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32 REVISTA
32 REVISTA PROTEÇÃO
PROTEÇÃO FEVEREIRO / 2023
NÍVEL
ELEVADO
Com a publicação da nova norma de
Trabalho em Altura, segurança deve ser ampliada
Reportagem de Marla Cardoso
“Trabalhador morre após cair de obra de segundo o Radar, 557.411 mil acidentes dos
prédio”. “Trabalhador cai de andaime e 4.767.399 registrados foram gerados por
fica ferido”. “Trabalhador morre ao cair de esta situação. Os riscos de queda em altura
altura de três metros”. “Trabalhador cai em existem em vários ramos de atividades e em
poço de elevador de grãos e fica ferido”. diversos tipos de tarefas e foi justamente
“Trabalhador cai em fosso de edifício em este cenário que motivou a publicação, em
construção”. “Trabalhador cai de telhado”. 2012, da NR 35 (Trabalho em Altura).
“Trabalhador morre em construção após cair De lá para cá, o documento evoluiu e,
de altura de 10 metros”. As manchetes sobre recentemente, ganhou um novo capítulo,
acidentes envolvendo trabalho em altura com a revisão da NR 35, publicada no dia 21
são constantes. Basta uma pesquisa em um de dezembro do ano passado pela Portaria
site de busca para encontrar mais de 1,3 MTP nº 4.218. A atualização, assim como
milhão de notícias que envolvem quedas de com outras normas que estão sendo revistas,
altura no trabalho com consequências como também teve sua origem na necessidade
ferimentos graves e óbitos. de harmonização com a nova NR 1. Mas vai
Os fatos se traduzem em números. De além. Traz, entre outras atualizações, um
acordo com o Perfil dos Acidentes de novo anexo que regulamenta a construção
Trabalho compilados pelo Radar SIT - Painel e uso de escadas, visando solucionar um
de Informações e Estatísticas da Inspeção do problema que hoje responde por muitos
Trabalho no Brasil -, a queda de pessoa com acidentes por queda com diferença de
diferença de nível aparece como a terceira níveis: a utilização de escadas no trabalho. A
situação geradora de acidentes de trabalho fase agora é de entendimento do novo texto
no país desde que os dados começaram a ser e de adequações para atender aos prazos
compilados, em 2014. Daquele ano até 2021, determinados.
FEVEREIRO / 2023 REVISTA PROTEÇÃO 33
NR 35
A publicação de uma Norma Re-
SHUTTERSTOCK
gulamentadora é um importante ins-
trumento de referência para que os
trabalhos sejam realizados de forma
segura, mas é impossível contemplar
todas as situações existentes na rea-
lidade, uma vez que muitas delas são
complexas e dinâmicas. Atividades de
telefonia, transporte de cargas por
veículos, transmissão e distribuição
de energia elétrica, montagem e des-
montagem de estruturas e plantas in-
dustriais, por exemplo, têm suas par-
ticularidades. Um fato em comum que
aproxima esses setores é que todos
têm em suas operações o trabalho em
altura e atendem, entre outras Nor-
mas Regulamentadoras, as medidas
Riscos de queda existem em vários ramos de atividades
de proteção estabelecidas pela NR
35 (Trabalho em Altura). O princípio adotado na NR 35, pu- vencionistas garantem que a Norma
Mas como garantir que um único blicada em março de 2012, tratou vem cumprindo a sua função. “Evolu-
documento pudesse contemplar uma o trabalho em altura como ativida- ímos muito nesses 10 anos, reduzindo
gama tão variada de áreas? Quando de que deve ser planejada, evitan- a taxa de acidentes fatais por queda
a elaboração da NR 35 foi aprovada do, caso seja possível, a exposição com diferença de níveis a uma razão
pela CTPP (Comissão Tripartite Pa- do trabalhador ao risco, quer seja inferior à metade de 10 anos atrás,
ritária Permanente), em novembro pela execução do trabalho de outra quando não existia a Norma”, garante
de 2010, a intenção era construir um forma, por medidas que eliminem o Luiz Carlos Lumbreras Rocha, audi-
texto pensando nos aspectos da ges- risco de queda ou mesmo por medi- tor fiscal do trabalho do Ministério do
tão de Segurança e Saúde do Traba- das que minimizem as suas conse- Trabalho e Emprego, representante
lho para todas as atividades desenvol- quências, quando o risco de queda da bancada do Governo e coordena-
vidas em altura com risco de queda, com diferenças de níveis não puder dor do GTT (Grupo de Trabalho Tri-
com anexos que tratassem as espe- ser evitado. partite) que revisou a NR 35.
