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Livro de Isaías

Introdução

O livro de Isaías (Is) contém os oráculos do profeta Isaías, filho de Amós (1,1), que viveu
por volta de 700 a.C., bem como de outros profetas, que retomaram o seu pensamento em
circunstâncias novas, constituindo a chamada "escola isaiana", fortemente ligada à "casa de
Davi" (a dinastia davídica) e ao povo de Jerusalém. As escrituras isaianas correspondem a
três momentos cruciais: a invasão dos assírios, o exílio babilônico e a restauração do povo
depois do exílio. Antes de serem coletados, pelo fim do 4° século a.C., os escritos foram
ainda completados com alguns textos mais recentes, especialmente os "apocalipses
isaianos" (Is 24-47 e 34-35).
É difícil sobrestimar a importância do profeta Isaías para a tradição cristã. O Novo
Testamento o cita até mais do que os Salmos. O texto sobre o Servo Sofredor humilhado e
enaltecido (52,13-53,12) é a chave da cristologia do Novo Testamento, e os autores
escolásticos citam Isaías, sem mais, como "o Profeta".

Conteúdo

Mais ou menos conforme os acima citados períodos de composição, o texto atual de Isaías
divide-se em três partes, cada qual marcada por um profeta principal. Cada parte inclui
também matérias mais recentes, que procuram atualizar a mensagem do profeta principal.

Primeira parte (Primeiro ou Proto-Isaías: 1-39)

O grande profeta Isaías, que deu seu nome à escola isaiana, zelou pela justiça e pelo temor
de Deus junto à "casa de Davi" durante mais de quarenta anos, desde o tempo do rei Ozias,
por volta de 740 a.C. (Is 6,1), passando por Acaz (7,1), até nos dias de Ezequias, por volta
de 700 a.C. (36,1). Nos seus dias, Jerusalém viu-se em perigo diversas vezes: 1) por volta
de 735 a.C., quando Acaz, rei de Judá, temia sofrer as consequências da aliança de Aram e
Israel contra a Assíria, à qual ele se aliou (guerra siro-efraimita); 2) depois da conquista de
Samaria pelos Assírios (722 a.C.), quando, no reinado de Ezequias, os Assírios se
apresentaram, repetidamente, diante das portas de Jerusalém (712 e 701 a.C.).
Sefundo a tradição, Isaías foi martirizado pelo sucessor de Ezequias, o ímpio rei Manassés.
Seus oráculos originais se encontram em Is 1-39, misturados aos "apocalipses" (Is 24-27 e
34-35) e outros textos mais tardios, como, por exemplo, os oráculos sobre a queda de
Babilônia, em Is 13-14, compostos depois do exílio babilônico.

Segunda parte (Segundo ou Dêutero-Isaías: 40-55)

No tempo do exílio babilônico (586-538 a.C.), provavelmente no âmbito dos exilados, um


longínquo discípulo interpreta a situação à luz da tradição profética de Isaías. O resultado é
uma coleção de profecias de extraordinária beleza, chamada "o Livro da Consolaçao de
Israel". Prescindindo dos complementos ulteriores, os oráculos que constituem o cerne
desta parte foram proferidos entre as primeiras vitórias de Ciro, rei da Pérsia, por volta de
550 a.C., e sua vitória definitiva e conquista de Babilônia, em 539. Não é mencionado o
"edito de Ciro", de 539 a.C., que incentivava a volta dos judeus para sua pátria (IICr 36,22s.;
Eds 1,1-3).
A esses oráculos misturam-se os quatro "Cânticos do Servo do Senhor" (42,1-4; 49,1-6;
50,4-9; 52,13-53,2), sobre cuja origem e significado não há unanimidade: trata-se de um
indivíduo, do povo coletivamente ou de ambos ao mesmo tempo?
O Segundo Isaías pode ser dividido em dois blocos maiores, ambos permeados pelos
"Cânticos do Servo".

Terceira parte (Terceiro ou Trito-Isaías: 56-66)

A terceira parte de Isaías recolhe os oráculos de um profeta que retoma alguns temas do
Segundo Isaías à luz da situação nova que se criou depois da volta dos exilados a
Jerusalém (por volta de 535-515 a.C.). Procura animar os repatriados a reconstruir não
somente as pedras da cidade e do Templo, mas a sociedade e os laços humanos, em
fraternidade e justiça, conforme o ensinamento dos antigos profetas. Em redor do núcleo
central, cap.60-62, que canta a glória renovada de Jerusalém, concentra-se uma
diversidade de temas.

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