determinado, as cargas selecionadas são descartadas. A intenção é que quando
a carga for descartada por causa de uma falta, a tensão se recupere a níveis aceitáveis,
evitando a disseminação do colapso de tensão ao longo do sistema (disseminação esta
descrita em 3.2). O desenvolvimento de programas de descarte de cargas por subtensão
requer coordenação entre os engenheiros de proteção e os planejadores do sistema para
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 37

determinação da quantidade de carga e do tempo de atraso requerido pelo programa de


descarte. Quanto ao fenômeno de colapso de tensão, a probabilidade de que aconteça sob
condições de carga pesada é muito maior. No caso dos sistemas industriais, o conjunto
referido de cargas é composto por uma fração significativa de motores elétricos.
Dois tipos de esquemas UVLS estão sendo aplicados: na forma descentralizada (ou
distribuída) e na forma centralizada. O primeiro tem relés instalados nas proximidades das
cargas a serem descartadas. Quando a tensão começa a colapsar, toda a carga designada
para um determinado relé é descartada. Esta filosofia é similar à adotada pelos esquemas
UFLS. Já os esquemas centralizados tem relés de subtensão instalados em barras críticas
do sistema, de forma que dentro da área de interesse, informação de trip é transmitida
para descartar cargas em várias localidades. Uma lógica adicional é por vezes aplicada para
adicionar segurança para o sistema. Tais esquemas requerem alta velocidade e comunicação
confiável para operação apropriada. Este esquema utiliza a filosofia que foi aplicada aos
relés dos disjuntores de interconexão do sistema da refinaria ao sistema externo, com uma
diferença importante de que a refinaria tem geração própria.
Em [21] propõe a lógica exibida na figura 23 para aprimorar a segurança em um
esquema de separação por subtensão para evitar a atuação indevida da proteção em faltas
de extinção lenta.

Figura 23 – Lógica monofásica de separação por subtensão, como proposto por Mozina.

Na maioria dos casos, um colapso de tensão afeta todas as fases do sistema. Porém,
as condições de falta, excetuando-se aquelas provocadas por faltas simétricas, resultam em
tensões de fase desbalanceadas. Tal desbalanço fornece uma forma interessante e efetiva
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 38

que permite adicionar segurança ao esquema de separação. Pelo esquema da figura 23, para
que o trip seja acionado, é necessário que as tensões nas três fases decresçam para um valor
menor do que Setpoint #1. A fim de evitar atuações indevidas, é adicionado um bloqueio
por subtensão (27B) que anulará a atuação do sistema de trip por subtensão quando o
valor de tensão em qualquer uma das fases situar-se abaixo de Setpoint #2. Tal filosofia se
baseia em valor típico de amplitude das tensões, quando o sistema entra em processo de
colapso, na faixa de 89 % a 94 %. Dessa forma, quedas bruscas de tensão são indicativos de
curtos, e não blackouts. Como última medida para evitar atuações desnecessárias, Mozina
sugere a inserção de um bloqueio por sobretensão de sequência negativa. Ora, em curtos
desbalanceados, fatalmente tensões de sequência negativa surgirão em maior amplitude.
Como colapsos de tensão são eventos de natureza balanceada, as tensões de sequência
negativa presentes apresentarão amplitudes relativamente reduzidas. Assim, as tensões de
sequência negativa são utilizadas para bloquear o sistema de trip por baixa tensão quando
U2 > Setpoint #3, onde:
U2 = 1/3 (Ua + a2 Ub + aUc ) (3.13)

onde Ua , Ub e Uc são tensões fase-neutro e a = 16 120◦ .


Outra lógica proposta por Mozina é ilustrada na figura 24.

Figura 24 – Lógica de separação utilizando a componente de sequência positiva das tensões,


como proposto por Mozina.

O esquema da figura 24 é bastante parecido com o da figura 23. Quando U for


menor do que Setpoint #1, o trip ocorrerá, caso os bloqueios estejam desabilitados. U é a
Capítulo 3. Blackout e Ilhamento 39

tensão de sequência positiva:

U = 1/3 (Ua + aUb + a2 Uc ) (3.14)

Quando as tensões nas três fases decaem, V1 também diminui, já que em sistemas balance-
ados: U = Ua = Ub = Uc . É interessante ressaltar que, neste esquema, uma única grandeza
(U ) é suficiente para detectar a subtensão. O sistema de bloqueio é semelhante àquele da
figura 23.
Em sistemas críticos recomenda-se a utilização de esquemas de votação lógica,
usando múltiplos relés. Um sistema de votação utilizando dois relés, resultará num trip
dependente da atuação de ambos os relés. Já no caso de se utilizar três relés, pode ser
feito o esquema “2 x 3”, onde a atuação de pelo menos dois relés é condição necessária
para o desligamento do sistema.
40

4 Nova proposta de Ilhamento e Execução

4.1 Introdução
Em vista do que foi exposto no capítulo anterior, aqui serão mostrados resultados
da análise do esquema de ilhamento implantado. Inicialmente, será apresentado o sistema
termoelétrico da Reduc. Em seguida serão fornecidas informações sobre o blackout de
2009, sendo esta ocorrência a motivação para atualização do sistema de proteção de entrada.
As primeiras propostas e o esquema final serão descritos nos itens seguintes. Também estão
incluídos neste capítulo resultados de análise do desempenho da lógica implementada no
caso especifico de uma ocorrência idêntica ao “apagão” de 2009. Por fim, no último item,
resultados da análise do comportamento da lógica em blackout ocorrido em 2012 no SIN.

4.2 Objeto de Estudo


A energia elétrica consumida pela Reduc é originada de sua geração própria e do
sistema elétrico externo através de interligação com a Usina Termoelétrica Governador
Leonel Brizola (UTE-GLB). Esta usina produz energia de forma independente da refinaria,
apesar de também ser propriedade da Petrobras. Ela está conectada à subestação São José
por duas linhas de transmissão de 138 kV. A Reduc, por sua vez, se conecta ao sistema
elétrico através da UTE-GLB por duas LTs exclusivas, de aproximadamente 1 km. A
figura 29 apresenta o diagrama unifilar resumido da ligação do sistema da indústria com a
geração da UTE-GLB. Os geradores da figura pertencem à UTE-GLB, sendo nove no total,
embora nem sempre todos operem simultaneamente. Dentre eles, há aqueles movidos ou a
turbinas a gás ou a turbinas a vapor. #X representa a quantidade de geradores associada
ao símbolo. Os disjuntores, com exceção do tie, são representados normalmente fechados.
A geração própria da Reduc é formada por duas usinas, com unidades opera-
cionais termoelétricas a vapor identificadas como U-1320 e U-2200. A primeira possui
três turbogeradores de condensação de 15 estágios cada (TG-1201, TG-1202, TG-1203),
alimentados por três caldeiras aquatubulares (SG-1201, SG-1202 e SG-1205). Já a usina
U-2200 tem dois turbogeradores de contra-pressão, cujo vapor de admissão é advindo de
duas caldeiras aquatubulares, as SG-2001 e SG-2002. Adicionalmente, há mais um gerador
de vapor, situado próximo à U-1320, a SG-5001, que se situa na unidade operacional
U-1251. Porém, esta última tem o seu vapor gerado levado diretamente a coletores de
vapor e não aos turbogeradores.
As tabelas 1 e 2 listam as características nominais de geração dos principais
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 41

equipamentos geradores da área de utilidades da refinaria.

Tabela 1 – Resumo das características térmicas nominais de utilidades na Reduc.

Geração de Vapor (toneladas/hora)


U-2200 U-1320
UTE-GLB TOTAL
SG-2001 SG-2002 SG-1201 SG-1202 SG-1205 CO-5001
365 365 102,3 102,3 100 150 400 1584,6

Tabela 2 – Resumo das características nominais elétricas de utilidades na Reduc.

