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As normas regulamentadoras representam o principal marco da segurança

do trabalho no Brasil, e sua criação tem relação direta ou indireta com o


contexto vivenciado anteriormente. A Lei n.° 6.514, de 22 de dezembro de
1977, permitiu o estabelecimento dessas normas, substituindo o Decreto-
Lei n.° 5.452, de 1.° de maio de 1943.
Além disso, essas normas foram baseadas em outras legislações já
existentes, tal como a Lei n.° 6.514/1977, ou as convenções da OIT
(Organização Internacional do Trabalho), que priorizavam e incentivavam a
criação de normas locais para definir métodos e equipamentos
necessários para que o trabalho fosse desenvolvido de forma segura e
saudável. Assim, foi aprovada pelo ministro do Trabalho a Portaria
n.° 3.214/1978, composta por 28 normas regulamentadoras. Apesar de
terem sido criadas em 1978, as normas vêm sofrendo modificações e
atualizações ao longo dos anos, tendo em vista a necessidade de
adaptação perante os diferentes cenários organizacionais. Atualmente,
existem 37 NRs, das quais iremos ter uma visão geral.
Essas normas podem ter caráter técnico ou administrativo, sendo
aplicadas ou transversais. As de caráter técnico são aquelas que
apresentam soluções de Engenharia bastante específicas, tal como
relacionadas às máquinas, layout e proteções de corredores. Diz-se de
caráter administrativo quando se relacionam à criação de órgãos e/ou
ações de fiscalização. Algumas normas são classificadas tanto como
administrativas quanto técnicas, sendo elas as normas 4, 5, 7, 9, 20 e 23.
As demais são enquadradas em uma das classificações, de acordo com
suas especificações.
No que tange à classificação em aplicada ou transversal, as NRs definidas
como transversais são aquelas que têm vasta aplicabilidade, ou seja, se
enquadram em mais de um ramo econômico. Em contrapartida, as tidas
como aplicadas são aquelas direcionadas a ramos específicos, tal como
construção civil.
Até a NR-28, ou seja, as primeiras aprovadas dentro de uma única
portaria, no geral, têm caráter técnico e transversal, isto é, buscam propor
soluções de engenharia para solucionar problemas comuns a diversas
organizações. As demais foram instituídas complementarmente para
atender a demandas específicas.
A Escola Nacional da Inspeção do Trabalho – Enit (antigo Ministério do
Trabalho e Emprego) é ó órgão federal responsável por criar e atualizar as
normas regulamentadoras. Entretanto, antes da promulgação, são
realizadas audiências públicas, reuniões ordinárias e extraordinárias,
análises de estatísticas e dados sobre acidentes de trabalho, bem como o
estudo de normas internacionais atuais. Além disso, são consideradas as
demandas da sociedade.

A NR-1 tem caráter administrativo e transversal, e busca apresentar as


diretrizes básicas, o campo de aplicação e a definição de conceitos
comuns. Essa é a norma que define, também, a obrigatoriedade do
cumprimento dessas diretrizes, bem como não tira a obrigação das
organizações cumprirem outras legislações, tais como as de caráter
estadual e/ou municipal.

Essa norma define as responsabilidades do empregador e dos


empregados. Cabe ao empregador avisar sobre riscos existentes no
ambiente de trabalho, bem como promover condições favoráveis ao
exercício da atividade laboral, além de disponibilizar equipamentos de
proteção; bem como cabe aos empregados, além de respeitarem o
estabelecido nas NRs, acatarem os procedimentos de segurança e as
medidas adotadas pela organização.

A NR-2 refere-se à temática de inspeção prévia, porém não está em vigor,


tendo sido revogada em 2019 pela Portaria n.° 915, de 30 de julho de
2019, da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da
Economia.

A NR-3 tem caráter administrativo e transversal. Embargo e interdição


consistem em medidas de urgência, direcionadas em caso de
comprovação de circunstância de trabalho que distingue risco grave e
iminente ao trabalhador. Durante o período determinado para a
paralisação total ou parcial, os colaboradores continuarão recebendo
remuneração e, além disso, só são permitidas ações para correção da
situação constatada, desde que com as devidas proteções necessárias.

A NR-4 tem caráter administrativo, técnico e transversal, sendo uma das


normas mais essenciais, pois aborda os Serviços Especializados em
Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Como
pontos importantes dessa norma, têm-se o dimensionamento e os
profissionais envolvidos no SESMT. O dimensionamento é calculado em
função do risco da atividade e da quantidade de colaboradores.

No que tange aos profissionais que podem compor o SESMT, tem-se um


conjunto mínimo: médico do trabalho, engenheiro de segurança do
trabalho, técnico de segurança do trabalho, enfermeiro do trabalho e
auxiliar/técnico em enfermagem do trabalho. A quantidade de
profissionais que irão compor depende do grau de risco da organização e
da quantia de colaboradores, e essa relação é apresentada no Quadro II
da NR-4.

