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Universidade Federal do Pará

Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares


Faculdade de Desenvolvimento Rural
Bacharelado em Desenvolvimento Rural
Disciplina: Estágio de Vivência I
Professora: Myriam Oliveira

Ercio Pantoja Gonçalves


Rafael Maia Pacheco

ESTÁGIO DE VIVÊNCIA I
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Belém, 17 de dezembro de 2018


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 3
2. OBJETIVO 4
3. METODOLOGIA 4
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 6
4.1. O SISTEMA FAMÍLIA-ESTABELECIMENTO 6
4.2. O PROCESSO DE DECISÃO FAMILIAR 7
4.3. PROJETOS DA FAMÍLIA 7
4.3.1. Organização e rede de relações 7
4.4. LAZER, CULTURA E RELIGIÃO 8
5. CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA DO ESTABELECIMENTO 9
5.1. TAMANHO E LIMITES 9
5.2. trajetória de evolução do uso da terra 9
5.2.1. Características do meio biofísico 10
5.2.2. Moradia 10
6. CARACTERIZAÇÃO DO SUBSISTEMA EXTRATIVISTA 10
6.1. EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA 10
6.2. OBJETIVOS DO SUBSISTEMA 10
6.2.1. Estrutura do subsistema 11
6.3. DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS EXTRATIVISTAS 11
6.3.1. Análise das escolhas estratégicas e táticas 11
6.4. RESULTADOS ECONÔMICOS FINaNCEIROS: 12
6.5. PESPECTIVAS E PROJETOS DO GRUPO DOMÉSTICO PARA O
SUBSISTEMA 12
7. REFERÊNCIAS 13
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1. INTRODUÇÃO

Este relato é parte integrante da disciplina Estágio de Vivência I, do Curso de


Bacharelado em Desenvolvimento Rural – BDR/2018, da Universidade Federal do
Pará – UFPA na Comunidade Quilombola de Laranjituba e África, no município de
Abaetetuba-PA, no período de 05 a 09 de novembro de 2018.

O conteúdo deste relatório é resultado das teorias adquiridas no decorrer do curso e


das observações das práticas desenvolvidas pelo Sr. Vladimir Ferreira de Oliveira
(Tóia) e a Sra. Margarida Santiago dos Santos, moradores da Comunidade África,
localizado no ramal do Caeté, com acesso pela PA-483, conhecida como Alça Viária
Km-68, sentido Belém/Barcarena.

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2. OBJETIVO

O objetivo geral deste estágio foi observar, analisar e compreender o modo de


vida de sociedades tradicionais, em especial a Comunidade África, integrante da
Associação Quilombola do Baixo Caeté Comunidade de Laranjituba e África –
AQUIBAC, no município de Abaetetuba-PA.

3. METODOLOGIA
Adotou-se como técnicas para obtenção dos dados o acompanhamento e
observação participativa da dinâmica de funcionamento do estabelecimento agrícola
familiar, diálogo informal, perguntas diretas, anotações em diário de campo,
entrevista semi-estruturada que serão descritas a seguir, tendo em vista uma melhor
compreensão da relação homem-natureza, relacionamento social do grupo familiar
com a comunidade, descrevendo suas atividades diárias.

O período de convivência ocorreu no período de 05 a 09 de novembro, tempo


relativamente curto mas muito importante para observação e acompanhamento das
ações necessárias para a organização deste trabalho:

 Deslocamento até o centro (área de roça) onde é praticado o cultivo de


mandioca e melancia;

 Proceder a coleta de amostra do solo em 2 profundidades de (0 a 20cm) e de


(30 a 50 cm) para análise

 Participar da atividade de capina na área de cultivo da mandioca

 Observar o ecossistema do trajeto casa-centro, onde se encontra a área


cultivada;

Na área de extrativismo “sítio” (açaizal) foram realizadas as seguintes ações:

 Deslocamento até a área (margens do Rio Moju), comunidade de Moju Miri;


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 Proceder a coleta de amostra do solo em 2 profundidades de (0 a 20cm) e de


