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POTENCIALIDADES URBANÍSTICA DAS ÁREAS DE MARGENS DE RIOS INTERMITENTES: ESTUDO DE CASO DO RIO 1

ESPINAREAS NA CIDADE DE PATOS - PB

POTENCIALIDADES URBANÍSTICAS DAS ÁREAS DE MARGENS DE RIOS INTERMITENTES:


ESTUDO DE CASO DO RIO ESPINHARAS NA CIDADE DE PATOS/PB.
1.0 PROBLEMÁTICA
Na formação das cidades, encontramos vários elementos que desempenham papéis
fundamentais para sua expansão e crescimento ao longo dos anos, dentre esses elementos estão
os rios que fazem parte da paisagem urbana. No Brasil, são encontrados inúmeros exemplos de
grandes centros urbanos onde há rios em sua paisagem: São Paulo, Porto Alegre, Recife e Manaus
são apenas alguns exemplos deles, e isso não ocorre de maneira aleatória, sabendo que os rios
apresentam múltiplas funções no processo de formação das cidades. Hoje, porém, quando se trata
de planejamento urbano das cidades, os rios passam desapercebidos, tanto pelos gestores como
também pela população, e não sendo levados em consideração para o planejamento urbano, essa
situação se torna mais agravante em cidades onde seus rios urbanos são intermitentes
(temporários), isto é, rios em que o seu escoamento de águas ocorre na estação de chuvas,
presentes em regiões de clima seco como em áreas mais interioranas do nordeste brasileiro
(GATTI, 2017; CARVALHO, 2020; GORSKI,2008).
Mediante o exposto, fica claro que nas cidades, onde os rios são intermitentes, as medidas
de planejamento urbano e planos urbanísticos, em sua maioria, não costumam levar em
consideração o rio como um fator essencial na elaboração desses planos e projetos.
Consequentemente, têm-se uma perca urbanística no que diz respeito às áreas de parques lineares,
áreas verdes, áreas de recreação, praças, ambientes de convívio entre outros, ciente de que as
margens dos rios temporários dispõem de vastas extensões de espaços, que podem ser utilizadas
para projetos que elevem a qualidade de vida local. Gatti e Zandonade, (2017) afirmam que os rios,
lagos, fundo de vales e outros recursos hídricos “representam uma grande potencialidade para a
criação de espaços públicos qualificados junto ao ambiente natural” (p.60).
Dessa maneira, o planejamento urbano ao envolver essas áreas como espaços de uso
público, deve apresentar a instalação mínima de infraestrutura, garantindo assim que o seu melhor
uso ocorra, contando com espaços pavimentados que possibilitem, por exemplo, caminhadas,
ciclovias, ́ ́decks ́ ,́ mirantes, jardins, passarelas para pedestres, mobiliário urbano e iluminação
pública. Essas são algumas das ações que podem transformar os espaços naturais sem uso
(margens dos rios urbanos) em espaços utilizados pela população local, mantendo a preservação
contínua do ambiente natural (GATTI,2017; ZANDONATE, 2017).
Em concordância, Gorski (2008) declara que a relação rio-cidade apresenta aspectos
fundamentais para o planejamento urbano, visando modelos de intervenções que se tornem hábeis
em solucionar problemas e hostilidades em áreas urbanizadas. Promovendo, dessa forma, a
incorporação de áreas verdes naturais ao desenho urbano e a consequente diminuição dos espaços
impermeáveis que compõem as cidades, viabilizando estratégias para implantação de alagados
construídos, corredores verdes, jardins de chuva, canteiros pluviais, tetos e muros verdes, espaços
para parques e praças entre outros tipos de usos. Para a autora (GORSKI, 2008), buscar essa
relação entre os recursos hídricos e o meio urbano proporcionará, de maneira visível, cidades mais
vivas, seguras, sustentáveis e saudáveis, ideia essa também defendida pelos estudos do urbanista
Jan Gehl (2013).
Em vista disso, o planejamento urbano deve englobar todos os aspectos naturais e urbanos
da paisagem existente, para, então, cooperar no desenvolvimento de projetos e planos das cidades,
e jamais negligenciando a presença de corpos hídricos como os rios, independentemente de serem
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intermitentes ou perenes, mas levando em predileção a capacidade urbanística que os rios


