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Resumo artigo: A lógica das entradas em análise- Éric Laurent

I
Lacan coloca sob a mesma perspectiva afirmando que a análise termina de acordo com
o início que teve. Assim como toda a infância do sujeito pode estar resguardada pela mais
ínfima recordação infantil, encontramos também no après-coup da conclusão da análise, que
tudo já estava lá desde a primeira sessão, (o "après-coup" sugere que o impacto emocional de
um evento traumático pode não ser totalmente compreendido até que a pessoa tenha a
oportunidade de processá-lo psicologicamente ao longo do tempo).
Freud levanta a diferença entre a psicanalise e as outras formas de psicoterapia, pelo
fato de que a eficácia da primeira não se apoia sobre o poder da sugestão. O cognitivismo
dominante se contrapõe a um significante novo, a associação livre, que Freud formula como
”comunicar tudo aquilo que ocorra ao seu pensamento, ainda que se julgue secundário,
impertinente ou incoerente”.
As analises começam quando a verdade é posta em jogo nas relações de cada um com
a ordem simbólica, através do percurso do sentido dos símbolos. É a partir de quando se
coloca em jogo a verdade que os sintomas psicanalíticos podem ser diferenciados dos
sintomas médicos e reconhecidos em sua peculiaridade: para nós o sintoma analítico supõe,
pelo que tem de fundamentalmente imaginário, a representação fragmentada do corpo
introduzida na combinatórias potente da linguagem.
Estão juntas, verdade e combinatória, nessa sobre determinação mínima representada
pelo duplo sentido que não pode instalar-se senão através da linguagem que gera os
equívocos. No caso de Dora o equívoco conduzia em direção a tosse e a afonia assim como ao
significante estruturado no traço de falsidade do pai, afortunado na medida em que tem
dinheiro, mas desafortunado pois impotente.
A colocação em jogo da verdade e do equívoco parece paradoxal já que em âmbitos
diferentes do nosso, a verdade se põe em jogo através de uma redução do equívoco. O
discurso analítico, ao contrário, instaura ao mesmo tempo equívoco e verdade, uma vez que é
o equívoco que permite tomar o sintoma na combinatória da linguagem.
Por que obtemos o assentimento? E antes de obtê-lo por que estas entrevistas
preliminares? Durante as entrevistas o sujeito recusa admitir a verdade e só ao final consente a
isso. (O "assentimento" em Lacan está relacionado a como o paciente lida com as
interpretações e insights do analista durante o processo de análise. Em outras palavras, é a
reação do paciente às intervenções do analista. O paciente pode aceitar essas interpretações e
insights, ou pode resistir a eles. Essa dinâmica é importante porque pode refletir a resistência
do paciente à mudança ou ao confronto de aspectos inconscientes de si mesmo).
Em homem dos ratos, Freud transgrediu a regra de não responder á demanda do
paciente. Tanto no caso do homem dos ratos em o caso Dora, no momento do advento da
verdade aparece uma carga de gozo pelo fato de que o sujeito deixa falar, pela sua boca, a
verdade. Deixar falar a verdade pela sua boca permite Dora sistematizar os sintomas que tem
a ver com a afonia. Para o homem dos ratos deixar falara a verdade diz respeito aos temores
em relação à mulher amada; o cúmulo desse sentimento indizível é o que Lacan define como
“implicar o sujeito em sua mensagem”. Para nós a verdade se enoda como sujeito pela carga
de gozo que comporta, e aqui nos separamos do tratamento pré-psicanalitico da verdade que
põe em contraposição verdade e gozo. Na conferencia Miller sublininha que a verdade teve
sempre uma errância de impotência. Essa oposição tinha sido intuída já por Nietsche quando
se rebelou contra a impotência da verdade, ou seja, a impotência a que conduz a verdade.
Lacan nos anos 70 sublinha que as análises duram porque há um gozo interno ao
próprio processo analítico, uma implicação do sujeito na mensagem da própria verdade que
aparece, até o momento em que se coloca em ordem as coordenadas da experiência analítica.
