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Capítulo 1: Princípio dos Cuidados | 1

DIRETRIZES DA WFH
para MANEJO
da HEMOFILIA

3ª Edição
Guidelines for the Management of Hemophilia, 3rd Edition
These guidelines were originally published in English by John Wiley & Sons Ltd in Haemophilia; Epub 3 AUG 2020.DOI:
10.1111/hae.14046. They are translated and reprinted with their permission.
© John Wiley and Sons Ltd., 2020
This publication was originally published in English by the World Federation of Hemophilia (WFH) and has been translated
with permission.
The WFH is not responsible for the translation or for any errors or changes to content from the original English edition.

This publication was translated and printed by Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), 2020.

Diretrizes para o Tratamento da Hemofilia, 3ª Edição


Essas diretrizes foram publicadas originalmente em inglês por John Wiley & Sons Ltd em Haemophilia; Epub 3 AGO 2020.DOI:
10.1111 / hae.14046. As diretrizes foram traduzidas e reimpressas com sua permissão.
© John Wiley and Sons Ltd., 2020
Esta edição foi publicada originalmente em inglês pela World Federation of Hemophilia (WFH) e foi traduzida com permissão.
A WFH não é responsável pela tradução ou por quaisquer erros ou alterações no conteúdo da edição original em inglês.

Esta edição foi traduzida e publicada pela Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), 2020.

World Federation of Hemophilia


1425, boul. René-Lévesque O., bureau 1200
Montréal, Québec
H3G 1T7 Canada
Tel.: (514) 875-7944
Fax: (514) 875-8916
E-mail: wfh@wfh.org
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Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição | 3

DOI: 10.1111/hae.14046

ARTIGO SUPLEMENTAR

Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia,


3ª edição
Alok Srivastava1 | Elena Santagostino2 | Alison Dougall3 | Steve Kitchen4 |
Megan Sutherland5 | Steven W. Pipe6 | Manuel Carcao7 | Johnny Mahlangu8 |
Margaret V. Ragni9 | Jerzy Windyga10 | Adolfo Llinás11 | Nicholas J. Goddard12 |
Richa Mohan13 | Pradeep M. Poonnoose14 | Brian M. Feldman15 |
Sandra Zelman Lewis16 | H. Marijke van den Berg17 | Glenn F. Pierce18 | em nome dos
participantes do painel de Diretrizes para Manejo da Hemofilia da WFH e coautores*
1
Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia
2
A. Bianchi Bonomi Hemophilia and Thrombosis Centre, IRCCS Cà Granda Foundation, Maggiore Hospital Policlinico, Milão,
Itália, e Sobi, Basileia, Suíça
3
Special Care Dentistry Division of Child and Public Dental Health, School of Dental Science, Trinity College Dublin, Dublin
Dental University Hospital, Dublin, Irlanda
4
Departamento de Coagulação, Sheffield Haemophilia and Thrombosis Centre, Sheffield Teaching Hospitals NHS Foundation
Trust, Sheffield, Reino Unido
5
Manchester University Hospitals NHS Foundation Trust, Manchester, Reino Unido
6
Departamentos de Pediatria e Patologia, University of Michigan, Ann Arbor, Michigan, EUA
7
Departamento de Pediatria, University of Toronto, Divisão de Hematologia/Oncologia, Hospital for Sick Children, Toronto,
ON, Canadá
8
Departamento de Medicina Molecular e Hematologia, University of the Witwatersrand, National Health Laboratory Service,
Johannesburgo, África do Sul
9
Divisão de Hematologia/Oncologia, Departamento de Medicina, University of Pittsburgh Medical Center, Pittsburgh,
Pensilvânia, EUA
10
Departamento de Distúrbios da Hemostasia e Medicina Interna, Laboratório de Hemostasia e Doenças Metabólicas,
Institute of Hematology and Transfusion Medicine, Varsóvia, Polônia
11
Fundacion Santa Fe de Bogota e Universidad de los Andes, Bogotá, Colômbia
12
Departamento de Traumatologia e Ortopedia, Royal Free Hospital, Londres, Reino Unido
13
Empowering Minds Society for Research and Development, Nova Delhi, Índia
14
Departamento de Ortopedia, Christian Medical College, Vellore, Índia
15
Divisão de Reumatologia, Departamento de Pediatria, University of Toronto, Hospital for Sick Children, Toronto, ON, Canadá
16
EBQ Consulting, LLC, Northbrook, Illinois, EUA
17
PedNet Haemophilia Research Foundation, Baarn, Países Baixos
18
Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá

Correspondência: Glenn F. Pierce, Federação Mundial de Hemofilia, 1425 boul. René-Lévesque Ouest, Suite 1200, Montreal, QC, H3G 1T7,
Canadá.
E-mail: gpierce@wfh.org

* Abdelaziz Al Sharif (Amã, Jordânia), Manuel A. Baarslag (Bemmel, Países Baixos), Lisa Bagley (Londres, Reino Unido), Erik Berntorp (Malmö Centre for Thrombosis and
Haemostasis, Lund University, Malmö, Suécia), Greig Blamey (Adult Bleeding Disorders Clinic, Winnipeg Health Sciences Centre, Winnipeg, MB, Canadá), Mark Brooker
(anteriormente Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá), Francisco de Paula Careta (Departamento de Farmácia e Nutrição, Universidade Federal do Espírito
Santo, campus de Alegre, ES, Brasil), Kim Chew (Kuala Lumpur, Malásia), Donna Coffin (Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá), Carlos D. De Brasi (Instituto de
Investigaciones Hematológicas e Instituto de Medicina Experimental, CONICET – Academia Nacional de Medicina, Buenos Aires, Argentina), Piet de Kleijn (Van Creveldkliniek,
University Medical Center Utrecht, Utrecht, Países Baixos), Gerard Dolan (Guy’s and St Thomas’ Hospitals NHS Foundation Trust, Londres, Reino Unido), Vincent Dumez (Centre
of Excellence on Partnership with Patients and the Public, Université de Montréal, Montreal, QC, Canadá), Gaetan Duport (Lyon, França), Carmen Escuriola Ettingshausen
(Haemophilia Centre Rhein Main, Frankfurt-Mörfelden, Alemanha), Melanie M. Golob (EBQ Consulting, LLC, Olympia, WA, EUA), Emna Gouider (University of Tunis El Manar,
Aziza Othmana Hospital, Tunis, Tunísia), Lucy T. Henry (Ottawa, ON, Canadá), Debbie Hum (Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá), Mathieu Jackson (Centre
of Excellence on Partnership with Patients and the Public, Université de Montréal, Montreal, QC, Canadá), Radoslaw Kaczmarek (Departamento de Pediatria, Indiana University
School of Medicine, Indianapolis, IN, EUA), Kate Khair (Great Ormond Street Hospital for Children, Londres, Reino Unido), Barbara A. Konkle (Bloodworks Northwest and
Division of Hematology, University of Washington, Seattle, WA, EUA), Rolf C. R. Ljung (Departamento de Ciências Clínicas – Pediatria, Lund University, Lund, Suécia), Silmara A.
de Lima Montalvão (INCT do Sangue Hemocentro, Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil), Augustas Nedzinskas (Ariogala, Lituânia), Sonia O’ Hara (HCD Economics,
Chester, Reino Unido), Margareth C. Ozelo (INCT do Sangue Hemocentro, Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil), Gianluigi Pasta (Fondazione IRCCS Policlinico San
Matteo di Pavia, Pavia, Itália), David Enrique Preza Hernández (Cidade do México, México), Bradley Rayner (Cidade do Cabo, África do Sul), Fiona Robinson (Federação Mundial
de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá), R. Sathyanarayanan (Chennai, Índia), Thomas J. Schofield (EBQ Consulting, LLC, Santa Monica, CA, EUA), Andrew Selvaggi (Melbourne,
Austrália), Shrimati Shetty (ICMR–National Institute of Immunohaematology, KEM Hospital, Mumbai, Índia), Maura Sostack (EBQ Consulting, LLC, Filadélfia, PA, EUA), Alison
Street (Monash University, Melbourne, Austrália), Ekawat Suwantaroj (Bangkok, Tailândia), Claude Tayou Tagny (Departamento de Hematologia, University of Yaounde I e
University Teaching Hospital of Yaoundé, Yaoundé, Camarões), Pierre Toulon (Université Côte d’ Azur and Hôpital Pasteur – CHU Nice, Nice, França).

©2020 Federação Mundial de Hemofilia. Haemophilia © 2020 John Wiley & Sons Ltd
4 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

RESUMO

Esta nova edição das diretrizes para manejo da hemofilia uma estrutura para o desenvolvimento de um sistema
da Federação Mundial de Hemofilia (WFH) chega em de saúde abrangente para pessoas com hemofilia,
um momento excitante na evolução do diagnóstico incluindo a defesa e o empoderamento de hemofílicos
e tratamento dessa condição. Desde a publicação da (PWH). Todas as recomendações desta edição foram
segunda edição em 2012, houve tremendos avanços em desenvolvidas usando uma metodologia orientada por
vários aspectos do manejo da hemofilia. Estes incluem a evidências formais e baseada em consenso, envolvendo
avaliação genética e o tratamento com muitos produtos profissionais de saúde (HCPs) multidisciplinares e
terapêuticos inovadores, incluindo produtos de fator PWH bem informados. Apesar de serem dirigidas
VIII (FVIII) e fator IX (FIX) de meia-vida estendida, um principalmente aos HCPs, estas diretrizes também
anticorpo biespecífico, e medicamentos para reequilíbrio devem ser muito úteis para PWH e organizações de
hemostático atualmente em desenvolvimento clínico. defesa.
Todos eles permitem uma hemostasia mais efetiva
do que era possível no passado. O monitoramento
laboratorial dos tratamentos é mais bem definido e PALAVRAS-CHAVE
aceito como o único modo de alterar a história natural distúrbios hemorrágicos, hemofilia, diretrizes para
do sangramento. Há tratamentos muito eficazes para manejo, novos produtos hemostáticos, resultados,
pacientes com inibidores. A avaliação dos resultados tratamento
por meio de instrumentos clinimétricos validados é
amplamente preconizada e praticada. Todos esses Esta terceira edição das Diretrizes para Manejo da
avanços estão refletidos nesta terceira edição das Hemofilia da WFH foi endossada pela Asian-Pacific
diretrizes da WFH, com novos capítulos dedicados a Society on Thrombosis and Hemostasis, European
vários desses tópicos, além de um novo capítulo sobre Haemophilia Consortium e National Hemophilia
os princípios do tratamento que pretende fornecer Foundation (EUA).

AVISO LEGAL SOBRE AS DIRETRIZES DA WFH

A Federação Mundial de Hemofilia (WFH) não de inclusão pré-especificados para a diretriz e a WFH
endossa nenhum produto terapêutico ou fabricante em considere que esse conteúdo científico representava
particular; qualquer referência ao nome de um produto a melhor evidência disponível para fins de informação
não representa um endosso por parte da WFH. A WFH clínica geral no momento em que as diretrizes foram
não se envolve na prática da medicina e em nenhuma desenvolvidas, essas evidências apresentam variações
circunstância recomenda tratamentos específicos na qualidade e no rigor metodológico.
para indivíduos específicos. As diretrizes destinam- A WFH e seus diretores, comitês, membros,
se apenas a informações gerais e são baseadas em funcionários e autores e revisores das diretrizes
pesquisas no nível populacional, não para o atendimento (“Partes da WFH”) repudiam toda a responsabilidade
ou tratamento de qualquer indivíduo em particular. As pela exatidão ou integridade e repudiam todas as
diretrizes não substituem o cuidado médico profissional garantias, explícitas ou implícitas. As Partes da WFH
e o aconselhamento médico e/ou as informações da também repudiam toda a responsabilidade por danos
bula do produto, mas devem ser usadas para educar e de qualquer natureza (incluindo, entre outros, danos
orientar a tomada de decisão conjunta entre pacientes, diretos, indiretos, incidentes, punitivos ou consequentes)
cuidadores e profissionais de saúde. originados do uso, impossibilidade de uso ou resultados
Além disso, as diretrizes podem não ser completas do uso de uma diretriz, quaisquer referências usadas em
ou exatas porque novos estudos de pesquisa podem uma diretriz ou materiais, informações ou procedimentos
ter sido publicados ou novos tratamentos, dispositivos contidos em uma diretriz, com base em qualquer teoria
ou indicações podem ter sido aprovados após a data legal e independentemente da existência ou não de
de corte para inclusão nestas diretrizes. Por meio de uma advertência sobre a possibilidade desses danos.
uma revisão abrangente e sistemática da literatura, as
diretrizes de prática clínica orientadas por evidências da
WFH incorporam dados da literatura existente revisada
por pares. Embora essa literatura satisfaça os critérios
Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição | 5

ÍNDICE
Introdução.......................................................................9

Capítulo 1: Princípio dos Cuidados...................... 11 2.5 |Tratamento domiciliar...........................................................................30


Terapia de reposição de fatores de coagulação...............................................31
1.1 | Princípio 1: Coordenação nacional e fornecimento dos
Novos tratamentos para coagulação....................................................................31
cuidados para hemofilia................................................................................. 11
Automanejo........................................................................................................................31
Cuidados abrangentes para hemofilia..................................................................12
Cateteres venosos centrais........................................................................................33
Rede de centros para tratamento de hemofilia................................................12
Registro nacional de pacientes.................................................................................12 2.6 |Manejo da dor........................................................................................... 33
Aquisição nacional ou regional de tratamentos para hemofilia...............12 Dor causada pelo acesso venoso.............................................................................33
Dor causada por sangramento articular ou muscular................................. 34
1.2 | Princípio 2: Acesso a CFCs seguros, outros produtos
hemostáticos e tratamentos curativos.................................................... 13 Dor pós-operatória....................................................................................................... 34
CFCs seguros e efetivos..............................................................................................13 Dor decorrente de artropatia hemofílica crônica.......................................... 34
Tratamentos emergentes e possíveis curas.......................................................14 Dor odontológica............................................................................................................35

1.3 | Princípio 3: Serviços laboratoriais e diagnóstico genético da 2.7 |Cuidado e manejo odontológico........................................................ 35
hemofilia............................................................................................................. 14 Cuidados orais..................................................................................................................36
Diagnóstico e exames laboratoriais.......................................................................14 Cirurgia odontológica e procedimentos invasivos.........................................36
Avaliação genética da hemofilia...............................................................................14 2.8 |Transição de cuidados pediátricos para adultos.......................... 37
1.4 | Princípio 4: Educação e treinamento em cuidados para
hemofilia............................................................................................................. 15
Recrutamento de especialistas médicos.............................................................15 Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento
1.5 | Princípio 5: Pesquisa clínica e epidemiológica............................. 15 Laboratorial.................................................................43
1.6 | Princípio 6: Tratamento agudo e de emergência para 3. 1 | Introdução................................................................................................43
sangramentos.................................................................................................... 16
Princípios do diagnóstico.............................................................................................43
1.7 | Princípio 7: Cuidados Multidisciplinares para Hemofilia......... 16 Aspectos Técnicos..........................................................................................................43
Automanejo e empoderamento dos pacientes.................................................16
3. 2 | Testes laboratoriais de coagulação.................................................43
Transição de cuidados pediátricos para adultos..............................................17
Monitoramento pós-infusão de FVIII/FIX........................................................ 48
1.8 | Princípio 8: Terapia de reposição regular (profilaxia)............... 17 Pessoal treinado...............................................................................................................54
1.9 | Princípio 9: Manejo de pacientes com inibidores........................ 17 3. 3 | Uso do equipamento e reagentes corretos................................... 54
1.10 | Princípio 10: Manejo de complicações musculoesqueléticas.18 Equipamento......................................................................................................................54
Reagentes............................................................................................................................54
1.11 | Princípio 11: Manejo de condições específicas e
comorbidades.................................................................................................... 18 3. 4 | Garantia de qualidade.......................................................................... 55
Portadoras de hemofilia...............................................................................................18 Controle de qualidade interno..................................................................................55
Cirurgias e outros procedimentos invasivos.....................................................18 Avaliação de qualidade externa................................................................................55
Manejo de comorbidades............................................................................................18
Questões médicas com o envelhecimento.........................................................19
Manejo de infecções transmitidas por transfusão.........................................19 Capítulo 4: Avaliação genética.............................. 62
1.12 | Princípio 12: Avaliação da evolução.............................................. 19 4.1 | Introdução................................................................................................. 62
4.2 | Indicações para avaliação genética................................................. 63

Capítulo 2: Cuidados Abrangentes 4.3 | Estratégia para teste genético de probandos............................... 65

para Hemofilia............................................................. 23 4.4 | Técnicas para avaliação genética...................................................... 66


4.5 | Classificação e descrição das variantes.......................................... 68
2.1 | Introdução................................................................................................. 23
Hemofilia A e B..................................................................................................................23 4.6 | Laudos para interpretação..................................................................68
Diagnóstico clínico.......................................................................................................... 24 4.7 | Estratégias se uma variante causadora não for detectada...... 68
Manifestações hemorrágicas....................................................................................24
4.8 | Garantia de Qualidade.......................................................................... 70
Educação de pacientes/cuidadores.......................................................................24
2.2 |Cuidados abrangentes........................................................................... 25
Principais componentes dos cuidados abrangentes.....................................25
Equipe de cuidados abrangentes.............................................................................25
Funções de um programa de cuidados abrangentes.....................................27
2.3 |Aptidão e atividade física..................................................................... 28
2.4 |Tratamento adjunto................................................................................ 29
6 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Capítulo 5: Agentes hemostáticos........................ 75 Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias


5.1 | Introdução................................................................................................. 75
Específicas................................................................. 108
5.2 | Seleção do produto................................................................................ 76 7.1 | Introdução.............................................................................................. 108
Segurança e qualidade.................................................................................................. 76 Educação do paciente/cuidador...........................................................................109
Eficácia..................................................................................................................................77 7. 2 | Hemorragia articular.........................................................................109
5.3 | Concentrados de fatores de coagulação (CFCs)......................... 77 Terapia de reposição de fatores de coagulação............................................109
CFCs de FVIII....................................................................................................................77 Manejo da dor................................................................................................................ 110
CFCs de FIX........................................................................................................................79 Tratamento adjunto..................................................................................................... 111
Produtos com meia-vida estendida....................................................................... 80 Fisioterapia e reabilitação........................................................................................112
Artrocentese..................................................................................................................112
5. 4 | Agentes de bypass................................................................................ 82
Fator VIIa recombinante ativado (rFVIIa)...........................................................82 7. 3 | Hemorragia no sistema nervoso central e intracraniana......113
Concentrado de complexo de protrombina ativado (aPCC).....................82 7. 4 | Hemorragia em garganta e pescoço.............................................113
5. 5 | Outros produtos derivados de plasma.......................................... 83 7. 5 | Hemorragia gastrointestinal/abdominal....................................114
Plasma fresco congelado (PFC)................................................................................83
7. 6 | Hemorragia renal................................................................................114
Crioprecipitado................................................................................................................83
7. 7 | Hemorragia ocular..............................................................................115
5.6 | Outras opções farmacológicas..........................................................84
7. 8 | Hemorragia oral...................................................................................115
Desmopressina (DDAVP).......................................................................................... 84
Ácido tranexâmico..........................................................................................................86 7. 9 | Epistaxe...................................................................................................116
Ácido épsilon-aminocaproico....................................................................................86 7. 10 | Lacerações e escoriações...............................................................117
5.7 | Terapias de reposição não relacionadas a fatores...................... 87 7. 11 | Hemorragia em tecidos moles......................................................117
Justificativa e mecanismos de ação.......................................................................87
7. 12 | Padrões de prática em reposição de CFC.................................118
Terapia de substituição.................................................................................................87
Agentes de reequilíbrio hemostático....................................................................87
Capítulo 8: Inibidores do Fator
de Coagulação...........................................................121
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia.......................92
8. 1 | Introdução..............................................................................................121
6.1 | Introdução................................................................................................. 92
Educação do paciente/cuidador...........................................................................121
Terapia de reposição de fator com meia-vida padrão...................................93
Terapia de reposição de fator de meia-vida estendida.................................93 8. 2 | Triagem de Inibidores....................................................................... 122

Terapia de reposição não relacionada a fatores...............................................93 8. 3 | Hemofilia A e inibidores de FVIII.................................................. 123


Definições e conceitos básicos em profilaxia com CFCs.............................93 Fatores de risco genéticos e ambientais...........................................................123
Início da profilaxia: momento e abordagem.......................................................93 Incidência de inibidores.............................................................................................124
Intensidade da profilaxia..............................................................................................95 Ônus da doença.............................................................................................................124

6. 2 | Benefícios da profilaxia....................................................................... 95 Manejo de sangramento...........................................................................................124

Profilaxia usando concentrados de fatores de coagulação........................95 Opções terapêuticas para pacientes com inibidores de FVIII...............124

Profilaxia usando terapias de reposição não relacionadas a fatores.....95 Cirurgia e procedimentos invasivos....................................................................127
Indução de tolerância imunológica......................................................................129
6. 3 | Profilaxia com fator de meia-vida padrão..................................... 96
Profilaxia com FVIII após indução de tolerância imunológica...............130
Horário do dia para administração de CFCs SHL...........................................96
Troca de produto..........................................................................................................130
6. 4 | Profilaxia com fatores de meia-vida estendida........................... 97
8. 4 | Hemofilia B e inibidores de FIX..................................................... 130
Meia-vida/clearance......................................................................................................97
Fatores de risco genéticos e ambientais...........................................................130
Dose.......................................................................................................................................97
Incidência de inibidores.............................................................................................130
Frequência de administração....................................................................................97
Ônus da doença............................................................................................................. 131
Horário do dia para administração de CFCs EHL...........................................98
Manejo de sangramentos.........................................................................................131
6. 5 | Profilaxia com terapia de reposição não relacionada Opções terapêuticas para pacientes com inibidores
a fatores............................................................................................................... 98 de FIX..................................................................................................................131
6. 6 | Regimes profiláticos com fator fixos/não individualizados.... 99 Indução de tolerância imunológica......................................................................132
Regimes profiláticos com fator SHL não individualizados..........................99 Profilaxia com FIX após indução de tolerância imunológica...................133
Cirurgia e procedimentos invasivos....................................................................133
6. 7 | Regimes profiláticos com fator individualizados.....................101
Troca de produto..........................................................................................................134
Variáveis que afetam o fenótipo hemorrágico...............................................101
6. 8 | Aderência e educação do paciente/cuidador............................101
6. 9 | Economia de saúde da profilaxia................................................... 104
6. 10 | Profilaxia em baixa dose para pacientes com acesso
limitado a CFCs.............................................................................................. 104
6. 11 | Novas definições de profilaxia.................................................... 105
6. 12 | Questões que devem ser abordadas em
pesquisas futuras.......................................................................................... 105
Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição | 7

Capítulo 9: Questões Específicas Fisioterapia pós-operatória....................................................................................170


Complicações e considerações em longo prazo...........................................170
do Manejo.................................................................. 138
10. 9 | Impacto psicossocial das complicações
9. 1 | Introdução............................................................................................. 138 musculoesqueléticas....................................................................................171
9. 2 | Portadoras............................................................................................. 138
Herança da hemofilia..................................................................................................138
Capítulo 11: Avaliação dos Resultados.............176
Níveis de fator em portadoras...............................................................................139
Teste do nível de fator em portadoras...............................................................139 11. 1 | Introdução...........................................................................................176
Sintomas hemorrágicos.............................................................................................139 Objetivos da avaliação de resultados................................................................. 176
Aconselhamento genético.......................................................................................139
11. 2 | Avaliação de resultados em hemofilia.......................................176
Suporte psicossocial...................................................................................................140
Frequência de sangramento...................................................................................177
Teste genético................................................................................................................140
Avaliação da dor em hemofilia................................................................................177
Diagnóstico pré-natal................................................................................................140
Domínios para avaliação do impacto de sangramentos sobre o sistema
Gravidez e planejamento pré-natal.....................................................................140 musculoesquelético e outros sistemas..............................................................178
Trabalho de parto......................................................................................................... 141
11. 3 | Estrutura e função corporal..........................................................179
Cuidados pós-parto.................................................................................................... 141
Medidas de estrutura e função corporal
Teste do recém-nascido............................................................................................ 141 recomendadas na hemofilia.....................................................................................179
Manejo do aborto espontâneo.............................................................................. 142
11. 4 | Atividades e participação...............................................................179
9. 3 | Circuncisão.............................................................................................142 Instrumentos recomendados para medir
as atividades e a participação.................................................................................179
9. 4 | Vacinação............................................................................................... 143
11. 5 | Fatores ambientais e pessoais......................................................181
9. 5 | Cirurgias e procedimentos invasivos........................................... 144
Fatores ambientais...................................................................................................... 181
9. 6 | Sexualidade........................................................................................... 146
Fatores pessoais............................................................................................................ 181
9. 7 | Aspectos psicossociais.......................................................................147
11. 6 | Fatores econômicos..........................................................................181
9. 8 | Comorbidades...................................................................................... 148 Custos diretos................................................................................................................ 181
Câncer/malignidade....................................................................................................148 Custos indiretos............................................................................................................ 181
Acidente vascular cerebral/AVC.......................................................................... 149
11. 7 | Qualidade de vida relacionada à saúde.....................................182
Fibrilação atrial.............................................................................................................. 149
Instrumentos mais usados para medir a qualidade de vida relacionada à
Tromboembolismo venoso/trombose...............................................................150 saúde...................................................................................................................................182
Síndrome metabólica.................................................................................................. 151
11. 8 | Resultados relatados pelos pacientes....................................... 184
Diabetes mellitus..........................................................................................................152
11. 9 | Conjunto central de medidas para uso no contexto clínico ou
Doença renal...................................................................................................................152
de pesquisa...................................................................................................... 184
Osteoporose...................................................................................................................152
Doença articular degenerativa.............................................................................153
9. 9 | Questões médicas com o envelhecimento................................. 153 Capítulo 12: Metodologia......................................189
Hipertensão....................................................................................................................153 12. 1 | Fundamentação.................................................................................189
Doença arterial coronariana...................................................................................154
12. 2 | Metodologia........................................................................................189
Aspectos psicossociais com o envelhecimento.............................................155
Composição dos painéis: estrutura e revisão................................................190
Processo para o fluxo de trabalho e supervisão do painel.......................190
Capítulo 10: Complicações Financiamento............................................................................................................... 191

Musculoesqueléticas............................................. 160 12. 3 | Geração de evidências....................................................................191


Critérios para elegibilidade do estudo............................................................... 191
10. 1 | Introdução.......................................................................................... 160
Extração dos dados e desenvolvimento das tabelas de evidências....192
Educação do paciente/cuidador...........................................................................160
12. 4 | Obtenção de consenso formal pelas técnicas Delphi...........192
10. 2 | Sinovite.................................................................................................161
Regras e processos a priori............................................................................192
Tratamento da sinovite crônica............................................................................. 161
Pesquisas Delphi........................................................................................................... 193
10. 3 | Artropatia hemofílica..................................................................... 163 Desvios do processo................................................................................................... 193
Tratamento da artropatia hemofílica crônica................................................163
12. 5 | Finalização das recomendações e desenvolvimento do
10. 4 | Hemorragia muscular..................................................................... 164 manuscrito........................................................................................................194
Terapia de reposição de fatores de coagulação............................................165 Revisão e finalização................................................................................................... 194
Monitoramento e manejo clínico..........................................................................165 12. 6 | Limitações da metodologia............................................................194
Síndrome compartimental.......................................................................................166
12. 7 | Planos futuros para atualização...................................................195
Fisioterapia e reabilitação para sangramentos musculares....................166
12. 8 | Conclusão.............................................................................................195
Hemorragia no iliopsoas...........................................................................................166
10. 5 | Pseudotumores..................................................................................167
10. 6 | Fraturas................................................................................................ 168
Agradecimentos.......................................................197
10. 7 | Cirurgia ortopédica em hemofilia...............................................169
10. 8 | Substituição da articulação...........................................................169 Acrônimos e abreviações..................................... 200
Hemostasia durante o período perioperatório.............................................169
Considerações cirúrgicas.........................................................................................170
8 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

LISTA DE TABELAS E FIGURAS


TABELA 1-1 Funções dos centros de cuidados abrangentes para TABELA 7-2 Padrões de prática: níveis plasmáticos máximos de fatores
hemofilia e centros para tratamento de hemofilia6....................................... 13 e duração da administração..................................................................................118
TABELA 2-1 Relação entre a gravidade do sangramento e o nível do TABELA 8-1 Indicações para o teste de inibidores.................................... 122
fator de coagulação8................................................................................................... 24
TABELA 8-2 Possíveis fatores de risco para inibidores.............................124
TABELA 2-2 Locais de sangramento na hemofilia9....................................... 25
TABELA 8-3 Tratamento de sangramentos agudos em pacientes com
TABELA 2-3 Frequência aproximada de sangramento em diferentes hemofilia A e inibidores.......................................................................................... 125
locais.................................................................................................................................. 25
TABELA 8-4 Tratamento sequencial com agentes de bypass, alternando
TABELA 2-4 Estratégias para manejo da dor em hemofílicos.................. 34 rFVIIa e aPCC37...........................................................................................................126
TABELA 3-1 Interpretação dos testes de triagem......................................... 46 TABELA 8-5 Tratamento de sangramentos agudos em pacientes com
hemofilia B com inibidores.....................................................................................133
TABELA 3-2 Publicações com dados relacionados ao uso de
diferentes ensaios de FVIII na presença de concentrados de fator VIII TABELA 9-1 Definição da adequação da hemostasia para
recombinante e modificado.................................................................................... 50 procedimentos cirúrgicos33...................................................................................145
TABELA 3-3 Publicações com dados relacionados ao uso de diferentes FIGURA 11-1 Modelo de Classificação Internacional de Funcionalidade
ensaios de FIX na presença de concentrados de fator IX recombinante e e Saúde (ICF), com os instrumentos de avaliação dos resultados
modificado...................................................................................................................... 50 relacionados aos domínios....................................................................................178
TABELA 6-1 Profilaxia convencional com fator para hemofilia A e B, FIGURA 11-2 Escore de Saúde Articular em Hemofilia 2.1 — Folha de
definida de acordo com o momento de início da profilaxia1...................... 94 Resumo da Pontuação. 42 Disponível em: http://www1.wfh.org/docs/
en/Publications/Assessment_Tools/HJHS_Summary_Score.pdf....... 180
TABELA 6-2 Profilaxia convencional com fator usando fator de
coagulação com meia-vida padrão, definida de acordo com sua TABELA 11-1 Escore Radiológico de Pettersson29......................................181
intensidade..................................................................................................................... 94
TABELA 11-2 Escala de RM do IPSG para avaliação de artropatia
TABELA 6-3 Variáveis que afetam os níveis de fator (aplicáveis a fatores hemofílica43..................................................................................................................182
de coagulação SHL e EHL) em hemofílicos....................................................... 97
TABELA 11-3 Método de pontuação do HEAD-US32............................... 183
TABELA 6-4 Benefícios documentados dos CFCs EHL.............................. 98
TABELA 11-4 Lista de Atividades para Hemofilia (HAL) 200515.......... 183
TABELA 6-5 Vantagens e desvantagens de regimes profiláticos com
fator SHL fixos, não individualizados............................................................... 100 TABELA 11-5 Lista de Atividades para Hemofilia — Pediátrica (PedHAL)
v.1147............................................................................................................................... 183
TABELA 6-6 Individualização da profilaxia às necessidades do
paciente..........................................................................................................................102 TABELA 11-6 Escore de Independência Funcional em Hemofilia
(FISH)48.......................................................................................................................... 183
TABELA 6-7 Fatores que afetam o fenótipo hemorrágico e contribuem
para a variabilidade fenotípica entre os pacientes......................................103 TABELA 11-7 Instrumento EQ-5D 68................................................................ 183

TABELA 6-8 Requisitos básicos para uma profilaxia efetiva..................103 TABELA 11-8 Instrumento de Pesquisa de 36 Itens, Formulário Breve
(SF-36)69........................................................................................................................ 184
TABELA 7-1 Definições de resposta ao tratamento...................................110
Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição | 9

INTRODUÇÃO
Alok Srivastava1 | Alain Weill2 | Glenn F. Pierce2

1
Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia
2
Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá

Com mais de um milhão de distribuições impressas e on- maior ênfase nos últimos anos em sua importância para
line em seis idiomas e mais de 1.000 citações em artigos o manejo de rotina da hemofilia, vários instrumentos
revisados por pares desde sua publicação em 2012, clinimétricos estão sendo usados na atualidade para
o recurso de prática clínica da Federação Mundial de uma avaliação padronizada e documentação de
Hemofilia (WFH), Diretrizes para Manejo da Hemofilia, resultados hemostáticos e musculoesqueléticos.
2ª edição, tem atendido amplamente a comunidade Para reconhecer esses avanços e estabelecê-los com
de profissionais que tratam a hemofilia e hemofílicos. maior solidez na prática clínica, várias modificações
Endossadas pela Sociedade Internacional de Trombose foram efetuadas na terceira edição destas diretrizes.
e Hemostasia (ISTH), as diretrizes da WFH também Novos capítulos foram acrescentados para fornecer os
foram as primeiras diretrizes para manejo de hemofilia detalhes necessários nos seguintes tópicos: avaliação
aceitas pela National Guideline Clearinghouse (NGC), genética, profilaxia com agentes hemostáticos para
anteriormente dirigida pela Agency for Healthcare prevenção de sangramento, manejo de inibidores e
Research and Quality (AHRQ) do Departamento de avaliação dos resultados. Um capítulo adicional define
Saúde e Serviços Humanos dos EUA (https://www. os princípios do manejo da hemofilia para fornecer
ahrq.gov/gam/index.html). referências inspiradoras durante a evolução desses
Nos últimos cinco anos, não só houve um progresso serviços, nos contextos locais de países ao redor do
sem precedentes no desenvolvimento de novos mundo.
produtos terapêuticos para hemofilia, mas também Algumas mudanças semânticas introduzidas nesta
ocorreram importantes mudanças de paradigma em edição devem ser mencionadas. O termo “episódico” foi
muitos dos princípios que governam o planejamento usado em vez de “por demanda” para descrever qualquer
e a filosofia do tratamento da hemofilia. Devido ao tratamento hemostático após um sangramento, pois
progresso nas tecnologias de análise genética, além este termo reflete melhor o conceito dessa prática.
de um acesso muito mais amplo, suas aplicações em Coerentemente com a definição fornecida pelo Comitê
hemofilia passaram da área de pesquisa para um de Padronização Científica da ISTH, o termo “dia de
papel cada vez maior no manejo de pacientes e suas exposição” foi substituído por “exposição” para englobar
famílias. O advento dos novos concentrados de fatores todas as doses de reposição de CFC administradas
de coagulação (CFCs) com meia-vida estendida não dentro de 24 horas.
só promoveu uma redução do ônus do tratamento aos Para garantir que um viés fosse evitado ao máximo
pacientes, mas — o mais importante — os CFCs de possível, uma metodologia rigorosa baseada
meia-vida estendida possibilitaram a manutenção de em consenso foi adotada para a formulação das
níveis mínimos de fatores no tratamento de reposição recomendações finais nestas diretrizes. Um especialista
regular significativamente mais altos do que seria em métodos e processos independente, sem relação
possível com os CFCs de meia-vida padrão. O padrão com o setor, foi indicado juntamente com o líder de
de segurança hemostática tornou-se ainda mais conteúdo. Todas as recomendações foram orientadas
elevado com a introdução de agentes hemostáticos por uma revisão abrangente e sistemática da literatura
não relacionados a CFC, como o novo anticorpo científica relevante e desenvolvidas usando um
monoclonal biespecífico. Este agente obtém uma processo Delphi modificado e anônimo, resultando em
hemostasia equivalente a níveis de aproximadamente recomendações orientadas por evidências e baseadas
15% de FVIII, com administração subcutânea e uma em consenso. Notavelmente, além dos especialistas
administração substancialmente menos frequente em em tratamento de hemofilia e disciplinas clínicas
comparação aos CFCs. Hemofílicos tratados com essas relacionadas, os painéis Delphi incluíram pacientes bem
terapias mais recentes agora são capazes de participar informados que também tiveram a oportunidade de
em muito mais atividades que no passado, sem o medo examinar os manuscritos e a literatura e votar sobre as
de sangramentos. Além disso, a avaliação estruturada recomendações. Todas essas etapas são descritas com
de resultados tem sido um aspecto onde relativamente detalhes no capítulo de Metodologia.
não houve progresso no manejo da hemofilia. Com a
10 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Também é importante observar que as minutas finais Esperamos que a comunidade clínica, à qual estas
dos capítulos foram revisadas internamente, tanto pelo diretrizes foram destinadas desde o início, considere-
painel completo quanto dentro da WFH, e também as ainda mais úteis que nas edições anteriores. Estas
por especialistas externos antes do encaminhamento diretrizes também podem servir como um recurso para
para publicação. Todos esses revisores estão indicados auxiliar a educação, a defesa e a tomada de decisões
no fim das diretrizes, além de muitas outras pessoas relativas ao tratamento da hemofilia e ao fornecimento
cujas contribuições foram inestimáveis para o seu dos cuidados. Além disso, devem ajudar a identificar
desenvolvimento. Uma rodada final de revisão por lacunas nas evidências que serviram de base para a
pares independente também foi conduzida pelo formulação das recomendações, ajudando a direcionar
periódico antes da publicação. Também é importante as pesquisas clínicas apropriadas nessas áreas. Como
observar que estas diretrizes foram endossadas pela no passado, a versão eletrônica destas diretrizes
Asian-Pacific Society on Thrombosis and Hemostasis, está disponível no site da WFH http://www.wfh.
European Haemophilia Consortium e National org). Estas diretrizes serão atualizadas, ampliadas ou
Hemophilia Foundation (EUA). modificadas conforme forem disponibilizados novos
Como resultado de todas essas modificações, as dados significativos ou evidências que justifiquem uma
diretrizes passaram a ser mais abrangentes que na alteração. Isto manterá o conteúdo da diretriz atualizado
edição anterior. Contudo, para preservar a facilidade de e sintonizado com os avanços esperados nos próximos
leitura, o texto continua estruturado usando sentenças anos, em particular na área de terapia gênica para
curtas em tópicos com marcadores. Foram evitadas hemofilia, que deverá ser incluída com mais detalhes
explicações mecanicistas detalhadas ou descrições quando os estudos clínicos em andamento estiverem
dos dados originais subjacentes às recomendações. concluídos e os produtos forem registrados.
Contudo, todas as referências relevantes são citadas e
estão relacionadas no fim de cada capítulo.
Capítulo 1: Princípio dos Cuidados | 11

1 PRINCÍPIOS
DOS CUIDADOS
Alok Srivastava1 | Gerard Dolan2 | Lisa Bagley3 | Margareth C. Ozelo4 | Emna Gouider5 |
Debbie Hum6 | Steven W. Pipe7 | Bradley Rayner8 | Alison Street9 | Glenn F. Pierce6

1
Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia
2
Guy’s and St. Thomas’ Hospitals NHS Foundation Trust, Londres, Reino Unido
3
Londres, Reino Unido
4
INCT do Sangue Hemocentro UNICAMP, Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil
5
Medical School, University of Tunis El Manar, Hemophilia Centre, Aziza Othmana Hospital, Tunis, Tunísia
6
Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
7
Departamentos de Pediatria e Patologia, University of Michigan, Ann Arbor, Michigan, EUA
8
Cidade do Cabo, África do Sul
9
Monash University, Melbourne, Victoria, Austrália

Introdução de um cuidado agudo, episódico e reativo para


um cuidado que inclua abordagens longitudinais,
• Estes princípios de cuidados têm o objetivo de preventivas, comunitárias e integradas 5.
fornecer uma orientação globalmente relevante, • Além de orientar a prática clínica, os princípios de
baseada na ciência atual e nas melhores práticas em cuidados também podem servir como uma base
diagnóstico e tratamento de hemofilia, identificadas de conhecimento comum para organizações de
pelo painel de diretrizes da Federação Mundial pacientes, profissionais de saúde, administradores
de Hemofilia (WFH). Eles incluem os conceitos de serviços de saúde e desenvolvedores de políticas;
essenciais, as exigências e as prioridades para o por sua vez, isto permite uma melhor discussão e
fornecimento e manejo dos cuidados em hemofilia, colaboração sobre decisões referentes à alocação
que constituem uma estrutura para implementar de recursos para programas de hemofilia e
e promover os programas terapêuticos para prioridades para a obtenção dos melhores padrões
hemofilia. possíveis com os recursos disponíveis.
• Os princípios foram desenvolvidos a partir dos • Os princípios de cuidados visam ao manejo ideal
fundamentos originais estabelecidos pela WFH da hemofilia para garantir que os pacientes
e pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em tenham acesso a serviços médicos apropriados,
1990 1 e as diretrizes e recomendações atualizadas sustentáveis e de alta qualidade e cuidados
desenvolvidas com a colaboração da WFH, OMS e abrangentes; contudo, também devemos
Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia reconhecer que as prioridades e capacidades em
(ISTH) em 20022. cada país determinam o que é prático a qualquer
• Os princípios integram os componentes centrais momento.
dos princípios de cuidados integrados 3 e
atenção primária à saúde, incluindo: atender às
necessidades de saúde das pessoas durante a vida 1. 1 Princípio 1: Coordenação
por meio de cuidados preventivos, curativos e de
nacional e fornecimento dos
reabilitação abrangentes, assim como cuidados
paliativos; abordar os determinantes mais gerais da
cuidados para hemofilia
saúde por meio de políticas e ações multissetoriais
• Um programa coordenado de cuidados para
que envolvam as partes interessadas relevantes e
hemofilia, administrado por uma agência designada
permitam que as comunidades locais fortaleçam
e integrado ao sistema de saúde existente, melhora
a atenção primária à saúde; dar aos indivíduos,
os resultados para hemofílicos. 2,6-8
famílias e comunidades o poder para assumirem o
• Os cuidados para hemofilia ideais em um programa
controle da própria saúde4.
desse tipo requerem os seguintes componentes
• Além disso, estão alinhados à ênfase do modelo de
principais2:
cuidados crônicos sobre a necessidade de mudança
12 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

- cuidados abrangentes para hemofilia fornecidos rastrear o tratamento e o manejo dos pacientes,
por uma equipe multidisciplinar de especialistas; monitorar as evoluções dos pacientes e orientar a
‒ uma rede nacional ou regional de centros para prática clínica.13 O WBDR pode ser usado como um
tratamento de hemofilia (HTCs); registro de pacientes para alguns ou todos os HTCs
‒ um registro nacional de pacientes hemofílicos; em um país.
‒ processos robustos para a aquisição e distribuição • Os registros de pacientes são usados para colher
de tratamentos seguros e eficazes, especialmente dados exatos sobre indivíduos hemofílicos em
concentrados de fatores de coagulação (CFCs) e termos de tratamento e evolução, incluindo a
outros tipos de produtos hemostáticos usados gravidade da doença, o tipo de tratamento, episódios
no tratamento da hemofilia; hemorrágicos, eventos adversos, estado das
‒ acesso igualitário a esses serviços e produtos articulações, estado de inibidores, comorbidades e
terapêuticos 9; e qualidade de vida.
‒ reconhecimento das diversidades socioeconômi- • Os dados do registro permitem a análise de
cas e culturais presentes em uma determinada tratamentos padrão e podem ser usados como
comunidade, região ou país. uma ferramenta para auditoria de serviços clínicos
e laboratoriais; por sua vez, isso pode favorecer
Cuidados abrangentes para hemofilia
o desenvolvimento de uma melhor qualidade no
• Centros de tratamento baseados no modelo
atendimento e facilitar o planejamento e a alocação
de cuidados multidisciplinares abrangentes
de recursos.6
devem ser estabelecidos para garantir que os
• Os registros de pacientes podem ajudar a promover
hemofílicos tenham acesso a uma gama completa
a compreensão das variações no tratamento da
de especialidades clínicas e serviços laboratoriais
hemofilia, descrever tratamentos padrão, incluindo
apropriados.6
a adequação e disparidades no fornecimento e
• Ver o Princípio 7: Cuidados multidisciplinares para
na qualidade dos cuidados, indicar fatores que
hemofilia e o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para
influenciem o prognóstico e a qualidade de vida e
Hemofilia.
fornecer evidências sobre a utilização de recursos.14
• Devem ser estabelecidas provisões adequadas
Rede de centros para tratamento de hemofilia
sobre privacidade dos dados, confidencialidade e
• Os cuidados para hemofilia são fornecidos de
respeito pelos direitos humanos10, em conformidade
modo mais adequado por centros de diagnóstico e
com os regulamentos nacionais e as melhores
tratamento designados com protocolos terapêuticos
práticas éticas.6
claramente definidos, tratamentos padrão e
• É importante garantir que os pacientes e/ou os
atividades de qualidade e auditoria.2
pais ou guardiões legais (no caso de menores)
• Hospitais que ofereçam cuidados clínicos para
compreendam o objetivo e os usos de um registro
pacientes com hemofilia e distúrbios relacionados
e forneçam seu consentimento livre e esclarecido
são fortemente encorajados a buscar uma
por escrito para a coleta e o compartilhamento dos
designação formal como centro para tratamento de
dados relacionados aos cuidados do paciente. 10,15
hemofilia (HTC) ou centro de cuidados abrangentes
• Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para
para hemofilia (HCCC), quando aplicável, pelas
Hemofilia e o Capítulo 11: Avaliação dos Resultados.
autoridades sanitárias locais 6,9 (ver a Tabela 1-1).
• Esses centros também podem atender às
Aquisição nacional ou regional de tratamentos para
necessidades de pacientes com outros distúrbios
hemofilia
hemorrágicos congênitos.
• A disponibilidade contínua de CFCs em quantidades
suficientes apresenta uma forte correlação com
Registro nacional de pacientes
melhores evoluções para os hemofílicos.16 Para
• Cada país deve ter um registro nacional de pacientes
garantir que os hemofílicos tenham um acesso
com hemofilia, com coleta de dados padronizada
confiável à CFCs e outros produtos hemostáticos
em todos os centros de hemofilia e administração
seguros e eficazes, os países devem estabelecer um
centralizada por uma autoridade oficial em nível
rigoroso sistema nacional ou regional para aquisição
nacional, ou participar de um registro multinacional
e distribuição de tratamentos para hemofilia.2
ou internacional. 10-13
• O tratamento da hemofilia depende de
• O Registro Mundial de Distúrbios Hemorrágicos
medicamentos essenciais capazes de salvar vidas,
(WBDR) da WFH fornece uma plataforma on-line
que são relativamente caros em comparação a
para uma rede de HTCs no mundo todo para colher
medicamentos para outras condições.
dados uniformes e padronizados com o objetivo de
Capítulo 1: Princípio dos Cuidados | 13

• A criação de um sistema nacional de licitações ou 1. 2 Princípio 2: Acesso a CFCs seguros,


a colaboração em um sistema multinacional para outros produtos hemostáticos e
compra de CFCs pode ajudar a garantir que os tratamentos curativos
produtos ideais sejam selecionados com o melhor
preço.17
• O processo de tomada de decisão nessas licitações CFCs seguros e efetivos
conforme a autoridade contratante (tipicamente o • Os hemofílicos devem ter acesso a um tratamento
Ministério da Saúde ou outra autoridade sanitária) seguro e efetivo com eficácia ideal na prevenção de
deve incluir médicos bem informados sobre hemofilia sangramentos e tratamento de qualquer hemorragia
e representantes dos pacientes.9 espontânea, aguda ou relacionada a trauma. Para
• O Guia de Licitações Nacionais para Compra de muitos pacientes, isto envolve o tratamento com
Concentrados de Fatores de Coagulação da WFH CFCs específicos ou outros produtos hemostáticos.
descreve os sistemas de licitação e aquisição no • Tanto CFCs derivados de plasma com inativação
mundo todo e explica como montar um sistema de viral quanto os recombinantes, assim como outros
aquisição nacional e realizar licitações.17 produtos hemostáticos, quando apropriados, podem
• Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para ser usados para o tratamento de hemorragias e
Hemofilia e o Capítulo 5: Agentes hemostáticos. profilaxia em hemofílicos.16
• A profilaxia constitui o tratamento padrão para
indivíduos com hemofilia grave e para algumas
pessoas com hemofilia moderada, ou aqueles com
outro distúrbio hemorrágico congênito que esteja
associado a um fenótipo de hemorragias graves e/ou
um alto risco de hemorragia espontânea com risco
à vida.