cificidades das mais variadas ativi- As melhorias ao longo dessa déca-
dades. O Anexo I abordou o Acesso EVOLUÇÃO da são vistas na prática com a evo-
por Cordas. Já o Anexo II, Sistemas Mesmo que a ocorrência de aciden- lução na gestão de riscos de quedas
de Ancoragem. tes ainda seja uma realidade, os pre- nos trabalhos em altura, na visão de
Gianfranco Pampalon, auditor fiscal
do trabalho aposentado, engenheiro
ARQUIVO
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ATUALIZAÇÃO
Frente às questões que ainda pre-
cisam avançar, a NR 35 foi atualiza-
da com basicamente dois objetivos,
conforme previsto na AIR (Análise
de Impacto Regulatório). O primei-
ro, conforme Lumbreras, foi harmo-
nizar com as demais NRs, em parti-
cular a nova NR 1 e o PGR. O segun-
do, foi introduzir um novo anexo re-
gulamentando a construção e o uso
de escadas em conformidade com as
Normas Técnicas, em particular a
NBR 16308. “Assim, os destaques se
referem a essa uniformização, quan-
do também aprimoramos a sistemá-
Trabalho em plataformas avançou, porém há outros procedimentos ainda carentes de normatização tica de inspeção do SPQ (Sistema de
de outros pontos no corpo e nos Ane- que. “A inspeção ganha o item es-
xos”, elenca. pecífico 35.6.6 recebendo maior im-
Para o técnico de Segurança do portância. Inspeção é antecipação do
Trabalho, tecnólogo em gestão de risco, é gestão pura. E o resgate ficou
RH, pós-graduado em Psicologia Or- muito mais robusto, evidencia a an-
ganizacional e especialista em Tra- tecipação de possíveis situações que
balhos em Altura com foco no SPIQ, irão exigir resposta já conhecida cha-
Marcos Amazonas, a NR 35 atualiza- mando diretamente à NR 1”, observa.
da chega à maturidade pedindo por As alterações, para Jussara, deixa-
gestão, isto é, investimento em pre- ram o novo texto mais claro e mais
venção através de planejamento e or- prático em vários procedimentos de
ganização. “Os requisitos de gestão registros e documentações necessá-
da NR 35 pedem ‘o que deve ser feito’ rias para a execução dos trabalhos.
como, por exemplo, no item 35.6.2 e) “Podemos salientar as diretrizes para
pedindo pelo atendimento às normas informações e instruções de trabalho
Amazonas: maturidade técnicas. Como uma boa prática para ao trabalhador, as definições e regis-
amparo e aprofundamento em ‘como tros das inspeções de equipamentos
Proteção contra Quedas) e o capítu- atender os requisitos da NR 35’ reco- extremamente necessárias, o atendi-
lo sobre Emergência e Salvamento. mendo a NBR 16489”, sugere. mento às normas técnicas em vários
Também procuramos resolver dois O alinhamento com a NR 1 é o pon- contextos e os requisitos de resgate
problemas regulatórios, um com re- to alto do novo texto, na opinião de e salvamento. Outros itens importan-
lação ao uso de cordas certificadas de Amazonas. “Interpretar a NR 35 co- tes foram acrescidos como um glos-
acordo com as Normas Europeias nos mo ferramenta de operação/manu- sário com esclarecimentos importan-
trabalhos com acesso por cordas e a tenção pede por gestão”, reforça. E, tes para o bom entendimento da NR
sistemática de seleção dos pontos de neste sentido, o especialista mencio- e um anexo importantíssimo que é o
ancoragem, em linha com os requisi- na dois aspectos técnicos que foram Anexo III de escadas”, indica.