-Bela alma Hegel
Quero destacar que o analista não pode confiar apenas em colocar em jogo a verdade,
mas ele tem que colocar em jogo também o resto que acompanha a verdade. Esse resto se
encarna no uso correto da resposta do analista à demanda do sujeito: seu não responder
introduz uma significação da verdade como horizonte ou limite da significação, mas ao
mesmo tempo, por meio do silencio, introduz o laço entre verdade e morte, entre verdade e
cadaverização de sua posição.
O analista responde através da introdução de um ponto que podemos qualificar como
vazio e ao redor do qual o discurso desliza. É esta a introdução do lugar da referência última à
linguagem: a morte, como aquilo que naquela época designava o poder da combinatória da
linguagem. O silencio do analista não é um silencio de abstenção. Nos anos 50 Lacan fala de
um silencio de pacto, não de contrato, que chama um “dom simbólico da palavra, prenhe de
um pacto secreto”. O silencio analítico de Freud que pode muito bem incluir recomendações
técnicas, mas que se mantem fundamentalmente como silencio quanto a verdade- é um
silencio ativo e o encontramos junto a inercia do que escapa à verdade e se instaura na
consistência lógica desse objeto.
O dom simbólico da palavra, o pacto analítico através do qual começam as analises, é,
de maneira indissociável, a máscara da inercia que resiste a verdade e ao poder da
combinatória: os três enodados juntos.
II
“Há muito tempo tenho enfatizado o processo hegeliano dessa inversão da bela alma
quanto à realidade que ela denuncia... Mas aqui se detém o caminho a percorrer com o outro”.
Esse texto se apoia sobre o esquema L.
O primeiro movimento do processo hegeliano em Freud consiste em fazer um percurso
junto ao outro imaginário, revelando então a lamentação de quem fala. Em seguida, se insere
outra coisa que Lacan enfatiza afirmando que Freud renuncia a um poder (ao que se deve esse
primeiro movimento); o tema fundamental de “ a direção do tratamento” é precisamente a
negação do poder. Faz um tempo, para indicar o que é e como se caracteriza o desejo do
analista, Miller afirmava que este consiste em escolher sempre a via da renúncia ao exercício
do poder para fazer atuar outra coisa. Isso poderia constituir um teste para os analistas.
Essa renúncia ao poder é o que o Lacan qualifica em “televisão” como a posição do
santo. Não somente na tradição cristã o santo é aquele que renuncia, por exemplo, à pregação,
ou à direção de consciência, para escolher a vida do silencio e de oração. Em alguns de seus
seminários Lacan se refere ao Tao para fazer entender o não-atuar, que não é de forma alguma
uma posição de passividade. A fascinação ocidental pela atividade torna difícil entender o que
é a renúncia para a além de um processo propriamente técnico. O santo que se retira da ação
sabe utilizar o que um filosofo francês chamava de “ a propensão das coisas”. Reencontramos
ai um eco da crítica heideggeriana da ação técnica: a usura de todas as matérias, inclusive a
matéria prima “homem”, em benefício da produção técnica e da possibilidade absoluta de
fabricar tudo, esta secretamente determinada pelo vazio total no qual estão suspensa a
essência e o estofo dor real. Na perspectiva da reflexão heideggeriana: é o isolamento frente a
todas as ações cujo objeto é isolar a causa secreta, melhor dizendo, o lugar da causa, o vazio
no qual o ser está suspenso. Esse estofo do real requer o que para Lacan é o estofo do sujeito:
o fantasma, palavra utilizada também por Heidegger para indicar a tela colocada sobre o
vazio.
Entre o processo hegeliano - Lacan chama de retificação subjetiva- e a renúncia ao
exercício de poder, o vazio secreto aparece em dois momentos.
O primeiro: a queda das ilusões acerca de si mesmo faz aparecer o lugar do Outro e a
demanda que parte da implicação subjetiva do sujeito, em seu próprio gozo, permanece no
eixo imaginário. No segundo momento, o vazio de gozo aparece partindo do eixo simbólico: é
o gozo que falta ao universo dos nomes próprios que designam exatamente o lugar do Outro
sobre o eixo simbólico. "Digo que é numa direção do tratamento que se ordena, como acabo
de demonstrar, segundo um processo que vai da retificação das relações do sujeito com o real,
ao desenvolvimento da transferência, e depois à interpretação, que se situa o horizonte em que
a Freud se revelaram as descobertas fundamentais que até hoje experimentamos, no tocante à
dinâmica e à estrutura da neurose obsessiva"[12]. Essa é a perspectiva na qual se orienta.