TABELA 1-1 Funções dos centros de cuidados abrangentes para hemofilia e centros para tratamento de hemofilia6

Centro de cuidados abrangentes para hemofilia (HCCC) Centro para tratamento de hemofilia (HTC)

• Fornecer atendimento 24 horas com uma equipe experiente • Fornecer cobertura hematológica apropriada 24 horas

• Fornecer cuidados para inibidores e serviços • Operar cuidados para inibidores e serviços de tolerância
de tolerância imunológica imunológica em cooperação com um HCCC

• Fornecer CFCs e outros produtos • Fornecer CFCs e outros produtos hemostáticos


hemostáticos seguros e efetivos seguros e efetivos

• Fornecer um vínculo com a comunidade, • Fornecer acesso a equipe de enfermagem, serviços


incluindo visitas a escolas e domiciliares de fisioterapia, assistentes sociais, e atendimento
obstétrico e ginecológico

• Oferecer serviços laboratoriais com cobertura • Fornecer aconselhamento genético preliminar, seguido
de exames de 24 horas por encaminhamento a um HCCC para análise completa

• Fornecer acesso a equipe de enfermagem de base • Fornecer acesso a cuidados para HIV e hepatite C,
hospitalar, serviços de fisioterapia, assistentes sociais, por meio de um HCCC, se necessário
atendimento odontológico, atendimento obstétrico e
ginecológico e suporte psicossocial

• Oferecer acompanhamento regular e tratamento domiciliar


• Fornecer cuidados para HIV e hepatite C em cooperação com um HCCC

• Fornecer acesso a um laboratório de • Fornecer profilaxia em cooperação com um HCCC


genética e aconselhamento genético

• Fornecer tratamento domiciliar • Manter registros confiáveis

• Manter registros confiáveis • Realizar educação médica

• Realizar educação médica • Colaborar com outros HTCs para pesquisa


e intercâmbio de melhores práticas

• Iniciar e participar de pesquisas

Abreviações: CFC: concentrado de fatores de coagulação; HCCC: centro de cuidados abrangentes para hemofilia; HIV: vírus da imunodeficiência humana;
HTC: centro para tratamento de hemofilia.
14 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• A reposição episódica de CFC não deve ser 1. 3 Princípio 3: Serviços laboratoriais


considerada como opção em longo prazo para e diagnóstico genético da hemofilia
o manejo da hemofilia, já que não altera sua
história natural de sangramentos espontâneos e
complicações relacionadas.18,19 Diagnóstico e exames laboratoriais
• O Guia para Avaliação de Concentrados de Fatores • O diagnóstico e o tratamento da hemofilia requerem
de Coagulação da WFH deve ser examinado o acesso a unidades laboratoriais equipadas com os
atentamente no contexto do sistema de saúde em recursos apropriados e a competência para realizar
cada país e incorporado aos processos de licitação com exatidão os ensaios de fatores e outros testes
para aquisição de tratamentos para hemofilia.16 de coagulação.
• O Registro On-line de Concentrados de Fatores • A pesquisa e os testes de desenvolvimento de
de Coagulação da WFH relaciona todos os CFCs inibidores, no momento a complicação mais séria
derivados de plasma e recombinantes disponíveis da hemofilia, são cruciais em qualquer programa de
atualmente e os detalhes dos produtos.20 tratamento abrangente de hemofilia para permitir o
• Ver o Capítulo 5: Agentes Hemostáticos e o Capítulo fornecimento de tratamento médico e a erradicação
6: Profilaxia na Hemofilia. de inibidores23; contudo, a maioria dos centros no
mundo não teria capacidade para teste de inibidores.
Tratamentos emergentes e possíveis curas • Em muitos países com recursos limitados, os centros e
• Os tratamentos emergentes em desenvolvimento hospitais não dispõem de tecnologias e capacidades
com modos de administração alternativos (por ex., apropriadas para o diagnóstico de hemofilia.
injeção subcutânea) e novos alvos podem superar Portanto, o desenvolvimento ou a otimização dos
as limitações da terapia de reposição de CFC padrão laboratórios existentes com capacidade de realizar
(ou seja, necessidade de administração intravenosa, testes de coagulação com garantia de qualidade
meia-vida curta, risco de formação de inibidores). constitui uma prioridade importante nesses países.8
Esses tratamentos emergentes oferecem perfis • Os laboratórios de coagulação devem contar com
farmacocinéticos (PK) muito melhores com um ônus uma equipe laboratorial bem treinada e recursos
de administração muito baixo (por ex., administração apropriados, incluindo reagentes adequados e
mensal); portanto, podem ajudar a reduzir o ônus facilmente disponíveis.
do tratamento a aumentar a aderência. Esses • Idealmente, os laboratórios de coagulação devem ser
tratamentos são discutidos no Capítulo 5: Agentes capazes de oferecer serviços 24 horas para testes
Hemostáticos, no Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia de coagulação e ensaios de fatores e ser capazes de
e no Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação. realizar ensaios de inibidores de modo oportuno.6
• O desenvolvimento de terapias gênicas para • É essencial manter uma boa comunicação entre o
hemofilia progrediu de modo considerável, com o laboratório e a equipe clínica que solicitar os exames
provável registro de produto em um futuro próximo. para garantir que os ensaios apropriados sejam
Vários estudos clínicos em indivíduos com hemofilia realizados e que os resultados relatados sejam
A e B demonstraram sucesso, com um perfil de avaliados do modo correto e bem compreendidos.24
segurança favorável até o momento.21,22 • Todos os laboratórios de coagulação devem
• A terapia gênica deve permitir que alguns hemofílicos incluir programas de garantia de qualidade e ser
almejem e obtenham resultados de saúde e qualidade submetidos a uma avaliação externa da qualidade.
de vida muito melhores em comparação àqueles que • Ver o Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento
podem ser obtidos com os tratamentos para hemofilia Laboratorial — Garantia de Qualidade.
atualmente disponíveis. Isso exigirá a avaliação por
meio de um acompanhamento em longo prazo como Avaliação genética da hemofilia
parte de estudos clínicos e registros. • A avaliação genética da hemofilia é importante
• Devido aos avanços contínuos que estão para definir a biologia da doença, estabelecer o
transformando o panorama terapêutico da hemofilia, diagnóstico em casos difíceis, prever o risco de
é importante estabelecer sistemas para monitorar desenvolvimento de inibidores e fornecer um
constantemente os desenvolvimentos em terapias diagnóstico pré-natal, se desejado. Sempre que
gênicas e emergentes para hemofilia e disponibilizá- possível, uma análise do genótipo deve ser oferecida
los assim que possível após a aprovação pelas a todos os pacientes com hemofilia.9 (Ver o Capítulo
autoridades regulatórias. 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia e o Capítulo
• Ver o Capítulo 5: Agentes Hemostáticos, o Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento Laboratorial.)
6: Profilaxia na Hemofilia e o Capítulo 8: Inibidores • Nem sempre os testes genéticos identificam a
do Fator de Coagulação. variante subjacente associada ao fenótipo. O
Capítulo 1: Princípio dos Cuidados | 15

aconselhamento genético de um indivíduo com e desenvolvimento constantes para a prática nesse


hemofilia encaminhado para teste genético deve campo.
destacar essa possibilidade. • Também é importante a educação sobre hemofilia
• A oportunidade de discussão dos resultados para especialistas colaboradores, necessária para
da análise genética entre as equipes clínicas e ajudar a abordar questões médicas e de saúde
laboratoriais envolvidas constitui um aspecto específicas que possam surgir em alguns pacientes.
essencial do serviço de diagnóstico genético. • Oportunidades de mentoria e bolsas de pesquisa
• Os avanços nas tecnologias de genética molecular constituem meios valiosos e efetivos para atrair e
estão sendo rotineiramente integrados a muitos reter novos profissionais de saúde para o campo da
laboratórios de diagnóstico genético. A triagem hemofilia.
completa do gene F8 ou F9 é realizada por reação • Uma abordagem coordenada para promover a
em cadeia da polimerase (PCR) e sequenciamento competência clínica em hemofilia (ou seja, programas
de Sanger, ou por sequenciamento de última de educação continuada, treinamento e bolsas) com
geração.25-29 O uso dessas técnicas está evoluindo base nas necessidades e prioridades locais, regionais
e aumentando em nível internacional. A abordagem e/ou nacionais fornecerá as bases para sustentar e
e o uso de uma técnica específica dependem da melhorar os cuidados padrão.
competência técnica e dos recursos disponíveis. O • A colaboração entre os centros de hemofilia em
aconselhamento genético deve incluir uma discussão países com recursos limitados e recursos adequados
abrangente sobre a possibilidade de achados e o suporte de órgãos especializados estabelecidos
incidentais em outros genes além de F8 ou F9, constituem caminhos efetivos para promover os
dependendo dos métodos usados para a avaliação. conhecimentos, a competência e os padrões de
• Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para cuidados em hemofilia.8
Hemofilia, o Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento • A WFH atua em muitos países do mundo para ajudar
Laboratorial, o Capítulo 4: Avaliação Genética, o a desenvolver e expandir as capacidades locais,
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação e o regionais e nacionais de diagnóstico laboratorial e
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo. tratamento da hemofilia por meio de seu programa de
compartilhamento de recursos médicos, programa
de auxílio humanitário31 e seminários de educação
1. 4 Princípio 4: Educação e multidisciplinar e treinamento para profissionais de
treinamento em cuidados para saúde.32
hemofilia • Ver o Princípio 7: Cuidados Multidisciplinares para
Recrutamento de especialistas médicos Hemofilia e o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes
• Uma vez que a hemofilia é um distúrbio raro, no para Hemofilia.
qual a disponibilidade de cuidados especializados
representa um determinante crucial do ônus da 1. 5 Princípio 5: Pesquisa clínica
doença 30, o recrutamento e o treinamento de e epidemiológica
médicos especialistas no manejo da hemofilia são
• Pesquisas baseadas em evidências sobre hemofilia
essenciais para estabelecer, manter e promover
são extremamente necessárias, mas são prejudicadas
cuidados padrão para reduzir a morbidade e a
por dificuldades significativas decorrentes do
mortalidade entre os hemofílicos, tanto em países
pequeno tamanho da população de pacientes.
com recursos adequados quanto naqueles com
• Uma vez que a maioria dos aspectos do manejo
limitações de recursos.
clínico da hemofilia é empírica e desprovida de
• O recrutamento de médicos, hematologistas e
evidências de alto nível, são necessários estudos bem
cientistas na área de trombose e hemostasia para
desenhados para gerar as evidências necessárias
o campo da hemofilia é essencial para garantir um
para a avaliação da prática atual. 8 Um programa
atendimento médico sustentado, de alta qualidade,
básico mútuo, como a Classificação Internacional
juntamente com o recrutamento de especialistas
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (ICF) da
médicos laboratoriais, enfermeiros, fisioterapeutas,
OMS, garante que as disciplinas sejam conectadas
terapeutas ocupacionais e outros especialistas
pelo mesmo modelo.
musculoesqueléticos (por ex., cirurgiões ortopédicos,
• Devido às diferenças de prioridades na prática ao
reumatologistas e fisiatras), dentistas e conselheiros
redor do mundo, é importante promover pesquisas
psicossociais. Todos representam uma parte integral
clínicas localmente relevantes.
dos cuidados abrangentes multidisciplinares para
• A padronização da avaliação de resultados permitirá
hemofilia e requerem uma educação especializada
comparações significativas entre estudos.33
16 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• As áreas prioritárias para pesquisa clínica em de situações de emergência e para fornecer


hemofilia incluem otimização da terapia de reposição aconselhamento e suporte especializado sem
de fatores de coagulação, melhor compreensão e demora.6
prevenção da formação de inibidores e coleta de • O uso de bancos de dados on-line nacionais ou
dados clínicos sobre os tratamentos existentes do WBDR para capturar dados relacionados
para hemofilia e práticas clínicas, tratamentos mais ao tratamento e à saúde dos pacientes permite
recentes como CFCs de meia-vida estendida e um melhor manejo agudo e em longo prazo
produtos hemostáticos não relacionados a fatores e dos hemofílicos e o uso de dispositivos móveis
possíveis terapias gênicas. digitais permite que os pacientes registrem seus
• Os registros de pacientes, com colaboração nacional sangramentos e transmitam as informações a seu
e internacional entre centros e países, representam HTC em tempo real.8
um modo efetivo para agrupar os dados e obter o • Ver o Princípio 7: Cuidados Multidisciplinares para
tamanho da amostra necessário para a condução Hemofilia e o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes
de pesquisas clínicas sobre distúrbios raros como a para Hemofilia.
hemofilia.
• O Registro Mundial de Distúrbios Hemorrágicos
1. 7 Princípio 7: Cuidados
da WFH permite que os pesquisadores abordem
questões importantes sobre o tratamento dos
Multidisciplinares para Hemofilia
pacientes, comparem os níveis de cuidados • O cuidado ideal para hemofílicos, especialmente
específicos do país e utilizem as evidências para aqueles com formas graves do distúrbio, requer
lutar por melhores cuidados para hemofilia.13 tratamento e cuidados abrangentes fornecidos por
• Ver o Capítulo 5: Agentes Hemostáticos, o Capítulo uma equipe multidisciplinar de especialistas.
6: Profilaxia na Hemofilia, o Capítulo 8: Inibidores do • As prioridades no tratamento e nos cuidados para
Fator de Coagulação e o Capítulo 11: Avaliação dos garantir os melhores resultados em termos de saúde
Resultados. e qualidade de vida para os hemofílicos incluem 6,8:
‒ prevenção de sangramento e lesão articular;
1. 6 Princípio 6: Tratamento agudo e ‒ manejo imediato de episódios hemorrágicos,
de emergência para sangramentos incluindo fisioterapia e reabilitação no
acompanhamento;
• Em situações críticas, os hemofílicos precisam ter ‒ cuidados emergenciais apropriados;
acesso imediato a medicamentos e tratamentos de ‒ manejo adequado da dor;
emergência, assim como cuidado especializado nos ‒ manejo de complicações musculoesqueléticas e
prontos-socorros de hospitais.6 A falta de experiência desenvolvimento de inibidores;
e conhecimento sobre o manejo da hemofilia entre ‒ manejo de comorbidades;
os profissionais médicos, em particular nos prontos- ‒ avaliação e suporte psicossocial regular, quando
socorros, pode provocar complicações relacionadas necessário; e
ao tratamento sérias.8,34 ‒ educação contínua sobre o tratamento e
• Portanto, é essencial estabelecer sistemas que autocuidados para pessoas e famílias que
permaneçam acessíveis em tempo integral para o convivem com a hemofilia.
manejo das complicações agudas da hemofilia que
podem ocasionar perda da vida ou de um membro.8 Automanejo e empoderamento dos pacientes
• Os centros de tratamento devem desenvolver • O automanejo, ou seja, a capacidade de os pacientes
protocolos para cuidados de emergência de assumirem o manejo diário de sua saúde e seus
hemofílicos, incluindo aqueles com inibidores, que cuidados de saúde,5 é essencial na hemofilia. Os
incluam o manejo de complicações agudas sérias hemofílicos devem ser competentes no controle
como hemorragia intracraniana (HIC) e outros tipos de sintomas hemorrágicos para preservarem
de hemorragia interna importante e trauma.8 (Ver o sua saúde, integridade articular e independência
Princípio 9: Manejo de Pacientes com Inibidores.) funcional.2 O automanejo permite que minimizem
• Os hemofílicos não devem ficar esperando no pronto- as consequências do distúrbio em curto e longo
socorro e devem ser avaliados imediatamente, prazo e pode ajudar a proporcionar uma sensação de
mesmo no caso de complicações menos sérias, normalidade e controle. 35
que podem apresentar uma deterioração durante a • Os principais componentes do automanejo na
espera. A intervenção imediata é mandatória.8 hemofilia incluem 35:
• Os médicos de atenção primária e a equipe do ‒ reconhecimento de sangramentos;
HTC devem estar preparados para o atendimento
Capítulo 1: Princípio dos Cuidados | 17

‒ manutenção de um registro de sangramentos e tempo para a aceitação e melhor compreensão da


tratamento; transição do modelo de cuidado pediátrico para
‒ autoadministração de CFCs ou outros produtos o adulto, assim como a realocação associada das
hemostáticos; responsabilidades pelo manejo da saúde e tomada
‒ autocuidados (ou seja, nutrição e aptidão física) e de decisão médica.39
controle de medicamentos (ou seja, manutenção • Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para
de registros, rotinas de tratamento, manutenção Hemofilia — Transição de Cuidados Pediátricos para
de suprimento terapêutico adequado, Adultos e o Capítulo 9: Questões Específicas do
armazenamento adequado, reconstituição e Manejo — Aspectos Psicossociais.
administração dos produtos para tratamento);
‒ manejo da dor;
‒ manejo do risco; e 1. 8 Princípio 8: Terapia de
‒ participação no relato e documentação da reposição regular (profilaxia)
evolução.
• As organizações de defesa dos pacientes têm • Os cuidados padrão para todos os pacientes
um papel importante na promoção dos cuidados com hemofilia grave consiste na terapia de
para hemofilia ao redor do globo. Portanto, essas reposição regular (profilaxia) com CFCs ou
organizações devem ser encorajadas e apoiadas outros produtos hemostáticos para prevenir
para abordar os aspectos dos cuidados que não são sangramentos, introduzida no início da vida (antes
cobertos pelo sistema de saúde, incluindo a ênfase dos 3 anos de idade) para prevenir complicações
no empoderamento dos pacientes e o trabalho com musculoesqueléticas provocadas por sangramentos
outras agências para promover os cuidados. articulares e musculares recorrentes.40
• Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para • A terapia de reposição de fatores de coagulação
Hemofilia, Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias episódica (“por demanda”) já não deve ser
Específicas, Capítulo 8: Inibidores do Fator de considerada como uma opção terapêutica em longo
Coagulação, Capítulo 9: Questões Específicas prazo.
do Manejo e o Capítulo 10: Complicações • A implementação de programas de profilaxia
Musculoesqueléticas. domiciliares aumenta a aderência e permite que os
hemofílicos tenham vidas relativamente normais.
Transição de cuidados pediátricos para adultos Esses programas devem ser acompanhados pela
• A transição dos cuidados pediátricos para adultos, educação de pacientes, famílias e profissionais de
durante a qual adolescentes e adultos jovens com saúde sobre os benefícios da profilaxia e a importância
hemofilia assumem gradualmente a responsabilidade da aderência aos regimes terapêuticos.35,37,41
por sua própria saúde e pelo manejo da hemofilia, • A profilaxia em crianças pequenas pode ser a melhor
pode ser um desafio para os pacientes e suas maneira de um país começar a implementar a
famílias.36 profilaxia universal para hemofílicos.8
• A aderência ao tratamento é um desafio • Ver o Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia e o Capítulo
importanteem dois pontos de transição: quando 10: Complicações Musculoesqueléticas.
jovens hemofílicos passam para a auto infusão e,
novamente, quando saem de casa e assumem a total
1. 9 Princípio 9: Manejo de
responsabilidade pelo autocuidado.37
• Portanto, os cuidados abrangentes para hemofilia
pacientes com inibidores
devem incluir uma abordagem escrupulosa para • A vigilância sistemática para inibidores e o manejo
a transição dos cuidados, que começa no início da abrangente de inibidores devem ser implementados
adolescência38 e favorece o desenvolvimento das para indivíduos com hemofilia A, 23 em particular
habilidades de autoeficácia e automanejo dos jovens, quando os pacientes apresentam o maior risco
incluindo a tolerância psicossocial.37 durante suas primeiras 20 exposições a CFCs
• Profissionais de saúde voltados a pacientes (com uma exposição definida como todos os CFCs
pediátricos e adultos devem estar comprometidos administrados em um período de 24 horas 8,42) e
em considerar as necessidades individuais dos em seguida até 75 exposições.43
pacientes e suas famílias para garantir uma transição • Atualmente, a erradicação de inibidores é obtida de
suave e garantir o melhor cuidado possível durante modo mais adequado pela terapia de indução de
esse período.36 tolerância imunológica (ITI).
• O envolvimento de adolescentes e seus cuidadores • Os pacientes que desenvolverem inibidores devem
no início do processo de transição permite que haja ter acesso a ITI e a agentes hemostáticos adequados
18 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

para controle de sangramentos, assim como Portadoras de hemofilia


intervenções cirúrgicas, se necessário, em centros
especializados com experiência relevante.9,23 • Algumas portadoras de hemofilia apresentam
• Agentes de bypass e outros produtos terapêuticos problemas hemorrágicos, incluindo hemorragias
adequados devem estar disponíveis para pacientes articulares, de modo semelhante aos homens; além
que não responderem a doses otimizadas de fatores disso, podem apresentar problemas específicos para
ou ITI.23,40,44 mulheres, como sangramento menstrual prolongado
• Devido aos custos e outras limitações das ou intenso46-49. Considera-se que as portadoras
modalidades terapêuticas atuais, são necessárias sintomáticas tenham hemofilia leve ou moderada.
pesquisas e inovações na prevenção e tratamento Portanto, é importante incluir um ginecologista na
de inibidores. 8 equipe de cuidados abrangentes para o manejo das
• Ver o Capítulo 5: Agentes Hemostáticos e o Capítulo portadoras.
8: Inibidores do Fator de Coagulação. • As portadoras podem sofrer um impacto
significativo em vários aspectos de suas vidas
e, como consequência, necessitam de cuidados
1. 10 Princípio 10: Manejo de especializados específicos para questões
complicações musculoesqueléticas reprodutivas, incluindo aconselhamento genético,
teste genético, diagnóstico e planejamento pré-
• A prevenção e o tratamento de complicações
natal, teste do recém-nascido e aconselhamento
musculoesqueléticas em hemofílicos são importantes
psicossocial.
para sua saúde, autonomia e qualidade de vida.
• Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo
• Em todos os casos de sangramento
— Portadoras.
musculoesquelético, o tratamento adequado
em geral exige uma combinação de terapia de
Cirurgias e outros procedimentos invasivos
reposição de fatores de coagulação e fisioterapia
com um fisioterapeuta experiente para obter uma
• Cirurgias e outros procedimentos invasivos
recuperação funcional completa.45
acarretam riscos específicos para pacientes com
• Os hemofílicos também devem ter acesso a
hemofilia; contudo, esses procedimentos podem ser
especialistas musculoesqueléticos (ou seja,
realizados com segurança se um suporte laboratorial
fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fisiatra,
adequado, planejamento pré-operatório cuidadoso e
especialista em medicina física/reabilitação,
hemostasia apropriada com quantidades suficientes
reumatologista, ortopedista, cirurgião ortopédico)
de CFCs e outros produtos hemostáticos forem
com experiência em hemofilia, com avaliações
fornecidos durante e após a cirurgia, assim como uma
musculoesqueléticas anuais e monitoramento
recuperação pós-operatória e reabilitação ideais.
longitudinal de suas evoluções musculoesqueléticas
• Portanto, os centros de tratamento e os hospitais
e medidas preventivas ou corretivas quando houver
devem estabelecer protocolos para garantir que
necessidade.
hemofílicos, com ou sem inibidores, tenham acesso
• Intervenções cirúrgicas podem ser necessárias para
rápido a esses serviços, tanto em situações de
complicações musculoesqueléticas se as medidas
cirurgia aguda quanto eletiva.
não cirúrgicas não fornecerem um alívio satisfatório
• Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo —
da dor e melhora da função. Os cirurgiões
Cirurgia e Procedimentos Invasivos.
ortopédicos devem ter um treinamento específico
no manejo cirúrgico de pacientes com hemofilia.
Manejo de comorbidades
• Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para
Hemofilia e o Capítulo 10: Complicações
• A melhor expectativa de vida na hemofilia levou a
Musculoesqueléticas.
um maior interesse em distúrbios relacionados à
idade, com doença cardiovascular, hipertensão e
outros fatores de risco cardiovascular relatados cada
1. 11 Princípio 11: Manejo de condições
vez mais em adultos com hemofilia.50-54
específicas e comorbidades • O tratamento das comorbidades, em especial as
• Complicações específicas e aspectos do manejo doenças cardiovasculares, é um dos desafios mais
podem afetar os hemofílicos e suas famílias em importantes.50
diferentes estágios da vida. O tratamento e o • Embora a maior parte das evidências sugira que a
cuidado dessas condições devem ser estabelecidos hemofilia, no mínimo em sua forma grave, oferece
como parte dos programas nacionais de hemofilia. uma proteção parcial contra o infarto do miocárdio,
Capítulo 1: Princípio dos Cuidados | 19

AVC e tromboembolismo venoso, os fatores de risco 1. 12 Princípio 12: Avaliação da evolução


cardiovascular típicos ainda podem estar presentes e
causar doença apesar do defeito de coagulação.50,55 • No manejo de hemofilia, a avaliação da evolução
• Os hemofílicos têm uma propensão igual ou até refere-se ao uso de ferramentas específicas
maior à obesidade, hipertensão e diabetes que a projetadas para monitorar o curso da doença em
população geral.50 um indivíduo e medir as consequências da doença
• São necessárias estratégias preventivas para e seu tratamento (ou seja, efetividade do tratamento
identificar hemofílicos que apresentem um maior hemostático e complicações associadas).33
risco de desenvolvimento de doença cardiovascular • Para garantir que todas as consequências do
na vida adulta.56 distúrbio sejam avaliadas, a avaliação da evolução
• Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo deve seguir o modelo ICF da OMS.58,59
— Comorbidades. • Uma avaliação padronizada e validada da evolução
é necessária para o manejo clínico de pacientes
Questões médicas com o envelhecimento individuais, para avaliar a qualidade dos cuidados
fornecidos e para fins de pesquisa ou defesa.33
• Conforme envelhecem, os hemofílicos necessitam • O indicador mais importante da eficácia do tratamento
de educação e estratégias preventivas para reduzir hemostático é a frequência de sangramentos, em
os riscos e o impacto das morbidades relacionadas particular sangramentos articulares e musculares. A
à idade. frequência de sangramentos é o principal parâmetro
• A equipe de hemofilia deve estar intimamente para decisões terapêuticas e também é usada como
envolvida no planejamento e manejo dos cuidados um indicador da evolução musculoesquelética em
especializados para hemofílicos com comorbidades longo prazo.6
e quaisquer complicações relacionadas à idade para • Nos cuidados para hemofilia, o impacto dos
facilitar uma consultoria próxima e a combinação dos sangramentos sobre o sistema musculoesquelético
planos de tratamento. e outros sistemas é medido em vários domínios,
• Hemofílicos idosos devem ser tratados do mesmo incluindo a estrutura e função do corpo e atividades
modo que seus pares na população geral, com e participação. Todos esses domínios podem ser
exceção da correção adicional necessária da afetados por fatores contextuais, incluindo fatores
hemostasia comprometida com CFCs.50 ambientais, pessoais e econômicos.33
• Os serviços especializados devem conhecer • Múltiplas ferramentas clínicas e radiológicas são
bem o manejo de sangramentos e as exigências usadas para avaliar o estado das articulações e
terapêuticas específicas dos hemofílicos.8 grupos musculares específicos. As mensurações
• Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo — de atividades e participação são relatadas pelos
Questões médicas com o envelhecimento. próprios pacientes ou observadas.6,60
• O desenvolvimento contínuo de ferramentas de
Manejo de infecções transmitidas por transfusão mensuração e avaliação específicas para hemofilia
oferece oportunidades para que médicos e
• As infecções transmitidas por transfusão, pacientes entendam e avaliem melhor a natureza
em particular aquelas associadas aos vírus dos comprometimentos e limitações funcionais
da imunodeficiência humana e da hepatite C, associadas à condição.8,60
representavam complicações importantes no • Nos últimos anos, as autoridades sanitárias, incluindo
tratamento da hemofilia no passado. os órgãos de avaliação de tecnologia de saúde, estão
• É absolutamente imperativo garantir que os produtos dependendo cada vez mais de dados de resultados
da terapia de reposição atual sejam bem testados e relatados pelos pacientes para avaliar os benefícios
submetidos à inativação viral para evitar qualquer das intervenções de saúde.61
possibilidade de transmissão dessas infecções. • Apesar da disponibilidade de diversas opções de
• Embora o manejo dessas condições não seja avaliação, um conjunto central de medidas para
abordado subsequentemente nessas diretrizes, avaliação da evolução na hemofilia ainda precisa
em vista da efetividade dos tratamentos antivirais ser definido. Idealmente, esse conjunto central seria
atuais para essas duas condições, é importante aplicável às realidades clínicas e culturais do manejo
que os serviços relevantes estejam universalmente da hemofilia no mundo todo.12,13
acessíveis a todos os pacientes hemofílicos que • Ver o Capítulo 11: Avaliação dos Resultados.
precisarem deles.57
20 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

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INFORMAÇÕES DE SUPORTE
Outras informações de suporte podem ser encontradas
on-line na seção Informações de Suporte.
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 23

2 CUIDADOS ABRANGENTES
PARA HEMOFILIA
Elena Santagostino1 | Alison Dougall2 | Mathieu Jackson3 | Kate Khair4 |
Richa Mohan5 | Kim Chew6 | Augustas Nedzinskas7 | Margareth C. Ozelo8 |
H. Marijke van den Berg9 | Glenn F. Pierce10 | Alok Srivastava11

1. Angelo Bianchi Bonomi Hemophilia and Thrombosis Centre, Istituto di Ricovero e Cura a Carattere Scientifico Cà Granda
Foundation, Maggiore Hospital Policlinico, Milão, Itália, e Sobi, Basileia, Suíça
2. Special Care Dentistry Division of Child and Public Dental Health, School of Dental Science, Trinity College Dublin, Dublin Dental
University Hospital, Dublin, Irlanda
3. Centre of Excellence on Partnership with Patients and the Public, Université de Montréal, Montreal, QC, Canadá
4. Centre for Outcomes and Experience Research in Child Health, Illness and Disability Research Unit (ORCHID) e Great Ormond
Street Hospital for Children, Londres, Reino Unido
5. Empowering Minds Society for Research and Development, Nova Delhi, Índia
6. Kuala Lumpur, Malásia
7. Ariogala, Lituânia
8. INCT do Sangue Hemocentro UNICAMP, Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil
9. PedNet Haemophilia Research Foundation, Baarn, Países Baixos
10. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
11. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações casos por 100.000 indivíduos do sexo masculino
são baseadas em consenso, o que é indicado por CB. para todas as gravidades de hemofilia B (1,5 casos
para hemofilia B grave). 1
2. 1 Introdução • A hemofilia geralmente é herdada por um
cromossomo X com uma mutação no gene F8 ou F9.
• A hemofilia é um distúrbio hemorrágico congênito
Contudo, os genes F8 e F9 são propensos a novas
raro ligado ao cromossomo X, caracterizado por
mutações e cerca de 30% de todos os casos são
uma deficiência do fator de coagulação VIII (FVIII),
resultantes de variantes genéticas espontâneas.
chamada de hemofilia A, ou do fator IX (FIX),
Estudos prospectivos relatam que mais de 50% das
chamada de hemofilia B. As deficiências de fatores
pessoas com hemofilia grave recém-diagnosticada
são o resultado de variantes patogênicas nos genes
não têm uma história familiar prévia de hemofilia.2,3
de fatores de coagulação F8 e F9.
• A hemofilia geralmente afeta apenas os homens,
• As melhores estimativas de prevalência da
que herdam um cromossomo X materno afetado.
hemofilia, com base nos dados disponíveis do
Mulheres hemofílicas (FVIII ou FIX < 40 UI/dL) são
registro nacional de pacientes mais confiável e nos
raras; nesses casos, os dois cromossomos X são
recentes levantamentos anuais globais da Federação
afetados ou um é afetado e o outro é inativo. Uma
Mundial de Hemofilia (WFH), indicam que o número
mulher com um cromossomo X afetado é chamada
esperado de homens com hemofilia no mundo todo
de portadora de hemofilia.4
corresponde a 1.125.000, cuja maioria permanece
• Hemorragias, complicações musculoesqueléticas e
sem um diagnóstico, incluindo uma estimativa de
outras sequelas da hemofilia normalmente ocorrem
418.000 homens com hemofilia grave.1
em homens hemofílicos, mas também podem ocorrer
em uma proporção de mulheres portadoras. Uma
Hemofilia A e B vez que os níveis basais de fatores em portadoras
• A hemofilia A é muito mais comum que a hemofilia podem estar normais ou reduzidos de modos
B. Estima-se que a hemofilia A represente 80%- variáveis, os sintomas e as complicações da hemofilia
85% de todos os casos de hemofilia; estima-se que a são menos comuns em mulheres e muitas vezes são
hemofilia B represente 15%-20% de todos os casos ignorados e pouco diagnosticados; sangramentos
de hemofilia. A prevalência estimada no nascimento articulares em portadoras com frequência não
corresponde a 24,6 casos por 100.000 indivíduos são reconhecidos, levando a evoluções mais
do sexo masculino para todas as gravidades de desfavoráveis em decorrência de problemas
hemofilia A (9,5 casos para hemofilia A grave) e 5,0 articulares não diagnosticados. É necessário
24 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

um melhor diagnóstico e manejo dos problemas manifestações hemorrágicas na hemofilia em geral


hemorrágicos em portadoras. (Ver o Capítulo 9: está correlacionada ao grau de deficiência do fator
Questões Específicas do Manejo — Portadoras.) de coagulação (ver a Tabela 2-1).
• Indivíduos com hemofilia leve podem não apresentar
Diagnóstico clínico necessariamente problemas hemorrágicos anormais
• Deve-se suspeitar de hemofilia em indivíduos que ou prolongados até sofrerem um trauma sério ou
apresentarem uma história de qualquer um desses passarem por uma cirurgia.
sintomas: • Indivíduos com hemofilia grave na maioria das vezes
‒ contusão fácil; apresentam sangramento em articulações, músculos
‒ sangramento “espontâneo” (ou seja, sangramento e órgãos internos (ver as Tabelas 2-2 e 2-3).
sem um motivo aparente/conhecido), em • Em recém-nascidos e crianças menores de 2 anos
particular nas articulações, músculos e tecidos de idade com hemofilia grave, os tipos comuns de
moles; sangramento incluem 6,7:
‒ sangramento excessivo após trauma ou cirurgia. ‒ sangramento em tecidos moles e intramuscular;
• Os sintomas iniciais de sangramento articular em ‒ sangramento associado a um procedimento
crianças muito novas constituem um indicador médico (por ex., punção venosa, colocação de
fundamental de hemofilia grave.5 (Ver também cateter central, circuncisão, teste neonatal de
“Manifestações hemorrágicas” a seguir.) punção do calcanhar);
• Se houver suspeita de hemofilia, o médico deve ‒ sangramento mucocutâneo (por ex., oral, nasal);
obter a história de sangramentos do paciente e ‒ sangramento extracraniano.
uma história familiar de sangramentos anormais • Alguns tipos de sangramento podem acarretar
ou inexplicados apresentados por qualquer irmão um risco à vida e exigir tratamento e atendimento
ou parentes do sexo masculino pelo lado materno médico imediato.
(ou seja, primo, tio ou avô do lado materno) para • Ver a Tabela 2-2 e o Capítulo 7: Tratamento de
determinar os padrões de herança e auxiliar no Hemorragias Específicas.
diagnóstico.
• O diagnóstico correto de hemofilia é essencial
Educação de pacientes/cuidadores
para orientar o manejo adequado. Um diagnóstico
definitivo de hemofilia é baseado em um ensaio de • Hemofílicos e familiares/cuidadores primários
fator que demonstre a deficiência de FVIII ou FIX. devem receber uma educação abrangente sobre os
• Ver o Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento cuidados para hemofilia, em especial a prevenção
Laboratorial e o Capítulo 4: Avaliação Genética. e o tratamento de hemorragias e o manejo de
complicações musculoesqueléticas, e treinamento
sobre as habilidades essenciais para automanejo,
Manifestações hemorrágicas incluindo o reconhecimento do sangramento,
• O fenótipo característico da hemofilia consiste autotratamento, manutenção de registros, cuidado
na tendência a sangramentos. A gravidade das odontológico e gerenciamento de risco.10,11 (Ver 2.5
Tratamento domiciliar — Automanejo, a seguir.)

TABELA 2-1 Relação entre a gravidade do sangramento e o nível do fator de coagulação8

Gravidade Nível de fator de coagulação Episódios hemorrágicos

• Sangramento espontâneo nas articulações ou


< 1 UI/dL (< 0,01 UI/mL) ou < 1% do
Grave músculos, predominantemente na ausência de
normal
uma provocação hemostática identificável

• Sangramento espontâneo ocasional;


1–5 UI/dL (0,01–0,05 UI/mL) ou
Moderada sangramento prolongado com trauma menor
1–5% do normal
ou cirurgia de pequeno porte
• Sangramento grave com trauma ou cirurgia
5–40 UI/dL (0,05–0,40 UI/mL) ou
Leve de grande porte; sangramento espontâneo
5–< 40% do normal
raro
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 25

2. 2 Cuidados abrangentes ‒ fornecimento de componentes hemoderivados


seguros como plasma fresco congelado (PFC)
• Os cuidados abrangentes para hemofilia envolvem
e crioprecipitado adequadamente selecionados,
os serviços médicos multidisciplinares necessários
testados e/ou com inativação viral, quando CFCs
para o diagnóstico, tratamento e manejo da
não estiverem disponíveis;
condição e suas complicações. Esses serviços
‒ imobilização com gesso e/ou talas e auxílios para
normalmente são fornecidos por um centro para
mobilidade/suporte, quando necessário.
tratamento de hemofilia ou um centro de cuidados
• Ver o Capítulo 5: Agentes Hemostáticos.
abrangentes para hemofilia, como descrito no
Capítulo 1: Princípios dos Cuidados — Princípio 1:
Equipe de cuidados abrangentes
Coordenação nacional e fornecimento dos cuidados
para hemofilia. Os cuidados abrangentes promovem
• As necessidades variáveis dos hemofílicos e suas
a saúde física, o bem-estar psicossocial e a qualidade
famílias são atendidas de modo mais apropriado
de vida de hemofílicos e reduzem a morbidade e a
por uma equipe multidisciplinar de profissionais de
mortalidade.11-13 Devem incluir cuidados centrados
saúde com competência e experiência em hemofilia,
na família, particularmente o diagnóstico e o manejo
de acordo com os protocolos e práticas aceitos e os
de portadoras.11,14
cuidados padrão nacionais, se disponíveis.10,15,16

Principais componentes dos cuidados abrangentes


Parceria entre paciente/profissional de saúde e tomada
de decisão
• A hemofilia é um distúrbio hereditário raro de
• Os hemofílicos são considerados membros centrais
diagnóstico e manejo complexos. O cuidado ideal,
diferenciados da equipe de cuidados abrangentes
especialmente em indivíduos com as formas graves
que, por meio do automanejo de rotina, tornam-se
do distúrbio, requer mais que o tratamento de
especialistas e parceiros em seus próprios cuidados
hemorragias agudas.
para hemofilia.
• As prioridades no tratamento e cuidado da hemofilia
incluem 10,11:
‒ prevenção de sangramento e lesão articular; TABELA 2-2 Locais de sangramento na hemofilia 9
‒ manejo imediato de episódios hemorrágicos,
incluindo fisioterapia e reabilitação após Sérios • Articulações (hemartrose)
hemorragias articulares; • Músculos, especialmente nos
‒ manejo da dor; compartimentos profundos
‒ manejo de complicações musculoesqueléticas; (iliopsoas, panturrilha, antebraço)
‒ prevenção e manejo de inibidores; • Membranas mucosas da boca,
‒ manejo de comorbidades; nariz e trato genitourinário
‒ cuidados odontológicos; Risco à vida • Intracraniano
‒ avaliações de qualidade de vida e suporte • Pescoço/garganta
psicossocial; • Gastrointestinal
‒ aconselhamento e diagnóstico genético;
‒ educação e suporte contínuos ao paciente/
cuidador familiar. TABELA 2-3 Frequência aproximada de
• O atendimento de emergência deve estar disponível sangramento em diferentes locais
em todos os momentos, com os seguintes serviços e
Frequência
recursos essenciais 10,11: Local do sangramento
aproximada
‒ serviços de laboratório de coagulação com
capacidade para a realização de ensaios de fator Articulações 70–80%
• Mais comum em articulações de
de coagulação e testes de inibidores exatos e tipo gínglimo: tornozelos, joelhos,
precisos; cotovelos
‒ fornecimento de concentrados de fatores de • Menos comum em articulações
coagulação (CFCs), tanto derivados de plasma multiaxiais: ombros, punhos, quadris
com inativação viral quanto recombinantes,
assim como outros agentes hemostáticos Músculos 10–20%
como desmopressina (DDAVP) e agentes Outros locais (sangramentos maiores) 5–10%
antifibrinolíticos (ácido tranexâmico ou ácido
épsilon-aminocaproico [EACA]), quando Sistema nervoso central < 5%
disponíveis;
26 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• É importante envolver os pacientes (e seus pais/ a preservação da saúde musculoesquelética. 19


cuidadores) na tomada de decisão, incorporar suas Outros especialistas musculoesqueléticos (ou
preferências específicas, valores e experiências seja, terapeuta ocupacional, fisiatra, especialista
pessoais17 e obter sua anuência com os planos de em medicina física/reabilitação, reumatologista,
tratamento e manejo em curto e longo prazo. Todas ortopedista, cirurgião ortopédico) fornecem
as partes devem estar envolvidas na tomada de tratamento para condições musculoesqueléticas
decisão verdadeiramente compartilhada por meio de específicas.
discussões informadas sobre as opções de cuidados ‒ O especialista de laboratório realiza exames
de saúde disponíveis e os resultados previstos, de sangue especializados para estabelecer o
incluindo recomendações de diretrizes orientadas diagnóstico e monitorar o tratamento, incluindo
por evidências, os benefícios e riscos das diversas testes de coagulação sanguínea, ensaios de
opções e as preocupações e valores expressos fatores e ensaios de inibidores.
pelos pacientes e cuidadores.18 Devem trabalhar ‒ O conselheiro psicossocial (de preferência
juntos no desenvolvimento e atualização periódica um assistente social ou um psicólogo)
de diretrizes terapêuticas individualizadas que os conduz avaliações psicossociais e oferece
pacientes/cuidadores possam consultar à vontade aconselhamento e/ou encaminhamentos a
e compartilhar com outras pessoas envolvidas nos recursos da comunidade.
cuidados. • As funções assumidas pelos principais membros
• Cada vez mais, os pacientes não apenas são da equipe podem variar nos diferentes centros,
membros ativos de sua própria equipe de cuidados, dependendo da disponibilidade e das competências
mas estão se tornando parceiros integrais na equipe da equipe treinada e da organização dos serviços no
de saúde envolvida em pesquisa, educação médica centro.
e treinamento de estudantes, em reconhecimento • A equipe de cuidados abrangentes também deve
ao valor de seus conhecimentos e competências incluir ou ter acesso a dentistas com experiência
específicos.17 em hemofilia e outros especialistas necessários
para abordar questões médicas e relacionadas à
Equipe multidisciplinar saúde específicas com as quais alguns hemofílicos e
• A equipe central normalmente consiste em diretor portadoras podem se deparar, incluindo:
médico, coordenador de enfermagem, fisioterapeuta, ‒ especialista em dor crônica;
especialista de laboratório e conselheiro psicossocial; ‒ farmacêutico;
todos devem contar com um treinamento específico ‒ geneticista;
no campo. ‒ hepatologista;
‒ O diretor médico (geralmente um hematologista ‒ especialista em doenças infecciosas;
pediátrico e/ou adulto ou um médico com ‒ imunologista;
treinamento e experiência no tratamento de ‒ ginecologista/obstetra;
hemofilia e outros distúrbios hemorrágicos) ‒ conselheiro vocacional.
supervisiona o manejo do paciente, incluindo • Outros especialistas médicos podem ser necessários
a solicitação de exames laboratoriais para para abordar condições comórbidas relacionadas
diagnóstico, prescrição do tratamento e à idade, estilo de vida ou outras circunstâncias.
monitoramento da saúde e necessidades (Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo
médicas do paciente. — Comorbidades.)
‒ O coordenador de enfermagem, que deve ter • Protocolos de manejo clínico detalhados são
recebido treinamento no manejo de pacientes essenciais para garantir a continuidade dos cuidados
com distúrbios hemorrágicos, coordena no caso de mudanças de pessoal dentro da equipe
o fornecimento dos cuidados pela equipe de cuidados abrangentes. 10,15,16
multidisciplinar, educa os pacientes e suas • Para incentivar a competência e a experiência
famílias, fornece treinamento para tratamento necessárias em hemofilia, mentorias e bolsas podem
domiciliar e outros aspectos dos cuidados, oferecer oportunidades para o recrutamento de
avalia os pacientes e institui os cuidados iniciais, profissionais médicos para a área e promoção do
quando apropriado. conhecimento clínico.
‒ O fisioterapeuta desempenha um papel
importante na educação de hemofílicos e seus Recomendação 2.2.1:
cuidadores sobre medidas preventivas, facilitando • Para hemofílicos, a WFH recomenda o
a recuperação funcional completa após cada fornecimento coordenado de cuidados
sangramento e aconselhando os indivíduos sobre abrangentes por uma equipe multidisciplinar
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 27

de profissionais de saúde com competência e Coordenação e fornecimento de cuidados


experiência em hemofilia. • Um programa de cuidados abrangentes permite
• OBSERVAÇÃO: Os membros centrais da equipe a coordenação centralizada dos cuidados
de cuidados abrangentes devem consistir em um entre especialidades, serviços e unidades
diretor médico, um coordenador de enfermagem, multidisciplinares e o fornecimento de cuidados
especialistas musculoesqueléticos, especialista em um contexto de internação (hospitalizações) e
de laboratório clínico, especialista psicossocial, ambulatorial (check-ups e outras visitas clínicas) aos
o paciente e cuidadores da família. As funções pacientes e suas famílias.
assumidas pelos principais membros da equipe • Os hemofílicos exigem monitoramento e avaliação
podem variar nos diferentes centros, dependendo periódicos de sua condição e circunstâncias. Devem
da disponibilidade e das competências da equipe ser avaliados no mínimo uma vez por ano; pacientes
treinada e da organização dos serviços no centro. com hemofilia leve ou moderada podem exigir um
CB. monitoramento menos frequente. 20
• Encaminhamentos a outros serviços (por ex.,
Recomendação 2.2.2: odontologia, cirurgia, ginecologia/obstetrícia),
• Para hemofílicos, a WFH recomenda a incluindo a comunicação do plano de manejo de
disponibilidade e o acesso a: cuidados a todos os responsáveis pelos tratamento
‒ cuidados de emergência apropriados em todos e unidades de cuidados, são providenciados pelo
os momentos; programa, ajudando a garantir que os pacientes
‒ um laboratório de coagulação capaz de realizar recebam cuidados ideais de especialistas
ensaios de fatores de coagulação e teste de com competência apropriada em hemofilia. O
inibidores; planejamento e a coordenação dos procedimentos
‒ concentrados de fatores de coagulação (CFCs) devem envolver os pacientes/cuidadores da família
apropriados, tanto derivados de plasma em consulta a todos os especialistas necessários (por
quanto recombinantes, assim como outros ex., no caso de uma cirurgia, o anestesista, o cirurgião
agentes hemostáticos como desmopressina e a equipe cirúrgica, incluindo a enfermagem). 20-22
(DDAVP), emicizumabe e antifibrinolíticos; • A colaboração contínua com pacientes e cuidadores
‒ componentes hemoderivados seguros da família é essencial para desenvolver, monitorar e
como plasma fresco congelado (PFC) e refinar o plano de manejo de cuidados abrangentes.
crioprecipitado adequadamente selecionados,
testados e/ou com inativação viral se CFCs Recomendação 2.2.4:
não estiverem disponíveis; • Para hemofílicos, a WFH recomenda um
‒ uso de moldes gessados e/ou talas para check-up multidisciplinar, incluindo avaliações
imobilização e auxílios para mobilidade/apoio, hematológicas, musculoesqueléticas e da
quando necessário; qualidade de vida pelos membros centrais da
‒ outros especialistas para abordar questões equipe de cuidados abrangentes, no mínimo
médicas e relacionadas à saúde específicas anualmente (a cada 6 meses para crianças).
que alguns indivíduos possam encontrar, • OBSERVAÇÃO: Centros menores e médicos de
quando necessário. CB família podem fornecer os cuidados primários e
o manejo de algumas complicações da hemofilia,
Recomendação 2.2.3: em consulta frequente ao centro de cuidados
• Para todos os pacientes com hemofilia, a WFH abrangentes para hemofilia, especialmente para
sugere a preparação de protocolos de manejo pacientes que morem a uma grande distância
clínico escritos para garantir a continuidade dos do centro para tratamento de hemofilia mais
cuidados no caso de mudanças na equipe clínica. próximo.
CB
Registro de pacientes e coleta de dados
Funções de um programa de cuidados abrangentes • O programa de cuidados abrangentes facilita a
coleta de dados centralizada de pacientes sobre
• Um programa de cuidados abrangentes ajuda a locais de sangramento, tipos e doses do tratamento
colocar os princípios fundamentais de cuidados administrado, complicações do tratamento e
abrangentes para hemofilia em operação. As avaliação da evolução musculoesquelética em longo
funções centrais são descritas aqui prazo e outros resultados de saúde e resultados
relatados pelos pacientes (por ex., atividades
relacionadas a sangramento, dor aguda e crônica,
28 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

dias de estudo ou trabalho perdidos, impacto da podem encontrar na vida diária, em particular
hemofilia sobre as atividades da vida diária). O aqueles relacionados ao manejo de hemorragias,
Registro Mundial de Distúrbios Hemorrágicos incluem:
(WBDR) da WFH é uma plataforma on-line para ‒ alterações associadas aos diferentes estágios de
utilização por centros para tratamento de hemofilia crescimento e desenvolvimento (especialmente
ao redor de globo, destinada a colher esses dados adolescência e envelhecimento);
para monitorar as evoluções dos pacientes e orientar ‒ aderência a um regime médico complexo que
a prática clínica. 23 requer infusões IV frequentes em meio a outras
• Os registros dos pacientes devem ser mantidos em necessidades familiares simultâneas 24;
conformidade com as leis de confidencialidade e ‒ questões relativas ao estudo e/ou emprego;
outros regulamentos nacionais, idealmente em um ‒ questões psicossociais e de saúde mental;
registro de pacientes computadorizado que seja ‒ problemas hemorrágicos e questões reprodutivas
atualizado com regularidade pela equipe clínica em portadoras.
designada, com contribuições diretas ou indiretas • Em colaboração com organizações de pacientes
dos pacientes. hemofílicos, um programa de cuidados abrangentes
• A coleta de dados sistemática também serve para ajuda a promover e/ou facilitar grupos de apoio para
facilitar a auditoria dos serviços fornecidos pelo hemofilia, seminários educacionais e atividades
centro para tratamento de hemofilia, com o objetivo recreativas como acampamentos de hemofílicos.
de melhorar o fornecimento dos cuidados e ajudar o • Ver 2.5 Tratamento domiciliar e 2.8 Transição de
paciente a lidar melhor com sua condição de saúde. cuidados pediátricos para adultos, a seguir, e o
• Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo, o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo.
Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas e o
Capítulo 11: Avaliação dos Resultados. Recomendação 2.2.6:
• A WFH recomenda que uma educação adequada
Recomendação 2.2.5: seja fornecida aos hemofílicos, seus familiares e
• Para todos os pacientes com hemofilia, a WFH outros cuidadores para permitir o automanejo e
recomenda a coleta de dados sistemática em compreensão suficiente da doença para prevenção
registros de pacientes, quando possível, para de sangramentos e complicações relacionadas e
orientar a alocação de recursos, favorecer a para o planejamento da vida. CB
melhoria dos serviços de fornecimento dos
cuidados e promover a colaboração entre os Recomendação 2.2.7:
centros em termos de compartilhamento de • Para hemofílicos e suas famílias, a WFH
dados e condução de pesquisas. CB recomenda a promoção e/ou facilitação de
atividades educacionais e recreativas em
Pesquisa clínica colaboração com organizações de pacientes,
• Pesquisas básicas e clínicas sobre hemofilia devem para proporcionar oportunidades de descobrirem
ser conduzidas, quando possível. Uma vez que novos interesses e capacidades e estabelecer
o número de pacientes hemofílicos em centros uma rede de suporte com diversos membros da
individuais pode ser limitado, as pesquisas clínicas comunidade de hemofilia. CB
são conduzidas de modo mais adequado em
colaboração com outros centros de hemofilia e
2. 3 Aptidão e atividade física
grupos nacionais de pacientes com hemofilia, como
as organizações de membros nacionais (NMOs) da • A atividade física é importante para promover o
WFH. desenvolvimento neuromuscular normal e a boa
forma física 19.
Educação e suporte aos pacientes/cuidadores • Os hemofílicos podem apresentar um maior risco
• Educação e treinamento sobre o tratamento de baixa densidade mineral óssea em comparação à
domiciliar devem ser fornecidos, quando disponíveis, população geral em decorrência de fatores de risco,
e idealmente devem incluir a supervisão da aderência incluindo a gravidade da hemofilia e a artropatia
ao tratamento. hemofílica com imobilidade resultante. 25 Os modos
• Suporte contínuo deve ser fornecido às famílias e de promoção da saúde óssea incluem a prevenção de
aos cuidadores, incluindo a identificação de recursos hemartrose, exercício regular e ingestão adequada
e/ou o desenvolvimento de estratégias para permitir de vitamina D e cálcio.26,27
a adaptação à vida com hemofilia. • Para indivíduos com uma disfunção
• Os possíveis desafios que os pacientes e familiares musculoesquelética significativa, atividades sem
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 29

carga que promovam o desenvolvimento e a especial atenção à manutenção da saúde óssea,


manutenção de uma boa densidade óssea devem fortalecimento da musculatura, coordenação,
ser encorajadas, na medida permitida por sua saúde funcionamento físico, peso corporal saudável e
articular. 26 autoestima positiva. CB
• As atividades escolhidas devem refletir as •
preferências/interesses do indivíduo, sua condição Recomendação 2.3.2:
e capacidade física, contextos locais e os recursos • Para hemofílicos, a WFH recomenda a promoção
disponíveis. de esportes sem contato físico. Esportes de alto
• Esportes sem contato, como natação, caminhada, contato e colisão e atividades de alta velocidade
corrida, golfe, badminton, arco-e-flecha, ciclismo, devem ser evitados, a não ser que o indivíduo
remo, iatismo e tênis de mesa devem ser encorajados. esteja recebendo um regime profilático adequado
• Esportes de alto contato e colisão, como futebol, para cobertura dessas atividades e esteja bem
hóquei, rúgbi, boxe e luta livre, e atividades de informado sobre os possíveis riscos e outras
alta velocidade como motocross e esqui não são medidas de proteção necessárias.
aconselháveis devido ao possível risco de lesões • OBSERVAÇÃO: A escolha de atividades
com risco à vida, a não ser que o indivíduo esteja esportivas deve levar em conta a condição e a
recebendo profilaxia adequada para cobertura capacidade física do indivíduo, suas preferências
dessas atividades e seja bem informado sobre os e interesses, os costumes locais e os recursos
possíveis riscos. disponíveis. CB
• Protetores dentários personalizados podem ser
usados por indivíduos com hemofilia em todos os Recomendação 2.3.3:
esportes de contato para prevenir o trauma e lesão • Para hemofílicos, a WFH recomenda uma
dos dentes e tecidos moles orais. 28 consulta a um fisioterapeuta ou outro
• Um programa esportivo organizado deve ser especialista musculoesquelético antes de iniciar
encorajado, preferencialmente a atividades esportes e atividades físicas para discutir sua
esportivas não estruturadas, onde pode não haver adequação específica à condição do indivíduo e a
equipamentos de proteção e supervisão. necessidade de habilidades físicas específicas e/
• Idealmente, indivíduos com hemofilia (ou seus ou equipamentos de proteção. CB
cuidadores na família) devem consultar um
fisioterapeuta antes de iniciar novos esportes e
atividades físicas para discutir sua adequação,
2. 4 Tratamento adjunto
equipamento de proteção necessário, profilaxia • As terapias adjuntas são importantes no tratamento
(cobertura de fatores e outras medidas) e habilidades de hemorragias, em particular quando as terapias de
físicas necessárias antes do início da atividade. coagulação e agentes hemostáticos forem limitados
Isto é particularmente importante se o indivíduo (ou não estiverem disponíveis), e podem reduzir a
apresentar qualquer articulação com sangramento quantidade do produto terapêutico necessária.
recorrente (ou seja, uma articulação-alvo). 29 • As medidas de primeiros socorros constituem
• A educação contínua do paciente/cuidador sobre as um componente essencial do tratamento adjunto.
implicações físicas de uma determinada atividade em Além de CFCs para elevar os níveis de fatores (ou
relação à hemofilia (ou seja, flexão articular, trauma DDAVP na hemofilia A leve), os princípios PRICE
articular ou muscular) é importante para que possam — proteção, repouso, gelo, compressão, elevação
tomar decisões informadas, adaptar seu automanejo — baseados nos protocolos convencionais para
adequadamente e gerenciar com responsabilidade lesões de repouso, compressão, gelo, elevação
o modo como participam de esportes e atividades (RICE) podem ser usados para sangramentos
físicas. articulares e musculares. Outra abordagem,
• As articulações-alvo podem ser protegidas POLICE (proteção, carga ótima, gelo, compressão,
com órteses ou talas durante a atividade física, elevação), substitui o “repouso” com “carga ótima”
especialmente na ausência de cobertura de fator.30,31 para enfocar a necessidade de equilibrar o repouso
• Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias com a mobilização precoce e carga gradual com o
Específicas e o Capítulo 10: Complicações objetivo de prevenir complicações associadas à
Musculoesqueléticas. imobilização.32 É importante considerar a adequação
de cada uma dessas medidas para a situação
Recomendação 2.3.1: específica.
• Para hemofílicos, a WFH recomenda a promoção • Nos últimos anos, houve debates sobre a aplicação
de atividade física regular e aptidão física, com de gelo, que, segundo se acredita, ajuda a controlar
30 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

a dor aguda decorrente do sangramento articular • OBSERVAÇÃO: Para crianças com hemofilia em
e reduzir o fluxo sanguíneo para o tecido lesado.33 recuperação de um sangramento articular ou
Um estudo sugeriu que o efeito de resfriamento do muscular, o fisioterapeuta e o cuidador na família
gelo pode interferir com a coagulação e retardar o devem permanecer em contato próximo para
processo de hemostasia.34 Contudo, as opiniões discutir e decidir sobre os esportes e atividades
contrárias observam que muitos hemofílicos apropriados para a reabilitação progressiva da
apreciam o gelo para alívio da dor e que, para criança. CB
indivíduos sem acesso a produtos terapêuticos, o
gelo para dor aguda e crônica pode representar sua Recomendação 2.4.3:
única opção “terapêutica”. 35-37 • Para hemofílicos com artropatia hemofílica
• Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias estabelecida ou após a recuperação de uma
Específicas — Hemorragia articular — Tratamento hemorragia musculoesquelética, a WFH
adjunto. recomenda fisioterapia e atividades de
• Fisioterapia e reabilitação são particularmente reabilitação. CB
importantes para a melhora funcional e a
recuperação após hemorragias musculoesqueléticas Recomendação 2.4.4:
e em indivíduos com artropatia hemofílica • Para hemofílicos, a WFH recomenda o uso de
estabelecida.38,39 medicamentos antifibrinolíticos (por ex., ácido
• Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias tranexâmico, ácido épsilon-aminocaproico
Específicas — Hemorragia articular — Fisioterapia [EACA]) isoladamente ou como tratamento
e reabilitação e o Capítulo 10: Complicações adjuvante, em particular para controle de
Musculoesqueléticas — Artropatia hemofílica e sangramentos de mucosa e para procedimentos
contraturas articulares — Fisioterapia para artropatia odontológicos invasivos. CB
hemofílica.
• Medicamentos antifibrinolíticos são eficazes como
tratamento adjunto para sangramentos de mucosa 2. 5 Tratamento domiciliar
e procedimentos odontológicos invasivos. (Ver
2.7 Cuidado e manejo odontológico, a seguir, e o • O tratamento domiciliar proporciona aos hemofílicos
Capítulo 5: Agentes Hemostáticos — Outras opções o acesso imediato a CFCs ou outros tratamentos
farmacológicas.) para coagulação e agentes hemostáticos (por
• Alguns inibidores seletivos da COX-2 podem ex., emicizumabe, DDAVP, antifibrinolíticos) e,
ser usados para a inflamação articular após um desse modo, permite um tratamento inicial ideal,
sangramento agudo e para artrite crônica.40 (Ver 2.6 resultando em menos dor, disfunção e incapacidade
Manejo da dor, a seguir.) em longo prazo e uma redução significativa
• Técnicas complementares para manejo da dor (por das taxas de hospitalização por complicações
ex., meditação, distração, mindfulness (consciência hemorrágicas hemofílicas, em especial para
plena) ou musicoterapia) também podem ser úteis indivíduos em tratamento profilático em comparação
em indivíduos com artropatia hemofílica crônica. a episódico.41-43
(Ver 2.6 Manejo da dor, a seguir.) • O tratamento domiciliar também oferece aos
hemofílicos uma qualidade de vida substancialmente
Recomendação 2.4.1: melhor, incluindo menor absenteísmo na escolha/
• Para hemofílicos com um sangramento muscular trabalho, a capacidade de participar com segurança
ou articular, a WFH recomenda que os princípios em uma maior variedade de esportes e atividades
PRICE (proteção, repouso, gelo, compressão e físicas, maior estabilidade no emprego e maior
elevação) sejam seguidos, além do aumento do liberdade para viajar.44
nível de fator. CB • O tratamento domiciliar deve ser supervisionado
atentamente pela equipe de cuidados abrangentes e
Recomendação 2.4.2: só deve ser iniciado após a educação e treinamento
• Para hemofílicos em recuperação de um abrangentes do paciente/cuidador. 41,42
sangramento articular ou muscular, a WFH • A educação deve enfocar a instilação de
recomenda a reintrodução gradual das atividades conhecimentos essenciais sobre a hemofilia e os
físicas sob a supervisão de um fisioterapeuta conceitos básicos do tratamento domiciliar, incluindo:
com experiência em hemofilia para avaliar a ‒ reconhecimento de sangramentos e complicações
retomada do desenvolvimento motor normal e da comuns;
coordenação. ‒ medidas de primeiros socorros;
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 31