Geração de Energia Elétrica (MW)


U-2200 U-1320
UTE-GLB TOTAL
TG-2001 TG-2002 TG-1201 TG-1202 TG-1203
20,4 20,4 7,5 7,5 7,5 48 111,3

A ligação da refinaria com a concessionária é feita através de dois ramais de


138 kV e de três subestações de entrada (sub-210, sub-2210 e sub-220), compreendendo
seis transformadores e totalizando 192 MVA. Os transformadores reduzem a tensão de
entrada para 13,8 kV, com o objetivo de conectar o sistema externo ao sistema interno da
refinaria. Em média, a demanda da refinaria fica por volta de 60 MW, com importação de,
aproximadamente, 33 MW.
A usina U-1320 é a termoelétrica mais antiga, com suas caldeiras gerando vapor
superaquecido a 42 kgf/cm2 e 397 ◦ C. Elas recebem três correntes distintas de água:
condensada tratada (água, outrora vapor, proveniente da perda de energia do mesmo
em processos industriais e posteriormente tratado para remoção de resíduos oleosos);
condensada limpa (também proveniente da perda de energia do vapor utilizado em unidades
de processo, porém isento de óleo) e água de make-up (água de reposição, submetida a
processos químicos fundamentais para a utilização em caldeiras de alta pressão). A geração
de vapor é advinda da queima de gás combustível (metano com traços de etano, proveniente
dos processos industriais da refinaria), posteriormente cedendo energia aos estágios das
turbinas dos turbo-geradores e em válvulas redutoras de pressão. Nos geradores dessa
unidade, é possível extrair vapor a 10,5 kgf/cm2 e 227 ◦ C no quinto estágio, sendo o
restante condensado nos exaustores das turbinas a uma vazão de 30 t/h e recuperado
como condensado limpo a ser reaproveitado nas caldeiras. O vapor gerado visa suprir as
unidades de processo em aquecimento de tanques, acionamento de turbinas, etc. O sistema
elétrico da U-1320 é interligado ao da unidade U-2200 por dois cabos subterrâneos com
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 42

capacidade nominal de 16 MW no total. Estes, por sua vez, são interligados ao sistema
elétrico da concessionária via subestações de entrada. A energia é distribuída para unidades
de processo, através de cabos subterrâneos e subestações abaixadoras de tensão.
Com a expansão da refinaria, foi construída uma segunda central termoelétrica, a
U-2200. Nela, as caldeiras geram vapor a 104 kgf/cm2 , recebendo água de make-up (porém,
com um tratamento adicional àquele utilizado nas caldeiras da U-1320) e condensado
limpo (gerado na própria casa de força). A queima é realizada com gás combustível. A
termoelétrica referida se interliga com a U-1320 e com a UTE-GLB através das subestações
de entrada. De forma similar à U-1320, a tensão da U-2200 é distribuída através de cabos
subterrâneos para as subestações abaixadoras nas unidades de processo.
As subestações da Reduc possuem sistemas de corrente contínua (125 V e 24
V) utilizados em controle, proteção e intertravamento de disjuntores e seccionadoras e
circuitos de proteção de intertravamento de caldeiras para as Unidades Terminais Remotas
(UTRs) do Sistema de Controle e Monitoramento Distribuído (SCMD), para controle,
proteção e intertravamento dos turbogeradores e Reguladores Automáticos de Tensão
(AVRs) e para a iluminação de emergência, alarmes, sinalização e comunicação. [29]
A distribuição de energia dentro da Reduc é separada em três áreas chamadas de
“ilhas”. A Ilha 1 compreende a geração da U-1320 e alimentadores ligados à sub-A; a Ilha 2
pelos alimentadores sub-200A e a Ilha 3 pelos alimentadores da sub-220. A figura 28 mostra
o esquema unifilar geral da refinaria. Nela é possível ver a GIS (sub-210), subestação
de entrada que recebe o fornecimento da UTE-GLB através dos disjuntores 1A e 1B. O
disjuntor 1C é o de paralelismo das barras de 138 kV. O diagrama representa o sistema na
condição normal de carga e de estado de abertura/fechamento dos disjuntores. Há de se
ressaltar que tal esquema é provisório, pois ocorreu um incêndio numa das subestações em
fevereiro de 2010 que provocou mudanças na composição das ilhas.
Os disjuntores 1A, 1B e 1C têm seu comando e interface feitos pelo relé digital
REF542 plus da ABB. Este relé pode ser visto na figura 25 e seu IHM na figura 26. Trata-
se de uma unidade de controle e proteção chaveada, apresentando funções de proteção,
medida, controle e monitoração. Suas funções disponíveis são 50, 50-BF, 50N, 51, 51N, 67,
67N, 27, 25, 59N e 68. O relé é baseado num sistema de microprocessamento em tempo
real. As funções de medição e proteção são executadas pelo Processador de Sinal Digital e
o Microcontrolador é responsável pelas funções de controle. Devido a esta separação de
tarefas, não existe impacto entre a inicialização e o comportamento do trip do esquema de
proteção implementado se o mesmo for modificado.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 43

Figura 25 – Reprodução do Relé REF542 plus instalado.

Figura 26 – Reprodução do IHM (interface homem-máquina) do Relé REF542 plus.

Posteriormente, foi implantado na sub-210 o painel de ilhamento, que consiste nos


relés digitais SEL-451 da Schweitzer para o disjuntor 1A e o disjuntor 1B, e equipamentos
para eventual necessidade de sincronismo quando no fechamento do disjuntor 1C: voltímetro,
frequencímetro e sincrocheck. Os relés SEL-451 são importantes, pois as lógicas de ilhamento
foram implantadas neles. Possuem proteção, automação, e sistema de controle integrado
para disjuntores e chaves seccionadoras. Suas funções principais são: sincronismo, 67, 50
BF, 25, 50, 51, 27/59, 81 e 79. No item 4.2.1, este relé será analisado em detalhe.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 44

Figura 27 – Foto do painel de ilhamento.

O controle e supervisão do sistema elétrico da refinaria é feito pelo SCMD, que é


um conjunto de hardware e software conectados aos equipamentos da área elétrica e que se
comunicam entre si e entre as estações de operação através de uma via de comunicação de
dados. Com tal sistema, é possível a execução remota do comando e supervisão de diversos
dispositivos como geradores, motores, disjuntores, transformadores, chaves seccionadoras e
proteções elétricas. Funções complexas como rejeição e reaceleração de cargas, com registro
sequencial de eventos, controle de demanda e fator de potência, também são realizadas
por esse sistema de controle. O SCMD em si é parte integrante do SDCD (Sistema Digital
de Controle Distribuído), um sistema que engloba detalhes das unidades de processo em
telas gráficas, simulando equipamentos que reportam seus estados lógicos e operacionais e
as indicações de suas variáveis de controle [30] [31] [29].
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 45

UTE-GLB 1 UTE-GLB 2

1C 1A 1B

SUB-210 (GIS)

1D 1E 1F 1G 1H 1I
TF-221001A

TF-221002A

TF-222001A
TF-221001B

TF-221002B

TF-222001B
Ilha 2 Ilha 3

TG-2001 TG-2002
23,2 MW 23,9 MW 4,0 MW 4,3 MW
U-2200

U-1320
Ilha 1

TG-1201 TG-1202 TG-1203

4,7 MW 3,3 MW 4,0 MW

Figura 28 – Diagrama unifilar resumido do sistema elétrico da Reduccom carga normal.


Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 46

UTE-GLB

São José #3 #3 Reduc

1 3

Barra 1

Barra 2

2 4

São José #2 #1 Reduc

UTE-GLB

Figura 29 – Diagrama unifilar resumido da ligação entre a Reduc, a UTE-GLB e a


subestação de São José.

4.2.1 SEL-451
O relé SEL-451 tem a proposta de combinar a proteção de sobrecorrente direcional
com funções abrangentes de controle para um bay com dois disjuntores.
Possui elementos direcionais que podem ser usados virtualmente em qualquer
aplicação, independentemente dos valores de tensão de sequência negativa disponíveis
no ponto de localização do relé. Esses elementos são três, a saber: elemento direcional
polarizado por tensão de sequência negativa, tensão de sequência zero e corrente de
sequência zero. O primeiro é fundamental para a implementação final da lógica de ilhamento,
pois é necessária a sensibilização de tensões de sequência negativa.
Pode oferecer proteção de retaguarda (backup) independente sem a necessidade do
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 47

aumento do número de relés, o que será feito no esquema final do ilhamento.


O relé SEL-451 pode ser conectado às redes locais usando um cartão Ethernet.
Tal cartão também permite a conexão de um Processador de Comunicações SEL a uma
LAN simples ou dual. Possui quatro portas seriais que podem ser usadas para a conexão
com um processador de comunicação, terminal ASCII, transceptor de fibra óptica ou
computador. Seus protocolos de comunicação são abertos, não requerendo software especial
de comunicação.
A figura 27 mostra o painel frontal deste relé. A figura 30 exibe um desenho da
parte traseira do relé, onde podem ser vistas as suas conexões e as portas seriais e ethernet.

Figura 30 – Reprodução da parte traseira do relé SEL-451

Para a atualização da proteção de ilhamento da refinaria, a importância desse relé


reside no fato das suas saídas serem passíveis de programação através das Equações de
Controle SELogic R
[31].

4.2.1.1 Equações de Controle SELogic


R

As equações de controle SELogic R


são expressões matemáticas resultantes e ori-
ginadoras de diagramas lógicos implementados no software acSELerator R
QuickSet TM
SEL-5030 . Exemplos dessas equações são:
OUT101 = 51NT + 51GT + 67Q1T
OUT102 = IN101*IN104*(50N1 + 50G2)
A ferramenta permite que os esquemas lógicos sejam inseridos no próprio diagrama
funcional e assim facilitar trabalhos de intervenção em campo pela equipe de manutenção.
A figura 31 exibe uma janela do programa. Programar as equações SELogic R
consiste na
combinação de elementos, entradas e saídas do relé através dos operadores de equações de
controle exibidos na tabela 3. O relé SEL-451 vem de fábrica para ser usado sem lógicas
adicionais para a maioria das situações. Porém a flexibilidade propiciada pelas funções
SELogic R
é necessária para a aplicação da lógica de ilhamento [31].
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 48

Figura 31 – Captura de tela do acSELerator


R
QuickSet TM SEL-5030 [32]
.

Tabela 3 – Operadores das equações de controle SELogic


R
.

Tipo de Operador Operadores


Booleana AND, OR, NOT
Detecção de mudança de estado F_TRIG, R_TRIG
Comparação >, >=, =, <=, <, <>
Aritmética +, -, *, /
Numérico ABS, SIN, COS, LN, EXP, SQRT
Controle de precedência ()
Comentário #

4.3 Motivação da proposta de atualização do Sistema de Ilhamento


Em 10 de novembro de 2009, às 22 h e 12 min, ocorreu uma perturbação no SIN
envolvendo a LT 765 kV Itaberá-Ivaiporã, a qual provocou a rejeição de 5564 MW de
geração da UHE Itaipu, bem como a abertura dos circuitos remanescentes da Interligação
Sul-Sudeste, em 525 kV, 500 kV, 230 kV e 138 kV, rejeitando adicionalmente um fluxo de
2950 MW, Sul exportador para o Sudeste e o desligamento dos dois Bipolos do Sistema
HVDC, que no momento estava com 5329 MW. Ocorreram diversos outros desligamentos
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 49

no sistema na sequência, provocando interrupção total de 24436 MW, 40 % das cargas do


SIN, causando perda de 22468 MW na região Sudeste (seguindo, portanto, uma sequência
de eventos bastante parecida com o apresentado no item 3.2) [33].
Em vista disso, foi realizado um estudo na Reduc, visando complementar a
proteção existente devido às modificações do sistema elétrico da U-2200 (uma das duas
unidades de geração térmica da refinaria), acrescentando uma solução para a proteção da
refinaria contra colapso de tensão no SIN. O objetivo principal era garantir a continuidade
operacional das unidades para que as unidades de processo fossem paradas de forma
segura.
As gerações térmica e elétrica da Reduc no momento da contingência estão
indicadas nas tabelas 4 e 5.

Tabela 4 – Condição operacional da geração térmica da Reduc antes do blackout.

Geração de Vapor (t/h)


U-2200 U-1320
UTE-GLB TOTAL
SG-2001 SG-2002 SG-1201 SG-1202 SG-1205 CO-5001
0 220 60 70 60 140 220 770

Tabela 5 – Condição operacional da geração elétrica da Reduc antes do blackout.

Geração de Energia Elétrica (MW)


U-2200 U-1320
UTE-GLB TOTAL
TG-2001 TG-2002 TG-1201 TG-1202 TG-1203
8 0 0 6 6 44 64

O primeiro minuto da ocorrência já foi suficiente para a atuação do trip dos


geradores da UTE-GLB e de toda a geração elétrica da Reduc (TG-2001 e TG-1203,
sendo que o TG-1202 foi parado manualmente). No minuto seguinte, cerca de 22 h e 13 min,
a refinaria perdeu suas fontes térmicas (SG-2002, SG-1201, SG-1202, SG-1205 e CO-5001),
com exceção da SG-2001. As consequências imediatas foram a falta de utilidades para toda
a refinaria e a perda dos consoles de operação no CIC. Ambas foram de alta gravidade,
pois unidades de processo de refino necessitam dos recursos provenientes das utilidades,
tais como ar de instrumento, energia elétrica e energia térmica, a fim de serem paradas
com segurança, sendo o não atendimento disto resultando em emergência operacional.
Ademais, com o apagamento dos consoles, não era possível supervisionar a parada das
unidades, agravando a situação.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 50

Em análise detalhada após a ocorrência, verificou-se que os TGs 2001 e 1203


pararam por subtensão, graças ao afundamento de tensão resultante ao não atendimento
de potência reativa necessária para os equipamentos. Como comenta [21], em unidades de
processo industrial com elevada carga motorizada, o afundamento de tensão torna-se ainda
mais crítico, dada a demanda de potência reativa inerente à operação de motores elétricos.
Estes por sua vez, são bastante numerosos e indispensáveis numa refinaria de petróleo,
principalmente uma com as dimensões e complexidade da Reduc. A figura 32 ilustra o
colapso de tensão quando no blackout, visto pelo transformador TF-221001A (vide figura
28). O gráfico do TF-221001B é semelhante, mas não idêntico, graças às impedâncias
distintas entre esses trafos. O disjuntor 1C estava aberto e, nessa época, a Ilha 2 era
alimentada pelos transformadores TF-221001A/B, fazendo com que o fluxo de potência
fosse do sentido da alta tensão para a baixa tensão do trafo [34].

Figura 32 – Gráfico de afundamento de tensão registrado pelo TF-221001A.

A tensão no secundário do TF-221001A caiu de 100 % para 80 % na contingência.


