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INTRODUÇÃO

Conteúdo: começando com o reino de Salomão, a história do declínio e posterior dissolução


da monarquia em Israel e da expulsão do povo de Deus dessa terra
• Abrangência histórica: da morte de Davi (970 a.C.) até o Exílio de Judá no século sexto (586
a.C.)
• Ênfases: uma avaliação da monarquia com base na lealdade à aliança; as sérias
consequências nacionais da deslealdade a Javé, resultando finalmente na expulsão da terra; o
cisma e as guerras civis entre norte e sul; a ascensão de potências que, sob a direção de Deus,
subjugaram Israel e Judá; o papel dos profetas que falam em nome de Deus na vida nacional
de Israel.
VISÃO GERAL DE 1 E 2REIS
Assim como no caso de Samuel, o livro de Reis foi dividido em dois rolos. O título conta a
história do seu conteúdo, mas também é importante lembrar que, na Bíblia hebraica, o livro de
Reis conclui os Profetas Anteriores como uma descrição do veredicto de julgamento, por
parte de Deus, sobre a história de Israel. E não há como não perceber a importância do papel
que os profetas desempenham nesse livro.
1 E 2REIS
O livro de Reis compreende a parte da história da monarquia que vai de Salomão, passa pela
sua divisão subsequente em dois reinos e conclui com o fim do Reino do Norte (Israel) e o
exílio do último rei do sul (Judá). Isso praticamente descreve, também, as "partes" em que ele
se divide: 1Reis 1-11 fornece um relato resumido do reinado de Salomão. Qyatro coisas são
importantes para o narrador: (1) a forma como Salomão subiu ao trono, (2) o renome que sua
sabedoria lhe deu, (3) a construção do templo e do seu palácio e (4) o seu fim e os motivos
deste. Os acontecimentos envolvendo o cisma são narrados em 1Reis 12-14. Crucial aqui é o
reinado de Jeroboão I, que declara, ecoando Arão e o bezerro de ouro, que seus bezerros de
ouro em Dã e em Betel são "teus deuses que te tiraram da terra do Egito" (12.28; Êx 32.4). A
isso seguem-se, então, relatos alternados sobre os reis do norte e do sul, à medida que seus
reinos se interseccionam (1Rs 15-2Rs 17), os reis do norte sendo julgados por Deus, um de
cada vez, como "andando nos caminhos de seu pai [Jeroboão] e no [seu] pecado" (p. ex., 1Rs
15.26,34). A narrativa aqui é dominada pela atividade profética no norte, especialmente de
Elias e Eliseu (1Rs 17-2Rs 13), até a captura e destruição de Samaria, a capital do norte. O
restante do livro (2Rs 18-25) conta a história de mais 150 anos de reis em Judá, até a queda de
Jerusalém em 587/6 a.C. Mais de metade dessa última seção se concentra em dois reis
notavelmente bons (Ezequias, caps. 18-20; Josias, caps. 22-23), e inclui a atividade profética
de Isaías (caps. 19-20).
UMA CAMINHADA POR 1 E 2REIS
1 REIS 1.1-2.46 SALOMÃO SE TORNA REI
Essa seção inicial fala da sucessão de Davi por Salomão (1.1-53) e das instruções de Davi a
Salomão (2.1-12), a que se segue, então, a consolidação da sua posição por Salomão ao se
livrar de Adonias e seus conspiradores cúmplices, Joabe e Abiatar (2.13-46). Observe a
questão sobre a sucessão que está sendo respondida (1.20): Como pôde Davi ter sido sucedido
por Salomão, que não era o primeiro na linha sucessória (1.6; 2.22; cf. as narrativas de Gn 12-
50)? A resposta está num juramento feito a Bate-Seba. Observe, também, como a seção
conclui em IReis 2.46 (''Assim foi confirmado o reino na mão de Salomão"), que prepara o
que vem em seguida.
