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SHUTTERSTOCK NR 35

32 REVISTA
32 REVISTA PROTEÇÃO
PROTEÇÃO FEVEREIRO / 2023
NÍVEL
ELEVADO
Com a publicação da nova norma de
Trabalho em Altura, segurança deve ser ampliada
Reportagem de Marla Cardoso

“Trabalhador morre após cair de obra de segundo o Radar, 557.411 mil acidentes dos
prédio”. “Trabalhador cai de andaime e 4.767.399 registrados foram gerados por
fica ferido”. “Trabalhador morre ao cair de esta situação. Os riscos de queda em altura
altura de três metros”. “Trabalhador cai em existem em vários ramos de atividades e em
poço de elevador de grãos e fica ferido”. diversos tipos de tarefas e foi justamente
“Trabalhador cai em fosso de edifício em este cenário que motivou a publicação, em
construção”. “Trabalhador cai de telhado”. 2012, da NR 35 (Trabalho em Altura).
“Trabalhador morre em construção após cair De lá para cá, o documento evoluiu e,
de altura de 10 metros”. As manchetes sobre recentemente, ganhou um novo capítulo,
acidentes envolvendo trabalho em altura com a revisão da NR 35, publicada no dia 21
são constantes. Basta uma pesquisa em um de dezembro do ano passado pela Portaria
site de busca para encontrar mais de 1,3 MTP nº 4.218. A atualização, assim como
milhão de notícias que envolvem quedas de com outras normas que estão sendo revistas,
altura no trabalho com consequências como também teve sua origem na necessidade
ferimentos graves e óbitos. de harmonização com a nova NR 1. Mas vai
Os fatos se traduzem em números. De além. Traz, entre outras atualizações, um
acordo com o Perfil dos Acidentes de novo anexo que regulamenta a construção
Trabalho compilados pelo Radar SIT - Painel e uso de escadas, visando solucionar um
de Informações e Estatísticas da Inspeção do problema que hoje responde por muitos
Trabalho no Brasil -, a queda de pessoa com acidentes por queda com diferença de
diferença de nível aparece como a terceira níveis: a utilização de escadas no trabalho. A
situação geradora de acidentes de trabalho fase agora é de entendimento do novo texto
no país desde que os dados começaram a ser e de adequações para atender aos prazos
compilados, em 2014. Daquele ano até 2021, determinados.
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NR 35
A publicação de uma Norma Re-

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gulamentadora é um importante ins-
trumento de referência para que os
trabalhos sejam realizados de forma
segura, mas é impossível contemplar
todas as situações existentes na rea-
lidade, uma vez que muitas delas são
complexas e dinâmicas. Atividades de
telefonia, transporte de cargas por
veículos, transmissão e distribuição
de energia elétrica, montagem e des-
montagem de estruturas e plantas in-
dustriais, por exemplo, têm suas par-
ticularidades. Um fato em comum que
aproxima esses setores é que todos
têm em suas operações o trabalho em
altura e atendem, entre outras Nor-
mas Regulamentadoras, as medidas
Riscos de queda existem em vários ramos de atividades
de proteção estabelecidas pela NR
35 (Trabalho em Altura). O princípio adotado na NR 35, pu- vencionistas garantem que a Norma
Mas como garantir que um único blicada em março de 2012, tratou vem cumprindo a sua função. “Evolu-
documento pudesse contemplar uma o trabalho em altura como ativida- ímos muito nesses 10 anos, reduzindo
gama tão variada de áreas? Quando de que deve ser planejada, evitan- a taxa de acidentes fatais por queda
a elaboração da NR 35 foi aprovada do, caso seja possível, a exposição com diferença de níveis a uma razão
pela CTPP (Comissão Tripartite Pa- do trabalhador ao risco, quer seja inferior à metade de 10 anos atrás,
ritária Permanente), em novembro pela execução do trabalho de outra quando não existia a Norma”, garante
de 2010, a intenção era construir um forma, por medidas que eliminem o Luiz Carlos Lumbreras Rocha, audi-
texto pensando nos aspectos da ges- risco de queda ou mesmo por medi- tor fiscal do trabalho do Ministério do
tão de Segurança e Saúde do Traba- das que minimizem as suas conse- Trabalho e Emprego, representante
lho para todas as atividades desenvol- quências, quando o risco de queda da bancada do Governo e coordena-
vidas em altura com risco de queda, com diferenças de níveis não puder dor do GTT (Grupo de Trabalho Tri-
com anexos que tratassem as espe- ser evitado. partite) que revisou a NR 35.
cificidades das mais variadas ativi- As melhorias ao longo dessa déca-
dades. O Anexo I abordou o Acesso EVOLUÇÃO da são vistas na prática com a evo-
por Cordas. Já o Anexo II, Sistemas Mesmo que a ocorrência de aciden- lução na gestão de riscos de quedas
de Ancoragem. tes ainda seja uma realidade, os pre- nos trabalhos em altura, na visão de
Gianfranco Pampalon, auditor fiscal
do trabalho aposentado, engenheiro
ARQUIVO