As correntes elétricas que circulavam pelos transformadores TF-221001A/B tiveram seus
argumentos atrasados em relação à tensão, fazendo com que a refinaria fornecesse ainda mais
energia reativa ao sistema. Em números, isso significou uma mudança de 526 − 18◦ A para
1386 − 46◦ A. Porém, foi notado que a frequência do sistema só alterou significativamente
(<59,5 Hz) após aproximadamente 1500 ms, sendo que o relé 32 estava ajustado para 2,0
s. Este fato é importante, pois confirma a afirmação de Mozina em [21] que a frequência
não varia significativamente num processo de blecaute.
O incremento de corrente pelos transformadores TF-221001A/B não foi suficiente
para sensibilizar o relé 67, uma vez que o mesmo estava ajustado para 4000 A. O relé
81 associado ao 32 estava ajustado para 1,0 Hz, o que foi inefetivo já que a frequência
levou 1,5 s para sofrer tal alteração. Os relés de subtensão no 138 kV foram responsáveis
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 51

pela desconexão da concessionária após 2,3 s do início do evento. O tempo elevado para
desconexão do sistema levou ao colapso do sistema de geração interna da Reduc, que
atuou por sobrecarga através dos relés 51V, levando à parada geral da Reduc sem energia
elétrica, vapor e ar de instrumento. Houve, portanto, uma grave falha de confiabilidade,
conforme definida no item 2.3.4. Além disso, o descarte de cargas não atuou ou não teve
tempo de evitar a sobrecarga dos geradores. Neste evento era aceitável que a Reduc se
desconectasse do sistema em um tempo mais curto descartando as unidades de processo
necessárias, mas que mantivesse o sistema de utilidades da refinaria operando [35].

4.4 Proposta de Ilhamento e Execução


O padrão interno Petrobras PG-2AT-0038-0 determina que o sistema de proteção
de unidades de refino deve garantir que a energia elétrica fornecida às unidades de processo
atenda os requisitos de qualidade baseados nas normas vigentes. Os distúrbios elétricos
que afetam a qualidade de energia, a serem considerados são:

• Transitórios - impulsivos e oscilatórios;

– Variações de tensão de curta duração – interrupção transitória, afundamento


de tensão e salto de tensão;
– Variações de tensão de longa duração – interrupção sustentada, subtensão e
sobretensão;

• Sobrecorrente provocada por curtos-circuito e sobrecarga em equipamento;

• Desequilíbrio de corrente;

• Distorção das formas de onda de tensão e corrente – harmônicos, corte de tensão e


ruído;

• Flutuação de tensão intermitente;

• Variação de frequência.

O sistema de proteção no ponto de conexão deve respeitar a seletividade entre os dispositivos


de proteção que são sensibilizados por distúrbios elétricos, tanto na concessionária como
na planta. Além de seletiva, a proteção deve ser rápida, de forma a garantir a estabilidade
do sistema elétrico e a qualidade de energia fornecida às unidades de processo. Para as
conexões típicas, o padrão recomenda as seguintes proteções para unidades com geração
própria:

• 27, 32, 50/51, 50N/51N, 67, 67N, 59, 64 (59N), 81, “transfer trip";
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 52

• 21, quando técnicamente viável;

• 87L das linhas da concessionária, quando for viável, já que envolve instalação na
subestação da concessionária;

• 25 sempre que houver possibilidade de interligação de duas diferentes fontes de


energia.

No sistema elétrico da Reduc, as funções 87L (linha), 87 (barra), 27, 50/51,


50N/51N e 59N estavam instaladas e operacionais. Logo, para a proteção no ponto de
conexão estar de acordo com [36], faltava configurar as proteções 32, 81, 59 e 67 (curto-
circuito no sentido da concessionária). Tais proteções já existiam nos secundários dos
transformadores TF-221001A e TF-221001B, porém foram danificadas em incêndio ocorrido
na U-2200 no início do ano de 2010. Além disso, tal sistema mostrou-se ineficaz quando
da decorrência de mudança de arranjo das barras de 13,8 kV.

4.4.1 Implementação da proteção contra subtensão


A solução mais simples que se considerou foi a implementação da função 67 nos
relés REF542 dos disjuntores 1A e 1B, sem restrição de tensão. Antes da transformação
da sub-210 em uma subestação a SF6 , a refinaria operava com a função 67 ajustada nos
disjuntores de entrada em 1296 A e retardo de 300 ms (secundários dos transformadores
221001A e 221001B). A função do retardo era evitar atuações descoordenadas com relação
às proteções da concessionária ou ao sistema de 138 kV próximo à refinaria. No evento de
outubro de 2009, esta proteção poderia ter sido eficaz, já que a corrente atingiu 1380 A.
Um pouco antes, a Reducimportava 14 MW em cada transformador e estava exportando 4
MVAr, com uma corrente de operação de 6006 20◦ A. O disjuntor 1C estava aberto e, nessa
época, a Ilha 1 era alimentada pelos transformadores TF-221001A/B. O afundamento de
tensão gerou déficit de reativo no sistema externo forçando os geradores a tentar eliminar
tal carência, resultando na nova corrente 13806 − 45◦ A nos transformadores. Todavia,
a importação de 14 MW era anormal, já que, com a geração normal interna, bastava 4
MW de importação por transformador (lembrando que na ocorrência, apenas os TG-2001,
1202 e 1203 operavam, conforme tabela 5). Assim, quando todos os geradores estivessem
operando, não haveria garantia de que a corrente nos transformadores alcançaria 1296 A,
trazendo o risco de não atuação do relé 67. Considerando uma ocorrência similar, na qual o
sistema da Reducainda fornecesse 14 MVArpara o sistema externo no regime transitório,
seria necessária uma diminuição do ajuste do relé 67 para 60 A. Este último valor era
muito baixo, tornando o sistema de proteção sujeito a enxergar curtos mais distantes do
sistema de 138 kV (obtendo-se, portanto, uma seletividade amperimétrica ineficaz) ou
atuação de forma errônea quando a geração interna estivesse diminuída.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 53

Com a intenção de eliminar a possiblidade de atuação indevida em condições normais


de operação e para faltas externas, foi idealizada uma lógica da função 67 condicionada a
uma restrição de tensão, conforme figura 33. Todavia, a ideia logo foi abandonada, por
causa de um incêndio ocorrido em uma das subestações da refinaria que danificou os relés
e do consequente rearranjo de barras no 13,8 kV.

Figura 33 – Diagrama lógico da proteção concebida com relé 67 e subtensão [35].

Finalmente, foi idealizado o esquema de ilhamento baseado na proposta do artigo


referenciado em [21], conforme a referência [21]. No esquema de proteção que Mozina
sugere, somente um curto-circuito simétrico pode ser confundido com um colapso de
tensão. Dessa forma, foi pensado utilizar o relé 67 junto à proposta do artigo. Como o relé
existente na conexão com a refinaria (ref-542) não possui a função 47, então foi proposta
a implementação de uma função 67 que só atuaria diante de um afundamento de tensão
nas três fases entre 50 % e 90 %, conforme a figura 34.

Figura 34 – Diagrama lógico da proteção concebida com relé 67 [35].