desempenham. Com isso, as cidades estarão voltadas para os seus rios, o que difere da atual
realidade, onde a cidade está de “costas para o rio”, revelando à negligência do planejamento
urbano em não integrar os espaços urbanos ao natural (GATTI, 2017; DELIJAICOV, 1998; COSTA,
2006).
Seguindo essa linha de pensamento, Coy (2013) declara que, pelo olhar urbanístico, a
relação e interação entre o rio e a cidade são desempenhados primordialmente pelas funções que
as áreas de margens do rio desempenham ou que podem exercer na realidade do conjunto urbano,
além de como elas são inseridas no cotidiano de uma cidade.
Assim sendo, voltando os olhares para a cidade de Patos/PB, tem-se o Rio Espinharas, rio
intermitente o qual corta toda a cidade, dividindo-a em dois lados (leste e oeste), demonstrando um
grande potencial urbanístico e ambiental para a região, mas que, infelizmente, padece diante da
falta de projetos e planos urbanísticos que, além de proporcionar a interação entre a cidade e o rio,
consigam, paralelamente, reduzir o avanço da cidade sobre suas margens e minimizar o processo
de degradação decorrente do descaso pela população local no decorrer dos anos.
O rio Espinharas atualmente dispõe de uma extensa área de margem com potencial
urbanístico e paisagístico para a cidade. São 14 bairros que compõem essas margens, onde quase
todas as ruas poderiam dar acesso ao rio, sendo que a maioria se encontra fechada por muretas,
impedindo a visão dos usuários ao rio. Outro fator notável são as edificações, tanto residencial como
comercial e institucionais, que em sua totalidade estão em locais inapropriados (áreas de APP) e
com “as costas viradas para ele”, demonstrando mais uma vez a evidente falta de relação do meio
urbano com o rio.
Por isso, visando dar suporte à pesquisa, é proposto a setorização do percurso do rio em
cinco trechos subdivididos pelas pontes que fazem parte do rio e, com ela, a designação de áreas
para possíveis intervenções urbanísticas, que possam transformar a realidade urbana da cidade de
Patos e todo o seu contexto cultural, econômico e social (Figura 01).
Figura 01: Mapa de localização do Rio Espinharas com recorte dos trechos, com as áreas de
intervenção e a marcação das pontes que ligam os lados leste e oeste da cidade.

Fonte: Elaborado pelo autor (2021)


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Spirn (1995) afirma que entender e compreender como as águas se estabelecem e se


