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BATISTA MARTINS
ARBITRAGEM NO
DIREITO SOCIETÁRIO
G
EDITORA
12 edição — 2019
C Copyright
Pedro A. Batista Martins
Diagramação
Olga Martins
18-53295
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Printed in Brazil
PREFÁCIO
Arnaldo Wald
nos de vinte anos, aumentou o número de sociedades de capital aberto existentes, não só de
direito, mas também de fato, cresceram as joint ventures sob todas as formas, e as empresas
brasileiras paSsaram a receber um maior volume de capital estrangeiro e, também, começa-
ram a sua imPlantação no exterior. Adicionalmente, em virtude do investimento direto do
capital estrangeiro, passamos a ter associações entre acionistas, que têm formação cultural e
finalidades diversas, dando margem a divergências que exigem soluções rápidas e equitativas.
Assim, estão sujeitas à arbitragem as relações entre acionistas majoritários e minoritários, ou
entre sócios cm participações iguais, as existentes entre administradores e sócios, enfim, toda
a vida intern da empresa, abrangendo a interpretação dos estatutos ou do contrato social e
dos acordos d acionistas.
Durante longo tempo, a arbitrabilidade desses conflitos ensejou algumas dúvidas e opi-
niões divergeates, alegando-se tanto o caráter institucional da sociedade como o fato de serem
imperativas as normas de direito societário. Tais argumentos não mais prevalecem, em virtude,
inicialmente, do trabalho da doutrina, mas, já agora, em decorrência da lei, que, em boa hora,
consagrou definitivamente a arbitragem na matéria. Legem habemus.
O grande mérito da obra de Pedro Batista Martins consiste em ter resolvido de vez todos
esses problemas, invocando, inclusive, o princípio da maioria, que deve predominar na socie-
dade comercial, sem prejuízo das garantias dadas aos minoritários, que, todavia, não abrangem
a exclusão da arbitragem.
O autdr une as suas qualidades de comercialista e de processualista, para invocar a
necessidade de soluções eficientes para os problemas societários, tratando tanto da arbitrabili-
dade subjetivi como da objetiva e refutando brilhantemente os argumentos dos poucos juristas
que ainda nã4 se convenceram da necessidade de consagrar a arbitragem como meio adequado
de resolver o litígios societários.
Partindo dessas premissas, evidencia que a arbitragem também pode e deve ser utilizada
pelas sociedades de economia mista, conforme jurisprudência pacífica do STJ, e que a cláu-
sula compromissória constante do estatuto vincula os diretores estatutários e os membros dos
Conselhos de Administração e Fiscal. Outras questões interessantes tratadas são a vinculação,
à cláusula compromissória estatutária, dos cessionários de ações, como, também, dos novos
acionistas, n ' s casos de incorporação, fusão, cisão, e transformação da sociedade. Também
esclarece qua s são as questões negociais em relação às quais o árbitro pode funcionar, e como
deve procede a fim de evitar a denegação de justiça, a paralisação da empresa ou, até, a disso-
lução da companhia. São também interessantes e elucidativas as considerações sobre o uso da
arbitragem mia relação aos chamados direitos políticos, salientando o autor que, em primeiro
lugar, são eles direitos de repercussão econômica e, consequentemente, disponíveis na maioria
dos casos. Por outro lado, certamente cabe a arbitragem para assegurar às partes o exercício do
seu direito d voto, embora, em tese, o árbitro não se possa substituir ao acionista para eleger
diretor ou co selheiro, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de inadimplemento da
obrigação de eleger os membros dos vários órgãos da sociedade, na forma estabelecida nos
estatutos ou cordas de acionistas.
O autor enfrenta, ainda, com bons argumentos, a arbitrabilidade dos conflitos relativos
tanto à constituição da sociedade, abrangendo a sua nulidade, como às impugnações de delibe-
rações societárias e dos seus efeitos em relação a todos os acionistas, e, ainda, a arbitrabilidade
das questões nvolvendo o exercício do direito de informação e do direito de recesso.