‒ cálculo da dose; • Os pacientes e seus cuidadores devem entender


‒ armazenamento, preparação e administração de as diferenças, os benefícios e quaisquer riscos
CFCs e/ou outros produtos terapêuticos; associados a um tratamento em particular. É
‒ técnicas assépticas; importante que aprendam como monitorar o
‒ punção venosa (ou acesso por um cateter venoso tratamento e a resposta e em quais circunstâncias
central) e autoinfusão/autoinjeção; devem entrar em contato com seu profissional de
‒ manutenção de registros; saúde e/ou centro para tratamento de hemofilia (por
‒ armazenamento e descarte adequado de ex., sangramento agudo, cirurgia futura).
agulhas/objetos cortantes;
‒ manuseio de derramamentos de sangue. Emicizumabe
• Um programa de certificação em tratamento • Pacientes com hemofilia A em profilaxia com
domiciliar para o paciente/cuidador é útil para emicizumabe podem iniciar o tratamento domiciliar
reconhecer e garantir a aptidão para iniciar o após o treinamento adequado sobre a técnica de
tratamento domiciliar. injeção subcutânea. 46
• A aderência ao tratamento, o nível de educação • Emicizumabe e os agentes não relacionados a
e a compreensão do tratamento episódico e fatores em desenvolvimento diferem dos tipos
profilático, técnicas de infusão/injeção e registros de convencionais de profilaxia porque não repõem o
sangramentos devem ser examinados e avaliados fator de coagulação ausente, são administrados
com pacientes e cuidadores da família no momento por via subcutânea e, em alguns casos, podem ser
das avaliações na clínica. administrados com uma frequência reduzida, de uma
• Ver também “Automanejo” a seguir. ou duas vezes ao mês. 47 Além disso, esses agentes
não estão associados às curvas de níveis máximos
Terapia de reposição de fatores de coagulação e mínimos de proteção atualmente observadas nos
regimes de profilaxia com fatores.
• Idealmente, o tratamento domiciliar com CFCs • A via de administração subcutânea de emicizumabe
deve ser realizado com produtos seguros e de fácil já está facilitando o início da profilaxia em pacientes
reconstituição. Os CFCs podem ser armazenados pediátricos de idades muito jovens, sem a
à temperatura ambiente ou em um refrigerador necessidade de um cateter venoso central (CVC).
doméstico, dependendo do produto. Os hemofílicos Emicizumabe viabiliza o início da profilaxia ao
devem ter habilidades de autoinfusão para minimizar nascimento para fornecer proteção a recém-nascidos
o tempo até o tratamento e melhorar seus resultados e lactentes recém-diagnosticados com hemofilia A
de saúde articular. 45 grave; contudo, são necessárias mais pesquisas em
• O tratamento domiciliar com CFCs pode ser iniciado lactentes com menos de 1 ano de idade.48
em crianças pequenas com um acesso venoso • Emicizumabe não é destinado ao tratamento de
adequado e cuidadores motivados na família que episódios hemorrágicos agudos. Um sangramento
tenham recebido um treinamento abrangente. agudo é tratado com doses de CFCs (ou agentes
Crianças mais velhas e adolescentes podem de bypass no caso de pacientes com inibidores)
aprender a técnica de autoinfusão com educação suficientes para obter a hemostasia. É necessária
e treinamento do coordenador de enfermagem cautela ao tratar episódios hemorrágicos agudos
para hemofilia (ou enfermeiro de infusão domiciliar, durante o uso de emicizumabe, uma vez que vários
quando disponível) e apoio da família. pacientes desenvolveram tromboembolismo venoso
• Ver “Automanejo” a seguir e o Capítulo 6: Profilaxia ou microangiopatia trombótica com a administração
na Hemofilia. concomitante de concentrado de complexo de
protrombina ativado (aPCC). 49 Consultar as
Novos tratamentos para coagulação bulas dos produtos individuais para precauções e
orientações para gerenciamento de risco.
• O uso de novos tratamentos inovadores, • Ver o Capítulo 5: Agentes Hemostáticos, Capítulo 6:
administrados por diferentes vias, exige educação, Profilaxia na Hemofilia e o Capítulo 8: Inibidores do
treinamento e supervisão dos pacientes/cuidadores Fator de Coagulação.
com um planejamento cuidadoso, incluindo
treinamento específico para indivíduos que estejam Automanejo
mudando para outro tipo de tratamento (por ex., de
uma terapia de reposição de fator intravenosa para • O automanejo enfoca o empoderamento do paciente
terapia de substituição de fator subcutânea com e refere-se à capacidade de um paciente adquirir as
emicizumabe). habilidades e os conhecimentos necessários para a
32 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

competência em seus próprios cuidados e aplicação Autoinfusão/autotratamento


em sua vida diária para manter sua condição sob • Em crianças pequenas, as injeções ou infusões
controle e minimizar o impacto sobre sua saúde normalmente são administradas pelos pais e/ou
física e psicológica.45 Para hemofílicos, o automanejo cuidadores até que a criança tenha idade suficiente
requer um conhecimento concreto dos mecanismos para passar para o autotratamento. 51
dos sangramentos e estratégias terapêuticas • Crianças hemofílicas normalmente aprendem a
(quando e como tratar e que dose administrar). 45 realizar a autoinfusão ou autoinjeção no fim da
• As principais habilidades de automanejo necessárias infância ou início da adolescência. A autoinfusão
para hemofílicos incluem45: requer habilidade e competências desenvolvidas por
‒ reconhecimento do sangramento; tentativa e erro, assim como educação e suporte. 45
‒ habilidade para autoinfusão/autotratamento; A obtenção de autossuficiência para a autoinfusão é
‒ autocuidados (ou seja, nutrição e aptidão física) e complexa porque exige uma técnica unimanual para
manejo de medicamentos (ou seja, manutenção a execução de todas as etapas; contudo, a maioria
de registros, rotinas de tratamento, manutenção das crianças realiza a autoinfusão pelo menos em
de um suprimento adequado do tratamento, uma parte do tempo por volta dos 12 anos de idade.45
habilidades para armazenamento, reconstituição • O estabelecimento de rotinas, como a realização da
e administração de produtos terapêuticos); autoinfusão no mesmo horário todos os dias, pode
‒ manejo da dor; e ajudar muito na aderência ao tratamento. 45
‒ gerenciamento de risco e terapia preventiva
conceitualizada. Recomendação 2.5.1:
• Um conhecimento dos tratamentos adjuntos • Os pacientes (ou cuidadores de crianças) com
apropriados (por ex., antifibrinolíticos, analgésicos) hemofilia devem aprender como gerenciar
e conduta adjunta (por ex., os princípios PRICE) seus cuidados em casa e devem ser capazes
também é importante para o automanejo. de demonstrar uma compreensão de como
• Ver 2.3 Aptidão e atividade física, 2.4 Tratamento reconhecer sangramentos e a capacidade de
adjunto e 2.5 Tratamento domiciliar, anteriormente, infusão ou autoinfusão, com monitoramento das
e 2.6 Manejo da dor, a seguir. habilidades para acesso venoso durante toda a
vida do paciente. CB
Reconhecimento do sangramento
• O reconhecimento do sangramento, especialmente Autocuidados e manejo de medicamentos
sangramentos articulares e musculares, é uma parte • Uma vez que os hemofílicos basicamente realizam
essencial do automanejo para que o tratamento o automanejo em casa, os profissionais de saúde
imediato possa ser iniciado com o objetivo de dependem do paciente/cuidador para obter
minimizar o impacto dos sangramentos em curto e informações sobre o tipo de episódios hemorrágicos,
longo prazo. Na hemofilia, uma conduta expectante a frequência de sangramentos e o uso de produtos
para possíveis sangramentos ou omissões de doses terapêuticos. 52
pode resultar no início e progressão de sintomas • Portanto, é importante que os pacientes/cuidadores
hemorrágicos que não são apenas dolorosos, mas mantenham registros exatos do tratamento de
em última análise, provocam uma lesão articular. sangramentos (em papel ou eletrônicos) que
• É importante que os familiares/cuidadores sejam incluam a data e o local do sangramento, a dose e o
capazes de reconhecer sinais sutis de sangramentos número de lote do produto usado, quaisquer efeitos
em crianças pequenas com hemofilia; em lactentes e adversos, atividades relacionadas ao sangramento
crianças pequenas, a relutância em usar um membro e outros resultados que precisem ser relatados,
pode ser indicativa de uma hemorragia articular/ quando necessário.
muscular. 50 Os sinais e sintomas dos tipos comuns • Atualmente, os centros para tratamento de hemofilia
de hemorragia na hemofilia 50 estão descritos no têm a opção de utilizar diários eletrônicos (e-diários)
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas na forma de aplicativos para smartphones, sistemas
e no Capítulo 11: Avaliação dos Resultados. de monitoramento portátil sem fio e plataformas
• Para pacientes em profilaxia com novos tipos de on-line que permitem inserções em tempo real e
tratamento para coagulação, é importante monitorar análise direta dos dados. Com essas ferramentas, os
e avaliar a capacidade de pacientes/cuidadores profissionais de saúde já não precisam depender das
reconhecerem sangramentos agudos e iniciar um visitas dos pacientes ao centro para tratamento de
tratamento episódico imediato com CFCs ou agentes hemofilia para examinar diários em papel. 53-56
hemostáticos apropriados. • Estudos sobre diários eletrônicos demonstraram
que seu uso aumenta a quantidade de informações
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 33

fornecidas, assim como a integridade do relato de profilaxia, começando com a profilaxia semanal e
dados. 53 O gerenciamento remoto dos registros então aumentando gradualmente a frequência das
dos pacientes também pode melhorar a aderência infusões 62, junto com um treinamento mais intensivo
ao tratamento, aumentar a qualidade de vida dos do cuidador.
pacientes, auxiliar os profissionais de saúde na • Como alternativa, o uso de emicizumabe elimina a
modificação de regimes terapêuticos e melhorar a necessidade de CVCs e cada vez mais é incluído
comunicação com a equipe de saúde. 54-56 entre as opções de tratamento para pacientes com
hemofilia A em muitos países. (Ver o Capítulo 6:
Recomendação 2.5.2: Profilaxia na Hemofilia.)
• Para pacientes com hemofilia, um registro • O protocolo usado para os cuidados com o cateter
detalhado de todos os tratamentos administrados (usando precauções assépticas), a qualidade da
(motivo, número de lotes, número de unidades, educação do paciente/cuidador e a aderência do
etc.) deve ser documentado e usado para usuário podem afetar a frequência de infecções;
personalizar os planos de tratamento. CB portanto, diretrizes cuidadosas e protocolos de
vigilância são importantes para reduzir o risco de
Gerenciamento de risco e terapia preventiva complicações. 59
conceitualizada • Os pais e cuidadores devem aprender a manter
• O gerenciamento de risco exige a capacidade de os CVCs meticulosamente limpos e a enxaguar o
julgar e equilibrar as possibilidades e os riscos cateter adequadamente após cada administração
encontrados na vida diária, incluindo o controle e a do tratamento para prevenir uma infecção do CVC
negociação dos riscos que surgirem e a diferenciação e formação de coágulos.59 Agentes fibrinolíticos
entre um comportamento de risco negativo e o podem ser úteis para prevenir a formação de
gerenciamento de risco positivo. 45 Além disso, coágulos e infecções. 60
requer a capacidade de atuar na defesa dos • É essencial garantir que os pais e cuidadores tenham
próprios cuidados apropriados para hemofilia, com um conhecimento detalhado de todos os aspectos do
o suporte do centro para tratamento de hemofilia tratamento domiciliar e estejam preparados e sejam
como cuidados de emergência, conduta cirúrgica capazes de lidar com os problemas e os desafios que
ou tratamento odontológico. (Ver 2.3 Aptidão e costumam surgir em crianças com hemofilia em cada
atividade física, anteriormente, 2.7 Cuidado e manejo estágio do desenvolvimento. (Ver 2.8 Transição de
odontológico, a seguir, e o Capítulo 9: Questões cuidados pediátricos para adultos, a seguir.)
Específicas do Manejo.) • Para pacientes com um acesso venoso problemático,
• Além disso, os profissionais de saúde podem educar deve-se considerar uma terapia de reposição não
e orientar os hemofílicos no planejamento de suas relacionada a fatores que possa ser administrada
vidas diárias para reduzir o risco de sangramento. por via subcutânea (ou seja, emicizumabe). (Ver o
As estratégias podem incluir a adaptação do Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia — Terapia de
regime terapêutico para que ele se adeque a outras reposição não relacionada a fatores.)
prioridades (por ex., escola e esportes), rotinas,
atividades e eventos em suas vidas. 45 Recomendação 2.5.3:
• Em crianças com hemofilia, cateteres venosos
Cateteres venosos centrais centrais podem ser considerados para facilitar
o acesso precoce ao tratamento e profilaxia de
• A implantação de um cateter venoso central pode sangramentos. CB
permitir um acesso venoso estável e de longa duração
para facilitar as infusões e pode ser necessária para
a administração de profilaxia ou terapia de indução
2. 6 Manejo da dor
de tolerância imunológica (ITI) em crianças pequenas • Dores agudas e crônicas são comuns em hemofílicos.
com um acesso venoso problemático. 57,58 Uma avaliação adequada da causa da dor é
• As complicações e os riscos associados à implantação essencial.63
cirúrgica de CVCs (ou seja, hospitalização, • Ver também o Capítulo 7: Tratamento de
sangramento, infecção, trombose, ruptura e/ou mau Hemorragias Específicas.
funcionamento do cateter) devem ser ponderadas
contra as vantagens do início precoce da profilaxia Recomendação 2.6.1:
intensiva.59-61 Muitos pediatras e médicos que • Para hemofílicos com dor aguda ou crônica, a WFH
tratam hemofilia estão passando do uso de CVCs recomenda o uso de ferramentas de avaliação da
para o acesso venoso periférico no início da dor apropriadas para a idade para determinar a
34 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

causa e orientar o tratamento apropriado. CB o sangramento, medicação analgésica e medidas


associadas como imobilização, compressão
Dor causada pelo acesso venoso e aplicação de talas para minimizar a dor, se
apropriado. CB
• Em geral, nenhuma medicação analgésica é
Dor pós-operatória
administrada. Se necessário, a aplicação de um
anestésico local em aerossol ou creme no local do
• Injeções intramusculares de analgésicos devem ser
acesso venoso pode ser útil. 64-66
evitadas.
• O manejo da dor pós-operatória deve ser coordenado
Recomendação 2.6.2:
com o anestesista ou o especialista em dor.
• Para hemofílicos com dor, desconforto ou
• Inicialmente, podem ser administrados analgésicos
ansiedade causados pelo acesso venoso, a WFH
narcóticos, seguidos por um opioide oral.
recomenda a aplicação de um anestésico local em
• Quando a dor diminuir, paracetamol pode ser usado
aerossol ou creme no local do acesso venoso. CB

Recomendação 2.6.4:
Dor causada por sangramento articular ou muscular
• Para pacientes com hemofilia e dor pós-operatória,
a WFH aconselha o manejo proporcional da dor
• Embora o tratamento hemostático deva ser
pós-operatória em coordenação com o anestesista
administrado assim que possível para deter o
ou o especialista em dor.
sangramento, muitas vezes outros medicamentos são
necessários para controle da dor (ver a Tabela 2-4).
Recomendação 2.6.5:
• Outras medidas associadas podem ser necessárias.40
• Para pacientes com hemofilia e dor pós-
• Ver também o Capítulo 10: Complicações
operatória, a WFH recomenda analgesia
Musculoesqueléticas.
semelhante à usada em pacientes sem hemofilia,
incluindo, quando apropriado, o uso de morfina
Recomendação 2.6.3:
intravenosa ou outros analgésicos narcóticos,
• Para hemofílicos com dor aguda em decorrência
seguidos por um opioide oral (por ex., tramadol,
de um sangramento articular ou muscular, a
codeína, hidrocodona, etc.) e paracetamol quando
WFH recomenda a administração imediata de
a dor diminuir.
concentrados de fatores de coagulação para deter
• OBSERVAÇÃO: Com exceção dos inibidores
seletivos de COX-2, AINEs não devem ser usados
TABELA 2-4 Estratégias para manejo da dor em
em pacientes com hemofilia.
hemofílicos
• OBSERVAÇÃO: A via de administração
1 Paracetamol intramuscular para analgesia não é aconselhada.
Se não for efetivo
Dor decorrente de artropatia hemofílica crônica
2 Inibidor da COX-2a (por ex., celecoxibe,
• A artropatia hemofílica crônica se desenvolve em
meloxicam, nimesulida e outros)
indivíduos que não receberam tratamento adequado
ou
e fisioterapia e reabilitação de acompanhamento
paracetamol mais codeína (3–4 vezes/dia)
para sangramentos articulares e musculares.
ou
• O manejo da dor na artropatia hemofílica crônica
paracetamol mais tramadol (3–4 vezes/dia)
deve incluir o treinamento e adaptação funcional e
3 Morfina: Usar um produto de liberação lenta com analgésicos adequados, como detalhado na Tabela
um produto de liberação rápida como analgésico 2-4. 19,67-69

de escape. Aumentar o uso do produto de • Os analgésicos que podem ser usados por
liberação lenta se o produto de liberação rápida hemofílicos em caso de artropatia hemofílica crônica
for usado mais de 4 vezes/dia. incluem paracetamol, inibidores seletivos de COX-2,
Observação: Se, por qualquer motivo, os medicamentos tramadol e analgésicos opioides.70,71 Outros AINEs
forem interrompidos por algum período, os indivíduos que devem ser evitados em hemofílicos.72 Codeína não
estiverem recebendo e tolerando medicamentos narcóticos deve ser administrada a crianças com menos de 12
em alta dose devem reiniciar o medicamento em uma dose
mais baixa ou usar um analgésico menos potente, sob a
anos de idade.
supervisão de um médico. • Para indivíduos com dor crônica incapacitante
a Inibidores de COX-2 devem ser usados com cautela por decorrente de artropatia hemofílica, pode haver
pacientes hemofílicos com hipertensão e disfunção renal. indicação de cirurgia ortopédica.73
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 35

• Ver o Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas 2. 7 Cuidado e manejo odontológico


— Artropatia hemofílica.
• A manutenção de uma boa saúde oral e a prevenção
Recomendação 2.6.6: de problemas odontológicos são muito importantes
• Para pacientes com hemofilia e artropatia em hemofílicos para prevenir doenças e condições
hemofílica crônica que necessitem de manejo orais como gengivite, cáries dentárias e doenças
da dor, a WFH recomenda o treinamento e periodontais que podem causar sangramento sério
adaptações funcionais, além dos analgésicos nas gengivas, especialmente em indivíduos com
apropriados. hemofilia grave/moderada,74 e evitar a necessidade
de cirurgia odontológica de grande porte 75
Recomendação 2.6.7: • Uma vez que o sangramento prolongado após o
• Para pacientes com hemofilia e artropatia tratamento odontológico pode causar complicações
hemofílica crônica, a WFH recomenda educação graves ou até mesmo de risco à vida, os hemofílicos
sobre o manejo da dor, incluindo o uso de constituem um grupo prioritário para cuidados
técnicas de manejo da dor complementares odontológicos preventivos e de saúde oral.74
(por ex., meditação, distração, mindfulness ou • É importante garantir que os hemofílicos tenham
musicoterapia). acesso ao tratamento odontológico e cuidados
odontológicos preventivos regulares em um centro
Recomendação 2.6.8: de cuidado odontológico designado com experiência
• Para crianças e adultos hemofílicos com dor no manejo de hemofílicos de acordo com protocolos
decorrente de uma artropatia hemofílica crônica, odontológicos baseados em evidências.75-77
a WFH recomenda o uso de paracetamol, • Ver também o Capítulo 7: Tratamento de
inibidores seletivos de COX-2, tramadol ou Hemorragias Específicas — Hemorragia oral.
morfina, evitando-se outros AINEs. Codeína pode
ser usada em crianças acima de 12 anos de idade, Recomendação 2.7.1:
mas está contraindicada em crianças mais jovens. • Para crianças e adultos com hemofilia, a WFH
• OBSERVAÇÃO: O uso prolongado desses recomenda que o acesso a cuidados odontológicos
medicamentos pode acarretar riscos de preventivos e de saúde oral regulares seja
dependência ou adição, assim como lesão de fornecido como parte dos cuidados abrangentes
órgãos, e deve ser monitorado com atenção. para hemofilia.
• OBSERVAÇÃO: Indivíduos com dor persistente
devem ser encaminhados a uma equipe Recomendação 2.7.2:
especializada em manejo da dor. • Para crianças com hemofilia, a WFH recomenda
o encaminhamento a um centro de cuidados
Recomendação 2.6.9: odontológicos designado no momento da erupção
• Para pacientes com hemofilia e dor incapacitante do primeiro dente (por volta de 6 meses de idade)
decorrente de uma artropatia hemofílica crônica, ou na idade de 1 ano para reduzir as complicações,
a WFH recomenda o encaminhamento a um a morbidade, os custos e os impactos de saúde
especialista em ortopedia para consideração de e psicossociais associados a doenças orais em
cirurgia ortopédica. hemofílicos.

Dor odontológica Recomendação 2.7.3:


• Para adultos com hemofilia, a WFH recomenda a
• Hemofílicos que apresentarem dor odontológica facilitação do acesso a serviços e procedimentos
devem ser sempre encaminhados para uma consulta odontológicos apropriados para adultos, com
odontológica profissional. Medidas proporcionais avaliações odontológicas regulares durante toda
para manejo da dor devem ser aplicadas (ver a a vida para monitorar e resguardar a saúde oral,
Tabela 2-4). usando protocolos odontológicos preventivos
personalizados e baseados em evidências.
Recomendação 2.6.10:
• Para crianças e adultos com hemofilia, a WFH Recomendação 2.7.4:
recomenda o manejo interino de dor odontológica • Para hemofílicos, a WFH recomenda o cuidado
ou orofacial de acordo com uma abordagem odontológico e oral preventivo como prioridade
proporcional para alívio da dor e encaminhamento para garantir saúde e higiene oral ideais com o
a um profissional de cuidados odontológicos para intuito de prevenir doença periodontal e cáries
avaliação.
36 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

dentárias, que predispõem a sangramento • Os antifibrinolíticos sistêmicos ou tópicos (ou seja,


gengival, dor odontológica, perda de dentes, ácido tranexâmico ou EACA) são efetivos como
dificuldades na mastigação e impactos sociais. tratamento adjunto no manejo de intervenções
odontológicas no pré e pós-operatório e têm o
Cuidados orais potencial de reduzir a necessidade de terapia de
reposição de fator. 76,81,82
• Uma higiene oral ideal é essencial para prevenir • Antibióticos devem ser prescritos apenas se houver
a doença periodontal e cáries dentárias, que indicação clínica para manejo de infecção.
predispõem a sangramento gengival, dor • Medidas hemostáticas locais como sutura de feridas,
odontológica, perda de dentes, dificuldades na antifibrinolíticos tópicos, celulose oxidada e selantes
mastigação e impactos sociais (por ex., halitose e de fibrina devem ser usadas de modo apropriado,
baixa autoestima).76,78 Isto envolve o uso de produtos sempre que possível após uma extração dentária.
para higiene oral e escovas de dentes que possam ser 82,83
adaptados com base nas necessidades individuais.79 • Os pacientes devem ser orientados a relatar
• Uma dor odontológica que ocorra espontaneamente imediatamente ao hematologista/cirurgião-dentista
ou com tumefação facial em geral indica a presença qualquer sangramento prolongado e/ou dificuldade
de estágios avançados de doença e/ou infecção para falar, deglutir ou respirar após uma cirurgia
oral e deve desencadear uma consulta odontológica odontológica, já que isso pode acarretar um risco
profissional. O controle da dor em curto prazo à vida. Indivíduos que não estejam hospitalizados
deve ser obtido do modo descrito (Ver 2.6 Manejo devem comparecer ao pronto-socorro mais próximo
da dor, anteriormente), com paracetamol como sem demora.
medicamento de escolha para tratar a dor de dente • Para muitos procedimentos odontológicos, uma
em crianças. 77 anestesia local adequada é necessária e a maioria
das injeções odontológicas pode ser fornecida com
Recomendação 2.7.5: segurança. 84,85
• Para todos os hemofílicos, a WFH recomenda a • Injeções orais intramusculares de maior risco exigem
educação sobre a importância de uma boa higiene medidas hemostáticas sistêmicas. Essas medidas
oral para prevenir problemas e complicações devem ser estabelecidas no pré-operatório com o
odontológicos, incluindo instruções para aconselhamento de um hematologista. 80
escovação dos dentes duas vezes ao dia usando • Vias de administração de baixo risco alternativas,
uma escova de dentes de cerdas macias ou como anestesia intraligamentar de um único
médias e um creme dental com flúor para remover dente (STA) ou injeções para infiltração bucal são
depósitos de placas; o creme dental não deve alternativas efetivas aos bloqueios do nervo alveolar
ser enxaguado, e sim retido (“cuspir, mas não inferior (BNAI). 84,86
enxaguar”) após a escovação para maximizar o • Outros procedimentos odontológicos não cirúrgicos
benefício do flúor. acarretam níveis variáveis de risco de sangramento.
• OBSERVAÇÃO: O uso de fio dental ou escovas A maioria dos procedimentos de restauração
interdentais deve ser encorajado para garantir a dentária, como obturações, apresenta um baixo risco
remoção completa da placa. e pode ser realizada sem necessidade de terapia de
• OBSERVAÇÃO: Indivíduos com restrições no reposição de fator.
cotovelo ou no ombro podem se beneficiar de • Infiltração bucal minimamente invasiva ou injeções
escovas de dente modificadas ou elétricas e intraligamentares e técnicas para proteção dos
auxílios para uso do fio dental. tecidos moles devem ser usadas e medidas locais
padronizadas devem ser aplicadas para auxiliar na
Recomendação 2.7.6: hemostasia da mucosa, quando apropriado.
• Para crianças hemofílicas de 6 anos de idade • Limpezas profissionais dos dentes podem ser
ou menos, a WFH recomenda a supervisão da fornecidas com o uso de agentes antifibrinolíticos, se
escovação dos dentes pelos pais/cuidadores. necessário 82

Cirurgia odontológica e procedimentos invasivos Recomendação 2.7.7:


• Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda
• Antes de qualquer cirurgia odontológica ou outro que extrações dentárias ou outros procedimentos
procedimento invasivo na cavidade oral, o manejo da invasivos na cavidade oral (por ex., implante
hemostasia deve ser planejado em nível individual, dentário, cirurgia periodontal ou biópsia da
com a orientação de um hematologista.80 gengiva) sejam realizados apenas com um plano
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 37

personalizado para manejo da hemostasia em BNAI e permitem procedimentos odontológicos


consulta a um hema em dentes molares mandibulares primários e
permanentes.
Recomendação 2.7.8:
• Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda Recomendação 2.7.12:
o uso sistêmico ou tópico de ácido tranexâmico • Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda
ou ácido épsilon-aminocaproico (EACA) como o uso de agentes antifibrinolíticos como
tratamento adjunto no manejo de intervenções tratamento adjunto efetivo no manejo de terapias
odontológicas no pré e pós-operatório para de higiene dentária para facilitar o acesso a
reduzir a necessidade de terapia de reposição de cuidados odontológicos regulares fornecidos por
fator. um higienista dentário.

Recomendação 2.7.9: Recomendação 2.7.13:


• Para pacientes com hemofilia que necessitem • Em pacientes com hemofilia, a WFH afirma
de extrações dentárias, a WFH recomenda que a presença de infecções transmitidas pelo
medidas hemostáticas locais. Os procedimentos sangue não afeta a segurança do tratamento
típicos incluem sutura de feridas, uso tópico de odontológico, uma vez que procedimentos
antifibrinolíticos, celulose oxidada e selante de universais rigorosos para infecções cruzadas são
fibrina, aplicados quando apropriado. atualmente obrigatórios em todas as disciplinas
• OBSERVAÇÃO: Os pacientes devem ser da odontologia e recomenda que serviços
aconselhados a manter uma dieta com alimentos odontológicos completos sejam fornecidos,
moles e efetuar uma escovação cuidadosa ao redor independentemente da infectividade ou do estado
do local da ferida por no mínimo 3-5 dias no pós- imunológico.
operatório para evitar a perturbação do coágulo e
a cicatrização da ferida no soquete alveolar.
2. 8 Transição de cuidados pediátricos
Recomendação 2.7.10: para adultos
• Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda
uma anestesia local apropriada para tratamentos • Em diferentes estágios da vida, os hemofílicos
odontológicos como parte essencial do manejo e seus cuidadores passam por transições que
da dor e ansiedade. A maioria das injeções envolvem a transferência dos cuidados além da
odontológicas acarreta um baixo risco para família, como quando um jovem com hemofilia inicia
pacientes com hemofilia quando aplicadas por um a escola, um novo esporte ou atividades de lazer e a
profissional de cuidados odontológicos usando adolescência, e quando passa de cuidados médicos
anestesia local com um vasoconstritor e quando pediátricos para adultos, sai de casa, inicia novos
o agente é fornecido lentamente com uma agulha relacionamentos e faz escolhas de carreira. 51
descartável de calibre fino. • Os pais e/ou cuidadores normalmente assumem
a responsabilidade primária pelo manejo do
Recomendação 2.7.11: cuidado de crianças e adolescentes com hemofilia;
• Para pacientes com hemofilia que necessitarem em particular, em termos da administração do
de injeções orais intramusculares de maior risco tratamento e manutenção da aderência a regimes
geralmente associadas à realização de cirurgias terapêuticos. 51
odontológicas (como bloqueio alveolar inferior • Dois períodos de transição são particularmente
[BNAI], bloqueio do nervo alveolar superior desafiadores em termos de aderência ao
ou injeções no assoalho da boca ou tecidos tratamento: quando os adolescentes passam para
vasculares da língua), a WFH recomenda medidas o autotratamento e quando adultos jovens saem
hemostáticas sistêmicas pré-operatórias para de casa e assumem a responsabilidade total pelos
evitar o risco de hematoma. Essas medidas devem autocuidados.51 Muitas crianças e adolescentes
ser estabelecidas em consulta ao hematologista. hemofílicos em profilaxia que recebem cuidados
• OBSERVAÇÃO: A disponibilidade e a abrangentes excelentes não apresentam as
efetividade de vias alternativas de baixo risco sequelas sérias de seu distúrbio, o que pode resultar
para fornecimento de anestesia local (como em complacência no início da vida adulta. 87
anestesia intraligamentar de um único dente • Idealmente, hemofílicos jovens devem obter o
ou injeções para infiltração bucal com lidocaína conhecimento necessário e as habilidades para
a 4%) representam alternativas efetivas ao automanejo antes da transição para os cuidados
38 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

adultos; contudo, muitos jovens ainda precisam do • Os principais componentes das estratégias de
auxílio dos pais nos cuidados para hemofilia mesmo transição incluem51:
nos últimos anos da adolescência.87 ‒ desenvolvimento de um plano de transição
• Foi constatado que a aderência à profilaxia é menos estruturado;
que ideal em muitos adolescentes (13–17 anos de ‒ monitoramento com avaliação sistemática da
idade) e adultos jovens (18–30 anos de idade) com aptidão de um paciente;
hemofilia.51 ‒ suporte individualizado; e
• Em geral, as principais barreiras para a aderência à ‒ suporte adicional ao efetuar a transição para
profilaxia incluem a percepção de um alto ônus do autotratamento ou sair de casa.
tratamento, ônus baixo ou ausente de sangramentos • Além disso, ferramentas para autoavaliação da
e sintomas, dificuldades no acesso venoso e a aptidão, como a ferramenta HEMO-Milestones,
percepção da profilaxia como algo complicado e podem ser úteis para promover uma abordagem
demorado.51 padronizada para avaliar a competência para
• Particularmente em adolescentes e adultos jovens automanejo. 90
com hemofilia, as barreiras à aderência ao tratamento • Os indicadores de resultados para avaliar a
incluem51: efetividade da transição dos cuidados para hemofilia
‒ baixa carga de sintomas; pediátricos para adultos incluem:
‒ esquecimento e ausência de habilidades básicas ‒ medida da aderência;
de automanejo como rotinas de tratamento; ‒ qualquer alteração da taxa de sangramentos;
‒ ausência de conhecimentos sobre hemofilia, ‒ habilidades de autoeficácia;
incluindo um baixo benefício percebido da ‒ conhecimentos sobre hemofilia;
profilaxia; ‒ satisfação dos pacientes e dos cuidadores;
‒ impossibilidade de identificar e atuar em ‒ intervalo de tempo entre a última visita clínica
sangramentos; pediátrica e a primeira adulta; e
‒ negação da doença; ‒ número de internações em pronto-socorro ou
‒ desejo de ser “normal”; hospital.91
‒ percepção de um impacto negativo em atividades • Programas de automanejo disponíveis na internet
e participação social; também podem ajudar os jovens hemofílicos em sua
‒ falta de planejamento da transição; transição para os cuidados adultos. 87
‒ dificuldades com o autotratamento; e • Ver o Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia e o Capítulo
‒ dificuldades de comunicação com um centro 11: Avaliação dos Resultados.
para tratamento de hemofilia para recebimento
de cuidados ideais. Recomendação 2.8.1:
• A transição para a vida adulta, com maior • Crianças e adolescentes com hemofilia devem
independência nas situações de vida (por ex., ser respaldados por educação contínua e
viver sozinho ou longe, na faculdade/universidade) desenvolvimento de habilidades, incluindo a
e responsabilidades financeiras, pode ser capacidade de realizar a autoinfusão e outras
particularmente difícil para jovens com hemofilia. 88 habilidades de autoeficácia, para obter os
• Os centros para tratamento de hemofilia e os conhecimentos sobre hemofilia necessários para
profissionais de saúde podem ter um papel o automanejo de sua condição antes de sua
importante para ajudar os hemofílicos jovens a transição dos cuidados pediátricos para adultos.
manter a aderência ao tratamento quando efetuam • OBSERVAÇÃO: A equipe de cuidados
a transição para a idade adulta, garantindo que abrangentes deve apoiar os pacientes jovens e
a educação dos pacientes inclua conhecimentos suas famílias durante o período de transição.
e habilidades técnicas e o desenvolvimento de Sempre que possível, a primeira visita deve ser
habilidades de autoeficácia e automanejo, incluindo realizada tanto por hematologistas pediátricos
a tolerância psicossocial. 51 quanto adultos.
• Uma vez que uma abordagem sistemática
definitiva ainda não foi definida para a transição Recomendação 2.8.2:
dos cuidados pediátricos para adultos, a equipe de • Para adolescentes hemofílicos em profilaxia,
cuidados abrangentes deve avaliar e acompanhar a WFH recomenda a educação e treinamento
continuamente as necessidades individuais, individuais, idealmente por um coordenador
preferências e barreiras à aderência ao tratamento, de enfermagem em hemofilia, para garantir
com suporte personalizado e apropriado para a um conhecimento adequado da hemofilia e
idade51,89
Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia | 39

promover a aderência à profilaxia e manejo de 8. White GC II, Rosendaal F, Aledort LM, et al. Definitions
autocuidados. Isto deve incluir a compreensão in hemo- philia: recommendation of the Scientific
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Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 43

3 DIAGNÓSTICO E MONITORAMENTO
LABORATORIAL
Steve Kitchen1 | Francisco de Paula Careta2 | Silmara A. de Lima Montalvão3 |
Emna Gouider4 | Radoslaw Kaczmarek5 | Claude T. Tagny6 | Pierre Toulon7 |
Glenn F. Pierce8 | Alok Srivastava9

1. Departamento de Coagulação, Sheffield Haemophilia and Thrombosis Centre, Sheffield Teaching Hospitals NHS Foundation Trust, Sheffield,
Reino Unido
2. Departamento de Farmácia e Nutrição, Universidade Federal do Espírito Santo, campus de Alegre, Alegre, ES, Brasil
3. INCT do Sangue Hemocentro UNICAMP, Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil
4. Medical School, University of Tunis El Manar, Hemophilia Centre, Aziza Othmana Hospital, Tunis, Tunísia
5. Departamento de Pediatria, Indiana University School of Medicine, Indianapolis, Indiana, EUA
6. Departamento de Hematologia, Faculty of Medicine and Biomedical Sciences, University of Yaounde I e University Teaching Hospital of
Yaoundé, Yaoundé, Camarões
7. Service d’ Hématologie Biologique, Université Côte d’Azur e Hôpital Pasteur – CHU Nice, Nice, França
8. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
9. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações 3. 2 Testes laboratoriais de coagulação


são baseadas em consenso, o que é indicado por CB.
Princípios do diagnóstico
3. 1 Introdução
• O diagnóstico de hemofilia é baseado nos três
• Diferentes distúrbios hemorrágicos podem
princípios a seguir:
apresentar sintomas muito semelhantes; portanto,
‒ compreender os aspectos clínicos da hemofilia e
um diagnóstico correto é essencial para garantir que
a adequação do diagnóstico clínico;
um paciente receba o tratamento apropriado.
‒ usar testes de triagem como o tempo de
• Só é possível realizar um diagnóstico correto com
protrombina (TP) e o tempo de tromboplastina
o suporte de um serviço laboratorial completo
parcial ativada (TTPa) ou testes de função
e confiável. Isto dependente do cumprimento
plaquetária para identificar a possível causa do
de protocolos e procedimentos rigorosos pelo
sangramento (tendo em mente que resultados
laboratório, que exigem:
normais nos testes de triagem não excluem
‒ conhecimento e competência em testes
a possibilidade de presença de um distúrbio
laboratoriais de coagulação;
hemorrágico clinicamente relevante); e
‒ uso do equipamento e reagentes corretos; e
‒ confirmar o diagnóstico por ensaios de fatores e
‒ garantia de qualidade (QA).
outras investigações específicas apropriadas.
• Para informações detalhadas sobre os aspectos
técnicos e instruções específicas sobre os testes de
Aspectos Técnicos
triagem e ensaios de fatores, consultar Diagnosis
of Hemophilia and Other Bleeding Disorders: A
Preparação do paciente antes da coleta de uma
Laboratory Manual, edição atual, publicado pela
amostra de sangue
Federação Mundial de Hemofilia (WFH).1
• Não há necessidade de jejum antes da coleta de
sangue para a investigação de possíveis distúrbios
Recomendação 3.1.1:
hemorrágicos.
• A WFH recomenda que os testes para diagnóstico
• Sempre que possível, os pacientes devem evitar
e monitoramento da hemofilia sejam realizados
medicamentos que possam afetar os resultados
por uma equipe com conhecimento e experiência
dos exames, como o ácido acetilsalicílico (AAS), que
em testes laboratoriais de coagulação, usando
pode afetar intensamente a função plaquetária por
equipamentos e reagentes que tenham sido
7–10 dias.
validados para esta finalidade específica.
• Os níveis do fator VIII (FVIII) e do fator de von
• OBSERVAÇÃO: Os detalhes dos exames
Willebrand (VWF) podem sofrer uma elevação
laboratoriais para diagnóstico e monitoramento
temporária por exercício extenuante2, estresse3
da hemofilia são descritos no manual de
laboratório da WFH. CB
44 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

ou inflamação, suficiente para afetar a exatidão do plástico ou um sistema de coleta a vácuo. A agulha
diagnóstico. Os níveis de fator VIII/VWF aumentam deve ter calibre 19–21 para adultos e calibre 22–23 para
durante a gravidez.4 crianças pequenas. A coleta por cateteres venosos
periféricos ou cateteres venosos centrais não
Recomendação 3.2.1: heparinizados pode ter sucesso para muitos testes
• Como preparação para a coleta de uma amostra de hemostasia.10,12
de sangue para determinação do tempo de • A coleta de sangue de um cateter de demora deve
protrombina (TP), tempo de tromboplastina ser evitada para alguns testes de coagulação, em
parcial ativada (TTPa) ou atividade de FVIII/ particular se um teste de agregação plaquetária
FIX, a WFH aconselha que pacientes hemofílicos estiver sendo realizado.
possam manter sua dieta regular — não há • A formação de espuma na amostra de sangue
necessidade de um jejum da noite para o dia antes também deve ser evitada. Só é necessário descartar
da coleta de sangue. os primeiros 2 mL do sangue colhido, se a coleta for
• OBSERVAÇÃO: Altos níveis de lípides no plasma realizada por um cateter. 10
podem afetar a determinação dos tempos de • A amostra deve ser colhida em tubos com citrato
coagulação com o uso de coagulômetros com contendo 0,105 M–0,109 M (c3,2%) de citrato
sistemas ópticos. CB trissódico aquoso di-hidratado, mantendo a
proporção de sangue para citrato em 9:1. Se o tubo
Recomendação 3.2.2: contiver menos de 90% do volume pretendido, os
• Como preparação para a coleta de uma amostra de resultados podem ser afetados adversamente e um
sangue para determinação de TTPa ou atividade prolongamento do TP e TTPa é esperado quando
de FVIII/FIX, a WFH recomenda que os pacientes os tubos contiverem menos de 80% do volume
hemofílicos evitem exercícios extenuantes antes pretendido. 10
da coleta de sangue. • Pacientes com elevação do hematócrito acima
• OBSERVAÇÃO: Exercícios extenuantes ou de 55% apresentam uma redução do volume
estresse podem causar uma elevação temporária plasmático, levando a um aumento exponencial de
da atividade de FVIII em pacientes com hemofilia TP e TTPa com o aumento do hematócrito, o que
A leve até a faixa de referência; portanto, os pode ser evitado pelo ajuste da proporção de sangue
pacientes devem repousar por alguns minutos para o anticoagulante. 13,14
antes da punção venosa. CB • Os resultados de alguns testes de TP e TTPa
são diferentes se as amostras forem colhidas em
Coleta da amostra citrato trissódico a 3,8%.10 A amostra deve ser
• A amostra de sangue deve ser colhida conforme as imediatamente misturada de modo adequado com
diretrizes padrão. 5 solução de citrato por inversão suave, 3 ou 4 vezes.
• De preferência, a amostra deve ser colhida perto do 10

laboratório para garantir o transporte rápido e deve • Se o plasma pobre em plaquetas (PPP) for congelado
permanecer tampada durante o transporte. para teste futuro, as condições de armazenamento
• Os resultados dos exames podem mudar de acordo afetam a estabilidade do material congelado.7 Se a
com o intervalo entre a coleta e o teste e de acordo amostra for congelada a –70°C, pode ser armazenada
com as condições de armazenamento da amostra.6-8 por até seis meses.7,15 O armazenamento a –20°C
Temperaturas mais altas (> 25°C) podem provocar geralmente é inadequado.
perda da atividade de FVIII com o tempo, 9 enquanto • Amostras congeladas devem ser descongeladas
o armazenamento no frio (2–8°C) pode provocar a rapidamente em banho-maria por 4–5 minutos a
ativação pelo frio de vários sistemas proteolíticos. 7 37°C para evitar a formação de crioprecipitado.
O armazenamento das amostras de sangue antes do
processamento a 2–8°C pode causar uma perda de Preparação de plasma pobre em plaquetas (PPP)
FVIII e VWF suficiente para fazer com que pacientes • A maioria dos testes de coagulação requer o uso de
não afetados sejam erroneamente diagnosticados PPP.
com doença de von Willebrand (VWD).11 • PPP deve ser preparado conforme diretrizes
• Orientações específicas sobre a coleta de amostras padrão.5,7
estão disponíveis.10 A punção venosa deve ser • A contagem residual de plaquetas no PPP depende
asséptica e a amostra deve ser colhida dentro de das condições de centrifugação, incluindo efeitos
1 minuto após a aplicação do torniquete, sem uma adversos sobre os testes de função plaquetária com
estase venosa prolongada. o uso de centrífugas refrigeradas, já que o frio é
• O sangue deve ser colhido em uma seringa de capaz de ativar as plaquetas.7,10
Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 45

• PPP pode ser mantido à temperatura ambiente (20– função de descongelamento automático não
25°C) antes dos testes. devem ser usados para armazenar PPP antes da
• O plasma que tenha sofrido hemólise durante a determinação de TP, TTPa ou atividade de FVIII/
coleta e o processamento não deve ser usado para FIX. CB
testes de função plaquetária, testes de TTPa ou
testes relacionados, independentemente do método Recomendação 3.2.5:
e instrumento usados para a análise.7,16,17 Os testes • A WFH recomenda que as amostras de sangue
de TP e fibrinogênio são menos afetados e apenas para determinação de TP, TTPa ou atividade de
uma hemólise macroscópica in vitro pode ser FVIII/FIX sejam rejeitadas e substituídas se o tubo
relevante. 10,16 A adição de hemolisado ao plasma in de coleta contiver menos que 80% do volume de
vitro pode fornecer resultados enganadores.16,18 preenchimento pretendido.
• Os critérios de aceitação da amostra devem levar em • OBSERVAÇÃO: Se o tubo de coleta contiver entre
conta os riscos de rejeição (e atraso ou ausência dos 80% e 90% de seu volume de preenchimento
resultados de teste) contra os riscos de aceitação pretendido, os resultados obtidos usando
e teste (e o grau no qual os artefatos da amostra determinados métodos podem apresentar
possam ou não influenciar a conduta clínica). artefatos, manifestados como um pequeno
prolongamento de TP e TTPa e uma pequena
Recomendação 3.2.3: redução da atividade de FVIII/FIX. CB
• Para o diagnóstico e o monitoramento da hemofilia
A e B, a WFH recomenda que as amostras de Recomendação 3.2.6:
sangue sejam imediatamente etiquetadas com o • A WFH recomenda que as amostras de sangue
primeiro e o último nome do paciente, um número para determinação de TTPa ou atividade de
de identificação ou data de nascimento e a data e FVIII/FIX sejam rejeitadas e substituídas se tiver
hora da coleta da amostra. Isto deve ser realizado ocorrido hemólise ou coagulação in vitro durante
antes de deixar o paciente. a coleta e o processamento da amostra.
• OBSERVAÇÃO: Não existe um consenso definindo • OBSERVAÇÃO: O impacto da hemólise in vitro
se o tubo deve ser etiquetado imediatamente sobre TP é insuficiente para afetar o manejo do
antes ou imediatamente depois da coleta de paciente.
sangue. CB • OBSERVAÇÃO: Amostras de pacientes com
hemólise in vivo que tenham sido colhidas para
Recomendação 3.2.4: determinação de TP, TTPa ou atividade de FVIII/
• A WFH recomenda que as amostras de sangue FIX podem ser aceitas e testadas. CB
para determinação de TP, TTPa ou atividade de
FVIII/FIX sejam colhidas em tubos com citrato Detecção do desfecho
contendo 0,105–0,109 M (cerca de 3,2%) de • Muitos laboratórios atualmente dispõem de alguma
citrato trissódico di-hidratado aquoso, tampadas forma de analisados da coagulação semiautomáticos
durante o processamento e mantidas a 18–25°C ou totalmente automatizados. A detecção exata
durante o transporte e armazenamento. As do desfecho da coagulação usando uma técnica
amostras de sangue devem ser centrifugadas à manual requer uma competência considerável,
temperatura ambiente a um mínimo de 1.700 g particularmente se o tempo de coagulação for
por no mínimo 10 minutos e devem ser analisadas prolongado ou se a concentração de fibrinogênio for
dentro de 8 horas após a coleta (4 horas para baixa, e o coágulo for pequeno e delgado.
FVIII:C) ou armazenadas sob congelamento a • Para o teste manual, o tubo deve ser inclinado
–35°C ou menos. 3 vezes a cada 5 segundos em um ângulo de
• OBSERVAÇÃO: O armazenamento de amostras aproximadamente 90° durante a observação. O tubo
de sangue total com citrato a 2–8°C deve ser deve ficar imerso em banho-maria a 37°C entre as
evitado, pois isso pode provocar perda da inclinações.
atividade de FVIII.
• OBSERVAÇÃO: Amostras de plasma pobre Testes de triagem
em plaquetas (PPP) podem ser armazenadas • A contagem de plaquetas, TP e TTPa podem ser
a –35°C por até 3 meses e a –70°C por até 6 usados para triagem de um paciente com suspeita
meses antes da determinação da atividade de de apresentar um distúrbio hemorrágico. 19
FVIII/FIX. O armazenamento de PPP a –20°C • A sensibilidade dos testes de TP20 e TTPa 21,22 para
geralmente é inadequado. Congeladores com deficiências de fatores é influenciada pelo tipo de
reagente usado na realização do teste.
46 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 3.2.7: inicialmente pode ser normal e então cada vez mais
• Para a investigação laboratorial de pacientes prolongado durante a incubação na presença de
avaliados devido a uma suspeita clínica de um inibidor dependente do tempo (por ex., muitos
hemofilia A, a WFH recomenda que o teste de autoanticorpos adquiridos contra FVIII), embora
tempo de protrombina também seja realizado esse padrão possa ser variável em casos com
usando um reagente laboratorial que contenha cinética complexa.
fator tissular humano. • Estudos de correção com plasma com deficiência
• OBSERVAÇÃO: Algumas vezes, a hemofilia de FVIII/FIX podem ser usados para identificar a
A é excluída apesar da suspeita clínica de deficiência específica se um ensaio de fator não
sua presença. Esses casos podem apresentar estiver disponível.
deficiências de outro fator. Alguns pacientes com
determinados defeitos de FVII podem apresentar TABELA 3-1 Interpretação dos testes de triagem
sintomas semelhantes à hemofilia leve, mas
Perfil Contagem de
podem exibir TP e atividade de FVII normais se Diagnóstico
TP TPa
Plaquetas
o reagente laboratorial contiver um fator tissular
não-humano, de modo que o diagnóstico seria Normal Normal Normal Normal

ignorado. CB
Hemofilia Normal Prolongadoa Normal
A ou B
Recomendação 3.2.8:
• Para a investigação laboratorial de pacientes VWD Normal Normal ou Normal ou
avaliados devido a uma suspeita clínica de prolongadoa reduzida
hemofilia, a WFH recomenda que um resultado de
TTPa na faixa de referência não seja usado para Defeito de Normal Normal Normal ou
plaqueta reduzida
descartar a presença de hemofilia A ou B leve.
• OBSERVAÇÃO: Em alguns casos de hemofilia A Abreviações: TTPa: tempo de tromboplastina parcial ativada;
ou B leve, TTPa pode estar na faixa normal. CB TP: tempo de protrombina; VWD: doença de von Willebrand.
a
O mesmo padrão pode ocorrer na presença de deficiências de
FXI, FXII, pré-calicreína ou cininogênio de alto peso molecular.
• O teste de tempo de sangramento não tem
sensibilidade e especificidade e também é propenso
Recomendação 3.2.9:
a erros relacionados ao desempenho. Portanto,
• A WFH recomenda que um resultado de TTPa
outros testes de função plaquetária, como a
na faixa normal, obtido em uma amostra que
agregação de plaquetas são preferíveis, quando
contenha uma mistura em volumes iguais de
disponíveis.23,24
plasma de paciente e pool de plasma normal
• Com base nos resultados desses testes, a categoria
e tenha sido analisada imediatamente após a
do distúrbio hemorrágico pode ser parcialmente
preparação dessa mistura, não seja usado para
caracterizada para orientar a análise subsequente
descartar a possível presença de um inibidor de
(ver a Tabela 3-1).
FVIII.
• Esses testes de triagem podem não detectar
• OBSERVAÇÃO: O TTPa em uma amostra
anormalidades em pacientes com distúrbios
contendo uma mistura em volumes iguais de
hemorrágicos leves, incluindo algumas variantes
plasma de paciente e pool de plasma normal passa
de VWD, alguns casos de hemofilia A ou B leve
a apresentar um prolongamento substancial
geneticamente confirmada, defeitos da função
durante um período de 1 a 2 horas de incubação
plaquetária, deficiência de FXIII e defeitos raros
a 37°C se a amostra do paciente contiver um
da fibrinólise que podem estar associados a uma
inibidor anti-FVIII neutralizante. CB
tendência ao sangramento.
Ensaios de fator
Estudos de correção
• Vários tipos de ensaios de FVIII, incluindo ensaios
• Testes de triagem anormais podem ser investigados
de coagulação cromogênicos e fluorigênicos,
mais a fundo usando estudos de correção ou mistura.
estão disponíveis.25-30 Ensaios de coagulação em
• Estudos de correção ou mistura usando um pool
um estágio baseados em TTPa representam as
de plasma normal (PNP) podem ajudar a definir se
técnicas usadas com mais frequência na maioria das
tempos de coagulação prolongados são decorrentes
regiões.26,27
de uma deficiência de fator ou de anticoagulantes ou
• O plasma com deficiência de FVIII e FIX deve
inibidores circulantes.
estar completamente isento de FVIII e FIX,
• O TTPa de um paciente/mistura de plasma normal
Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 47

respectivamente, ou seja, deve conter < 1 UI/dL hemofilia A, a WFH recomenda o uso tanto de um
e apresentar níveis normais de outros fatores de ensaio de FVIII em um estágio quanto do ensaio
coagulação.1 cromogênico de FVIII:C na avaliação diagnóstica
• O nível de fatores de coagulação no pool de plasma inicial.
normal varia substancialmente entre os pools31,32; • OBSERVAÇÃO: Os dois ensaios devem ser
portanto, um sistema de unidades internacionais realizados mesmo que o resultado de um dos dois
(UIs) foi estabelecido para continuidade e ensaios mostre uma atividade de FVIII na faixa
rastreabilidade.31,33 Os níveis de fatores são relatados normal.
em unidades internacionais, por mL ou por decilitro • OBSERVAÇÃO: O ensaio de FVIII em um estágio
(UI/dL). Se UI/dL for usada, os resultados não são requer o uso de plasma deficiente em FVIII
intercambiáveis com a porcentagem (%) de pool de contendo menos de 1 UI/dL (< 1%) de atividade
plasma normal.34 de FVIII e níveis normais de outros fatores de
• O uso de uma única diluição do plasma de teste coagulação que possam influenciar o TTPa
produz incorreções do ensaio na presença de alguns (fibrinogênio, FII, FV, FIX, FX, FXI, FXII, pré-
inibidores, incluindo anticoagulantes lúpicos (LA),35 calicreína e HMWK). CB
inibidores de fator específicos de alta resposta e
alguns medicamentos anticoagulantes,36 e provoca Recomendação 3.2.11:
uma imprecisão do ensaio. • Para a investigação laboratorial de pacientes
• O método de calibração do ensaio pode afetar a avaliados devido a uma suspeita clínica de
qualidade dos resultados.37,38 Ao analisar amostras hemofilia B, a WFH recomenda o uso do ensaio
de teste de pacientes com hemofilia moderada de FIX em um estágio na avaliação diagnóstica
ou grave, pode ser necessária uma curva de inicial.
calibração prolongada ou separada. Não é aceitável • OBSERVAÇÃO: Os dados atuais são insuficientes
simplesmente estender a curva de calibração por para fazer recomendações sobre o papel do ensaio
extrapolação sem analisar diluições adicionais do cromogênico de FIX na avaliação diagnóstica
plasma de calibração. inicial da hemofilia B.
• Alguns casos de hemofilia A leve geneticamente • OBSERVAÇÃO: O ensaio de FIX em um estágio
confirmada demonstram atividade de FVIII normal requer o uso de plasma deficiente em FIX contendo
quando um ensaio de um estágio é usado para menos de 1 UI/dL (< 1%) de atividade de FIX e
diagnóstico, mas uma atividade reduzida em ensaios níveis normais de outros fatores de coagulação
de coagulação cromogênicos e em dois estágios.39-46 que possam influenciar o TTPa (fibrinogênio, FII,
O inverso também pode ocorrer. 40,47,48 Isto significa FV, FVIII, FX, FXI, FXII, pré-calicreína e HMWK).
que mais de um tipo de ensaio de FVIII é necessário CB
para detectar todas as formas de hemofilia A leve.
• Todos os pacientes com redução da atividade de Recomendação 3.2.12:
FVIII e um possível diagnóstico de hemofilia A devem • Para os ensaios de FVIII/FIX em um estágio ou
realizar uma avaliação laboratorial completa para cromogênicos, o plasma de referência/padrão
descartar VWD. Isto é especialmente importante usado para calibração, seja comercial ou preparado
para diferenciar VWD Normandy da hemofilia A localmente, deve poder ser rastreado a um padrão
leve, já que ambas apresentam um nível normal de internacional da OMS e os resultados devem ser
antígeno VWF geralmente associado a uma redução relatados em unidades internacionais (UIs).
da atividade de FVIII.49 • OBSERVAÇÃO: Os resultados devem ser
• Os ensaios cromogênicos para FIX estão se tornando relatados como UI/mL ou UI/dL.
mais disponíveis50-54 e um estudo relatou que um • OBSERVAÇÃO: Em princípio, a porcentagem
ensaio cromogênico para FIX pode apresentar uma constitui a unidade de atividade apropriada
melhor correlação com o quadro clínico que um somente quando o ensaio é realizado usando um
ensaio em um estágio em alguns casos de hemofilia pool de plasma normal como plasma de referência
B.53 cuja atividade não possa ser rastreada para um
• Os testes de geração de trombina são usados para padrão internacional da OMS. CB
caracterizar a hemofilia55-57, mas seu uso não é
disseminado. Recomendação 3.2.13:
• Para a investigação laboratorial decorrente de
Recomendação 3.2.10: uma suspeita clínica de hemofilia usando ensaios
• Para a investigação laboratorial de pacientes de FVIII/FIX em um estágio, a WFH recomenda
avaliados devido a uma suspeita clínica de a análise usando três diluições diferentes das
48 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

amostras de plasma de teste. está disponível no manual de laboratório da WFH.