(30 a 50cm) para análise

 Observar o ecossistema onde está inserida a unidade de produção extrativista


e a expectativa de produtividade
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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. O SISTEMA FAMÍLIA-ESTABELECIMENTO


Vladimir Ferreira de Oliveira (Tóia), é natural da comunidade, filho da Sra.
Raimunda Nascimento de Oliveira e Sr. Vitor Morais, 29 anos de idade, Dona
Margarida Santiago dos Santos esposa de Vladimir é natural de São Domingos do
Capim-PA, morou no município de Moju com seus pais e a partir de 27 de janeiro de
2012, passou a integrar a comunidade, fixando residência com Vladimir, vizinha da
residência da Sra. Raimunda Nascimento de Oliveira.
Dona Margarida é aluna concluinte do Curso intensivo de Letras, habilitação
em Libras da UFPA Belém, servidora pública da prefeitura de Moju, exercendo suas
atividades em uma escola municipal na localidade Santa Luzia, município de Moju-
PA. Vladimir, possui ensino médio incompleto, trabalhava formalmente em uma
empresa no município de Barcarena-PA até o ano de 2015. A partir de 2016, passou
a dedicar-se ao extrativismo do açaí da propriedade da Sra. Bernardina, sua tia, na
Comunidade de Moju-Miri.
O grupo doméstico é composto por Vladimir, Margarida e Suane sobrinha do
casal, que participa das atividades relacionadas ao cultivo da mandioca e atividades
domésticas na residência onde mora, cursa o segundo ano do ensino médio.
Tabela XX – Composição do Grupo Doméstico
Nome Sexo Idade Escolaridade Atividade que exerce
Vladimir F de M 29 Médio Roço, queima, plantio,
Oliveira (Incompleto) capina, colheita, coleta
Margarida S dos F 46 Graduação Trabalha na escola,
Santos (cursando) atividades do lar
Suane S dos F 19 Médio Atividades do lar, alimenta
Santos (cursando) as aves
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A força de trabalho é composta por Vladimir que diariamente se desloca para a


Comunidade de Moju Miri, dedicando-se ao extrativismo do fruto de açaí a partir do
mês de março/abril até mês de outubro em uma área denominada por ele, de sítio,
onde se localiza a residência de Dona Bernardina Morais de Oliveira, 62 anos
proprietária da área.
Dona Margarida é servidora pública da prefeitura de Moju, exercendo
atividades em uma escola na comunidade Santa Luzia e no período de
janeiro/fevereiro e julho/agosto dedica-se ao curso intensivo de Letras, habilitação
em Libras na UFPA Belém, em sua fase final todos os dias se deslocando da
comunidade pela manhã, retornando a noite, com a colaboração de seu esposo que
a transporta na motocicleta da família.

4.2. O PROCESSO DE DECISÃO FAMILIAR

O centro de decisão da família não ficou muito evidente, mas observamos que
em sua maioria são tomadas em conjunto pelo casal, principalmente com relação ao
futuro.

4.3. PROJETOS DA FAMÍLIA


Quanto aos projetos da família, em diálogo mantido com Dona Margarida, ela
pretende concluir sua graduação e exercer a profissão provavelmente em alguma
cidade próxima, pois na comunidade não existe alunos que necessitem de
atendimento especializado, quanto a Vladimir não observamos nenhum projeto
diferente da atividade que exerce.

4.3.1. Organização e rede de relações

A comunidade é composta em sua maioria de parentes, pais, filhos e netos. Os


moradores fazem parte da comunidade uma única associação denominada
Associação Quilombola do Baixo Caeté Comunidade de Laranjituba e África –
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AQUIBAC da qual são integrantes, contribuindo com o valor mensal de R$ 3,00 por
pessoa de cada grupo doméstico.