Numa titude também muito construtiva e pioneira, admite o autor a arbitrabilidade da
dissolução da empresa, especialmente quando não está em falência, sendo também admissivel
o uso da arbi ragem na recuperação de empresas.
Há três ideias que são essenciais na obra de Pedro Batista Martins e constituem, em
certo sentido os fundamentos básicos do seu ensinamento. Em primeiro lugar, nada impede a
utilização da arbitragem para fazer incidir leis imperativas ou até de ordem pública, que serão
i ARBITRAGEM NO DIREITO SOCIETÁRIO 1 VII
aplicadas pelo árbitro, tendo este, para tal fim, a mesma competência que o juiz. Em segundo
lugar, o árbitro é um juiz sem poder coercitivo, podendo, pois, praticar todos os atos e tomar as
decisões que cabem ao judiciário. Somente sofre eventuais limitações quando se trata da exe-
cução coativa das decisões, necessitando, pois, do apoio do Poder Judiciário. Uma das ideias-
-força da tese é, pois, a existência de uma parceria público-privada com vistas à prestação dos
serviços judiciários, que, no entendimento do autor, fortalece e até rejuvenesce a arbitragem.
Outro aspecto da tese que nos parece da maior relevância é a visão que o autor tem
do caráter de verdadeiro instrumento social da arbitragem e da função teleológica do árbitro.
Reconhecendo, com a melhor doutrina recente, que a ordem pública societária se caracteriza
pela sua relatividade e incerteza, o autor atribui ao árbitro a função não só de resolver as dis-
putas, mas também de fazê-lo de modo eficiente e equitativo. Trata-se de não olhar somente
para o passado, mas de encontrar fórmulas equilibradas para a convivência dos sócios e a
sobrevivência da sociedade - se possível - no presente e no futuro. A doutrina arbitral deve,
assim, adotar os princípios que regem o nosso Código Civil: a eticidade, a solidariedade e a
socialidade.
Não se trata mais de examinar cada cláusula do contrato e os litígios dela decorrentes
como constituindo uma unidade, um átomo, mas é preciso colocá-los no contexto das relações
entre as partes, examinando o passado das mesmas e construindo o seu futuro. Adotando a
lição de Eduardo J. Couture, o autor considera que "interpretar é alguma coisa mais do que
descobrir, é relacionar", e, também, de acordo com Emilio Betti, é o "ufficio di vivificare".
Do mesmo modo, inspirando-se na doutrina francesa, vê na jurisdição arbitrai mais do
que um instrumento para a solução de angústias conflituosas, pois almeja garantir a paz social,
sendo catalizador da mesma. O árbitro, como o juiz, abandona, assim, o papel passivo que
tinha no passado, para "encaminhar soluções, enfatizar o que é útil e sancionar os abusos".
Ao juiz pacificador, que se limita a ouvir as partes e a verificar se as regras legais foram devida-
mente aplicadas, substitui-se, assim, o juiz ativo, construtor e indutor ou criador de soluções
adequadas, que já se denominou "o juiz treinador" (le juge entraineur).
Há, assim, três funções que são exercidas pelo árbitro. Em primeiro lugar, cabe-lhe re-
solver o litígio que lhe é submetido de modo eficiente ou, conforme o caso, induzir as partes
a encontrarem soluções negociadas que, algumas vezes, não podem ser determinadas pelo
tribunal arbitral. Em segundo lugar, ele participa da construção da jurisprudência arbitral, cuja
evolução se reveste de maior importância, especialmente nas fases de grandes transformações
sociais ou tecnológicas, nas quais se torna maior o atraso da legislação e da jurisprudência em
relação aos fatos.
Finalmente, ele é um garantidor da paz social, e, especialmente, da sobrevivência da em-
presa num clima construtivo e de harmonia. Pode-se, até, concluir que, na arbitragem societá-
ria, ele tem, ou pode ter, uma competência maior do que a do juiz, quando ela lhe é atribuída
pelas partes, para encontrar e aplicar soluções inspiradas no pragmatismo ético. Cabe-lhe con-
ciliar a eficiência e a rapidez exigidas pelos problemas da companhia, com a escala de valores
que se impõe nas relações comerciais, a função social da empresa e a segurança jurídica. Para
tanto, poderá recorrer não só à legislação aplicável ao contrato, mas, também, à soft law e à lex
mercatoria, cujos princípios estão, hoje, consolidados em vários instrumentos internacionais.