ARQUIVO PESSOAL

civil e de Segurança do Trabalho e


consultor independente. “A melhoria
e a qualidade dos EPIs para o traba-
lho em altura é indiscutível. Lembro
que há 10 anos utilizávamos cinturões
de segurança de qualidade duvidosa,
com talabartes sem absorvedores de
energia. Eram encontrados no mer-
cado cinturões por R$ 15, muito uti-
lizados na construção civil”, recorda
Pampalon, que também participou do
GTT (Grupo de Trabalho Tripartite)
que elaborou a NR 35 e seus Anexos
I e II. O consultor ainda lembra que
a NR 35 foi vanguardista em vários
Lumbreras: menos mortes Pampalon: EPIs mais qualificados quesitos e muitos deles foram incor-

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NR 35
porados à NR 1. com técnicas avançadas, tipo de rapel é professor de cursos de pós-gradu-
A partir da norma, segundo Pam- com critérios de trabalhos avançados ação em Engenharia de Segurança
palon, foi possível acompanhar a e melhor qualificação e formação no e Medicina do Trabalho e consultor
evolução dos Equipamentos de Pro- caso de atividades de alpinismo in- técnico do Seconci-SP (Serviço So-
teção Coletiva, com empresas e en- dustrial”, complementa. cial da Construção), afirma que exis-
genheiros oferecendo produtos com tem muitos treinamentos ministrados
projetos e soluções bastante eficazes. DESAFIOS sem a carga horária mínima exigida e
“Também é raro encontrar trabalha- Mas mesmo com toda a evolução que não atendem ao conteúdo espe-
dores sem treinamento para trabalho normativa, os desafios ainda se man- cificado na NR 35 ou que não são vol-
em altura atualmente. Outros aspec- têm, o que justifica uma atualização tados para a realidade laboral do tra-
tos importantes incorporados na NR constante nos procedimentos de tra- balhador na empresa. “É ainda muito
35 são a inclusão de conceitos como a balho em altura. E eles passam, na grande a quantidade de trabalhado-
Zona Livre de Queda, Fator de Queda, visão da consultora técnica em cer- res que saem de um curso de capa-
Força máxima aplicada de 6 KN para tificação de EPI, Jussara Nery, pelo citação para trabalho em altura sem
o trabalhador que utiliza o cinturão de treinamento adequado por pessoal conhecer conceitos de Zona Livre de
segurança, análise de risco, supervi- competente e técnico, pela aplicação Queda, Fator de Queda e inspeções
são de atividades e autorização para correta de conteúdo e prática das ati- de EPI”, alerta.
trabalho em altura”, detalha. vidades em altura e pela experiência A formação, capacitação e cons-
Na esteira da norma, a tecnologia dos profissionais que atuarão na área. cientização dos empregados sobre
permitiu avanços em alguns tipos de “Atualmente, apenas os procedimen- os riscos que o trabalho em altura
trabalhos em altura, que podem ser tos de acesso por corda são previstos envolve também aparecem na roti-
evitados ou executados de maneiras em NBRs. A ABNT NBR 15595, que na da engenheira de Segurança do
mais seguras, como comenta o téc- determina procedimentos e equipa- Trabalho da Cemig, companhia que
nico industrial em mecânica, técni- mentos, e a ABNT NBR 15475, de atua na geração, transmissão e dis-
co em Segurança do Trabalho, presi- certificação e qualificação. As demais tribuição de energia elétrica, Cíntia
dente do Sintest/DF, diretor de SST atividades de trabalho em altura não Souza da Silva, como pontos a serem
da UGT/DF (União Geral dos Traba- têm esses procedimentos normatiza- transpostos. “Outro desafio é buscar
lhadores) e coordenador da banca- dos além do que prevê a NR 35. Nor- traduzir a norma de forma que os tra-
da dos trabalhadores na nova NR 35, mas específicas de procedimentos e balhadores tenham a certeza que to-
Wilton Cardoso de Araujo. “A exem- equipamentos para trabalhos em al- do o trabalho de desenvolvimento de
plo das máquinas que oferecem se- tura trariam as competências neces- métodos, Sistemas Individuais e Co-
gurança, no caso de Plataforma Ele- sárias para os profissionais estarem letivos de Proteção Contra Quedas e
vatória Móvel de Trabalho/Platafor- habilitados e capacitados para cada as demais exigências relacionadas ao
ma de Trabalho Aéreo (PEMT/PTA) nível de trabalho”, exemplifica. trabalho em altura, são feitos pensan-
e também formações para atividades Gianfranco Pampalon, que também do única e exclusivamente na segu-
rança deles”, explica.
ARQUIVO CEMIG