Porém, em estudos posteriores, identificou-se que, na hipótese de curto-circuito


trifásico nas subestações de Cascadura, Imbariê ou Triagem, o sistema elétrico da Reduc
pode contribuir para o evento, de forma similar ao colapso de tensão de novembro de 2009,
onde a geração interna da refinaria tendeu a atender a carência de potência reativa do
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 54

sistema. Assim, foi necessário fazer uma revisão do esquema proposto utilizando o relé 67,
dado que o mesmo atuaria indevidamente para faltas simétricas fora da zona de proteção
dos relés da refinaria.
A nova proposta se baseou no princípio de que há uma diferença considerável no
comportamento da tensão diante dos possíveis eventos que podem ocorrer no SEP. No
caso de um curto-circuito, o afundamento de tensão que é visto pela barra monitorada
depende da impedância do curto e da distância entre a barra e o local do evento. Todavia,
a taxa de variação da magnitude da tensão, quando o sistema está sob um curto-circuito,
é sempre elevada e notada igualmente por barras próximas ou distantes. O curto pode se
iniciar monofásico e evoluir para bifásico ou trifásico, mas a forma de onda se estabelece
nos primeiros ciclos, mantendo alta a taxa de variação de tensão. O tempo de eliminação
do curto determinará a recuperação da tensão. Por outro lado, diferentemente de um curto-
circuito, colapsos de tensão caracterizam-se por uma queda muito lenta da grandeza, com
baixa taxa de variação de tensão. Como visto no item 3.3.3.1, a carência de potência reativa
na parte afetada do sistema ocasiona o colapso, sendo que os controladores no sistema não
conseguem restabelecer a tensão em todas as barras em uma condição apropriada.
Dessa forma, foi proposto um esquema de ilhamento baseado na taxa de variação de
tensão (dv/dt), mantendo-se as características da proposta apresentada em [21], associando
um intertravamento de reversão de potência reativa. Para isso, foi acrescentada uma lógica
que impede o comando de abertura da conexão da refinaria com a concessionária, caso
haja uma variação muito rápida da amplitude da tensão. Diversas avaliações foram feitas
com registros de ocorrências de faltas simétricas em sistemas de transmissão, e não foi
identificado um caso em que tal esquema atuaria de forma indevida [37].
As figuras 35 e 36 exibem a lógica do sistema concebido e implementado nos relés
SEL-451.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 55

Figura 35 – Diagrama lógico da proteção contra subtensão e inversão de potência do


disjuntor 1A [38].
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 56

Figura 36 – Diagrama lógico da proteção contra subtensão e inversão de potência do


disjuntor 1B [38].

Assim, para que ocorra trip, todas as condições abaixo têm de ser necessariamente
atendidas:

• As tensões nas três fases estejam acima de 30 %;

• Não haja uma tensão de sequência negativa maior do que 15 %;

• As tensões nas três fases estejam abaixo de 80 %;

• A tensão não se reduza de 90 % para menos de 80 % num intervalo de tempo menor


do que 80 ms (Temp-1).

O esquema monitora as três fases, a fim de não ser possível atuação indevida nos curtos
monofásicos e bifásicos. A taxa de variação de tensão é monitorada pelos blocos lógicos
[37].

4.4.1.1 Análise da Proteção contra Subtensão

A análise que se segue baseou-se na lógica da figura 35, sendo análoga à lógica da
figura 36. Primeiramente, considere os disjuntores 1A, 1B e 1C fechados.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 57

Inicialmente, considere a situação em que há U > 90 % e U2 < 15 % (situação


normal). Nesse caso, o bloco 1 estará recebendo sinal input de 10111, na ordem de cima
para baixo nos terminais de entrada do bloco 1, não havendo condição de atuação de trip.
No caso em que 80 % < U < 90 % e U2 < 15 %, o input permanecerá o mesmo e
nenhum disjuntor abrirá.
Quando a tensão U decair de 90 % para 80 % em mais de 80 ms, o bloco 1 receberá
11111 permitindo que o output passe para de 0 para 1.
Se o evento supracitado ocorrer em menos de 80 ms, o bloco Temp-1 não liberará
sinal a jusante, fazendo com que o bloco 1 receba 01111.
Se U < 30 %, o sistema será bloqueado para atuação de trip, pois tratar-se-á de
um provável caso de curto-circuito e não de colapso de tensão. A entrada do bloco 1 será
11011 no caso do intervalo de 80 ms ter sido respeitado.
Finalmente, se U2 > 15 %, o sistema também será bloqueado, já que nesta situação
a probabilidade maior é que o defeito seja um curto-circuito assimétrio, fazendo com que
o input do bloco 1 receba 11101, ainda supondo o atendimento dos 80 ms.
Os blocos Temp-3 e Temp-4, de fundo cinza, atuam bloqueando o comando de trip
após o tempo indicado.
Para atuação dos disjuntores 1A e 1C, três condições devem ser atendidas: deverão
estar fechados, deverá ocorrer reversão de potência reativa de, no mínimo, 5 MVAr, e o
bloco 1 deverá ter atingido saída igual a 1. O bloco OR fornece maior dependabilidade
ao sistema, já que uma vez recebido o sinal do bloco 1 e iniciada a contagem de 150 ms,
a mesma permanecerá atuando independentemente da mudança de condição do sinal de
saída do bloco 1. Porém, pode ser observado que, se o disjuntor 1A/1B abrir antes da
contagem ou se a função 32 desabilitar, a contagem, assim como a ação de trip, serão
canceladas.
Para fins práticos, é interessante analisar o desempenho da lógica para o blackout
de novembro de 2009. A figura 37 mostra os perfis de tensão fase-neutro no primário e
secundário do transformador TF-221001A durante o colapso de 2009. A tensão na barra
de 138 kV se reduz para 80 % (6400 V) em aproximadamente 350 ms. Como a mesma
alcançou 90 % (7200 V) em, aproximadamente, 200 ms, o intervalo mínimo de 80 ms seria
atendido, permitindo atuação da lógica de subtensão. Conclui-se que esse esquema seria
eficaz na ocorrência de 2009 que motivou sua implantação.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 58

Figura 37 – Perfis de tensão fase-neutro no primário e secundário do transformador TF-


221001A.

Análise de Segurança da Proteção contra Subtensão Outras conclusões de


interesse dizem respeito à atuação indevida (no aspecto de segurança, conforme
item 2.3.4) baseada em acontecimento real. Em 28 de janeiro de 2011, às 00 h 38
min, ocorreu uma perturbação de origem desconhecida na subestação de Grajaú
(detalhes sobre a subestação podem ser vistos no anexo B) e que provocou o
desligamento automático do circuito 2 da LT 138 kV Grajaú/Cascadura I. Em
consequência, houve também o desligamento automático de subestações em Nova
Iguaçu e Piedade. Nessa ocorrência, a tensão não caiu abaixo de 80 % e a taxa
de variação da tensão se manteve maior do que a requerida para a atuação.
Considerando a tensão a 90 % da nominal 12 ms antes do defeito e 80 % da
nominal 16,6 ms após, o tempo total de variação da tensão foi de 28 ms. Gráficos
da ocorrência encontram-se na figura 38.
Adicionalmente, foram implementados esquemas lógicos complementares aos das
figuras 35 e 36, nos mesmos relés SEL-451 dos disjuntores A e B, a fim de enxergar outros
defeitos como curto-circuito externo. Os itens seguintes tratam desses esquemas.

4.4.2 Proteção de Sobrecorrente Direcional


Foi implementada uma proposta de proteção com relé 67, a fim de garantir backup
(conceito definido no item 2.3.1) das proteções instantâneas em 138 kV e garantir também
a estabilidade das máquinas da U-2200 em face de um curto entre fases nas linhas
entre a Reduc e a UTE-GLB. Após simulações implementadas com o apoio do software
ETAP R
, verificou-se que, caso houvesse um curto-circuito simétrico na subestação de
São José com tempo superior a 300 ms, as máquinas da U-2200 perderiam a estabilidade
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 59

Figura 38 – Defeito ocorrido na subestação de Grajaú em janeiro de 2011. [37]


Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 60

independentemente da eliminação da falta. Assim, considerando os disjuntores 1A, 1B e


1C fechados, sugeriu-se que primeiro o disjuntor de interligação (1C) abra em 150 ms, e
posteriormente atue o trip do disjuntor que está na mesma barra de geração em 300 ms. A
outra barra de 138 kV ficará junto ao sistema até que a proteção de entrada atue.
A partir de estudos de afundamento de tensão verificou-se que um curto trifásico
em Cordovil faz a tensão na barra de 138 kV afundar para 0,41 pu. Como faltas nas demais
subestações provocariam afundamentos maiores de tensão, foi proposto um relé 27 para
permitir a atuação da função 67 e, dessa forma, restringir a atuação deste até a área de
São José.
Pelas figuras 39 e 40 vê-se que quando a tensão das fases cair para menos de 30 %
ou 60 % com atraso de 350 ms, o disjuntor de interligação abrirá após 150 ms no caso da
corrente do curto alcançar 150 A no disjuntor 1A ou 1B. Se a corrente fluindo por um
destes disjuntores alcançar 250 A, o disjuntor abrirá depois de 300 ms.