A obra de Pedro Batista Martins não se limita, pois, a ser uma excelente consolidação do
que de melhor se escreveu na matéria, mas também abre novos caminhos para a arbitragem no
direito societário e o faz com coragem, excelente argumentação e lógica irrefutável. Na batalha
que se trava pela completa aceitação da arbitragem nos conflitos societários, o livro evidencia
a vitória dos que defendem a tese "pro arbitrandum".
Em conclusão, cabe lembrar a lição de Tullio Ascarelli, quando ensina que: "na atual
crise de valores, o mundo pede aos juristas ideias novas, mais do que sutis interpretações". São essas
ideias novas e construtivas que encontramos na obra de Pedro Batista Martins.
NOTA DO AUTOR
1 Lei Espanhola n2 11/2011, art. 11.bis.(2). Tradução livre. De acordo com o art. 12 da Lei
Espanhola de Sociedades de Capital, o capital das sociedades anônimas e de comandita
por ações será dividido em "ações" e o capital das sociedades limitadas em "participações.
2 Lei Espanhola n2 11/2011, art.11.bis. (3). Tradução livre. Nos termos da Lei Espanhola
de Sociedades de Capital, "acordos sociais" são as deliberações da Assembleia Geral.
NOTAS INTRODUTÓRIAS
Nelson Eizirik
Foi com grande prazer que aceitei o convite do Autor para escrever estas notas de intro-
dução ao seu excelente livro.
Pedro Batista Martins tem participado de maneira brilhante no desenvolvimento da
arbitragem. Foi coautor do anteprojeto que resultou na Lei n0 9.307/1996, escreveu vários
livros e artigos sobre a matéria e tem destacada atuação na prática da arbitragem, quer como
advogado, quer como árbitro.
A arbitragem tem inequivocamente apresentado enorme desenvolvimento nos últi-
mos anos, entre nós, particularmente após a declaração de sua constitucionalidade pelo STF,
em 2011. Quem quer que atue na área do Direito Empresarial sabe que praticamente não
há acordo de acionistas ou contrato de maior complexidade em que não se preveja cláusula
compromissória.
O Autor enfrenta no presente livro tema de maior atualidade, uma vez que cada vez
mais os litígios societários, por sua própria natureza, serão resolvidos pela via arbitral.
A Lei das Sociedades por Ações sofreu alterações importantes com a promulgação da
Lei n0 10.303/2001, a qual introduziu uma série de modificações, com intuito de adequar o
mercado de capitais brasileiro às práticas de governança corporativa mais avançadas. Uma das
alterações mais importantes foi a inserção do §.3° ao artigo 109 da Lei das S.A., permitindo
que as companhias prevejam em seus estatutos cláusulas compromissórias aplicáveis a disputas
oriundas das relações entre a companhia e seus acionistas ou entre os acionistas minoritários
e o acionista controlador.
A arbitragem no direito societário é mais vantajosa do que a solução de litígios pela via do
Judiciário, pois permite que as relações corporativas possam ser mantidas a longo prazo. Essa situ-
ação decorre do fato de a arbitragem ser um mecanismo alternativo de solução de controvérsias
em que as partes podem determinar a lei aplicável ao mérito do litígio e controlar os custos do
procedimento, buscando desenvolver um comportamento mais cooperativo entre elas.
Ainda que a arbitragem não seja financeiramente adequada para todo e qualquer litígio,
relações decorrentes de contratos de execução prolongada ou situações em que as partes já são
antigas parceiras comerciais se ajustam melhor a esse procedimento, que permite a indicação
de árbitros especializados na matéria. Ademais, permite a solução rápida dos conflitos, o que
é de fundamental importância para as companhias e os empresários, que não podem ficar à
espera de decisões por muito tempo, pelos prejuízos evidentes que ocasionam, tais demoras, ao
desenvolvimento normal das atividades empresariais.