ATUALIZAÇÃO
Frente às questões que ainda pre-
cisam avançar, a NR 35 foi atualiza-
da com basicamente dois objetivos,
conforme previsto na AIR (Análise
de Impacto Regulatório). O primei-
ro, conforme Lumbreras, foi harmo-
nizar com as demais NRs, em parti-
cular a nova NR 1 e o PGR. O segun-
do, foi introduzir um novo anexo re-
gulamentando a construção e o uso
de escadas em conformidade com as
Normas Técnicas, em particular a
NBR 16308. “Assim, os destaques se
referem a essa uniformização, quan-
do também aprimoramos a sistemá-
Trabalho em plataformas avançou, porém há outros procedimentos ainda carentes de normatização tica de inspeção do SPQ (Sistema de

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tos adotados nas normas OSHA, além atualizados e ganharam mais desta-
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de outros pontos no corpo e nos Ane- que. “A inspeção ganha o item es-
xos”, elenca. pecífico 35.6.6 recebendo maior im-
Para o técnico de Segurança do portância. Inspeção é antecipação do
Trabalho, tecnólogo em gestão de risco, é gestão pura. E o resgate ficou
RH, pós-graduado em Psicologia Or- muito mais robusto, evidencia a an-
ganizacional e especialista em Tra- tecipação de possíveis situações que
balhos em Altura com foco no SPIQ, irão exigir resposta já conhecida cha-
Marcos Amazonas, a NR 35 atualiza- mando diretamente à NR 1”, observa.
da chega à maturidade pedindo por As alterações, para Jussara, deixa-
gestão, isto é, investimento em pre- ram o novo texto mais claro e mais
venção através de planejamento e or- prático em vários procedimentos de
ganização. “Os requisitos de gestão registros e documentações necessá-
da NR 35 pedem ‘o que deve ser feito’ rias para a execução dos trabalhos.
como, por exemplo, no item 35.6.2 e) “Podemos salientar as diretrizes para
pedindo pelo atendimento às normas informações e instruções de trabalho
Amazonas: maturidade técnicas. Como uma boa prática para ao trabalhador, as definições e regis-
amparo e aprofundamento em ‘como tros das inspeções de equipamentos
Proteção contra Quedas) e o capítu- atender os requisitos da NR 35’ reco- extremamente necessárias, o atendi-
lo sobre Emergência e Salvamento. mendo a NBR 16489”, sugere. mento às normas técnicas em vários
Também procuramos resolver dois O alinhamento com a NR 1 é o pon- contextos e os requisitos de resgate
problemas regulatórios, um com re- to alto do novo texto, na opinião de e salvamento. Outros itens importan-
lação ao uso de cordas certificadas de Amazonas. “Interpretar a NR 35 co- tes foram acrescidos como um glos-
acordo com as Normas Europeias nos mo ferramenta de operação/manu- sário com esclarecimentos importan-
trabalhos com acesso por cordas e a tenção pede por gestão”, reforça. E, tes para o bom entendimento da NR
sistemática de seleção dos pontos de neste sentido, o especialista mencio- e um anexo importantíssimo que é o
ancoragem, em linha com os requisi- na dois aspectos técnicos que foram Anexo III de escadas”, indica.