1 REIS 3.1-11.43 O REINADO DE SALOMÃO
Você deve atentar para duas coisas importantes nessa narrativa: (1) o narrador indica que (a)
com o reinado de Salomão, a promessa a Abraão de um vasto aumento populacional foi
realizada ( 4.20; v. Gn 22.17; 32.12), e (b) com a construção do templo, o Êxodo agora está
completo, pois agora Javé tem a sua morada permanente em Jerusalém (lRs 6.1). Portanto, (2)
a parte central dessa seção é a narrativa do templo (5.1-9.9), que é relatada em certo grau de
detalhes, enquanto os muitos e longos anos do reinado de Salomão são meramente resumidos
antes e depois dela. De fato, a leitura atenta dessa passagem deixa claro que a relação de
Salomão com o templo é a única coisa que o "salva", por assim dizer. Fora isso, o narrador
demonstra uma atitude bastante ambivalente em relação a Salomão. Na sua leitura, observe,
por exemplo, quanto de 3.1-4.34 e 9.10-11.43 realiza a profecia de Samuel (lSm 8.11-18). O
narrador reconhece que a sabedoria e o esplendor de Salomão são dons de Deus e, na essência
de tudo, há o fato de que Salomão é filho de Davi (1Rs 3.3,7,14; 8.15-26; 9.4,5). Mas ele
sabe, também, que as sementes do declínio e cisma futuros estão sendo plantadas (tributos
elevados e trabalho escravo, 4.27,28; 5.13-18; cf. 12.4; observe o contraste com a reparação
do templo por Joás, 2Rs 12.4-16 [ofertas livres e trabalhadores pagos!]). O juízo de Deus
sobre Salomão dá o tom do resto da história ("não guardaste a minha aliança e os meus
estatutos que te ordenei", 1Rs 11.11,33). Portanto, apesar da grandeza, sabedoria e esplendor
de Salomão, e da construção do templo, e apesar do fato de que Deus apareceu a ele duas
vezes (11.9; cf. 3.5-15; 9.2-9), no fim Salomão abandonou a Deus para adorar ídolos (11.1-
10), e assim dividiu a nação em duas, suscitando a ira de Deus (11.11-40).
1 REIS 12.1-16.20 O REINO SE DIVIDE (931-885 A.C.)
Os capítulos 12-14 descrevem a dissolução da nação em duas: Israel, politicamente instável e
religiosamente rebelde (dez tribos no norte), e Judá, relativamente mais estável e ortodoxa
(incluindo-se, às vezes, Benjamim, 12.20-23). Repare em quatro ênfases: (1) o papel
dominante dos profetas, que tanto revelam os planos de Deus como chamam os reis do norte a
prestar contas (12.22-24; 13.1-4; 14.1-18; 16.1-4; cf.11.29-39); (2) a guerra civil que opõe o
norte ao sul, com alianças estrangeiras (15.6,7,16-22); (3) o compromisso de Deus com Judá
por causa de Davi (14.8; 15.4,5,11; observe especialmente o eco de 2Sm 21.17 de que Davi é
"a lâmpada de Israel"; cf. 2Rs 8.19); (4) a "sucessão" no norte ocorre por meio de traições e
jogos de poder
(1Rs 16.9-13), não pela vontade de Deus. A história de Jeroboão 1 é especialmente importante
para o restante da narrativa. Veja como o narrador conta a história de Jeroboão em duas
partes: seu começo ecoa o de Moisés (escolhido por Deus, ele deixa o Egito para libertar um
povo que trabalha sob "pesado jugo"; 12.1-4; cf. Êx 6.6,7), mas no fim ele se assemelha a
Arão (Êx 32), produzindo bezerros de ouro e repetindo suas próprias palavras: "aqui estão
teus deuses que te tiraram da terra do Egito" (1Rs 12.28). Essa repetição da rebelião no Sinai
caracteriza todos os demais reis de Israel, que andavam "nos caminhos de seu pai [Jeroboão]"
(p. ex., 15.26,34). É importante ressaltar que isso é uma forma de sincretismo (adoração a
Javé na forma de uma deidade egípcia), não baalismo, como 2Reis 10.28,29 e 17.41 deixam
claro.
1 REIS 16.21 - 2REIS 10.36 O REINO DIVIDIDO: A DINASTIA DE ONRI
Com Onri, começa outra dinastia que nem descende de Davi nem adora em Jerusalém. O filho
de Onri, Acabe, supera o próprio Jeroboão no seu pecado, casando-se com uma adoradora de
Baal, acrescentando assim a adoração desse deus ao culto dos bezerros de ouro. Observe
como isso causa a guerra santa, em que o profeta Elias luta por Javé contra os profetas de
Baal. Observe também que apesar de todos os seus pecados, é quando Acabe toma a vinha de
Nabote por meio de traição e assassinato (violando assim a lei da aliança de várias maneiras;
cf. Dt 19.14) que o julgamento de Deus vem sobre ele e J ezabel ( 1 Rs 21.17-24). E ainda que
o próprio Acabe morra segundo o juízo profético (22.37,38), esperamos até 2Reis 9-10 para
que o restante da profecia seja cumprida contra Jezabel e contra a casa de Acabe. O juízo,
assim, fica em suspenso enquanto Eliseu sucede a Elias e realiza milagres semelhantes aos
deste, e Acabe é sucedido por dois de seus filhos. A execução é realizada por um zeloso
(porém sanguinário) javista,Jeú, que destrói a adoração a Baal, mas não destrói os bezerros de
ouro em Dã e Betel. Tenha em mente também, na leitura dessa seção, que as pressões externas
por enquanto vêm apenas de reinos vizinhos locais (Arã! Damasco), mas tudo isso mudará na
seção seguinte, quando a potência da Assíria começa a figurar no horizonte (2Rs 15.19).