Figura 39 – Diagrama lógico da proteção de backup do disjuntor 1A [38].


Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 61

Figura 40 – Diagrama lógico da proteção de backup do disjuntor 1B [38].

4.4.3 Proteção contra reversão de potência


Também foi implementada a proteção contra reversão de potência ativa. As figuras
41 e 42 mostram esta etapa de implementação. A função 32 foi configurada para 5 %
de tolerância de reversão de potência, temporizada em 200 ms. Adicionalmente foram
configuradas proteções 81 (para atuar em menos de 59 Hz) e 27 (atuando em menos de 80
% de tensão de sequência positiva). Se todos os disjuntores de entrada estiverem fechados,
o disjuntor 1C abrirá instantaneamente. Se o disjuntor 1C já estiver aberto, o disjuntor
1A e/ou 1B abrirá.

Figura 41 – Diagrama lógico da proteção contra reversão de potência ativa no relé SEL-451
do disjuntor 1A [38].
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 62

Figura 42 – Diagrama lógico da proteção contra reversão de potência ativa do disjuntor


1B [38].

4.4.4 Proteção contra Desvios de Frequência


A proteção de subfrequência de caráter sistêmico mais próxima à refinaria é a
implementada na subestação de Santa Cruz, sendo parte de um esquema de ilhamento da
usina de Angra com um ajuste de 58,7 Hz. Logo, o ajuste para a Reduc teve de considerar
os efeitos de variação de frequência sobre a geração própria e particularidades de cada
equipamento. As figuras 43 e 44 exibem o esquema final para esta etapa. Basicamente,
ocorrerá atuação de trip quando a frequência se deslocar para fora da faixa de 58 a 62 Hz.
Se um dos disjuntores 1A e 1B estiver fechado, com sua respectiva barra interligada a um
dos turbogeradores da U-2200, tal disjuntor será aberto sob temporização de 50 ms. Se
os disjuntores 1A, 1B e 1C estiverem fechados no momento do distúrbio, o disjuntor 1C
abrirá com atraso de 50 ms.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 63

Figura 43 – Diagrama lógico da proteção contra subfrequência e sobrefrequência do dis-


juntor 1A [38].

Figura 44 – Diagrama lógico da proteção contra subfrequência e sobrefrequência no relé


SEL-451 do disjuntor 1B [38].

4.4.5 Proteção contra sobretensão


As subestações de Adrianópolis, São José e Grajaú possuem ajuste de sobretensão
de 125 % em 500 kV, com atraso de 200 ms, conforme ECE número 1.16.09 da ONS. Disso
advém a necessidade da configuração de proteção contra sobretensão num nível menor.
Assim foi implementada uma proteção com ajuste de 110 % em 2 s e 120 % em 150 ms. Se
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 64

apenas um dos disjuntores de interligação estiver fechado, o mesmo sofrerá trip; se todos
os disjuntores estiveram fechados, o disjuntor de interligação abrirá. As figuras 45 e 46 são
referentes aos esquemas lógicos implementados.

Figura 45 – Diagrama lógico da proteção contra sobretensão do disjuntor 1A [38].

Figura 46 – Diagrama lógico da proteção contra sobretensão do disjuntor 1B [38].

O sistema totalmente ilhado previsto, com os disjuntores 1A, 1B e 1C abertos, deve


assumir a configuração da figura 47.
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 65

UTE-GLB 1 UTE-GLB 2

1C 1A 1B

SUB-210 (GIS)

1D 1E 1F 1G 1H 1I
TF-221001A

TF-221002A

TF-222001A
TF-221001B

TF-221002B

TF-222001B
Ilha 2 Ilha 3

TG-2001 TG-2002

U-2200

U-1320
Ilha 1

TG-1201 TG-1202 TG-1203

Figura 47 – Diagrama unifilar com o sistema elétrico da Reducilhado.


Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 66

4.5 Nova Ocorrência no SIN e Desempenho do Novo Sistema de


Ilhamento
No dia 15 de dezembro de 2012, às 17 h 55 min, houve o desligamento automático de
cinco das seis unidades de geração na usina de Itumbiara, localizada no rio Paranaíba, entre
os municípios de Itumbiara, Goiás, e Araporã, Minas Gerais. A ocorrência foi provocada
por interferência eletromagnética no circuito de proteção das máquinas da usina.
Os desligamentos foram responsáveis pela rejeição de 1025 MW de carga no SIN.
Por configuração atribuída ao arranjo físico de barramento, do tipo “anel modificado”,
na subestação da usina de Itumbiara, foram desligadas simultaneamente a LT 500 kV
Emborcação-Itumbiara, neste terminal, e o banco de autotransformadores local AT53,
500/345/13,8 kV, no lado de 500 kV.
A gravidade da perturbação resultou na perda de sincronismo entre os sistemas
Acre/Rondônia e Norte/Nordeste/Centro-Oeste, e, deste último, com o Sul/Sudeste. Con-
sequentemente, os circuitos dos troncos de 230 kV, 345 kV e 500 kV foram desenergizados
por atuação de suas proteções de distância e trip por perda de sincronismo, em função da
instabilidade eletromecânica verificada, que foi mais acentuada em Minas Gerais. Além
das LTs, foram desligadas de maneira generalizada unidades geradoras de várias usinas
hidráulicas e térmicas no SIN [39].
Mais uma vez, não foi possível que a refinaria interrompesse seus processos com
segurança, pois houve falha no sistema de proteção, já que o sistema de ilhamento atuou
corretamente, porém o sistema de descarte de cargas apresentou equívocos.
Antes da ocorrência, a refinaria estava importando 16 MW pelo ramal do disjuntor
1A e 7 MW pelo ramal do disjuntor 1B. O disjuntor de interligação encontrava-se aberto.
As tabelas 6 e 7 mostram a condição das utilidades da Reduc antes da ocorrência.

Tabela 6 – Condição operacional da geração térmica da Reduc antes do blackout.

Geração de Vapor (t/h)


U-2200 U-1320
UTE-GLB TOTAL
SG-2001 SG-2002 SG-1201 SG-1202 SG-1205 CO-5001
279 234 63 73 75 142 198 1064
Capítulo 4. Nova proposta de Ilhamento e Execução 67

Tabela 7 – Condição operacional da geração elétrica da Reduc antes do blackout.

