Você está na página 1de 17

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/308696068

Estudo comparativo da sazonalidade turística

Chapter · August 2011

CITATIONS READS

0 1,107

2 authors, including:

Gustavo da Cruz
Universidade Estadual de Santa Cruz
32 PUBLICATIONS   80 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

A construção da notícia sobre turismo View project

All content following this page was uploaded by Gustavo da Cruz on 28 September 2016.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA

Alejandra Krzyzanowski
Gustavo da Cruz

1. ATIVIDADE TURÍSTICA

É notório que o turismo é um setor


socioeconômico que engloba inúmeras atividades, entre
as quais podemos citar transporte, hospedagem,
alimentação, entretenimento, entre outros. Em muitos
países, da Europa, como Espanha, França e Itália, e do
Caribe, como Barbados, Republica Dominicana e Belize,
é uma das principais atividades econômicas.
Um dos problemas mais comuns no turismo
enfrentado tanto em países desenvolvidos como em vias
de desenvolvimento é a sazonalidade. Este fenômeno
caracteriza-se pela concentração de demanda turística, em
uma mesma localidade, de maneira desproporcional à
oferta, em certos períodos do ano (BAUM et al., 2001).
Esta desproporção entre oferta e demanda são
visíveis em muitos destinos turísticos, cujos grandes
movimentos temporais de pessoas afetam negativamente a
localidade com o passar dos anos. Butler destaca que “a
sazonalidade é reconhecida há tempos como uma das
características mais particulares do turismo, sendo a

167
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

característica mais típica do turismo em uma base global”


(BUTLER, 2001, p.5).
É importante ressaltar que a sazonalidade turística
ocorre basicamente na demanda, ou seja, a demanda é
sazonal em virtude de diversas causas, conforme veremos
a seguir, no entanto os efeitos são percebidos na oferta
turística (destino).
Uma das causas da sazonalidade, segundo
Cavalcante e Dias (2001), é a instabilidade na economia
turística, ou a falta de equilíbrio da mesma. Esta
economia turística difere das demais em razão,
principalmente, da constante oscilação em términos de
períodos, em que o volume de fluxos financeiros dos
investimentos são maiores ou menores em épocas
diferenciadas. Estes períodos são chamados de baixas e
altas estações.
Wanhill e Butler (2001) enumeram cinco razões
básicas para a sazonalidade turística: variações temporais
regulares no fenômeno natural, particularmente aquelas
associadas com o clima e as quatro reais estações do ano;
decisões de fatores humanos, como pressão social e
moda; estação de esportes; inércia e tradição.
Cabe destacar que a sazonalidade ocorre em
praticamente qualquer destino, ou seja, independente da
localidade geográfica, as razões que levam este fenômeno
a ocorrer são universais. Neste contexto, podemos afirmar
que a sazonalidade é um fenômeno muito comum e
frequente em milhares de destinos turísticos, no qual
ocorrem dezenas de problemas e consequências
socioambientais e econômicas tanto para turistas como
para a comunidade receptora.

168
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

2. IMPACTOS, PROBLEMAS E CONSEQUENCIAS

Wahab (1991) sustenta que a sazonalidade


turística pode causar surgimento ou elevação do índice de
inflação na comunidade receptora, uma vez que, se a
demanda cresce e a oferta atinge sua capacidade máxima,
não conseguindo satisfazer esta demanda, os preços
aumentam. Lage e Milone (1998, p.61) afirmam que “a
existência da sazonalidade turística, em curto prazo por
temporada, prejudica a oferta turística, tornando-se um
problema sério para o desenvolvimento sustentável da
atividade”.
Se, por exemplo, um hotel de 300 unidades
habitacionais vendeu 200 delas em determinada noite, não
poderá estocar as outras 100 para vendê-las na noite
seguinte, o que significa que o valor econômico dos
produtos e serviços turísticos não vendidos equivale a
zero. Por isso, os gestores turísticos devem buscar reduzir
ao máximo os efeitos da sazonalidade concentrando assim
esforços humanos e financeiros com o intuito de fazer
com que o fluxo da demanda ocorra de forma homogênea
e regular durante todos os meses do ano.
A sazonalidade, no entanto, não é totalmente
negativa. Murphy (1985) afirma que a “sazonalidade não
é necessariamente ruim para todos os destinos” e ressalta
que algumas comunidades receptoras, ao final da alta
temporada, considerando positivo o início do fluxo baixo
de turistas. Mathieson e Wall (1982, p.47) acrescentam
que “certos locais vêem a aproximação da temporada
turística com sentimentos variados e apreciam a baixa
temporada quando somente a comunidade receptora está
presente.”
169
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