movem através da cidade, possibilitará a criação de medidas eficientes, efetivas e econômicas.
Independente de qual for a escala do projeto, seja ele de vala de drenagem, uma fonte ou um plano
para região metropolitana (SPIRN, 1995, p.161).
Dessa forma, considerando que o programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo, da Universidade Federal da Paraíba – PPGAU/UFPB –, em sua linha de pesquisa
Qualidade do ambiente construído (Linha 03), abrange estudos relacionados à formação
morfológica da cidade, seus parâmetros ambientais, sustentabilidade e qualidade dos centros
urbanos e da gestão territorial e socioambiental, observou-se a oportunidade de aprofundar o
debate e de promover novos debates sobre a temática rio-cidade em um contexto local de cidades
do semiárido brasileiro. Busca-se, desta maneira, intervenções urbanísticas envolvendo os meios
naturais com ênfase nos rios urbanos intermitentes — agente transformador e basilar das cidades
— em harmonia com o seu entorno natural com o objetivo de tornar as cidades e os rios ambientes
de vitalidade a fim de que a população faça uso sustentável, aplicando-as ao projeto de arquitetura
e urbanismo.
2.0 JUSTIFICATIVA
Os rios intermitentes fazem parte do contexto urbano de inúmeras cidades do nordeste
brasileiro e de algumas cidades do centro-oeste devido aos índices de chuvas serem baixos nestas
regiões e aumentarem em períodos específicos do ano. Esses rios, por sua vez, disponibilizam
áreas de margens que podem contribuir para formação de espaços públicos, como, por exemplo,
parques lineares, praças, ciclovias, áreas de recreação e lazer, locais de vivência, caminhada entre
outros no contexto urbano, mas essas frentes de rios acabam se tornando locais inapropriados para
o uso, degradados e desprezados pela gestão no planejamento urbano e pelos usuários da cidade.
Ademais, pela vivência na cidade Patos no sertão paraibano e o desenvolvimento de
estudos de pesquisa no Rio Espinharas e suas margens nos últimos anos, percebeu-se a
importância e a viabilidade de levantar discussões sobre a temática rio-cidade, surgindo
inquietações e questionamentos referentes às intervenções urbanísticas e ao descaso da
população em relação as áreas de margens do rio, que fazem parte da paisagem urbana da cidade
de Patos. No ano de 2020, com uma aproximação no programa de pós-graduação da UFPB –
(PPGAU), averiguou-se que essas inquietações e discussões são válidas para o cenário acadêmico
e que poderiam direcionar as cidades a uma melhor qualidade de vida e para elaboração de espaços
urbanizados com diversidades de usos. Aprofundando ainda mais a reflexão sobre a relação rio-
cidade e os processos de planejamento urbano ligados ao espaço público, qualidade do ambiente
construído, o direito a cidade, urbanidades e suas implicações na apropriação dos espaços públicos
que fazem parte da cidade.
Percebeu-se, pela problemática apresentada, que há uma correlação entre os problemas
urbanísticos da cidade de Patos e o rio urbano que faz parte de seu desenho, ou seja, muitos desses
problemas – de mobilidade, sustentabilidade, infraestrutura, saneamento básico, falta de espaços
públicos e lazer – poderiam ser resolvidos, se os gestores e a população não “virassem as costas
para o rio”, e levassem em consideração as suas margens com abundantes áreas de extensão
pertencente à malha urbana no planejamento urbano local.
Gorski (2008) defende a elaboração de planos de inserção do rio à cidade novamente,
buscando soluções urbanísticas que unifiquem a infraestrutura às condições da paisagem existente.
Em adição, Maricato (2001) considera que o planejamento urbano acarreta mudanças tanto sociais
como territoriais, sendo assim, incluso a implementação da função social da propriedade, o direito
à cidade e à justiça urbana. Portanto, os planos e diretrizes urbanísticas, em suma, são criados
tendo como objetivo à elevação da qualidade de vida da população urbana, contribuindo para um
padrão de vida mais digno a partir de espaços mais qualificados, respeitando-se os recursos
ambientais.
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Costa (2006), em seu livro Rios e Paisagens Urbanas em Cidades Brasileiras, apresenta
as ideias, expostas pelo Arquiteto Paisagista Lawrence Halprin, de que as cidades e suas paisagens
estão interligadas por fatores de cumplicidade. Halprin (apud, COSTA, 2006, p.45) ainda afirma que
as cidades mais interessantes e inteligentes são aquelas que desenvolvem uma relação harmônica
com a sua paisagem natural, onde “a nossa experiência de paisagem urbana se enriquece quando
a complexidade do sítio paisagístico se faz presente na forma e no desenho da cidade”.
Essas e outras objeções tornam-se necessárias para que a temática proposta tenha
relevância e fundamentação naquilo que se propõem, ressaltando que no cenário brasileiro
acadêmico pouco se discute sobre as áreas de margens dos rios intermitentes que formam as
cidades, podemos encontrar bastante material a respeito dos rios perenes e de suas áreas de
margens, entretanto, quando se trata de rios intermitentes e seu potencial urbanístico para a cidade,
encontramos uma lacuna considerável que pode ser trabalhada e, portanto, tornar a discursão mais
abrangente.
Por fim, recordando o compositor Paulo André Barata, que escreve “esse rio é minha rua”,
questionar as intervenções urbanísticas envolvendo as cidades contemporâneas e o papel do
arquiteto-urbanista, abre-se caminho para soluções que envolvem o tema com toda a sua
relevância, para a formação morfológica das cidades, e de seu comportamento em relação aos
meios naturais, que abrangem sua construção histórica.

