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Artigo NOVA NR-35

Por: Ivan Bongiovani Junior

NOVOS REQUISITOS PARA O


TRABALHO EM ALTURA
Com mudanças em itens, como Acesso por Corda e construção e
utilização de escadas, entendimento e interpretação prática são os
pontos-chave para mais eficácia na proteção do trabalhador

O ano de 2022 foi marcado por muitas mudanças


na área de Segurança do Trabalho. Isso se deve
às atualizações das principais normas que regem
por Corda (Anexo I) e foi complementado pelas normas
técnicas ABNT NBR 15475 e 15595. A primeira estabelece
um regime para a qualificação e certificação de profissio-
a profissão no Brasil. Estamos falando das Normas nais de acesso por corda por um organismo certificador,
Regulamentadoras, que determinam as exigências e enquanto a segunda estabelece uma sistemática para
requisitos mínimos para garantia, prevenção, saúde e aplicação dos métodos de segurança do profissional,
segurança no ambiente de trabalho. Elas se envolvem de sua equipe e de terceiros no acesso por corda. Já o
diretamente na profissão prevencionista, como era segundo anexo refere-se aos Sistemas de Ancoragem
chamada antigamente, e empregada atualmente por (Anexo II) e pode ser utilizado como referência,
profissionais do SESMT, destacando-se o técnico e conforme as normas NR-18 e NBR 16325-1 e 2.
engenheiro de segurança do trabalho. Sabemos que
foram muitas atualizações, e se fôssemos falar de Exigências mínimas
todas, demandaria muitos dias para estudo e depois Com a nova atualização, o texto passou a incluir
as citações. Portanto, neste artigo, vamos abordar as exigências mínimas a serem compreendidas e omitidas
mudanças da Norma de número 35 (NR-35) – Trabalhos pelas empresas que executam trabalhos em altura. O
em Altura, que passou por mais uma revisão e vem novo Anexo III estabelece requisitos para a construção
recheada de novidades. e utilização de escadas, um dos maiores causadores
O mais novo texto da NR-35 – Trabalhos em Altura, de acidentes por quedas com diferenças de níveis.
foi publicado definitivamente pelo Diário Oficial da As razões para esses acidentes são constantes, mas
União (DOU) no dia 21 de dezembro de 2022, pela se destacam como falhas de fabricação e mau uso
Portaria MTP nº 4.218, após ser aprovado pela Comissão das escadas. Esse anexo foi elaborado de acordo com
Tripartite Paritária Permanente (CTPP) em sua última as normas brasileiras já empregadas para esse tema,
reunião do ano, realizada em novembro de 2022. A incluindo a NBR 16308, que é dividido em três partes:
reunião objetivou avaliar e aprovar o texto técnico
da norma que anteriormente havia sido mantido à • Parte 1: Termos, tipos e dimensões funcionais;
consulta pública em abril do mesmo ano. O Grupo • Parte 2: Requisitos e ensaios;
de Trabalho Tripartite (GTT), foi o responsável pela • Parte 3: Instruções para o usuário e marcações.
revisão do texto. O principal desafio desta revisão foi
enquadrar consonantemente o novo texto de acordo A nova norma apresenta ainda diferentes requisitos
com as outras Normas Regulamentadoras, como a nova para utilização das escadas como estação de trabalho
NR-1 e o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). ou como meio de acesso, incluindo as escadas fixas
Já havíamos falado sobre isso nas edições anteriores, verticais nas quais o uso da gaiola não é mencionado.
números 501 e 502, então vale a pena conferir e buscar Desta forma, sua instalação é explicitamente opcional, a
compreender como as NRs estão funcionando entre si. empresa tem a autonomia de decidir conforme análise
Destaco que na revisão anterior, a NR-35 contava de risco elaborada por profissional competente que,
apenas com dois anexos. O primeiro tratou do Acesso dentre suas responsabilidades, pode-se verificar as espe-