Não há duvida de que o turismo pode afetar o


desenvolvimento socioeconômico em diversas
comunidades receptoras, e gerar efeitos negativos sobre as
atividades culturais existentes nos destinos (Mathieson e
Wall, 1982; Murphy, 1985; Pearce, 1989). Neste
contexto, podemos afirmar que a temporada baixa em
alguns destinos representa o único momento em que a
comunidade receptora pode dedicar-se tranquilamente às
atividades socioculturais sem interferência de milhares de
turistas.
Os impactos negativos originados pela
sazonalidade são detectados na sua maioria nos
estabelecimentos turísticos, como hotéis e operadoras
turísticas. Com base nesta forma de análise, pode-se
afirmar que as desvantagens da variação na demanda
sazonal são:
 Negócios de curto período operacional, com
grandes períodos de fechamento, ou nível reduzido
de operação;
 A conseguinte necessidade de gerar ingressos para o
ano todo, dentro de um curto período operacional,
enquanto se administram os custos fixos e de
manutenção por um período de dez meses;
 Os consequentes problemas de atração interna de
investimentos em turismo;
 Problemas de manutenção da cadeia de
abastecimento com uma base de curto período
operacional;
 Dificuldades de assegurar suporte sustentável de
provedores de transportes, como linhas aéreas e
companhias de navios que resistem a manter
170
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

comprometimento e investir em operações de altas


temporadas;
 Emprego de curto prazo em vez de emprego
sustentável a longo prazo, criando altos níveis de
emprego fora de estação ou temporária migração;
 Problemas de manutenção de serviços e estandartes
de qualidade de produtos com ausência de
empregados permanentes e de longo prazo.
Como os efeitos negativos são muito evidentes, a
necessidade de tomar medidas para frear este aspecto
negativo do turismo se faz necessária. Os impactos
negativos que os estabelecimentos turísticos sofrem são
diversos e não apenas econômicos. Entre as estratégias
para reduzir a sazonalidade turística, Lage e Milone
(1998) destacam duas específicas:
 Uso múltiplo: significa complementar os atrativos
de alta estação de um destino com outras atrações,
que criariam demanda para os turistas durante os
períodos de baixas temporadas. Um excelente
exemplo ocorre no Estado de Santa Catarina
(Brasil), no qual os gestores turísticos criaram uma
serie de atividades em diversas épocas do ano,
principalmente durante a baixa temporada, como a
Octoberfest, que se trata de uma festa temática, na
cidade de Blumenau, forte colônia alemã. Este tipo
de evento atrai inúmeros turistas para a região,
ampliando, desta maneira, a estação de alta para os
destinos envolvidos com as festividades.
 Política de preços: esta estratégia, em comparação
com o uso múltiplo, cria mercados para os períodos
fora de temporada, utilizando preços diferenciados,
171
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

como um instrumento eficiente para transferir


demanda da alta para a baixa estação.
Mota (2001) defende que devemos fomentar a
criatividade como ferramenta para diminuir os efeitos da
sazonalidade turística. O autor menciona exemplos de
hotéis que utilizam tarefas simples para estimular e
recompensar seus funcionários na criação de estratégias
que minimizem os impactos gerados por este fenômeno.
A prática constante de questionamento também deve ser
realizada na gestão de destinos turísticos, objetivando
identificar falhas e maximizar a aplicação de estratégias
coerentes com a realidade local e com cada região.

3. SAZONALIDADE NOS DESTINOS TURÍSTICOS


Foram escolhidos alguns destinos previamente
analisados: Florianópolis, no Brasil; Ibiza; Mallorca;
Andaluzia; Ilhas Canárias, na Espanha; e Porto Madryn,
na Argentina.