Devemos entender essa afirmação lacaniana como o significante que deve interpretar-se
somente quando a análise já desenvolveu boa parte, ou está perto do final. Isso apresenta de
entrada certa dificuldade.
A primeira tem a ver com a transferência, que para Lacan é o surgimento do sujeito
suposto saber. Me lembro do escândalo que essa definição epistêmica, que não parte da
afetividade, suscitou. É uma concepção que não é facilmente transmissível a quem não se
dedicou a um estudo preciso dos textos de Lacan, exceto se estudou teologia, porque o amor a
Deus tem muito a ver com o que não se sabe e não se pode saber e que é, assinalo, o
inconsciente.
Desde o começo de seu ensino Lacan afirma a necessidade do amor de transferência:
em "Intervenção sobre a transferência" enfatiza o prestígio que Dora haveria atribuído a Freud
se ele tivesse interpretado seu amor pela Sra. K. É a interpretação preliminar que provoca o
amor, é a interpretação justa que faz surgir o sujeito suposto saber e que provoca o amor.
Definir a transferência a partir do sujeito suposto saber permite evitar duas armadilhas: que o
analista se faça de sábio, enchendo o analisante com o uso do saber; a aparição do sujeito
suposto saber produz um efeito de verdade e comporta a suspensão do saber. É coerente com
a recomendação freudiana de suspender todo saber preliminar ao início do caso.
No início da terapia, quando o paciente começa a se encontrar com o terapeuta, o
conhecimento que ele tem causa cansaço. O paciente é forçado a pensar muito e isso o deixa
exausto por causa dos sintomas que o levaram a buscar ajuda. No caso de Dora, seus
problemas com o pai a deixaram esgotada, e no caso do Homem dos Ratos, sua crise
obsessiva o levou a Freud. A primeira coisa que precisa acontecer é transformar esse
conhecimento em algo que seja considerado verdade, em vez de apenas algo que causa
trabalho mental. Isso significa colocar o conhecimento em um lugar de descanso, como se
fosse uma preguiça, de acordo com o que Miller menciona.
A partir desse momento, é possível reconstruir o conhecimento. Às vezes, as pessoas
dizem coisas como "Gostaria de fazer um trabalho você" quando estão buscando terapia. Isso
reflete a ideia de que tudo precisa ser justificado através do trabalho, como na perspectiva
luterana. No entanto, a análise não é realmente um trabalho. É o paciente que faz o trabalho,
mas antes de começar, é preciso fazer algo importante que não envolve apenas deitar-se no
divã.
Esse processo, que é semelhante ao que Hegel descreve como interpretação, pode ser
pensado como colocar o conhecimento em um lugar de verdade. "Além disso, essa correção é
dialética, começando com o que o paciente diz para voltar a isso..." Isso pode parecer
contraditório, mas fica mais claro quando pensamos na correção e interpretação como os dois
aspectos principais do processo. Em resumo, o texto sugere que a análise não é apenas um
trabalho, mas envolve a transformação do conhecimento em algo verdadeiro e essencial, e que
essa transformação é um processo dialético que inclui a correção e a interpretação.
A pergunta que estamos tentando responder é: "Como as análises psicanalíticas
começam?". Podemos responder que elas começam quando o sujeito começa a sentir um tipo
de prazer vazio que motiva suas ações. Isso envolve o sujeito se dividir em partes e depois
voltar a essas partes, como se analisasse o que ele mesmo diz.
Em italiano, há um jogo de palavras entre "gozo" e "eu minto" que Lacan usou para
questionar como usamos a identificação na análise. Ele examinou o paradoxo do mentiroso
para entender como funciona a relação entre a identificação, o vazio e o lugar do sujeito além
de qualquer identificação. Para entender melhor esse paradoxo, é útil pensar no "eu penso"
como sendo estruturado da mesma forma que o "eu minto". Os estoicos inventaram o
paradoxo do mentiroso para complicar a ideia de universal dos aristotélicos. Eles usaram a
figura de Epimenides, um cretense que disse que todos os cretenses são mentirosos, para
questionar onde Epimenides, o cretense, se encaixa nessa afirmação. Isso levanta a questão de
como identificamos alguém quando todos são inconsistentes.
