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Teorias e Práticas do Património | Frequência

I- Tipologias do Património

1_ Património Natural:
1.1_ Património Vegetal (flora/florística) e Animal (fauna/faunística) – Parque
Natural de Peneda-Gerês
1.2_ Património Hídrico/Hidrológico – Património Hídrico e Natural do Luso
1.3_ Património Geológico/Geomorfológico/Mineral - Complexo Metamórfico
da Foz do Douro
1.4_ Património Genético

2_ Património Cultural (móvel-imóvel e material- imaterial):

2.1_ Património Arqueológico – Parque Arqueológico do Vale do Côa


2.2_ Património Histórico – Centro Histórico do Porto
2.3_ Património Arquitetónico – Estação de São Bento
2.4_ Património Artístico
2.4.1_ Pictórico
2.4.2_ Escultórico
2.4.3_ Teatral
2.4.4_ Fotográfico
2.4.5_ Cinematográfico
2.4.6_ (Etno-) Musical
2.4.7_ Cerâmico
2.5_ Património Etnográfico – Festa de São João no Porto

II – Definição do Património Natural

Designa algo que possui:

 Características físicas, biológicas, geológicas extraordinárias;


 Habitats de espécies de animais ou vegetais ameaçadas;
 Áreas de grande valor do ponto de vista científico e estético ou do ponto
de vista de conservação.

O Património Natural é constituído por todo o espólio acumulado ao longo dos


anos pela natureza. A singularidade de determinados espaços onde a atividade humana

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não se faz sentir merece em muitas situações a classificação de património classificado.
O Património Natural consiste em formações físicas e biológicas que, do ponto de vista
estético e científico, detêm grande valor. Estas mesmas formações tratam-se de áreas
delimitadas que constituem o habitat de espécies de animais ou vegetais que deve ser
preservado.

Dentro do Património Natural podemos encontrar:

 Património Vegetal e Animal;


 Património Hídrico/Hidrológico;
 Património Geológico/Geomorfológico/Mineral;
 Património Genético.

A consciência da importância do património mundial para a humanidade fez com


que se adotasse políticas internacionais e nacionais da conservação da natureza (ex:
Convenção sobre a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural). Nesta
convenção expressa-se a necessidade de se preservar o equilíbrio entre ambos os
patrimónios (2º artigo define quais os elementos a ser considerados património natural).

A Conferência Geral da Unesco, reunida em Paris de 1972, constatou que os


patrimónios naturais e culturais estão cada vez mais ameaçados de destruição, não só
pelas causas tradicionais de degradação, mas também pela evolução da vida social e
económica. Considerando que a degradação ou desaparecimento destes tipos de
património constituem um empobrecimento do património e que tendo em conta a
necessidade da sua preservação adota-se a Convenção de 1972.

Segundo o art.º 2 da Convenção de 1972, as categorias consideradas como


património natural são:

 Monumentos naturais – Pegadas de Dinossáurios de Ourém/Torres Novas;


 Formações geológicas e fisiográficas e áreas delimitas – devem constituir
o habitat de espécies animais e vegetais em risco (Parque Natural Peneda
Gerês)
 Locais de interesse naturais ou zonas naturais.

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III – Definição de Património Cultural

Património Cultural designa um monumento, um conjunto de edifícios ou lugar


com valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico e antropológico.

Não é um conceito fechado, é formado por bens culturais que a História legou às
nações e sociedades e também por aqueles bens que se criam no próprio presente, e que
em ambos os casos se revestem de importância histórica, científica, simbólica ou estética.

Pode-se definir como herança recebida pelos nossos antepassados e que se tornou
no testemunho da sua existência, da sua visão do mundo, da sua forma de vida e de existir.

Segundo a lei portuguesa, são “todos os bens que, sendo testemunhos com valor
civilizacional, cultural e/ou portadores de interesse cultural relevante, devem ser objeto
de especial proteção e valorização”.

