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CAP.

5
Parâmetros
Geométricos e de
Desempenho dos MCIA
Prof. Ricardo Cruz
CEM/EST/UEA
rcruz@uea.edu.br
F

1
INTRODUÇÃO

2
• Parâmetros geométricos médios (PG) e de desempenho (PD): são co-
eficientes que permitem estimar várias características (geométricas e
mecânicas) dos motores reais;
• Uma primeira aproximação aos MCIA’s reais consiste de aproximá-los
aos ciclos teóricos usando PG e PD;
• Uma segunda aproximação aos MCIA’s reais consiste de introduzir o
aporte de calor pela combustão interna, como será visto no CAP. 8
(“ciclo” ar-combustível); e, em nível mais sofisticado tecnicamente, por
simulações numéricas (CAP. 9). Os capítulos 6 a 7-2 apresentam a com-
bustão, como ocorre nos MCIA’s;
• No estado da arte, o ciclo ar-combustível ainda é amplamente usado
(principalmente com pequenos MCIA’s), pois permite predimensionar
um MCIA no ponto de eficiência máxima. Nos MCIS’s reais, não neces-
sariamente é nesse ponto onde ocorrem o torque e a potência máxi-
mos. A determinação da curva característica de um MCIA real (slides
18 a 20 deste capítulo), onde se observa onde esses máximos estão,
foge aos objetivos do ciclo ar-combustível.
3
PARÂMETROS GEOMÉTRICOS
MÉDIOS (PG)

4
CURSO DO PISTÃO
Cmáx. = 2 M [m] (1)
O curso variável, C , não é um PG. É um
parâmetro cinético do motor (Cap. 10).

VELOCIDADE MÉDIA DO PISTÃO


𝒏𝒓𝒐𝒕. 𝑪𝒎á𝒙.
V𝒎𝒑 = *m/s+ (2)
30
Grandes MCIAcp: Vmp 5 m/s
MCIA para competições: Vmp 15 m/s
Notar que maior o Cmáx., menor a nrot..
A eq. (2) é obtida pelo teorema do valor
médio para integrais, da velocidade ins-
tantânea do pistão (Cap. 10).
5
Valores típicos de alguns parâmetros no estado da arte

Hobbismo Automotivos Médios


PARÂMETRO
(2T) (4T) estacionários

D [mm] 2 9,42 50

Cmáx. [mm] 2 10 160

Vd [litro/cilindro] > 0,007 > 0,5 >3

nrot. [rpm] 13 000 5 200 > 1 000

Pot. [kW/cilindro] ¹ 0,72 35 > 300

Vmp [m/s] 9 17 7

pmefreio [kPa] ¹ 503 1 170 472


¹ Parâmetro de desempenho (sl. 12)
Fonte: adaptado de Internal Combustion Engines (Pulkrabek, 1997)

6
RELAÇÃO CURSO/DIÂMETRO

𝑪𝒎á𝒙.
𝑹𝑪𝑫 = (3)
𝑫

MCIA Subquadrado: RCD > 1 (navais)

MCIA Quadrado: RCD = 1 (veiculares comuns)

MCIA Superquadrado: RCD < 1 (veiculares rápidos)

Em particular:
MCIA pequenos: 0,8 < RCD < 1,2 (estacionários)
MCIA médios a grandes: RCD 1,25 (navais e termelétricos)

7
DESLOCAMENTO (“CILINDRADA”)

𝝅
𝑽𝒅 = 𝑉𝑃𝑀𝐼 − 𝑉𝑃𝑀𝑆 = 𝒛 𝑫²𝑪𝒎á𝒙. [m³] (4)
4

Onde: z – número de cilindros do MCIA.

Sendo VPMS = Vc VPMI = Vd + Vc (5)


Onde: Vc [m³] – volume da câmara de combustão.

O volume variável, V , não é um PG (assim como o curso variável C ). É um parâ


metro cinético do motor (Cap. 10).

Menores D reduzem perdas de calor pela câmara de combustão (me-


nor área lateral), elevando a eficiência térmica do MCIA;

Porém, menores D (elevam o curso do pistão) aumentam as perdas por


atrito, reduzindo a eficiência térmica do MCIA;

8
RAZÃO VOLUMÉTRICA (TAXA DE COMPRESSÃO)

V PMI Vd  Vc Vd
rV   1 (6)
V PMS Vc Vc
MCIAct aspirados: rV = 8/1 a 11/1
MCIAcp aspirados: rV = 12/1 a 24/1

MCIA supercarregados: usam-se menores rV para


compensar a compressão do ar. Aproximadamente,
a rV,din. de um MCIA supercarregado pode ser esti-
mada, até um limite de rV,din. = 24/1, por: ¹
rV,din. ≅ rV + pcomp. + 1 (7)
Onde: pcomp. [bar] é a pressão do compressor de ar (fig. ao lado).

