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O CIDADÃO DE PAPEL – GILBERTO DIMENSTEIN

O Cidadão de Papel: A infância, a adolescência e os Direitos Humanos no Brasil, do jornalista Gilberto


Dimenstein foi ganhador do Prêmio Jabuti 1994. O livro surgiu da iniciativa do autor para abordar em sala
de aula e discutir assuntos de uma linguagem de fácil entendimento para os jovens sobre assuntos sérios.
Resenha:
Em seu clássico livro “O cidadão de papel”, Gilberto Dimenstein falou de Direitos Humanos no Brasil dos
anos 90. Para o jornalista, apesar do otimismo gerado pela redemocratização do país, a parcela pobre da
população era composta de “cidadãos de papel”. Os direitos previstos no papel dificilmente chegavam a
essa população marginalizada, esquecida, abandonada:
Em janeiro de 1992, o Datafolha, instituto que revela as tendências da opinião pública, fez uma pesquisa
sobre esse perigo. Entrevistou um grupo de adolescentes que foi ao Hollywood Rock. A maioria era a favor
da pena de morte. Isso revela mais um desejo de vingança do que de justiça.
(…) A descoberta das engrenagens é a descoberta do desemprego, da falta de escola, da inflação, da
migração, da desnutrição, do desrespeito sistemático aos direitos humanos. Com essa comparação, vamos
observar como é a cidadania brasileira, que é garantida nos papéis, mas não existe de verdade. É a
cidadania de papel. (DIMENSTEIN, Gilberto. 1995, pg. 8).
Cidadão de papel, Constituição de papel:
A Constituição Federal de 1988 marcou o período de redemocratização no país, após nebuloso,
sangrento, período totalitário. Ela é considerada pela doutrina uma Constituição: Social, dirigente,
compromissária, promissora e aberta ao futuro (DA CUNHA JR, Dirley, 2014, pg. 119).
O processo penal, em concomitância com as políticas de Segurança Pública, são, sem dúvida, as esferas
que tem colecionado as maiores violações ao texto constitucional.
As políticas de Segurança Pública que mais causam insegurança pública não são um fenômeno inédito
na história do país. Apesar das notícias alarmantes de execuções sumárias de cidadãos por parte de
agentes do Estado, o problema aumentou em números, mas não é recente. Na década de 90, Dimenstein
alertou:
“Para se ter uma ideia da dimensão dessa guerra, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação
Brasileira de Imprensa (ABI) e Procuradoria Geral da República prepararam, em 1992, um relatório sobre a
violência policial em São Paulo. Em 1981, a Polícia Militar de São Paulo matou trezentas pessoas. Em 1988,
registrou-se pouca alteração: 294. Mas em 1991 houve um extraordinário salto, chegando a 1.140. Nos
primeiros meses de 1992 foram 752. Isso dá uma média de 125 mortes a cada mês.(DIMENSTEIN, Gilberto.)
Apenas a título de comparação, a polícia alemã matou a tiros 14 pessoas no ano de 2017:
A polícia da Alemanha matou 14 pessoas e feriu outras 39 em 2017, segundo dados da Academia Alemã
de Polícia divulgados nesta sexta-feira (29/06). A polícia alemã disparou armas de fogo 75 vezes no ano
passado, ou seja, uma vez a cada cinco dias. Das 14 mortes, 13 resultaram de tiros disparados por policiais
que agiram em defesa própria ou para defender pessoas em situações de risco à vida. A outra morte resultou
de um tiro disparado durante a tentativa de fuga de um suspeito. (…) No Brasil, dados de 2016 do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública revelaram 4.222 mortes em decorrência de ações das Polícias Civil e Militar,
incluindo mortes por armas de fogo. Nos Estados Unidos, segundo o jornal Washington Post, a polícia matou
a tiros 987 pessoas em 2017.
Constituição de papel – “O direito de ter direitos é uma conquista da humanidade.”
Voltando à Constituição, vemos que o artigo 5º, que elenca os direitos individuais e coletivos
fundamentais, protegidos por cláusula pétrea, ficou apenas no papel. Em especial o direito à vida e a
proibição da pena de morte. Outro exemplo dessa Constituição de papel é o disposto no arts. 67 e 68:
Art. 67. A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da
promulgação da Constituição.
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
De 1988 até hoje, as populações indígenas e quilombolas não tiveram suas demarcações de terras
integralmente reconhecidas pela União, num desrespeito flagrante ao texto constitucional.
De 1988 até hoje, já tivemos 99 emendas ao texto constitucional. Não vamos entrar no mérito da análise
de cada uma dessas emendas; apenas devemos observar que se muda o texto constitucional a qualquer
pretexto.
A Constituição de 1988, mesmo com todas as suas discutíveis emendas, é um texto forte, fruto da luta
pela redemocratização do país, com um extenso rol não taxativo de direitos fundamentais. É uma
Constituição feita de acordo com o que se esperava de um moderno Estado Democrático de Direito. Cabe
aos operadores do Direito defender a aplicação e a PERMANÊNCIA desse documento fundamental para
um país que se quer democrático.
REFERÊNCIAS: DA CUNHA JUNIOR, Dirley da. Curso de direito constitucional.
FRASES DE GILBERTO DIMENSTEIN

• O Brasil é uma nação de espertos que reunidos, formam uma multidão de idiotas.
• Só existe opção quando se tem informação...Ninguém pode dizer que é livre para
tomar o sorvete que quiser se conhecer apenas o sabor limão.”
• A melhor escola é aquela que ajuda o aluno a encontrar sua vocação e transformá-
la em habilidade.
• Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la.
• Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios de cidadania.

Mais uma obra de Gilberto Dimenstein:


O CIDADÃO INVISÍVEL

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