• OBSERVAÇÃO: Os resultados das diluições de CB
plasma de teste e padrão devem ser comparados
por análise em linha paralela. Um modo para Recomendação 3.2.17:
realizar essa avaliação consiste em calcular o • Para amostras de controle de qualidade interno
coeficiente de variação (CV) dos três resultados com atividade de FVIII/FIX na faixa de 50–150 UI/
usando a equação CV = ([desvio padrão/média] dL, o coeficiente de variação entre ensaios deve
× 100). Se o CV dos três resultados for menor ser menor que 10%.
que 15%, então a média dos três resultados • OBSERVAÇÃO: Alguns estudos mostraram que o
deve ser relatada. Se o CV for maior que 15%, os uso de uma curva de calibração armazenada está
resultados devem ser examinados com atenção. A associado a maiores CVs entre ensaios que o uso
presença de inibidores patológicos contra fatores de uma curva de calibração nova gerada junto
de coagulação específicos ou anticoagulantes com as amostras do paciente. CB
lúpicos pode interferir com alguns ensaios de
FVIII e FIX em um estágio. Alguns anticoagulantes Monitoramento pós-infusão de FVIII/FIX
terapêuticos também podem exibir esse efeito
de interferência. Em todos esses contextos, a • Uma recuperação menor que a esperada e/ou
atividade do fator aumenta no ensaio conforme meia-vida reduzida dos concentrados de fatores de
o plasma é progressivamente diluído. A atividade coagulação (CFCs) infundidos podem representar
do fator é subestimada quando o plasma é menos um indicador precoce da presença de inibidores.
diluído e um resultado de atividade mais exato é • Para amostras que contenham CFCs de FVIII ou FIX,
obtido quando o plasma de teste é mais diluído. CB os resultados dos ensaios de FVIII ou FIX podem
variar conforme um ensaio cromogênico ou em um
Recomendação 3.2.14: estágio for usado para a análise e às vezes de acordo
• Em populações onde o anticoagulante lúpico com reagentes ou kits específicos usados no ensaio.
ocorra, a WFH recomenda o uso de um reagente • Se ensaios de fator forem usados para confirmar a
para TTPa que seja insensível ao anticoagulante eficácia do tratamento ou para fazer ajustes da dose,
lúpico para a realização de ensaios de FVIII/FIX deve-se ter em mente que alguns ensaios não são
em um estágio. CB adequados para monitorar alguns produtos.58
• O uso de um ensaio que produza uma superestimação
Recomendação 3.2.15: acentuada da atividade em comparação aos
• Para todos os ensaios de FVIII/FIX em um estágio, resultados esperados conforme a potência nominal
apenas os tempos de coagulação das diluições da do concentrado pode levar a um tratamento
amostra de teste que estejam na faixa coberta pela insuficiente e risco clínico.
curva de calibração devem ser usados para calcular • Um consenso pleno sobre o grau de diferença
a atividade de FVIII/FIX na amostra de teste. tolerável entre os resultados de diferentes ensaios
• OBSERVAÇÃO: Ao analisar amostras de teste antes que o manejo do paciente seja afetado
de pacientes com hemofilia A ou B moderada adversamente não foi estabelecido até o momento
ou grave, pode ser necessária uma curva de da elaboração deste texto; enquanto isso, é melhor
calibração prolongada ou adicional. Não é evitar ensaios que forneçam resultados com uma
aceitável prolongar a curva de calibração por diferença maior que 25–30% em relação à potência
extrapolação sem analisar diluições adicionais do nominal do frasco-ampola do concentrado ou, em
plasma de referência/calibração. CB qualquer caso, estes não devem ser usados sem
considerar essas diferenças.
Recomendação 3.2.16: • Ensaios internos de rotina podem ser usados para
• Para todos os tipos de ensaios de FVIII e FIX, monitoramento pós-infusão, desde que o sistema de
uma amostra de controle de qualidade interno ensaio local (método e referência/calibrador) esteja
(IQC) deve ser incluída em cada lote de amostras incluído na orientação do fabricante.59 Qualquer
de teste analisadas. Os resultados só devem ser ensaio local deve ser verificado para uso com o CFC
liberados para fins de manejo do paciente após a específico empregado.60
confirmação de que os resultados do IQC estão • Vários artigos revisaram as evidências publicadas
dentro da faixa pretendida para aquele material. relativas ao uso de ensaios específicos para
• OBSERVAÇÃO: Uma descrição de como monitoramento da meia-vida estendida (EHL)
estabelecer as faixas pretendidas para materiais específica e CFCs não modificados.58,60,61
IQC e lidar com resultados de IQC fora da faixa • Ensaios em um estágio usados para monitorar a
Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 49

molécula de FVIII recombinante de cadeia única Recomendação 3.2.21:


lonoctocog alfa (Afstyla®) subestimaram a potência • Para monitoramento da terapia de reposição com
relativa em 45%, enquanto o ensaio cromogênico efmoroctocog alfa (FVIII recombinante fundido
recuperou os valores esperados62, o que levou a com imunoglobulina G1 humana [rFVIIIFc];
uma recomendação de preferência pelo ensaio Elocta®/ Eloctate®), a WFH recomenda o uso de
cromogênico e que os resultados do ensaio em um ensaio de FVIII em um estágio ou cromogênico
um estágio devem ser multiplicados por um fator calibrado com um padrão de plasma que possa
de conversão de 2 para determinar o nível de ser rastreado a um padrão internacional da OMS.
atividade de FVIII do paciente.63 Essa abordagem CB
não forneceu uma correção completa das diferenças
de reagentes64 e alguns especialistas recomendam Recomendação 3.2.22:
especificamente que não seja usado um ensaio • Para monitoramento da terapia de reposição
que sabidamente forneça valores discrepantes com com turoctocog alfa pegol (FVIII recombinante
multiplicação do resultado por um fator de correção de domínio B truncado com um grupo de
desse modo.65 Uma vez que pode haver variação polietilenoglicol de 40 kDa específico para o
entre os lotes de reagentes usados para ensaios de sítio [N8-GP]; Esperoct®), a WFH recomenda
fator, qualquer fator de conversão desse tipo deve o uso de um ensaio cromogênico de FVIII ou
ser confirmado para os números de lote em uso. um ensaio de FVIII em um estágio baseado em
• Existem vários estudos de ensaios publicados TTPa com reagentes validados, incluindo alguns
comparando os resultados em amostras que reagentes contendo o ativador ácido elágico
contenham CFCs, incluindo concentrados EHL de (Actin®, Actin® FS, SynthAFax™, DG Synth™)
FVIII e FIX. Apesar disso, existem vários reagentes e alguns reagentes contendo o ativador sílica
para ensaios cromogênicos e em um estágio que (Pathromtin® SL, SynthASil™), calibrado com
não foram estudados para uso com alguns CFCs no um padrão de plasma que possa ser rastreado a
momento em que este texto está sendo escrito. O um padrão internacional da OMS.
leitor deve consultar as referências na Tabela 3-2 • OBSERVAÇÃO: Ensaios de FVIII em um estágio
(FVIII) e na Tabela 3-3 (FIX) para ver as evidências com os reagentes APTT-SP™, STA®-PTT
que respaldam as recomendações a seguir. Automate ou TriniCLOT™ APTT HS podem
subestimar de modo significativo a atividade de
Recomendação 3.2.18: FVIII real de N8-GP e não devem ser usados. CB
• Para o monitoramento da terapia de reposição com
concentrados de FVIII ou FIX, a WFH recomenda Recomendação 3.2.23:
que os laboratórios utilizem um ensaio de FVIII/ • Para monitoramento da terapia de reposição
FIX que tenha sido validado para uso com o com damoctocog alfa pegol (FVIII recombinante
concentrado específico empregado no tratamento. com deleção do domínio B com um grupo de
• Observação: Esta recomendação é particularmente polietilenoglicol ramificado de 60 kDa especifico
importante para formas moleculares modificadas para o sítio [BDD-rFVIII]; Jivi®), a WFH recomenda
de FVIII e FIX. CB o uso de um ensaio cromogênico de FVIII ou um
ensaio de FVIII em um estágio baseado em TTPa
Recomendação 3.2.19: com reagentes validados, incluindo o reagente
• Para o monitoramento da terapia de reposição contendo o ativador ácido elágico Actin® FSL
com concentrados de FVIII derivados de plasma, e alguns reagentes contendo o ativador sílica
a WFH recomenda o uso de um ensaio de FVIII (Pathromtin® SL, SynthASil™), calibrado com
em um estágio ou cromogênico, calibrado com um padrão de plasma que possa ser rastreado a
um padrão de plasma que possa ser rastreado a um padrão internacional da OMS.
um padrão internacional da OMS. CB • OBSERVAÇÃO: Ensaios de FVIII em um estágio
usando o reagente com ativador ácido elágico
Recomendação 3.2.20: Actin® FS ou o reagente com o ativador caolina
• Para monitoramento da terapia de reposição C.K. Prest® superestimam de modo significativo
com concentrados de fatores de coagulação a atividade de FVIII real e não devem ser usados.
contendo FVIII recombinante de extensão total, a Ensaios de FVIII em um estágio com os reagentes
WFH recomenda o uso de um ensaio de FVIII em APTT-SP™ e STA®- PTT Automate subestimam
um estágio ou cromogênico, calibrado com um de modo significativo a atividade real de FVIII e
padrão de plasma que possa ser rastreado a um não devem ser usados. CB
padrão internacional da OMS. CB
50 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

TABELA 3-2 Publicações com dados relacionados ao uso de diferentes ensaios de FVIII na presença
de concentrados de fator VIII recombinante e modificado
Nome não registrado
Tipo de produto Nome comercial internacional Referências
Recombinante de extensão total Advate®, Kogenate® FS, Octocog alfa Church (2018) 66, Kitchen
Kovaltry® (2016) 67, Kitchen (2016) 68,
Turecek (2016) 69
FVIII BDD NovoEight® Turoctocog alfa Viuff (2011) 70

FVIII BDD ReFacto AF® Moroctocog alfa Kitchen (2016) 68, Jacquemin
(2018) 71, Cauchie (2013) 72,
Morfini (2003) 73, Ingerslev
(2004) 74, Santoro (2009) 75
FVIII BDD fundido à porção Fc de Elocta ® /Eloctate ® Efmoroctocog alfa Powell (2012)76, McCue (2015)
IgG1 77
, Sommer (2014) 78, Kitchen
(2019) 79
FVIII de domínio B truncado com Esperoct ® Turoctocog alfa pegol Hillarp (2017) 80, Pickering
uma porção de polietilenoglicol de 40 (2016) 81, Persson (2019) 82,
kDa específica para o sítio Ezban (2019) 83, Hegemann
(2019) 84, Tiefenbacher (2019)
85

FVIII BDD com polietilenoglicol de 60 Jivi ® Damoctocog alfa pegol Church (2018) 66, Gu (2014) 86
kDa específico para o sítio

FVIII recombinante de extensão Adynovate® /Adynovi® Rurioctocog alfa pegol Turecek (2016)69, Bulla (2017)87,
total com peguilação de 20 kDa não Weber (2017)88
específica para o sítio
FVIII recombinante de cadeia única Afstyla® Lonoctocog alfa St Ledger (2018)62, Bowyer
(2017) 64

FVIII porcino BDD recombinante Obizur® Susoctocog alfa Turecek (2016)69, Vanguru
(2018)89

Observação: Os produtos terapêuticos são indicados tanto por seu nome não registrado internacional quanto pelo nome comercial
porque o uso deste último é mais comum e reconhecido pela comunidade.
Abreviações: BDD: deleção do domínio B; FVIII: fator VIII; kDA: quilodalton.

TABELA 3-3 Publicações com dados relacionados ao uso de diferentes ensaios de FIX na presença
de concentrados de fator IX recombinante e modificado

Nome não registrado


Tipo de produto Nome comercial internacional Referências
Recombinante Não identificado Não identificado Wilmot (2014) 90

FIX recombinante fundido à porção Alprolix® Eftrenonacog alfa Kershaw (2018)54, Sommer
Fc de IgG1 (2014)91, Bowyer (2019)92

Proteína de fusão recombinante Idelvion® Albutrepenonacog alfa Horn (2019)51, Bowyer (2019)92
unindo FIX à albumina

FIX recombinante com peguilação de Refixia®/ Rebinyn® Nonacog beta pegol Bowyer (2016)52, Rosen
40 kDa dirigida para o sítio (2016)93, Tiefenbacher (2017)94,
Ezban (2019)95

Observação: Os produtos terapêuticos são indicados tanto por seus nomes não registrados internacionais quanto pelos nomes
comerciais porque o uso destes últimos é mais comum e reconhecido pela comunidade.
Abreviações: FIX: fator IX; IgG1: imunoglobulina G1; kDA: quilodalton.
Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 51

Recomendação 3.2.24: imunoglobulina G1 humana [rFIXFc]; Alprolix®), a


• Para monitoramento da terapia de reposição com WFH recomenda o uso de um ensaio cromogênico
rurioctocog alfa pegol (FVIII recombinante de de FIX ou um ensaio de FIX em um estágio
extensão total com polietilenoglicol de 20 kDa não baseado em TTPa com reagentes validados,
específico para o sítio; Adynovate®/ Adynovi®), incluindo alguns reagentes que contenham o
a WFH orienta que mais estudos de ensaios ativador ácido elágico (Actin®, Actin® FS, Actin®
laboratoriais são necessários para fundamentar FSL), alguns reagentes que contenham o ativador
as recomendações sobre o monitoramento sílica (Pathromtin® SL, SynthASil™) e um
laboratorial. reagente ativador de polifenol (Cephascreen®),
• OBSERVAÇÃO: Há achados conflitantes na calibrado com um padrão de plasma que possa
literatura para avaliação do uso de ensaios de ser rastreado a um padrão internacional da OMS.
FVIII em um estágio e cromogênicos em amostras • OBSERVAÇÃO: Ensaios de FIX em um estágio
que contenham rurioctocog alfa pegol. CB com os reagentes STA®-PTT Automate ou
ativador caolina (C.K. Prest®) subestimam de
Recomendação 3.2.25: modo significativo a atividade real de rFIXFc
• Para monitoramento da terapia de reposição com (Alprolix®) e não devem ser usados. CB
lonoctocog alfa (FVIII recombinante de cadeia
única [rVIII-Cadeia Única]; Afstyla®), a WFH Recomendação 3.2.29:
recomenda o uso de um ensaio cromogênico de • Para monitoramento da terapia de reposição com
FVIII, calibrado com um padrão de plasma que albutrepenonacog alfa (FIX recombinante fundido
possa ser rastreado a um padrão internacional da com albumina humana recombinante [rFIX-RFP];
OMS. Idelvion®), a WFH recomenda o uso de um ensaio
• OBSERVAÇÃO: O resumo das características de FIX em um estágio baseado em TTPa com
do produto recomenda ensaios cromogênicos. reagentes validados, incluindo alguns reagentes
Também declara que o resultado do ensaio que contenham o ativador sílica (Pathromtin®
de FVIII em um estágio subestima o nível de SL, SynthASil™), calibrado com um padrão de
atividade de FVIII em aproximadamente 45%, em plasma que possa ser rastreado a um padrão
comparação ao resultado do ensaio cromogênico, internacional da OMS.
e sugere que se o ensaio de um estágio for usado, • OBSERVAÇÃO: Ensaios de FIX em um estágio
o resultado deve ser multiplicado por um fator de usando o reagente com ativador ácido elágico
2. CB Actin® FS ou o reagente ativador caolina C.K.
Prest® subestimam de modo significativo a
Recomendação 3.2.26: atividade real de rFIX-RFP (Idelvion®) e não
• Para monitoramento da terapia de reposição devem ser usados. Ensaios em um estágio
com concentrados de FIX derivados de plasma, a usando o reagente com ativador ácido elágico
WFH recomenda o uso de um ensaio de FIX em SynthAFax™ ou ensaios cromogênicos de FIX
um estágio ou cromogênico, calibrado com um superestimam de modo considerável a atividade
padrão de plasma que possa ser rastreado a um real de rFIX-RFP (Idelvion®) e não devem ser
padrão internacional da OMS. CB usados. CB

Recomendação 3.2.27: Recomendação 3.2.30:


• Para monitoramento da terapia de reposição • Para monitoramento da terapia de reposição
com concentrados de fatores de coagulação com nonacog beta pegol (FIX recombinante com
contendo FIX recombinante não modificado, a uma porção de polietilenoglicol de 40 kDa [N9-
WFH recomenda o uso de um ensaio de FIX em um GP]; Refixia®/ Rebinyn®), a WFH recomenda
estágio, calibrado com um padrão de plasma que o uso de um ensaio cromogênico de FIX ou um
possa ser rastreado a um padrão internacional da ensaio de FIX em um estágio baseado em TTPa
OMS. com reagentes validados, incluindo o reagente
• OBSERVAÇÃO: Foi relatado que os ensaios contendo o ativador ácido elágico SynthAFax™ ou
cromogênicos de FIX subestimam a atividade de o ativador polifenol Cephascreen®, calibrado com
FIX do concentrado de FIX recombinante. CB um padrão de plasma que possa ser rastreado a
um padrão internacional da OMS.
Recomendação 3.2.28: • OBSERVAÇÃO: A maioria dos ensaios de FIX em
• Para monitoramento da terapia de reposição com um estágio superestima ou subestima de modo
eftrenonacog alfa (FIX recombinante fundido com significativo a atividade real de FIX de N9-GP
52 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

e não deve ser usada. Ensaios em um estágio somente em níveis de emicizumabe acima dos
usando o reagente com o ativador ácido elágico esperados em pacientes que estejam recebendo
SynthAFax™ ou o reagente com ativador de as doses recomendadas. CB
polifenol Cephascreen® são adequados para
monitoramento do tratamento com N9-GP. CB Recomendação 3.2.33:
• Para determinação dos níveis de inibidores
Emicizumabe de FVIII em pacientes que estejam recebendo
• Emicizumabe é um anticorpo biespecífico produzido emicizumabe, a WFH recomenda o uso de um
por engenharia que se liga a FIX/FIXa e FX/FXa ensaio cromogênico de FVIII contendo FX bovino.
humanos e não é regulado pelos mecanismos que CB
regulam FVIII, mas atua como mimetizador de
FVIII.96,97 Recomendação 3.2.34:
• TTPa é reduzido de modo considerável por • Para pacientes com suspeita de anticorpos
emicizumabe para um valor dentro ou abaixo da faixa neutralizantes contra emicizumabe, a WFH
de referência, independentemente dos reagentes recomenda que níveis de emicizumabe sejam
usados, o que significa que emicizumabe afeta todos medidos usando um ensaio em um estágio
os exames e ensaios laboratoriais baseados em modificado incluindo uma etapa adicional de
TTPa.98-100 pré-diluição do plasma de teste e calibração do
• Emicizumabe interfere de modo significativo nos ensaio usando calibradores específicos para
ensaios cromogênicos de FVIII que utilizam FIXa e emicizumabe.
FX humanos, mas não naqueles que utilizam FIXa e • OBSERVAÇÃO: Ensaios de anticorpos contra
FX de origem bovina. É necessária a verificação local o medicamento validados também podem ser
de kits cromogênicos que contenham FX bovino e usados para este fim, se disponíveis. CB
FIXa humano.98,99
• Emicizumabe pode ser medido e relatado em μg/mL Teste de inibidores
usando um ensaio em um estágio modificado com • Os inibidores funcionais da hemostasia encontrados
maior diluição da amostra de teste (no tampão do com mais frequência são os anticoagulantes lúpicos,
ensaio) e calibrado usando calibradores específicos que não são dirigidos contra fatores de coagulação
para emicizumabe.99 específicos e cuja presença deve ser excluída antes
dos testes de inibidores de fatores específicos.
Recomendação 3.2.31: • A interpretação dos resultados do teste de TTPa em
• Para pacientes que estejam recebendo misturas de plasma de teste e normal pode ser difícil,
emicizumabe, nos quais a confirmação dos níveis especialmente porque na hemofilia adquirida pode
esperados de emicizumabe seja necessária, a haver uma correção completa do TTPa no início,
WFH recomenda o uso de um ensaio em um mesmo na presença de um anticorpo específico
estágio modificado, incluindo uma etapa adicional potente contra FVIII. Se anticorpos anti-FVIII
de pré-diluição do plasma de teste e calibração estiverem presentes, o TTPa desta mistura será
do ensaio usando calibradores específicos para prolongado com a incubação.
emicizumabe. • A maioria dos inibidores de FVIII que se desenvolvem
• OBSERVAÇÃO: Mesmo em níveis subterapêuticos secundariamente à terapia de reposição em
de emicizumabe, o TTPa pode ser normal ou pacientes com hemofilia A exibem um padrão
subnormal em pacientes com hemofilia grave A característico: o TTPa de uma mistura de paciente/
com ou sem inibidores. CB PNP é intermediário, ou seja, está entre os valores
de TTPa dos dois materiais, e é adicionalmente
Recomendação 3.2.32: prolongado quando a mistura é incubada a 37°C por
• Para determinação da atividade de FVIII em 1–2 horas.
pacientes com hemofilia A que estejam recebendo • A confirmação de que um inibidor é dirigido contra
emicizumabe, a WFH recomenda o uso de um um fator de coagulação específico requer um ensaio
ensaio cromogênico de FVIII contendo FX bovino. de inibidor específico.
• OBSERVAÇÃO: Em níveis terapêuticos, • A quantificação do título do inibidor é realizada
emicizumabe afeta qualquer ensaio cromogênico no laboratório, de preferência usando o ensaio de
de FVIII que contenha FX de origem humana. Bethesda modificado por Nijmegen para teste de
Emicizumabe também pode afetar ensaios inibidores de FVIII 1, uma vez que essa modificação
cromogênicos de FVIII que contenham FIXa oferece melhor especificidade e sensibilidade em
de origem humana e FX de origem bovina, mas relação ao ensaio de Bethesda original.101-109
Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 53

• Os resultados dos ensaios de inibidores de Bethesda de FIX, a WFH recomenda que, antes do teste,
podem ser afetados pelo uso de diferentes diluições a amostra seja aquecida a 56°C por 30 minutos
da amostra de teste antes que essas diluições sejam e centrifugada à temperatura ambiente em no
misturadas com o plasma normal.110 mínimo 1.700 g durante pelo menos 5 minutos. CB
• Para pacientes tratados com FVIII ou FIX, um período
de eliminação já não é necessário se for empregada Recomendação 3.2.37:
uma modificação de neutralização por calor do • Para quantificação de inibidores anti-FVIII, a
ensaio Nijmegen-Bethesda, que inativa FVIII/FIX na WFH recomenda que o ensaio de Nijmegen-
amostra para permitir a detecção do inibidor.109,111-113 Bethesda seja usado.
Isto não é necessário se FVIII/FIX for < 5 UI/dL na • OBSERVAÇÃO: Os ensaios de Bethesda
amostra de teste, já que esse baixo nível não terá detectam anticorpos neutralizantes. Uma
um efeito significativo sobre os cálculos do título do pequena proporção dos anticorpos anti-FVIII
inibidor. não é neutralizante, encurta a meia-vida do FVIII
• Diferentes tipos de ensaios de FVIII podem ser infundido e mão é detectada pelos ensaios de
usados para determinar FVIII durante o ensaio de Bethesda.
inibidor de Nijmegen-Bethesda.114-118 O protocolo • OBSERVAÇÃO: A modificação de Nijmegen
para o programa nacional de inibidores nos EUA descreve um método específico para
exige o uso de um ensaio cromogênico quando tamponamento do pool de plasma normal;
forem observados resultados positivos para inibidor outros métodos de tamponamento podem ser
de FVIII abaixo de 2,0 BU.108 Se houver suspeita adequados. CB
de anticoagulante lúpico ou se a amostra contiver
anticoagulantes terapêuticos como heparina ou Recomendação 3.2.38:
inibidores diretos de FXa ou FIIa, pode ser útil • Para a quantificação dos inibidores de FVIII e FIX,
confirmar a presença do inibidor usando um ensaio a WFH recomenda que apenas uma atividade
cromogênico para medir a atividade residual do fator residual de FVIII/FIX entre 25% e 75% do FVIII/
(em vez do ensaio em um estágio). FIX na mistura de controle seja usada para
• Um título de inibidor ≥ 0,6 BU/mL deve ser calcular as concentrações de inibidor.
considerado clinicamente significativo.119,120 • OBSERVAÇÃO: Os resultados mais exatos
• Alguns anticorpos anti-FVIII não neutralizantes para inibidores são obtidos quando a atividade
que não são detectados pelo ensaio de Nijmegen- residual de FVIII/FIX for próxima a 50% do nível
Bethesda podem ser clinicamente relevantes porque na mistura de controle. CB
podem aumentar o clearance de FVIII e podem ser
medidos por ELISA.121-128 Recomendação 3.2.39:
• Para quantificação de inibidores anti-FVIII de
Recomendação 3.2.35: baixa titulação (< 2 BU/mL), a WFH recomenda
• Para determinação de inibidores anti-FVIII o uso de um ensaio cromogênico de FVIII de
em uma amostra contendo mais de 5 UI/dL de Nijmegen-Bethesda para medir a atividade
atividade de FVIII, a WFH recomenda que, antes residual de FVIII.
do teste, a amostra seja aquecida a 56°C por 30 • OBSERVAÇÃO: O uso de um ensaio cromogênico
minutos e centrifugada à temperatura ambiente de FVIII de Nijmegen-Bethesda em vez de um
em no mínimo 1.700 g durante pelo menos 5 ensaio de FVIII em um estágio fornece maior
minutos. especificidade e reduz a possível variabilidade
• OBSERVAÇÃO: O limite de quantificação do na mensuração de FVIII residual que leva à
ensaio de inibidor de FVIII de Nijmegen-Bethesda subestimação até o ponto em que um falso
é por volta de 0,6 BU/mL. positivo para inibidor é relatado quando nenhum
• OBSERVAÇÃO: O ensaio de inibidor de FVIII de inibidor está presente.
Nijmegen-Bethesda requer o uso de um pool
de plasma normal tamponado como fonte de Terapia gênica
FVIII, que é então misturado a um volume igual • Foram relatadas discrepâncias entre os resultados
de plasma deficiente em FVIII para preparar a de ensaios em um estágio e cromogênicos após
mistura de controle. CB terapia gênica para FVIII e FIX.
• Os resultados dos ensaios de FVIII em um estágio
Recomendação 3.2.36: foram aproximadamente 1,65 vezes maiores129 e
• Para determinação de inibidores anti-FIX em uma 1,5 vezes maior130 que os dos ensaios cromogênicos
amostra contendo mais de 5 UI/dL de atividade para duas terapias diferentes usando FVIII com
54 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

deleção do domínio B (BDD), em contraste com FVIII 3. 3 Uso do equipamento e reagentes


BDD contendo CFC, onde os resultados do ensaio corretos
cromogênico foram maiores que os resultados do
ensaio em um estágio.58,75
Equipamento
• Os resultados dos ensaios de FIX em um estágio
variaram de acordo com os reagentes usados, mas
• As exigências de equipamento laboratorial básico
foram maiores que os resultados obtidos nos ensaios
incluem um banho-maria a 37°C±0,5°C para o
cromogênicos de FIX em pacientes que tinham
descongelamento rápido de amostras congeladas
recebido terapia gênica de FIX com uma variante do
e para a realização de testes manuais em
FIX Padua de alta atividade específica. 131
qualquer amostra, quando houver falha da análise
automatizada, e pipetas automatizadas calibradas.
Recomendação 3.2.40:
• Itens de consumo de plástico e vidro usados em
• Para quantificação da atividade de FVIII em
testes de coagulação não devem ser reutilizados.
receptores de transferência gênica, a WFH
• Coagulômetros automatizados oferecem vantagens
orienta que mais pesquisas são necessárias
importantes em relação aos métodos manuais
para determinar a exatidão relativa dos ensaios
de alguns semiautomatizados, incluindo melhor
cromogênicos e em um estágio para prever a
exatidão, precisão, repertório e, em alguns casos,
proteção hemostática.
detecção automática de problemas pré-analíticos.
• OBSERVAÇÃO: O ensaio em um estágio parece
produzir constantemente resultados de atividade
Seleção de coagulômetros
de FVIII aproximadamente 1,6 vezes maiores
• As considerações importantes para seleção dos
que aqueles obtidos com o ensaio cromogênico
coagulômetros incluem:
para múltiplos produtos transgênicos de FVIII.
‒ repertório de testes;
A correlação com a atividade específica de FVIII
‒ exigências operacionais, incluindo assistência e
plasmático e recombinante e a resposta clínica
resposta em caso de defeito;
pode ser necessária para a determinação exata da
‒ rendimento;
atividade de FVIII em receptores. CB
‒ comparabilidade entre os resultados do
analisador primário e quaisquer métodos de
Recomendação 3.2.41:
suporte;
• Para quantificação da atividade de FIX em
‒ compatibilidade com os tubos das amostras de
receptores de transferência gênica, a WFH
sangue e recipientes para armazenamento de
orienta que mais pesquisas são necessárias
plasma de uso local; e
para determinar a exatidão relativa dos ensaios
‒ segurança.
cromogênicos e em um estágio para prever a
• São necessárias informações relativas às
proteção hemostática.
características de desempenho do sistema. Isto pode
• OBSERVAÇÃO: FIX Padua (R338L) é utilizado
ser obtido em uma variedade de fontes, incluindo a
para terapia gênica de FIX porque exibe maior
literatura publicada e dados dos fabricantes, mas
atividade específica que o FIX nativo. O ensaio
também pode exigir alguma forma de avaliação local.
em um estágio parece produzir constantemente
Orientações detalhadas para a seleção e avaliação
resultados de atividade de FIX Padua que são
de analisadores estão disponíveis. 132,133
aproximadamente 1,6 vezes maiores que os
obtidos com o ensaio cromogênico. A correlação
Reagentes
com a atividade específica de FIX plasmático e
recombinante é necessária para a determinação
• Uma boa prática consiste em garantir a continuidade
exata da atividade de FIX Padua em receptores. CB
do suprimento de um reagente escolhido, prestando
atenção à continuidade de lotes e validade longa. Isto
Pessoal treinado
pode ser conseguido solicitando que o fornecedor
reserve o lote para o laboratório, se possível.
• Um cientista/tecnólogo laboratorial com interesse
• Diferentes marcas de reagentes podem apresentar
em coagulação deve ter uma compreensão profunda
sensibilidades diferentes e não devem ser usadas
dos testes para obter resultados exatos.
paralelamente, a não ser que isto seja realizado com
• Em alguns casos, pode ser benéfico contar com
uma finalidade específica.
um cientista/tecnólogo laboratorial que tenha um
• Uma faixa normal de referência deve ser definida
treinamento adicional em um centro especializado.
para todos os métodos. Uma orientação prática sobre
Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 55

esse assunto foi publicada1 e, para TTPa, deve levar Recomendação 3.4.1:
em conta as condições de coleta e processamento • A WFH recomenda veementemente que os
da amostra usadas localmente. laboratórios de coagulação implementem
programas de garantia de qualidade para todos os
sistemas laboratoriais para garantir a aderência à
3. 4 Garantia de qualidade qualidade e a confiabilidade dos procedimentos
laboratoriais de exames de sangue e relato para o
diagnóstico e tratamento da hemofilia. CB
• A garantia de qualidade engloba todos os aspectos
do processo diagnóstico, desde a coleta, separação,
Recomendação 3.4.2:
análise da amostra, o controle de qualidade interno
• Para testes de triagem de hemostasia, a WFH
(IQC) até o relato do resultado, garantindo que ele
recomenda a realização de controles de qualidade
chegue ao médico apropriado dentro de um período
internos com pelo menos dois níveis de amostras
apropriad
de controle de qualidade interno (amostras de
plasma normal e anormal) para todos os lotes de
Controle de qualidade interno
teste, no mínimo diariamente. CB

• O controle de qualidade interno é usado para


Recomendação 3.4.3:
estabelecer se uma série de técnicas e procedimentos
• A WFH recomenda veementemente que os
está sendo realizada de modo constante durante um
laboratórios clínicos participem rotineiramente
período de tempo.
de uma avaliação externa da qualidade para cada
• Medidas de IQC são realizadas para garantir que
ensaio utilizado para diagnóstico e tratamento de
os resultados das investigações laboratoriais sejam
hemofilia.
confiáveis o suficiente para auxiliar na tomada de
• OBSERVAÇÃO: A participação no Programa
decisão clínica, monitorar o tratamento e diagnosticar
Internacional de Avaliação Externa da Qualidade
anormalidades hemostáticas.
(IEQAS) da WFH permite que os laboratórios
• A exibição gráfica dos resultados de controle de
aprimorem e padronizem os testes laboratoriais
qualidade, por exemplo, na forma de gráficos
para hemofilia. CB
de Levey-Jennings, pode facilitar a revisão de
tendências nos resultados de IQC.

Avaliação de qualidade externa

• A avaliação de qualidade externa (EQA) ajuda


a identificar o grau de concordância entre os
resultados do laboratório local e aqueles obtidos por
outros centros. REFERÊNCIAS
• O Programa Internacional de Avaliação Externa
1. Kitchen S, McCraw A, Echenagucia M. Diagnosis of
da Qualidade (IEQAS) da WFH é projetado
Hemophilia and Other Bleeding Disorders: A Laboratory
especificamente para atender às necessidades dos
Manual, 2nd ed. Montreal, Canada: World Federation of
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todo. Esse programa inclui análises relevantes para
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de um programa avaliação externa da qualidade, o Psychosom Med. 2012;74(3):288-295.
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Capítulo 3: Diagnóstico e Acompanhamento Laboratorial | 61

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INFORMAÇÕES DE SUPORTE
Outras informações de suporte podem ser encontradas
on-line na seção Informações de Suporte.
62 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

4 AVALIAÇÃO
GENÉTICA
Megan Sutherland1 | Carlos De Brasi2 | Barbara A. Konkle3 | Shrimati Shetty4 |
Glenn F. Pierce5 | Alok Srivastava6

1. Manchester University Hospitals NHS Foundation Trust, Manchester, Reino Unido


2. Sección Genética Molecular de la Hemofilia, Instituto de Investigaciones Hematologicas e Instituto de Medicina Experimental,
CONICET – Academia Nacional de Medicina, Buenos Aires, Argentina
3. Bloodworks Northwest and Division of Hematology, Departamento de Medicina, University of Washington, Seattle, WA, EUA
4. ICMR – National Institute of Immunohaematology, KEM Hospital, Mumbai, Índia
5. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
6. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações procedimentos no país onde o serviço estiver sendo
são baseadas em consenso, o que é indicado por CB. fornecido.
• Nem sempre o teste genético identificará a variante
subjacente associada ao fenótipo da hemofilia.
4.1 Introdução
O aconselhamento genético deve destacar essa
possibilidade ao indivíduo encaminhado para teste
• A avaliação genética da hemofilia é importante
genético. (Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do
para definir a biologia da doença, estabelecer
Manejo — Portadoras — Aconselhamento genético
o diagnóstico em casos difíceis, prever o risco
— Suporte psicossocial.)
de desenvolvimento de inibidores, identificar
• Os laboratórios de diagnóstico genético devem
portadoras do sexo feminino e fornecer diagnóstico
seguir protocolos e procedimentos rigorosos, que
pré-natal, se desejado. 1
exigem:
• A análise do genótipo deve ser oferecida a todos os
‒ conhecimento e competência em testes
hemofílicos e parentes do sexo feminino “de risco”.
laboratoriais genéticos;
• As estratégias de teste genético são influenciadas
‒ uso das plataformas de investigação corretas;
pelos parâmetros fenotípicos medidos pelo laboratório
‒ conhecimento e competência para a interpretação
de coagulação, além da linhagem familiar. Portanto, é
das variantes genéticas identificadas em
essencial que os dados sejam disponibilizados para
associação com a hemofilia;
o laboratório de teste genético. Uma interpretação
‒ uso das plataformas de interpretação corretas
correta da(s) variante(s) subjacente(s) detectada(s)
para a investigação de variantes;
depende dos dados fenotípicos de suporte e da
‒ uso da nomenclatura correta para descrição de
história familiar do paciente.2–5
variantes e de sistemas de classificação corretos
• O aconselhamento genético para hemofílicos e suas
para determinar a patogenicidade das variantes;
famílias é uma exigência essencial antes do teste
‒ procedimentos de controle de qualidade interno;
genético. Isto inclui a obtenção do consentimento
‒ participação em acreditação periódica, quando
livre e esclarecido do paciente, pai/mãe ou guardião
disponível; e
legal, solicitando permissão tanto para a realização
‒ participação em programas de avaliação externa
do teste quanto para educação, para garantir que
da qualidade (EQAS), quando disponíveis.
compreendam por completo o procedimento de
• A interpretação dos resultados do teste genético
teste, os benefícios e as limitações do teste e as
deve ser realizada por cientistas que tenham
possíveis consequências dos resultados do teste.6,7
conhecimento e competência em genética da
• O aconselhamento genético também deve fornecer
hemofilia.
informações e aconselhamento sobre o diagnóstico
• A oportunidade para discussão dos resultados
pré-natal (PND), manejo da gravidez e do parto
genéticos entre o médico solicitante e o cientista
em portadoras de hemofilia e diagnóstico genético
relator é um item essencial do serviço de diagnóstico
pré-implantação (PGD). É importante conhecer
genético.
e seguir as leis relevantes que governam esses
Capítulo 4: Avaliação Genética | 63

Recomendação 4.1.1: • OBSERVAÇÃO: O aconselhamento genético


• Para hemofílicos, a WFH recomenda que o teste deve ser realizado por um conselheiro genético,
genético seja oferecido para identificar a variante se disponível. Se não houver um conselheiro
genética subjacente específica associada a seu genético disponível, um profissional médico com
distúrbio. CB conhecimento sobre genética em hemofilia pode
realizar o aconselhamento genético. CB
Recomendação 4.1.2:
• Para portadoras obrigatórias de hemofilia Recomendação 4.1.7:
e parentes do sexo feminino “de risco” de • Para todos os pacientes encaminhados para teste
hemofílicos ou possíveis portadoras de hemofilia, genético, a WFH recomenda com veemência que
a WFH recomenda que seja oferecido o teste seja obtido o consentimento livre e esclarecido
genético para a variante genética previamente do paciente, pai/mãe ou guardião legal. Isto
identificada no gene F8 ou F9. CB requer a permissão para realizar tanto o teste
quanto a educação, com o objetivo de garantir
Recomendação 4.1.3: que entendam por completo o procedimento de
• Para mulheres com baixos níveis fenotípicos teste, os benefícios e as limitações do teste e as
dos fatores de coagulação FVIII ou FIX, a WFH possíveis consequências dos resultados do teste.
recomenda que seja oferecida a investigação da • OBSERVAÇÃO: Pode ser necessário obter o
base genética/epigenética do fenótipo. CB consentimento livre e esclarecido por escrito, que
deve ser documentado pelo médico ou conselheiro
Recomendação 4.1.4: genético em conformidade com as políticas e
• Para portadoras obrigatórias de hemofilia e práticas locais. CB
parentes do sexo feminino “de risco” de hemofílicos
ou possíveis portadoras de hemofilia, a WFH
recomenda a inclusão de uma linhagem familiar
4.2 Indicações para avaliação genética
detalhada para justificar o encaminhamento para
teste genético. CB • Em geral, o teste genético é solicitado em todos
os casos afetados (probandos) e parentes do sexo
Recomendação 4.1.5: feminino “de risco” na família.
• Para indivíduos com suspeita de hemofilia • Idealmente, a variante causadora de doença
e possíveis portadoras de hemofilia, a WFH deve ser identificada primeiro no probando ou na
recomenda com veemência que seja realizada portadora obrigatória. Todas as outras possíveis
a triagem fenotípica dos níveis de FVIII ou FIX, portadoras podem passar por triagem posterior para
antígeno de fator de von Willebrand (VWF) e teste esta variante, para confirmar ou excluir o estado de
de atividade de VWF antes do encaminhamento portadora.
para teste genético. CB • Se nem o probando nem a portadora obrigatória
estiverem disponíveis para teste, a avaliação
Recomendação 4.1.6: genética ainda pode ser realizada em possíveis
• Para hemofílicos, portadoras obrigatórias de portadoras; contudo, quando a variante causadora
hemofilia, parentes do sexo feminino “de risco” da doença não for detectada, o laudo deve mencionar
ou indivíduos com baixos níveis de fator de com clareza que a falha em detectar as variantes
coagulação, a WFH recomenda com veemência genéticas com as técnicas existentes não exclui o
um aconselhamento genético detalhado antes estado de portadora.
que o teste genético seja oferecido. • As portadoras de hemofilia exibem uma grande
• OBSERVAÇÃO: O aconselhamento genético deve variação de níveis de fator, com aproximadamente
incluir uma discussão dos limites experimentais 30% apresentando níveis < 40 UI/dL. 8 Mulheres
dos resultados moleculares, de acordo com a e meninas com níveis baixos ou limítrofes podem
disponibilidade das abordagens práticas. apresentar uma série de sintomas hemorrágicos,
• OBSERVAÇÃO: O aconselhamento genético geralmente compatíveis com hemofilia leve, mas
deve incluir uma discussão da possibilidade de hemartrose e sintomas hemorrágicos mais graves
achados incidentais em outros genes além de F8 também podem ocorrer. 9,10
ou F9, se a metodologia usada pelo laboratório de • Além da heterozigosidade para a variante causadora
investigação (por ex., sequenciamento de última de doença, os baixos níveis de fator em portadoras
geração [NGS]) for capaz de detectar essas de hemofilia podem ser atribuídos a outros fatores
variações genéticas.
64 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

epigenéticos, como inativação do cromossomo X ‒ todas as parentes do sexo feminino de risco para
(XCI)11,12 ou o sistema de grupo sanguíneo ABO.13 estabelecer o estado de portadoras, que é crucial
• Para gestantes que sejam portadoras confirmadas para o aconselhamento e testes pré-natais
de uma variante de F8 ou F9, pode ser oferecido um ideais, se indicados, ou para oferecer diagnóstico
teste não invasivo para determinar o sexo do feto genético pré-implantação;
que estão carregando com o objetivo de orientar as ‒ todas as mulheres sintomáticas (com baixos
opções subsequentes para o diagnóstico pré-natal níveis de FVIII ou FIX) sem história familiar;
em um feto do sexo masculino. Isto é realizado pela ‒ prever o risco de desenvolvimento de inibidores
análise de DNA fetal acelular no plasma materno.14–16 em indivíduos com hemofilia;
• O diagnóstico pré-natal pode ser oferecido a todas ‒ prever a resposta à terapia ITI;
as portadoras confirmadas de uma variante de F8 ou ‒ verificar a viabilidade de algumas técnicas de
F9 que estejam gerando um feto do sexo masculino manipulação gênica.
por amostragem de vilo corial no início da gravidez • Ver o Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento
ou por amniocentese no fim da gestação, para Laboratorial.
orientar o manejo do parto ou encerrar a gravidez
no caso de um feto afetado.17–20 O aconselhamento Recomendação 4.2.1:
genético deve incluir uma discussão sobre o risco do • Para indivíduos com suspeita ou diagnóstico
procedimento de PND para a gravidez. estabelecido de hemofilia submetidos a testes
• O diagnóstico genético pré-implantação pode genéticos, a WFH recomenda que o genótipo do
ser oferecido a portadoras confirmadas de uma caso índice (probando) seja determinado para
variante de F8 ou F9 para selecionar um embrião identificar a variante genética subjacente. CB
que não resulte no nascimento de um bebê do sexo
masculino com hemofilia.21,22 Recomendação 4.2.2:
• É importante conhecer e seguir as leis relevantes • Para portadoras obrigatórias de hemofilia e
que governam o aconselhamento genético e o parentes do sexo feminino “de risco” do probando
diagnóstico genético pré-implantação no país em afetado ou possível portadora de hemofilia, a
que os serviços estiverem sendo oferecidos. WFH recomenda aconselhamento genético sobre
• Entre todos os fatores de risco genético, foi o risco de ser uma portadora. CB
constatado que a natureza das variantes causadoras
da doença em F8 e F9 constitui o fator de risco mais Recomendação 4.2.3:
forte para o desenvolvimento de inibidores. Variantes • Para todas as portadoras obrigatórias de
nulas, ou seja, variantes que provoquem a ausência hemofilia e parentes do sexo feminino “de risco”
total da proteína (grandes deleções, duplicações, de hemofílicos ou possíveis portadoras de
inserções, inversões, mutações nonsense e variantes hemofilia, a WFH recomenda que os níveis de
em regiões de splicing) mostraram a associação fator de coagulação fenotípicos sejam medidos.
mais robusta com inibidores, em comparação a CB
outras variantes (pequenas deleções in-frame,
duplicações, inserções, mutações missense).23–33 Recomendação 4.2.4:
Também foi relatado que a resposta à terapia • Para todas as portadoras obrigatórias de
de indução de tolerância imunológica (ITI) está hemofilia e parentes do sexo feminino “de risco”
associada às variantes causadoras da doença no de hemofílicos, a WFH recomenda que seja
último grupo, demonstrando uma boa resposta a ITI oferecido o teste genético para a variante genética
em comparação a pacientes portadores de variantes previamente identificada no gene F8 ou F9. CB
nulas.34
• Algumas técnicas de manipulação gênica (por ex., Recomendação 4.2.5:
supressão de mutação nonsense e edição gênica) • Para mulheres com baixos níveis fenotípicos
podem exigir informações prévias sobre as variantes do fator de coagulação FVIII ou FIX, a WFH
causadoras da doença. recomenda que seja oferecida a investigação da
• A avaliação genética pode ser oferecida para: base genética/epigenética do fenótipo. CB
‒ todos os casos com suspeita clínica de hemofilia
ou casos de hemofilia com diagnóstico Recomendação 4.2.6:
laboratorial confirmado; • Para gestantes que sejam portadoras de uma
‒ todas as portadoras obrigatórias para identificar variante de F8 ou F9 e estejam grávidas de um
a variante molecular para um possível diagnóstico feto do sexo masculino, a WFH recomenda que
pré-natal no futuro; seja oferecido o diagnóstico pré-natal (PND) para
Capítulo 4: Avaliação Genética | 65

determinar o estado de hemofilia do feto. • Um segundo evento de inversão recorrente, que