¹ http://turbobr.pbworks.com/w/page/22531765/Taxa%20e%20Press%C3%A3o%20em%20Motores%20Turbo (acesso em: 18/9/2014)

9
Evolução histórica da razão volumétrica na indústria automobilista dos EUA

Fonte: Internal Combustion Engines (Pulkrabek, 1997)

10
RAZÃO MANIVELA-BIELA
𝑴
𝜿≡ (8)
𝑩
Este fator é importante para o projeto das dimensões
internas e a análise da cinética do MCIA (Cap. 10).

A experiência mostrou que 0,2 < 𝜿 < 0,4: ¹


Menores valores de 𝜿 (grandes 𝑩) promovem menores
pendulamentos laterais da biela, reduzindo as vibrações
laterais do MCIA;
Maiores valores de 𝜿 (grandes 𝑴) fazem com que o pis-
tão chegue e saia mais rápido ao PMI e permaneça mais
tempo ali. Porém, eleva a expulsão dos gases no PMS;
A experiência recomenda 𝜿 ≤ 0,3, pois, acima, as vibra-
ções de 2a ordem e o atrito pistão-camisa crescem muito.

¹ http://www.autoentusiastasclassic.com.br/2010/09/relacao-rl-uma-analise-grafica.html (acesso em: 8/3/2017)


11
EXEMPLO DE EMPREGO DE PG

12
Deseja-se estimar as características geométricas de um MCIA de igni-
ção por centelha para uso estacionário na geração de potência elétri-
ca. O motor deverá girar a 1 800 rpm e possuir 8 cilindros. O combustí-
vel projetado é o gás natural, cujas características permitem que a ra-
zão volumétrica do motor seja 13:1, sob uma pressão de compressão
de 5 atm, propiciada por turbocompressor. Adote os PG necessários e
determine:
A) O curso dos pistões, Cmáx.;
B) O comprimento das manivelas, M, e das bielas, B;
C) O volume deslocado do motor, Vd , em [litro]; e
D) A razão de compressão real, rVdin..

13
SOLUÇÃO (A): curso dos pistões.

As expressões [3] e [4] e valores assumidos para V𝒎𝒑 e RCD permitem obter o
curso Cmáx. e o diâmetro D.
Para MCIA de grande porte: conforme o slide 5, V𝒎𝒑 = 5 m/s; e conforme o
slide 7, RCD 1,25 (assumido 1,3).

Então, das expressões [4] e [3]:


𝐶𝑚á𝑥. = 𝐷𝑅𝐶𝐷 = 1,3𝐷
𝑛𝑟𝑜𝑡. 𝐶𝑚á𝑥. 𝑛𝑟𝑜𝑡. 1,3𝐷 116,279
V𝑚𝑝 = 5 m s ≡ = = 0,043 𝑛𝑟𝑜𝑡. 𝐷 → 𝐷 =
30 30 𝑛𝑟𝑜𝑡.
116,279
∴𝐷= = 0,064 599 m 64,599 mm
1 800 rpm

Retornando à expressão [4]:


𝐶𝑚á𝑥. = 1,3𝐷 = 1,3 64,599 mm = 84,109 mm

14
SOLUÇÃO (B): comprimento das manivelas M e das bielas B dos pistões.

A expressão [8] e um valor assumido para o coeficiente 𝜿 permitem obter o


comprimento das manivelas M e das bielas B dos pistões.
A experiência recomenda limitar ao intervalo 0,2 𝜿 0,3 (assumido 0,25).

Geometricamente, o comprimento da manivela é metade do curso do pistão


(figura ao lado):
𝐶𝑚á𝑥. 84,109 mm
𝑀= = = 42,055 mm
2 2

Logo, da expressão [8]:


𝑀 42,055 mm
𝜅 = 0,25 ≡ =
𝐵 𝐵
42,055 mm 42,055 mm
𝐵= = = 168,22 mm
𝜅 0,25

15
SOLUÇÃO (C): volume deslocado do motor Vd [litro].

A expressão [4] fornece o volume deslocado total dos 𝒛 = 8 pistões.