3.1 Florianópolis
Florianópolis, ilha situada no sul do Brasil, é
capital do estado de Santa Catarina. Considerada como
destino cujo maior atrativo é “sol e praia”; que
desafortunadamente está vinculado ao turismo de massa
que, na sua maioria, gera efeitos negativos e nocivos para
a região, pois traz desequilíbrio e impactos na economia
local que afeta tanto a comunidade receptora como os
próprios turistas. Podemos observar que, na figura 1, os
impactos que a sazonalidade causa durante a alta
temporada, e a segunda figura, os impactos causados
durante a baixa temporada na ilha de Florianópolis.
172
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

POSITIVO NEGATIVO
Geração de empregos Problemas de tráfico
Maior oferta de Empregos somente temporários
entretenimento
Maior oferta de ócio Preços altos (supervalorização)
Falta de água /luz
Baixa qualidade de serviços nos
estabelecimentos hoteleiros (por falta de
experiência)
Aumento do barulho
Aumento da poluição
Quadro 1 - Impactos da sazonalidade durante a alta temporada em
Florianópolis

POSITIVO NEGATIVO
Recuperação do meio Falta de empregos
ambiente
Tempo para revisão de Estabelecimentos hoteleiros com
conceitos, renovações e baixo nível de ocupação e baixo
reformas faturamento
Tranquilidade na cidade Falta de opção de entretenimento
Desequilíbrio econômico
Baixa qualidade de serviços nos
estabelecimentos hoteleiros (por falta
de experiência)
Quadro 2 -Impactos da sazonalidade durante a baixa temporada
Florianópolis

Podemos destacar alguns pontos: há um consenso


de que a atividade turística na ilha de Florianópolis é
extremamente importante para o desenvolvimento
socioeconômico da região. Não obstante, são gerados
173
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

dezenas de impactos negativos durante a temporada do


verão, entre eles o fato de o turismo de massa influenciar
diretamente no aumento da quantidade de automóveis que
circulam pelo destino, ocasionando assim diversos
inconvenientes para motoristas e pedestres em razão de
que ruas e avenidas não estão preparadas para este
volume extra de automóveis.
É notório que os preços dos produtos e serviços
aumentam drasticamente durante a temporada de verão
em razão do aumento da demanda. A poluição sonora e
do meio ambiente são outras situações que não acontecem
com tanta frequência durante a baixa temporada.
Como mencionado anteriormente, a sazonalidade é
um fenômeno muito comum em diferentes destinos ao
redor de mundo. A seguir, são apresentados alguns
exemplos de realidades espanholas e argentinas, bem
como as estratégias utilizadas para contornar a
sazonalidade.

3.2 Ibiza

Alguns elementos naturais e climáticos lhe


conferem privilegiada vocação turística, proporcionando a
Ibiza um elevado o fluxo turístico na ilha. Mas para isto
foi necessária a criação de uma infra-estrutura adequada
para que estes turistas possam desenvolver diferentes
atividades de ócio e lazer.
Ramón (2008, p.13) sustenta que o “mono cultivo
econômico os obriga a um estudo profundo dos efeitos e
aspectos que concernem ao setor. Pode-se afirmar que
uma das razões é a sazonalidade.” Esta sazonalidade
ocorre devido a diversos fatores, entre os quais destacam-
174
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

se as características do produto ofertado estar baseado


praticamente no turismo de férias condicionado a
elementos climáticos, imprescindíveis para o
desenvolvimento da oferta turística de sol e praia.
Neste contexto, o setor turístico de Ibiza tem uma
alta demanda apenas em curtos períodos de tempo. Por
tanto, para tentar equilibrar esta variação de sazonalidade,
normalmente os preços para períodos de altas e baixas
temporadas variam de até 40% para equilibrar as
variações de oferta e demanda. Esta política de preços é
fundamental para a sobrevivência do destino, já que a
oferta é inelástica e os estabelecimentos ofertados
precisam cobrir custos marginais.
A infraestrutura, que muitas vezes não é suficiente
para o grande fluxo turístico existente na alta temporada,
permanece infrautilizada durante o resto do ano, no
entanto os custos permanecem os mesmos. Ramón (2008)
sugere um plano de desestacionalização com
determinados objetivos, como um estudo de mercado,
uma nova campanha de marketing, um plano estratégico e
diversificação do mercado para adaptar se a demanda
durante a baixa temporada.

3.3 Mallorca

Outro exemplo de um destino fortemente sazonal é


a ilha de Mallorca, Espanha. Bigné et al. (2000)
demonstram perfeitamente o caso da tentativa de
“desestacionalização” do turismo nesta ilha como
elemento fundamental para minimizar os problemas
causados pela sazonalidade e pelo turismo massivo de sol
e praia. A secretária de turismo local, em conjunto com
175
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

demais entidades de Mallorca, criaram o programa


Invierno en Mallorca.