• OBSERVAÇÃO: O aconselhamento genético causa aproximadamente 2% dos fenótipos de
deve incluir uma discussão sobre o risco do hemofilia A grave no mundo todo, é a inversão do
procedimento de PND para a gravidez. íntron1 (Inv1) de F8.45
• OBSERVAÇÃO: É importante conhecer e • Os demais pacientes com hemofilia A grave,
seguir as leis relevantes que governam esses moderada ou leve (ou seja, sem informações
procedimentos no país em que os serviços sobre as inversões comuns de F8), assim como
estiverem sendo oferecidos. CB todos os pacientes com hemofilia B, em geral
apresentam pequenas variações em F8 ou F9,
Recomendação 4.2.7: como substituições de nucleotídeo único, pequenas
• Para famílias que desejarem estar preparadas para inserções, duplicações ou deleções ou, com menos
uma criança com hemofilia antes do nascimento frequência, grandes variações do número de cópias
ou desejarem abortar um feto afetado, a WFH (CNVs).
recomenda que seja oferecido o diagnóstico pré- • As informações sobre variantes de F8 e F9 estão
natal (PND) por amostragem de vilo corial ou compiladas em bancos de dados de acesso
amniocentese. internacional, como aqueles desenvolvidos pelos
• OBSERVAÇÃO: É importante conhecer e Centros para Controle e Prevenção de Doenças
seguir as leis relevantes que governam esses (CDC), chamados Projeto de Mutação em Hemofilia
procedimentos no país em que os serviços A do CDC (CHAMP) e Projeto de Mutação em
estiverem sendo oferecidos. Hemofilia B do CDC (CHBMP; http://www.cdc.
• OBSERVAÇÃO: PND pode ser oferecido no início gov/nCBddd/hemophilia/champs.html), e pela
da gravidez ou mais tarde por amniocentese no Associação Europeia para Hemofilia e Distúrbios
fim da gestação, para orientar o manejo do parto Associados (EAHAD) para F8 e F9.
de uma criança afetada. CB
Recomendação 4.3.1:
Recomendação 4.2.8: • Para probandos do sexo masculino, a WFH
• Para pessoas com suspeita ou diagnóstico recomenda que o teste genético seja direcionado
estabelecido de hemofilia, a WFH recomenda que pelo nível basal fenotípico de fator de coagulação
o teste genético seja realizado; o conhecimento do probando, que indica a gravidade do distúrbio.
da variante genética pode ajudar a prever o risco ‒ o Em pacientes com hemofilia A grave (FVIII:C
de desenvolvimento de inibidores, a resposta < 1 UI/dL) ou hemofilia A moderada com níveis
à indução de tolerância imunológica (ITI) e a reduzidos-limítrofes de atividade do fator
gravidade do fenótipo, assim como determinar (FVIII:C 1-3 UI/dL), a análise da inversão do
a disponibilidade de técnicas de manipulação íntron 22 de F8 e inversão do íntron 1 de F8
gênica. CB deve ser realizada primeiro.
‒ o Pacientes com hemofilia A grave nos quais não
seja possível detectar inversões recorrentes
(ou seja, inversões do íntron 22 e do íntron 1 de
4. 3 Estratégia para teste F8) devem realizar a triagem e caracterização
genético de probandos de pequenas variantes, incluindo variantes de
nucleotídeo único (SNV) e pequenas variantes
• No mundo todo, cerca de 30–45% dos pacientes de inserção, duplicação ou deleção abrangendo
com hemofilia A grave apresentam um tipo incomum as regiões essenciais de F8, incluindo os 26
de variante estrutural (SV), uma grande inversão de éxons, os limites éxon/íntron e regiões 5’ e
DNA que afeta o íntron 22 de F8 (ou seja, inversão 3’ sem translação. Se esses testes ainda não
do íntron 22, Inv22).35,36 fornecerem informações, os pacientes devem
• A inversão do íntron22 de F8 tem origem quase ser triados quanto a variações do número de
exclusivamente nas células germinativas cópias (CNV), incluindo grandes deleções,
masculinas37 por um evento de recombinação duplicações ou rearranjos complexos de F8.
homóloga entre grandes sequências repetidas ‒ o Em pacientes com hemofilia A moderada
invertidas. 38 Evidências relatadas na literatura (FVIII:C 1-5 UI/dL) ou leve (FVIII:C 5–40 UI/
respaldam o fato de que quase todas as mães de dL), a triagem e a caracterização de pequenas
pacientes com Inv22 são portadoras39 e que Inv22 variantes (ou seja, SNV e pequenas inserções,
é a causa mais prevalente de hemofilia A grave no duplicações ou deleções) abrangendo as
mundo.40-44 regiões essenciais de F8, incluindo os 26
66 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

éxons, os limites éxon/íntron e regiões 5’ • Ao escolher uma técnica analítica, os laboratórios


e 3’ sem translação, devem ser realizadas devem conhecer a sensibilidade e a especificidade
primeiro. Se esses testes ainda não fornecerem da abordagem usada e o tempo de processamento
informações, os pacientes devem ser triados para a produção de um laudo de interpretação.
quanto a CNV em F8. Todos os resultados devem ser confirmados por
‒ o Em todos os pacientes com hemofilia B testes analíticos repetidos da amostra de DNA.
(ou seja, pacientes com hemofilia B grave • A presença de uma variante deve ser confirmada
[FIX:C < 1 UI/dL], moderada [FIX:C 1–5 UI/ nas direções 5’ (direta) quanto 3’ (reversa),
dL] e leve [FIX:C 5–40 UI/dL]), a triagem e a especificamente em portadoras heterozigotas,
caracterização de pequenas variantes (ou seja, ao analisar variantes detectadas usando o
SNV e pequenas inserções, duplicações ou sequenciamento de Sanger.
deleções) abrangendo as regiões essenciais • No caso de ausência de amplificação em um
de F9, incluindo os 8 éxons, os limites éxon/ éxon específico ou em uma extensão contígua
íntron e regiões 5’ e 3’ sem translação, devem durante PCR, pode haver suspeita de uma grande
ser realizadas primeiro. Se esses testes ainda deleção de DNA. Isto deve ser confirmado por
não fornecerem informações, os pacientes abordagens padrão como gap-PCR ou técnicas
devem ser triados quanto a CNV em F9. CB que possam detectar a dosagem gênica ou CNVs
como amplificação de sonda dependente de
ligação multiplex (MLPA) ou PCR quantitativa em
4. 4 Técnicas para avaliação genética
tempo real na região deletada.63–71 As técnicas de
sequenciamento de Sanger convencionais não são
• O gene F8 está localizado no braço longo do sensíveis para detectar CNVs no caso de portadoras.
cromossomo X em Xq28. F8 abrange 187 kb de DNA • Quando uma variante causadora da doença não
genômico e consiste em 26 éxons que codificam um for detectada, pode-se levantar a suspeita de
RNAm de 9,0 kb. A proteína FVIII madura tem 2.332 grandes duplicações ou inserções. Estas podem
aminoácidos. ser detectadas aplicando-se os mesmos métodos
• O gene F9 está localizado no braço longo do empregados para identificar grandes deleções,
cromossomo X em Xq27. F9 abrange 33 kb de DNA como descrito anteriormente.
e contém 8 éxons. O RNAm de F9 tem 2,8 kb e • A abordagem técnica para análise de CNV pode
codifica uma pré-pró-proteína de 461 aminoácidos depender dos recursos disponíveis no laboratório.
que sofre processamento pós-translacional para Conforme as limitações práticas da técnica, os
produzir uma proteína madura de 415 aminoácidos. resultados devem ser fornecidos com uma estimativa
• Diferentes técnicas (por ex., Southern blot, reação de erro, se aplicável.
em cadeia da polimerase [PCR] de longo alcance • Técnicas de sequenciamento de alto rendimento,
e inversa) podem ser usadas para a detecção da por ex., NGS, devem ser usadas somente após ser
inversão de íntron 22 recorrente em F8.35,46-55 A estabelecido que as variantes estruturais podem ser
inversão do íntron 1 recorrente em F8 pode ser detectadas pela técnica.72
detectada por PCR dupla56 ou por PCR inversa50. • Todos os resultados do teste genético devem ser
A abordagem e o uso de uma técnica específica confirmados por testes independentes da amostra
dependem da competência e recursos técnicos de DNA. Isto pode ser realizado por uma repetição
disponíveis. Todos os resultados devem ser do ensaio original ou usando uma metodologia
confirmados por testes analíticos repetidos da diferente, por ex., usando sequenciamento de
amostra de DNA. Sanger para confirmar um resultado de NGS.
• Dependendo da disponibilidade de recursos, a • Durante o processo técnico de coleta de uma amostra
triagem completa do gene F8 ou F9 é realizada para diagnóstico pré-natal, a amostra fetal pode
por PCR e sequenciamento de Sanger, ou ser contaminada com sangue materno, o que pode
sequenciamento de última geração (NGS), para provocar um diagnóstico errado. Diferentes técnicas
a detecção de mutações missense, nonsense, na podem ser usadas para teste de contaminação por
região de splicing, pequenas e grandes deleções, células maternas, dependendo das competências e
duplicações e inserções. 46,57-61 Quando os recursos recursos técnicos disponíveis. Por exemplo, podem
forem limitados, os laboratórios podem preferir ser usados múltiplos marcadores de repetições
uma abordagem de triagem com boa relação custo/ curtas em tandem (STR) autossômicas.73–76 Ao
benefício antes do sequenciamento de Sanger 62, por escolher uma técnica analítica, os laboratórios
ex., por análise heteroduplex usando eletroforese devem conhecer a sensibilidade e a especificidade
em gel sensível à conformação (CSGE). da abordagem usada e o tempo de processamento
Capítulo 4: Avaliação Genética | 67

para a produção de um laudo de interpretação. da disponibilidade de recursos, uma triagem


gênica completa de F9 pode assumir a forma de
Recomendação 4.4.1: uma reação em cadeia da polimerase (PCR) e
• Para indivíduos com hemofilia A grave ou sequenciamento de Sanger ou sequenciamento de
hemofilia A moderada com níveis de atividade do última geração (NGS). Quando os recursos forem
fator reduzidos-limítrofes (FVIII:C 1–3 UI/dL), a limitados, os laboratórios podem escolher uma
WFH recomenda testes de inversão do íntron 22 abordagem de triagem com boa relação custo/
em F8 e inversão do íntron 1 em F8 na primeira benefício antes do sequenciamento de Sanger.
linha de testes genéticos. • OBSERVAÇÃO: Ao escolher uma técnica analítica,
• OBSERVAÇÃO: Diferentes técnicas podem ser os laboratórios devem conhecer a sensibilidade e
usadas para detecção de inversão do íntron 22 a especificidade da abordagem usada e o tempo
e inversão do íntron 1 em F8, dependendo das de processamento para a produção de um laudo
competências e recursos técnicos disponíveis. de interpretação.
• OBSERVAÇÃO: Todos os resultados devem ser • OBSERVAÇÃO: A presença de uma variante
confirmados por testes analíticos independentes deve ser confirmada nas direções 5’ (direta) e
da amostra de DNA. CB 3’ (reversa), especificamente em portadoras
heterozigotas, ao analisar variantes detectadas
Recomendação 4.4.2: usando o sequenciamento de Sanger.
• Para indivíduos com hemofilia A grave que sejam • OBSERVAÇÃO: Todos os resultados devem ser
negativos para as variantes comuns de inversão confirmados por testes analíticos independentes
do íntron 22 em F8 e inversão do íntron 1 em F8, da amostra de DNA. CB
a WFH recomenda uma triagem gênica completa
das regiões essenciais de F8, incluindo os 26 Recomendação 4.4.4:
éxons, limites de splicing, regiões promotoras e • Para pacientes com hemofilia A ou B nos quais
regiões 5’ e 3’ sem translação. não seja possível detectar uma variante na análise
• OBSERVAÇÃO: Por exemplo, dependendo de inversão ou sequenciamento gênico completo,
da disponibilidade de recursos, uma triagem a WFH recomenda a investigação de um grande
gênica completa de F8 pode assumir a forma de evento de deleção ou duplicação.
uma reação em cadeia da polimerase (PCR) e • OBSERVAÇÃO: A análise de variação do número
sequenciamento de Sanger ou sequenciamento de de cópias (CNV) pode ser realizada usando
última geração (NGS). Quando os recursos forem várias técnicas validadas, dependendo dos
limitados, os laboratórios podem escolher uma recursos disponíveis no laboratório. Conforme
abordagem de triagem com boa relação custo/ as limitações práticas da técnica, os resultados
benefício antes do sequenciamento de Sanger. devem ser fornecidos com uma estimativa de
• OBSERVAÇÃO: Ao escolher uma técnica analítica, erro, se aplicável.
os laboratórios devem conhecer a sensibilidade e • OBSERVAÇÃO: Todos os resultados devem ser
a especificidade da abordagem usada e o tempo confirmados por testes analíticos independentes
de processamento para a produção de um laudo da amostra de DNA. CB
de interpretação.
• OBSERVAÇÃO: A presença de uma variante Recomendação 4.4.5:
deve ser confirmada nas direções 5’ (direta) e • Para teste pré-natal, a WFH recomenda o teste
3’ (reversa), especificamente em portadoras de contaminação da amostra fetal por células
heterozigotas, ao analisar variantes detectadas maternas.
usando o sequenciamento de Sanger. • OBSERVAÇÃO: Diferentes técnicas podem ser
• OBSERVAÇÃO: Todos os resultados devem ser usadas para teste de contaminação por células
confirmados por testes analíticos independentes maternas, dependendo das competências e
da amostra de DNA. CB recursos técnicos disponíveis. Por exemplo,
podem ser usados múltiplos marcadores de
Recomendação 4.4.3: repetições curtas em tandem (STR) autossômicas.
• Para hemofílicos B, a WFH recomenda uma • OBSERVAÇÃO: Ao escolher uma técnica analítica,
triagem gênica completa das regiões essenciais os laboratórios devem conhecer a sensibilidade e
de F9, incluindo os 8 éxons, limites de splicing, a especificidade da abordagem usada e o tempo
regiões promotoras e regiões 5’ e 3’ sem de processamento para a produção de um laudo
translação. de interpretação. CB
• OBSERVAÇÃO: Por exemplo, dependendo
68 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

4. 5 Classificação e descrição Recomendação 4.6.1:


das variantes • A WFH recomenda que os laudos de interpretação
contenham:
‒ informações sobre o paciente, incluindo
• As diretrizes do American College of Medical
o nome do paciente, data de nascimento,
Genetics and Genomics (ACMG) foram
médico solicitante, data de coleta da amostra,
desenvolvidas para fornecer uma abordagem e
diagnóstico, nível basal do fator e linhagem
terminologia padronizadas para a classificação de
familiar;
variantes genéticas em distúrbios mendelianos.77
‒ descrição do(s) ensaio(s), referências na
Quando aplicadas nos laboratórios, elas fornecem
literatura (se aplicável), limitações do teste e
informações úteis aos médicos sobre a probabilidade
sequência genômica de referência usada para
de uma variante afetar a função gênica.6
a análise;
• Os diagnósticos genéticos têm uma dependência
‒ resultados, incluindo variante(s) de DNA na
fundamental de descrições exatas e padronizadas
nomenclatura da Human Genome Variation
e do compartilhamento de variantes genéticas. A
Society (HGVS) e classificação de variantes
Human Genome Variation Society (HGVS) mantém
do American College of Medical Genetic and
um sistema de nomenclatura de variantes de
Genomics (ACMG); e
sequência para este fim (http://www.HGVS.org/
‒ interpretação dos resultados do teste em
varnomen).78 A indicação da nomenclatura original
um formato útil para o médico solicitante,
de F8 ou F9 correspondente pode ser útil para
incluindo recomendações para testes de
comparação com laudos anteriores do paciente ou
acompanhamento, se indicados, implicações
laudos clínicos de familiares pelo médico.
dos resultados do teste para os pacientes
e familiares e o papel do aconselhamento
Recomendação 4.5.1:
genético. CB
• A WFH recomenda que as variantes sejam
classificadas conforme as diretrizes do American
Recomendação 4.6.2:
College of Medical Genetics and Genomics
• Em todos os laudos de interpretação para todos
(ACMG).
os indivíduos submetidos a um teste genético
• OBSERVAÇÃO: ClinGen, um recurso financiado
para hemofilia, a WFH recomenda que o médico
pelos National Institutes of Health (Institutos
solicitante e o cientista responsável pelo laudo
Nacionais de Saúde) dos EUA e dedicado a
estejam disponíveis para discutir as possíveis
construir um recurso central que defina a
consequências fenotípicas do genótipo relatado,
relevância clínica de genes e variantes, reuniu um
quando necessário. CB
comitê de especialistas internacionais para aplicar
as recomendações do ACMG a variantes de F8 e
F9, o que deve produzir mais recomendações
específicas para hemofilia. CB 4. 7 Estratégias se uma variante
causadora não for detectada
Recomendação 4.5.2:
• A WFH recomenda que as variantes sejam
• Aproximadamente 0,6% dos pacientes com
descritas usando a nomenclatura da Human
hemofilia A grave e 2,9% dos pacientes com
Genome Variation Society (HGVS). CB
hemofilia A moderada ou leve não apresentam uma
variante genética identificável no DNA genômico
de F8 usando os métodos diagnósticos atuais, ou
4. 6 Laudos para interpretação seja, abrangendo todas as regiões codificadoras e
regulatórias de F8, mas não sequências intrônicas
• Os laudos laboratoriais clínicos devem incluir profundas. 67
informações que permitam a identificação correta do • Aproximadamente 1,1% dos pacientes com hemofilia
paciente e da amostra, o relato da variante usando B leve ou moderada não apresenta uma variante
uma nomenclatura padronizada com uma referência genética identificável no DNA genômico de F9
ao genoma, uma indicação das limitações do ensaio usando os métodos diagnósticos atuais que excluem
e uma interpretação dos achados de um modo que a triagem de sequências intrônicas profundas. 67
tenha utilidade para o médico solicitante.6,79,80 • Em pacientes com um diagnóstico claro de hemofilia
A e nenhuma variante patogênica identificada nas
sequências codificadoras de F8, a análise das regiões
Capítulo 4: Avaliação Genética | 69

intrônicas por sequenciamento ou sequenciamento • O mosaicismo de linha germinativa e somático


paralelo em massa (MPS) dirigido em todo F8 pode complicar qualquer avaliação genética na
constitui uma opção para detectar e analisar as hemofilia.97,98
variantes intrônicas profundas envolvidas em • Em alguns casos, ao testar a variante familiar na
defeitos de splicing, que supostamente explicariam mãe de um paciente hemofílico, a variante não
a maior parte dos fenótipos desses pacientes.81–86 será detectada. Nesse caso, a possibilidade de
As variantes intrônicas profundas devem ser mosaicismo deve ser considerada.
interpretadas com cautela e uma análise funcional • Em probandos afetados por hemofilia A, quando
dessas variantes seria desejável para demonstrar o modo de herança não for conclusivo, ou em
sua patogenicidade. probandos do sexo feminino de baixo nível, outros
• As plataformas de NGS foram projetadas para cobrir possíveis diagnósticos que precisam ser investigados
diferentes necessidades. Entre elas, a plataforma incluem:
My Life, Our Future (https://www.mylifeourfuture. ‒ VWD tipo 2N se apenas o baixo nível de FVIII:C
org) analisa simultaneamente todas as pequenas for avaliado na triagem fenotípica;
variantes e as inversões prevalentes causadoras de ‒ deficiência combinada de FV e FVIII causada
hemofilia A e B72; a plataforma ThromboGenomics por variantes patogênicas que afetam os genes
(http://thrombo.cambridgednadiagnosis.org.uk) LMAN1 ou MCFD2 99;
analisa 63 genes associados a distúrbios trombóticos, ‒ outros tipos de VWD. 100
de coagulação e plaquetários 87; e o painel de • Ver o Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento
NGS de 23 genes para distúrbios da coagulação Laboratorial.
hemorrágicos hereditários analisa 23 genes • Como ocorre nos distúrbios recessivos ligados ao
que sabidamente estão associados a distúrbios cromossomo X, a hemofilia A e B afeta homens
hemorrágicos hereditários88. As duas últimas hemizigotos, enquanto mulheres heterozigotas
abordagens complementam a triagem de variantes (portadoras) normalmente não expressam sintomas
com um teste separado de inversões de F8. Devido de hemofilia. Contudo, em casos de portadoras
à grande variedade de genes analisados, as duas sintomáticas, evidências abundantes indicam que
últimas plataformas são particularmente úteis para uma inativação não aleatória e extremamente
investigar a causa oculta de sangramentos em um desviada do cromossomo X desempenha um papel
paciente que não tenha um diagnóstico adequado. central na patogênese da hemofilia.11,101 Além disso,
• O sequenciamento de todo o genoma (WGS) pode a expressão de hemofilia em mulheres portadoras
ser considerado, observando quaisquer limitações heterozigotas é causada pelo desvio na fase de
na detecção de variação estrutural. A análise inativação do cromossomo X, com silenciamento
de ligações pode ser considerada para estudos preferencial do alelo normal de F8.12
familiares.89
• Rearranjos genômicos complexos podem ser Recomendação 4.7.1:
considerados em alguns indivíduos que apresentam • Para indivíduos nos quais um diagnóstico robusto
um fenótipo atípico. Esses pacientes, nos quais de hemofilia seja certo, mas uma variante de
existe a suspeita de uma grande deleção genômica, F8 ou F9 não seja detectada usando os testes
incluindo parte ou todo o gene F8 ou F9, devem genéticos diagnósticos atuais, a WFH recomenda
ser encaminhados a um geneticista para avaliar que outras causas genéticas sejam consideradas
a possível utilidade de um estudo pangenômico. (por ex., variantes intrônicas profundas).
A presença de uma síndrome de genes contíguos • OBSERVAÇÃO: Espera-se que as técnicas de
pode ser analisada por análise de microarranjo teste atuais evoluam no futuro próximo para
citogenético.90–93 incluir o sequenciamento de última geração (NGS)
• Em pacientes com um diagnóstico confirmado de e o sequenciamento de todo o genoma (WGS).
hemofilia A e nenhuma variante patogênica exônica • OBSERVAÇÃO: As técnicas de NGS e WGS devem
ou intrônica detectada em F8, a identificação de ser usadas somente após ser estabelecido que as
desequilíbrios específicos na expressão de micro- variantes estruturais podem ser detectadas pela
RNA, seja por microarranjos de ncRNA ou RNA-seq técnica. CB
(transcriptoma baseado em MPS), pode representar
a causa da infrarregulação de F8 e expressão da Recomendação 4.7.2:
hemofilia A.94–96 Contudo, ainda são necessárias • Para parentes do sexo feminino “de risco” de
mais pesquisas para determinar o papel real de hemofílicos, nas quais a variante familiar não
microRNAs na patogênese da hemofilia A. seja detectada usando os testes genéticos
70 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

diagnósticos padrão, especialmente em mulheres • Os laboratórios de diagnóstico genético devem


com um filho afetado, a WFH recomenda que a ser submetidos a uma acreditação periódica, se
possibilidade de mosaicismo seja considerada e disponível, por um órgão aprovado. A acreditação
discutida durante o aconselhamento genético. CB avalia o laboratório de acordo com normas
Recomendação 4.7.3: combinadas internacionalmente para garantir o
• Para pacientes com hemofilia A nos quais o modo fornecimento de um serviço de diagnóstico genético
de herança não seja conclusivo, e nos quais uma de alta qualidade.
inversão ou variante não seja detectada pelos • A formação das Redes de Laboratórios de Genética
testes diagnósticos atuais, a WFH recomenda que para serviços que oferecem a avaliação genética da
outros possíveis diagnósticos sejam investigados, hemofilia, tanto nos países quanto entre laboratórios
incluindo doença de von Willebrand (VWD) tipo de genética em regiões do mundo, permite uma
2N, deficiência combinada de FV e FVIII ou outros oportunidade para compartilhamento de boas
tipos de VWD. CB práticas e experiência.

Recomendação 4.7.4: Recomendação 4.8.1:


• Para mulheres sintomáticas com baixos níveis • A WFH recomenda que os laboratórios de
fenotípicos do fator de coagulação FVIII ou FIX, diagnóstico genético sejam submetidos a uma
nas quais seja encontrada apenas uma variante acreditação periódica, se disponível, por um órgão
patogênica, a WFH recomenda a realização de aprovado. CB
testes investigativos para um padrão de inativação
do cromossomo X, se disponível localmente. CB Recomendação 4.8.2:
• A WFH recomenda que o controle de qualidade
interno (IQC) de testes genéticos seja realizado e
4. 8 Garantia de Qualidade registrado rotineiramente no laboratório. CB

• Garantia de qualidade (QA), descrita no Capítulo Recomendação 4.8.3:


3: Diagnóstico e Monitoramento Laboratorial • A WFH recomenda que os laboratórios participem
— Garantia de qualidade, é um termo genérico de programas de avaliação externa da qualidade
usado para descrever todas as medidas adotadas (EQAS) para os testes genéticos que fornecem.
para garantir a confiabilidade dos testes e laudos • OBSERVAÇÃO: A participação em um EQAS
laboratoriais. Nos testes genéticos, isso inclui todos garante o fornecimento de um teste robusto e
os aspectos do processo diagnóstico, da extração confiável. Isto pode ocorrer pela participação em
do ácido nucleico e análise genética até a descrição um EQAS formal ou um intercâmbio informal de
e classificação da(s) variante(s) detectada(s) e a amostras entre os laboratórios. CB
produção de um laudo de interpretação para o
médico solicitante.
• O controle de qualidade interno (IQC) de testes
genéticos deve ser realizado rotineiramente
para garantir a validade de quaisquer variantes REFERÊNCIAS
detectadas. 1. Dunkley S, Lam JCM, John MJ, et al. Principles of haemophilia
• Os laboratórios de genética são veementemente care: the Asia-Pacific perspective. Haemophilia.
aconselhados a participar de Programas de 2018;24(4):e243 -e244.
Avaliação Externa da Qualidade (EQAS) para
2. Keeney S, Mitchell M, Goodeve A, UK Haemophilia Center
garantir que a qualidade de seus resultados
Doctors’ Organization Haemophilia Genetics Laboratory
identificados, classificados e interpretados sejam
Network. The molecular analysis of haemophilia A: a
coerentes com os obtidos em outros laboratórios.
guideline from the UK Haemophilia Centre Doctors’
Este pode ser um EQAS formal ou um intercâmbio
Organization Haemophilia Genetics Laboratory Network.
de amostras informal entre os laboratórios. EQAS
Haemophilia 2005;11(4):387-397.
formais para genômica são fornecidos, por exemplo,
pela Genomics Quality Assessment (GenQA) 3. Mitchell M, Keeney S, Goodeve A, UK Haemophilia Centre
e, especificamente para avaliação genética de Doctors’ Organization Haemophilia Genetics Laboratory
hemofilia, pelo Serviço Nacional de Avaliação Network. The molecular analysis of haemophilia B:
Externa da Qualidade do Reino Unido (UK NEQAS) a guideline from the UK haemophilia centre doctors’
para Coagulação Sanguínea. organization haemophilia genetics laboratory network.
Haemophilia 2005;11(4):398-404.
Capítulo 4: Avaliação Genética | 71

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Capítulo 5: Agentes Hemostáticos | 75

5 AGENTES
HEMOSTÁTICOS
Steven W. Pipe1 | Manuel Carcao2 | Kim Chew3 | Radoslaw Kaczmarek4 |
Steve Kitchen5 | Johnny Mahlangu6 | Margareth C. Ozelo7 | Ekawat Suwantaroj8 |
Jerzy Windyga9 | Glenn F. Pierce10 | Alok Srivastava11

1. Departamentos de Pediatria e Patologia, University of Michigan, Ann Arbor, Michigan, EUA


2. Departamento de Pediatria, University of Toronto, Divisão de Hematologia/Oncologia, Hospital for Sick Children, Toronto, ON, Canadá
3. Kuala Lumpur, Malásia
4. Departamento de Pediatria, Indiana University School of Medicine, Indianapolis, Indiana, EUA
5. Departamento de Coagulação, Sheffield Haemophilia and Thrombosis Centre, Sheffield Teaching Hospitals NHS Foundation Trust,
Sheffield, Reino Unido
6. Departamento de Medicina Molecular e Hematologia, University of the Witwatersrand, National Health Laboratory Service,
Johannesburgo, África do Sul
7. INCT do Sangue Hemocentro UNICAMP, Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil
8. Bangkok, Tailândia
9. Departamento de Distúrbios da Hemostasia e Medicina Interna, Laboratório de Hemostasia e Doenças Metabólicas, Institute of
Hematology and Transfusion Medicine, Varsóvia, Polônia
10. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
11. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações em muitas partes do mundo; em alguns países, os
são baseadas em consenso, o que é indicado por CB. profissionais de saúde geralmente dependem de
produtos hemoderivados produzidos localmente,
como crioprecipitado e plasma fresco congelado
5.1 Introdução
(PFC) para o tratamento da hemofilia. Entretanto,
esses hemoderivados são menos eficazes que
• Diferentes tipos de agentes hemostáticos e
os CFCs e podem conter patógenos virais e
tratamentos para coagulação estão disponíveis para
bacterianos.1,2 Por esse motivo, quando disponíveis,
o manejo da hemofilia. A ampla variedade de classes
CFCs derivados de plasma com inativação viral ou
e tipos de produtos em uso ao redor do mundo
recombinantes são preferíveis a crioprecipitado e
reflete a evolução dos produtos terapêuticos para
PFC.
hemofilia e as variações dos recursos de saúde e
• Embora tenham ocorrido avanços na segurança
capacidades locais.
desses hemoderivados, a posição da WFH é que os
• Os concentrados de fatores de coagulação (CFCs)
produtos de escolha para o tratamento da hemofilia
constituem o tratamento de escolha para hemofílicos
devem ser os CFCs de fabricação industrial, que
porque são muito seguros e eficazes no tratamento
satisfaçam as exigências de Boas Práticas de
e prevenção de sangramentos. Existem dois tipos
Fabricação (BPF) farmacêuticas.2
principais de CFCs: produtos derivados de plasma
• O abrangente Guia para Avaliação de Concentrados
com inativação viral, produzidos a partir de plasma
de Fatores de Coagulação da WFH descreve os
fornecido por doadores de sangue humanos, e
principais elementos que afetam a qualidade, a
produtos recombinantes fabricados usando células
segurança, a eficácia, a autorização e a regulação de
modificadas por engenharia genética e tecnologia
produtos à base de fatores e princípios importantes
recombinante.
envolvidos na seleção de produtos adequados para
• O desenvolvimento de terapias de reposição
o tratamento da hemofilia.2
não relacionadas a fatores como emicizumabe
• A WFH também publica e atualiza com regularidade
começou recentemente a oferecer uma abordagem
o Registro On-line de Concentrados de Fatores
terapêutica alternativa, conforme esses produtos se
de Coagulação da WFH, que relaciona todos os
tornam disponíveis na prática clínica.
produtos disponíveis no momento e seus detalhes
• Contudo, o acesso a CFCs e emicizumabe é limitado
de fabricação.3
76 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Pureza
Recomendação 5.1.1: • A pureza dos CFCs refere-se à porcentagem do
• Para pacientes com hemofilia, a WFH não ingrediente desejado (ou seja, fator VIII [FVIII] ou
expressa uma preferência por concentrados de fator IX [FIX]) em relação aos outros ingredientes do
fatores de coagulação recombinantes em relação produto.
aos derivados de plasma. • Não existe uma classificação universalmente aceita
• OBSERVAÇÃO: A escolha entre essas classes dos produtos com base na pureza e os CFCs no
de produtos deve ser feita de acordo com mercado variam muito em termos de sua pureza. Sua
critérios locais, incluindo disponibilidade, custo e “atividade específica” pode ser expressa em unidades
preferências dos pacientes. CB internacionais (UI) por miligrama (mg) e, por exemplo,
pode variar de 10 a > 100 UI/mg para FVIII. 4
• Alguns produtos apresentam uma pureza alta ou
5. 2 Seleção do produto muito alta em um estágio do processo de produção,
mas são subsequentemente estabilizados por
• A seleção do produto deve avaliar os principais albumina, o que diminui sua pureza final.
requisitos, incluindo a segurança e a qualidade do • Em raros casos, CFCs de menor pureza podem
produto, pureza, inativação viral e eficácia. 2 originar reações adversas ou alérgicas. 5,6.
Pacientes que apresentarem reações alérgicas
Segurança e qualidade repetidas com um produto em particular podem se
beneficiar da administração de um anti-histamínico
• Os CFCs derivados de plasma fabricados atualmente, imediatamente antes da infusão ou do uso de um
produzidos conforme as normas de BPF, têm um CFC de maior pureza.
registro de segurança exemplar em relação a vírus com • CFCs de FVIII derivados de plasma podem conter
envelopes lipídicos, como o vírus da imunodeficiência quantidades variáveis de fator de von Willebrand
humana (HIV) e o vírus da hepatite C (HCV). (VWF). Portanto, é importante verificar o teor de
• A segurança do produto é o resultado de medidas VWF de um produto (na maioria das vezes, medido
e aprimoramentos abrangentes em várias áreas, por um ensaio de atividade de VWF) se ele for usado
incluindo: para o tratamento da doença de von Willebrand
‒ seleção dos doadores (exclusão de doadores de (VWD) e não de hemofilia A. 7
risco); • Para o tratamento de uma deficiência de FIX, um
‒ triagem das doações, incluindo teste de ácido produto que contenha apenas FIX é mais apropriado
nucleico (NAT); que concentrados de complexo protrombínico
‒ várias etapas internas do processo para (CCPs). CCPs também contêm outros fatores de
inativação e/ou remoção viral, notavelmente coagulação, como os fatores II, VII e X, e alguns
tratamento com solvente-detergente e calor e destes podem ser ativados durante a fabricação
nanofiltração para remoção de alguns vírus não e predispor o paciente ao tromboembolismo. Os
envelopados e príons; e CCPs atuais são considerados mais seguros que os
‒ vigilância pós-comercialização. 2 produtos anteriores devido à inclusão de inibidores
• Conforme as novas informações evoluem neste da coagulação como heparina, antitrombina e as
campo, os responsáveis pela tomada de decisões proteínas C, S e Z.8,9 Mesmo assim, com o tratamento
devem estar sempre cientes das recomendações intensivo (por ex., durante o manejo perioperatório),
científicas atuais relativas à escolha de CFCs para fatores de coagulação pró-trombóticos podem
hemofílicos. se acumular no plasma e aumentar o risco de
• Ao selecionar CFCs derivados de plasma, tanto complicações tromboembólicas.
a qualidade do plasma quanto o processo de • A segurança viral dos CFCs não está relacionada
fabricação devem ser considerados. A WFH enfatiza a sua pureza, desde que medidas adequadas para
a importância da avaliação pelas agências oficiais eliminação de vírus tenham sido estabelecidas.
responsáveis pela proteção e promoção da saúde
pública (ou seja, autoridades regulatórias nacionais, Inativação/eliminação viral
agências sanitárias ou ministérios da saúde) para • A inativação viral interna do processo proporciona
garantir a qualidade, segurança e eficácia de a maior contribuição individual para a segurança de
produtos terapêuticos para hemofilia derivados de CFCs derivados de plasma.10
plasma.2 • Normalmente, duas etapas de redução viral não
• Duas questões merecem uma consideração especial: complementares ou ortogonais específicas são
‒ pureza do produto; e incorporadas ao processo de fabricação de CFC.
‒ inativação/eliminação viral.
Capítulo 5: Agentes Hemostáticos | 77

Essas medidas devem seguir os regulamentos à inclusão de inibidores da coagulação como


estabelecidos pelas agências regulatórias oficiais. heparina, antitrombina e proteínas C, S e Z. CB
• O tratamento com solvente-detergente é altamente
efetivo contra vírus com envelope lipídico, como Eficácia
o vírus da hepatite B (HBV), HCV e HIV, mas esse
tratamento não inativa vírus sem um envelope • A potência (a atividade biológica em termos da
lipídico, como o vírus da hepatite A (HAV) e o concentração ou quantidade do medicamento
parvovírus B19 humano. necessário para produzir um efeito definido)
• O tratamento térmico em geral é efetivo contra uma e a eficácia do produto (a capacidade de um
grande variedade de vírus, com ou sem um envelope medicamento produzir um efeito terapêutico
lipídico, incluindo o HAV e o parvovírus B19 desejado em pacientes) também são aspectos
humano. Contudo, o grau de inativação depende da importantes que devem ser considerados na seleção
temperatura, tempo e da ocorrência do aquecimento do produto.2
em um estado seco ou úmido. • Foi demonstrado que CFCs de FVIII e FIX derivados
• Uma vez que os vírus não envelopados atualmente de plasma e recombinantes convencionais com
representam um desafio maior que os vírus meia-vida padrão (SHL) apresentam uma eficácia
envelopados para eliminação viral durante o clínica similarmente elevada.2
processo de fabricação,11 qualquer processo de • CFCs recombinantes com meia-vida estendida (EHL)
redução/inativação viral idealmente deve inativar são modificados por engenharia para fornecer uma
tanto vírus com envelope lipídico quanto vírus não duração mais longa do tratamento que CFCs SHL.
envelopados. (Ver “Produtos com meia-vida estendida” a seguir.)
• A inativação de príons em CFCs derivados
de plasma não é possível porque as técnicas 5. 3 Concentrados de fatores de
necessárias desnaturam os fatores de coagulação;
coagulação (CFCs)
também não existe um teste de triagem confiável
para a doença de Creutzfeldt–Jakob variante (vCJD). • O principal tratamento para hemofilia grave consiste
O risco de doença mediada por príons transmitida na terapia de reposição de CFC usando CFCs
por produtos derivados de plasma atualmente derivados de plasma ou recombinantes, pois estes
está sendo abordado pela exclusão de doadores fornecem doses altas convenientes de fator de
de risco, leucorredução das doações e etapas de coagulação para o tratamento e a prevenção de
fabricação para fracionamento do plasma, incluindo sangramentos.
precipitação, cromatografia e filtração. 10 • Ver também o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes
para Hemofilia, o Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia,
Recomendação 5.2.1: o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas
• Para hemofílicos, a WFH recomenda o uso de e o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo.
produtos que sejam aceitos pelas agências
regulatórias oficiais responsáveis pela proteção CFCs de FVIII
e promoção da saúde pública, considerando-se a
qualidade do plasma (ou seja, pureza do produto) • Todos os produtos de FVIII derivados de plasma e
e o processo de fabricação (ou seja, inativação/ recombinantes comercializados atualmente estão
eliminação viral). relacionados no Registro On-line de Concentrados
• OBSERVAÇÃO: Um produto derivado de plasma de Fatores de Coagulação da WFH.3 Consulte as
criado por um processo que incorpore duas bulas dos produtos individuais para detalhes.
etapas de redução viral não deve ser considerado
automaticamente melhor que um processo que Posologia/administração
tenha apenas uma etapa de inativação viral • CFCs de FVIII estão disponíveis em frascos-ampolas
específica. Se apenas uma etapa for usada, rotulados com a potência do produto expressa em
de preferência ela deve inativar vírus com e UI, variando de aproximadamente 250–3.000 UI por
sem envelopes lipídicos. Mais recentemente, frasco-ampola.
os produtos autorizados utilizam duas etapas • Na ausência de um inibidor, cada UI de FVIII
ortogonais de inativação/eliminação viral. SHL derivado de plasma ou recombinante por
• OBSERVAÇÃO: Os concentrados de complexo quilograma de peso corporal, infundido por via
protrombínico atuais devem ser considerados intravenosa, elevará o nível plasmático de FVIII em
mais seguros que os produtos mais antigos devido aproximadamente 2 UI/dL.12 Essa elevação (também
chamada de recuperação) depende de vários fatores
78 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

individuais, principalmente o índice de massa monitoramento farmacocinético individualizado.


corporal (IMC). Ela é maior em pacientes com IMC • OBSERVAÇÃO: O nível máximo do fator deve
alto e menor naqueles com IMC baixo.13 ser medido 15–30 minutos após a infusão
• A meia-vida de FVIII SHL corresponde a para confirmar a dose calculada. A meia-vida
aproximadamente 12 horas em adultos; a meia-vida plasmática pode ser determinada por PK completa
é mais curta em crianças mais novas e aumenta com (10–11 amostras de sangue colhidas durante um
a idade. período de 32–96 horas) ou com amostragem
• Para calcular a dose, multiplique o peso do paciente limitada em combinação com estimativas de PK
em quilogramas pelo nível de FVIII desejado em UI/ populacional. CB
dL, e então multiplique por 0,5.
‒ o Exemplo: 50 kg × 40 (nível desejado em UI/dL) • A infusão contínua de CFCs evita os picos e vales e
× 0,5 = 1.000 UI de FVIII. pode ser vantajosa e mais conveniente em algumas
• Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias situações clínicas (por ex., cirurgia de grande porte
Específicas e consultar a Tabela 7-2 para reposição ou episódios hemorrágicos graves em pacientes
com CFC em diferentes tipos de hemorragia. com inibidores de baixa resposta). Contudo, o
• Os CFCs de FVIII devem ser infundidos lentamente uso de bombas especificamente designadas e o
durante vários minutos, como especificado na bula conhecimento da estabilidade de um CFC específico
do produto.14 O nível máximo de fator do paciente após a reconstituição no dispositivo de infusão são
deve ser medido 15–30 minutos após a infusão para necessários.16
confirmar o nível de atividade de FVIII esperado para • A infusão contínua pode permitir uma redução do
a dose administrada.12 clearance do fator, da dose e da quantidade total
• Para pacientes submetidos a cirurgia ou aqueles de CFCs usada.17 Ela pode apresentar um custo-
com hemorragias graves que exijam infusões benefício possivelmente maior para pacientes com
frequentes, o monitoramento laboratorial dos níveis hemofilia grave, dependendo das doses usadas
de FVIII é necessário, incluindo a mensuração do para infusões contínuas e intermitentes em bolus.18
nível mínimo de FVIII para ajudar no cálculo das Contudo, deve-se ter cautela ao considerar a infusão
doses subsequentes. (Ver o Capítulo 3: Diagnóstico contínua para pacientes com hemofilia leve, pois ela
e Monitoramento Laboratorial — Ensaios de fator foi associada a um maior risco de desenvolvimento
e o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo — de inibidores,19,20 embora a contribuição da infusão
Cirurgia e procedimentos invasivos.) contínua isoladamente possa ser confundida pela
• Idealmente, as doses subsequentes devem ser presença de variantes patogênicas de alto risco na
baseadas na meia-vida de FVIII e na recuperação hemofilia A leve.
do fator no paciente individual para um produto • As doses para infusão contínua devem ser
específico. Contudo, não é possível prever a meia- ajustadas com base em ensaios de fator frequentes
vida em pacientes individuais simplesmente a (geralmente uma vez ao dia) e cálculo do clearance,
partir de características do paciente como a idade observando que o clearance do fator pode estar
e o peso corporal e normalmente isso exige uma aumentado imediatamente após uma cirurgia ou com
determinação empírica. um sangramento grave (por ex., perda de sangue >
• As diretrizes para estudos farmacocinéticos (PK) 500 mL), quando infusões em bolus adicionais de
sobre os novos CFCs de FVIII incluem a coleta de CFCs podem ser necessárias para manter níveis
10–11 amostras de sangue durante um período efetivos. Para alguns CFCs, a estabilidade pode ser
de 32–48 horas (amostras adicionais durante até demonstrada por até 12 horas após a preparação da
96 horas ou mais para FVIII EHL). Contudo, para solução; como consequência, é possível uma infusão
a individualização da dose na prática de rotina, contínua durante várias horas. 21
parâmetros PK úteis podem ser estimados a partir
de modelos de PK populacional que permitam a Recomendação 5.3.2:
estimativa Bayesiana da PK individual em amostras • Para pacientes com hemofilia que estejam
limitadas.15 recebendo concentrados de FVIII, nos quais seja
• Ver o Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia e o Capítulo necessária uma correção hemostática no estado
7: Tratamento de Hemorragias Específicas. de equilíbrio por um período de tempo prolongado
(por ex., manejo perioperatório ou no caso de um
Recomendação 5.3.1: episódio hemorrágico grave em um paciente com
• Para hemofílicos que estejam recebendo um inibidor de baixa resposta), a WFH recomenda
concentrados de FVIII e teriam um benefício com a consideração de uso da infusão contínua.
a otimização da profilaxia, a WFH recomenda o • OBSERVAÇÃO: A infusão contínua pode
Capítulo 5: Agentes Hemostáticos | 79

provocar uma redução da quantidade total de podem predispor o paciente a tromboembolismo.


concentrados de fatores de coagulação usados e • OBSERVAÇÃO: Produtos de FIX puros
pode ter maior custo-benefício em pacientes com apresentam um risco reduzido de trombose
hemofilia grave. Contudo, esta comparação de ou coagulação intravascular disseminada, em
custo-benefício pode depender das doses usadas comparação ao observado com altas doses dos
para infusões contínuas e intermitentes em bolus. CCPs de geração mais antiga.
• OBSERVAÇÃO: A infusão contínua requer o • OBSERVAÇÃO: Os CCPs atuais são considerados
uso de bombas especificamente designadas e o mais seguros que os produtos mais antigos
conhecimento da estabilidade do concentrado devido à inclusão de inibidores da coagulação
de fatores de coagulação específico após a como heparina, antitrombina e proteínas C, S e Z.
reconstituição no dispositivo de infusão, e os Entretanto, em casos de tratamento intensivo (por
pacientes devem ser monitorados com frequência ex., manejo perioperatório), fatores de coagulação
para detectar uma falha da bomba. CB pró-trombóticos podem sofrer acúmulo no
plasma e aumentar o risco de complicações
CFCs de FIX tromboembólicas. Quando os CCPs forem usados
em altas doses para normalizar os níveis de FIX, a
• Todos os produtos de FIX derivados de plasma e tromboprofilaxia deve ser considerada. CB
recombinantes comercializados atualmente estão
relacionados no Registro On-line de Concentrados Recomendação 5.3.4:
de Fatores de Coagulação da WFH.3 Consulte as • Para pacientes com hemofilia B que necessitem
bulas dos produtos individuais para detalhes. de tratamento prolongado com altas doses, o uso
• CFCs de FIX são categorizados em duas classes: de concentrados de FIX puros é recomendado
‒ CFCs de FIX puros, que podem ser derivados de em relação aos concentrados de complexo
plasma ou recombinantes (Ver as informações a protrombínico. CB
seguir sobre CFCs de FIX EHL);
‒ CFCs de FIX que também contêm os fatores Recomendação 5.3.5:
II, VII, IX e X, conhecidos como concentrados • Para pacientes com hemofilia B submetidos a
de complexo protrombínico (CCPs), que são cirurgia, o uso de concentrados de FIX puros é
raramente usados na atualidade. recomendado em relação aos concentrados de
• Sempre que possível, o uso de concentrados de FIX complexo protrombínico. CB
puros é preferível para o tratamento de hemofilia B,
8,9 uma vez que estão associados a uma redução Recomendação 5.3.6:
do risco de trombose e coagulação intravascular • Para pacientes com hemofilia B e doença
disseminada em comparação aos CCPs, em hepática, o uso de concentrados de FIX puros é
particular nos seguintes casos: recomendado em relação aos concentrados de
‒ cirurgia; complexo protrombínico. CB
‒ doença hepática;
‒ exposição intensiva, ou seja, tratamento Recomendação 5.3.7:
prolongado em altas doses; • Para pacientes com hemofilia B e trombose prévia
‒ trombose prévia ou tendência trombótica ou uma tendência trombótica conhecida, o uso
conhecida; de concentrados de FIX puros é recomendado
‒ uso concomitante de medicamentos que em relação aos concentrados de complexo
sabidamente tenham um potencial trombogênico, protrombínico. CB
incluindo agentes antifibrinolíticos.
• Ver o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo — Recomendação 5.3.8:
Cirurgia e procedimentos invasivos. • Para pacientes com hemofilia B em uso de
medicamentos concomitantes que tenham um
Recomendação 5.3.3: potencial trombogênico conhecido, incluindo
• Para o tratamento da deficiência de FIX em agentes antifibrinolíticos, o uso de concentrados
pacientes com hemofilia B, a WFH recomenda de FIX puros é recomendado em relação aos
um produto que contenha apenas FIX em vez concentrados de complexo protrombínico. CB
de concentrados de complexo protrombínico
(CCPs), que também contêm outros fatores de Posologia/administração
coagulação, como os fatores II, VII e X, alguns dos • CFCs de FIX estão disponíveis em frascos-ampolas
quais podem ser ativados durante a fabricação e rotulados com a potência do produto, variando de
80 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

aproximadamente 250–4.000 UI por frasco-ampola. após a infusão para confirmar a atividade de FIX
• Na ausência de um inibidor, cada UI de FIX esperada na dose administrada.12
SHL derivado de plasma ou recombinante por • Para pacientes submetidos a cirurgia ou aqueles com
quilograma de peso corporal infundido por via hemorragias graves que exijam infusões frequentes,
intravenosa elevará o nível plasmático de FIX em é necessário um monitoramento laboratorial dos
aproximadamente 1 UI/dL.12 níveis de FIX, incluindo a mensuração do nível
• A meia-vida de FIX SHL corresponde a mínimo de FIX para auxiliar no cálculo das doses
aproximadamente 18–24 horas. As diretrizes para subsequentes. (Ver o Capítulo 3: Diagnóstico e
estudos PK sobre CFCs de FIX incluem a coleta de no Monitoramento Laboratorial — Ensaios de fator e
mínimo 8 amostras de sangue durante um período de o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo —
72 horas (amostras adicionais durante até 2 semanas Cirurgia e procedimentos invasivos.)
para FIX EHL). Contudo, para individualização da • CFCs de FIX purificados também podem ser
dose na prática de rotina, parâmetros PK úteis administrados por infusão contínua (como ocorre
podem ser estimados a partir de modelos de PK com os CFCs de FVIII).
populacional que permitam a estimativa Bayesiana • Podem ocorrer reações alérgicas com infusões de
da PK individual em amostras limitadas.15 CFCs de FIX recombinantes e derivados de plasma
(em aproximadamente (em aproximadamente 2%–
Recomendação 5.3.9: 4% dos casos). Geralmente, elas estão associadas a
• Para pacientes com hemofilia B que estejam inibidores anti-FIX.
recebendo concentrados de FIX e possam ter um
benefício com a otimização da profilaxia, a WFH Produtos com meia-vida estendida
recomenda o monitoramento farmacocinético. 
• OBSERVAÇÃO: O nível máximo do fator deve Justificativa para o desenvolvimento de CFCs EHL
ser medido 15–30 minutos após a infusão • A frequência das infusões de CFCs SHL está
para confirmar a dose calculada. A meia-vida associada a um maior ônus do tratamento e muitas
plasmática pode ser determinada por PK completa vezes leva a uma aderência insatisfatória aos
(10–11 amostras de sangue colhidas durante um regimes profiláticos.23 As taxas anualizadas de
período de 1–2 semanas) ou com amostragem sangramento (ABRs) nem sempre correspondem
limitada em combinação com estimativas de PK a zero com a profilaxia com CFCs SHL e a doença
populacional. CB articular ainda pode aparecer em adultos jovens.24,25
Os produtos EHL foram desenvolvidos para abordar
• CFCs de FIX recombinante (rFIX) não modificados a necessidade de reduzir o ônus do tratamento para
apresentam uma recuperação menor que os CFCs de profilaxia e manter níveis mínimos mais altos do
FIX derivados de plasma, de modo que cada unidade fator com o objetivo de melhorar a prevenção de
de FIX infundida por quilograma de peso corporal sangramentos.
elevará a atividade de FIX em aproximadamente 0,8
UI/dL em adultos e 0,7 UI/dL em crianças abaixo de Mecanismos de extensão da meia-vida
15 anos de idade.22 • As tecnologias de fusão e peguilação representam
• Para calcular a dose, multiplique o peso do paciente estratégias efetivas para extensão da meia-vida na
em quilogramas pelo nível de FIX desejado em UI/dL. hemofilia.26
‒ Exemplo: 50 kg de peso corporal × 40 (nível • As tecnologias de fusão resgatam as proteínas
desejado em UI/dL) = 2.000 UI de FIX derivado incorporadas por endocitose nas vias de degradação
de plasma. intracelular por meio da interação com o receptor Fc
‒ Para rFIX, a dose é calculada como 2.000 UI ÷ neonatal.
0,8 (ou 2.000 UI × 1,25) = 2.500 UI para adultos, • A peguilação reduz a interação com os receptores de
e 2.000 UI ÷ 0,7 (ou 2.000 UI × 1,43) = 2.860 UI clearance.
para crianças. • Todos os produtos EHL comercializados atualmente
• Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias estão relacionados no Registro On-line de
Específicas e consultar a Tabela 7-2 para os padrões Concentrados de Fatores de Coagulação da WFH.3
de prática com CFCs para diferentes tipos de Consulte as bulas dos produtos individuais para
hemorragia. detalhes.
• Os CFCs de FIX devem ser infundidos lentamente • Os diferentes tipos de formas recombinantes
durante vários minutos, como especificado na bula e modificadas de FVIII e FIX estão resumidos
do produto.14 O nível máximo de FIX do paciente no Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento
deve ser medido aproximadamente 15–30 minutos Laboratorial — Tabelas 3-2 e 3-3.
Capítulo 5: Agentes Hemostáticos | 81

