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Acordo Nestlé-Garoto com Cade deve aumentar rivalidade entre chocolates

 Iuri Dantas

Disponível em: https://www.jota.info/tributos-e-empresas/concorrencia/acordo-nestle-


garoto-com-cade-deve-aumentar-rivalidade-entre-chocolates-05102016.

Um acordo fechado com a Nestlé deve encerrar um dos casos mais emblemáticos do
antigo sistema de defesa da concorrência no Brasil. A empresa se comprometeu a adotar
os chamados “remédios” comportamentais e estruturais que atendem às preocupações
do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre o impacto no mercado
de sua fusão com a fabricante de chocolates Garoto.

“Os remédios foram adequados para endereçar adequadamente os problemas


concorrenciais encontrados”, disse o conselheiro Alexandre Cordeiro, que vem
negociando os detalhes do acordo com a empresa desde o fim do ano passado. “Trata-se
de um processo do sistema anterior e com boas perspectiva de resolução. A proposta
apresentada além de equacionar os problemas concorrenciais, se preocupa também com
relevantes aspectos sociais.”

O caso voltou ao Cade após um acordo na Justiça suspender o processo, que tramita há
mais de uma década, no qual a Nestlé contesta a impugnação da fusão pelo conselho
antitruste. O negócio remonta à vigência da Lei 8.884/1994, que estabelecia prazo de até
15 dias úteis para notificação dos negócios à autoridade.

Com a entrada em vigor da Lei 12.529/2011, os chamados atos de concentração –


fusões, aquisições, contratos associativos, joint ventures, consórcios entre outros – só
podem ser consumados na prática depois que o tribunal administrativo der aval ao
negócio. É a chamada notificação prévia. Em caso de descumprimento a empresa é
punida por uma conduta chamada Gun Jumping, a consumação prévia do deal. A lei
permite que o Cade aplique multa e determine a nulidade de contratos e atos assinados
nestes casos.

Além disso, a Nova Lei do Cade traz uma maior preocupação social com os resultados
das decisões do conselho.

A Justiça Federal de Brasília suspendeu o contencioso entre a Nestlé e a Garoto no fim


do ano passado, para que o Cade e as empresas buscassem uma solução ao impasse. Em
dezembro, a Nestlé fez uma primeira proposta que, depois de negociação meses a fio,
resultou em um texto final que foi aceito pelo conselheiro Alexandre Cordeiro.

Os detalhes permanecem sob sigilo. A medida é comum no trâmite de casos complexos


no Cade e busca permitir que o acordo tenha o máximo de eficácia para ambas as partes.

Num caso como o da Nestlé, que prevê também remédio “estrutural”, isso pode
significar em tese a venda de ativos e a divulgação de pormenores influencia o preço
final e mesmo o perfil do comprador.

“O mercado sofre significativa alteração nos últimos 14 anos, principalmente no setor


de coberturas, cuja concentração era preocupante a época.”, disse Alexandre Cordeiro
ao JOTA. “No mercado de chocolate sob todas as formas percebeu-se um aumento da
rivalidade em função da entrada de novos players. Os remédios apresentados têm como
característica aumentar ainda mais a competição, por meio de um entrante com
capacidade de rivalizar com o líderes do mercado.”

Além das preocupações concorrenciais, o caso Nestle-Garoto é emblemático também


pela existência da fábrica histórica da Garoto em Vila Velha. Construída há mais de 100
anos, é ponto turístico tradicional e parte do patrimônio cultural da região. Segundo o
conselheiro relator esse aspecto social e cultural foi levado em consideração na análise.

Proximos passos

Nesta terça-feira (04/10), Alexandre Cordeiro publicou um despacho decisório (AC


08700.003861/2016-30) com as linhas gerais do acordo – boa parte mantida em
confidencialidade. Na próxima sessão ordinária de julgamento, prevista para dia 18 de
outubro, os demais conselheiros analisarão a proposta do acordo e decidirão se
homologam o documento.

A partir daí, caberá à Nestlé implementar os remédios comportamentais e estruturais.


Durante todo esse tempo, o processo continua apenas no âmbito administrativo. A
Justiça será informada da eventual concordância do Cade com as medidas sugeridas
pela Nestlé somente depois que a empresa tirar as ações do papel.

Iuri Dantas – Brasília


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