Geração de Energia Elétrica (MW)


U-2200 U-1320
UTE-GLB TOTAL
TG-2001 TG-2002 TG-1201 TG-1202 TG-1203
10 9,7 6,4 6,7 5,9 30 68,7

No instante do colapso, os geradores em operação assumiram a carga da refinaria e


exportaram cerca de 4 MW para o sistema elétrico externo. Quando a frequência atingiu
58 Hz, a U-2200 foi desconectada da U-1320, de acordo com planejamento de descarte
pré-concebido.
A proteção de ilhamento instalada na subestção de entrada detectou a perturbação
no sistema elétrico externo e atuou por reversão de potência ativa associada à subfrequência
conforme previsto, abrindo o disjuntor 1A, de acordo como o esquema da figura 43.
Porém, o consequente desdobramento do descarte de cargas programado para ser
executado após a atuação do ilhamento falhou, pois o sinal adquirido pelo SCMD foi
o da potência de saída transitória dos geradores que, por sua vez, era maior do que a
demanda. Dessa forma, o programa de descarte não foi iniciado pelo SCMD. Quando o
transitório amenizou, o sistema tinha potência de carga maior do que a potência gerada,
o que provocou uma queda contínua na frequência e na tensão do sistema. O TG-2002
sofreu trip por subfrequência, o que levou a um efeito cascata findando na completa falta
de energia dentro da refinaria.
Posteriormente, como é costume em incidentes como este, foi feito um grupo
de trabalho para remover as falhas do sistema de descarte de cargas, cujo trabalho foi
concluído. [40]
68

5 Conclusão

O fornecimento de energia elétrica sempre esteve associado a uma profunda ne-


cessidade de controle visando a segurança operacional e continuidade de atendimento da
demanda. Nesse trabalho, foi possível obter uma visão clara do nível atual de complexidade
existente para o projeto da proteção de grandes indústrias.
Os conceitos primários de seletividade, velocidade, sensibilidade e confiabilidade
apresentaram-se como base para a perseguição de um projeto adequado. Ressalta-se a
imprevisibilidade de todos os tipos de falha que podem ocorrer num sistema elétrico, dando
à proteção uma exigência maior na sua capacidade de atuação.
Na confecção do projeto não bastou o conhecimento de esquemas modernos de
lógicas de proteção. Foi necessário adequar as ideias iniciais para a realidade da Refinaria
Duque de Caxias. Este é um caso frequente em diversos projetos de engenharia, onde faz-se
necessária a compreensão não só do funcionamento dos equipamentos, mas das próprias
propriedades dos fenômenos físicos envolvidos no projeto.
O que também foi notado, principalmente no que se refere às informações de
[Scutariu e MacDonald], é o desenvolvimento independente de esquemas de proteção contra
colapso de tensão por ocasião de ocorrências severas que possam resultar em blackout .
Dada a complexidade de desenvolvimento de tais esquemas, conforme foi exposto neste
trabalho, para se atender os fundamentos mais básicos de proteção elétrica, parece ser
conveniente uma maior troca de informação, ou mesmo uma sinergia a fim de se conceber
esquemas de máxima confiabilidade possível, conforme o caso.
Por fim, acreditamos que o trabalho foi bem sucedido no seu objetivo de expor
a atualização real de um esquema de proteção de ilhamento em uma unidade industrial
com geração própria no SEP e exibindo o dinamismo demandado por tais esquemas. Uma
sugestão de trabalho futuro é uma exposição detalhada e conjunta não só da filosofia de
ilhamento da Reduc, como também do seu sistema interno de descarte de cargas. Outra
sugestão, esta mais complexa, é um trabalho que compare esquemas de ilhamento de
unidades industriais com geração própria e os seus desempenhos.
69

Referências

[1] KUNDUR, P. “Power System Stability and Control”. Palo Alto, California:
McGraw-Hill, Inc., 1994. 3-13 p. ISBN 978-0070359581.

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Carolina: McGraw-Hill, 1955. 334-338 p.

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Carlos, SP, 2008.

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Referências 70

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[25] VIEIRA FILHO, X. “Operação de Sistemas de Potência com Controle Automático de


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[26] OLIVEIRA, S. H. “Notas de aula do curso de Estabilidade ministradas pelo Prof.


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[29] CARDOSO, M. M. “Critérios de um Sistema de Descarte de Cargas Elétricas de


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Fluminense, Niterói, RJ, 2008.

[30] ABB. “REF542 plus - Bay Protection and Control Unit”.


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[31] SEL. “Sistema de Proteção, Automação e Controle SEL-451 ”.


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[32] SEL. “ACSELERATOR Quickset”. Http://www.selinc.com.br/. Acessado em


19/05/2014.
Referências 71

[33] OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO. “Análise da Perturbação do


dia 10/11/2009 às 22h13min envolvendo o desligamento dos três circuitos da LT 765 kV
Itaberá - Ivaiporã: Ons-re-3-252/2009”. Brasília, 2009, 9-10 p.
[34] REDUC/ER. “Parada Geral da REDUC em decorrência de Blackout”. 2009.
Apresentação Institucional.
[35] REDUC/ER. “Evento Apagão - 10 de outubro de 2009: Considerações sobre a
proteção 67 ”. 2009. Apresentação Institucional.
[36] PETROBRAS. “PG-2AT-00338-0: Diretrizes para proteção no ponto de conexão com
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C37.2-1996.
[37] REDUC/EM. “Proposta para Proteção de Ilhamento”. 2010. Documento Institucional.
[38] REDUC/ER. “Lógicas das Proteções dos Relés SEL DJ-1A/1B”. 2011. Apresentação
Institucional.
[39] OPERADOR NACIONAL DO SISTEMA ELÉTRICO. “Relatório Anual 2012 do
ONS ”. Brasília, 2012, 44 p.
[40] PETROBRAS/REDUC. “Relatório da Comissão de Análise da Ocorrência de Parada
da Refinaria Duque de Caxias por Falta de Energia Elétrica em 15/12/2012 ”. Duque de
Caxias, 2009, 9-10 p.
[41] PETROBRAS, P. “Petrobras inaugura a termelétrica Governador Leonel
Brizola, em Duque de Caxias”. 2006. Comunicado Institucional. Acessado em
http://agenciapetrobras.com.br/upload/pdf/importfromurl_1549.pdf em janeiro de 2014.
[42] FURNAS. “Furnas - Furnas System”. Acessado em janeiro de 2014. Disponível em:
<http://www.furnas.com.br/hotsites/sistemafurnas/usina_term_stacruz.asp>.
[43] FURNAS. “Revista Furnas - número 340 ”. 2007. Comunicado Institucional. Acessado
em http://www.furnas.com.br/arqtrab/ddppg/revistaonline/linhadireta/rf340_subjac.pdf
em janeiro de 2014.
[44] FURNAS. “Revista Furnas - número 315 ”.
2004. Comunicado Institucional. Acessado em
http://www.furnas.com.br/arqtrab/ddppg/revistaonline/linhadireta/RF315_subest.pdf
em janeiro de 2014.
[45] FURNAS. “Revista Furnas - número 324 ”. 2005. Comunicado Institucional. Acessado
em http://www.furnas.com.br/arqtrab/ddppg/revistaonline/linhadireta/rf324_grajau.pdf
em janeiro de 2014.
[46] FURNAS. “Revista Furnas - número 331 ”.
2006. Comunicado Institucional. Acessado em
http://www.furnas.com.br/arqtrab/ddppg/revistaonline/linhadireta/RF_331_mcapa.pdf
em janeiro de 2014.
[47] ONS. “Planta da Rede de Operaç ao - Região Sudeste”. 2014. Site da ONS (domínio
público). Acessado em http://www.ons.org.br/conheca_sistema/mapas_sin.aspx em
janeiro de 2014.
72

ANEXO A – Tabela IEEE/ANSI

Tabela 8 – Números padrões de funções e dispositivos de proteção [9].