De acordo com a UNESCO, as categorias consideradas no património cultura l


são:

 Os monumentos – obras arquitetónicas, de escultura ou de pintura


monumentais, elementos de estruturas de caráter arqueológico, e grupos de
elementos com valor universal excecional do ponto de vista da história, da
arte ou da ciência. Exemplo: Mosteiro da Batalha.
 Os conjuntos – grupos de construções isoladas ou reunidos que, em virtude
da sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor univers a l
excecional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência. Exemplo:
Centro Histórico do Porto.
 Os locais de interesse - obras do homem, ou obras conjugadas do homem
e da natureza, e as zonas, incluindo os locais de interesse arqueológico, com
um valor universal excecional do ponto de vista histórico, estético ,
etnológico ou antropológico. Exemplo: Paisagem Cultural de Foz Côa.

A lei específica, nomeadamente, os seguintes: a língua portuguesa, os bens


históricos, arqueológicos, arquitetónicos, linguísticos, documentais, artísticos,
etnográficos, científicos, sociais, industriais, técnicos, e os bens matérias que constituam
parcelas estruturantes da identidade e da memória coletiva portuguesa.

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O património cultural pode dividir-se em duas grandes categorias: o tangíve l
(material) e o intangível (imaterial).

IV – A Doutrina do Património

Organismos Internacionais:

 UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e


a Cultura.
 ICOMOS – Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional de
Monumentos e Sítios.
 Conselho da Europa.

Organismos Nacionais:

 GDPC - Direção Geral do Património Cultural.

Documentação:

 Cartas – definem princípios e conceitos sobre determinadas matérias.


 Convenções – documentos jurídicos que comprometem os Estados.
 Recomendações – definem princípios orientadores da política.

Legislação Internacional:

 Carta de Atenas (1991, Sociedade das Nações) – conservação e restauro


dos bens culturais.
 Convenção de Haia (1954, UNESCO) – proteção dos bens culturais em
caso de conflito armado.
 Carta de Veneza (1964) - conservação e restauro, autenticidade nas
intervenções e novas categorias de bens a preservar (não só um
monumento isolado, mas também os centros históricos, património
industrial, jardins históricos, paisagens culturais).
 Convenção do Património Mundial (1972, UNESCO) – proteção ao
património mundial, cultural e natural.
 Carta do Turismo Cultural (1976, ICOMOS).

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 Apelo sobre a Arquitetura Rural e Ordenamento do Território (1976,
Conselho da Europa) – sobre a salvaguarda da arquitetura rural e a sua
paisagem.
 Carta de Florença (1981, ICOMOS) – salvaguarda dos jardins
históricos.
 Convenção de Granada (1985, Conselho da Europa) – salvaguarda do
património arquitetónico da Europa.
 Carta sobre o Património Construído Vernacular (1999, ICOMOS).
 Carta para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (2009,
UNESCO).

Legislação Nacional:

 Lei n.º 13/85 – sobre o património cultural português.


 Lei n.º 107/2001 – bases da política e do regime de proteção e valorizaç ão
do património cultural.
 Decreto-lei n.º 139/2009 – salvaguarda do património cultural imaterial.

Carta de Atenas (1931, Sociedade das Nações)

Surge como uma consequência direta da 1.ª guerra mundial.

Evidencia-se a importância da escolaridade na educação, pois esta é responsável


por incutir à população a valorização do respetivo património.

Apesar da Carta se referir exclusivamente aos monumentos artístico-históricos,


pode-se deduzir a extensão do respeito pelos bens pitoresco e paisagísticos.