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cificações no item sobre escadas encontrado na
NR-18 . Ainda vale lembrar que a partir de agora,
todas as escadas deverão ser submetidas à
inspeção inicial e periódica, sem ignorar
o plano de manutenção que deverá
ser elaborado e cumprido, pois
caso uma escada precise de
manutenção, essa deve ser
realizada por empresa espe-
cializada ou por trabalhador
devidamente qualificado.
Po r t anto, é n e ce s s ário
conhecer o texto e entendê-lo
corretamente para que não
haja erros e se atentar ao
prazo para cumprimento das
novas obrigações. O desafio
requer dedicação, pois as novas
atualizações não se definem
apenas em escadas, muita coisa
mudou nessa versão mais recente.
Dentre as mudanças destacamos
também a padronização do Sistema de
Proteção contra Quedas – SPQ, e a ênfase
nos procedimentos de emergência e resgate,
exigindo da organização a elaboração de um
plano de resgate eficiente e o dimensionamento de
uma equipe devidamente qualificada e preparada para
atuação imediata em resposta a emergência em caso Uma simples consulta ao Obser vatório de
de ocorrências e acidentes no trabalho em altura. Isso, Acidentes Brasileiro já indica que são inúmeros
sem dúvidas, gera impacto diretamente nas empresas acidentes que acontecem por quedas de altura, e
que devem se atentar para o prazo estabelecido e se esses números aumentam ainda mais em ambientes
atualizarem, adequando seu ambiente de trabalho onde se desprezam as normas regulamentadoras
e capacitando seus trabalhadores para atender e não cuidam da segurança do trabalhador ade-
corretamente às novas exigências para prevenção e quadamente. Muitas empresas se preocupam em
segurança contra acidentes por quedas de altura. apenas possuir o papel para evidenciar as fiscali-
zações trabalhistas, mas a qualidade e segurança no
Entendimento e interpretação atendimento normativo quase sempre são ignoradas,
Quando falamos de acidentes por queda, não talvez por causa de valores, outras por falta de profis-
podemos ser ignorantes e pensarmos pequeno, sionais competentes. Contudo, não podemos dizer que
precisamos ter uma visão de risco 360° para avaliar os acidentes pararam, estaríamos mentindo, mas seria
as causas reais desses acidentes que não se resumem muita ignorância nossa afirmar que a norma regu-
apenas em quedas de altura, mas envolvem choque lamentadora não atende a necessidade real para a
elétrico, riscos derivados de trabalho em espaços segurança e saúde no trabalho brasileiro. Os acidentes
confinados, animais peçonhentos, aves de rapina, mal continuam, mas as normas regulamentadoras possuem
súbito, dentre muitos outros que irão variar de acordo um papel relevante na prevenção destes acidentes e
com a ocupação e o ambiente de trabalho. isso é o que queremos destacar neste artigo.

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Artigo NOVA NR-35

A evolução da norma regulamentadora n° 35 –


Trabalhos em altura desde sua primeira publicação,
em 2012, com o objetivo de reduzir os acidentes e não
estacionou no ponto, está sempre evoluindo conforme
a dinâmica praticada nas empresas brasileiras para
apresentar melhores medidas, exigências e reco-
mendações na busca da neutralização do acidente e
preservação da vida do trabalhador. A norma tem feito
a sua parte, o que falta hoje é o entendimento e inter-
pretação prática por parte dos prevencionistas e das
empresas brasileiras.
Sem dúvidas alguma, estamos no caminho certo,
basta considerar as três premissas iniciais da NR-35,
que se resume no planejamento, na organização e
na execução de forma a garantir a saúde e segurança
dos trabalhadores envolvidos direta e indiretamente
nos trabalhos em alturas. Tudo se deve iniciar com
planejamento que envolve o local e a forma que o
trabalho será realizado, a necessidade de supervisão,
os pontos de ancoragens, quais os equipamentos ajustadas e esclarecidas no manual. Essas informações
necessários e as condições de uso. Uma boa referência mínimas devem constar o desempenho, limites de uso,
normativa para a fase de planejamento é conhecer condições de segurança e instruções de uso correto.
e adotar os requisitos técnicos da NBR 16489 e para
o planejamento de resgate e emergência. Caso Evolução dos treinamentos
venha ocorrer algum evento adverso na empresa, As mudanças vão além dos EPI. Vale mencionar
a melhor solução é adotar as recomendações da ainda a grande evolução nos treinamentos de
NBR 16710. Concluindo o planejamento, entramos trabalhos em altura, a quantidade de novos
agora na organização do ambiente de trabalho, Centros de Treinamentos que têm surgido no Brasil
dos equipamentos, das equipes que vão atuar nas e excelentes profissionais proficientes e capazes
atividades em altura, das equipes de resgate se de interpretar e transmitir o ensinamento prático
interna ou contratada, tudo precisa ser devidamente de trabalho em altura. Destacamos também um
organizado para posteriormente e, mediante grande aprimoramento quanto à gestão, inspeção
uma análise de risco, ser autorizado a execução e instalação de sistemas de proteção contra quedas
das atividades mediante a permissão de trabalho – SPQ, incluindo o detalhamento do procedimento
elaborada pela organização. Essas premissas precisam de ancoragens temporárias e sua compatibili-
trabalhar juntas e cuidadosamente para garantir a dade ao ambiente específico de sua instalação e
segurança dos trabalhadores. deverá seguir como referência as normas OSHA;
Outro ponto considerável neste processo evolutivo melhoramos na exigência de projetos elaborados
é a melhoria na qualidade e segurança dos EPIs que por profissional legalmente habilitado (Engenharia),
se aplicam ao trabalho em altura, os quais estão hoje na determinação das inspeções iniciais, rotineiras e
muito melhores que há dez anos. Um exemplo são os periódicas do SPIQ, observando as recomendações
talabartes com absorvedor de energia de impacto, que dos fabricantes ou projetistas.
devem ser obrigatoriamente utilizados como elemento É importante frisar os cuidados para implantação
de ligação no cinturão de segurança tipo paraquedista de um sistema de proteção contra quedas por um
para retenção de queda. Os fabricantes, por exemplo, profissional legalmente habilitado e competente,
devem fornecer ao consumidor todas as informações com plenos entendimentos das dinâmicas da queda
necessárias sobre o equipamento, que precisam estar respeitando os limites dos 6 KN determinados pela