Observe, por último, como essa parte da história se concentra no que se passa em Israel; as
exceções tratando de Judá consistem em breves resumos sobre Josafá (1Rs 22.41-50, um rei
"bom") e sobre Jeorão e Acazias (2Rs 8.16-29), reis perversos que seguiram o caminho dos
reis de Israel. A intriga dessas histórias é que Jorão se associa por casamento com a casa de
Onri; Atalia, filha de Acabe e Jezabel, acaba se saindo igual à mãe, e quase consegue
exterminar a dinastia davídica (2Rs 11).
2REIS 11.1-17.41 O REINO DIVIDIDO: DE JEÚ ATÉ A QUEDA DE SAMARIA (841-
722 A.C.)
A partir daqui, a história começa a se concentrar novamente nos reis de Judá. Observe como
os reis de Israel são meramente resumidos, uma história de infidelidade à aliança seguindo-se
a outra, até a derrota de Samaria e a anexação de Israel ao Império Assírio. Observe como o
resumo do autor em 17.7-23 conta a história da forma que ele espera que você a leia. A
reocupação da terra por parte da Assíria (v. 24-41) põe em movimento as muitas dificuldades
que serão enfrentadas em Esdras e Neemias- incluindo habitantes do norte de etnia mista, que
você encontrará novamente sob o nome de samaritanos nos Evangelhos do Novo Testamento.
Três reis de Judá figuram nessa seção, sublinhando questões vistas antes nessa narrativa. A
história de Joás (caps. 11-12) é importante por duas razões: (1) ele representa o compromisso
de Deus de manter "a lâmpada de Davi" (8.19); tendo sido protegido pela tia, ele é
proclamado rei, enquanto a usurpadora Atalia, de Samaria, exclama ter havido "Traição!",
mas é morta (11.14-16). (2) Ele reforma o templo e faz isso com as ofertas livres do povo
(12.4,5)! Amazias (14.1-22), outro rei "bom", continua a política do seu pai Joás, mas quanto
a ele, nota-se sobretudo a guerra civil com o norte a que deu continuidade. E obviamente não
vai tudo bem em Jerusalém, visto que tanto ele como o pai são assassinados por oficiais
anônimos. Acaz (cap. 16), diferentemente de seu pai Davi, "não fez o que era correto diante
do SENHOR seu Deus". Ele é lembrado principalmente por levar Judá para debaixo da
influência assíria e, em contraste com Joás, que reformou o templo, por reconfigurar o templo
com base em influências estrangeiras.
2REIS 18.1-25.30 OS ANOS FINAIS DE JUDÁ: O EXÍLIO BABILÔNICO (722-560
A.C.)
Em contraste com a história de Israel, em que a narrativa se concentra nos atos sórdidos dos
seus piores reis Qulgados segundo o critério deuteronômico ), a história de Judá tende a se
concentrar nos reis bons. Observe como isso ocorre especialmente no episódio final, em que
apenas dois reis, Ezequias (caps. 18-20) e Josias (caps. 22-23), fazem o que é certo aos olhos
de Javé. E, mais uma vez, eles são julgados com base na lealdade à aliança (18.5,6; 22.11;
23.1-3). No caso de Ezequias, sua lealdade a Javé é o motivo para ele escapar da conquista
assíria, mas alguns dos seus atos na verdade prognosticam o Exílio babilônico (20.12-21). E
apesar das reformas de Josias e da sua devoção a Javé, a sorte foi lançada pelo reino idólatra
de Manassés (23.24-27), de modo que a história a partir desse ponto ruma inexoravelmente
para o Exílio. O livro de Reis conclui com Judá no Exílio, mas a soltura de Joaquim apresenta
ao leitor um raio de esperança quanto à "lâmpada de Davi", mesmo no final.
APLICAÇÃO
O livro de Reis pretende, no fundo, responder à seguinte pergunta: ''À luz da aliança de Deus
com Abraão [a terra] e com Davi [um trono perpétuo], como tudo isso aconteceu para nós?".
E a resposta é: Deus não falhou em relação ao seu povo; foi o povo, guiado pelos seus reis,
que falhou em relação a Deus. A fidelidade de Israel, afinal, é uma contingência que está
escrita nas próprias alianças. Mas a aliança também promete a volta do Exílio para aqueles
que voltarem a Javé (Dt 30.1-10).

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