Define:

 Os restauros, quando inevitáveis, deverão respeitar a obra histórica e


artística do passado, sem excluir estilos de qualquer época.
 A utilização dos monumentos segundo os fins para que foram projetados
inicialmente ou, pelo menos, o seu uso deve respeitar o seu caráter
histórico ou artístico

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 O interesse da coletividade sobrepõe-se ao interesse privado: deve ter-se
em conta o sacrifício acrescido, exigido aos proprietários, na ótica da
preservação do bem comum.
 Devem ser respeitados o caráter e a fisionomia das cidades, sobretudo nas
proximidades dos monumentos.
 É aceite o emprego judicioso de matérias e técnicas modernas para a
consolidação de edifícios antigos.
 Tomada de consciência das ameaças a que cada vez mais estão sujeitos os
monumentos, pelo que é necessária a colaboração de especialistas de
diferentes áreas: físicos, químicos, biólogos.
 A conservação dos monumentos exige uma cooperação intelectua l
universal e deverá constituir um objetivo educacional para a juventude.

Carta de Veneza (1964)

Resulta do II Congresso de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos.

Consagra um novo conceito de monumento que passa a integrar, não só a criação


arquitetónica isolada, como também conjuntos urbanos ou rurais representativos de uma
civilização, de um movimento significativo ou de um acontecimento histórico.

Relativamente ao restauro, esta carta estabelece princípios ainda hoje vigentes,


apesar das recentes conceções dinâmicas do património, que integram novas categorias
de bens a preservar exigirem novas abordagens para as intervenções a realizar.

Define:

 O restauro tem por objetivos conservar e revelar os valores estéticos e


históricos do monumento e baseia-se no respeito da substância antiga e de
documentos autênticos.
 O restauro será sempre precedido e acompanhado de investigaç ão
arqueológica e histórica do monumento.
 Admite-se a utilização de técnicas modernas e de conservação cuja
eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e garantido pela
experiência.

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 As contribuições válidas de todas as épocas na edificação de um
monumento devem ser respeitadas.
 Os elementos destinados a substituir partes destruídas (ou em falta) devem
integrar-se harmoniosamente no conjunto, distinguindo-se, contudo, das
partes originais.

Carta de Florença (1981, ICOMOS/IFLA) – Jardins Históricos

Deu corpo às preocupações sobre este “novo património”, procurando, assim,


completar a Carta de Veneza, neste domínio em particular.

A especial natureza dos jardins – composições arquitetónicas cujo material é


predominantemente vegetal, consequentemente vivo, e, como tal, efêmero e renovável –
aconselha à clarificação de regras doutrinárias para a sua preservação e valorização,
diferentes dos restantes monumentos arquitetónicos.

Lei n.º 107/2001 – bens que integram o património português

Estabelece as bases da política e do regime de proteção e valorização do


património cultural.

Define:

 Bens imateriais que constituem elementos identificativos que constitue m


a identidade da memória coletiva portuguesa.
 Quaisquer outros bens que sejam considerados pela autoridade de
convenções internacionais.

Tarefas do Estado:

 Salvaguardar e valorizar o património no seio da comunidade.


 Promover e transmitir às gerações futuras a herança nacional.
 Deve valorizar e proteger o património pois assume-se como um
instrumento de dignidade do ser humano.
 Pode celebrar contratos com autarquias, particulares e outras identidades
tendo como objetivo a valorização e preservação dos bens culturais.

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V – Critério de Classificação do Património

Critérios gerais:

Históricos e culturais - Estes possuem grande significado histórico e também uma


especial simbologia para um país e as respetivas populações e constituem a memória da
fixação humana, das suas atividades artísticas, económicas, habitacionais num dado
espaço e período. Para além disto, devem ser a expressão de um movimento, de uma
tendência ou de uma corrente arquitetónica, arquitetónica- urbanística ou paisagística com
importância a nível nacional ou internacional e devem ter exercido uma influê nc ia
considerável num certo período ou região.

Estéticos e Sociais - Estes destacam-se pelas suas qualidades estéticas e pela sua
relação com o meio envolvente. Ilustram ainda um estado social evolutivo da intervenção
humana, sem prejuízo desse meio, ou seja, denota-se uma preocupação para com a
intervenção do Homem na modificação do espaço. Por fim, são exemplares da
coexistência ou sobreposição de diferentes crenças ou tradições nesse espaço.