Código Descrição
1 Elemento principal
2 Relé de partida ou fechamento temporizado
3 Relé de verificação ou interbloqueio
4 Contator principal
5 Dispositivo de interrupção
6 Disjuntor de partida
7 Relé de variação
8 Dispositivo de desconexão de potência de controle
9 Dispositivo de reversão
10 Chave de sequência de unidades
11 Dispositivo multifunção
12 Dispositivo de sobrevelocidade
13 Dispositivo de velocidade síncrona
14 Dispositivo de subvelocidade
15 Dispositivo de ajuste e comparação de frequência ou velocidade
16 Dispositivo de transferência de dados
17 Chave de descarte ou paralelismo
18 Dispositivo de aceleração ou desaceleração
19 Contator de transição de partida para operação nominal
20 Válvula operada eletricamente
21 Relé de distância
22 Disjuntor de equalização
23 Dispositivo de controle de temperatura
24 Relé de tensão por frequência (V/Hz)
25 Relé de verificação de sincronismo
26 Dispositivo térmico do equipamento
27 Relé de subtensão
28 Detector de chama
29 Chave ou contatora de isolamento
30 Relé de indicação
31 Dispositivo de separação de excitação
32 Relé direcional de potência
ANEXO A. Tabela IEEE/ANSI 73

33 Chave de posição
34 Dispositivo de sequência principal
35 Dispositivo de operação com escovas ou anel de deslizameto curco-circuitado
36 Dispositivo de polaridade ou polarizador de tensão
37 Relé de subcorrente ou subpotência
38 Dispositivo de proteção de mancal
39 Monitor de condição mecânica
40 Relé de campo (sobre/sub excitado)
41 Disjuntor de campo
42 Disjuntor de operação
43 Dispositivo seletor ou de transferência manual
44 Relé de sequência de partida de unidade
45 Monitor de condições atmosféricas anormais
46 Relé de corrente de balanço de fases ou de fases invertidas
47 Relé de tensão de balanço de fases ou de sequência de fases
48 Relé de sequência incompleta
49 Relé térmico de máquinas rotativas ou transformadores
50 Relé de sobrecorrente instantâneo
51 Relé de sobrecorrente de tempo inverso
52 Disjuntor CA
53 Relé de excitação de campo
54 Dispositivo de engate de turning gear
55 Relé de fator de potência
56 Relé de imposição de campo
57 Dispositivo de curto-circuito ou aterramento
58 Relé de falha de retificação
59 Relé de sobretensão
60 Relé de balanço de corrente ou tensão
61 Sensor ou chave de densidade
62 Relé temporizado de abertura ou parada
63 Chave de pressão (pressostato)
64 Relé de detecção de falha para a terra
65 Governador
66 Dispositivo de supervisão de número de partidas
67 Relé de sobrecorrente direcional
68 Relé de “descompasso” ou bloqueio
69 Dispositivo de controle permissivo
ANEXO A. Tabela IEEE/ANSI 74

70 Reostato
71 Chave de nível de fluido
72 Disjuntor CC
73 Contator de resistor de carga
74 Relé de alarme
75 Mecanismo de mudança de posição
76 Relé de sobrecorrente CC
77 Dispositivo de telemetria
78 Relé de medição de ângulo de fase
79 Relé de fechamento CA
80 Chave de fluxo
81 Relé de frequência
82 Relé de religamento de carga CC
83 Relé de transferência ou controle seletivo automático
84 Mecanismo de operação
85 Relé de fio-piloto, carrier ou comunicações piloto
86 Relé de bloqueio
87 Relé de proteção diferencial
88 Gerador-motor ou motor auxiliar
89 Chave de linha
90 Dispositivo de regulação
91 Relé direcional de tensão
92 Relé direcional de potência e tensão
93 Contator de alteração de campo
94 Relé de desligamento
95 a 99 Outras aplicações
Acrônimos de dispositivos/funções
AFD Detector de arco
CLK Contador ou clock
DDR Registrador de perturbação dinâmico
DFR Registrador de falta digital
ENV Medidor de condições ambientais
HIZ Detector de falta de alta impedância
HMI Interface homem-máquina
HST Registrador de histórico
LGC Lógica esquemática
MET Medidor de variáveis de subestação
ANEXO A. Tabela IEEE/ANSI 75

PDC Concentrador de dados de fasores


PMU Unidade de medida de fasores
PQM Monitor de qualidade de potência
RIO Dispositivo de input/output remoto
RTU Concentrador de dados terminais remoto
SER Registrador de sequência de eventos
TCM Monitor de circuito de trip

Tabela 9 – Principais sufixos usados nos códigos de funções de proteção. [9]

Sufixo Descrição
X,Y e Z Relé auxiliar
O Contator/Relé de abertura
C Contator/Relé de fechamento
G Gerador ou Terra
N Rede ou Neutro
T Transformador
TH Transformador (lado de alta tensão)
TL Transformador (lado de baixa tensão)
BF Falha de disjuntor
76

ANEXO B – Observações concernentes ao


Sistema Elétrico do Grande Rio

A figura 48 exibe um diagrama da ONS para um trecho do sistema elétrico do


Grande Rio, cuja legenda pode ser vista na figura 49. A Reduc tem seu ponto de conexão
junto à Usina Termoelétrica Governador Leonel Brizola.
Abaixo vão descrições resumidas das fontes geradoras e subestações citadas neste
trabalho.

UTE-GLB
A Usina Termoelétrica Governador Leonel Brizola, antigamente conhecida como
Termo-Rio, é a maior termoelétrica do Brasil a gás natural com co-geração e em ciclo
combinado. Sua potência instalada é de 1036 MW, o que corresponde ao consumo
médio de uma cidade de 4,5 mílhões de habitantes. Possui seis turbinas a gás e
três a vapor, sendo que sua energia é transportada por uma LT de 13,7 km para a
subestação de São José, em Belford Roxo. Como explanado neste trabalho, possui
papel fundamental para o atendimento de demanda térmica e elétrica da Refinaria
Duque de Caxias [41].

UTE Santa Cruz


Tem capacidade instalada de 932 MW, distribuídos em quatro unidades de geração
a vapor e outas duas unidades de geração a gás. Está localizada na margem direita
do Canal de São Francisco, na região do Pólo Industrial de Santa Cruz, estado do
Rio de Janeiro. Entrou em operação em 1967 e sofreu diversas ampliações [42].

Subestação de Jacarepaguá
Entrou em operação em dezembro de 1967 para suprir o município do Rio de Janeiro
com a energia da UTE Santa Cruz, pela interligação com várias subestações da Light.
Sofreu ampliações para acomodar os incrementos de capacidade geradora de Santa
Cruz [43].

Subestação de Adrianópolis
Responsável por 64 % de toda a energia consumida no Rio de Janeiro e no Espírito
Santo, possui capacidade instalada de 2580 MVA. Opera em três setores diferenciados,
principalemente, pelos níveis de tensão: 138 kV, 345 kV e 500 kV [44].

Subestação do Grajaú
Possui setores de 138 e 500 kV. Possui quatro bancos de transformadores de 2400
ANEXO B. Observações concernentes ao Sistema Elétrico do Grande Rio 77

MVA cada. Construída em 1979, ela recebe duas linhas de 500 kV, originárias das
subestações de Adrianópolis e Angra dos Reis e repassa a energia através de 16
linhas de 138 kV para o abastecimento da Light [45].

Subestação de Angra
É responsável pelo transporte de 1900 MW das usinas nucleares de Angra I e Angra
II. Responsável pela interligação Rio-São Paulo, através da linha de transmissão
Cachoeira Paulista-Angra dos Reis, a subestação conta com três pátios, dois de 138
kV e um de 500 kV [46].

Figura 48 – Diagrama Elétrico de parte do SEP do Grande Rio [47].


ANEXO B. Observações concernentes ao Sistema Elétrico do Grande Rio 78

Figura 49 – Legenda do diagrama da figura 48 [47].

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