• As recomendações da WFH sobre produtos EHL de coagulação de rotina. Portanto, os médicos


foram estruturadas de modo coerente: devem seguir as recomendações que acompanham
‒ Foi enfatizada a ausência de “questões de a aprovação regulatória de um produto em relação
segurança clínica” e não observações pré-clínicas aos ensaios ideais para uso no monitoramento
em modelos animais com implicações incertas. laboratorial. (Ver o Capítulo 3: Diagnóstico e
‒ A WFH reconhece que a avaliação das Monitoramento Laboratorial — Ensaios de fator.)
observações clínicas e pré-clínicas de produtos
EHL provocou divergências na aprovação Segurança e eficácia dos produtos EHL
regulatória de alguns produtos peguilados, • Todos os produtos EHL registrados demonstraram
que afetaram sua autorização para profilaxia eficácia na prevenção e no tratamento de
e aplicação pediátrica em algumas regiões sangramentos em crianças, adolescentes e adultos.
geográficas. Mais de 90% dos sangramentos foram tratados com
‒ Em relação a reações alérgicas, embora raras, sucesso com uma única administração e a eficácia
estas foram observadas com todos os produtos para prevenção de sangramento produziu ABRs
terapêuticos para infusão e também foram < 4–5 entre todos os produtos EHL. A eficácia
observadas com proteínas de fusão. 27 hemostática foi demonstrada em uma variedade de
‒ Em relação a anticorpos anti-PEG, não há cirurgias de grande e pequeno porte. 32
evidências publicadas que confirmem que estes • Em crianças, adolescentes e adultos previamente
tenham implicações para a segurança clínica em tratados, não foi observado um maior risco de
pacientes com hemofilia. 28 novo desenvolvimento de inibidores em indivíduos
que receberam produtos de FVIII/FIX EHL; todos
Recomendação 5.3.10: os estudos clínicos em pacientes previamente
• Para pacientes com hemofilia A ou B, não há tratados (PTPs) demonstraram a ausência de
evidências de questões de segurança clínica em desenvolvimento de inibidores ou taxas de incidência
hemofílicos para recomendar uma preferência muito baixas que estavam dentro dos limites de
entre os diversos mecanismos de ação (por segurança regulatórios.
ex., peguilação, fusão com Fc, fusão com • Produtos EHL foram administrados a pacientes sem
albumina) usados para prolongar a meia-vida de tratamento prévio (PUPs), como parte de estudos
concentrados de fatores de coagulação. CB clínicos em PUPs ou fora de estudos. Embora o
desenvolvimento de inibidores tenha sido relatado
Propriedades farmacocinéticas dos produtos EHL nesses contextos, não foi observada uma diferença
• Para produtos de FVIII EHL, a extensão da meia-vida substancial nos níveis de desenvolvimento de
é limitada a 1,4 a 1,6 vezes (ou aproximadamente inibidores com produtos EHL em comparação a SHL.
19 horas) a observada com produtos de FVIII SHL. Contudo, nenhum estudo concluído em PUPs foi
Os produtos de FIX EHL têm uma meia-vida muito publicado integralmente até o momento.
mais longa, de 3 a mais de 5 vezes a observada para
produtos de FIX SHL. Abordagens para a administração de produtos EHL
• A meia-vida prolongada de produtos EHL é traduzida • Embora CFCs EHL prolonguem o tempo até que
em uma administração duas vezes por semana ou a os pacientes atinjam os níveis mínimos necessários
cada 3 dias na maioria dos casos para FVIII e uma para evitar sangramentos espontâneos, existe uma
vez a cada 7–14 dias para FIX. variabilidade interpaciente significativa relacionada
• O clearance de produtos EHL em adolescentes e a idade, massa corporal, grupo sanguíneo, nível de
adultos é semelhante, como foi observado para VWF, fenótipo hemorrágico, nível de atividade física,
produtos SHL, e a meia-vida é mais curta nas estado das articulações e aderência. Coerentemente,
populações pediátricas.29 não há um consenso sobre uma posologia
• Os produtos de FIX EHL não demonstram a menor padronizada de CFCs EHL ou para o manejo de
recuperação de fator observada com produtos pacientes que estejam recebendo produtos EHL. 23,33
de rFIX padrão. Alguns produtos de FIX EHL • Cada uma das seguintes abordagens conta com
exibem uma recuperação muito maior, sugerindo eficácia estabelecida em estudos clínicos com CFCs
a distribuição extravascular de uma proporção EHL:
menor de FIX EHL.30,31 Coerentemente, a avaliação ‒ profilaxia programática fixa (dose e intervalo
clínica de eficácia deve suplementar a avaliação das fixos, por ex., uma vez por semana para FIX, duas
medidas PK plasmáticas. vezes por semana para FVIII);
• A modificação dessas moléculas introduziu ‒ profilaxia individualizada por PK (dose
variações em suas medidas de atividade nos ensaios personalizada até o nível mínimo pretendido,
82 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

administrada em intervalos fixos); Fator VIIa recombinante ativado (rFVIIa)


‒ profilaxia individualizada pelo fenótipo (dose
variável e intervalo personalizado de acordo com • O fator VIIa recombinante ativado (rFVIIa) é um
o padrão e a atividade hemorrágica); agente de bypass que promove a coagulação por
‒ profilaxia individualizada por dose/frequência meio de vias dependentes e independentes de
(dose e/ou frequência personalizada de acordo fator tecidual.35 O rFVIIa liga-se ao fator tecidual
com o nível mínimo e o intervalo pretendidos, por para ativar FX e FIX e permite que a cascata de
ex., maior dose e intervalo mais longo). coagulação seja retomada.36,37
• Para efetuar a transição da terapia de reposição
de fator SHL para EHL, a frequência das doses Concentrado de complexo de protrombina ativado
normalmente é reduzida de 3 para 2 vezes por (aPCC)
semana para FVIII e de duas vezes por semana para
uma vez a cada 7–10 dias para FIX. • O concentrado de complexo de protrombina ativado
• A posologia determinada pela PK permite uma (aPCC) é usado para tratar pacientes com hemofilia
profilaxia mais individualizada. Ferramentas de A com inibidores. O aPCC contém principalmente FII
PK populacional estão sendo desenvolvidas para (protrombina), FIX, FX não ativados e principalmente
auxiliar na implementação de uma profilaxia FVII ativado.38-40
individualizada na prática clínica. Quando o perfil • Ver o Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação
PK de um indivíduo é gerado, a dose e a frequência para mais informações sobre o manejo de
de tratamento necessárias para obter um nível sangramentos em pacientes com inibidores.
mínimo desejado podem ser estimadas. O nível
mínimo pretendido deve ser personalizado para Recomendação 5.4.1:
as necessidades do paciente individual dentro dos • Para pacientes com hemofilia A com um inibidor
parâmetros e flexibilidades de seu sistema de saúde. que necessitem de tratamento para complicações
• Ver o Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia — Profilaxia hemorrágicas agudas ou cirurgia, a WFH
com fatores de meia-vida estendida. recomenda que um agente de bypass seja usado.
• OBSERVAÇÃO: Os agentes de bypass incluem o
Recomendação 5.3.11: fator VIIa recombinante ativado ou o concentrado
• Pacientes com hemofilia que estejam efetuando de complexo de protrombina ativado. CB
a transição de concentrados de fatores
de coagulação de meia-vida padrão para Recomendação 5.4.2:
concentrados de fatores de coagulação de • Para pacientes com hemofilia B e um inibidor,
meia-vida estendida normalmente exigem uma com história de anafilaxia com concentrados de
diminuição da frequência das doses, mas os fatores de coagulação contendo FIX, o fator VIIa
produtos EHL também podem ser usados para recombinante ativado deve ser administrado,
manter níveis mínimos mais altos para otimizar a uma vez que o concentrado de complexo de
profilaxia. protrombina ativado não pode ser usado. CB
• OBSERVAÇÃO: A posologia determinada
pela farmacocinética, de acordo com as Recomendação 5.4.3:
Recomendações 5.3.1 e 5.3.9, permite uma • A WFH recomenda que pacientes com hemofilia
profilaxia mais individualizada. CB com um inibidor sejam considerados para
profilaxia regular com o objetivo de prevenir
5. 4 Agentes de bypass eventos hemorrágicos. CB

• Os agentes de bypass são usados para o tratamento • Além dos agentes de bypass, estão sendo
e a prevenção de complicações hemorrágicas em disponibilizadas terapias de reposição não
pacientes com hemofilia A ou B que desenvolvem relacionadas a fatores (por ex., emicizumabe) que
aloanticorpos contra FVIII ou FIX (chamados de oferecem novos paradigmas terapêuticos, incluindo
inibidores) que normalmente neutralizam a função para o tratamento de inibidores.
dos CFCs infundidos.34 Esses agentes são baseados • Ver 5.7 Terapias de reposição não relacionadas
em diferentes mecanismos de ação para obter a a fatores, a seguir, e o Capítulo 6: Profilaxia na
hemostasia, consequentemente contornando a Hemofilia — Profilaxia usando terapias de reposição
necessidade de reposição de FVIII ou FIX para tratar não relacionadas a fatores.
e prevenir sangramentos. 35
Capítulo 5: Agentes Hemostáticos | 83

5. 5 Outros produtos • O crioprecipitado é preferível ao PFC para o


derivados de plasma tratamento de hemofilia A.43 Contudo, uma vez que
PFC e plasma pobre em crioprecipitados contêm FIX,
• Crioprecipitado e PFC normalmente não são embora em baixas concentrações, eles podem ser
submetidos a procedimentos de inativação viral usados para o tratamento da hemofilia B em países
(como tratamento térmico ou solvente-detergente) que não possam custear CFCs de FIX derivados de
e, como consequência, trazem consigo um maior plasma.
risco de transmissão de patógenos virais, que é
significativo com infusões repetidas. 1,41 Contudo, a Recomendação 5.5.2:
WFH reconhece a necessidade do uso continuado de • Para pacientes com hemofilia, plasma fresco
crioprecipitado e PFC em algumas partes do mundo, congelado não é recomendado devido a
onde constituem as únicas opções de tratamento preocupações relativas à segurança e a qualidade.
disponíveis ou economicamente acessíveis .1,2 • OBSERVAÇÃO: Entretanto, a WFH reconhece a
• Algumas medidas podem ser adotadas para realidade ainda inevitável de seu uso em algumas
minimizar o risco de transmissão de patógenos partes do mundo, onde constitui a única opção
virais. Estas incluem: de tratamento disponível ou economicamente
‒ quarentena do plasma até que o doador tenha acessível. CB
sido testado ou até mesmo retestado para
anticorpos contra HIV, HCV e os antígenos de • É possível aplicar algumas formas de tratamento
superfície do vírus da hepatite B (HBsAg) — uma viricida às bolsas de PFC (incluindo um tratamento
prática de difícil implementação em países onde com solvente-detergente). O uso de bolsas tratadas
a proporção de doadores repetidos é baixa; é recomendado; contudo, o tratamento viricida pode
‒ teste NAT para detecção de vírus — uma ter algum impacto sobre os fatores de coagulação.
tecnologia que possivelmente tem uma relevância Também foi demonstrado que a preparação em larga
muito maior para a produção de crioprecipitado escala do pool de plasma tratado com solvente-
que de CFCs, já que os últimos são submetidos a detergente reduz a proporção dos multímeros
etapas de inativação viral. 42 maiores de VWF, 44,45 o que é importante para VWD,
• As reações alérgicas são mais comuns após a mas irrelevante para o tratamento da hemofilia A.
infusão de crioprecipitado que de CFC. 41 (Para uso
de profilaxia com anti-histamínicos, ver “Segurança Posologia/administração
e qualidade”, anteriormente.) • Um mL de PFC contém 1 unidade de atividade do
fator.
Recomendação 5.5.1: • Em geral é difícil obter níveis de FVIII acima de 30 IU/
• Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda dL usando apenas PFC.
com veemência o uso de concentrados de • É difícil obter níveis de FIX acima de 25 UI/dL. Uma
fatores de coagulação derivados de plasma dose inicial de PFC de 15–20 mL/kg é aceitável.43
ou recombinantes com inativação viral
preferencialmente a crioprecipitado ou plasma Crioprecipitado
fresco congelado.
• OBSERVAÇÃO: A WFH favorece o uso • O crioprecipitado é o concentrado insolúvel de
preferencial de CFCs em relação a crioprecipitado proteínas plasmáticas de alto peso molecular que
ou PFC devido a preocupações referentes à sofrem precipitação quando o plasma congelado é
qualidade, segurança e eficácia. Contudo, a WFH descongelado lentamente a 1–60°C.
reconhece a realidade de que esses produtos • O crioprecipitado contém quantidades significativas
ainda são amplamente usados em países do de FVIII (cerca de 3–10 UI/mL), VWF, fibrinogênio e
mundo todo, onde constituem as únicas opções FXIII, mas não FIX ou FXI. O sobrenadante resultante
de tratamento disponíveis ou economicamente é chamado de plasma pobre em crioprecipitado
acessíveis. CB e contém outros fatores de coagulação, como os
fatores VII, IX, X e XI.
Plasma fresco congelado (PFC) • O uso de procedimentos de inativação viral é
fortemente encorajado.1,43,46,47
• Uma vez que o plasma fresco congelado contém • A fabricação de um pequeno pool de crioprecipitado
todos os fatores de coagulação, ele é utilizado com inativação viral (solvente-detergente) foi
algumas vezes para o tratamento de deficiências de descrita, embora isto forneça segurança apenas
fator de coagulação. para vírus com envelopes lipídicos.47
84 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 5.5.3: uso deve ser evitado na pré-eclâmpsia e eclâmpsia


• Para pacientes com hemofilia, o crioprecipitado devido aos níveis já elevados de VWF.53,54 (Ver
não é recomendado devido a preocupações o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo
relativas à segurança e qualidade. — Portadoras.)
• OBSERVAÇÃO: O uso de crioprecipitado pode • A decisão de usar DDAVP deve ser baseada na
ser justificado apenas em situações nas quais atividade basal de FVIII no paciente, no incremento
os concentrados de fatores de coagulação não obtido e na duração do tratamento necessária.
estejam disponíveis, pois não há uma vantagem
comprovada de seu uso em relação a CFCs. A Posologia/administração
utilização de procedimentos de inativação viral é • Embora DDAVP possa ser administrada por via
fortemente encorajada, se disponíveis. CB subcutânea, ela é administrada principalmente por
infusão intravenosa ou spray nasal. É importante
Posologia/administração escolher a preparação correta de DDAVP porque
• Uma bolsa de crioprecipitado fabricada a partir de 1 algumas preparações de menor dose são usadas
unidade de PFC (200-250 mL) pode conter 70–80 para outras finalidades médicas.
unidades de FVIII em um volume de 30–40 mL. • As preparações apropriadas incluem:
‒ 4 μg/mL para uso intravenoso;
‒ 15 μg/mL para uso intravenoso e subcutâneo;
5. 6 Outras opções farmacológicas ‒ 150 μg por dose calibrada como spray nasal.
• Pode-se esperar que uma dose única de 0,3 μg/kg
• Além de CFCs, outros agentes podem ter grande por peso corporal, por administração intravenosa
valor em uma proporção significativa dos casos. ou subcutânea, aumente o nível de FVIII em 3 a 6
Estes incluem: vezes.48,55
‒ desmopressina (DDAVP); • Para uso intravenoso, DDAVP geralmente é diluída
‒ ácido tranexâmico; e em no mínimo 50–100 mL de solução fisiológica
‒ ácido épsilon-aminocaproico (EACA). e administrada por infusão lenta durante 20–30
• Ver também Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para minutos.
Hemofilia, o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias • A resposta máxima é observada aproximadamente
Específicas e o Capítulo 9: Questões Específicas do 60 minutos após a administração intravenosa ou
Manejo. subcutânea.
• Em geral, crianças não devem receber DDAVP mais
Desmopressina (DDAVP) que uma vez ao dia; em adultos sob supervisão
atenta, a administração duas vezes ao dia pode
• A desmopressina (1-desamino-8-D-arginina ser considerada. Com as doses subsequentes, a
vasopressina, também conhecida como DDAVP) é resposta terapêutica diminui (taquifilaxia) e o risco
um análogo sintético da vasopressina que reforça os de complicações aumenta; desse modo, em geral,
níveis plasmáticos de FVIII e VWF. 48 DDAVP não deve ser usada por mais de 3 dias
• DDAVP pode constituir o tratamento de escolha para consecutivos.
pacientes com hemofilia A leve ou moderada quando • CFCs podem ser necessários quando níveis mais
FVIII puder ser elevado até um nível terapêutico altos de fator forem exigidos por um período
apropriado, pois evita os gastos e os possíveis riscos prolongado.56
do uso de CFC, incluindo o risco de desenvolvimento • A infusão rápida de DDAVP pode provocar
de inibidores de FVIII. 48-51 taquicardia, rubor, tremor e desconforto abdominal.
• DDAVP não afeta os níveis de FIX e não tem valor na • Um único spray intranasal dosimetrado de DDAVP
hemofilia B. de 1,5 mg/mL em cada narina é apropriado para
• Há diferenças significativas nas respostas de um adulto. Para pacientes com um peso corporal
pacientes individuais à DDAVP. A resposta à abaixo de 40 kg, uma única dose em uma narina é
DDAVP intranasal é mais variável e, portanto, menos suficiente.57,58
previsível. 48,49 • Alguns pacientes podem achar difícil usar a
• DDAVP é particularmente útil no tratamento e preparação intranasal de DDAVP e ela pode ser
prevenção de sangramento em portadoras de menos eficaz que DDAVP administrada por via
hemofilia A. 52 subcutânea.
• DDAVP não foi autorizado para uso na gravidez, mas • Uma vez que DDAVP é um agente antidiurético,
tem sido empregado com cautela em portadoras retenção hídrica, hiponatremia e até mesmo
grávidas durante o trabalho de parto e o parto. Seu convulsões podem ocorrer em pacientes que
Capítulo 5: Agentes Hemostáticos | 85

estejam recebendo grandes quantidades de fluidos e/ou hiponatremia grave também podem ocorrer.
hipotônicos por via intravenosa ou oral, exigindo • OBSERVAÇÃO: Em gestantes durante o trabalho
uma restrição de fluidos durante o tratamento de parto e o parto, a WFH recomenda cautela no
com DDAVP.59 Isto é especialmente importante uso de DDAVP e ela deve ser evitada na presença
no contexto do tratamento domiciliar e pequenos de pré-eclâmpsia e eclâmpsia.
episódios hemorrágicos e no período perioperatório, • OBSERVAÇÃO: Com mais de 3 dias consecutivos
quando grandes quantidades de infusões são usadas de administração, a resposta terapêutica pode
— os pacientes/cuidadores devem ser orientados a diminuir (taquifilaxia) e o risco de complicações
restringir fluidos após o uso de DDAVP. 59 aumenta; por isso, concentrados de fatores de
• DDAVP deve ser usado com cautela em crianças coagulação podem ser necessários quando níveis
pequenas e está contraindicada em crianças mais altos de fator forem necessários por um
com menos de 2 anos de idade. Para pacientes período prolongado. CB
pediátricos jovens internados (ou seja, pacientes em
pós-operatório), fluidos hipotônicos intravenosos Recomendação 5.6.2:
devem ser evitados e a ingestão total de fluidos • Para adultos, a WFH recomenda que DDAVP
deve ser reduzida para 75% das exigências de seja usada por no máximo 3 dias consecutivos
manutenção nas 24 horas após o uso de DDAVP. 59 A e apenas sob supervisão cuidadosa. Se DDAVP
osmolaridade plasmática e os níveis de sódio devem for administrada duas vezes em um único dia,
ser medidos antes e após o uso de DDAVP em a administração diária subsequente deve ser
crianças pequenas, especialmente se mais de uma limitada a uma vez ao dia.
dose for usada em um período de 24 horas.48,59-61 • OBSERVAÇÃO: Em geral, os eventos adversos
• Hiponatremia é pouco comum na maioria dos adultos observados mais comuns são taquicardia,
tratados com DDAVP. Contudo, hipotensão costuma rubor, tremor, desconforto abdominal e cefaleia,
ser observada em crianças e adultos, e crianças com especialmente durante uma infusão rápida.
menos de 2 anos de idade apresentam um maior Contudo, hipotensão e/ou hiponatremia também
risco de convulsões decorrentes de edema cerebral podem ocorrer.
causado pela retenção hídrica/hiponatremia.61,62 • OBSERVAÇÃO: Com mais de 3 dias consecutivos
Outros efeitos colaterais de DDAVP incluem de administração, a resposta terapêutica pode
cefaleia, rubor, fadiga e taquicardia. Devido ao efeito diminuir (taquifilaxia) e o risco de complicações
vasoativo de DDAVP, deve-se ter cautela se ela aumenta; por isso, concentrados de fatores de
for usada em pacientes com hipertensão que não coagulação podem ser necessários quando níveis
esteja completamente controlada pelo tratamento. mais altos de fator forem necessários por um
Esses efeitos colaterais podem ocorrer com mais período prolongado. CB
frequência após a administração intravenosa. 63,64
• Há relatos de casos de trombose (incluindo infarto Recomendação 5.6.3:
do miocárdio) após a infusão de DDAVP. Ela deve ser • Para crianças, a WFH recomenda o uso de no
usada com cautela em pacientes com uma história máximo 1 dose de DDAVP por dia, por no máximo
ou risco de doença cardiovascular.. 55 3 dias consecutivos.
• OBSERVAÇÃO: Em geral, os eventos adversos
Recomendação 5.6.1: observados mais comuns são taquicardia,
• Para pacientes com hemofilia A leve ou moderada rubor, tremor, desconforto abdominal e cefaleia,
e portadoras de hemofilia A, a WFH recomenda especialmente durante uma infusão rápida.
a consideração de desmopressina (DDAVP) como Contudo, hipotensão e/ou hiponatremia também
opção para o tratamento. podem ocorrer.
• OBSERVAÇÃO: A WFH recomenda o teste de • OBSERVAÇÃO: Com mais de 3 dias consecutivos
DDAVP antes do uso terapêutico para avaliar a de administração, a resposta terapêutica pode
resposta individual de FVIII. A decisão de usar diminuir (taquifilaxia) e o risco de complicações
DDAVP deve ser baseada na atividade de FVIII aumenta; por isso, concentrados de fatores de
basal do paciente, no incremento obtido e na coagulação podem ser necessários quando níveis
duração do tratamento necessária. mais altos de fator forem necessários por um
• OBSERVAÇÃO: Em geral, os eventos adversos período prolongado. CB
observados mais comuns são taquicardia,
rubor, tremor, desconforto abdominal e cefaleia, Recomendação 5.6.4:
especialmente durante a infusão rápida, e a • Para crianças com menos de 2 anos de idade, a
maioria é leve e transitória. Contudo, hipotensão WFH alerta que DDAVP está contraindicada
86 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

devido ao maior risco de convulsões como • O ácido tranexâmico é excretado pelos rins e a dose
consequência da retenção hídrica e hiponatremia. deve ser reduzida se houver comprometimento renal
CB para evitar um acúmulo tóxico.
• O uso do ácido tranexâmico está contraindicado
Recomendação 5.6.5: para o tratamento de hematúria, uma vez que seu
• Para pacientes com risco de doença cardiovascular uso pode impedir a dissolução de coágulos no ureter,
ou trombose, a WFH recomenda que DDAVP provocando uma uropatia obstrutiva séria e uma
seja usada com cautela devido ao risco de possível perda permanente da função renal.
tromboembolismo e infarto do miocárdio. CB • O ácido tranexâmico também está contraindicado
no contexto de cirurgia torácica, onde pode provocar
Ácido tranexâmico o desenvolvimento de hematomas insolúveis.
• O ácido tranexâmico pode ser administrado
• O ácido tranexâmico é um agente antifibrinolítico isoladamente ou junto com doses padrão de CFCs,
que inibe de modo competitivo a ativação do incluindo agentes de bypass como aPCC e rFVIIa.70-72
plasminogênio em plasmina. Promove a estabilidade • O ácido tranexâmico está contraindicado em
do coágulo e é útil como tratamento adjunto de pacientes com hemofilia B que estejam recebendo
alguns tipos de sangramentos hemofílicos. 65 CCPs, uma vez que ele aumenta o risco de
• O tratamento com ácido tranexâmico isolado não tromboembolismo. 73
tem valor na prevenção de hemartrose em hemofilia.
65 Recomendação 5.6.6:
• O ácido tranexâmico é útil para o tratamento • Para pacientes com hemofilia, a WFH orienta que
de hemorragias superficiais em tecido mole e os antifibrinolíticos representam uma alternativa
mucosas (por ex., sangramento oral, epistaxe e valiosa para uso isolado ou como tratamento
menorragia).66-68 adjuvante, em particular para controlar um
• O ácido tranexâmico é particularmente útil no sangramento mucocutâneo (por ex., epistaxe,
contexto de cirurgia odontológica e pode ser usado sangramento oral e gastrointestinal e menorragia)
para controlar o sangramento oral associado à e para cirurgia odontológica e erupção ou perda
erupção ou perda dos dentes. 67,69 dos dentes.
• Ver também Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para • OBSERVAÇÃO: Os antifibrinolíticos podem ser
Hemofilia e o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias usados com doses padrão de concentrados de
Específicas. fatores de coagulação, incluindo agentes de
bypass. Contudo, não devem ser usados com
Posologia/administração concentrados de complexo protrombínico devido
• O ácido tranexâmico geralmente é administrado na ao maior risco de tromboembolismo. CB
forma de comprimidos orais (25 mg/kg/dose) 3–4
vezes ao dia. Também pode ser administrado por Recomendação 5.6.7:
infusão intravenosa (10 mg/kg/dose) 2–3 vezes ao • Para pacientes com hematúria, a WFH recomenda
dia. Também está disponível como um enxágue oral. que antifibrinolíticos não sejam usados, já que
• Desconforto gastrointestinal (náusea, vômito ou estão contraindicados nesses pacientes devido ao
diarreia) pode ocorrer raramente como um efeito maior risco de uropatia obstrutiva. CB
colateral do ácido tranexâmico, mas em geral esses
sintomas desaparecem se a dose for reduzida. Recomendação 5.6.8:
Quando administrado por via intravenosa, o ácido • Para pacientes com comprometimento renal,
tranexâmico deve ser infundido lentamente, uma a WFH recomenda uma redução da dose de
vez que a injeção rápida pode provocar tontura e antifibrinolíticos e monitoramento atento. CB
hipotensão.
• Uma formulação de ácido tranexâmico em xarope Ácido épsilon-aminocaproico
também está disponível para uso pediátrico. Se
ela não puder ser obtida, um comprimido pode • O ácido épsilon-aminocaproico é semelhante ao
ser triturado em um pó fino e dissolvido em água ácido tranexâmico, mas é usado de modo menos
limpa para uso tópico em lesões da mucosa com amplo porque tem uma meia-vida plasmática mais
sangramento. curta, menor potência e maior toxicidade.65
• O ácido tranexâmico costuma ser prescrito por 7 • Ver também Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para
dias após extrações dentárias para prevenir um Hemofilia e o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias
sangramento pós-operatório. Específicas.
Capítulo 5: Agentes Hemostáticos | 87

Posologia/administração desta publicação.


• Em adultos, EACA normalmente é administrado • Emicizumabe é um anticorpo biespecífico quimérico
por via oral (100 mg/kg/dose até no máximo de 2 g/ dirigido contra a enzima FIXa e o zimogênio de
dose) ou por via intravenosa (100 mg/kg/dose até no FX que mimetiza a função de cofator de FVIII em
máximo 4 g/dose) a cada 4–6 horas, até uma dose pacientes com hemofilia A, com ou sem inibidores.
máxima de 24 g/dia. Emicizumabe liga-se a FIX, FIXa, FX e FXa; contudo,
• Uma formulação em xarope a 250 mg/mL de EACA é sua afinidade por FIXa e FX que promove a
também está disponível. ativação de FX catalisada por FIXa e a formação de
• Desconforto gastrointestinal é uma complicação tenase.74,75
comum com o uso de EACA; a redução da dose • Os principais benefícios de emicizumabe são sua via
geralmente alivia esse efeito colateral. de administração subcutânea, meia-vida longa, alta
• Miopatia é uma reação adversa rara relatada eficácia na prevenção de sangramentos e redução da
especificamente em associação ao tratamento com frequência de episódios hemorrágicos em pacientes
EACA (mas não ácido tranexâmico) e normalmente com ou sem inibidores de FVIII.
ocorre após a administração de altas doses por • Uma vez que emicizumabe difere bioquimicamente
várias semanas. de FVIII, permanecem muitas questões sobre seu
• A miopatia associada ao uso de EACA com frequência impacto em longo prazo sobre a patologia articular e
é dolorosa e está associada a uma elevação dos a imunogenicidade em pacientes sem inibidores.
níveis de creatina quinase e até mioglobinúria. Uma • Emicizumabe não é destinado ao tratamento de
resolução completa pode ser esperada após o fim do episódios hemorrágicos agudos. É necessária
tratamento com EACA. cautela ao tratar episódios hemorrágicos agudos
durante o uso de emicizumabe, uma vez que vários
pacientes desenvolveram tromboembolismo venoso
ou microangiopatia trombótica com a administração
5. 7 Terapias de reposição não
concomitante de aPCC.76 Consulte o centro para
relacionadas a fatores tratamento de hemofilia e as orientações para
gerenciamento de risco.
• Nas últimas cinco décadas, o foco dos tratamentos
para hemofilia tem sido a reposição da proteína do Recomendação 5.7.1:
fator de coagulação ausente; contudo, a tecnologia • Para pacientes com hemofilia A com inibidores,
recombinante combinada com uma melhor a WFH recomenda que emicizumabe seja usado
compreensão básica da bioquímica da coagulação para profilaxia regular.
atualmente está mudando o paradigma terapêutico. • OBSERVAÇÃO: Para pacientes com hemofilia
A sem inibidores, a WFH recomenda que
Justificativa e mecanismos de ação emicizumabe possa ser usado para profilaxia
regular. CB
• Produtos terapêuticos inovadores novos e  
emergentes foram desenvolvidos com modos de Agentes de reequilíbrio hemostático
administração alternativos (por ex., subcutâneos),
alvos que superam as limitações da terapia de • O sistema hemostático regula o equilíbrio entre
reposição de fatores de coagulação atual (ou seja, pró-coagulantes (por ex., fatores de coagulação)
administração intravenosa, meia-vida curta, risco de e anticoagulantes naturais (por ex., antitrombina,
formação de inibidores) e perfis PK muito melhores inibidor da via do fator tecidual [TFPI] e proteína C
com um ônus muito baixo da administração (por ex., ativada). Os distúrbios hemorrágicos são resultantes
até administração mensal), o que pode aumentar a de uma deficiência dos pró-coagulantes, enquanto
aderência. as deficiências de anticoagulantes naturais estão
associadas a um aumento do risco trombótico.
Terapia de substituição • A hemofilia normalmente é tratada pela reposição da
proteína pró-coagulante ausente ou com agentes de
• A terapia de substituição difere da terapia de bypass (ou seja, na presença de inibidores). Contudo,
reposição de fator pelo fato de ser baseada no a inibição dos anticoagulantes naturais também
uso de um agente hemostático alternativo para pode restaurar a hemostasia. Isto foi observado
substituir o fator de coagulação. O mimetizador de naturalmente, já que a herança conjunta de fatores
fator, emicizumabe, representa a primeira e única de risco trombofílicos é capaz de moderar o fenótipo
terapia de substituição autorizada no momento clínico da hemofilia A grave. Além disso, a geração
88 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

de trombina aumenta com a herança conjunta de REFERÊNCIAS


hemofilia com algumas formas de trombofilia (por
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dirigido especificamente para o RNA mensageiro
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de antitrombina para suprimir a produção de
antitrombina no fígado.77 Esse tratamento tem a 2. =Farrugia A . Guide for the Assessment of Clotting Factor
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doses menores devem ser usadas para minimizar o
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risco de atividade pró-coagulante excessiva.
factor con- centrates, factor IX concentrates, activated
• Os anticorpos anti-TFPI representam outra
prothrombin complex concentrates. Transfus Med
modalidade nos estudos clínicos. Diferentes
Hemother. 2009;36(6):409-418.
anticorpos anti-TFPI estão sendo desenvolvidos
no momento, todos com ligação ao domínio K2 ou 5. Franchini M, Makris M, Santagostino E, Coppola A , Mannucci
aos domínios K1 e K2 do TFPI, consequentemente PM. Non-thrombotic-, non-inhibitor-associated adverse
resgatando FXa e FVIIa da inibição.78 Esses reactions to coagulation factor concentrates for treatment
tratamentos também podem ser administrados of patients with he- mophilia and von Willebrand's disease:
por via subcutânea e restaurar a hemostasia a systematic review of pro- spective studies. Haemophilia.
em pacientes com hemofilia A e B com ou sem 2012;18(3):e164-e172.
inibidores, porém sua duração de ação é limitada 6. Recht M, Pollmann H, Tagliaferri A , Musso R, Janco
pela disposição do medicamento mediada pelo alvo. R, Neuman WR. A retrospective study to describe the
O uso de fitusiran requer um monitoramento atento incidence of moderate to se- vere allergic reactions to
para minimizar o risco de trombose. Dois programas factor IX in subjects with haemophilia B. Haemophilia.
clínicos anti-TFPI estão em andamento, enquanto 2011;17(3):494-499.
outros dois observaram evidências de complicações
7. Castaman G, Goodeve A , Eikenboom J, European Group
trombóticas. Um programa clínico foi interrompido e
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um foi suspenso devido a esses eventos adversos.
diagno- sis and treatment of von Willebrand disease.
• Ver também o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes
Haematologica. 2013;98(5):667-674.
para Hemofilia, o Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia,
o Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação e o 8. Key NS, Negrier C. Coagulation factor concentrates: past,
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92 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

6 PROFILAXIA NA HEMOFILIA
Manuel Carcao1 | H. Marijke van den Berg2 | Emna Gouider3 | Kate Khair4 |
Manuel A. Baarslag5 | Lisa Bagley6 | Francisco de Paula Careta7 | Rolf C. R. Ljung8 |
Margaret V. Ragni 9 | Elena Santagostino 10 | Glenn F. Pierce 11 | Alok Srivastava 12

1. Departamento de Pediatria, University of Toronto, Divisão de Hematologia/Oncologia, Hospital for Sick Children, Toronto, ON, Canadá
2. PedNet Haemophilia Research Foundation, Baarn, Países Baixos
3. Medic al School, University of Tunis El Manar, Hemophilia Centre, Aziza Othmana Hospital, Tunis, Tunísia
4. Centre for Outcomes and Experience Research in Child Health, Illness and Disability Research Unit (ORCHID) e Great Ormond Street
Hospital for Children, Londres, Reino Unido
5. Bemmel, Países Baixos
6. Londres, Reino Unido
7. Departamento de Farmácia e Nutrição, Universidade Federal do Espírito Sa nto, campus de Alegre, Alegre, ES, Brasil
8. Departamento de Ciências Clínicas — Pediatria, Lund University, Lund, Suécia
9. Divisão de Hematologia/Oncologia, Departamento de Medicina, University of Pittsburgh Medical Center, Pittsburgh, Pensilvânia, EUA
10. Angelo Bianchi Bonomi Hemophilia and Thrombosis Centre, Istituto di Ricovero e Cura a Carattere Scientifico Cà Granda Foundation,
Maggiore Hospital Policlinico, Milão, Itália, e Sobi, Basileia, Suíça
11. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
12. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Este capítulo discute a profilaxia para hemofílicos na ausência • Portanto, o uso de profilaxia é sempre recomendado
de inibidores do fator VIII ou IX. Para profilaxia em pacientes preferencialmente à terapia episódica. Em países com
com inibidores, ver o Capítulo 8: Inibidores do Fator de
Coagulação.
limitações nos cuidados de saúde e pacientes com
acesso limitado a CFCs, regimes profiláticos menos
Todas as declarações identificadas como recomendações intensivos podem ser usados. (Ver 6.9 Economia
são baseadas em consenso, o que é indicado por CB.
de saúde da profilaxia.) Mesmo assim, em todos os
países, o ideal é que os pacientes não apresentem
6. 1 Introdução nenhum sangramento (ou seja, obtenham “zero”
sangramentos).
• A profilaxia na hemofilia consiste na administração • Com o advento das inovadoras terapias de reposição
regular de produtos terapêuticos destinados a não relacionadas a fatores, que, em sua maioria,
manter a hemostasia para prevenir sangramentos, podem ser administradas por via subcutânea, a
especialmente hemorragias articulares, que podem profilaxia está sendo redefinida como a administração
provocar artropatia e incapacidade. A profilaxia deve regular (por via intravenosa, subcutânea ou outra)
permitir que os hemofílicos tenham vidas saudáveis de um ou mais agentes hemostáticos para melhorar
e ativas, incluindo a participação na maioria das a hemostasia e prevenir sangramentos de modo
atividades físicas e sociais (em casa, na escola, no efetivo em hemofílicos. 2,3
trabalho e na comunidade), de modo semelhante à
população não hemofílica. Recomendação 6.1.1:
• A profilaxia com concentrados de fatores de • Para pacientes com hemofilia A ou B com
coagulação (CFCs) é referida como terapia de um fenótipo grave (observar que isto pode
reposição regular; isto é diferente da terapia de incluir pacientes com hemofilia moderada
reposição episódica (também conhecida como terapia que apresentam um fenótipo grave), a WFH
por demanda), que é definida como a administração recomenda com veemência que esses pacientes
de CFCs apenas no momento de um sangramento.1 recebam uma profilaxia suficiente para prevenir
A terapia episódica, independentemente das doses sangramentos em todos os momentos, mas
usadas, embora essencial para reduzir a dor e o essa profilaxia deve ser individualizada, levando
impacto incapacitante de sangramentos individuais, em conta o fenótipo hemorrágico do paciente,
não altera o perfil hemorrágico de modo significativo o estado das articulações, a farmacocinética
e consequentemente não altera a história natural individual e a autoavaliação e preferência do
da hemofilia que leva à lesão musculoesquelética e paciente.
outras complicações decorrentes de sangramentos.
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia | 93

• OBSERVAÇÃO: A individualização da profilaxia


significa que, se os pacientes continuarem a • O uso de CFCs de meia-vida estendida (EHL)
apresentar sangramentos, seu regime profilático enquadra-se na definição de profilaxia convencional
pode ser escalonado (em termos de dose/ com fator, mas permite uma profilaxia mais ambiciosa
frequência ou ambas) para prevenir sangramentos. que a simples conversão de um indivíduo de um
• OBSERVAÇÃO: Em países com limitações fenótipo grave para moderado.
importantes nos cuidados de saúde, a WFH ainda • Este é particularmente o caso de alguns produtos de
preconiza o uso da profilaxia preferencialmente FIX EHL que permitem que os indivíduos apresentem
à terapia episódica, mas reconhece que uma níveis de FIX em uma faixa não hemofílica (> 40 UI/
profilaxia menos intensiva pode ser usada. CB dL [40%]) por uma proporção a substancial do tempo
e níveis na faixa de hemofilia leve (5–40 UI/dL [5%-
• Ver 6.9 Economia de saúde da profilaxia e 6.10 40%]) imediatamente antes da infusão seguinte. 9
Profilaxia em baixa dose para pacientes com acesso • Embora a profilaxia com CFCs tenha constituído a
limitado a CFCs. base do tratamento da hemofilia por muitas décadas,
o panorama terapêutico está mudando com o
Terapia de reposição de fator com meia-vida padrão desenvolvimento de novos tipos de tratamento.

• Como convenção, profilaxia é definida como Terapia de reposição não relacionada a fatores
a infusão intravenosa (IV) regular do fator de
coagulação VIII (FVIII) ausente em pacientes com • A terapia de reposição não relacionada a fatores difere
hemofilia A e do fator IX (FIX) em pacientes com da terapia de reposição de fatores de coagulação
hemofilia B, administrados para aumentar o nível de pelo fato de fornecer hemostasia por um mecanismo
FVIII/FIX com a intenção de prevenir sangramentos. diferente da reposição de FVIII/FIX. A primeira e,
1 O foco desta definição convencional de profilaxia no momento desta publicação, única terapia de
é a prevenção de sangramentos articulares e a reposição não relacionada a fatores autorizada para
manutenção da saúde musculoesquelética. hemofilia A é emicizumabe.10 Emicizumabe mimetiza
• O objetivo da profilaxia é converter uma pessoa a atividade de cofator de FVIII. Ele é administrado
com hemofilia grave (nível basal de FVIII/FIX < 1 por via subcutânea uma vez por semana e, em
UI/dL [1%]) em um fenótipo hemorrágico típico de alguns casos, pode ser administrado com uma baixa
hemofilia B moderada ou leve, mantendo os níveis de frequência de uma vez a cada 2 ou 4 semanas.11
fator acima de 1 UI/dL (1%) em todos os momentos.4 (Ver 6.5 Profilaxia com terapia de reposição não
• Isso é baseado na observação de que pessoas relacionada a fatores.)
com hemofilia moderada raramente apresentam
sangramento espontâneo e exibem uma preservação Definições e conceitos básicos em profilaxia com
muito melhor da função articular. CFCs
• Contudo, há um reconhecimento e evidências cada
vez maiores de que níveis mínimos de fator de • A profilaxia é caracterizada de acordo com o
1–3 UI/dL (1%-3%) são insuficientes para prevenir momento em que é iniciada e de acordo com sua
sangramentos por completo em todos os hemofílicos intensidade. Essas definições são aplicáveis à
e permitem sangramentos clínicos e subclínicos hemofilia A e B. (Ver as Tabelas 6-1 e 6-2.)
ocasionais, resultando em progressão gradual da
doença articular durante a vida.5 Início da profilaxia: momento e abordagem
• Em geral, quanto maiores os níveis de fator em
todos os momentos, haverá menos sangramentos. • A idade no momento de início da profilaxia é um
Para cada aumento de 1% dos níveis basais de fator indicador robusto dos resultados clínicos em longo
(em hemofílicos sem profilaxia), há uma diminuição prazo.
da frequência de sangramento e, quando os níveis • Os hemofílicos que iniciam a profilaxia cedo (ou seja,
basais de FVIII:C estão acima de 15 UI/dL (15%), o profilaxia primária ou secundária) apresentaram os
sangramento espontâneo é raro.6-8 Acredita-se que melhores resultados em longo prazo.12 (Ver a Tabela
o mesmo seja aplicável aos níveis de FIX:C, embora 6-1 para as definições de profilaxia.) Além disso, o
isto tenha sido menos estudado. Do mesmo modo, início precoce da profilaxia também reduz o risco e
foi demonstrado que quanto mais tempo passado a incidência de hemorragia intracraniana (HIC), que
com níveis de FVIII abaixo de 1 UI/dL (1%), maior é a são maiores em crianças muito pequenas.13
taxa de sangramentos agudos durante a profilaxia.6 • Estudos de coortes de longa duração mostraram que
Terapia de reposição de fator de meia-vida estendida um pequeno número de sangramentos articulares
94 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

que ocorrem no início da vida, antes do início da por um escalonamento gradual pode melhorar a
profilaxia, em última análise podem (em alguns aceitação familiar do início precoce da profilaxia e pode
pacientes) resultar em artropatia hemofílica.14-16 melhorar a aderência à profilaxia. Esta abordagem
• Portanto, a profilaxia regular iniciada precocemente também parece resultar em menor necessidade de
e administrada em doses adequadas deve ser colocação de cateteres venosos centrais (CVCs).
considerada o padrão de cuidados para tratar a Contudo, pacientes em profilaxia menos intensa
hemofilia até que um tratamento alternativo em correm um maior risco de sangramento até que o
longo prazo como a terapia gênica esteja disponível. escalonamento da profilaxia tenha ocorrido.20,21
• Existem vários métodos para iniciar a profilaxia • Para pacientes com hemofilia A, o início do
convencional com terapia de reposição de fator tratamento com pequenas doses de CFC de FVIII
IV. Os dois modos principais (profilaxia em alta pode ter o benefício adicional (não comprovado) de
dose e profilaxia escalonada em baixa dose) são diminuir o desenvolvimento de inibidores, uma vez
diferenciadas principalmente pela frequência que doses grandes e frequentes de FVIII desde o
de administração de CFC e menos pelas doses início foram associadas a um aumento na taxa de
empregadas.17 desenvolvimento de inibidores. 22
• A profilaxia de frequência escalonada, que começa • Contudo, indivíduos com hemofilia grave/moderada
com uma profilaxia menos intensa (por ex., infusões que tenham apresentado um sangramento com risco
semanais) seguida por um aumento da frequência, à vida no início da infância não devem ser colocados
permite que crianças pequenas e suas famílias em profilaxia com escalonamento da dose; em vez
se adaptem gradualmente aos ônus da profilaxia disso devem iniciar imediatamente uma profilaxia de
(por ex., infusão venosa periférica).18,19 Crianças alta dose.
pequenas que iniciam a profilaxia escalonada em • Como e quando a profilaxia deve ser iniciada não
baixa dose devem ser acompanhadas com atenção é significativamente diferente com o uso de CFCs
e deve-se considerar fortemente o escalonamento de meia-vida padrão (SHL) ou meia-vida estendida
rápido da profilaxia (em todos os pacientes ou de (EHL). Nos dois casos, a profilaxia deve ser iniciada
acordo com os sintomas hemorrágicos) para prevenir cedo, começar com uma abordagem de alta dose/alta
sangramentos e a morbidade resultante. frequência ou uma abordagem de baixa frequência
• O início com uma profilaxia menos intensa seguido seguida por escalonamento da frequência.

TABELA 6-1 Profilaxia convencional com fator para hemofilia A e B, definida


de acordo com o momento de início da profilaxia1
Profilaxia primária • Profilaxia regular contínua iniciada na ausência de doença articular documentada,
determinada por exame físico e/ou estudos de imagem, e antes da segunda
hemorragia articular clinicamente evidente e 3 anos de idade
Profilaxia secundária • Profilaxia regular contínua iniciada após 2 ou mais sangramentos articulares, mas
antes do início de doença articular; isso geralmente corresponde a 3 anos de idade
ou mais
Profilaxia terciária • Profilaxia regular contínua iniciada após o início de doença articular documentada.
A profilaxia terciária normalmente é aplicável à profilaxia iniciada na idade adulta

TABELA 6-2 Profilaxia convencional com fator usando fator de coagulação com meia-vida
padrão, definida de acordo com sua intensidade
Intensidade da profilaxia Hemofilia B Hemofilia B

• Profilaxia em alta dose 4 • 25–40 UI de FVIII/kg a cada 2 dias (> • 40–60 UI de FIX/kg duas vezes por
4.000 UI/kg por ano) semana (> 4.000 UI/kg por ano)
• Profilaxia em dose intermediária • 15–25 UI de FVIII/kg 3 dias por • 20–40 UI de FIX/kg duas vezes por
semana (1.500–4.000 UI/kg por ano) semana (2.000–4.000 UI/kg por ano)

• Profilaxia em baixa dose (com • 10–15 UI de FVIII/kg 2–3 dias por • 10–15 UI de FIX/kg 2 dias por semana
escalonamento da intensidade semana (1.000–1.500 UI/kg por ano) (1.000–1.500 UI/kg por ano)
das doses, conforme necessárioa
Abreviações: FIX: fator IX; FVIII: fator VIII; UI: unidade internacional; kg: quilograma.
a Também deve ser considerada como o ponto inicial da terapia de reposição que será individualizada, quando possível, para
prevenir sangramentos.
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia | 95

• Com CFCs EHL, infusões menos frequentes (por 6. 2 Benefícios da profilaxia


ex., uma vez por semana) podem ser suficientes
para muitos indivíduos, em particular aqueles com Profilaxia usando concentrados de fatores de
hemofilia B grave que estejam recebendo CFC s de FIX coagulação
EHL. Uma vez que os CFCs EHL ainda precisam ser
administrados por via intravenosa, sua administração • Todas as formas de profilaxia (dose alta/
ainda é difícil em crianças muito pequenas com intermediária/baixa com CFCs ou profilaxia com
acesso venoso periférico inadequado.17 agentes de reposição não relacionados a fatores, por
• O tempo até o início da profilaxia com agentes de ex., emicizumabe) fornecem benefícios superiores
reposição não relacionados a fatores não foi bem em comparação à terapia episódica. A profilaxia
estudado. Uma vez que emicizumabe é administrado convencional com dose alta e intermediária, iniciada
por via subcutânea, as dificuldades do acesso venoso no início da vida, está associada a uma redução de
são mitigadas. Ele pode ser introduzido em um mais de 90% nas taxas de sangramento articular,
momento semelhante ao início da profilaxia com CFC taxas anualizadas de sangramento articular
ou talvez antes, embora os dados ainda sejam muito (AJBRs) abaixo de 3 por ano e redução significativa
limitados.23 São necessárias mais pesquisas sobre a na deterioração articular e doença articular
introdução de emicizumabe em recém-nascidos.24 degenerativa.12,25
• Ver as Tabelas 6-1 e 6-2, acima, e o Capítulo 3: • A profilaxia também protege contra outros tipos de
Diagnóstico e Monitoramento Laboratorial — Teste hemorragia na hemofilia, incluindo a prevenção ou
de inibidores. uma redução substancial do risco de hemorragia
intracraniana.13
Recomendação 6.1.2: • Os benefícios em longo prazo incluem redução da dor
• Para pacientes pediátricos om hemofilia A ou B grave, musculoesquelética crônica, limitações funcionais e
a WFH recomenda o início precoce de profilaxia incapacidade, necessidade de cirurgia ortopédica,
com concentrados de fatores de coagulação (FVIII/ hospitalização, visitas ao pronto-socorro e menor
FIX de meia-vida padrão ou estendida) ou outro(s) duração de hospitalizações; tudo isso promove
agente(s) hemostático(s) antes do início da doença uma maior participação (ou seja, comparecimento
articular e, idealmente, antes dos 3 anos de idade, regular) em atividades educacionais, recreativas e
para prevenir hemorragias espontâneas e agudas, profissionais, com melhor qualidade de vida.26
incluindo hemartroses que podem provocar doença • Por causa desses benefícios, a Organização
articular. CB Mundial de Saúde (OMS), a Federação Mundial de
Hemofilia (WFH) e muitas organizações nacionais
Recomendação 6.1.3: e internacionais de hemofilia apoiam a profilaxia
• Para adolescentes e adultos com hemofilia precoce como o padrão de cuidados para crianças
que apresentem evidências de lesão articular e com um fenótipo hemofílico grave27 e recomendam
ainda não tenham recebido profilaxia, a WFH que a profilaxia continue por toda a vida. Além disso,
recomenda o início da profilaxia terciária para adultos com um fenótipo hemofílico grave (se já não
reduzir o número de hemartroses, sangramentos estiverem em profilaxia) também devem iniciar a
espontâneos e agudos e reduzir a progressão da profilaxia.22
artropatia hemofílica. CB
Profilaxia usando terapias de reposição não
Intensidade da profilaxia relacionadas a fatores

• Embora a intensidade da profilaxia em geral seja • Em vários estudos clínicos, foi demonstrado que a
referida em termos de dose alta, intermediária e profilaxia com emicizumabe está associada a taxas
baixa, deve-se considerar que a intensidade é uma muito baixas de sangramento (uma taxa anualizada
função tanto da dose quanto da frequência e que uma de sangramento [ABR] de 1,5) e ABRs menores
alta dose geralmente se refere a uma combinação de que as relatadas anteriormente por pacientes
altas doses e altas frequências, enquanto uma baixa em profilaxia com CFCs.2 São necessárias mais
dose geralmente se refere a uma combinação de pesquisas sobre os resultados em longo prazo com
doses mais baixas e frequências menores, embora emicizumabe. No momento, os dados sobre o uso de
nem sempre. outros tratamentos não relacionados a fatores para
• Ver 6.6 Regimes profiláticos com fator fixos/não profilaxia são muito mais limitados.
individualizados, a seguir, e 6.7 Regimes profiláticos
com fator individualizados, a seguir.
96 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 6.2.1: farmacocinéticas [PK] do concentrado de fator


• Para pacientes com um fenótipo grave de de coagulação) que permita a presença em todos
hemofilia A ou B, especialmente crianças, a os momentos de fator circulante suficiente para
WFH recomenda a profilaxia regular em longo prevenir hemartrose e sangramentos espontâneos
prazo como padrão de cuidados para prevenir e agudos, com base em suas necessidades e
hemartrose e outros sangramentos espontâneos estilos de vida individuais, e preservar a função
e agudos, manter a saúde musculoesquelética musculoesquelética.
e promover a qualidade de vida. Quando a • OBSERVAÇÃO: No passado, um nível mínimo de
profilaxia não for viável, a terapia episódica será fator de 1 UI/dL (1%) era considerado uma meta
o tratamento essencial para hemorragias agudas, adequada. Atualmente, com o reconhecimento
mas não prevenirá a lesão articular em longo de que os pacientes continuam com risco de
prazo. sangramento com um nível mínimo de 1%, a
• OBSERVAÇÃO: Em longo prazo, a profilaxia maioria dos médicos prefere visar níveis mínimos
precoce e regular para crianças reduz a hemartrose mais altos (> 3%–5% ou mais). Estudos recentes
e outros sangramentos hemofílicos, promove mostram que esses níveis mínimos resultam em
melhores resultados de saúde e articulares, reduz menos sangramentos. Contudo, a contrapartida
o número de visitas e internações hospitalares é que níveis mínimos mais altos podem exigir
e pode evitar a necessidade de intervenções doses maiores ou infusões mais frequentes de
ortopédicas, incluindo cirurgia, no futuro. CB concentrados de fatores de coagulação. Portanto,
isto deve ser personalizado com base nas
atividades, estilo de vida e manejo PK do fator do
6. 3 Profilaxia com fator indivíduo. CB
de meia-vida padrão
Horário do dia para administração de CFCs SHL
• Todos os CFCs SHL (ou seja, derivados de plasma
e recombinante) têm propriedades farmacocinéticas • O horário das doses profiláticas é particularmente
essencialmente semelhantes. A meia-vida curta importante para os CFCs convencionais com meias-
dos CFCs SHL resulta na necessidade de punções vidas mais curtas (ou seja, FVIII/FIX SHL). Devido
venosas frequentes para profilaxia (3–4 vezes por à meia-vida curta dos CFCs SHL, a profilaxia
semana para FVIII e 2–3 vezes por semana para convencional produz uma curva sinusoidal de picos
FIX); com frequência isto leva à necessidade de e vales dos fatores, correspondentes a momentos
CVCs em crianças pequenas e redução da aderência em que os pacientes podem estar mais ativos com
em crianças mais velhas/adultos. 28 segurança e momentos em que não podem.
• Com CFCs SHL, é difícil obter níveis mínimos • Uma vez que as pessoas provavelmente estarão
de fator muito acima de 1 UI/dL (1%); para isso, mais ativas durante o dia, faz sentido que a maioria
seriam necessárias infusões muito frequentes realize as infusões de CFCs SHL pelas manhãs, em
(possivelmente diárias) que, com toda a vez da noite.
probabilidade, muitos pacientes não estariam
dispostos ou não seriam capazes de manter. Recomendação 6.3.2:
• Os níveis de fatores individuais em hemofílicos • Para pacientes que aderem ao regime profilático
durante a profilaxia são determinados por: prescrito, mas ainda apresentam sangramentos
‒ o regime profilático (dose e frequência) agudos, a WFH recomenda o escalonamento da
empregado para os indivíduos; profilaxia com a mensuração dos níveis mínimos
‒ o manipulação farmacocinética (PK) individual e, se necessário, intervenções ortopédicas
do fator (recuperação do fator e meia-vida/ apropriadas.
clearance); e • OBSERVAÇÃO: Qualquer paciente que não
‒ o características PK do produto de CFC usado. responda a uma terapia de reposição de fator
(Ver a Tabela 6-3.) adequada após um período de resposta no
passado deve ser testado para pesquisar
Recomendação 6.3.1: o desenvolvimento de inibidores antes do
• Para pacientes com um fenótipo grave de escalonamento do tratamento. CB
hemofilia A ou B, a profilaxia com concentrados
de fatores de coagulação (de meia-vida padrão ou
estendida) é recomendada em uma dose e intervalo
posológico (dependendo das propriedades
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia | 97

6. 4 Profilaxia com fatores de produtos de FIX EHL exibem recuperações mais altas
meia-vida estendida com base em uma menor distribuição extravascular
que FIX SHL; para esses produtos, doses mais baixas
podem ser usadas para profilaxia.9,31 Foi levantada
• As limitações da profilaxia com CFCs SHL levaram ao
a hipótese de que as diferenças na distribuição
recente desenvolvimento, introdução e uso crescente
extravascular de FIX entre os vários CFCs de FIX EHL
de CFCs EHL.
e SHL possam ser importantes para o efeito protetor
fornecido por esses CFCs.33,34 São necessárias mais
Meia-vida/clearance
pesquisas sobre o assunto.
• Os CFCs EHL de FVIII atuais exibem uma melhora
Frequência de administração
modesta (1,4 a 1,6 vezes) da meia-vida/clearance
em comparação aos CFCs de FVIII SHL, sem
• Em geral, os CFCs EHL permitem que os hemofílicos
diferenças significativas nas propriedades PK entre
diminuam o número de infusões necessárias para
esses FVIII EHLs. (Observe que existe um FVIII EHL
ainda obter níveis de proteção semelhantes aos
ainda em estudos clínicos [BIVV001] que exibe um
CFCs SHL ou permitir que aumentem seus níveis
prolongamento da meia vida de 3 a 4 vezes.) Em
mínimos de fator e obtenham maiores níveis de
contraste, os CFCs de FIX EHL apresentam meias-
proteção contra sangramentos com um número
vidas muito melhores (3 a 5 vezes mais longas) em
de infusões semelhante, ou uma combinação de
comparação a FIX SHL mas, ao contrário dos FVIII
ambos. Reduções modestas da frequência de
EHLs, há diferenças importantes nas propriedades
infusão ou aumentos modestos dos níveis mínimos
PK entre os CFCs de FIX EHL. 9,30-32
de fator (mas provavelmente não os dois) podem ser
conseguidos com os concentrados de FVIII EHL.
Dose
• Alguns (mas não todos) concentrados de FIX EHL
permitem que os pacientes recebam infusões
• Ainda não foi determinado o que constitui uma
muito menos frequentes (por ex., uma vez a cada
profilaxia de dose alta, intermediária e baixa de CFCs
7-14 dias) e ainda mantenham níveis mínimos de
EHL e se essas definições deveriam ser revistas, já
FIX ≥ 10%–20% 9,31,32,35 ou infusões semanais ou
que é possível alcançar níveis mínimos de fator muito
mais frequentes para atingir níveis mínimos de
maiores com CFCs EHL, em particular com FIX EHLs.
FIX de 20%, 30% ou possivelmente mais altos. A
Na maior parte, FVIII EHLs apresentam recuperações
única ressalva nesse sentido é que as diferenças
semelhantes aos FVIII SHLs e, portanto, as doses
na distribuição extravascular de FIX podem ser
usadas para profilaxia serão semelhantes. Alguns
importantes para o efeito protetor de FIX.36

TABELA 6-3 Variáveis que afetam os níveis de fator (aplicáveis a fatores de coagulação SHL e EHL)
em hemofílicos
Variáveis Impactos sobre os níveis de fator

Mais importantes
Frequência de administraçãoa • A duplicação da frequência de infusões (sem alterar a dose/infusão) fornece
em média 5 meias-vidas de cobertura adicional

Meia-vida/clearanceb • A duplicação da meia-vida fornece em média 5 meias-vidas de cobertura


adicional

Menos importantes
Dose • A duplicação da dose fornece 1 meia-vida de cobertura adicional

Recuperação • A duplicação da recuperação fornece 1 meia-vida de cobertura adicional

Observação: Esta tabela é adaptada de Carcao (2015).29


Abreviações: CFC: concentrado do fator de coagulação; EHL: meia-vida estendida; FIX: fator IX; SHL: meia-vida padrão.
a Doses pequenas e frequentes de CFC em geral são muito mais eficientes que doses grandes e pouco frequentes. A profilaxia diária seria
o regime profilático mais eficiente com CFCs SHL, pois permitiria o uso de doses relativamente baixas de CFC e mesmo assim permitiria a
manutenção de altos níveis de fator. Contudo, a aderência a esse regime pode ser muito difícil, em particular para pacientes mais jovens.
b As variáveis conhecidas que afetam a meia-vida/clearance de FVIII incluem o grupo sanguíneo (O versus não-O) e os níveis de fator de von
Willebrand; menos é conhecido sobre as contribuições para as diferenças individuais no manejo de farmacocinética de FIX. Na maior parte,
a recuperação e as meias-vidas do fator individual aumentam com a idade. Isto pode fazer com que pacientes mais velhos precisem de uma
dose menor por infusão para manter níveis mínimos de fator semelhantes.
98 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

TABELA 6-4 Benefícios documentados dos CFCs EH

Benefícios da menor frequência de infusão Benefícios de maiores níveis mínimos do fator

• Menos visitas a clínicas ou vistas de enfermagem Profilaxia mais efetiva — maior nível de prevenção de
em domicílio ao iniciar a profilaxia em pacientes, sangramentos (tanto os clinicamente evidentes quanto
possivelmente levando a um início mais precoce sangramentos microscópicos subclínicos) mantendo esquemas
da profilaxia posológicos semelhantes
• Menor necessidade de CVCs, promovendo algum Possivelmente, maior nível de participação em esportes (talvez
grau de economia e menor morbidade incluindo esportes que seriam tradicionalmente desencorajados)
sem acarretar um risco substancialmente maior de sangramentos

• Cronogramas de infusão menos incômodos (dias


e horas de infusão):
‒ o menos infusões matinais
‒ o menos infusões em dias de trabalho/escola
• Maior adoção da profilaxia entre pacientes que
não estejam em profilaxia no momento

Observação: Esta tabela é adaptada de Carcao (2015). 29


Abreviações: CFC: concentrado do fator de coagulação; CVCs: cateteres venosos centrais; EHL: meia-vida estendida.