𝜋 2 84,109 mm
𝑉𝑑 = 𝑧 𝐷²𝐶𝑚á𝑥. = 8 0,25∙3,142∙ 0,064 599 m ∙
4 1 000 mm m

∴ 𝑉𝑑 = 0,002 205 m³, ou 2,205 litro

SOLUÇÃO (D): razão de compressão real rVdin..

Em motores cuja admissão de ar é comprimida além da pressão atmosférica,


pela pressão 𝒑𝒄𝒐𝒎𝒑. = 5 atm 5 bar, pode-se estimar a razão volumétrica di-
nâmica, dada a razão volumétrica geométrica 𝒓𝑽 = 16, pela expressão [7]:

𝑟𝑉,𝑑𝑖𝑛. ≅ 𝑟𝑉 + 𝑝𝑐𝑜𝑚𝑝. + 1 = 13 + 5 + 1 = 17:1

16
PARÂMETROS DE DESEMPENHO
MÉDIOS (PD)

17
DEFINIÇÃO DOS VÁRIOS TRABALHOS INTERNOS DO MCIA
Os PD tem referência no diagrama do indicador (DI) do MCIA real, figura
abaixo, destacando-se as áreas A, B e C;
Define-se o trabalho específico por ciclo e por cilindro:

𝒘≡ 𝒑 ∙ 𝒅𝒗 *(kJ/kg)/ciclo+/cilindro
𝒎𝒂𝒓 + 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃.
Onde: 𝒗𝒅 ≡ 𝑽𝒅 𝒎𝒈á𝒔 = 𝒗𝑷𝑴𝑰 − 𝒗𝑷𝑴𝑺 , [m³/kg].
Esta integral é uma área sob uma curva no pv.

Definem-se os trabalhos específicos:


Indicado bruto (IB): wIB = Área A

Bombeamento (BB): wBB = Área B


AR PRESSURIZADO

Indicado líquido (IL): wIL = wIB wB


AR ASPIRADO

Atritos passivos (AP): wAP (não está no DI)


18
A área B é negativa se o motor é aspirado, porque o pistão precisa realizar tra
balho para admitir nova carga e expulsar os gases;

As figuras abaixo ilustram a variação do tamanho da área de trabalho B,


conforme a aspiração é wot ou pot.

DI de um MCIA com DI de um MCIA com


admissão aberta (wot) admissão semi aberta (pot)

Fonte: adaptado de Internal Combustion Engines (Pulkrabek, 1997)

19
Se o MCIA usa compressor a área B é positiva, porque é o compressor que
produz os trabalhos de admissão do ar e de expulsão dos gases, aproveitando
a energia residual dos gases (fora do motor – portanto, sem carregá-lo), ou
acionado mecanicamente pelo MCIA (impondo pequena carga ao MCIA);
As figuras abaixo ilustram como opera um turbocompressor sob os gases do
motor e a posição de um DI pot relativamente à linha de pressão atmosférica.
DI de um MCIA com admissão aberta (wot)
DI de um MCIA com
admissão semi aberta (pot)

Fonte: adaptado de Internal Combustion Engines (Pulkrabek, 1997)

20
Trabalho Específico ao Freio do Motor
“Ao freio” se refere à medição deste trabalho em freios dinamométricos.
Perdas

wF = wIB wBB wAP [(kJ/kg)/ciclo] (9)


wIL

Pressões Médias Efetivas do Motor


𝒘
𝒑𝒎𝒆 ≡ *kPa+ (10)
𝒗𝒅 𝒎𝒂𝒓 + 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃.

Onde: 𝒗𝒅 ≡ 𝑽𝒅 𝒎𝒈á𝒔 = 𝒗𝑷𝑴𝑰 − 𝒗𝑷𝑴𝑺 , [m³/kg].

A pme não depende da rotação do motor.


Definem-se várias: pmeIB , pmeBB , pmeAP ,
pmeIL = pmeIB pmeBB e pmeF = pmeIL – pmeAP
Dados para pmeF : MCIAct – 8,5 a 10,5 bar; MCIAcp aspirados – 7 a 9 bar
MCIAcp supercarregados – 10 a 12 bar
21
Torque ao Freio do Motor
pme F  Vd
F  [kN.m] (11)
2 n
Regra geral, MCIAcp > MCIAct .