3.0 OBJETIVOS
Diante do exposto, a presente pesquisa tem como objetivo geral: Desenvolver um
´´Masterplan´´ abrangendo o entorno do Rio Espinharas, na cidade de Patos-PB.
E como objetivos específicos:
⮚ Analisar as áreas de margens do Rio Espinharas, identificando os níveis de degradação no
percurso urbano do rio e caracterizando suas potencialidades;
⮚ Investigar a correlação entre os problemas urbanístico da cidade e o rio, visando, assim,
entender e caracterizar essas problemáticas a partir de indicadores de qualidade urbana;
⮚ . Identificar as potencialidades urbanísticas das margens do Rio Espinharas.
4.0 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 As margens de rios como espaços públicos.
As cidades apresentam-se em um constante processo de mudança e expansão
ocasionado, principalmente, pelo crescimento populacional em ordem exponencial. Onde, diante
desse cenário, as áreas urbanas tornam-se carentes de espaços públicos com capacidade de arcar
com as necessidades de interação social do indivíduo, como lazer, cultura, relação com a natureza,
esporte e outras demandas. Conscientes de que elas são, comprovadamente, responsáveis pela
qualificação da paisagem, devido possibilitarem vitalidade aos espaços urbanos, além de serem
influenciadores da qualidade de vida e bem-estar da população (JACOBS, 2011).
Em conformidade, Peluzio (2017) declara que, com o desenvolvimento das cidades, os
espaços públicos foram perdendo áreas e sendo substituídos por grandes edifícios comerciais e
setores que reprimem esses espaços, acarretando uma escassez de parques, praças, áreas de
vivência, áreas verdes, espaços de lazer, áreas de caminhada entre demais meios de uso que
trazem alto vigor para a cidade. O desenho urbano concede lugar as áreas ociosas e aglomerados
que, com o passar dos dias, causam sensações de estresse, de desconforto visual, e, também,
problemas auditivos, ansiedade e muitos outros danos à saúde pública.
Mediante o exposto, Pereira (2016) afirma que as margens de rios urbanos desempenham
eminente potencialidade para criação de espaços públicos, podendo suprir as problemáticas
urbanísticas geradas na cidade contemporânea, disponibilizando áreas para criação de
equipamentos urbanos, viabilizando espaços atrativos e relevantes em meio a cidade. Em
conformidade, Portas (1998) declara que o território das áreas de margens dispõe de capacidades
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urbanísticas, sociais e culturais para as cidades se reinventarem e assim se expandirem