Técnicos e Científicos - Estes destacam-se pelas conceções arquitetónicas e


urbanísticas, individual ou conjuntamente consideradas. São também evidenciados pelas
técnicas e matérias utilizadas independentemente de se tratar de um monumento ou de
conjuntos “eruditos” ou “populares” e se encontrem em áreas urbanas ou zonas rurais.

Critérios complementares:

Integridade - Assumem, sem prejuízo fundamental, exigências evolutivas


determinadas pelos próprios materiais, técnicas e funções ou pelo sentido do lugar.

Autenticidade - Devem manter, ao longo dos tempos, valores originais, ou cujos


restauros, companhias de conservação ou de eventual conclusão, tenham correspondido
a documentação detalhada, e não tenham destruído ou não se tenham sobreposto à
edificação, função ou enquadramento originários. Devem ainda conservar-se como
testemunho civilizacional, em conjuntos, embora se encontrem atualmente desabitados.

Exemplaridade - Devem ser exemplares arquitetónicos, arquitetónica s-


paisagísticos ou urbanísticos, raros, únicos e excecionais no seu contexto espácio-
temporal.

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VI – Valores geralmente atribuídos ao Património Cultural

Valor Histórico – assenta na rememoração que o bem cultural surte numa época.
Estimulam a nossa memória coletiva sobre o passado, num tempo distinto da vida
quotidiana.

Valor Estético-Artístico – Na procura de uma definição de belo, esta categoria


surge, frequentemente, associada ao útil, isto é, verifica-se uma preocupação sobre a
rentabilidade política e socioeconómica do bem cultural.

Valor de Antiguidade – Influi sobre os bens culturais mais antigos. Por não
necessitar de especiais conhecimentos históricos, é um valor mais democrático, para o
qual é dispensável o conhecimento de especialistas.

Valor da Atualidade ou Contemporaneidade – salienta a utilidade dos elementos


patrimoniais culturais, em funcionamento das necessidades modernas.

Valor Documental - Pode ser atribuído a bens que registam o conhecimento com
o objetivo de preservá-lo, quer seja por meios sonoros, bibliográficos, audiovisua is,
informáticos, etc.

Valor Etnográfico (antropológico) – Expressa a relevância de um bem cultura l


como meio representativo de modos de vida, expressa igualmente significados simbólicos
das identidades culturais de comunidades.

VII – Ameaças ao Património

As ameaças ao património dividem-se em duas vertentes. Estas tanto podem ser


naturais como podem ser provocadas pelo Homem:

Naturais – sismos, terramotos, chuvas (ácidas), erosão, ventos, difere nças


térmicas, cheias, animais.

Provocadas pelo Homem – guerra, terrorismo, abandono, vandalismo, má


preservação, distanciamento face aos bens patrimoniais.

Agentes agressores do Património:

Ausência cultural, de quem lá vive, faz com que o património seja morto.

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Os maus restauros, que não respeitam a originalidade, autenticidade e integridade,
que alteram as características materiais, estéticas e técnica dos bens patrimoniais. Aqui,
a funcionalidade acaba por ser afetada.

A destruição intencional – os avanços tecnológicos são prejudiciais.

Instabilidades políticas e sociais – obras que acabam por desaparecer;

Falta de informação – origina o vandalismo que, por sua vez, coloca em causa a
própria integridade do edifício;

Acidentes – como os incêndios ou o próprio descuido humano que levam à


destruição deste;

Os poluentes agressivos – detergentes, poluentes industriais ou agrícolas,


químicos, entre outros;

A exploração patrimonial – o uso excessivo, a presença de turistas, as fotografias,


o tempo de recuperação que não existe levam ao seu desgaste;

Exploração financeira – cada vez mais crescente, que acaba por não permitir a
reabilitação de bens culturais pois o seu desgaste é contínuo fruto dos interesses
económicos sobre o património;

Falta de proteção/legislação para o património.

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