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NR 35
Anexo II sobre Sistemas de Ancora-
Processo aprimorado gens foram especificados os tipos e o
detalhamento da sistemática de uso
Revisão buscou harmonizar conceitos e requisitos com outras normas das ancoragens temporárias. “Ficou
definida a seleção dos pontos de anco-
Como em todo o processo de melho- onde na maioria das vezes, existe uma ragem pelo PLH ou trabalhador capa-
ria contínua, a NR 35 também trouxe grande carência de profissionais legal- citado de acordo com o procedimento
oportunidades de aperfeiçoamento. A mente habilitados”, explica. Por isso, elaborado pelo PLH, tirando a respon-
revisão permitiu aprimorar processos, durante este processo de revisão, foi sabilidade direta do trabalhador, que
além de resolver questões que davam ressaltado que a própria norma prevê deverá inclusive ser treinado especi-
margem para interpretações diver- a importância da Análise de Risco que, ficamente para uso desta ancoragem,
sas e que, inclusive, dificultavam a além dos riscos inerentes ao trabalho uma vez que o treinamento inicial não
aplicação de parte da norma. Quem em altura, deve considerar também o contempla essa atividade específica
afirma é o engenheiro de Segurança estabelecimento dos sistemas e pon- e de grande responsabilidade. Além
do Trabalho, gerente de Produto da tos de ancoragem. disso, deverá haver uma autorização
Firjan SESI e coordenador da banca- Marques defende que um bom trei- formal do trabalhador capacitado res-
da dos empregadores do GTT da NR namento ministrado por profissionais ponsável por selecionar os pontos de
35, representando a CNI (Confedera- proficientes, torna o trabalhador ca- ancoragem temporários”, afirmou.
ção Nacional da Indústria), Henrique pacitado para o trabalho em altura, e
Marques. Ele exemplifica citando a em condições técnicas para definição SAÚDE
publicação, em 2016, do Anexo II - do local mais seguro para fixação do Outro ponto, de acordo com o co-
Sistemas de Ancoragem. Na época, ponto de ancoragem. “Após o enten- ordenador da bancada dos emprega-
segundo Marques, foi aprovado sem dimento das representações, foi pos- dores, que apresentava oportunida-
consenso por parte da representação sível chegarmos a um consenso, on- de de aperfeiçoamento, era a forma
empresarial que todo sistema de an- de na impossibilidade de os pontos de de supervisão, que anteriormente
coragem temporário deveria ter seus fixação temporários serem definidos deixava margem para interpretação
pontos de fixação definidos por Pro- por Profissional Legalmente Habilita- duvidosa, e com a revisão da norma,
fissional Legalmente Habilitado. do, como alternativa podem agora ser o tema ficou melhor regulamentado.
“Apesar de tecnicamente ser a so- selecionados por trabalhador capaci- “Com as novas relações de trabalho
lução ideal, ao longo do tempo foi de- tado, conforme o procedimento de e diante dos avanços tecnológicos,
monstrada a inviabilidade da aplica- seleção elaborado pelo PLH”, explica. entendemos que a supervisão para o
ção desta exigência, levando-se em Essa alteração no novo texto deve trabalho em altura pode ser presen-
conta os diversos segmentos econô- conferir mais segurança no trabalho cial, semipresencial ou 100% remota,
micos, além da dificuldade de imple- em altura, de acordo com a consul- afinal, o importante não é a forma e
mentação por empresas localizadas tora técnica em certificação de EPI, sim a garantia de que a atividade em
em locais remotos, como áreas rurais, Jussara Nery. Com o incremento do altura seja realizada de modo seguro”,
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Marques: trabalhador capacitado Jussara: mais segurança Araújo: ênfase na AR e PT

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NR 35
uso ou exposição a agentes agressi-
ARQUIVO ZELL AMBIENTAL