Horário do dia para administração de CFCs EHL • Emicizumabe e esses agentes não relacionados
a fatores em desenvolvimento diferem dos tipos
• Quanto maior a meia-vida de um produto, convencionais de profilaxia porque não repõem o
menos crítico será o horário das infusões. Este é fator de coagulação ausente, são administrados
particularmente o caso de alguns concentrados de por via subcutânea e, em alguns casos, podem ser
FIX EHL. 37-39 (Ver a Tabela 6-4.) administrados com pouca frequência, como uma
vez a cada 2 ou 4 semanas.11 Além disso, esses
Recomendação 6.4.1: agentes não estão associados às curvas de proteção
• Para pacientes com um fenótipo grave de com picos e vales que observamos atualmente nos
hemofilia A ou B em uso de concentrados de regimes profiláticos com fatores.
FVIII ou FIX EHL, a WFH recomenda a profilaxia • Já houve extensos estudos clínicos sobre
com concentrados de fatores de coagulação EHL emicizumabe em pacientes com hemofilia A com e
em doses e intervalos posológicos suficientes sem inibidores que atestam a segurança e a proteção
para prevenir a hemartrose e sangramentos contra hemorragias deste agente.2,32,40 (Para uso de
espontâneos e agudos e preservar a função emicizumabe em pacientes com inibidores, ver o
articular. CB Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação.)
• Emicizumabe já está facilitando a introdução da
profilaxia para os pacientes em uma idade mais
6. 5 Profilaxia com terapia de reposição precoce e sem a necessidade de CVCs. Isto pode
não relacionada a fatores causar uma reavaliação do que constitui uma
profilaxia primária (ver a Tabela 6-1), já que talvez
• Observação: Emicizumabe é o único produto a profilaxia possa ser iniciada muito mais cedo que
de reposição não relacionado a fator autorizado o usual. Isto poderia reduzir o risco de sangramento
disponível no momento desta publicação. que atualmente ocorre em crianças muito pequenas
• O desenvolvimento de novos tratamentos (6-12 meses de idade) antes da introdução usual
hemostáticos não relacionados a fatores em da profilaxia.12,30,41 São necessárias mais pesquisas
hemofilia está causando uma reconsideração dos sobre a segurança de emicizumabe nesta população
conceitos e definições de profilaxia. Esses novos muito jovem.24
tratamentos não relacionados a fatores incluem • Os produtos não relacionados a fatores devem
emicizumabe, um mimetizador de FVIII já em permitir uma profilaxia menos incômoda, o que pode
uso clínico para hemofilia A,10 e outros ainda em melhorar a aderência e promover uma maior adoção
desenvolvimento, incluindo agentes que inibem da profilaxia entre pacientes que não estejam
anticoagulantes endógenos naturais (antitrombina, em profilaxia no momento (incluindo aqueles
inibidor da via do fator tecidual [TFPI] e proteína C com hemofilia moderada), permitindo uma maior
ativada). participação em atividades sociais e esportivas. Isso
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia | 99

já está sendo demonstrado pela crescente adoção e Contudo, há despesas e desconforto associados à
uso de emicizumabe. inserção de CVCs e há uma frequência considerável
• Todos esses desenvolvimentos estão transformando de complicações (ou seja, infecção, trombose e falha
os conceitos de intensidade profilática. Não é mais mecânica do dispositivo) que muitas vezes provocam
possível se referir à profilaxia de alta dose como uma a hospitalização e substituição do CVC.28,42 Como
profilaxia que resulte em níveis mínimos do fator de consequência, os CVCs devem ser vistos como um
1%–3%.3 auxílio temporário e mantidos no local pelo menor
tempo possível até a transição para o uso de veias
Recomendação 6.5.1: periféricas.
• Para pacientes com um fenótipo grave de • Como resultado do maior reconhecimento das
hemofilia A sem inibidores, a profilaxia com complicações do CVC, houve um afastamento
emicizumabe previne hemartrose, sangramentos da introdução imediata da profilaxia em alta dose
espontâneos e agudos. em crianças pequenas. Cada vez mais crianças
• OBSERVAÇÃO: Contudo, a WFH observa que pequenas com fenótipos hemofílicos graves têm
há muito poucos dados em longo prazo sobre as iniciado regimes profiláticos escalonados, que
evoluções dos pacientes com essa abordagem e começam com uma profilaxia semanal seguida por
recomenda que esses dados sejam obtidos. CB um aumento gradual da frequência das infusões,
independentemente do fenótipo hemorrágico. 2
• Ver também Capítulo 5: Agentes Hemostáticos e o • Em pacientes que apresentaram uma hemorragia
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação. de risco à vida, as doses de CFC ou tratamentos
não relacionados a fatores usados para profilaxia
devem ser adequados para prevenir sangramentos
6. 6 Regimes profiláticos com fator subsequentes; contudo, as doses ideais para
conseguir esse objetivo ainda precisam ser definidas.
fixos/não individualizados
Recomendação 6.6.1:
• Muitos regimes profiláticos com fatores foram
• Para pacientes com hemofilia A ou B moderada/
desenvolvidos e preconizados por diferentes grupos.
grave, especialmente aqueles que apresentaram
Esses regimes, em geral, podem ser classificados
uma hemorragia de risco à vida (por ex., hemorragia
como não individualizados/de dose fixa (“tamanho
intracraniana [HIC]), a WFH recomenda profilaxia
único”) ou regimes profiláticos individualizados.
com concentrados de FVIII ou FIX ou com
tratamentos não relacionados a fatores (por ex.,
Regimes profiláticos com fator SHL não
emicizumabe para hemofilia A) para prevenir
individualizados
uma hemorragia de risco à vida recorrente.
Isto é particularmente importante durante os
Profilaxia em alta dose e dose intermediária
primeiros 3–6 meses após uma HIC, pois o risco de
• A abordagem de profilaxia em alta dose geralmente
recorrência é maior durante esse período.
envolve a administração de 25–40 UI/kg por dose,
• OBSERVAÇÃO: Uma vez que o desenvolvimento
administrados em dias alternados ou 3 vezes por
de inibidores está associado a uma exposição
semana (para concentrados de FVIII SHL) ou duas
intensa, como ocorreria no contexto de uma
vezes por semana (para concentrados de FIX SHL)
HIC, esses pacientes requerem um bom
para garantir a proteção contra sangramentos
monitoramento clínico da resposta ao tratamento
espontâneos e agudos. A profilaxia em dose
e testes laboratoriais de inibidores frequentes. CB
intermediária é diferenciada da profilaxia em alta
dose principalmente pelo uso de doses menores
Recomendação 6.6.2:
(15—25 UI/kg), mas em geral com frequências de
• Para pacientes com hemofilia e dificuldades de
infusão semelhantes ou quase semelhantes. (Ver as
acesso venoso que impeçam infusões regulares
Tabelas 6-2 e 6-5.)
de concentrados de fatores de coagulação, a
• Os regimes de alta dose estão associados a uma
WFH recomenda a inserção de um cateter venoso
maior necessidade de CVCs em crianças. Isto
central (CVC) para facilitar as infusões profiláticas
pode encorajar os pais a tratar a hemofilia de seu
do concentrado de fator de coagulação. Outra
filho em casa, para que não precisem depender
opção disponível no momento consiste no uso
de viagens regulares ao hospital. Também tornam
de emicizumabe, enquanto no futuro pode haver
o tratamento menos estressante para pacientes
a disponibilização de outros tratamentos não
jovens, possivelmente melhorando a aderência.
relacionados a fatores subcutâneos. CB
100 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

TABELA 6-5 Vantagens e desvantagens de regimes profiláticos com fator SHL fixos, não individualizados

Regime Vantagens Desvantagens

Alta dose/alta frequência • Garante que, em média, pacientes • Pode estar associada a problemas de
com hemofilia apresentem níveis aderência e conveniência devido às
mensuráveis de FVIII/FIX em todos os maiores demandas de infusão para os
momentos, ou seja, níveis acima de 1 pacientes
UI/dL (1%) • Está associada a uma maior utilização
• Garante que virtualmente todos do fator e, consequentemente, custos
os indivíduos recebam tratamento mais altos
suficiente para prevenir virtualmente • Promove uma alta necessidade de
todos os sangramentos CVCs ou FAVs
• Alcança as menores AJBRs e os • Pode causar um tratamento excessivo
melhores resultados articulares em em alguns indivíduos que apresentem
longo prazo um fenótipo mais leve, o que pode
• Oferece benefícios para indivíduos afetar negativamente a aderência
muito ativos • Não é ideal para países com limitação
de recursos

Dose intermediária/frequência • Reduz a AJBRs em aproximadamente • Provoca tratamento insuficiente em


intermediária 90%, para < 1 ao ano alguns pacientes
• É menos dispendiosa que a profilaxia • Produz resultados ME discretamente
em alta dose e, consequentemente, piores em longo prazo
acessível em mais países
• Proporciona taxas de qualidade de
vida e participação em atividades
comparáveis à profilaxia em alta dose
• Pode ser melhor para adolescentes e
adultos

Dose baixa/frequência baixa • É o regime fixo menos dispendioso e, • Tem um efeito desconhecido em
como consequência, acessível em mais longo prazo sobre os resultados
países
• Reduz a incidência de sangramento
ME, que provavelmente são piores
em aproximadamente 80% ou mais em que os alcançados com os regimes
comparação à terapia episódica e pode de dose intermediária/alta
obter AJBRs por volta de < 3 por ano 20

Observação: Esta tabela é adaptada de Carcao (2015). 29


Abreviações: AJBR: taxa anual de sangramento articular; FAV: fístula arteriovenosa; CVC: cateter venoso central; FIX: fator IX; FVIII:
fator VIII; ME: musculoesquelético; SHL: meia-vida padrão.

Profilaxia em baixa dose todos os pacientes para uma profilaxia mais intensa,
• A profilaxia em baixa dose envolve a administração independentemente do fenótipo hemorrágico
da terapia de reposição de fator em intervalos menos (abordagem de escalonamento independente do
frequentes (em geral profilaxia semanal ou duas fenótipo hemorrágico) para fornecer maior proteção.
vezes por semana) ou usando doses mais baixas, ou • Em países com recursos limitados, a profilaxia em
ambos. baixa dose tende a enfocar o uso de doses menores.
• Em países com recursos adequados, a profilaxia em Este é um modo para que os pacientes nesses
baixa dose tende a consistir em uma profilaxia de países comecem a receber profilaxia, porém com um
baixa frequência com as doses usuais. Muitas vezes, custo menor. Para minimizar os custos, o foco tende
isto é usado como um modo de iniciar a profilaxia, a se voltar para a minimização das doses, mantendo
que então é seguido por um aumento da frequência frequências de infusão semelhantes.20,43-46
até um maior grau de proteção. • Isto permite uma terapia de reposição com consumo
• Alguns centros preferem realizar o escalonamento anual semelhante ao tratamento episódico, porém
apenas em pacientes que demonstrem com uma taxa de sangramentos espontâneos muito
sangramentos agudos durante uma profilaxia menor.
menos intensa (abordagem de escalonamento • As vantagens e desvantagens dos regimes
individualizado para o fenótipo hemorrágico); profiláticos com fator SHL fixos, não individualizados,
outros centros preferem escalonar rapidamente são mostradas na Tabela 6-5.
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia | 101

6. 7 Regimes profiláticos com fator reguladores positivos e negativos da coagulação


individualizados produzem um risco de sangramento diferenciado.49
• Além disso, os níveis de atividade podem variar
muito durante a vida de uma pessoa. As crianças
• Os regimes profiláticos individualizados são
pequenas podem permanecer ativas de modo
personalizados para as necessidades de cada
constante e imprevisível, enquanto crianças mais
paciente; isto significa que os pacientes recebem
velhas e adultos podem ser muito menos ativos e,
um regime profilático individualizado para suas
quando ativos, podem se envolver em atividades
necessidades, em vez de um regime genérico
físicas planejadas com menor probabilidade de
recebido por todos. Idealmente, isto permite que “a
causar um sangramento.
quantidade correta de profilaxia seja administrada
• Como consequência, o regime profilático de um
ao paciente correto”. Isto tem o potencial de alocar
paciente pode precisar ser alterado ao longo do
CFCs com maior eficiência, de modo que não sejam
tempo, em particular quando houver alterações nos
“desperdiçados” em pacientes que podem não
níveis de atividade. Sendo assim, a profilaxia pode
precisar tanto e não sejam negados a pacientes
ser individualizada durante a vida de uma pessoa.
que precisem mais. (Ver 6.9 Economia de saúde da
• Parte desta individualização pode estar relacionada
profilaxia, a seguir.)
ao estilo de vida individual; algumas pessoas que
• A profilaxia pode ser individualizada de diferentes
tendem a ser mais sedentárias podem optar por
modos. Isto é aplicável à hemofilia A e B. (Ver as
menos infusões, levando a um menor grau de
Tabelas 6-2 e 6-6).
proteção, enquanto indivíduos mais ativos podem
• As diferenças no fenótipo da doença, assim
optar por infusões mais frequentes e um maior nível
como as diferenças no manejo PK individual do
de proteção. Isto promove uma maior individualização
fator, constituem a base da justificativa para a
interpaciente e intrapaciente da profilaxia, conforme
personalização da profilaxia para o indivíduo.
os pacientes envelhecem.
• As vantagens e desvantagens dos regimes
• Todos os fatores descritos acima contribuem para
profiláticos fixos e regimes profiláticos
a grande variabilidade no fenótipo clínico entre
individualizados são mostradas na Tabela 6-5
os hemofílicos. Esta variabilidade no fenótipo
(regimes de dose fixa) e na Tabela 6-6 (regimes
hemorrágico inerente é demonstrada na ampla
individualizados). Provavelmente não existe um
variação de idade em que as crianças apresentam
regime único que seja melhor todos os pacientes e
sua primeira hemorragia articular, que pode variar
para todas as economias.
de < 1 ano a aproximadamente 6 anos, com uma
• A meta final de todos os tratamentos profiláticos
mediana de cerca de 2 anos de idade.50 Vários
deve ser a mesma — a ausência de sangramentos
estudos demonstraram que a idade no momento
espontâneos.
da primeira hemorragia articular prevê o fenótipo
• Ver o Capítulo 11: Avaliação dos Resultados.
hemorrágico nos anos posteriores, o que é refletido
pelas taxas anuais subsequentes de utilização de
Variáveis que afetam o fenótipo hemorrágico
fatores de coagulação e artropatia, onde pacientes
que tiveram sua primeira hemorragia articular em
• Os hemofílicos exibem uma heterogeneidade
uma idade mais tardia necessitaram de menos
fenotípica significativa nos sangramentos; esta
tratamento e desenvolveram menos artropatia.50-53
variabilidade interindividual é observada mesmo
entre pessoas com hemofilia grave e níveis basais de
fator comparáveis.6,17,30
6. 8 Aderência e educação
• O fenótipo hemorrágico é o resultado do efeito do paciente/cuidador
combinado do perfil genotípico individual do paciente
• Apesar dos benefícios da profilaxia, a aderência
(incluindo genótipo de hemofilia, perfis genéticos
tradicionalmente é um problema significativo. Há
para todos os outros fatores hemostáticos e outros
muitos motivos para a pouca aderência à profilaxia.
traços genéticos), estado de saúde das articulações e
O principal motivo provavelmente é o ônus da
características comportamentais. (Ver a Tabela 6-7.)
administração de CFCs por via intravenosa e com
• Foi observado que os hemofílicos que apresentam
frequência. Isto resulta em dificuldades de acesso
sangramentos recorrentes quando jovens e
venoso (particularmente em crianças pequenas,
desenvolvem dano articular (articulações-alvo) em
mas também em adultos mais velhos com artropatia
geral precisam de níveis mínimos de fator muito
significativa e veias possivelmente extintas) e
maiores para prevenir sangramentos no futuro.
a resistência da criança/família à característica
• As diferenças interindividuais no equilíbrio entre os
demorada da profilaxia convencional.
102 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

TABELA 6-6 Individualização da profilaxia às necessidades do paciente

Abordagem de individualização Vantagens Desvantagens

Farmacocinética • Reconhece que pacientes hemofílicos • Exige que os pacientes realizem pelo
apresentam diferenças no manejo PK menos uma avaliação PK mínima.
• Envolve a realização de pelo do fator, o que afetará as necessidades • Requer competência para a interpreta-
menos uma avaliação PK míni- de profilaxia. ção dos resultados de PK.
ma dos pacientes, seguida por • Mantém uma correspondência entre • Enfoca apenas um atributo que con-
ajuste da dose/frequência das a quantidade de CFCs administrada a tribui para os sangramentos (manejo
infusões do fator para obter um um paciente e suas necessidades PK PK do fator) e ignora outras diferenças
nível mínimo predeterminado do percebidas, garantindo que cada pa- entre os pacientes, incluindo os níveis
fator em cada paciente. ciente esteja recebendo uma quantida- de atividade física. A participação em
• Pode ser estimada por mode- de suficiente de tratamento para obter esportes pode ser favorecida de modo
lagem de PK populacional (por níveis de fator semelhantes. mais adequado pela atenção aos níveis
ex., WAPPS-Hemo) a usando • Não força os pacientes a apresentar de fator no momento da participação,
análise Bayesiana. sangramentos para declarar sua ne- em vez de enfocar apenas os níveis
cessidade de profilaxia. mínimos do fator.
• Pode promover economias substan- • Pode provocar um tratamento excessi-
ciais do consumo do fator, uma vez que vo em alguns pacientes que poderiam
os pacientes receberiam as quantida- ficar bem com níveis mínimos de fator
des necessárias para obter os níveis mais baixos e pode provocar trata-
mínimos de determinados fatores. mento insuficiente em alguns pacien-
• Permite a individualização da profi- tes (por ex., pacientes muito ativos)
laxia com o envelhecimento, já que a que podem precisar de níveis mínimos
PK muda com a idade do paciente. As de fator mais altos.
avaliações PK exigirão repetições com
a idade 48

Fatores clínicos (fenótipo • Reconhece que os pacientes hemofíli- • Força os pacientes a apresentar san-
hemorrágico e padrões de cos são heterogêneos, não apenas em gramentos para declarar seu fenó-
atividade física) termos do manejo PK do fator, mas em tipo hemorrágico e necessidade de
muitos outros aspectos (alguns desco- profilaxia.
nhecidos) que contribuem para os re- • Depende muito dos critérios hemor-
• Envolve a seleção de um re- sultados hemorrágicos e ME. rágicos usados para ajuste do trata-
gime inicial, que pode ter • Efetua uma melhor correspondência mento. Embora alguns pacientes pos-
qualquer frequência, e os entre a quantidade de profilaxia e as sam tolerar alguns sangramentos sem
pacientes são monitorados necessidades do paciente, possivel- lesão articular em longo prazo, outros
mente economizando uma determi- pacientes (em particular crianças pe-
com atenção para detec- nada quantidade de CFCs em nível quenas) são muito mais suscetíveis;
tar sangramentos. A dose e populacional. nesses pacientes, mesmo um ou pou-
a frequência são ajustadas • Adequada para os estágios de transi- cos sangramentos podem contribuir
(aumentadas ou diminuídas) ção da vida, por ex., aumento da pro- para uma lesão articular em longo
filaxia no início da infância; diminuição prazo.
conforme a necessidade para
da profilaxia na idade adulta. • Coloca os pacientes em risco de um
suprimir um sangramento clí- • Permite que crianças muito pequenas sangramento sério (por ex., HIC) du-
nico excessivo com uma pro- se acostumem a receber infusões IV ao rante o escalonamento da profilaxia.
filaxia de intensidade mínima. escalonar a profilaxia e pode permitir • Requer uma adaptação constante da
que CVCs sejam evitados. profilaxia aos padrões de atividade
física, o que pode ser difícil se os pa-
drões de atividade física mudarem
com frequência.

Observação: Esta tabela é adaptada de Carcao (2015). 29


Abreviações: CFC: concentrado do fator de coagulação; CVCs: cateteres venosos centrais; HIC: hemorragia intracraniana; IV:
intravenoso; ME: musculoesquelético; PK: farmacocinética.
a
Disponível em: http://www.wapps-hemo.org. 47

• Outro motivo para a redução da aderência tem origem que podem ocorrer em longo prazo se a profilaxia
no fato de que a profilaxia é projetada principalmente não for iniciada precocemente, nem uma valorização
para prevenir as complicações em longo prazo da dos benefícios da profilaxia.54 (Ver o Capítulo 2:
hemofilia. Pode não haver compreensão por parte Cuidados Abrangentes para Hemofilia — Transição
do paciente/cuidador das complicações da hemofilia de cuidados pediátricos para adultos.)
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia | 103

TABELA 6-7 Fatores que afetam o fenótipo hemorrágico e contribuem para a variabilidade
fenotípica entre os pacientes

Diferenças genéticas Diferenças não genéticas

• Variantes hemofílicas • Níveis e padrões de atividade

• Níveis de outras proteínas pró-coagulantes e • Capacidade funcional e coordenação física (ou


anticoagulantes seja, força, flexibilidade, equilíbrio, estabilidade,
mobilidade)
• Respostas inflamatórias que possam afetar a • Comportamentos de risco
suscetibilidade de uma pessoa à lesão articular
decorrente de sangramento
• Constituição corporal (ou seja, estado da
musculatura)
• Presença ou ausência de articulações-alvo
existentes ou artropatia hemofílica estabelecida
• Ocorrência de trauma

• As consequências da menor aderência consistem tratamento de hemofilia tem um papel fundamental


na redução da eficácia da profilaxia; na situação no ensino do paciente/família sobre a profilaxia, a
mais extrema, a menor aderência provoca o término importância de manter um diário eletrônico ou em
da profilaxia e coloca o paciente em um risco papel de episódios hemorrágicos e da quantidade
considerável de sangramento. Este problema de de CFC ou outro tratamento administrado, e sobre
menor aderência é observado tanto em países com a importância de obedecer ao plano de tratamento.
recursos adequados quando naqueles com recursos • Um componente central da profilaxia consiste
mais limitados. em ensinar aos pacientes/famílias como realizar
• Com CFCs SHL, doses de profilaxia perdidas as infusões intravenosas do tratamento em casa;
ou atrasadas aumentam imediatamente o risco isto é chamado de tratamento domiciliar. (Ver o
de sangramento; portanto, doses perdidas/ Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia —
atrasadas explicam uma proporção substancial Tratamento domiciliar.)
de sangramentos agudos.6 Com CFCs EHL, as • Avaliações regulares no centro para tratamento de
consequências de uma dose perdida podem ser hemofilia durante toda a vida são importantes para
ainda maiores, porém há uma margem muito maior a revisão conjunta do plano de profilaxia, incluindo
para que uma dose seja simplesmente atrasada, em o tipo de tratamento, dose e frequência, com
vez de perdida. ajustes de acordo com o peso corporal, padrões de
• Os CFCs EHL podem melhorar a aderência ao sangramento ou outros fatores do paciente.
permitir que o tratamento seja administrado com
menos frequência e em horários menos incômodos TABELA 6-8 Requisitos básicos para
(à noite em vez de pela manhã e nos fins de semanas uma profilaxia efetiva
em vez de dias úteis). Este é o caso especialmente • Suprimento confiável e contínuo de tratamentos
para alguns CFCs de FIX EHL. profiláticos (concentrados de fatores de coagulação e/
• Emicizumabe, que pode ter administração semanal, ou tratamentos não relacionados a fatores)
quinzenal ou a cada 4 semanas, deve melhorar a • Monitoramento constante e especializado (clínico e
aderência ainda mais; isto precisa ser estudado. O laboratorial) da profilaxia e sua eficácia
impacto de outros tratamentos não relacionados a
fatores, se forem considerados efetivos e seguros • Tratamento domiciliar, de preferência administrado pelo
e forem disponibilizados clinicamente, também paciente/cuidador
precisará ser estudado.
• Compreensão adequada pelo paciente do valor da
• A profilaxia é um trabalho de equipe que depende profilaxia
da educação contínua e consulta com o paciente/
cuidador. A equipe de atendimento do centro para • Boa aderência pelo paciente à profilaxia
104 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• Os itens acima são requisitos importantes para possivelmente da profilaxia em alta dose) com CFCs
uma profilaxia efetiva. Outras exigências para uma mais antigos, quando seus preços reduzidos podem
profilaxia efetiva estão indicadas na Tabela 6-8. tornar a profilaxia convencional muito mais acessível
e amplamente disponível.
Recomendação 6.8.1: • Além disso, muitos países tiveram diminuições
• Para pacientes com um fenótipo grave de substanciais nos preços de CFC por meio de
hemofilia A ou B em profilaxia, a WFH recomenda licitações nacionais e regionais.55
que os pacientes/cuidadores sejam ensinados
a manter registros atualizados e exatos dos
episódios hemorrágicos e tratamentos e sejam 6. 10 Profilaxia em baixa dose
acompanhados em centros para tratamento de
para pacientes com acesso
hemofilia.
limitado a CFCs

6. 9 Economia de saúde da profilaxia • Por mais de duas décadas, a profilaxia tem sido
o padrão de cuidados na maioria dos países com
• Os CFCs em geral são caros e normalmente recursos adequados, mas é raramente realizada em
representam mais de 90% dos custos dos cuidados países de recursos limitados por ser considerada
para hemofilia. Historicamente, isto fez com que a economicamente inviável nas doses convencionais
profilaxia em curto prazo fosse consideravelmente utilizadas.56 No início da década de 2000, vários
mais cara que a terapia de reposição episódica de estudos de observação mostraram os benefícios da
fator. profilaxia com fator em baixa dose (ou seja, redução
• O custo da profilaxia é muito sensível ao custo de de sangramentos e melhor preservação da saúde
CFCs e à intensidade (frequência e dose) da profilaxia. articular) em comparação à terapia de reposição
Em longo prazo, parte do custo da profilaxia precoce episódica de fator, sem um aumento dramático dos
e de rotina pode ser mitigada pelos menores custos custos.20,57 Como consequência, foi reconhecido
de saúde na vida adulta em decorrência de melhores que a profilaxia com fator em baixa dose também
resultados de saúde articular, que podem diminuir a deve constituir o modo preferido para manejo de
hemartrose e outros sangramentos hemofílicos e, pacientes, mesmo em países com recursos limitados.
portanto, reduzir o número de visitas e internações • A demonstração dos benefícios dos regimes
hospitalares ao longo dos anos, assim como diminuir profiláticos em baixa dose em comparação à
ou eliminar a necessidade de cirurgias ortopédicas terapia episódica pode ser uma etapa importante
dispendiosas no futuro. para convencer as partes interessadas em países
• Em contraste, os custos diretos da terapia episódica de recursos limitados a efetuarem uma transição
aumentam com o tempo porque os numerosos gradual da terapia episódica para a profilaxia em
sangramentos articulares provocam lesão articular pacientes com hemofilia20,43-46,58,59
e maior suscetibilidade ao sangramento, muitas • Em relação aos países com limitações nos serviços
vezes resultando em maior necessidade de infusões de saúde, onde a profilaxia teria o potencial de ser
episódicas de CFC e cirurgia ortopédica em anos instituída gradualmente, a posição da WFH é que é
futuros. essencial iniciar a profilaxia em crianças pequenas,
• Existem custos indiretos consideráveis em longo uma vez que a prevenção do desenvolvimento
prazo, tanto pessoais quanto sociais, originados de articulações-alvo pode oferecer benefícios
da ausência de profilaxia em hemofílicos, incluindo pronunciados em longo prazo para a saúde articular.
absenteísmo da escola ou trabalho e limitações
das oportunidades vocacionais para adultos com Recomendação 6.10.1:
artropatia hemofílica. • Para pacientes com um fenótipo grave de
• O desenvolvimento de novos tratamentos para hemofilia A ou B em países com limitações nos
hemofilia provavelmente terá ramificações serviços de saúde, a WFH ainda recomenda a
econômicas consideráveis. Historicamente, quando profilaxia com veemência (mesmo que a única
novos tratamentos são introduzidos, eles tendem a opção seja o uso de doses mais baixas dos
ser mais caros que os “tratamentos mais antigos” fatores) preferencialmente à terapia episódica
disponíveis. com fatores para reduzir a hemartrose e outros
• Contudo, muitas vezes eles causam uma queda sangramentos espontâneos e agudos e preservar
do preço dos “tratamentos mais antigos”. Isto melhor a função articular.
pode provocar uma maior adoção da profilaxia (e
Capítulo 6: Profilaxia na Hemofilia | 105

6. 11 Novas definições de profilaxia REFERÊNCIAS

1. Blanchette VS, Key NS, Ljung LR, et al. Definitions in


• Com emicizumabe e possivelmente outros
hemophilia: communication from the SSC of the ISTH. J
tratamentos não relacionados a fatores no futuro,
Thromb Haemost. 2014;12(11):1935-1939.
assim como com CFCs EHL (particularmente FIX
EHL), são necessárias novas definições de profilaxia. 2. Mahlangu J, Oldenburg J, Paz-Priel I, et al. Emicizumab
As definições modernas de profilaxia deverão incluir prophylaxis in patients who have hemophilia A without
uma grande variedade de agentes hemostáticos inhibitors. N Engl J Med. 2018;379(9):811-822.
com diferentes mecanismos de ação e modos de 3. Carcao M, Escuriola-Ettingshausen C, Santagostino E, et
administração. al. The changing face of immune tolerance induction in
• A WFH propões o seguinte como nova definição haemophilia A with the advent of emicizumab. Haemophilia.
de profilaxia, com base nos resultados em vez das 2019;25(4):676-684.
doses de produtos terapêuticos ou do momento de
4. Nilsson IM, Berntorp E, Lofqvist T, Pettersson H. Twenty-
início do regime terapêutico: a administração regular
five years’ experience of prophylactic treatment in severe
de um ou mais agentes hemostáticos com o objetivo
haemophilia A and B. J Intern Med. 1992;232(1):25-32.
de prevenir sangramentos em hemofílicos, ao
mesmo tempo permitindo que tenham vidas ativas 5. Oldenburg J. Optimal treatment strategies for hemophilia:
e alcancem uma qualidade de vida comparável à de achieve- ments and limitations of current prophylactic
indivíduos não hemofílicos. regimens. Blood. 2015;125(13):2038-2044.

6. Collins PW, Blanchette VS, Fischer K, et al. Break-through


bleed- ing in relation to predicted factor VIII levels in
6. 12 Questões que devem ser patients receiving prophylactic treatment for severe
abordadas em pesquisas futuras hemophilia A. J Thromb Haemost. 2009;7(3):413-420.

7. den Uijl IE, Fischer K, Van Der Bom JG, Grobbee DE,
• A profilaxia no futuro criará novos desafios e a
Rosendaal FR, Plug I. Analysis of low frequency bleeding
necessidade de estudos de pesquisa, incluindo:
data: the association of joint bleeds according to baseline F
‒ como avaliar os efeitos farmacodinâmicos e
VIII activity levels. Haemophilia. 2011;17(1):41-44.
a farmacocinética dos novos tratamentos,
considerando que o monitoramento será mais 8. Soucie JM, Monahan PE, Kulkarni R, Konkle BA ,
complexo que a simples mensuração dos níveis Mazepa MA . The frequency of joint hemorrhages and
de FVIII ou FIX; procedures in nonsevere he- mophilia A vs B. Blood Adv.
‒ como determinar a intensidade da profilaxia 2018;2(16):2136-2144.
com emicizumabe e possivelmente outros 9. Collins PW, Young G, Knobe K, et al. Recombinant
tratamentos não relacionados a fatores, long-acting gly- coPEGylated factor IX in hemophilia
especialmente considerando os desafios atuais B: a multinational randomized phase 3 trial. Blood.
no monitoramento desses tratamentos; 2014;124(26):3880-3886.

como lidar com sangramentos agudos e
10. Kruse-Jarres R, Oldenburg J, Santagostino E, et al.
procedimentos cirúrgicos em pacientes em
Bleeding and safety outcomes in persons with haemophilia
profilaxia com emicizumabe e possivelmente
A without inhibitors: results from a prospective non-inter
outros tratamentos não relacionados a fatores;
ventional study in a real-world setting. Haemophilia.

como monitorar melhor os resultados clínicos
2019;25(2):213-220.
e eventos adversos em curto e longo prazo
com esses novos produtos, já que podem estar 11. Shima M, Nogami K, Nagami S, et al. A multicentre, open-
associados a resultados e eventos adversos não label study of emicizumab given ever y 2 or 4 weeks in
encontrados previamente; children with severe hae- mophilia A without inhibitors.
‒ como abordar o desenvolvimento de inibidores Haemophilia. 2019;25(6):979-987.
(tradicionalmente a maior ameaça ao manejo 12. Manco-Johnson MJ, Abshire TC, Shapiro AD, et al.
da hemofilia) e a erradicação de inibidores em Prophylaxis ver- sus episodic treatment to prevent joint
vista de emicizumabe e possivelmente outros disease in boys with severe hemophilia. N Engl J Med.
tratamentos não relacionados a fatores; 2007;357(6):535-544.
‒ como selecionar melhor um tratamento
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hemostático ou uma combinação de tratamentos
hae- morrhage in children and adolescents with severe
personalizada para um paciente individual.
haemophilia A or B—the impact of prophylactic treatment.
106 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

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108 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

7 TRATAMENTO DE
HEMORRAGIAS ESPECÍFICAS
Johnny Mahlangu1 | Gerard Dolan2 | Alison Dougall3 | Nicholas J. Goddard4 |
Enrique D. Preza Hernández5 | Margaret V. Ragni6 | Bradley Rayner7 |
Jerzy Windyga8 | Glenn F. Pierce9 | Alok Srivastava10

1. Departamento de Medicina Molecular e Hematologia, University of the Witwatersrand, National Health Laboratory Service,
Johannesburgo, África do Sul
2. Guy’s and St. Thomas’ Hospitals NHS Foundation Trust, Londres, Reino Unido
3. Special Care Dentistry Division of Child and Public Dental Health, School of Dental Science, Trinity College Dublin, Dublin Dental
University Hospital, Dublin, Irlanda
4. Departamento de Traumatologia e Ortopedia, Royal Free Hospital, Londres, Reino Unido
5. Cidade do México, México
6. Divisão de Hematologia/Oncologia, Departamento de Medicina, University of Pittsburgh Medical Center, Pittsburgh, Pensilvânia, EUA
7. Cidade do Cabo, África do Sul
8. Departamento de Distúrbios da Hemostasia e Medicina Interna, Laboratório de Hemostasia e Doenças Metabólicas, Institute of
Hematology and Transfusion Medicine, Varsóvia, Polônia
9. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
10. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações


são baseadas em consenso, o que é indicado por CB.

7. 1 Introdução apresentar sangramento espontâneos ocasionais e/


ou sangramento prolongado com trauma ou cirurgia
• A principal característica clínica da hemofilia de pequeno porte. (Ver o Capítulo 2: Cuidados
consiste em hemorragias espontâneas e/ou Abrangentes para Hemofilia — Tabela 2-1: Relação
traumáticas prolongadas, mais comumente no entre a gravidade do sangramento e o nível do fator
sistema musculoesquelético, com predominância de coagulação.)
de sangramentos intra-articulares nas grandes • Em geral, o principal tratamento para episódios
articulações sinoviais, ou seja, tornozelos, joelhos hemorrágicos em pacientes com hemofilia grave
e cotovelos, e com frequência nas articulações do consiste na terapia de reposição de fatores de
ombro, punho e quadris. O sangramento hemofílico coagulação imediata e reabilitação. Contudo,
também é comum nos músculos e tecidos moles de diferentes tipos de sangramentos e hemorragias
mucosas e menos comum em outros tecidos moles, em regiões anatômicas específicas podem exigir um
encéfalo e órgãos internos. Sem um tratamento manejo mais específico com medidas adicionais. É
adequado, esses sangramentos internos podem importante consultar os especialistas apropriados
causar complicações sérias e até mesmo apresentar para o manejo de sangramentos relacionados
um risco à vida. a regiões específicas. (Para a discussão e
• Os sintomas e tendências hemorrágicas dependem recomendações sobre hemorragias musculares e as
da gravidade da hemofilia e do nível de fator de complicações agudas e crônicas relacionadas a um
coagulação do paciente. sangramento musculoesquelético, ver o Capítulo 10:
• Indivíduos com hemofilia podem não apresentar Complicações Musculoesqueléticas — Hemorragia
necessariamente problemas com hemorragias muscular.)
anormais ou prolongadas que exijam terapia de • O objetivo do manejo de hemorragias específicas
reposição de fatores de coagulação até apresentarem não é apenas tratar o sangramento, mas também
um trauma sério ou passarem por uma cirurgia. prevenir a recorrência do sangramento, limitar as
Os pacientes com hemofilia moderada podem complicações e restaurar a função do tecido e/ou
órgão até o estado pré-sangramento.
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas | 109

• O diagnóstico correto de um sangramento Abrangentes para Hemofilia — Tratamento


específico constitui a primeira etapa e pode exigir domiciliar — Automanejo.)
uma combinação de avaliação clínica, avaliação • A educação do paciente e do cuidador deve incluir
laboratorial e investigações de imagem. instruções sobre as limitações e os possíveis efeitos
• Na maioria dos casos de cuidados em hemofilia, a colaterais dos agentes hemostáticos e quando
intervenção terapêutica pode preceder a avaliação consultar os profissionais de saúde para orientação
diagnóstica do paciente. O objetivo da intervenção e intervenção adicional.
precoce é limitar a extensão do sangramento e
reduzir as complicações hemorrágicas.
• A quantidade do agente hemostático usado para 7. 2 Hemorragia articular
tratar o sangramento e a duração do tratamento
dependem do local e da gravidade do sangramento. • O início de um sangramento em uma articulação
• Cada vez mais pacientes com hemofilia A estão geralmente é vivenciado pelos pacientes como uma
sendo tratados com profilaxia com emicizumabe; “aura” de sensação,3 descrita como uma sensação
este medicamento não é destinado ao tratamento de formigamento e opressão na articulação que
de episódios hemorrágicos agudos e sangramentos precede o aparecimento dos sinais clínicos. A
agudos (sangramentos que ocorrem entre as doses hemorragia articular (hemartrose) é definida como
profiláticas). um episódio caracterizado por uma combinação de
• Para sangramento agudo em pacientes sem qualquer um dos seguintes 3:
inibidores tratados com emicizumabe, deve ser usada ‒ o tumefação ou calor progressivos na pele sobre
uma infusão do fator VIII (FVIII) nas doses esperadas a articulação;
para obter hemostasia. Até o momento, não houve ‒ o dor progressiva; ou
relatos de casos de trombose ou microangiopatia ‒ o perda progressiva da amplitude de movimento
trombótica neste contexto.1 ou dificuldade para usar o membro em
• Pacientes com inibidores em uso de emicizumabe comparação à condição basal.
que apresentarem sangramentos agudos devem • A perda da amplitude de movimento associada à
ser tratados com fator VIIa ativado recombinante hemorragia articular limita tanto a flexão quanto a
(rFVIIa) nas doses esperadas para obter hemostasia. extensão.
O uso de concentrado de complexo de protrombina
ativado (aPCC) deve ser evitado em pacientes Terapia de reposição de fatores de coagulação
com inibidores tratados com emicizumabe que
apresentem um sangramento agudo. Se o uso de • O objetivo do tratamento da hemartrose aguda
aPCC for inevitável, doses mais baixas de a PCC é deter o sangramento o mais rápido possível.
podem ser usadas com o monitoramento atento Idealmente, o tratamento deve ser administrado
do paciente para detectar o desenvolvimento de assim que o paciente suspeitar de um sangramento
trombose e/ou microangiopatia trombótica.2 e antes do início de uma tumefação visível, perda da
• Para pacientes com inibidores que não estejam função articular e dor. 4
recebendo emicizumabe, devem ser usadas as • Um concentrado do fator de coagulação (CFC)
doses padrão de rFVIIa ou aPCC. deve ser administrado imediatamente em uma dose
suficiente para elevar o nível do fator do paciente o
Educação do paciente/cuidador bastante para deter o sangramento. 5-8 (Ver a Tabela
7-2.)
• Uma vez que a maioria dos sangramentos na • Em situações agudas, a avaliação do sangramento
hemofilia ocorre for a dos centros para tratamento deve incluir uma avaliação da história de
de hemofilia, a educação contínua do paciente/ sangramentos, exame físico e avaliação da dor. O
cuidador na família é um componente essencial do ultrassom pode ser uma ferramenta útil para ajudar
manejo de sangramentos. na avaliação de uma hemartrose inicial. 5
• É importante que os profissionais de saúde eduquem • A resposta ao tratamento é demonstrada por uma
os pacientes e cuidadores sobre o reconhecimento diminuição da dor e tumefação e um aumento
e tratamento de sangramentos, autocuidados da amplitude de movimento na articulação.
e automanejo em hemofilia e o possível risco As definições apresentadas na Tabela 7-1 são
de sangramentos e complicações associadas a recomendadas para a avaliação da resposta ao
diferentes circunstâncias e diferentes estágios tratamento de uma hemartrose aguda.3
do desenvolvimento. (Ver o Capítulo 2: Cuidados
110 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

TABELA 7-1 Definições de resposta ao tratamento

Excelente • Alívio completo da dor e/ou resolução completa dos sinais de sangramento contínuo após a
infusão inicial dentro de 8 h, sem exigir qualquer terapia de reposição de fator subsequente
dentro de 72 h após o início do sangramento

Boa • Alívio significativo da dor e/ou melhora dos sinais de sangramento dentro de
aproximadamente 8 h após uma única infusão, mas exigindo mais de uma dose de terapia
de reposição de fator dentro de 72 h para resolução completa

Moderada • Alívio modesto da dor e/ou melhora dos sinais de sangramento dentro de aproximadamente
8 h após a infusão inicial e exigindo mais de uma infusão dentro de 72 h, porém sem
resolução completa

Ausente • Melhora ausente ou mínima, ou agravamento da condição, dentro de aproximadamente 8 h


após a infusão inicial

Observações: As definições de resposta ao tratamento de uma hemartrose aguda acima referem-se ao tratamento com produtos
de meia-vida padrão em indivíduos hemofílicos negativos para inibidores. Essas definições podem exigir modificações para
pacientes com inibidores que estejam recebendo agentes de bypass como cobertura hemostática e pacientes que tenham recebido
concentrados de fatores de coagulação de meia-vida estendida. Podem ser necessárias modificações para estudos nos quais os
pacientes recebem a priori infusões de concentrados de fatores de coagulação em múltiplas doses para o tratamento de hemorragias
articulares/musculares agudas como parte de um programa de tratamento episódico otimizado.
Adaptado de Blanchette et al. (2014). 3

Recomendação 7.2.1: tratamento para o sangramento original para o qual


• Pacientes hemofílicos com hemartrose grave o tratamento foi introduzido.3
devem ser tratados imediatamente com uma ou • Uma articulação-alvo consiste em uma única
mais infusões intravenosas com concentrado do articulação na qual três ou mais sangramentos
fator de coagulação para reposição até que ocorra espontâneos tenham ocorrido em um período de 6
resolução do sangramento. CB meses consecutivos. 3
• Se os sinais e sintomas de sangramento persistirem
Recomendação 7.2.2: apesar de intervenções normalmente apropriadas e
• Pacientes hemofílicos com sangramento adequadas, a presença de inibidores ou diagnósticos
articular leve ou moderado devem receber uma alternativos como artrite séptica ou fratura devem
infusão intravenosa de concentrado do fator de ser considerados. (Ver o Capítulo 8: Inibidores do
coagulação, repetida se houver indicação clínica, Fator de Coagulação.)
dependendo da resolução do sangramento. CB
Manejo da dor
• Se o sangramento continuar durante as 6–12 horas
seguintes, deve ser adotado um plano de avaliação • A hemartrose aguda pode ser extremamente
revisado que inclua uma avaliação adicional dolorosa e a administração imediata de reposição
do diagnóstico (ou seja, ensaios de fator) e/ou do fator de coagulação e uma analgesia efetiva
intensificação da terapia de reposição de fator. constituem os aspectos centrais do manejo da dor.
• Dependendo da resposta à primeira dose do • Os analgésicos para uso em hemofílicos incluem
tratamento, outras doses podem ser necessárias, paracetamol, inibidores seletivos da COX-2 (mas
12 horas após a dose de carga inicial para hemofilia não outros AINEs), tramadol ou opioides.9-11 (Ver o
A (usando FVIII de meia-vida padrão) ou após 24 Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para Hemofilia —
horas para hemofilia B (usando um fator IX de meia- Manejo da dor.)
vida padrão [FIX]), para obter a resolução completa.7 • Muitos pacientes podem precisar de analgesia com
(Ver a Tabela 7-2.) opioides; qualquer uso de opioides deve ocorrer sob
• A necessidade de uma dose adicional de FVIII ou a orientação de um especialista em dor, uma vez
FIX de meia-vida estendida também dependerá da que mesmo esforços bem-intencionados podem
meia-vida do produto. provocar uma adição ao medicamento.
• Após uma resposta inicial moderada a excelente • O uso de analgésicos opioides em longo prazo deve
ao tratamento hemostático, um novo sangramento ser monitorado com atenção, mas de preferência
é definido como um sangramento que ocorre evitado devido à natureza crônica dos episódios
no período de 72 horas após a interrupção do hemorrágicos em indivíduos com hemofilia grave e
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas | 111

os riscos de adição à medicação. • Durante uma hemorragia articular, semiflexão


• Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para geralmente é a posição mais confortável e qualquer
Hemofilia — Manejo da dor. tentativa de mudar essa posição muitas vezes
exacerba a dor.15
Recomendação 7.2.3: • Dependendo do local da hemorragia articular,
• Em pacientes hemofílicos com hemartrose, a elevação da articulação afetada, se tolerada e
a intensidade da dor deve ser classificada e confortável, pode ajudar a reduzir a tumefação
monitorada de acordo com a escala de dor da relacionada à hemartrose.13
Organização Mundial de Saúde (OMS). CB • O repouso, no caso de hemorragia no quadril,
joelho ou tornozelo, ou o uso de uma tipoia para
Recomendação 7.2.4: sangramentos no cotovelo, ombro ou punho, é
• Pacientes hemofílicos com dor decorrente de aconselhável para imobilizar uma articulação com
hemartrose devem receber medicação analgésica sangramento grave até a resolução da dor.
de acordo com a intensidade da dor. CB • Assim que a dor e a tumefação começarem a ceder,
o paciente pode mudar a posição da articulação
Recomendação 7.2.5: afetada de uma posição de repouso para uma
• Em pacientes hemofílicos com dor intensa, o posição de função, aumentando a mobilização da
manejo da dor deve incluir opioides com base nos articulação de modo delicado e gradual.
sintomas clínicos, na extensão em que o paciente • Pacientes com sangramentos articulares no quadril,
se sinta confortável ao apoiar o peso ou usar a joelho ou tornozelo devem restringir o apoio do
articulação o máximo possível sem qualquer dor. peso até a restauração completa da amplitude de
CB. movimento e função articular pré-sangramento
e o desaparecimento da dor aguda e sintomas
Tratamento adjunto inflamatórios. É aconselhável evitar o apoio do
peso por 1 semana, com o uso de auxílios para
• Um elemento central no manejo dos sintomas de deambulação (por ex., muletas, andador) para
hemartrose é RICE (repouso, gelo, compressão, auxiliar a obter o apoio do peso progressivo sob a
elevação). Nos cuidados para hemofilia, a orientação de um membro da equipe de cuidados
imobilização também é considerada um aspecto abrangentes com experiência em reabilitação
desta abordagem; portanto, PRICE, que inclui o musculoesquelética após um sangramento.13 A dor
conceito de “proteção” da área lesada, costuma ser também pode ser usada para orientar a retomada do
recomendado. A compressão pode ajudar a reduzir apoio do peso.
o risco de um sangramento reincidente. Entretanto, • Essas medidas adjuntas não detêm o sangramento
uma vez que o repouso prolongado pode ter um articular, mas podem ajudar a controlar e reduzir os
efeito negativo sobre a função articular por meio sintomas de dor e inflamação.7
da redução da força muscular, o acrônimo POLICE, • Ver também o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes
que substitui “repouso” por “carga ótima”, foi para Hemofilia — Tratamento adjunto.
proposto para encorajar os médicos a estabelecer
um equilíbrio entre repouso, mobilização precoce Recomendação 7.2.6:
e apoio do peso para prevenir as complicações • Pacientes hemofílicos com hemartrose devem
indesejáveis associadas à imobilização, ao mesmo ser tratados usando a abordagem RICE (repouso,
tempo minimizando a ocorrência de sangramentos gelo, compressão e elevação) além da reposição
reincidentes que provocam sinovite e lesão da de concentrado do fator de coagulação.
cartilagem.12 • OBSERVAÇÃO: A WFH reconhece que, em
• Foi demonstrado que a aplicação de gelo reduz algumas regiões do mundo, RICE pode ser o
a dor relacionada à hemartrose aguda; porém, foi único tratamento inicial disponível ou o melhor
sugerido que uma diminuição da temperatura intra- tratamento disponível na ausência de um
articular poderia interferir com a coagulação na suprimento adequado de CFCs ou outros agentes
presença de lesões teciduais agudas.13,14 O uso de hemostáticos. CB.
gelo sem contato direto por curtos períodos de 15–  
20 minutos logo após a ocorrência do sangramento Recomendação 7.2.7:
é considerado aceitável, mas não deve exceder 6 • Em pacientes hemofílicos com hemartrose, o apoio
horas.13 (Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes do peso deve ser evitado até que os sintomas
para Hemofilia — Tratamento adjunto.) melhorem e o paciente sinta-se confortável para
apoiar o peso sem dor significativa. CB
112 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 7.2.8: ‒ o hemartrose tensa e dolorosa que não apresente