O Novo Mercado, segmento especial de listagem das companhias abertas na
BM&FBOVESPA, alcançou enorme desenvolvimento nos últimos seis anos. Particularmente
no ano de 2007 verificamos um significativo aumento do número de ofertas públicas de ações;
naquele ano o volume total de recursos captados em ofertas primárias (59 registros) e secun-
dárias (103 registros) situou-se na faixa de 67 bilhões de reais.
Temos, presentemente, 144 companhias abertas com ações listadas no Novo Mercado e
no Nível 2 da BM&FBOVESPA. Tais companhias, dentre outras boas práticas de governança
corporativa que devem seguir, comprometem-se a resolver seus litígios societários pela via ar-
XII 1 PEDRO A. BATISTA MARTINS
PREFÁCIO V
NOTA DO AUTOR IX
NOTAS INTRODUTÓRIAS XI
Introdução
ABORDAGEM METODOLÓGICA E ESTRUTURA DO TRABALHO 1
Capítulo 1
ARBITRAGEM COMO PARADIGMA DE JUSTIÇA PARA OS GRUPOS SOCIAIS:
UMA VISÃO FILOSÓFICA 7
1. Inexiste Monopólio Judiciário 7
2. Liberdade: espinha dorsal da arbitragem. 12
3. Arbitragem: breve histórico; meio viabilizador da Justiça. 13
4. A Indesejável Intervenção Estatal 16
Capítulo 2
PREVALÊNCIA DA MAIORIA COMO PRINCÍPIO SOCIAL INARREDÁVEL
19
Capítulo 3
AS DISTINTAS CORRENTES SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DAS
SOCIEDADES ANÔNIMAS NÃO AFETAM A EFICIÊNCIA JURÍDICA
DA ARBITRAGEM 29
Capítulo 4
ARBITRABILIDADE SUBJETIVA. A INSERÇÃO, POR MAIORIA DE VOTOS, DE
CLÁUSULA DE ARBITRAGEM NOS ESTATUTOS DE SOCIEDADE ANÔNIMA
ABERTA E A IMPOSIÇÃO DE SEUS EFEITOS A TODOS OS ACIONISTAS 45
1. Introdução 45
2. Breve Histórico das Sociedades Anônimas 46
3. A Limitação de Responsabilidade 48
4. O Principio Majoritário 50
5. As Limitações ao Poder de Controle 63
6. A Arbitragem não Afronta os Ditames Aplicáveis às Sociedades Anônimas 70
6.1. O Ramo Societário e o Principio Deliberativo que Norteia 70
XIV I PEDRO A. BATISTA MARTINS 1
Capítulo 5
ARBITRAGE1 E EMPRESAS SOB CONTROLE ESTATAL 127
Capítulo 6
ARBITRABILIDADE OBJETIVA. ENFOQUE RELATIVO A CERTAS QUESTÕES
SOCIETÁRIAS E SUA SUBMISSÃO À ARBITRAGEM 137
1. Nota Introd tória 137
2. Indisponibili ade e Ordem Pública. Normas Imperativas 138
3. A Arbitrabil ade dos Conflitos de Natureza Negociai 146
4. A Disponibil dade dos Direitos Políticos 152
5. A Arbitrabir ade dos Conflitos Relativos à Constituição da Sociedade 157
6. A ArbitrabilOade das Questões Objeto de Impugnações de Deliberações
Assemble ares 163
6.1. A Decisão Arbitrai Vincula Todos os Acionistas 169
6.2. Caso em que a Deliberação Assemblear Questionada Atinge Direitos de Terceiros 170
7. Arbitragem a Ação de Responsabilidade contra Administradores 176
8. Arbitrabilida e das Questões que Envolvem o Direito De Recesso 178
9. Arbitrabilida e das Demandas Objeto de Dissolução da Sociedade 179
BIBLIOGRAFIIA 185
INTRODUÇÃO
ABORDAGEM METODOLÓGICA
E ESTRUTURA DO TRABALHO