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Diante deste cenário, o especialista da revisão da norma, segundo Cíntia,
em trabalhos em altura com foco no foram mais relacionadas à NR 1 do
SPIQ, Marcos Amazonas, diz que em- que à NR 35. “E mais relacionadas à
presas de grande porte têm buscado capacitação com a possibilidade de
sua consultoria para suporte na gestão revalidação de treinamentos, práti-
em altura. “Temos atendido e fomen- ca que não adotávamos na empresa.
tado a difusão de nossa metodologia Quanto ao novo anexo de escadas, já
para amparar empresas menores, afi- praticamos muito do que ele pede, es-
nal o trabalho em altura está presente tamos somente em fase de estudos e
em praticamente todas as empresas. O verificação se atendemos na íntegra,
trabalho em altura pede por especifi- traçando as estratégias de adequação
cidade, o que nos estimula na criação e verificando se ainda precisamos fa-
de método próprio que contempla di- zer alguma alteração ou inclusão nos
versas ferramentas”, explicou. procedimentos de trabalho e critérios
Empresas como a Cemig, que atua de especificação, compra, instalação e
na geração, transmissão e distribui- Cíntia: adequações manutenção destas escadas”, contou.
ção de energia elétrica, já estão pro-
movendo as adequações necessárias empresa do setor elétrico a implantar TREINAMENTO
para atender o que exige a norma. a utilização do cinto paraquedista em As operações da Hydro no Brasil,
Quase a totalidade das operações da todas as atividades em 2006 e, quando que envolvem atividades em telhados,
companhia conta com o trabalho em da publicação da norma, evoluímos o montagem de andaimes, manutenção
altura, em manutenção de redes aé- nosso modelo contemplando também eletromecânica, alpinismo industrial,
reas, atividades diversas em linhas as propriedades de resistência a ar- entre outras, contam com procedi-
de transmissão, manutenção e acesso co elétrico”, detalhou. Desde então, mentos internos de trabalho em altu-
em usinas, entre outras. O cenário, de Cíntia afirma que todas as atividades ra que prevêem controles ainda mais
acordo com a engenheira de Seguran- rotineiras são procedimentadas, as restritivos que a NR 35. Quem garan-
ça do Trabalho, Cíntia Souza da Silva, condições de saúde dos eletricistas te é o gerente sênior de HSE da Hy-
faz com que a companhia considere o e técnicos periodicamente avaliadas dro Bauxita & Alumina, Javier Torri-
trabalho em altura como um item im- e a Cemig investe em capacitação, co, indicando que a companhia atua
portante desde muito antes da publi- buscando formar e reciclar os empre- diretamente nas medidas técnicas e
cação da NR 35, em 2012. gados e traduzir a norma para a reali- administrativas investindo em novas
“Fomos, por exemplo, a primeira dade do setor. tecnologias para retirar o trabalhador
da exposição aos riscos. As tecnolo-
gias passam pela utilização de postes
NORMAS ESPECÍFICAS PARA EPC articuláveis para atividade de troca
Ampliando a segurança do traba- Simon afirma que, ainda neste ano, de lâmpada, utilização de robô-ara-
lho em altura, paralelo à NR 35, de sairá uma norma sobre Construção de nha (equipamento de desincrustação
acordo com o engenheiro mecânico guarda corpos temporários na cons- de tanque), alpinismo industrial que
e de Segurança do Trabalho e diretor trução civil. “E provavelmente no final dispensa a montagem de andaimes em
da WRX Engenharia, Wilson Rober- do ano teremos a norma de Fabrica- alguns casos, drone para inspeções
to Simon, existe um grupo do CB 02, ção e Instalação de Andaimes para a em telhados e outros que contribuem
de Segurança na Construção Civil da Construção Civil”, adiantou. para eliminação do risco de queda.