O programa nasceu no final da década de 70 para


potencializar, através de alguns espetáculos
musicais, a escassa oferta de eventos culturais que
se desenvolvia no inverno e proporcionar assim o
turismo cultural durante esta estação. Desde o
início, o programa chamava-se “Inverno em
Mallorca”. […] O programa foi crescendo de forma
progressiva, fruto da consciência generalizada da
necessidade de potencializar o turismo de inverno
[…] E atualmente estão realizando eventos
similares tanto em Ibiza como em Menorca (BIGNÉ
et al, 2000, p.23).

Este projeto tem três objetivos: desestacionalizar o


turismo promovendo eventos culturais como opção de
entretenimento durante a baixa temporada. Utilizar a
cultura como veículo de integração do visitante com o
residente; e, consequentemente, impulsionar a
participação de artistas locais e atuar como elemento
diferencial para que os visitantes escolham a localidade
para visitá-la em suas férias.

3.4 Andaluzia

Bonilla (2007) destaca que a variabilidade sazonal


do mercado turístico da Andaluzia é uma das
características marcantes em razão da dificuldade de obter
níveis uniformes de demanda.
Sabemos que, na maioria dos destinos, os efeitos
da sazonalidade são negativos, no entanto alguns autores
176
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

destacam suas vantagens. Deste modo, os períodos de


temporada baixa favorecem, por exemplo, a recuperação
ecológica e sociocultural (HIGHAM; HINCH, 2002) ou
mesmo a manutenção e reforma das instalações turísticas
(GRANT et al., 1997). Bem como os períodos de
temporada alta facilitam, por exemplo, a incorporação de
trabalhadores descontínuos como são os estudantes
(MOURDOUKOUTAS, 1988).
As estratégias desenvolvidas para fazer frente à
sazonalidade estão geralmente ligadas às diretrizes que
marcam as administrações públicas que ostentam a
representação de um destino turístico com o objeto de
reduzir os efeitos nocivos das variações sazonais. Não
obstante, devemos ter em mente que o planejamento
turístico deve estar de acordo com as organizações
públicas e privadas relacionadas com a atividade turística.
Bonilla (2007) demonstra, através de suas análises,
que a sazonalidade nos estabelecimentos hoteleiros de
Andaluzia, comparada com as demais comunidades
autônomas, é muito díspare, pois existem regiões
geográficas com elevados índices, como Baleares e
Catalunha, bem como outras comunidades autônomas
apresentam uns índices muito reduzidos, como Madrid e
Canárias.

3.5 Canárias

Vale a pena mencionar o caso das Ilhas Canárias,


um destino turístico consolidado na Espanha em virtude
de sua privilegiada localização geográfica, condições
climáticas e infraestrutura turística. É uma exceção dentro

177
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

dos destinos turísticos de sol e praia da Europa, pois não


sofre tanto com os efeitos negativos da sazonalidade.
As Ilhas Canárias têm uma série de vantagens que
não permitem que a sazonalidade afete a região de
maneira tão marcante como em outros destinos. Isto se
deve fundamentalmente a sua localização geográfica,
muito perto do continente europeu, o maior emissor de
turistas no mundo. Também o clima, ameno o ano todo,
faz com que os turistas europeus prefiram este destino
durante o inverno, escapando dos ásperos invernos em
seus países, sobretudo Alemanha, Inglaterra, e países
nórdicos. A infra-estrutura dos aeroportos, que em sua
maioria tem conexões com aeroportos importantes, vôos
diretos e proximidade com os mesmos também influencia.
Todos estes fatores contribuem para o fato de as
Ilhas Canárias manterem uma forte posição no mercado
turístico europeu. Outro importante aspecto são as
campanhas de marketing constantes e os preços muito
competitivos, tanto de companhias aéreas, com baixo
custo, como dos meios de hospedagem.
Um exemplo interessante é a da Ilha de Lanzarote,
em que o arquiteto Cesar Manrique, de maneira muito
original, com suas criações fez com que esta ilha tivesse
um grande destaque internacional, conseguindo
conscientizar a população local sobre o valor da própria
cultura. Também foi demonstrada uma preocupação com
a limpeza, no que se refere ao aspecto visual, retirando
cartazes de publicidade das estradas, soterrando os cabos
elétricos, pintando as casas de branco, caracterizando a
ilha.