Quando o cristianismo se espalhou, as pessoas perderam o interesse pelos paradoxos,
aquelas afirmações que parecem contraditórias. São Paulo, que era um dos apóstolos do
cristianismo, mencionou que os pagãos sabiam que o que diziam não era verdade, e até um
filósofo pagão admitiu que estava mentindo. Isso é surpreendente porque São Paulo era muito
inteligente, mas faz sentido porque ele acreditava que a verdade estava em outro lugar,
especificamente em Cristo, que ele considerava a verdade absoluta. Quando a verdade é vista
dessa maneira, os paradoxos têm menos espaço.
Uma estrutura geralmente envolve definir um grupo de coisas e fazer uma afirmação
que se refere a uma delas, refletindo sobre si mesma. Por exemplo, alguém pode dizer algo
como "todos os cretenses são mentirosos", o que cria um problema, porque se um cretense diz
isso, ele está se incluindo nessa afirmação e, portanto, mentindo sobre si mesmo. Para evitar
esse tipo de situação paradoxal, algumas afirmações sobre o grupo inteiro precisam ser
proibidas.
Essa situação é parecida com o conceito de causa de si mesmo ou suicídio, onde algo
ataca a si mesmo. É como se alguém tentasse dizer algo sobre si mesmo que não fizesse
sentido. Por exemplo, quando Epimenides diz "eu minto", isso não faz sentido, porque
nenhum conceito pode ser aplicado a si mesmo de forma consistente. Há sempre uma
diferença entre "cada" (cada parte) e "um" (o todo).
Lacan faz considerações semelhantes sobre o conceito de "eu penso". O "eu penso" é
uma afirmação que inicialmente estabelece a identificação preliminar do sujeito. No entanto,
essa afirmação é falsa, porque o "eu penso" - que parece estar presente enquanto o sujeito se
identifica com os outros através dele - na realidade representa um vazio no sujeito. É o sujeito
que falta em todos os pensamentos. O "eu penso" não faz mais sentido do que o "eu minto",
porque não pode ser claramente definido. Isso demonstra a ilusão da reflexividade, e é por
isso que Lacan se interessa pela análise de paradoxos.
Quando alguém diz "eu penso", isso dá origem a um sentido de "eu sou" em relação ao
prazer ou gozo. Mas, olhando para trás, onde estava esse "eu" antes? Onde estava esse "eu"
que não podia existir no "todo" do pensamento? A primeira noção de "eu sou" (que é um
espaço vazio representado como "x") nos leva de volta ao "eu penso", mas à medida que o "eu
sou" é reintroduzido nos pensamentos, ele se torna uma identificação que se afasta cada vez
mais da ideia original e, de qualquer forma, sempre mantém a lembrança ou memória dessa
origem.
O "estado zero" do sujeito, que vem antes da afirmação "eu minto", é o mesmo que o
estado de "eu gozo". Lacan argumenta que esses estados são equivalentes e usa um jogo de
palavras em francês para mostrar isso. Ele reformula o comando "Goza!" para o qual alguém
responde com "Escuto", o que demonstra uma divisão do sujeito.
O "eu penso" é, portanto, um estágio preliminar que, de maneira paradoxal, revela um
espaço vazio onde se entrelaçam a possibilidade de representação e o estado de gozo inicial.
Lacan identifica isso como o local da função do nome próprio. Na análise, ao avançar nas
associações de palavras, esse ponto fundamental deve ser sempre considerado. É a origem
arcaica do inconsciente falante, o ponto de partida onde o sujeito só pode ser alcançado
através da exploração contínua das declarações, eliminando a necessidade de um nome fixo.
Lacan usa a metáfora de uma série para descrever o processo analítico, afastando-se de
uma visão linear. Isso permite entender como o desenvolvimento na psicanálise pode ocorrer
fora de uma progressão direta, mas ainda tem seus limites, independentemente de quantas
repetições ou iterações ocorram. No entanto, a ideia de séries infinitas com limites, que era
explorada por filósofos como Leibniz no século XVII, pode ser complexa de compreender e
posicionar corretamente.