vos e devem ser registradas as inspe-


ções iniciais, periódicas e aquelas ro-
tineiras que tiverem os elementos do
SPIQ recusados”, detalhou Pampalon.
O especialista também indica que
foram melhorados os aspectos dos re-
quisitos para emergência e salvamen-
to de trabalho em altura, que além do
disposto na NR 1 devem considerar
ainda: os perigos associados à opera-
ção de resgate; dimensionamento da
equipe; previsão de AR para os ce-
nários de emergência; consideração
do tempo estimado para o resgate e
capacitação da equipe interna, com
técnicas apropriadas, carga horária
e conteúdo em linha com os cenários
Requisitos para emergência e salvamento também foram aperfeiçoados
de emergência identificados.
assegurou Marques. PROTEÇÃO
Por parte dos trabalhadores, de Além da atenção à saúde dos traba- ADEQUAÇÕES
acordo com o coordenador da banca- lhadores que operam em altura, o no- Diante das mudanças propostas pe-
da dos trabalhadores na nova NR 35, vo texto também traz alterações em lo novo texto da NR 35, as empresas
Wilton Cardoso de Araújo, os princi- relação ao SPQ (Sistema de Proteção já vêm procurando entender quais
pais avanços da revisão passam pela Contra Quedas), que teve a inclusão adequações precisarão promover de
maior ênfase na AR (Análise de Ris- do Profissional Legalmente Habilita- imediato para atendimento à norma e
co) e PT (Permissão para Trabalho), do em segurança. O texto anterior só para garantir ainda mais segurança no
inclusive no que diz respeito ao ar- fazia referência ao profissional quali- trabalho em altura. E existe um prazo
quivamento por cinco anos, à forma- ficado em Segurança do Trabalho. No para isso. De acordo com Lumbreras,
lização dos trabalhadores que podem item sobre atendimento do SPQ às o corpo da Norma e os anexos existen-
realizar trabalho em altura, ficando normas técnicas nacionais ou na sua tes entram em vigor em seis meses. Já
clara a obrigação de aplicação de ava- inexistência às normas internacionais o novo anexo sobre escadas, em um
liação teórica e prática dos participan- aplicáveis foi criado uma exceção para ano, com alguns requisitos construti-
tes das capacitações, além dos fatores aqueles já instalados e que atendiam vos adiados para dois anos, “pois há a
relacionados à Saúde Ocupacional em às normas vigentes à época de sua fa- necessidade de adaptar o mercado a
sincronia com a nova NR 7. bricação ou construção. Houve tam- esses novos requisitos e ter as escadas
Isso porque agora, na NR 35 foi in- bém um aprimoramento, conforme o disponíveis em conformidade com os
cluído o atendimento ao item 7.5.3 auditor fiscal do trabalho aposentado requisitos normativos. Ressalte-se que
da NR 7 que diz que o PCMSO deve e consultor, Gianfranco Pampalon, na as escadas em uso poderão ser utiliza-
incluir a avaliação do estado de saú- definição de inspeção inicial, registro das durante a sua vida útil”, explicou.
de dos empregados em atividades crí- de inspeções e da sistemática e pra- Para o representante dos empre-
ticas, como definidas nesta Norma, zos de inspeção do SPIQ (Sistema de gadores na revisão da NR 35, Hen-
considerando os riscos envolvidos em Proteção Individual Contra Quedas). rique Marques, tomando como base
cada situação e a investigação de pa- Agora, a inspeção inicial é aque- a OSHA, que deu prazo de dois até
tologias que possam impedir o exercí- la realizada entre o recebimento e a 20 anos para as empresas dos Esta-
cio de tais atividades com segurança. primeira utilização do SPIQ. “Na ins- dos Unidos se adequarem aos novos
“A sincronia com a NR 7 deixa muito peção inicial, rotineira e periódica do requisitos quando da publicação da
claro o monitoramento da Saúde Ocu- SPIQ, devem observar também as re- norma americana, alguns prazos es-
pacional dos empregados envolvidos comendações do fabricante ou proje- tabelecidos no novo anexo poderiam
nas atividades de trabalho em altura, tista. A inspeção periódica deve ser ser maiores. “Mas entendo que são
inclusive constando na AR e PT. Fi- realizada no mínimo uma vez a cada satisfatórios, de forma que, tanto em-
cará evidente quem são os emprega- 12 meses, podendo o intervalo entre presas, quanto fabricantes, possam se
dos que podem e têm a aptidão para as inspeções ser reduzido em função ajustar às novas exigências quanto aos
a função”, detalhou Araújo. do tipo de utilização, frequência de requisitos gerais e específicos para es-

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cadas”, completou. As adequações na Cemig, a partir