Potência ao Freio do Motor F

 nrot .  W F
 (11)
(12)
60 n

 2 nrot .   F
W F [kW]   (12)
(13)
 60
 pme F  A p  Vmp  pme i  nrot  Vd (14)
(13)
 2n 60 n

Onde: pmeF [kPa] é a pressão média efetiva ao freio; nrot. [rpm] é a frequência de rotação;
WF = wF Vd [kJ] é o trabalho ao freio, sendo wF o trabalho específico; n é a ciclagem
(número de giros da manivela a cada ignição: 4T 2, 2T 1); e Vd [m³], deslocamento.

22
Exemplos de Curvas de Potência e Torque Versus a Rotação
PEQUENO MCIA VEICULAR DE 150 cm³ (MOTOCICLETA)

Características das cur-


vas de torque e potên-
cia versus a rotação:
• O máx. ocorre onde se es-
gota a capacidade de en-
golimento de ar;

• Após o máximo de 𝑾𝑭
esta cai, devido a potên-
cia de atrito aumentar,
mas pouco, com a rota-
ção; ou seja, na prática:
𝑾𝑭 ≈ 𝒇(𝒏𝒓𝒐𝒕. )
Fonte: AZEVEDO NETO, R., AZEVEDO, J. D. L. Comparative performance of a flex-fuel motocycle
using different mixtures of ethanol and gasoline. 21st COBEM. Natal, 2011.

23
GRANDE MCIA VEICULAR DE 7.4 litro (CARRO ESTADUNIDENSE)

OBS: estas curvas


tem as mesmas ca
racterísticas das cur
vas do slide anterior.

Fonte: Internal Combustion Engines (Pulkrabek, 1997)


24
GRANDE MCIA MODERNO DE 8 CIL., 5.46 litro (CARRO EUROPEU)

Fonte: Revista 4 Rodas. Ano 53, Ed. 640 (Fev., 2013)

OBS: estas curvas tem as mesmas características das curvas dos slides anteriores.

25
Consumo Específico de Combustível ao Freio do Motor

m comb .
Ce F  [kg/kJ] (15)
W F

Regra geral, CeMCIcp < CeMCIct ;

No setor elétrico é mais comum o termo:

 m comb . 
Ce EE  3 600   [litro/kWh ] (15)
(16)

  comb .W EE 

Onde: 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃. [kg/s] e comb. [kg/litro] são, respectivamente, a vazão e a massa específica do
combustível (gasóleo: 0,85; M27 – 0,75); e 𝑾𝑬𝑬 = 0,89𝑾𝑭 [kWel] é a potência do gerador
elétrico, assumido-o operando no ponto de maior eficiência de conversão.

26
Relação entre a potência, o consumo específico e a razão de compressão

Ce
. Ce
Wf

.
Wf

Fonte: Introduction to Internal Combustion Engines (Stone, 1999)

27
A tabela a seguir mostra alguns valores de referência do consumo
específico de modernos MCIA.

Faixa de consumo específico


Tipo de MCIA
10-5 [kgcomb./kJmec.] [litrocomb./kWhmec.]

MCIAcp 4T estacionário (até 1 MW) 8,22 a 5,4 0,350 a 0,230 a


MCIAcp 2T estacionário (acima de 10 MW) 5,28 a 5 0,225 a 0,213 a
MCIAct 4T veicular (4 cilindros até 2 litros) 7,5 0,319
MCIAct 2T veicular (motocicletas e lanchas) 9,72 0,414
a O menor valor corresponde aos maiores MCIA desta categoria.

28
Razão Ar-Combustível do Motor

m ar .real m ar .real
AC   (17)
m comb . m comb .

Onde, respectivamente: 𝒎𝒂𝒓.𝒓𝒆𝒂𝒍 [kg/ciclo] e 𝒎𝒂𝒓.𝒓𝒆𝒂𝒍 [kg/s] são a carga de ar de um ciclo e a


vazão de ar engolida; e idem, 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃. [kg/ciclo] e 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃. [kg/s], quanto ao combustível usado.

Definem-se: ACesteq. – é uma constante para cada combustível (teórica)


ACreal – varia com a rotação e/ou a carga (medida);

Alguns autores adotam o inverso de AC , ou seja, CA.