Tão importante quanto o SESMT, tem-se a Comissão Interna de Prevenção


de Acidentes (Cipa), abordada na NR-5, também de caráter administrativo,
técnico e transversal. A Cipa é uma estrutura corporativa de maior
visibilidade quando comparada ao SESMT, sendo formada por
representantes do SESMT, dos colaboradores e do empregador.

Essa comissão terá reuniões ordinárias mensais a serem realizadas


durante horário normal. É de responsabilidade da empresa fornecer
treinamento, com carga horária de:

a.8 (oito) horas para estabelecimentos de grau de risco 1;

b.12 (doze) horas para estabelecimentos de grau de risco 2;

c.16 (dezesseis) horas para estabelecimentos de grau de risco 3;

d.20 (vinte) horas para estabelecimentos de grau de risco 4.

O treinamento deve ser realizado no prazo máximo de 30 dias a partir da


data da posse. Em relação ao processo eleitoral, a convocação deve ser 60
dias antes do término do mandato anterior e, quando já existir Cipa, a
eleição deve ocorrer 30 dias antes do término do mandato.

Como função da Cipa, tem-se como objetivo a prevenção de acidentes e


doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível
permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da
saúde do trabalhador. O dimensionamento dos suplentes e efetivos dessa
comissão é feito em função da quantidade de colaboradores e dos
agrupamentos por setores econômicos, conforme estabelecido no Quadro
I da referida norma.
A NR-6 tem caráter técnico e transversal, e sua finalidade é a
de estabelecer diretrizes sobre equipamentos de proteção individual
(EPIs). O fornecimento de EPIs é de responsabilidade do empregador, e
consiste em todos os equipamentos de uso individual que têm por
finalidade proteger o trabalhador de riscos.

A NR-7 estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação do


Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). De caráter
administrativo, técnico e transversal, essa norma define requisitos
mínimos e as condições gerais para execução do PCMSO. Entre as
obrigatoriedades a serem controladas pelo PCMSO, têm-se exames, tais
como admissional, periódico, demissional, entre outros.

A NR-8 estabelece requisitos técnicos mínimos de circulação e proteção


que devem ser observados nas edificações, de modo a garantir segurança
e conforto aos que nelas trabalhem. Em decorrência disso, a técnica
é transversal.

A NR-9 aborda o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), de


fundamental importância, pois ela delimita as prevenções e os controles
dos riscos ocupacionais que são causados pelos agentes físicos, químicos e
biológicos. Ainda, essa norma estabelece todas as medidas e as
prevenções ocupacionais que devem fazer parte dos controles de riscos e
devem fazer parte do Plano de Ação.

A NR-10, de forma reduzida, tem como tema principal a segurança em


instalações e serviços em eletricidade. Com caráter técnico e transversal,
estabelece os requisitos mínimos aplicáveis às fases de geração,
transmissão, distribuição e consumo. Apesar de ser uma norma técnica, é
bastante específica por ser aplicada ao setor elétrico. Além de envolver os
trabalhadores desse setor profissional, engloba também a manutenção
segura das instalações elétricas das empresas.

A NR-11 é uma norma bastante curta e trata sobre transporte,


movimentação, armazenagem e manuseio de materiais a partir da
manipulação de elevadores, guindastes, carregadores industriais e
máquinas de transporte. Apresenta diretrizes específicas para distância
entre pranchões, distância mínima entre cargas empilhadas e paredes,
bem como disposição de sacas, entre outros aspectos.
A NR 12-é uma norma extensa, transversal e técnica, pois versa sobre
máquinas e equipamentos. Alguns pontos, a fim de exemplificar o
conteúdo desta norma, incluem:

•Indicação da carga máxima permitida em todos os equipamentos.

•Proteção para mãos em carros para transporte manual.

•Meios de transporte motorizado devem conter buzina e um cartão de


identificação, indicando o trabalhador habilitado, cuja validade é de um
ano.

O conteúdo dessa norma é valido para todas as fases de seu processo, ou


seja, nas fases de projeto e emprego de máquinas e equipamentos e,
ainda, a sua produção, importação, venda, apresentação e transferência.

Dando continuidade, as normas 13 e 14 são de caráter aplicado e técnico,


dispondo sobre caldeiras e vasos de pressão (13) e fornos (14),
respectivamente. São normas importantes devido aos elevados riscos,
porém seu estudo é específico ao contexto, tendo em vista que não são
todos os ambientes de trabalho que contém tais equipamentos.

As normas 15 e 16 são de caráter técnico e transversal, e abordam,


respectivamente, atividades e operações insalubres (seus limites de
tolerância) e atividade e operações perigosas. O trabalhador exposto a
condições insalubres tem direito a receber adicional sobre o salário-
mínimo nas seguintes proporções: 40% em caso de grau máximo; 20%, em
grau médio; e 10%, em grau mínimo de insalubridade. É importante
destacar aqui que nem todos os riscos resultam em insalubridade.