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Diante deste cenário, o especialista da revisão da norma, segundo Cíntia,
em trabalhos em altura com foco no foram mais relacionadas à NR 1 do
SPIQ, Marcos Amazonas, diz que em- que à NR 35. “E mais relacionadas à
presas de grande porte têm buscado capacitação com a possibilidade de
sua consultoria para suporte na gestão revalidação de treinamentos, práti-
em altura. “Temos atendido e fomen- ca que não adotávamos na empresa.
tado a difusão de nossa metodologia Quanto ao novo anexo de escadas, já
para amparar empresas menores, afi- praticamos muito do que ele pede, es-
nal o trabalho em altura está presente tamos somente em fase de estudos e
em praticamente todas as empresas. O verificação se atendemos na íntegra,
trabalho em altura pede por especifi- traçando as estratégias de adequação
cidade, o que nos estimula na criação e verificando se ainda precisamos fa-
de método próprio que contempla di- zer alguma alteração ou inclusão nos
versas ferramentas”, explicou. procedimentos de trabalho e critérios
Empresas como a Cemig, que atua de especificação, compra, instalação e
na geração, transmissão e distribui- Cíntia: adequações manutenção destas escadas”, contou.
ção de energia elétrica, já estão pro-
movendo as adequações necessárias empresa do setor elétrico a implantar TREINAMENTO
para atender o que exige a norma. a utilização do cinto paraquedista em As operações da Hydro no Brasil,
Quase a totalidade das operações da todas as atividades em 2006 e, quando que envolvem atividades em telhados,
companhia conta com o trabalho em da publicação da norma, evoluímos o montagem de andaimes, manutenção
altura, em manutenção de redes aé- nosso modelo contemplando também eletromecânica, alpinismo industrial,
reas, atividades diversas em linhas as propriedades de resistência a ar- entre outras, contam com procedi-
de transmissão, manutenção e acesso co elétrico”, detalhou. Desde então, mentos internos de trabalho em altu-
em usinas, entre outras. O cenário, de Cíntia afirma que todas as atividades ra que prevêem controles ainda mais
acordo com a engenheira de Seguran- rotineiras são procedimentadas, as restritivos que a NR 35. Quem garan-
ça do Trabalho, Cíntia Souza da Silva, condições de saúde dos eletricistas te é o gerente sênior de HSE da Hy-
faz com que a companhia considere o e técnicos periodicamente avaliadas dro Bauxita & Alumina, Javier Torri-
trabalho em altura como um item im- e a Cemig investe em capacitação, co, indicando que a companhia atua
portante desde muito antes da publi- buscando formar e reciclar os empre- diretamente nas medidas técnicas e
cação da NR 35, em 2012. gados e traduzir a norma para a reali- administrativas investindo em novas
“Fomos, por exemplo, a primeira dade do setor. tecnologias para retirar o trabalhador
da exposição aos riscos. As tecnolo-
gias passam pela utilização de postes
NORMAS ESPECÍFICAS PARA EPC articuláveis para atividade de troca
Ampliando a segurança do traba- Simon afirma que, ainda neste ano, de lâmpada, utilização de robô-ara-
lho em altura, paralelo à NR 35, de sairá uma norma sobre Construção de nha (equipamento de desincrustação
acordo com o engenheiro mecânico guarda corpos temporários na cons- de tanque), alpinismo industrial que
e de Segurança do Trabalho e diretor trução civil. “E provavelmente no final dispensa a montagem de andaimes em
da WRX Engenharia, Wilson Rober- do ano teremos a norma de Fabrica- alguns casos, drone para inspeções
to Simon, existe um grupo do CB 02, ção e Instalação de Andaimes para a em telhados e outros que contribuem
de Segurança na Construção Civil da Construção Civil”, adiantou. para eliminação do risco de queda.
ABNT, desenvolvendo normas espe- De acordo com Simon, um grupo da A Hydro também investiu em um
cíficas de Equipamentos de Proteção FUMEP (Fundação Municipal de Ensi- centro de treinamento prático da NR
Coletiva. “A primeira norma a ser co- no de Piracicaba) também está traba- 35 e NR 33 (Espaço Confinado). “An-
locada em consulta pública até feve- lhando para a montagem do primeiro
teriormente, os treinamentos eram re-
reiro será sobre Redes de Segurança laboratório de testes de EPCs. “São
alizados em estruturas temporárias de
para Trabalho em Altura, dividida em normas puramente técnicas que com-
duas partes. Primeiro, sobre Requisi- plementarão as informações de pro- andaimes em tubo holl que atendiam à
tos de Fabricação de Redes de Segu- jetos dos Equipamentos de Proteção necessidade, mas demandavam, além
rança e a segunda sobre Requisitos de Coletiva com uma participação expres- de custo, tempo para montagem, ma-
Instalação de Redes de Segurança”, siva dos fabricantes de redes e ins- nutenção e desmontagem”, explica.
detalhou. Na sequência desta norma, taladores”, completou o especialista. O objetivo era encontrar uma estru-
tura onde os treinamentos pudessem

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ser ministrados com mais qualidade e