VARIAÇÃO DE ACREAL COM A CARGA EM MCIAcp ESTACIONÁRIOS


Catálogos de MCIAcp informam ACreal|100 (na carga de 100%). Em outras cargas q, em regime
contínuo constante, geralmente a 1 800 rpm, se podem estimar ACreal por (Cruz, 2004) por:
AC real |q  AC real |100 m comb .|100 m comb .|q  (17)
(18)
Onde: CAreal|100 , 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃.|𝟏𝟎𝟎 (carga 100%) e 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃.|𝒒 (cargas 25, 50 e 75%) são catalogados.
29
Razão de Equivalência do Motor
Obtida da reação de combustão estequiométrica ( 15 p/gasóleo e M27)

𝑨𝑪𝒆𝒔𝒕𝒆𝒒.
𝝓≡ (19)
𝑨𝑪𝒓𝒆𝒂𝒍

Dado de catálogo de fabricante (variável com a carga)

Definem-se os seguintes valores de misturas: = 1 (ar estequiométrico)


< 1 (combustível pobre)
> 1 (combustível rico)
Valores usuais: MCIAct – 1 1,4 ; MCIAcp – 0,7 1,10.
Usando CA (o inverso de AC) é mais conhecida a razão de excesso de combustível
(“luftzahl” na literatura alemã), definida como segue (no Cap. 7-2, este fator é repre
sentado pela letra ):
CAreal = 1 (ar estequiométrico)
 (19)
(20) < 1 (rica em combustível)
CAesteq.
> 1 (pobre em combustível)

30
Eficiência da Combustão ou Queima (no aporte de calor)
Q queima,real Q queima,real
 queima   (21)
Q queima,med . m comb. PCI med.

Onde: 𝑸𝒒𝒖𝒆𝒊𝒎𝒂,𝒓𝒆𝒂𝒍 é o calor real aportado dentro do MCIA (difícil determinação); 𝑸𝒒𝒖𝒆𝒊𝒎𝒂,𝒎𝒆𝒅.
é o calor medido externo; e PCI é o poder calorífico inferior do combustível (sem condensação
d’água formada na combustão), definido no CAP. 7-2, para o qual alguns valores médios são:
Gasolinas puras: PCI = 45 MJ/kg (na mistura brasileira M27, é por volta de 40 MJ/kg);
Gasóleos em geral: PCI = 42 MJ/kg ;
Alguns gases naturais: PCIUrucu.médio = 36 MJ/kg (Resol. ANP no. 16/2008);
PCIGASBOL.médio = 39 MJ/kg (Resol. ANP no. 16/2008).

Em (21), queima tem como base o PCI (R e P @ 25 C), mas deveria ter como base o
conceito de exergia de combustão. Essa exergia é praticamente igual ao PCI.
Ademais, como a temperatura no interior do MCIA é variável e muito maior que o
valor de 25 C, 𝑸𝒒𝒖𝒆𝒊𝒎𝒂 deveria ser avaliada tendo por base a entalpia de combustão
(CAP. 7-2), mas isso não é prático, devido essa variabilidade da temperatura;
Valores típicos de queima , base no PCI: 60% a 65% (MCIAct); e 65% a 70% (MCIAcp).
31
Eficiência Energética ao Freio do Motor

Também é chamada de eficiência térmica (a literatura estadunidense a cha-


ma de rendimento térmico do combustível).

Fundamentalmente, é uma eficiência de primeira lei da Termodinâmica, daí


que se define como:

W F W F 1
 t.F    (22)
Q queima,med . m comb. PCI med. Ce F  PCI med.

Notar que t.F é avaliada em relação à energia do combustível medida exter-


namente (𝑸𝒒𝒖𝒆𝒊𝒎𝒂,𝒎𝒆𝒅. ), e não à energia que chega ao interior do MCIA
(𝑸𝒓𝒆𝒂𝒍 ), porque considera a vazão de combustível medida fora do MCIA.

Valores típicos de t.F : 30% (MCIA pequenos e MCIA automotivos) e 45%


(grandes MCIA, estacionários e navais).

32
Eficiência Mecânica do Motor
wF  tF
 mec.   (23)
w IB  t IB
Onde: os subscritos F e IB significam ao freio e indicado bruto, respectivamente.

Valores típicos de mec. : 65% a 75% (MCIAct) e 70% a 85% (MCIAcp).

Eficiência Volumétrica do Motor


m ar .real m ar .real m 60 n  m ar .real
 vol.    ar .real  (24)
m ar .teór .  ar .CL  V d m ar .teór .  ar .CL  n rot .  V d
Onde: 𝒎𝒂𝒓.𝒓𝒆𝒂𝒍 [kg/ciclo] e 𝒎𝒂𝒓.𝒓𝒆𝒂𝒍 [kg/s] são a massa e a vazão de ar engolido; ar.CL [kg/m³] –
massa específica do ar, condições locais; 𝒎𝒂𝒓.𝒕𝒆ó𝒓 [kg/ciclo] e 𝒎𝒂𝒓.𝒕𝒆ó𝒓. [kg/s] – massa e vazão de
ar teóricas; n – ciclagem do MCIA (4T = 2 ; 2T = 1); e nrot. [rpm] – frequência de rotação do MCIA.