4.4. LAZER, CULTURA E RELIGIÃO


A Comunidade também participa e mantém relações com outros grupos
organizacionais. No dia 06 de novembro, a comunidade recebeu a visita de uma
caravana em um ônibus com representantes de vários estados da região norte,
centro-oeste, indígenas e demais integrantes do Encontro Regional de Agroecologia
– ERA, reuniram-se no barracão da comunidade onde houve uma rápida
apresentação de algumas lideranças locais e o relato de como a comunidade se
relaciona com seus membros envolvendo as 2 (duas) comunidades, Laranjituba e
África, relataram também, as dificuldades e ameaças que vem preocupando toda a
comunidade, com destaque para o projeto de ferrovia que provavelmente irá passar
pelo interior da área pertencente as comunidades, outra preocupação é o uso de
agrotóxicos nas plantações de dendê no município de Moju, poluindo os cursos de
água que passam pela comunidade, por serem afluentes do Rio Mojú, houveram
manifestações culturais com a apresentação do grupo de carimbó local, foi também
oferecido um jantar aos visitantes e mingau a todos os participantes.
No que concerne a religião, observou-se que o grupo doméstico pratica o catolicismo
como a maioria dos moradores da comunidade. No período de 28 de outubro a 04
de novembro, realizou-se a festividade de Nossa Senhora Aparecida na
Comunidade África, com a participação das famílias na organização do evento e na
comercialização de diversos produtos nas noites da festividade. No entanto
obtivemos informações de que se pratica Umbandismo, porém não foi possível obter
maiores informações com a família praticante.
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5. CARACTERIZAÇÃO DA ESTRUTURA DO ESTABELECIMENTO

5.1. TAMANHO E LIMITES

A área de roça cultivada é de uma tarefa que de acordo com a tabela de


medidas agrárias mede (aproximadamente 3.025 m²), enquanto o sítio onde Vladimir
trabalha com extrativismo, ocupa uma área de 5,5 tarefas que corresponde
aproximadamente a 16.637m².

5.2. TRAJETÓRIA DE EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA

No centro (área de roça) verificamos que a alteração da cobertura vegetal é


modificada a cada nova área que é cultivada. Após cada colheita, uma nova área é
derrubada e queimada para nova plantação e a área utilizada permanece em pousio.
Figura 1 - Roça na Comunidade África, área de terra firme

FONTE: Autores (2018)


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5.2.1. Características do meio biofísico

Na área de roça, o relevo apresenta-se plano com pequenas elevações em


terra firme com a vegetação variando em: capoeira, capoeirinha, área plantada, e
mata original. Na área de extrativismo em Moju Miri, as margens do Rio Moju,
identifica-se o solo de várzea com o relevo bastante irregular com aclives e declives
influenciados pelo regime de marés. A vegetação dessa área é bastante variada,
com palmeiras de açaí (Euterpe oleracea Mart.), bacaba (Oenocarpus bacaba Mart.)
e inajá (Maximiliana maripa), outras espécies fazem parte da paisagem como:
cupuaçu (Theobroma grandiflorum Willd ex Spreng.), cacau (Theobroma cacao L.),
andiroba (Carapa guinanensis Aubl.) entre outras espécies.

5.2.2. Moradia

A casa de moradia de Vladimir e Margarida é de alvearia, sem acabamento


no piso e nas paredes, composta por pátio, sala, 2 quartos, copa-cozinha, banheiro
interno e área coberta com folhas de inajá. Possui também energia elétrica 24 horas
e sistema de abastecimento de água através de poço artesiano mantido pela
comunidade. Na área em volta da casa, verificamos a presença de algumas
espécies como mangueira (Mangifera indica L.), cupuaçu (Theobroma grandiflorum
Willd ex Spreng.)

6. CARACTERIZAÇÃO DO SUBSISTEMA EXTRATIVISTA

6.1. EVOLUÇÃO DO SUBSISTEMA

A área explorada, além do açaí, bacaba, cupuaçu e cacau. Quanto ao


potencial madeireiro, apesar de existir, algumas espécies como acapu, andiroba,
castanha-do-pará, não são explorados comercialmente, somente quando há
necessidade de uso em benefício da família da proprietária.

