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Dieselgate: O Escândalo de emissões de poluentes pela Volkswagen

Problemas Morais e Organizações

1. O Ato e a Moral

Entende-se por moral, um conjunto de normas e regras admitidas por uma sociedade,
responsáveis por regular o comportamento dos indivíduos que fazem parte dela. Desse modo, a
análise a seguir abordará o problema moral do dieselgate cometido pela maior fabricante de
automóveis do mundo, Volkswagen, em 2015.
Após o governo dos Estados Unidos endurecer os padrões para óxido de nitrogênio -
poluente resultante da combustão do óleo diesel - a empresa alemã anunciou a venda de carros
com “diesel limpo”, através de novos motores. Nesse contexto, os baixos números do nível de
emissões dos veículos chamaram a atenção de pesquisadores independentes, que após
estudarem o novo sistema dos carros, comprovaram uma grande diferença entre os números
dos testes oficiais divulgados e os observados no estudo.
Desse modo, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos foi acionada e
descobriu o software instalado na central eletrônica dos carros da Volkswagen, responsável por
baixar os poluentes emitidos quando reconhece a condição de teste. Com isso, a empresa foi
acusada de burlar os dados de emissões de gases com o intuito de atender a regulamentação
estadunidense. Consequentemente, após as críticas de consumidores e acusações do governo, a
fabricante de veículos reconheceu o erro e assumiu a desonestidade.
Nesse contexto, é possível analisar a estrutura do ato documentado, através do
entendimento de que não podemos dissociar o fim visado, do motivo e dos meios utilizados.
Dessa forma, uma vez que a decisão de instalar o software para burlar os números das emissões
foi tomada, é impossível negar que, apesar de um resultado positivo para a empresa a curto
prazo - conseguiram manter as vendas - geraram consequências diretas para a sociedade e o

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meio ambiente. Com isso, existiu a escolha por parte dos dirigentes de optar pelo motivo de
manter a produção estável e não desequilibrar as finanças da empresa. Independente da
intenção, caso essa tenha sido minimamente pensada no bem da sociedade - como a
manutenção dos empregos dos funcionários da fabricante - o resultado não se salva
moralmente.
Sob esse viés, também é necessário observar os valores e normas morais descritos. Para
a tomada de decisão, são sempre ponderadas as preferências do indivíduo - nesse caso, da
empresa -, e a partir disso, toda preferência tem os seus valores. No caso retratado, valores
morais como respeito e honestidade foram deixados de lado. A empresa desrespeitou normas
legais e a confiança da sociedade. Desse modo, a falta de honestidade acompanha, uma vez
que, está diretamente conectada com a fraude cometida pela empresa - já que esta se mostrou
desonesta ao apresentar números falsificados. Além disso, as normas morais, utilizadas como
guias para uma convivência social, foram ignoradas, já que manipular relatórios e contrariar
obrigações e compromissos nacionais, não está presente dentro do moralmente aceito pela
sociedade.
Em suma, o problema moral abordado impacta diretamente na esfera socioambiental do
momento atual. Em um contexto histórico contemporâneo no qual a responsabilidade social e o
meio ambiente têm sido pilar na construção de normas e valores moralmente aceitos, a empresa
coloca-se em uma posição de ignorar a dimensão normativa da ato, não respeitando as regras
sociais impostas pelo governo e protocolos ambientais na idealização da ação. Logo,
atravessando para a dimensão factual, após o comportamento efetivo.

2. Análise da Moral

No caso estudado, é possível perceber certas contradições, visto que a firma anunciou
um padrão de poluição mas, na verdade, as externalidades eram outras. Para entender os
motivos que fizeram a Volkswagen realizar tal ação e, consequentemente, romper com a moral
proposta, é fundamental compreender o ambiente histórico-social que estava inserida.
A sustentabilidade é um tema que ganha cada vez mais visibilidade, principalmente
depois da criação da COP, Conferência das Partes. Na COP 21, realizada na França, foi
instaurado o Acordo de Paris, o qual firmou um compromisso visando a diminuição da
emissão de gases do efeito estufa, a qual resultaria em um limite de aumento da temperatura
em 2 graus celsius no máximo. Desse modo, todos os setores da sociedade tiveram que se
adaptar com essa missão, especialmente a iniciativa privada.