Valores típicos de vol. : 75% a 90% wot (“wide open throttle”), sendo os va-
lores maiores relativos aos MCIA supercarregados.

33
Fração de Gases Residuais (na Admissão)
Quando o MCIA realiza a exaustão, sempre resta uma fração de gases queimados no
cilindro, a qual se misturará à próxima carga fresca de ar e combustível. Alguns auto
res definem esta fração como:

m res. m resid .
f res.   (25)
m mist . m ar  m comb .

Outros autores a definem do modo:


m res. m resid.
f res.   (26)
m mist. m ar  m comb.  m resid.

Onde: 𝒎𝒓𝒆𝒔𝒊𝒅. [kg/ciclo] e 𝒎𝒓𝒆𝒔𝒊𝒅. [kg/s] são a massa e a vazão de gases residuais presentes
no cilindro após o ciclo anterior (decresce com o aumento da razão de compressão e/ou da
pressão de compressão de ar, caso haja); 𝒎𝒎𝒊𝒔𝒕. [kg/ciclo] é a massa da mistura ar-combus
tível (MCIAct), ou só de ar (MCIAcp), que alimenta o MCIA; 𝒎𝒂𝒓.𝒓𝒆𝒂𝒍 [kg/s] é a vazão de ar en-
golido e 𝒎𝒄𝒐𝒎𝒃. [kg/s] é a vazão de combustível consumido pelo MCIA.

34
EXEMPLO DE CÁLCULO DE UM CICLO
MOTOR AUXILIADO POR PG E PD

35
Calcule o que a seguir se pede, para um MCIAct de 4 cilindros de 2,5 li-
tro e 4T, admissão totalmente aberta (wot), operando a 3 000 rpm.
Considere que o MCIAct opera no ciclo Otto padrão de ar (utilize o
diagrama pV deste ciclo), com suporte nos parâmetros geométricos
(PG) e de desempenho (PD).
Dados a considerar: rV = 8,6:1 ; mec. = 80% ; queima = 70% ; e a razão
curso-diâmetro, C/D = 1,025.
Assuma ainda: o combustível é o isoctano (PCI = 44 300 kJ/kg), consu
mido à taxa de 64,9 g/min ( = 0,85 kg/l); a razão ar-combustível, em
massa, é AC = 15/1; na câmara de combustão, se tem no início do ci-
clo que T1 = 60 C e p1 = 100 kPa; e a fração de residuais é fres. = 4%.
36
Então, determine:
A) O volume da câmara (Vc) e os demais parâmetros geométricos
do ciclo;
B) T e p nos pontos extremos do ciclo. Adote Rar = 287 J/kg.K, e:
Na admissão cp = 1 005 J/kg.K e cv = 718 J/kg.K;

Na exaustão cp = 1 108 J/kg.K e cv = 821 J/kg.K;


C) Os trabalhos: de expansão, de compressão, de bombeamento
e o indicado líquido;
D) A eficiência térmica indicada líquida e a pressão média efetiva
indicada líquida;
E) As potências: indicada bruta, bombeamento, indicada líquida,
de atrito e ao freio;
F) O torque ao freio, o consumo específico ao freio e a eficiência
volumétrica.
37
SOLUÇÃO (A): Vc e demais parâmetros geométricos

Vd = 2, 5 litro / 4 cil. = 0,625 litro /cil. (625∙10-6 m³)


𝑉𝑐 + 𝑉𝑑 𝑉𝑑 0,625 litro
Eq. 6 : 𝑟𝑉 = =1+ → 8,6 = 1 +
𝑉𝑐 𝑉𝑐 𝑉𝑐

Vc = 0,0822 litro/cil. (82,2 ∙10-6 m³)

1 1
Vd = ( D²)C 625∙10-6 m³ = (3,141 6 D²)(1,025D) D = 0,091 9 m
4 4

Da razão C/D: C = 1,025D C = 0,094 2 m

Vmp = 2C∙nrot. = 2∙0,094 2 m∙3 000[rot./(min∙60 s/min)] = 9,42 m/s


(vide o Exemplo 1, Cap. 10, onde Vmp é calculado pelo teorema do valor médio para integrais).