DIVULGAÇÃO HYDRO
que proporcionasse aos empregados
um leque maior de cenários reais de
trabalho. “Foi nesse momento que a
equipe realizou o inventário das ativi-
dades mais críticas em altura e espa-
ços confinados, projetando a estrutu-
ra de treinamento prático. Com essa
estrutura, foi possível também aper-
feiçoar os métodos de trabalho com a
utilização de recursos mais modernos
também adquiridos pela empresa e as
técnicas de resgate para os mais de
400 brigadistas e 26 bombeiros pro-
fissionais”, compartilhou o gerente.
De acordo com Torrico, a estrutura
é composta por um sistema robusto
Centro de treinamento proporciona a prática em cenários reais
de iluminação que permite que os
treinamentos sejam realizados tam- capacitados que ministram os treina- os recursos disponíveis são utilizados.
bém no período noturno. Foram ins- mentos sob a supervisão de um pro- Já para a brigada profissional, os trei-
talados equipamentos de resgate fissional experiente (especialista de namentos abrangem todos os cenários
como o blokforce - que opera como HSE) com expertise em trabalhos em possíveis incluindo técnicas avança-
trava quedas retrátil e quando acio- altura, espaços confinados, incêndio das de resgate”, completou.
nado um dispositivo, passa a funcio- e resgate. “Os treinamentos são foca- Em relação ao novo texto da NR 35,
nar como resgatador -, monopé, tri- dos nas atividades que os empregados o gestor considera que houve avan-
pé, trava quedas retrátil, sistema de executam. Se for trabalho em telhado, ços importantes. “Um exemplo é a
corda e dispositivos de auto resgate, a ênfase maior é no projeto de linha de possibilidade da dispensa de Análi-
além de um sistema de ventilação. A vida montado em cima do telhado. Se se de Risco e o Sistema de Proteção
programação anual de todos os trei- for em escada, utiliza-se as escadas de Individual Contra Queda quando da
namentos normativos é elaborada marinheiro, as de abrir (lance), a es- utilização de escada exclusivamente
pelo Departamento de HSE da Hy- cada extensiva de abrir de dois lances, como meio de acesso para alturas de
dro, que envia para a área de Recur- a autossustentável portátil e a escada até cinco metros, desde que em ava-
sos Humanos fazer a convocação dos de encosto. Se a atividade for acesso liação prévia não sejam identificados
trabalhadores. por corda, então utiliza-se a estrutu- riscos adicionais de queda com dife-
Conforme o gestor, os instrutores ra de acesso por corda e assim todos rença de nível”, comentou.
são profissionais da equipe de HSE

Segurança com escadas


DIVULGAÇÃO HYDRO

Novo anexo traz requisitos para construção e uso do equipamento


Considerada o ponto alto da revisão construção civil e de montagem de es-
da NR 35, a inclusão do Anexo III traz tandes de eventos, entre outras, têm
requisitos de construção das escadas negligenciado os cuidados com o uso
em conformidade com as normas téc- de escadas, utilizando escadas fabrica-
nicas, em particular à NBR 16308, e os das artesanalmente que não atendem
requisitos diferenciados para a utiliza- critérios de segurança de fabricação,
ção das escadas como posto de traba- manutenção e uso seguro”, alertou o
lho ou como meio de acesso. O uso de consultor Gianfranco Pampalon.
escadas para acesso e trabalhos em al- O novo anexo indica que as escadas
tura é muito disseminado responden- de uso individual podem ser classifica-
do pelas maiores causas de acidentes das como escada fixa vertical, escada
por queda com diferença de nível no portátil de encosto - com comprimento
Javier: capacitação para atividades críticas país. “As empresas, principalmente da fixo ou de encosto extensível - e escada