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Sob esse viés, analisando a situação explicada anteriormente, podemos notar que a
moral foi completamente quebrada, já que o objetivo era iniciar uma mudança ambiental,
visando a diminuição dos impactos no ambiente. O ato citado mentiu para a sociedade, com a
finalidade de conseguir uma promoção da marca e, consequentemente, aumentar as receitas da
empresa, através da manutenção padrão de suas fabricações.
Porém, infelizmente, no mundo empresarial, situações como essa são frequentes.
Rezende e Castro (2011) afirmam que a responsabilidade social e ambiental, são questões
fundamentais, que precisam ser inseridas no cotidiano da organização, e de seus colaboradores.
Estudando as práticas adotadas no setor, podemos notar que, em muitos casos, essas
convenções não são muito adotadas, em que os gestores pressionam por resultados, mesmo que
algumas regras ou procedimentos sejam abandonados ou burlados.
Comparando a situação em ordem cronológica com a missão, visão e valores da
empresa, percebemos que os eventos são totalmente diferentes do que a empresa diz ao
mercado. A firma possui respeito, sustentabilidade e responsabilidade como valores, que, na
teoria, eram para serem princípios que orientam os comportamentos e ações dos colaboradores.
Então, a companhia abandonou os princípios que nortearam as ações, além de mentir
de propósito para os investidores e clientes, com o objetivo de ganhos monetários. Isso
configura uma quebra da moral.
Em uma segunda análise, é possível analisar a tomada de decisão do ato realizado pela
Volkswagen através de uma crítica a ótica utilitarista. A doutrina foi fundada por Jeremy
Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873), visando sempre a consequência - ou
finalidade - da ação moral. Desse modo, os filósofos teorizaram em cima da ideia de que a ação
deve sempre produzir a maior quantidade de bem-estar, para o maior número de pessoas
possível.
Segundo Adolfo Sánchez Vázquez (1969), entre as premissas básicas para compreender
a relação dos utilitaristas entre o bom e o útil, é necessário se atentar a uma pergunta: útil para
quem? Nessa perspectiva, a alta cúpula da fabricante alemã toma uma decisão que gera a maior
quantidade de bem-estar, entretanto, somente para os envolvidos na empresa. Desse modo, é
deixada de lado a premissa básica do utilitarismo, no que concerne a maximização de
bem-estar através da ação moral em sociedade. Com isso, a ótica passa a ser irrelevante do
ponto de vista daqueles que buscam um resultado positivo apenas para si mesmos, como foi o
caso abordado.

3. Posicionamento Ético

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Por fim, é necessário entender a dimensão do problema apresentado. É comum a
presença de escândalos morais em grandes organizações, uma vez que, a moral possui seu
caráter social, a partir das normas estabelecidas que acarretam em consequências para os
demais membros da sociedade. Desse modo, as características individuais da empresa, como
sua cultura, valores e moral, assim como, a necessidade de atendimento às regulamentações
formais e códigos de conduta são fundamentais para análise da postura e posicionamento da
empresa. Nessa perspectiva, é inegável a falta de ética pela Volkswagen. Em conclusão, a
tomada de decisão da organização compromete a qualidade de vida da sociedade, além de, ir
contra os valores e normas morais presentes e divulgados pela empresa.

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Referências:

'DIESELGATE': VEJA COMO ESCÂNDALO DA VOLKSWAGEN COMEÇOU E AS


CONSEQUÊNCIAS. Auto Esporte, 2015. Disponível em:
http://g1.globo.com/carros/noticia/2015/09/escandalo-da-volkswagen-veja-o-passo-passo-do-ca
so.html. Acesso em: 11 de Dezembro 2022

ACORDO DE PARIS. Brasil Escola, 2017. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/geografia/acordo-paris.htm. Acesso em: 11 de dezembro 2022

REZENDE, Frederico Pifano; CASTRO, Janine Mattar Pereira de. Ética na empresa: o
indivíduo e suas relações no trabalho, 2011. Disponível em:
https://www.aedb.br/seget/artigos11/30514556.pdf.
Acesso em: 11 de Dezembro 2022

PINTO, Adelayde Costa. RELAÇÃO ENTRE O POSICIONAMENTO ÉTICO


PREDOMINANTE, A FORMALIZAÇÃO DAS NORMAS E O AGIR CONFORME AS
NORMAS ORGANIZACIONAIS, 2019. Disponível em:
https://repositorio.idp.edu.br/bitstream/123456789/2705/1/ADELAYDE%20COSTA%20PINT
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VÁZQUES, Adolfo Sánchez. ÉTICA (Capítulos I e VII). Disponível em:


https://mega.nz/folder/nQF02QqA#oKApqijBsFxjJhRW5r38Fw
Acesso em: 11 de Dezembro de 2022

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