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UE (União Europeia), como valor máximo de força de Cordas) do treinamento inicial e periódico da NR-35,
frenagem (força gerada na retenção da queda) para considerando que o trabalhador do acesso por corda
fins de projeto, fabricação, ensaio e certificação de possui formação com carga horária muito maior que
equipamentos de retenção de queda de trabalhado- o treinamento da norma.
res. Esses são os fatores que interferem na tolerância O novo texto traz incluso a obrigação de procedi-
do corpo aos efeitos dinâmicos da queda e deve ser mentos para salvamento e atendimento a emergências
levado a sério elaborando um projeto técnico com de trabalho em altura, considerando os perigos
memorial de cálculo e emissão de ART – Anotação de associados à operação de resgate, o dimensiona-
Responsabilidade Técnica, por profissional legalmente mento da equipe de resgate necessária, conforme
habilitado, treinando, por fim, os trabalhado- o planejamento das atividades, o tempo estimado
res envolvidos na utilização adequada e segura do para o resgate e o emprego de técnicas eficazes a
sistema implantado. serem empregadas em um eventual resgate em altura
seguidas de equipamentos compatíveis com as técnicas
Profissional legalmente habilitado escolhidas para cada situação, com o propósito de
reduzir o tempo de resposta a emergência e o risco
A meu ver, o novo texto trouxe uma definição de trauma ortostático devido a suspensão inerte do
mais clara de responsabilidade pela capacitação, dife- trabalhador, observando que em uma situação de
renciando o profissional qualificado e profissional emergência tempo é vida, é um luxo que não temos
habilitado, assim ficou definitivamente clara a para perder. É, portanto, necessário a equipe de
necessidade de um profissional legalmente habilitado resgate estar preparada para atender a ocorrência
na responsabilidade do treinamento e capacitação seguindo os procedimentos, conforme apresentados
para trabalho em altura. A edição anterior só no plano de resgate que poderá ser incluído no PAE –
fazia referência à responsabilidade de profissional Plano de Atendimento a Emergência, de acordo com a
qualificado em segurança do trabalho, portanto, NBR 15219 ou no PGR conforme a NR-1. A formação de
evoluímos muito neste quesito, além do detalhamento resgate técnico industrial em espaço confinado e altura
em relação ao trabalhador autorizado e a autorização no Brasil têm uma norma a seguir com recomendações,
para o trabalho que ficou mais criteriosa, considerando por isso é necessário conhecer a norma NBR 16710 e
que trabalhador autorizado é aquele que se submeteu que o treinamento apresente resultados eficazes para
a sistemática de capacitação, tendo sido aprovado e que a equipe treinada tenha a capacidade de elaborar,
posteriormente avaliado suas condições de saúde em reconhecer e atender o plano de resgate para cada
que o médico especialista, após analisar o resultado frente de trabalho em altura.
dos exames, constata a aptidão para o trabalho em Melhoramos muito nos avanços normativos
altura. Essa avaliação de saúde deve seguir ao novo brasileiro, isso é algo indiscutível, mas ainda temos
item 7.5.3, no qual se exige que o PCMSO deve incluir uma estrada longa a percorrer. Não podemos parar
a avaliação do estado de saúde dos empregados em jamais, o mundo é dinâmico e se pararmos no ponto,
atividades críticas, como definidas nesta nova norma, acabaremos tropeçando e caindo. Sendo assim, sempre
considerando os riscos envolvidos em cada situação e haverá espaço para a melhoria contínua em prol da
a investigação de patologias que possam impedir o segurança e saúde do trabalhador, basta cada um fazer
exercício de tais atividades com segurança, enquanto a sua parte e colocá-la em ação.
que a autorização precisa constar a atividade específica
a ser desenvolvida pelo trabalhador, a capacitação IVAN BONGIOVANI JUNIOR
inicial a qual foi submetido considerando que deve
ser de acordo com a atividade que executará, a aptidão Diretor Técnico PREVESEG-ES
mencionada na ASO – Atestado de Saúde Ocupacional Especialista de Trabalho em Altura
e, por fim, a anuência formal emitida pela empresa. Chefe de Equipes de Resgate
Avançamos também dispensando a necessidade adm@preveseg.com.br
do Profissional Alpinista Industrial (Acesso por

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