Já o que diz respeito às atividades e às operações perigosas, remetem ao


trabalhador um adicional de 30% sobre o salário, quando exercem as
seguintes atividades: armazenamento ou transporte de explosivos;
operação de escorva dos cartuchos de explosivos ou carregamento de
explosivos; detonação; verificação de denotações falhadas; queima e
destruição de explosivos deteriorados; e, nas operações de manuseio de
explosivos. Diante disso, entende-se que não há variação do adicional, tal
como ocorre para a insalubridade.

A NR-17 aborda o tema da ergonomia, um dos mais importantes


relacionados à segurança do trabalho, tendo em vista que a ergonomia é a
ciência que estuda a adaptação do trabalho ao homem, de forma a
garantir condições mais saudáveis. Assim, estabelece permissões no que
tange ao trabalho, por isso essa norma se relaciona a diversas outras,
sendo uma das normas mais articuladas. Entre os tópicos abordados, as
diretrizes englobam: transporte individual de cargas, mobiliário,
equipamentos dos postos de trabalho (tal como teclados e monitores),
condições do ambiente (como temperatura, ruído e iluminação) e
organização do trabalho.

As normas 18 a 20 são de caráter técnico e aplicadas, abordando, em


sequência, as condições e o meio ambiente de trabalho na indústria da
construção civil e explosivos e líquidos combustíveis e inflamáveis. A NR-
18 é uma norma bastante densa e específica ao setor da construção civil.

Na NR-19 são definidos os materiais ou as substâncias que se


decompõem rápido em produtos mais estáveis, com grande liberação de
calor e desenvolvimento súbito de pressão. Os líquidos combustíveis e
inflamáveis (NR-20) têm significados parecidos, o combustível é aquele em
que o ponto de fulgor está entre 60ºC e 93°C, enquanto inflamável é
abaixo de 60°C.

A NR-21 de caráter técnico e transversal relaciona-se a trabalhos, tais


como a construção de rodovias, ferrovias, hidrelétricas e mesmo nos
trabalhos em mineração ou atividades agropecuárias, cujos trabalhadores
estão isentos de proteção.

A NR-22 é aplicada e técnica, pois define diretrizes para segurança e saúde


ocupacional na mineração. Já a NR-23 trata sobre proteção contra
incêndios, sendo de caráter administrativo, técnico e transversal.

A normas 24 e 26 são de caráter técnico e transversal, abordando as


condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho e sinalização de
segurança, respectivamente. A NR-26 é sobre sinalização de segurança,
sendo de ampla aplicação (ou seja, transversal) e, a partir dela, são
estabelecidas as cores, simbologias e palavras direcionadoras de alerta e
perigo nos ambientes.

A NR-25 é de caráter técnico e aplicada, porque refere-se a resíduos


industriais, nos quais estão englobados os resíduos sólidos, líquidos e
gasosos. A NR-27 tinha por tema o registro profissional do técnico de
segurança do trabalho, porém foi revogada pela Portaria n° 262, de 29 de
maio de 2008.
A NR-28 tem caráter administrativo e transversal, pois apresenta
especificações sobre fiscalizações e penalidades em casos nos quais são
encontradas irregularidades. Como ponto de destaque dessa norma, tem-
se o prazo para recorrer igual a 10 dias, e 60 dias para a regularização
(esse prazo pode ser aumentado para 120 dias em casos específicos).

As últimas normas vieram em decorrência de falhas nas anteriores, ou


seja, a partir de lacunas e demandas. Dessa forma, apresentam-se as
normas de 29 a 36.

Quadro 2 – Normas regulamentadoras específicas: 29 a 36

NR Tema

29 Trabalho portuário.

30 Aquaviário.

31 Agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura.

32 Serviços de saúde.

33 Espaços confinados.

34 Indústria da construção, reparação e desmonte naval.

35 Altura.

36 Empresas de abate e processamento de carnes e derivados.

37 Plataforma de petróleo.

As normas de 29 a 36 são todas de caráter técnico e aplicado, com exceção


da NR-35, que também é transversal. Aqui foram citados apenas os
respectivos temas, tendo em vista que as normas são muito específicas a
determinados tipos de trabalho.
As normas regulamentadoras são o principal marco no Brasil, sendo de
caráter obrigatório a todas as organizações, tanto privadas quanto
públicas, bem como pelos órgãos públicos de administração direta e
indireta e dos Poderes Legislativo e Judiciário, cujos empregados sejam
regidos pelo sistema da CLT. A Portaria n.° 3.214/1978 instituiu 28 normas
regulamentadoras, das quais algumas já não estão mais em vigência.
Atualmente, há 37 NRs, das quais 36 estão em vigor.

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