Portanto, uma análise não começa apenas questionando a identificação imaginária,
mas também questionando a ideia universal da identificação simbólica. Peirce, um lógico
americano, critica o conceito aristotélico de universal de uma maneira diferente dos estoicos,
mas igualmente enfatiza que nenhuma definição prévia de totalidade pode impedir a
investigação pragmática. Ele cria um quadrante dividido em quatro partes, no qual ele encaixa
as quatro grandes propostas aristotélicas: a universal afirmativa, a negativa e as dos
particulares. Lacan retoma essa ideia de Peirce em sua teoria.
Peirce propôs uma ideia interessante. Ele dividiu um quadrante em quatro partes, onde
cada traço está na vertical nas casas 1 e 4. Mesmo na casa 2, onde não há traços, cada traço
ainda é vertical. Isso significa que a ausência de traços não impede que cada traço seja
vertical. Para entender isso melhor, vamos considerar a ideia de uma universal afirmativa, que
é compatível com a ausência de identificação. Isso cria uma espécie de "todo" no qual certa
área não possui uma definição positiva, mas é, na verdade, um vazio. A relação entre esse
"todo" e suas realizações cria uma separação entre a existência e o julgamento universal. Isso
é importante na lógica contemporânea.
Hillary Putnam, um filósofo americano, questionou a necessidade de definir o
universal aristotélico de antemão para incluir a possibilidade da existência. Ele argumentou
que é possível definir as existências que não se encaixam na definição do universal positivo,
mas ainda podem fazer parte da mesma série. Esse quadrante simples nos ajuda a entender o
teorema de Gödel, que afirma que, em qualquer sistema formal, sempre há verdades que não
podem ser provadas dentro desse sistema. Se considerarmos um traço vertical como um
teorema ou um conhecimento, então para encontrar todas essas verdades, precisamos incluir
uma área na qual a existência, com base nesse conhecimento já definido, não é confirmada.
Nossa ideia de sujeito permite que ele vá além dos teoremas de sua existência atual, de
sua imaginação, e alcance uma nova existência, um encontro. Dizer que o fantasma é como
um princípio básico do sujeito, reduzindo todas as suas ações a esse princípio ou a uma série
de princípios, pode levar a um erro. Se tivermos todas as possíveis ideias sobre o sujeito de
uma vez por todas, então só poderíamos dizer: "Bem, eu sou assim" e isso não levaria a
nenhum novo entendimento na análise.
É importante relacionar a ideia de que o fantasma é um princípio fundamental do
sujeito com o fato de que o que é verdade para todos, o que é válido para cada indivíduo, não
pode ser limitado apenas ao conjunto de ideias que podem ser deduzidas antecipadamente. Ao
considerar o que escapa às ideias universais, devemos permitir que o sujeito vá além das
ideias fixas de seu fantasma. É através da análise crítica do "eu penso", de uma maneira
semelhante ao que Aristóteles fazia com suas ideias universais, que tornamos logicamente
possível que o sujeito vá além de seu próprio fantasma e descubra coisas novas.
Putnam acreditava que os jogos de linguagem de Wittgenstein não resultavam na
destruição de todos os conceitos, transformando-os em meras aparências vazias. Ele
argumentava que nos jogos de linguagem, não é necessário que o conceito universal esteja
sempre presente em todas as manifestações, e não precisamos procurar a essência de um
conceito com base em uma definição predefinida.
Lacan propõe uma abordagem da psicanálise que se baseia nessa ideia moderna de
"todo", que é como o conceito universal de Aristóteles, mas em vez de ter uma lista fixa de
exemplos, permite a exploração contínua em busca da verdade. Na análise, começamos com a
extração do prazer - o vazio onde o "eu sou" reside, permitindo ao sujeito a liberação
fundamental do erotismo e sua entrada no mundo das significações, desdobrando
completamente o "todo".
Todos os discursos, especialmente os fantasmas, preservam esse espaço vazio que
secretamente estruturou todas as identificações imaginárias e simbólicas do sujeito. Espero
que tenha ficado claro que a retificação subjetiva, a interpretação e a superação do fantasma
têm a mesma estrutura subjacente.
III

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