178
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

3.6 Porto Madryn

Porto Madryn, uma cidade no sul da Argentina,


considerada a porta de entrada para a Península de
Valdés, é um dos centros turísticos mais importantes da
Patagônia. A colaboração entre setores público e privado
da cidade fez com que o fluxo turístico aumentasse de
forma significativa nos últimos anos.
Segundo Antonio Torrejón (2007), assessor da
secretaria de turismo da Argentina, a sazonalidade no uso
dos serviços turísticos, como hotéis, restaurantes, lojas de
souvenirs, etc, representa um condicionante de profundas
consequências para o crescimento e desenvolvimento dos
centros turísticos.
Verifica-se que ao se incorporar fins de semana
prolongados aos feriados nacionais, festas e datas
comemorativas, foi possível construir um calendário
turístico que minimizou os efeitos da sazonalidade.
Através desta estratégia, observa-se uma medida que, por
meio de uma colaboração entre setor público e privado,
alinhando interesses e fazendo com que os resultados
fossem positivos, favorecesse e incentivasse o
desenvolvimento constante do turismo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente texto, pode-se constatar que a


sazonalidade é um fenômeno constante na atividade
turística. Desafortunadamente este fenômeno vem
acompanhado, muitas vezes, de efeitos negativos
geralmente detectados nos destinos turísticos. No entanto,
179
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

o turismo, por ser uma atividade multissetorial, possui


inúmeras maneiras de encontrar maneiras de trabalhar e
contornar os efeitos gerados pela sazonalidade.
Ao criar estratégias e planos de ação para fomentar
um turismo menos sazonal, deve-se envolver não somente
as agências, operadoras e turistas, mas também a
população local. O objetivo maior dos destinos que
sofrem com a concentração de demanda temporal, é tratar
de desestacionalizar essa demanda e fazer com que a
mesma seja espaçada com maior equilíbrio durante o ano
todo; com isto será possível minimizar os efeitos
negativos que traz este fenômeno e trabalhar no constante
desenvolvimento do turismo sustentável.

180
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

REFERÊNCIAS

BAUM, T., LUNDTORP, S. Seasonality in tourism,


advances in tourism research. London: Elsevier, 2001.

BIGNE, E. A., AULET, X. F., SIMÓ, L. A. Marketing de


destinos turísticos. Madrid, ESIC 2000.
BONILLA, J. M. L. Variabilidad estacional del mercado
turístico en Andalucía. Sevilla: UMA, 2007.

BUTLER, R. W. Seasonality in tourism: issues and


implications. Leeds: Thompson, 1994.

CAVALCANTE, L. E.; DIAS, E. L. O. Mercado de


informação no setor turístico brasileiro. Londrina: UPE,
2001.

CRUZ. G. Promoción de destinos turísticos en la web –


Estratégias e indicadores para destinos turísticos brasileños.
Las Palmas de Gran Canaria: ULPGC, 2005.

LAGE, B. H.; MILONE, P. C. Fundamentos econômicos do


turismo. São Paulo: SENAC,1998.

LUNDTORP, S.; RASSING, C. R.; WANHILL. S. Off-Season


is no season: the case of Bornholm. London: Elsevier, 2001.

LUNDTORP, S. Measuring tourism seasonality. London:


Elsevier, 2001.

MATHIESON, A.; WALL, G. Tourism: economic, physical


and social impacts. Harlow: Longman, 1982.

181
Para citar este texto:
KRZYZANOWSKI, A.; CRUZ, G. ESTUDO COMPARATIVO DA
SAZONALIDADE TURÍSTICA. In: CRUZ, G. (Org.) Turismo: Desafios e
especificações para turismo sustentável. Ilhéus: Editus, 2011.

MOTA, K. C. N. Marketing turístico: promovendo uma


atividade sazonal. São Paulo: Atlas, 2001.

MURPHY, P. Tourism: a community approach. New York:


Methuen, 1985.

RAMON, M. La estacionalidad turística en la Isla de


Eivissa. Las Palmas de Gran Canaria: ULPGC, 2008.

TORREJÓN, A. El desafío de romper con la estacionalidad.


Las Palmas de Gran Canaria: ULPGC, 2007.

WAHAB, S. A. Introdução à Administração do Turismo:


alguns aspectos
estruturais e operacionais do turismo internacional. São Paulo:
Pioneira, 1991.

182

View publication stats

Você também pode gostar