6.2. OBJETIVOS DO SUBSISTEMA

No período de novembro a dezembro, Vladimir dedica-se que extrair


atualmente cerca de 200 unidades por semana, distribuído em 3 classificações: 1ª,
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2ª e 3ª classes, com preços diferenciados imposto pelo marreteiro que paga ao de 1ª


classe, R$ 1,60 a unidade.

6.2.1. Estrutura do subsistema

Os equipamentos utilizados para o manejo e colheita do fruto de açaí e


retirada do palmito, são o facão, machado ou motosserra. A colheita do fruto do açaí
é realizada no modelo tradicional, subindo com o auxílio de peconha, que pode ser
de duas formas: utilizando as folhas do próprio açaizeiro ou utilizando sacos de
material sintético para apanhar os frutos. Na extração do palmito utiliza-se o
machado ou motosserra para derrubar as árvores de maior porte e que apresentem
declínio na produtividade dos frutos, seleciona-se também aquelas de menor
espessura por não apresentarem boa produtividade e por serem de mais idade. A
gestão do espaço é realizada por Vladimir pela experiência que possui de muitos
anos trabalhando com extrativismo, não recebe nenhuma orientação técnica.

6.3. DESCRIÇÃO DAS PRÁTICAS EXTRATIVISTAS

Após a safra do açaí, paralelo a extração de palmito, Vladimir vende a sua


mão de obra, recebendo diárias de R$ 50,00 para fazer o manejo da área de açaizal,
(retirada de outros vegetais que julga estar prejudicando a produtividade dos
açaizeiros). Quanto aos resíduos (tronco e folhas) do açaizeiro e outras espécies
são cortados em pedaços menores e deixados na mata para decomposição natural,
com o aproveitamento de uma pequena quantidade na utilização de lenha (queima)
ou, no caso dos açaizeiros são utilizados no assoalho do barracão que sua tia
mantém atrás de sua casa.

6.3.1. Análise das escolhas estratégicas e táticas

Na área, a responsabilidade por escolher as palmeiras para retirada do açaí e o


palmito é estritamente a Vladimir. Para realizar a retirada do palmito, escolhe as
palmeiras de menor espessura, pelo fato de não ter mais como subir nela. O açaí é
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coletado de acordo com a maturidade do fruto, nesse manejo ele não recebe
nenhum tipo de orientação técnica.

6.4. RESULTADOS ECONÔMICOS FINANCEIROS:

 Organização da força de trabalho: No lote trabalha Vladimir e seu parceiro


Arivaldo

 Entrada e saída de produtos: Vladimir informou que em média, nos meses de


maior produção do fruto de açaí (julho, agosto e setembro) colhe em torno de
7 latas de açaí/dia, de segunda a sexta e aos sábados 10 latas. ao preço de

 Extrai também o palmito de açaí, colhendo cerca de 200 unidades por


semana. Dona Margarida é servidora pública da prefeitura de Moju,
exercendo atividades em uma escola na comunidade Santa Luzia, mas não
mencionou a renda obtida.

 Entradas e saídas monetárias: O palmito é distribuído em 3 classificações: 1ª,


2ª e 3ª classes, com preços diferenciados imposto pelo marreteiro
(atravessador), que paga ao de 1ª classe, R$ 1,60 a unidade. O preço do açaí
na safra fica em torno de R$ 15,00 por lata.

 Comercialização dos produtos: Os produtos são comprados por marreteiros


(atravessadores). O palmito vai para Mojú para ser beneficiado, o açaí é
vendido pra diversos municípios, como Abaetetuba e Moju.

6.5. PESPECTIVAS E PROJETOS DO GRUPO DOMÉSTICO PARA O


SUBSISTEMA

Indagamos qual a expectativa de extração do palmito lote? Falo Vladimir: “dá


pra extrair por mais 2 anos”.
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7. REFERÊNCIAS
NASCIMENTO, Raimundo M. C. Comunidades quilombolas áfrica e laranjitua: um
estudo das práticas e fenômenos que constituem sua gestão territorial tradicional.
Brasília: 2017 (Dissertação de mestrado)

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