38
SOLUÇÃO (B): T e p nos pontos extremos, por ciclo e por cilindro

Ponto 1 (diagrama Otto)


Dados: T1 = 60 C (333 K) e p1 = 100 kPa (105 Pa)
Então: V1 = Vd + Vc = 625∙10-6 + 82,2∙10-6 = 707∙10-6 m³
Massa de mistura: mmist. = mar + (mcomb.med. queima) + mres. [1]
Da AC, com mcomb., vem mar: AC = mar / mcomb.med. mar = AC∙mcomb.med. [2]
Pode-se obter mcomb. de fres.: fres. = mres./ mmist. mres. = mmist. fres. [3]
Levando [3] e [2] em [1]:
mmist.(1 fres.) = AC∙mcomb.med. + (mcomb.med. queima)

mcomb.med. = mmist. (1 – fres.) / (AC + queima) [4]


OBS: para a eq. [4], mmist. é obtida da equação do gás ideal, p1V1 = mmist.RarT1
mmist.= p1V1 / (RarT1) = 105 Pa (707∙10-6 m³)/(287 J.kg.K-1∙333 K) = 7,398∙10-4 kg/ciclo

39
Então, tendo:
-4 740 10-6 kg/ciclo,
queima = 70% , mmist. = 7,398 10 kg/ciclo
fres. = 4% e AC = 15

E de [4]:

mcomb.med. = 740∙10-6(1 – 0,04) / (15 + 0,7) = 45,25∙10-6 kg/ciclo

Então, de [2]:

mar = AC ∙ mcomb.med. = 15(45,25∙10-6 kg/ciclo) = 679∙10-6 kg/ciclo

Finalmente, de [1] e dos demais dados calculados:

mres. = mmist. – (mar + mcomb.med.) = [740 – (679 + 45,25)]∙10-6 =


= 15,75∙10-6 kg/ciclo
40
Ponto 2 (diagrama Otto)
Se tem: cp = 1 005 J/kg.K e cv = 718 J/kg.K k = cp / cV = 1,4
Logo: T2 = T1 rV(k-1) = 333 ∙ 8,6(1,4 – 1) = 787,5 K (514,5 C)
p2 = p1 rVk = 100 ∙ 8,61,4 = 2 034 kPa (20,34 bar)
Para o volume em 2: p2V2 mmist.RarT2
V2 mmist.Rar T2 / p2 = 740∙10-6∙287∙787,5 / (2 033,75∙103 Pa) = 82,2∙10-6 m³
Ou também por: V2 = V1 / rV = 707∙10-6 / 8,6 = 82,2∙10-6 m³

Ponto 3 (diagrama Otto)


Se tem: PCI = 44 300 000 joule/kg , queima = 70% e cv = 718 joule/kg.K
Qqueima,real = (mcomb.med.PCI) queima, mmist.cv (T3 – T2)

T3 = T2 + (mcomb.med.PCI) queima / (mmist.cv) =


43,25
= 787,5 + 6 44,3∙106 ∙ 0,7 740∙10-6 718 = 4 321 K (4 078 C)
10
41
Para o volume em 3:
V3 = V2 = 82,2∙10-6 m³
E para a pressão em 3: p3 V3 / T3 = p2 V2 / T2
p3 = p2 (T3/T2) =
= 2 033,75 (4 321 / 787,5) = 11 159 kPa (111,16 bar)

Ponto 4 (diagrama Otto)


T4 = T3 [1 / rV(k-1)] = 4 321 [1 / 8,6(1,4 – 1)] = 1 827 K (1 554 C)
p4 = p3 (1 / rV)k = 11 159 [1 / (8,61,4)] = 549 kPa (5,49 bar)
Para o volume em 4: p4V4 = mmist. RarT4
V4 = mmist.RarT4 / p4 = (740∙10-6) 287∙1 827 /(549∙103 Pa) = 706,8∙10-6 m³

42
SOLUÇÃO (C): p/ciclo e z = 4 cil., Wexp. , Wcomp. , WB e WIL

Wexp.: a área sob a curva 3–4 (isentrópica) é positiva (W sai


do VC) e é dada por 𝒑𝒅𝑽, que em valor absoluto é

 p3V3  p4V4 
 z
   
 11 159 82,2  10 6  549 706,8  10 6 
  4 cil.   10 Pa/kPa 
3
Wexp .
 k 1   1,4  1 
= 5 292 joule/ciclo