internamente. Demonstrando a potencialidade que essas áreas apresentam em dinamizar as
cidades e proporcionar a reinserção e reequilíbrio entre o rio e a cidade do século XXI.
Ascher (2010) afirma que a “reintegração urbana às margens de rios e às frentes d’águas
não é uma tarefa simples”, mas um desafio a ser enfrentado, a fim de resgatar os bens urbanos e
desenvolver um planejamento urbano nestas áreas de margens, voltado para o pedestre, à bicicleta
e espaços de convivência e lazer. Enfatizando que tais projetos urbanos são resultantes de
parcerias entre os setores públicos e privados, demonstrando alta complexidade não apenas
financeira, mas, também, de caráter constitucional, de implantação e gestão. Consequentemente,
as dificuldades são muitas e principalmente relacionadas com a inter-relação entre todos os
envolvidos e os seus interesses.
Atualmente, temos como exemplo inúmeras cidades espalhadas pelo mundo e também no
Brasil, que buscaram realizar a reintegração na relação rio-cidade através da utilização de áreas de
margens que compõem o ambiente urbano. É visto que todo o esforço desempenhado por governos
e pela população para tornar as áreas de margens em espaços públicos acessíveis para todos foi
recompensado, ou seja, os benefícios gerados com a implantação de planos e projetos nestas áreas
transformaram a realidade urbanística de muitos. Proporcionaram qualidade de vida e bem-estar
em grandes escalas (PELLEGRINO, 2006).
Tomando como exemplo a cidade de Curitiba –PR, que, enfrentando alguns problemas de
alagamentos, criou um sistema de parques lineares em suas áreas de margens, contendo assim as
inundações e disponibilizando uma interação do usuário com o meio natural, que faz parte da
paisagem urbana. É notável que a visão do arquiteto Urbanista e então prefeito Jaime Lerner
possibilitaram uma mudança no planejamento urbano local, levando a natureza em forma de
espaços públicos para o convívio diários dos habitantes da capital paranaense (PELLEGRINO, et
al., 2006).
4.2 O Brasil e os seus rios urbanos
No Brasil, a convivência entre rios e cidades vem desde o seu descobrimento, já que muitas
cidades coloniais se formaram às margens dos rios e tiveram seu desenvolvimento proporcionado
pelos corpos hídricos, sejam eles de grande, médio ou pequeno porte, e foi a partir deles que muitos
núcleos urbanos surgiram (REIS FILHO, 2001). Os rios tinham muito a oferecer além da água em
si, serviam como fonte de alimento, controle de território, circulação de pessoas e mercadorias,
energia hidráulica, lazer, entre outras utilizações. E é dessa maneira que a paisagem natural
formada pelos corpos d’água iam transformando-se em paisagens urbanas, chegando a realidade
conturbada de muitos centros urbanos (COSTA, 2006).
Um dos exemplos de rios que possibilitaram tal desenvolvimento no Brasil é o rio Tietê,
onde na região da sua bacia hidrográfica desenvolveu-se um dos maiores centros urbanos do Brasil
e do mundo, a região metropolitana de São Paulo, nesta região formaram-se núcleos urbanos com
mais de 1.500 quilômetros lineares de rios e córregos (DELIJAICOV, 1998). O rio Tietê, como muitos
outros rios, passou por intensas transformações à medida em que as cidades cresciam e se
desenvolviam. Alterações na paisagem natural modificaram os leitos, as margens e os percursos
dos recursos hídricos, processo esse que gerou o esquecimento e degradação e, também, a
canalização de todos os rios da cidade de São Paulo. Na visão de Delijaicov (1998), o rio Tietê é
uma grande avenida interligada com ruas secundárias que, neste caso, são os rios Pinheiros e
Tamanduateí e os demais rios, com ruas de acesso, que formavam toda espinha dorsal da cidade.
A partir do desenho criado pelos rios, a morfologia da cidade foi ganhando forma, tornando possível
identificar essa ideia no próprio plano do anel fluvial da cidade de São Paulo citado no trabalho do
pesquisador Delijaicov. Mas, mesmo assim, nenhuma das contribuições feitas pelos rios foram
suficientes para evitar um acirramento de conflitos entre o meio urbano e as águas superficiais neste
território, pelo contrário, os locais dos córregos, rios e lagos da região são os pontos de maior
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expressão das consequências negativas do processo de urbanização extensivo e sem


planejamento adequado (DELIJAICOV, 1998 p. 21 e 22).
Figura 03: Rio Tietê início séc. XIX / Tietê séc. XXI

Fonte: DAEE (Departamento de águas e energia elétrica)


Outra vertente para as cidades brasileiras serem tão ligadas aos rios é a condição do Brasil
em apresentar-se como um dos países com o maior número de rios, sejam eles perenes ou
intermitentes, nas regiões do semiárido, possibilitando um desenvolvimento aguçado, ressaltando
que sua posição geográfica e climática colabora para todos esses fatores (REBOUÇAS, 2006).
Além dos rios que contribuíram na formação da região centro-oeste do Brasil, temos os
rios que formam a região nordeste, na qual foram peças fundamentais para o crescimento de várias
cidades, sendo esses rios, em sua maioria intermitentes, mas indispensáveis para o
desenvolvimento urbano. Vale ressaltar que, apesar de serem intermitentes, os rios temporários
podem sustentar uma alta capacidade urbanística pela disponibilidade de suas margens em longos
períodos do ano e também uma diversidade ecológica da fauna e flora. Por essa razão, são
necessários estudos e planos para projetos que envolvam não apenas rios perenes, mas também
os rios intermitentes que estão presentes na malha urbana de muitas cidades brasileiras e que
podem transformar e colaborar para o bem-estar de muitos (COSTA, 2014).

