PEÇAS AVULSAS

Jacques-Alain Miller

Revista Brasileira Internacional de Psicanálise. Opção Lacaniana nº 44, 2005.

Resenha: Nessas duas aulas de seu Curso intitulado Peças Avulsas (2004), Miller inicia seu estudo sobre
o Seminário 23, Le Sinthome, de Jacques Lacan.

Peças Avulsas, diz Miller, é o que tirou de si para apresentar, comparando com a atitude analítica
quando se pede ao analisante para entregar seu pensamento em peças avulsas, sem se preocupar com a
coerência, possibilitando assim que a contingência preceda esta última.

A peça avulsa pode ser vista como objeto pequeno a (Seminário X), que não é o todo, ela é retirada
desse todo; como uma peça que não serve mais para nada, sem sentido, é exatamente aí que ela se
presta a vários usos, como o de puro gozo (Seminário XX); ou como no Seminário XXIII, o sinthoma é
uma peça avulsa, que não tem outra função a não ser a de entravar as funções do indivíduo. Na análise
trata-se de encontrar uma função para o sinthoma.

Miller lembra que Lacan, no decorrer do seu ensino, interroga o inconsciente estruturado como uma
linguagem, na medida em que esta é sempre hipotética, uma

ficção. Propõe, então, o uso lógico do sinthoma em oposição à decifração, como busca de verdade do
sintoma, onde a interpretação visando a enunciação de uma verdade, alimentaria o sintoma.

O autor adverte ainda que se há interpretação, é para servir à redução do sintoma. Redução a um
elemento, ou a um significante, que não tem sentido, que não se liga a nada. “Entretanto, servimo -nos
do Nome-do-Pai na psicanálise, ou seja, passa-se pela decifração, passa-se pelos efeitos de verdade, mas
eles estão ordenados de acordo com um real que não tem ordem”.

Assim, a substituição da verdade pelo gozo repercute na substituição da linguagem pela alíngua.

Para finalizar, cabe por destaque que “O gozo não está no corpo como consistência, quando a
consistência está articulada à sua forma, ele não está no simbólico como furo, esse parasita vem a mais
entre o corpo e o simbólico e, se quisermos, ele os enlaça. Por essa razão Lacan pôde falar do parasita
do gozo como real”.

Palavras-chave: contingência; sinthoma; gozo; objeto a; real.

Marilice dos Santos Guerra