Wcomp.: a área sob a curva 1–2 (isentrópica) é negativa (W entra) e é dada


por 𝒑𝒅𝑽, que em valor absoluto é

 p 2V2  p1V1 
 z
   
 2 034 82,2  10 6  100 707  10 6 
  4 cil.   10 Pa/kPa 
3
Wcomp.
 k 1   1,4  1 
= 965 joule/ciclo
43
WB: a área líquida entre as curvas exaustão (isóbara
p1 = 0,1 MPa) e indução (isóbara p0 = 0,1013 MPa)
é negativa e é dada por 𝒑𝒅𝑽, que em valor abso-
luto é determinada por

WB = z[(p0 – p1) (V1 – V2)] = 4 cil.[(101 300 – 100 000)


(706,8 – 82,2) 10-6] = 3,25 joule/ciclo

WIL: resulta da soma dos trabalhos acima

WIL = Wexp.– (Wcomp.+Wbomb.) = 5 292 – (965 + 3,25) = 4 324 joule/ciclo

SOLUÇÃO (D): p/ciclo e para z = 4 cil. , t,IL e pmeIL

t,IL = 100[WIL/(z mcomb.PCI)] = 100[4 324/(4 45,25 10-6 44,3 106)] = 53,9%

pmeIL = WIL / (zVd) = 4,324 kJ / (4 625 10-6 m³) = 1 730 kPa

44
. . . . .
SOLUÇÃO (E): p/ciclo, z = 4 cil. e n = 2 , WIB , WB , WIL , WA e WF
.
WIB = (WIL + WB) nrot. / n =
= (4,324+0,003 25)∙3 000*rot./(min∙60 s/min)] / 2 = 108,2 kW (145,1 cv)
.
WB = WB nrot. / n =
= 0,003 25 kJ∙3 000*rot./(min∙60 s/min)+ / 2 = 0,08 kW (0,11 cv)
.
WIL = WIL nrot. / n =
= 4,324 kJ∙3 000*rot./(min∙60 s/min)+ / 2 = 108,1 kW (145,0 cv)
. .
WF = mec.WIL = 0,8∙108,1 kW = 86,5 kW (116,0 cv)

45
SOLUÇÃO (F): p/ciclo, z = 4 cil. e n = 2 , F , CeF e vol.

F = pmeF∙Vd / 2 n = [ mec.WIL / (zVd)]∙Vd /(2 n) = mWIL / (2 z n) =

= 0,8∙4 324 / (2∙3,14∙4∙2) = 68,9 N.m

. . .
CeF =m comb.med. / WF = (mcomb.med. [g/ciclo] nrot. [rps] / n) / WF =

= [45,25 g/ciclo (3 000/60) rps] / (2 86,5 kW) = 13,1 g/kJ

vol. = 100[mar / ( ar.tot.CP Vd)] = 100[AC ∙ z ∙ mcomb.med. / (z ∙ arVd)] =

= 100 AC ∙ mcomb.med. / [(patm / RarTatm)Vd)] = 100AC ∙ mcomb.med.RarTatm / (patmVd) =

= 100∙15∙45,25∙10-6∙0,287∙(30 C + 273 K) / (101,3 kPa∙625∙10-6) = 93,2%

46
EXERCÍCIO PROPOSTO

47
Calcule os parâmetros de um ciclo de um MCIAcp de 50 litro, 16
cilindros, a 4T, com admissão totalmente aberta (wot) a 1 800 rpm.
Os dados a considerar são: rV = 14:1 ; mec. = 85% ; queima = 70% ; e
razão curso-diâmetro, C/D = 1. Assuma ainda: o combustível é
gasóleo (PCI = 42,5 MJ/kg) e massa específica de 0,85 kg/litro; a
razão ar-combustível, em massa, vale AC = 26,5/1; na câmara de
combustão, a temperatura inicial é T1 = 80 C; e a fração de
residuais é fres. = 3%. Assuma o ciclo dual como referência. Con-
sidere que o motor é turboalimentado e adote uma pressão de
compressão de pcomp. = 1,5 bar (manométrica).

48
Dito isso, determine:
A) O volume deslocado, o volume da câmara e a razão volumétrica dinâ-
mica do motor;
B) T e p nos extremos do ciclo. Adote Rar = 287 J/kg.K, e:
Admissão cp = 1 005 J/kg.K e cv = 718 J/kg.K;
Exaustão cp = 1 108 J/kg.K e cv = 821 J/kg.K;
C) Os trabalhos: de expansão, de compressão, de bombeamento, indica-
do líquido e ao freio;
D) A eficiência térmica ao freio e a pressão média efetiva ao freio;
A ) A potência ao freio e o torque ao freio;
F) O consumo específico ao freio e a eficiência volumétrica.

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