5.0 METODOLOGIA
Diante disso, a metodologia utilizada para a realização da pesquisa assume uma
abordagem de caráter qualitativa, o que não limita a pesquisa de ser alimentada por informações e
dados técnicos, medidas e quantificações, os quais viabilizaram compreender a formação,
desenvolvimento e desempenho referente ao cenário do objeto de estudo (GIL,2002).
Sendo assim, estabelecido os procedimentos metodológicos da pesquisa;
1. Pesquisa Bibliográfica: Tendo como bases conceituais para essa fase da pesquisa Gorski
(2008), Tucci (2008), Costa (2006), Saraiva (1999), Gehl (2013), Delijaicov (1998) dentre outros,
será feito a revisão bibliográfica utilizando o referencial teórico para elaboração do quadro teórico-
conceitual, visando estabelecer as principais afirmações sobre o tema. Proporcionando um
esclarecimento aprofundado sobre as divergências entre rio-cidade, sua importância para o
desenvolvimento urbano e aplicações urbanísticas nas áreas de margens de rios intermitentes no
cenário atual, sendo feita busca em livros, sites, revistas e artigos relacionados ao tema.

2.Configuração física da área de estudo: Nesta etapa, será realizado uma maior aproximação
com a área de estudo a partir do reconhecimento feito in loco do recorte a ser estudado, utilizando
o Google Earth para esse mapeamento. Identificando e delimitando o recorte geográfico dentro da
área de análise, tornando mais claro o campo de observação e aplicação dos indicadores de
qualidade do espaço. Ressaltando que o recorte a ser estudado do rio e suas margens está
distribuído em cinco trechos distintos entre si, onde os resultados poderão ser mais eficazes e
pontuais, possibilitando a pesquisa uma visão mais ampla e coerente sobre a influência das
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margens do rio sobre a cidade. Ainda nesta segunda etapa, será desenvolvido mapas que possam
caracterizar as áreas de margens do rio, sendo propostos os seguintes mapas: 01) uso e ocupação
do solo; 02) gabarito; 03) espaços privados e públicos; 04) mapas de densidades; 05) mapas de
fluxos e outros aspectos que possibilitaram a criação de quadros e gráficos, com o diagnóstico da
área de estudo. Enfatizando que serão utilizados software como AUTOCAD, Dinâmica EG, OGIS e
Sintaxe Espacial para criação dos mapas conceituais.
3. Etnografia Urbana: Sendo um método de trabalho extraído da antropologia, a etnografia urbana
traz como possibilidade a aproximação com a dinâmica urbana e, de igual modo, com as
sociabilidades nas cidades contemporâneas. Dessa forma, apoiado nos estudos de Magnani
(2002), evidenciando a etnografia relacionada aos estudos da cidade, será oportuno para a
pesquisa as questões voltadas à cidade contemporânea e seus espaços público. Tal procedimento
tem por intuito alcançar a diversidade dos usos e apropriações dos espaços públicos em área de
margens de rios urbanas. Ao adotar o método da etnografia urbana, propõe-se buscar uma
abordagem denominada por Magnani (2002) de “olhar de perto e de dentro”, desenvolvidos a partir
dos atores sociais envolvidos. É uma visão que nos possibilita reaver os conceitos Lefebvriana, isto
é, investigando de um lado os atores e suas atividades, e de outro, a paisagem na qual essas
atividades são realizadas.
4. Elaboração de uma Master Plan: Sendo uma ferramenta do planejamento urbano, o Master
Plan, auxilia na dinâmica de aplicação dos espaços públicos e apropriação de todos eles. Tendo
como fim último nesta pesquisa, nortear e organizar as decisões urbanísticas que devem ser
tomadas em relação às margens do rio Espinharas no recorte em que se estuda. Definindo, por
assim dizer, uma possível proposta de projeto que permita a compreensão do produto final e sua
demonstração aos seus usuários.
CRONOGRAMA DE ATIVIDADE
2021 2022 2023

ATIVIDADES 3° TRIM. 4° TRIM. 1° TRIM 2°TRIM 3° TRIM. 4° TRIM 1° TRIM 2°TRIM

Revisão bibliográfica

Levantamento/análise

Caracterização das áreas de


estudo

Análise das áreas do recorte I


(Trecho 01 ao 02)

Avaliação das áreas de


recorte

Análise das áreas do recorte II

Avaliação das áreas de


recorte (Trecho 04 ao 05)

Sistema qualitativo dos dados

Análise parcial dos dados

Qualificação da dissertação

Análise final dos dados

Fechamento da pesquisa

Defesa da dissertação
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REFERÊNCIAS
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