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NR 35
portátil autossustentável (veja quadro
Classificação quanto aos tipos de esca-
das de uso individual). O texto determi-
na que escadas de uso individual devem
atender a um ou mais dos seguintes re-
quisitos: ser fabricada em conformida-
de com as normas técnicas nacionais
vigentes sob responsabilidade do Pro-
fissional Legalmente Habilitado; ser
projetada por Profissional Legalmente
Habilitado, tendo como referência as
normas técnicas nacionais vigentes; ou
ser certificada, conforme normas técni- menor, onde o trabalho em altura é representante de Governo e coorde-
cas Projeto, Fabricação ou Certificação presente. Como por exemplo, a esca- nador do GTT (Grupo de Trabalho
e Instruções de uso (portáteis). da de acesso ao jirau ou mezanino de Tripartite) que revisou a NR 35, Luiz
“As escadas deverão ser submetidas um comércio. Carlos Lumbreras Rocha, a diferen-
à inspeção inicial e periódica e existe a “Nossa preocupação foi grande com ciação de requisitos quanto ao uso de
previsão de que a sua recuperação de- este tipo de cenário, onde foi consen- escadas também amolda a nova norma
ve ser realizada por empresa especia- sada a dispensa de Análise de Risco e o às realidades de ambientes de traba-
lizada ou por trabalhador capacitado. Sistema de Proteção Individual Contra lho em que a escada é utilizada apenas
As escadas portáteis também devem Quedas quando da utilização de esca- como meio de acesso e não há riscos
possuir marcação indelével com dados da como meio de acesso para alturas adicionais, simplificando a Análise de
do fabricante”, explicou Pampalon. Em de até cinco metros. Para tal, é fun- Riscos, Treinamento e Capacitação.
relação às escadas fixas verticais, outro damental que a avaliação prévia não Nesses casos, o que impacta, não só
modelo existente, o uso da gaiola não identifique riscos adicionais de queda pequenas empresas como no comér-
é mencionado na norma, portanto sua com diferença de nível, assegurando a cio, mas também grandes organiza-
instalação não é obrigatória. existência de medidas de proteção por ções, como plantas químicas ou plata-
Representante da bancada dos em- parte dos responsáveis”, afirmou. Nos formas de petróleo.
pregadores no GTT da NR 35, Henri- casos previstos de dispensa da Análi- “Esperamos também que os requisi-
que Marques afirma que uma preocu- se de Risco, também será dispensada tos construtivos e de manutenção das
pação das empresas era em relação aos a autorização para trabalho em altura, escadas acabem com a improvisação
requisitos construtivos e de projeto desde que o trabalhador seja orientado deste equipamento, que passa a ter a
das escadas portáteis já fabricadas ou com instruções básicas para utilização necessidade de ser construído de acor-
em uso. “Mas com a regulamentação da escada de uso individual. do com um projeto sob responsabilida-
do Anexo, foi aprovado que as mesmas Outro ponto do anexo de escadas é de de Profissional Legalmente Habili-
poderão ser utilizadas considerando-se que a norma prevê ainda para as es- tado, que deve observar os requisitos
sua vida útil, desde que atendam aos cadas extensíveis que elas sejam fixa- das Normas Técnicas aplicáveis, e re-
demais requisitos do Anexo. Nessa li- das em mais de um ponto. “Porém em alizada a manutenção por empresa es-
nha, os mesmos requisitos também não muitos casos, não será possível a fixa- pecializada ou trabalhador capacitado,
serão exigidos para as escadas fixas já ção da escada, e sim apenas apoiá-la, evitando muitos acidentes que ocor-
instaladas, trazendo maior segurança como por exemplo nas caixas subter- rem com o seu uso”, concluiu.
jurídica por parte de toda a cadeia en- râneas de energia, telefonia e gás em Como todo o processo de atualiza-
volvida”, justificou. que o trabalhador atua em seu interior. ção, a revisão da NR 35 também traz
Nestes casos, desde que sejam adota- oportunidade de melhorias. Seja na
CLAREZA das medidas de prevenção de aciden- harmonização aos conceitos e requi-
Um ponto importante que o Ane- tes, poderá ser dispensada a fixação sitos de outras normas, para resolver
xo trouxe, na opinião de Marques, foi da escada, permanecendo a escada pontos que geravam interpretações
maior clareza quanto à aplicação do apoiada, nestes casos, desde que ele diversas ou mesmo com a inclusão de
Sistema de Proteção Contra Quedas também esteja conectado a um Sis- determinações específicas para o tra-
em escadas quando utilizados como tema de Proteção Individual Contra balho em escadas, com a publicação de
meio de acesso. Pela redação anterior, Quedas independente durante a sua um novo Anexo. Um indicativo de que
a NR deveria ser aplicada na íntegra utilização”, completou Marques. existem muitos prevencionistas com o
para toda atividade acima de 2 metros, Para o auditor fiscal do trabalho do olhar voltado para a segurança do tra-
como no caso de empresas com risco Ministério do Trabalho e Emprego, balho em altura.

44 REVISTA PROTEÇÃO FEVEREIRO / 2023

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