ABNT, desenvolvendo normas espe- De acordo com Simon, um grupo da A Hydro também investiu em um
cíficas de Equipamentos de Proteção FUMEP (Fundação Municipal de Ensi- centro de treinamento prático da NR
Coletiva. “A primeira norma a ser co- no de Piracicaba) também está traba- 35 e NR 33 (Espaço Confinado). “An-
locada em consulta pública até feve- lhando para a montagem do primeiro
teriormente, os treinamentos eram re-
reiro será sobre Redes de Segurança laboratório de testes de EPCs. “São
alizados em estruturas temporárias de
para Trabalho em Altura, dividida em normas puramente técnicas que com-
duas partes. Primeiro, sobre Requisi- plementarão as informações de pro- andaimes em tubo holl que atendiam à
tos de Fabricação de Redes de Segu- jetos dos Equipamentos de Proteção necessidade, mas demandavam, além
rança e a segunda sobre Requisitos de Coletiva com uma participação expres- de custo, tempo para montagem, ma-
Instalação de Redes de Segurança”, siva dos fabricantes de redes e ins- nutenção e desmontagem”, explica.
detalhou. Na sequência desta norma, taladores”, completou o especialista. O objetivo era encontrar uma estru-
tura onde os treinamentos pudessem
DIVULGAÇÃO HYDRO
que proporcionasse aos empregados
um leque maior de cenários reais de
trabalho. “Foi nesse momento que a
equipe realizou o inventário das ativi-
dades mais críticas em altura e espa-
ços confinados, projetando a estrutu-
ra de treinamento prático. Com essa
estrutura, foi possível também aper-
feiçoar os métodos de trabalho com a
utilização de recursos mais modernos
também adquiridos pela empresa e as
técnicas de resgate para os mais de
400 brigadistas e 26 bombeiros pro-
fissionais”, compartilhou o gerente.
De acordo com Torrico, a estrutura
é composta por um sistema robusto
Centro de treinamento proporciona a prática em cenários reais
de iluminação que permite que os
treinamentos sejam realizados tam- capacitados que ministram os treina- os recursos disponíveis são utilizados.
bém no período noturno. Foram ins- mentos sob a supervisão de um pro- Já para a brigada profissional, os trei-
talados equipamentos de resgate fissional experiente (especialista de namentos abrangem todos os cenários
como o blokforce - que opera como HSE) com expertise em trabalhos em possíveis incluindo técnicas avança-
trava quedas retrátil e quando acio- altura, espaços confinados, incêndio das de resgate”, completou.
nado um dispositivo, passa a funcio- e resgate. “Os treinamentos são foca- Em relação ao novo texto da NR 35,
nar como resgatador -, monopé, tri- dos nas atividades que os empregados o gestor considera que houve avan-
pé, trava quedas retrátil, sistema de executam. Se for trabalho em telhado, ços importantes. “Um exemplo é a
corda e dispositivos de auto resgate, a ênfase maior é no projeto de linha de possibilidade da dispensa de Análi-
além de um sistema de ventilação. A vida montado em cima do telhado. Se se de Risco e o Sistema de Proteção
programação anual de todos os trei- for em escada, utiliza-se as escadas de Individual Contra Queda quando da
namentos normativos é elaborada marinheiro, as de abrir (lance), a es- utilização de escada exclusivamente
pelo Departamento de HSE da Hy- cada extensiva de abrir de dois lances, como meio de acesso para alturas de
dro, que envia para a área de Recur- a autossustentável portátil e a escada até cinco metros, desde que em ava-
sos Humanos fazer a convocação dos de encosto. Se a atividade for acesso liação prévia não sejam identificados
trabalhadores. por corda, então utiliza-se a estrutu- riscos adicionais de queda com dife-
Conforme o gestor, os instrutores ra de acesso por corda e assim todos rença de nível”, comentou.
são profissionais da equipe de HSE