• Em pacientes hemofílicos, o uso de analgesia melhora dentro de 24 horas após a infusão inicial
com opioides no manejo da dor deve ter duração (este é particularmente o caso de sangramentos
limitada, na medida do possível. CB na articulação do quadril devido à anatomia
particular dessa articulação); ou
Fisioterapia e reabilitação ‒ o suspeita clínica de infecção/artrite séptica.7,19,20
• Inibidores devem ser considerados como uma
• Fisioterapia e reabilitação para o manejo de pacientes possível causa de sangramento persistente apesar
com hemofilia referem-se ao uso do treinamento de de uma terapia de reposição de fator adequada e a
flexibilidade e força, retreinamento proprioceptivo/ presença de inibidores deve ser avaliada antes de se
sensório-motor e exercícios de equilíbrio e funcionais tentar uma artrocentese.
para restaurar ou preservar a função articular e • Para pacientes hemofílicos com inibidores, outros
muscular.16 agentes hemostáticos apropriados devem ser
• Uma avaliação minuciosa do sangramento articular usados para fornecer cobertura hemostática para o
agudo, seguida por fisioterapia personalizada para a procedimento, conforme necessário.7 (Ver “Manejo
situação clínica do indivíduo, é essencial para obter de sangramentos” no Capítulo 8: Inibidores do Fator
um grau de sucesso significativo.16 de Coagulação.)
• Idealmente, a fisioterapia deve ser realizada com • A artrocentese sempre deve ser realizada sob
uma cobertura de fator ou hemostática adequada. Se condições de assepsia rigorosa para evitar a
uma cobertura hemostática não estiver disponível, introdução de infecções intra-articulares.
a fisioterapia deve ser aplicada com cautela e os • Quando necessária, a artrocentese deve ser
exercícios devem ser iniciados de modo criterioso. realizada apenas com cobertura de fator, com níveis
• É importante monitorar a articulação afetada de atividade do fator de no mínimo 30–50 UI/dL
com atenção durante a fisioterapia e avaliar se o mantidos por 48–72 horas. A artrocentese não deve
tratamento hemostático é necessário para prevenir ser realizada em circunstâncias nas quais a cobertura
a recorrência do sangramento.7,17 de fator (ou uma cobertura equivalente com outros
• A reabilitação deve incluir exercícios de amplitude de agentes hemostáticos) não esteja disponível.21
movimento ativos e passivos. • Uma agulha de grande calibre, pelo menos calibre 16,
• O paciente deve continuar os exercícios ativos e deve ser usada. A articulação deve ser imobilizada
o treinamento proprioceptivo até a restauração com compressão leve após a artrocentese e o
completa da amplitude de movimento e função apoio do peso deve ser restrito até que o sangue
articular pré-sangramento e o desaparecimento dos remanescente seja absorvido ou a ausência de dor
sinais de sinovite aguda.18 permita a mobilização.
• A artrocentese deve ser seguida por fisioterapia e
Recomendação 7.2.9: reabilitação cuidadosamente supervisionadas.
• Em pacientes hemofílicos com hemartrose, • Ver também o Capítulo 10: Complicações
os exercícios de fisioterapia realizados com Musculoesqueléticas.
cobertura de fator de coagulação devem começar
assim que os sintomas dolorosos terminarem. CB Recomendação 7.2.11:
• Para pacientes hemofílicos sem inibidores em
Recomendação 7.2.10: terapia de reposição de fator que apresentem
• Em pacientes hemofílicos com hemartrose, o hemorragia articular e dor persistente, a
objetivo da fisioterapia deve ser o retorno da artrocentese é recomendada apenas se houver
função articular ao estado pré-sangramento. CB uma hemartrose tensa e dolorosa ou suspeita
de infecção. A artrocentese de rotina não é
Artrocentese aconselhada.
• OBSERVAÇÃO: Em muitos serviços de saúde, a
• A artrocentese (remoção do sangue de uma artrocentese não é uma prática comum devido ao
articulação) pode ser considerada em pacientes medo de introduzir uma infecção intra-articular.
hemofílicos que apresentem sintomas hemorrágicos CB
prolongados ou agravamento, incluindo:
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas | 113

7. 3 Hemorragia no sistema nervoso • Uma hemorragia intracraniana pode constituir uma


central e intracraniana indicação de profilaxia secundária (profilaxia em
curto prazo por 3–6 meses ou durante a vida toda),
especialmente quando for observado um risco
• Todas as lesões cefálicas, confirmadas ou suspeitas,
relativamente alto de recorrência do sangramento
cefaleias significativas, incluindo cefaleias que
(por ex., na presença de infecção pelo vírus da
durem várias horas, e sonolência em alguns casos
imunodeficiência humana [HIV]).22,26,27
devem ser tratadas como possíveis hemorragias
intracranianas. Uma dor nas costas súbita e intensa
pode ser um sintoma de sangramento ao redor da 7. 4 Hemorragia em garganta
medula espinal. e pescoço
• No caso de trauma cefálico significativo ou suspeita
clínica de hemorragia no sistema nervoso central • O sangramento na garganta ou no pescoço pode
e/ou intracraniana, é necessário o tratamento ser decorrente de patologia local, trauma ou tosse
imediato com infusão de CFC sem aguardar o intensa e pode se manifestar como tumefação
desenvolvimento de mais sintomas ou uma avaliação ou dor. Esta é uma emergência médica porque
laboratorial ou radiológica. pode provocar uma obstrução das vias aéreas. Se
  indicado, elevar a cabeça delicadamente para ajudar
Recomendação 7.3.1: a reduzir a obstrução das vias aéreas decorrente da
• Em pacientes hemofílicos que apresentem uma hemorragia.
suspeita de hemorragia no sistema nervoso • Tratar imediatamente com CFC para elevar o nível
central ou sintomas relacionados a hemorragia, do fator do paciente quando ocorrer um trauma
a terapia de reposição de fatores de coagulação importante ou sintomas hemorrágicos na região
deve ser administrada imediatamente, antes da da garganta e pescoço, sem qualquer demora que
realização de investigações. CB possa ocorrer enquanto se aguarda a avaliação
completa. (Ver a Tabela 7-2.)
• Administrar imediatamente a terapia de reposição • A hospitalização imediata e avaliação médica
de fatores de coagulação apropriada assim que por um especialista em otorrinolaringologia são
ocorrer um trauma significativo ou sintomas, antes necessárias.28
de qualquer outra intervenção, e manter o nível • Níveis de fator protetores devem ser mantidos até a
do fator até que a etiologia seja definida. Se um resolução dos sintomas.28-30 (Ver a Tabela 7-2.)
sangramento for confirmado, manter o nível do fator
apropriado por 10–14 dias. 22,23 (Ver a Tabela 7-2.) Recomendação 7.4.1:
• Uma avaliação médica imediata e hospitalização • Em pacientes hemofílicos com sangramento em
são necessárias, incluindo uma tomografia garganta e pescoço, a terapia de reposição de
computadorizada (TC) ou ressonância magnética fatores de coagulação deve ser administrada
(RM) do encéfalo e uma consulta neurológica assim imediatamente e uma avaliação de cuidados
que possível.24,25 Uma ultrassonografia pode ser críticos deve ser solicitada. CB
considerada em crianças.
Recomendação 7.4.2:
Recomendação 7.3.2: • Em pacientes hemofílicos com sangramento
• Em pacientes hemofílicos que apresentem uma em garganta e pescoço, incluindo um ferimento
suspeita de hemorragia no sistema nervoso da língua, a terapia de reposição de fatores de
central que possa provocar um risco à vida, a coagulação deve continuar até a resolução dos
terapia de reposição de fatores de coagulação sintomas hemorrágicos. CB
deve ser administrada imediatamente antes
da realização de investigações e mantida até a • Para prevenir uma hemorragia oral em pacientes
resolução do sangramento. com amigdalite grave, a profilaxia com CFCs,
• OBSERVAÇÃO: Em pacientes hemofílicos que desmopressina (DDAVP; para indivíduos com
tenham recebido tratamento para uma hemorragia hemofilia A leve ou moderada) ou antifibrinolíticos
no sistema nervoso central, a profilaxia secundária (ácido épsilon-aminocaproico [EACA] e ácido
é recomendada para prevenir a recorrência do tranexâmico) é aconselhada, além de cultura
sangramento. CB bacteriana e tratamento com os antibióticos
apropriados.
114 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 7.4.3: hemoglobina. No sangramento GI, a investigação de


• Em pacientes hemofílicos com sangramento escolha é a endoscopia.
em garganta e pescoço e infecção local, • Em pacientes com doença hepática avançada,
antifibrinolíticos devem ser introduzidos para os níveis de amônia devem ser monitorados e o
tratar o sangramento e antibióticos para tratar a tratamento para prevenir encefalopatia clínica
infecção. CB deve ser iniciado usando lactulose ou um agente
semelhante.

7. 5 Hemorragia Recomendação 7.5.3:


gastrointestinal/abdominal • Em pacientes hemofílicos com sangramento
gastrointestinal, imagens endoscópicas e
• Uma hemorragia gastrointestinal (GI) aguda pode radiológicas devem ser obtidas para identificar
se manifestar como hematêmese, hematoquezia todos os locais de sangramento. CB
(eliminação retal de sangue fresco) ou melena.
• Em um paciente com doença hepática, o primeiro Recomendação 7.5.4:
sinal de um sangramento GI pode ser um uma • Em pacientes hemofílicos com sangramento
encefalopatia hepática, uma vez que o fígado gastrointestinal, os níveis de hemoglobina devem
insuficiente não consegue processar a alta carga ser monitorados regularmente. CB
proteica do sangramento GI.
• Qualquer sinal de sangramento GI e/ou hemorragia • Uma hemorragia abdominal aguda (incluindo
aguda no abdômen requer uma avaliação médica retroperitoneal) pode se manifestar como dor e
imediata. Todos os pacientes com hemorragia GI distensão abdominal e pode ser confundida com
devem ser hospitalizados. várias condições infecciosas ou cirúrgicas. Também
pode se apresentar como íleo paralítico.
Recomendação 7.5.1: • Os sangramentos abdominais devem ser tratados
• Em pacientes hemofílicos com sangramento imediatamente para elevar e manter os níveis de fator
gastrointestinal, os níveis de fator devem do paciente até que a etiologia possa ser definida.
ser aumentados imediatamente e a etiologia • Realizar uma avaliação clínica do paciente com um
subjacente do sangramento deve ser identificada exame físico, avaliação da dor e coleta de história,
e tratada. CB incluindo a história de sangramentos. Um ultrassom
e/ou TC podem identificar o local e a extensão do
• Sangramentos GI devem ser tratados assim que sangramento abdominal.
possível após uma lesão e/ou o início dos primeiros • Determinar o tratamento apropriado em consulta a
sintomas usando terapia de reposição de fatores de um especialista.28-30 (Ver a Tabela 7-2.)
coagulação para elevar o nível do fator do paciente,
mantendo os níveis de fator até que o sangramento
tenha terminado e a etiologia da hemorragia tenha 7. 6 Hemorragia renal
sido definida. 31,32 (Ver a Tabela 7-2.)
• Um sangramento nos rins (hemorragia renal) pode
Recomendação 7.5.2: ocorrer espontaneamente ou após uma lesão.
• Pacientes hemofílicos com sangramento • Um sangramento no trato urinário pode ser o primeiro
gastrointestinal devem receber uma prescrição sinal de malignidade na bexiga, particularmente em
de antifibrinolíticos. CB pacientes mais velhos.
• Os sintomas podem incluir dor abdominal e
• Geralmente, os antifibrinolíticos representam um tumefação, dor intensa no flanco e nas costas e
tratamento adjunto eficaz tanto para pacientes com hematúria.
hemofilia A quando hemofilia B. O uso concomitante • Pacientes com hematúria leve indolor podem ser
de aPCC ou um concentrado de complexo tratados com repouso absoluto no leito e hidratação
protrombínico (CCP) pode ser realizado com cautela vigorosa (3 L/m2 de área de superfície corporal/
em alguns pacientes. dia), com ou sem reposição de fator de coagulação,
• Tratar a origem da hemorragia conforme a indicação. quando viável, por 48 horas, a não ser que ocorra
• Monitorar os níveis de hemoglobina regularmente um comprometimento renal ou cardíaco simultâneo.
e tratar a anemia ou choque quando necessário. Evitar DDAVP durante uma hidratação intensiva.33
Realizar uma endoscopia, se houver indicação clínica, • Todos os sangramentos renais devem ser tratados
em qualquer paciente com queda dos níveis de como urgentes.
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas | 115

Recomendação 7.6.1: Recomendação 7.7.2:


• Para pacientes hemofílicos com uma hemorragia • Em pacientes hemofílicos com sangramento
do trato urinário, o local de sangramento deve ser ocular, um exame físico regular deve ser
identificado e a terapia de reposição de fatores de realizado a cada 6–8 horas por toda a duração do
coagulação deve ser administrada imediatamente. sangramento ocular.
CB • OBSERVAÇÃO: Exames de imagem podem ser
incluídos quando houver indicação clínica. CB.
Recomendação 7.6.2:
• Pacientes hemofílicos com sangramento renal Recomendação 7.7.3:
devem receber hidratação adequada e receber • Em pacientes hemofílicos com sangramento
uma prescrição de repouso no leito até o ocular, o tratamento e o monitoramento devem
sangramento terminar. CB ser mantidos até a resolução do sangramento. CB

• Se houver dor ou hematúria macroscópica • Encaminhar o paciente para avaliação por um


persistente, é importante ficar atento a coágulos oftalmologista assim que possível. (Ver a Tabela
e obstrução urinária.33,34 Evitar o uso de agentes 7-2.)
antifibrinolíticos.33

Recomendação 7.6.3: 7. 8 Hemorragia oral


• Em pacientes hemofílicos com sangramento renal,
antifibrinolíticos não devem ser administrados. • As causas mais comuns de sangramento na
CB boca (hemorragia oral) são extração dentária,
sangramento gengival (geralmente em decorrência
Recomendação 7.6.4: de uma higiene oral inadequada) e trauma.
• Em pacientes hemofílicos com sangramento renal, • O sangramento gengival é um sinal de doença
a terapia de reposição de fatores de coagulação gengival inflamatória (gengivite) e pode ser prevenido
deve continuar até a resolução do sangramento. e tratado em hemofílicos. Ele não é causado pelo
CB distúrbio hemorrágico subjacente em si.
• O encaminhamento precoce a um profissional
• Encaminhar o paciente a um urologista para avaliação de odontologia para avaliação e tratamento e
de uma causa local se a hematúria (hematúria aconselhamento periodontal apropriado reduzirá
visível/macroscópica ou microscópica) persistir ou se o sangramento após a escovação, prevenirá
houver episódios repetidos. (Ver a Tabela 7-2.) a progressão da doença gengival e reduzirá a
probabilidade de perda precoce dos dentes e o risco
de efeitos sistêmicos associados.
7. 7 Hemorragia ocular • Outras causas menos comuns de sangramento oral
podem incluir: autolesão, perda de dentes decíduos
(dentes de leite) e cirurgia odontológica recente sem
• Um sangramento no olho (hemorragia ocular) é
medidas hemostáticas apropriadas estabelecidas.
pouco comum, exceto quando associado a trauma
• O sangramento após a perda de dentes decíduos
ou infecção no olho.
em geral não é prolongado se for reconhecido e
• Sangramentos oculares devem ser tratados
tratado no início. Deve-se aplicar uma pressão direta
imediatamente para elevar o nível do fator do
no soquete alveolar usando um pedaço de gaze
paciente, com níveis de fator mantidos até que
umedecida, que será mantida por no mínimo 15–30
a etiologia do sangramento possa ser definida,
minutos. Os pais/cuidadores devem ser informados
seguido por tratamento apropriado após consulta a
que, se o sangramento persistir por mais de 6
um especialista.28-30
horas, devem consultar o centro para tratamento de
hemofilia para suporte adicional.
Recomendação 7.7.1:
• Um plano de cuidados hemostáticos pré-operatórios
• Em pacientes hemofílicos com sangramento
cuidadosamente planejado é aconselhável para
ocular, os níveis do fator de coagulação devem ser
pacientes com hemofilia prestes a realizar uma
elevados imediatamente e o paciente avaliado por
cirurgia oral ou procedimentos odontológicos
um oftalmologista. CB
invasivos para evitar um sangramento
pós-operatório.
116 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 7.8.1: • Depois que a hemostasia for obtida, um manejo pós-


• Em pacientes hemofílicos com sangramento oral, operatório rigoroso reduzirá o risco de sangramento
o local do sangramento deve ser identificado reincidente.
e uma pressão direta e/ou suturas devem ser • Pacientes com hemofilia devem ser aconselhados a:
aplicadas, se possível. CB ‒ usar agentes antifibrinolíticos sistêmicos e/ou
tópicos por 5–7 dias;
Recomendação 7.8.2: ‒ abster-se de esportes e exercícios intensos por
• Em pacientes hemofílicos com sangramento 3–5 dias;
oral, antifibrinolíticos devem ser prescritos e ‒ ingerir uma dieta mole sem enxague vigoroso da
administrados nas doses apropriadas. CB boca por 3–5 dias;
‒ abster-se de fumar ou reduzir o fumo durante no
• Agentes antifibrinolíticos devem ser usados com mínimo 24 horas; e
cautela em pacientes com hemofilia B que estejam ‒ considerar o uso de um protetor bucal macio para
sendo tratados com altas doses de CCP ou em proteger a ferida em longo prazo, se necessário.
pacientes com inibidores tratados com aPCC.35,36 • Ver também o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes
para Hemofilia — Cuidado e manejo odontológico.
Recomendação 7.8.3:
• Em pacientes hemofílicos com sangramento oral
persistente, a terapia de reposição de fatores 7. 9 Epistaxe
de coagulação deve ser administrada junto com
• Um sangramento no nariz (epistaxe) pode ocorrer
medidas locais como suturas e aplicação tópica
com um ferimento ou irritação da membrana mucosa
de adrenalina para deter o sangramento. CB
nasal.
• Hemofílicos podem apresentar sangramentos nasais
• Pacientes que apresentarem um sangramento
frequentes e prolongados que podem representar
prolongado na boca deve procurar uma consulta
incômodos menores ou eventos importantes que
inicial com sua equipe de hemofilia em associação
exigem atendimento médico em um hospital ou
ao dentista ou cirurgião bucomaxilofacial para
pronto-socorro.
determinar a fonte e a intensidade do sangramento.
• Geralmente a terapia de reposição de fatores de
• Se um sangramento inesperado ocorrer após
coagulação não é necessária, a não ser que o
um procedimento odontológico invasivo
sangramento seja grave ou recorrente.28,29
cuidadosamente planejado, exames laboratoriais
devem ser realizados paralelamente ao manejo
Recomendação 7.9.1:
do sangramento oral para identificar as possíveis
• Em pacientes hemofílicos com epistaxe, a cabeça
causas, por ex., a presença de um inibidor ou defeito
deve ser elevada e uma compressão fria deve ser
da função plaquetária decorrente da medicação.
aplicada à área de Little no nariz. CB
• Um sangramento oral persistente deve ser tratado
usando medidas locais e/ou sistêmicas em estágios,
Recomendação 7.9.2:
incluindo:
• Em pacientes hemofílicos com epistaxe, o
‒ pressão direta na área usando um pedaço de
tamponamento nasal deve ser evitado porque
gaze umedecida, mantida por no mínimo 15–30
pode causar sangramento quando removido.
minutos;
Entretanto, na prática, o tamponamento nasal é
‒ anestesia local com adrenalina/epinefrina para
amplamente usado. CB
auxiliar na vasoconstrição local;

‒ suturas para fechamento da ferida;
Recomendação 7.9.3:
‒ aplicação de agentes hemostáticos locais, por
• Em pacientes hemofílicos com epistaxe, uma gaze
ex., celulose oxidada, trombina, selante de fibrina
embebida em um agente antifibrinolítico pode ser
ou similar;
usada além da terapia de reposição de fatores de
‒ uso de antifibrinolíticos orais ou tópicos na forma
coagulação. CB
de colutório ou pasta29,30;
‒ tratamento sistêmico de escolha, por ex.,
• Pacientes com epistaxe aguda devem receber
reposição de CFC, DDAVP ou tratamento
tratamento de primeiros-socorros do seguinte modo:
antifibrinolítico, conforme a orientação da equipe
‒ Colocar a cabeça do paciente posicionada para a
de hemofilia; e
frente para evitar a deglutição de sangue e fazer
‒ monitoramento de sinais vitais e tratamento de
o paciente assoar com delicadeza os coágulos
anemia, se necessário.
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas | 117

mais delgados. 7. 10 Lacerações e escoriações


‒ Aplicar uma pressão firme e contínua com uma
gaze embebida em água gelada no septo nasal • Lacerações e escoriações são sangramentos
anterior, ou seja, na área de Little, por 5–10 externos causados por cortes ou arranhões
minutos. superficiais ou profundos na superfície da pele.
‒ Um agente antifibrinolítico aplicado localmente • Lacerações superficiais devem ser tratadas com
usando uma gaze embebida é útil. medidas de primeiros-socorros.
• O tamponamento nasal está contraindicado porque • Para lacerações profundas, elevar o nível do fator do
o revestimento endotelial vascular é destruído paciente e então suturar a ferida, se apropriado.28-30
após a remoção do material de tamponamento, (Ver a Tabela 7-2.)
dificultando a hemostasia. A cauterização constitui
uma alternativa eficaz. Recomendação 7.10.1:
• Para uma epistaxe especificamente relacionada • Em pacientes hemofílicos com lacerações e
a alergias, infecções respiratórias superiores ou abrasões, a terapia de reposição de fatores
alterações sazonais, administrar anti-histamínicos e de coagulação deve ser administrada e as
descongestionantes, se indicados. feridas devem ser suturadas imediatamente,
• Para uma epistaxe causada por infecção, administrar se apropriado, após consulta aos cirurgiões
antibióticos, se indicados. apropriados. CB
• Se a epistaxe for prolongada ou ocorrer com
frequência, avaliar a presença de anemia e tratar de • Uma cobertura hemostática deve ser considerada
modo apropriado. para a remoção da sutura, se o risco de sangramento
• Para pacientes com epistaxes graves e recorrentes, for considerado alto.
uma consulta a um especialista e medidas
preventivas são recomendadas. A consulta a um
otorrinolaringologista é aconselhável se a epistaxe 7. 11 Hemorragia em tecidos moles
for persistente ou recorrente.
• Uma hemorragia em tecidos moles (hematoma)
• Em casos graves ou persistentes, a oclusão
ocorre nos músculos, ligamentos, tendões e espaços
terapêutica do suprimento arterial para o nariz pode
subcutâneos.
estar indicada.
• As lesões comuns dos tecidos moles costumam ser
• As medidas preventivas para reduzir o risco de
causadas por entorses ou distensões, uma pancada
epistaxe incluem:
que provoque uma contusão ou uso excessivo
‒ o aumentar a umidade do ambiente;
de uma parte do corpo específica. Os sintomas
‒ o aplicar géis (por ex., vaselina ou gotas/gel
dependem do local da hemorragia.
de solução fisiológica) na mucosa nasal para
• A terapia de reposição de fatores de coagulação pode
preservar a umidade ou administrar um spray de
não ser necessária para a maioria dos sangramentos
solução fisiológica;
superficiais em tecidos moles. A aplicação de uma
‒ o aderir às medicações prescritas, como anti-
pressão firme e gelo pode ser útil.
histamínicos, descongestionantes e antibióticos,
• Uma hemorragia em um compartimento aberto,
conforme as orientações.
como o espaço retroperitoneal, escroto, nádegas ou
coxas, pode provocar uma grande perda sanguínea.
Recomendação 7.9.4:
Se houver suspeita dessa situação, é necessária
• Em pacientes hemofílicos com epistaxe
uma terapia de reposição de fatores de coagulação
persistente, os sinais vitais e os níveis de
imediata para diminuir o sangramento, assim como
hemoglobina devem ser monitorados até o
gelo e tratamento adjunto para reduzir a dor, o
sangramento acabar (geralmente dentro de 24–
metabolismo do tecido, o edema e a inflamação.13
48 horas). CB
• Avaliar a gravidade da hemorragia do paciente e
um possível envolvimento neurovascular distal.
Recomendação 7.9.5:
Descartar um possível trauma em espaços que
• Em pacientes hemofílicos com epistaxe recorrente,
contenham os órgãos vitais, como a cabeça ou o
a patologia subjacente deve ser identificada e
abdômen.
tratada imediatamente. Descongestionantes e
• A avaliação contínua deve ser considerada para
anti-histamínicos devem ajudar se o sangramento
evitar a síndrome compartimental.28,29
estiver relacionado a uma alergia e antibióticos
devem ser administrados se o sangramento
estiver relacionado a uma infecção. CB
118 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• Monitorar regularmente os níveis de hemoglobina e 7. 12 Padrões de prática em


os sinais vitais até que o sangramento tenha parado reposição de CFC
e/ou a função seja restaurada.
• Ver também o Capítulo 10: Complicações • Os níveis plasmáticos máximos desejados de fator
Musculoesqueléticas. mostrados na Tabela 7-2 refletem a variação da
prática na comunidade e fazem parte das diretrizes
da WFH desde 2005. Durante esse longo período,
eles ajudaram a orientar os cuidados clínicos, assim
como as pesquisas, particularmente para hemostasia
cirúrgica, sem o relato de quaisquer preocupações
de segurança. São necessárias mais pesquisas para
avaliar essas práticas de modo mais crítico.

TABELA 7-2 Padrões de prática: níveis plasmáticos máximos de fatores e duração da administração

Hemofilia A Hemofilia B
Padrão de prática com dose Padrão de prática com dose Padrão de prática com dose Padrão de prática com dose
mais baixa mais alta mais baixa mais alta
Nível Duração do Nível Duração do Nível Duração do Nível Duração do
máximo do tratamento máximo do tratamento máximo do tratamento máximo do tratamento
Tipo de hemorragia fator (UI/dL) (d) fator (UI/dL) (d) fator (UI/dL) (d) fator (UI/dL) (d)
Articular 10-20 1-2 a 40-60 1-2 a 10-20 1-2 a 40-60 1-2 a
Muscular superficial/ 10-20 2-3 a 40-60 2-3 a 10-20 2-3 a 40-60 2-3 a
sem
comprometimento
NV (exceto iliopsoas)
Iliopsoas ou músculo profundo com lesão NV ou perda sanguínea substancial
Inicial 20-40 1-2 80-100 1-2 15-30 1-2 60-80 1-2
Manutenção 10-20 3-5 b 30-60 3-5 b 10-20 3-5 b 30-60 3-5 b
Intracraniana
Inicial 50-80 1-3 80-100 1-7 50-80 1-3 60-80 1-7
Manutenção 20-40 8-14 50 8-21 20-40 8-14 30 8-21
30-50 4-7 – – 30-50 4-7 – –
Garganta e pescoço
Inicial 30-50 1-3 80-100 1-7 30-50 1-3 60-80 1-7
Manutenção 10-20 4-7 50 8-14 10-20 4-7 30 8-14
Gastrointestinal
Inicial 30-50 1-3 80-100 7-14 30-50 1-3 60-80 7-14
Manutenção 10-20 4-7 50 10-20 4-7 30
Renal 20-40 3-5 50 3-5 15-30 3-5 40 3-5
Laceração profunda 20-40 5-7 50 5-7 15-30 5-7 40 5-7
Cirurgia (grande porte)
Pré-operatório 60-80 80-100 50-70 60-80
Pós-operatório 30-40 1-3 60-80 1-3 30-40 1-3 40-60 1-3
20-30 4-6 40-60 4-6 20-30 4-6 30-50 4-6
10-20 7-14 30-50 7-14 10-20 7-14 20-40 7-14
Cirurgia (pequeno porte)
Pré-operatório 40-80 50-80 40-80 50-80
Pós-operatório 20-50 1-5 c 30-80 1-5 c 20-50 1-5 c 30-80 1-5 c

Observações: Nesta tabela, os níveis máximos desejados de fator na reposição de CFC, mostrados para o tratamento de hemorragias
em diferentes locais anatômicos, representam as faixas nos padrões de prática global que dependem dos recursos disponíveis. Acima
de tudo, deve-se reconhecer que o objetivo desse tratamento é o controle efetivo do sangramento e ele deve ser o mesmo em todas
as partes do mundo. Níveis mais baixos de reposição de CFC exigem uma observação muito mais atenta para avaliar a eficácia do
controle do sangramento, possivelmente com maior chance de exigir uma reposição de CFC adicional para obter o nível plasmático
pretendido, assim como os resultados hemostáticos e musculoesqueléticos.
Abreviações: CFC: concentrado do fator de coagulação; NV: neurovascular.
a
Pode ser mais longa se a resposta for inadequada.
b
Às vezes é mais longa como profilaxia secundária durante a fisioterapia.
c
Dependendo do procedimento; o número de doses depende da meia-vida do CFC usado.
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas | 119

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INFORMAÇÕES DE SUPORTE
Outras informações de suporte podem ser encontradas
on-line na seção Informações de Suporte.
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação | 121

8 INIBIDORES DO FATOR
DE COAGULAÇÃO
Margaret V. Ragni1 | Erik Berntorp2 | Manuel Carcao3 | Carmen Escuriola Ettingshausen4 |
Augustas Nedzinskas5 | Margareth C. Ozelo6 | Enrique D. Preza Hernández7 | Andrew Selvaggi8 |
H. Marijke van den Berg9 | Glenn F. Pierce10 | Alok Srivastava11

1. Divisão de Hematologia/Oncologia, Departamento de Medicina, University of Pittsburgh Medical Center, Pittsburgh, Pensilvânia, EUA
2. Malmö Centre for Trombosis and Haemostasis, Lund University, Malmö, Suécia
3. Departamento de Pediatria, University of Toronto, Divisão de Hematologia/Oncologia, Hospital for Sick Children, Toronto, ON, Canadá
4. Haemophilia Centre Rhein Main, Frankfurt-Mörfelden, Alemanha
5. Ariogala, Lituânia
6. INCT do Sangue Hemocentro UNICAMP, Universidade de Campinas, Campinas, SP, Brasil
7. Cidade do México, México
8. Melbourne, Austrália
9. PedNet Haemophilia Research Foundation, Baarn, Países Baixos
10. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
11. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações um desafio maior em pacientes hemofílicos com
são baseadas em consenso, o que é indicado por CB. inibidores que naqueles sem inibidores. Os inibidores
de FVIII ou FIX estão associados a um maior ônus da
Este capítulo descreve a formação de inibidores, uma das doença, incluindo um maior risco de complicações
complicações mais sérias no tratamento da hemofilia, e fornece
musculoesqueléticas, dor, limitações físicas e
as principais definições e orientações sobre a triagem, testes e
tratamento de inibidores. O manejo de inibidores na hemofilia A dificuldades no tratamento, que podem afetar a
e inibidores na hemofilia B é discutido separadamente devido às função física, a capacidade para atividades físicas e
diferenças na incidência e tratamento de inibidores. a qualidade de vida dos pacientes.
Todas as recomendações sobre o uso de produtos neste capítulo • Além disso, a resposta imunológica a produtos de
são realizadas com a suposição de que um produto específico esteja FVIII e FIX é pouco compreendida e, na ausência
disponível em um país, região ou sistema de saúde em particular. de evidências, ainda existem áreas de informações
em desenvolvimento e às vezes ambíguas ou
conflitantes sobre o manejo de inibidores.
8. 1 Introdução • Além disso, embora estejam surgindo novos
tratamentos e estratégias para o tratamento e
• Os “inibidores” em hemofilia são anticorpos IgG
erradicação de inibidores que podem oferecer
contra o fator de coagulação VIII (FVIII) ou fator
benefícios, os resultados clínicos em longo prazo
IX (FIX) exógenos que neutralizam a função dos
ainda são desconhecidos.
concentrados de fatores de coagulação (CFCs)
• Existem diferenças significativas entre a hemofilia
infundidos.1 Os inibidores são detectados e
A e a hemofilia B em relação à incidência, manejo
quantificados pelo ensaio de Bethesda modificado
e resposta dos inibidores à indução de tolerância
por Nijmegen.
imunológica (ITI) e agentes hemostáticos
• Deve-se suspeitar da presença de novos inibidores
alternativos. Portanto, neste capítulo, os inibidores
em qualquer paciente com hemofilia que não
de hemofilia A e os inibidores de hemofilia B são
apresente uma resposta clínica à terapia de
discutidos separadamente.
reposição de CFC, em particular em pacientes com
resposta prévia. (Ver 8.2 Triagem de inibidores, a
Educação do paciente/cuidador
seguir.)
• Os inibidores são encontrados com mais frequência
• A educação contínua e o suporte psicossocial do
em pacientes com doença grave que naqueles com
paciente e do cuidador na família são componentes
hemofilia moderada ou leve, e com mais frequência
essenciais no manejo de pacientes hemofílicos com
em pacientes com hemofilia A que naqueles com
inibidores, devido à complexidade e aos desafios
hemofilia B. O controle de sangramentos representa
122 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

desta complicação séria. É crucial que os médicos, reposição de CFC adequada após uma resposta no
pacientes, cuidadores e a equipe do centro para passado 7,12-14. (Ver a Tabela 8-1.)
tratamento de hemofilia mantenham uma boa
comunicação por meio de um plano de cuidados
TABELA 8-1 Indicações para o teste de inibidores
bem coordenado.
• Após exposição inicial ao fator

• Após exposição intensa ao fator, por ex., exposição


8. 2 Triagem de Inibidores diária por mais de 5 dias 7,15
• Sangramentos recorrentes ou sangramentos em
• Os inibidores são medidos pelo ensaio de Bethesda articulações-alvo, apesar de uma terapia de reposição
ou o ensaio de Bethesda modificado por Nijmegen.2,3 de CFC adequada 7,12-14
• A definição de um inibidor positivo corresponde a
• Ausência de resposta à terapia de reposição de CFC
um título de Bethesda > 0,6 unidades Bethesda (BU) adequada 7,12,14
para FVIII e ≥ 0,3 BU para FIX.1,4
• Recuperação ou meia-vida do fator menores que as
• A medição dos inibidores pode ser realizada durante esperadas após a terapia de reposição de CFC 7,12-14
a terapia de reposição por ensaios que utilizam
• Resposta clínica ou laboratorial menor que ideal à
técnicas de tratamento térmico.5 (Ver o Capítulo 3: terapia de reposição de CFC 9
Diagnóstico e Monitoramento Laboratorial - Testes
laboratoriais de coagulação - Teste de inibidores.) • Antes de uma cirurgia 1,7,11
• Um inibidor de baixa resposta é um inibidor < 5,0
• Resposta pós-operatória menor que a ideal à terapia de
BU, enquanto um inibidor de alta resposta é um
reposição de CFC 7,12-14
inibidor ≥ 5,0 BU.
• Os inibidores de baixa resposta tendem a ser Abreviação: CFC: concentrado do fator de coagulação.
transitórios; um inibidor transitório é definido como
um inibidor positivo que cai abaixo do limiar da • É particularmente importante realizar a triagem de
definição dentro de 6 meses após a documentação inibidores de rotina durante o período de maior risco
inicial sem qualquer alteração do regime terapêutico de desenvolvimento de inibidores, pelo menos a cada
e apesar do ataque antigênico com CFCs.1 Uma 6-12 meses após o início da terapia de reposição de
suspeita de inibidor deve ser confirmada por testes CFC e anualmente a partir de então. Embora alguns
laboratoriais repetidos, documentando pouca autores preconizem uma triagem mais frequente,
recuperação e/ou meia-vida (t½) reduzida do fator 8 isto ainda é controverso, com poucos dados que
inferior a 6 horas na hemofilia A (no case de CFCs de confirmem o benefício dessa abordagem.
FVIII de meia-vida padrão 6) e 9 horas na hemofilia • A triagem deve ser realizada em qualquer paciente,
B (no caso de CFCs de FIX de meia-vida padrão). 7 independentemente da idade ou gravidade da
• Os inibidores de alta resposta tendem a ser doença, que receba tratamento intensivo (ou seja,
persistentes e podem diminuir ou tornar-se por mais de 5 dias consecutivos) 7,15 e dentro de 4
indetectáveis após um longo período sem exposição semanas após a última infusão.
a CFC; contudo, eles aumentam 3-5 dias após a • Ver também 8.3 Hemofilia A e inibidores de
reintrodução de CFCs (resposta anamnésica). 8 FVIII — Incidência de inibidores e 8.4 Hemofilia
• É essencial detectar precocemente os inibidores B e inibidores de FIX — Incidência de inibidores, a
para garantir o tratamento apropriado. Pelo menos seguir, e o Capítulo 3: Diagnóstico e Monitoramento
metade dos casos de inibidores é detectada pela Laboratorial — Testes laboratoriais de coagulação —
triagem de rotina de inibidores após exposições Teste de inibidores.
iniciais a CFCs, enquanto o restante é detectado após
a ocorrência de uma resposta clínica inadequada Recomendação 8.2.1:
à terapia de reposição de CFC (ou seja, quando a • Para pacientes com hemofilia A recém-
recuperação e/ou a meia-vida do fator não são as diagnosticada, a WFH recomenda triagem regular
esperadas) durante o tratamento ou prevenção de de inibidores no mínimo a cada 6–12 meses e
um sangramento.9 então anualmente.
• Os testes de inibidores devem ser realizados antes • OBSERVAÇÃO: Em geral, uma triagem
de uma cirurgia de grande porte e se houver uma mais frequente deve ser considerada para
resposta menor que a ideal à terapia de reposição sangramentos recorrentes ou em articulações-
de CFC no período pós-operatório7,10,11 e também alvo que ocorram apesar da reposição de fator
em qualquer paciente que não responda à terapia de padrão.
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação | 123

• OBSERVAÇÃO: Esta recomendação valoriza mais Recomendação 8.2.6:


o diagnóstico precoce de inibidores em pacientes • Para pacientes com hemofilia B que forem
com hemofilia grave e o diagnóstico tardio na tratados com concentrado do fator de coagulação
vida adulta em pacientes com doença menos por mais de 5 dias consecutivos, a WFH sugere a
grave, como após uma exposição intensiva a triagem de inibidores dentro de 4 semanas após a
concentrado do fator de coagulação, por exemplo, última infusão. CB
após uma cirurgia.
• OBSERVAÇÃO: A necessidade de coletas de Recomendação 8.2.7:
sangue frequentes foi considerada em relação • Para pacientes com hemofilia B que não
à possível morbidade de sangramentos não responderem à terapia de reposição de fatores
controlados ou de risco à vida. CB de coagulação adequada ou apresentarem uma
recuperação ou meia-vida do fator menor que a
Recomendação 8.2.2: esperada, a WFH sugere a triagem de inibidores.
• Para pacientes com hemofilia A que receberem CB
concentrado do fator de coagulação por mais de
5 dias consecutivos, a WFH sugere a triagem de Recomendação 8.2.8:
inibidores dentro de 4 semanas após a última • Para pacientes com hemofilia B que desenvolverem
infusão. CB uma reação alérgica ao tratamento com FIX,
incluindo anafilaxia ou síndrome nefrótica, a WFH
Recomendação 8.2.3: sugere a triagem de inibidores para determinar se
• Para pacientes com hemofilia A que apresentem um inibidor está presente. CB
uma resposta insatisfatória ou ausente à terapia
de reposição de fatores de coagulação adequada Recomendação 8.2.9:
ou que apresentem uma recuperação ou meia- • Para pacientes com hemofilia B grave submetidos
vida do fator menor que a esperada, a WFH a uma cirurgia de grande porte, a WFH sugere a
sugere a triagem de inibidores. CB triagem pré-operatória de inibidores. CB

Recomendação 8.2.4:
• Para pacientes com hemofilia A submetidos a
cirurgia, a WFH sugere a triagem de inibidores no 8. 3 Hemofilia A e inibidores de FVIII
pré-operatório para determinar se há a presença
de um inibidor que, se presente, pode exigir um Fatores de risco genéticos e ambientais
tratamento que não contenha FVIII. CB
• Inibidores são encontrados com mais frequência em
Recomendação 8.2.5: indivíduos com hemofilia A grave que naqueles com
• Para pacientes com hemofilia B recém- as formas moderadas ou leves da doença.
diagnosticada, a WFH recomenda a triagem • Outros fatores de risco para a formação de inibidores
regular de inibidores no mínimo a cada 6–12 na hemofilia A incluem história familiar de inibidores,
meses e então anualmente. ascendência negra africana, ascendência hispânica,
• OBSERVAÇÃO: Em geral, uma triagem de variantes genéticas como tipo de mutação e genes
inibidores mais frequente deve ser considerada reguladores imunológicos polimórficos e exposição
quando ocorrerem sangramentos recorrentes ou de alta intensidade ao fator (por ex., terapia de
em articulações-alvo apesar da reposição de fator reposição de CFC intensiva para uma hemorragia
adequada. precoce grave, sangramento no sistema nervoso
• OBSERVAÇÃO: Uma vez que a incidência de central, cirurgia ou trauma). 6,9,10,12,14-20 (Ver a Tabela
inibidores é muito menor na hemofilia B que na 8-2.)
hemofilia A, a experiência e as evidência são • O tipo do produto (ou seja, CFCs de FVIII derivados
limitadas. de plasma com ou sem fator de von Willebrand ou
• OBSERVAÇÃO: Esta recomendação valoriza mais CFCs de FVIII recombinantes) podem contribuir para
o diagnóstico precoce de inibidores para evitar o risco de inibidores em pacientes com hemofilia A;
sangramentos não controlados e complicações contudo, isto não é bem compreendido e continua
hemorrágicas. A necessidade de coletas de sangue controverso. 6,16,21
frequentes foi considerada em relação à possível
morbidade de sangramentos não controlados ou
de risco à vida. CB
124 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Incidência de inibidores TABELA 8-2 Possíveis fatores de risco


para inibidores
• Os anticorpos inibidores se desenvolvem com uma
• Raça9,10,15
incidência cumulativa de aproximadamente 30%
entre pacientes com hemofilia A sem tratamento • História familiar 9,10,15
prévio,16,22 dos quais 79% ocorrem nas primeiras
20 exposições e os outros 21% nas primeiras 75 • Genótipo, genes reguladores imunológicos 9,16,17,20,25
exposições.22 Uma exposição é definida como
• Gravidade da hemofilia 9,10,12,14,19,25
qualquer período de 24 horas no qual um produto
contendo FVIII/FIX seja administrado.1,22 • Intensidade da reposição de CFC 9,12,14-16,18,20
• As taxas de inibidores variam por estudo e podem
ser subestimadas em estudos onde nem todos os • Tipo de CFC 6,16,21
participantes sejam pacientes sem tratamento prévio
Abreviação: CFC: concentrado do fator de coagulação.
(PUPs) e onde o acompanhamento seja incompleto.6
• A incidência de inibidores em pacientes com hemofilia
A leve e moderada corresponde a 5%-10%, menor • A disponibilidade de terapias de reposição não
que naqueles com hemofilia grave. Esses inibidores relacionadas a fatores (por ex., emicizumabe)
normalmente ocorrem em uma idade mais avançada efetivas na prevenção de sangramento em pacientes
e geralmente após exposição intensiva a FVIII, por com inibidores de FVIII trouxe dúvidas se esses
ex., para cirurgia ou sangramentos graves.12,23 Na agentes devem ser usados antes, durante, após ou
maioria dos casos, estes são inibidores de baixa no lugar da ITI. Entretanto, isto ainda é controverso
resposta; inibidores de alta resposta são menos porque os dados existentes são insuficientes para
comuns nesses pacientes.24 solucionar estas questões.
• A maioria dos casos de hemofilia A leve e moderada é
causada por mutações missense que, em geral, estão Manejo de sangramento
associadas a uma baixa taxa de desenvolvimento de
inibidores, embora existam algumas exceções.25 • O manejo de um sangramento em pacientes
hemofílicos com inibidores deve ser realizado após
Ônus da doença consulta a um centro para tratamento de hemofilia
e uma equipe com experiência no tratamento de
• Crianças e adultos com inibidores de FVIII inibidores.7,28 (Ver a Tabela 8-3.)
persistentes normalmente apresentam maiores taxas • A escolha do produto terapêutico deve ser baseada
de hospitalização,25 maiores custos do tratamento19 no título do inibidor, resposta clínica ao produto, local
e maiores taxas de mortalidade que aqueles sem e natureza do sangramento 7,29 e disponibilidade do
inibidores.26 O desenvolvimento de novas terapias produto no país.
de reposição não relacionadas a fatores pode reduzir
esse ônus no futuro. Recomendação 8.3.1:
• As manifestações hemorrágicas em pacientes com • Para pacientes com hemofilia A e inibidores
hemofilia A leve e moderada com inibidores são de FVIII que desenvolverem um sangramento
predominantemente mucocutâneas, urogenitais agudo, a WFH recomenda que o tratamento seja
e gastrointestinais, lembrando os sintomas baseado na característica de baixa resposta ou
hemorrágicos em pacientes com hemofilia A adquirida alta resposta do inibidor. CB
(decorrente de autoanticorpos contra FVIII).19 Como
consequência, o risco de complicações graves ou até Opções terapêuticas para pacientes com inibidores
mesmo morte em decorrência de um sangramento de FVIII
grave ainda pode ser significativo nesses pacientes.
A taxa de mortalidade relatada entre pacientes com Terapia de reposição de CFC
hemofilia A leve e moderada com inibidores é cinco • Para inibidores de baixa resposta, a terapia
vezes maior que entre aqueles sem inibidores.26 de reposição de CFC de FVIII é preferida em
• Apesar da disponibilidade de terapias de reposição sangramentos agudos se forem obtidos níveis
não relacionadas a fatores para pacientes hemofílicos de fator mensuráveis.7,29,30 É necessário um
que desenvolvem inibidores, existe um consenso de monitoramento cuidadoso da eficácia clínica, já que
que os pacientes com inibidores devem realizar uma podem ser necessárias doses mais altas para obter
tentativa de ITI, quando possível, para erradicar o a hemostasia.
inibidor.27 • Na ausência de um algoritmo posológico racional e
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação | 125

validado, a seguinte fórmula é usada para estimar a subsequente com CFCs de FVIII normalmente já não
quantidade de FVIII necessária como dose de ataque será efetivo7,29 e o tratamento com um agente de
para neutralizar o inibidor 31: bypass será necessário. Isto destaca a necessidade
‒ o [peso corporal (kg) × 80 × [(1 – hematócrito) × do monitoramento atento de FVIII.
título do anticorpo (BU)] • A terapia de substituição de fator, emicizumabe,
• Um adicional de 50 UI/kg acima da dose de ataque está sendo cada vez mais usada para prevenir
calculada é acrescentado para obter uma atividade hemorragia em pacientes com inibidores de FVIII 32,33
de FVIII mensurável.31 Esse agente é efetivo para prevenir sangramentos
• Os níveis de FVIII devem ser medidos 15 minutos (profilaxia) em pacientes com hemofilia A e inibidores,
após a conclusão do bolus e um ajuste é necessário mas não é indicado para tratar sangramentos. Como
para obter os níveis pretendidos porque existe uma consequência, sangramentos agudos requerem o
variação individual substancial.31 tratamento com CFCs de FVIII (para inibidores de
• Para inibidores de alta resposta, o tratamento com baixa resposta) como descrito acima ou agentes
um agente de bypass (fator VIIa recombinante hemostáticos de bypass (para inibidores de alta
ativado [rFVIIa] ou concentrado de complexo de resposta), como descrito a seguir. Os agentes de
protrombina ativado [aPCC]) ou FVIII porcino deve bypass convencionais incluem rFVIIa e aPCC, que
ser empregado para tratar sangramentos. demonstraram eficácia como profilaxia34,35 e para o
tratamento de sangramentos.
Recomendação 8.3.2:
• Para pacientes com hemofilia A e inibidores que TABELA 8-3 Tratamento de sangramentos
apresentarem sangramentos agudos, a WFH
agudos em pacientes com hemofilia
recomenda o concentrado de FVIII para aqueles
A e inibidores
com inibidores de baixa resposta e um agente
de bypass (fator VIIa recombinante [rFVIIa] ou Inibidores
Inibidores de alta
concentrado de complexo de protrombina ativado Hemofilia A de baixa
resposta
resposta
[aPCC]) para aqueles com inibidores de alta
resposta. Agente FVIII 31, a rFVIIa ou aPCC
33,40,47, b ou FVIII39, c
• OBSERVAÇÃO: Em pacientes que estejam
recebendo tratamento não relacionado a fatores Monitoramento Ensaio da Tromboelastografia ou
para profilaxia (por ex., emicizumabe), a WFH atividade de ensaio de geração de
prefere rFVIIa ao aPCC devido ao risco de FVIII (FVIII:C) trombina46, d
microangiopatia trombótica quando aPCC é usado Abreviações: aPCC: concentrado de complexo de protrombina
com emicizumabe. ativado; FVIII: fator VIII; FVIII:C: atividade de FVIII; rFVIIa: fator
• OBSERVAÇÃO: Em pacientes que estejam VIIa recombinante ativado.
a
Requer doses mais altas e mais frequentes se a meia-vida
recebendo emicizumabe e receberem concentrado estiver encurtada.
de FVIII, a WFH recomenda ensaios cromogênicos b
Em pacientes em profilaxia com emicizumabe, aPCC deve ser
evitado ou usado com cautela em doses mais baixas devido
de FVIII de reagente bovino (FX bovino no
ao risco de microangiopatia trombótica (advertência de caixa
reagente do kit) para medir a atividade plasmática preta). Também é necessária cautela ao usar rFVIIa em pacientes
de FVIII:C e os níveis de título do inibidor. tratados com emicizumabe que apresentem fatores de risco para
trombose devido ao risco de infarto do miocárdio ou embolia
• OBSERVAÇÃO: É importante ter cautela ao usar
pulmonar.
rFVIIa em pacientes que estejam recebendo c
Em pacientes com inibidores de alta resposta com um baixo
emicizumabe e apresentem fatores de risco para título de inibidor no momento, FVIII pode ser considerado, com
monitoramento atento para uma resposta anamnésica.
trombose (por ex., tromboembolismo venoso d
O ensaio de geração de trombina não representa o
pregresso, obesidade, tabagismo, infecção crônica, monitoramento mais avançado e não está disponível na maioria
inflamação) devido ao risco de infarto agudo do dos laboratórios, mas vem sendo cada vez mais usado para
avaliar a resposta.
miocárdio sem supradesnivelamento do segmento
ST (não-IMSST) e embolia pulmonar. CB
Agentes hemostáticos convencionais de bypass
• Para pacientes com inibidores de alta resposta cujos • O tratamento com agentes de bypass normalmente
títulos tenham diminuído até níveis baixos ou não consiste em uma dose de aPCC ou duas doses de
detectáveis, a reposição de CFC de FVIII padrão rFVIIa. A eficácia de duas doses de rFVIIa (90–270
pode ser usada em uma emergência por até 3–5 μg/kg) ou uma dose de aPCC (75–85 unidades/
dias, com administração mais frequente devido à kg) é comparável no manejo do sangramento
meia-vida mais curta, até que ocorra uma resposta articular.36 Notavelmente, porém, alguns pacientes
anamnésica. Quando esta ocorrer, o tratamento podem responder melhor a um agente que a outro,
126 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

destacando a necessidade de individualizar o TABELA 8-4 Tratamento sequencial com agentes de


tratamento.30,36 (Ver a Tabela 8-3.) bypass, alternando rFVIIa e aPCC37
• Contudo, se a hemostasia não for satisfatória com
6h00 90 μg/kg de rFVIIa
rFVIIa ou aPCC como agentes únicos, eles podem
ser alternados a cada 6 horas.37,38 (Ver a Tabela 8-4.) 9h00 50 U/kg de aPCC
• O tratamento combinado/sequencial com agentes 12h00 90 μg/kg de rFVIIa
de bypass só deve ser usado em centros de
15h00 50 U/kg de aPCC
tratamento que tenham uma vasta experiência no
18h00 90 μg/kg de rFVIIa
manejo de pacientes hemofílicos com inibidores; é
necessário um monitoramento atento para trombose 21h00 50 U/kg de aPCC
e coagulação intravascular disseminada. 00h:00 90 μg/kg de rFVIIa
• Estima-se que aPCC provoque uma resposta
3h00 50 U/kg de aPCC
anamnésica em aproximadamente 30% dos
pacientes com inibidores de FVIII devido à presença 6h00 90 μg/kg de rFVIIa
de FVIII no aPCC.39 Abreviações: aPCC: concentrado de complexo de protrombina
• Embora rFVIIa ou aPCC possam ser usados para ativado; rFVIIa: fator VIIa recombinante.
tratar sangramentos em pacientes com hemofilia A
e B com inibidores, existe uma preocupação com o Recomendação 8.3.4:
uso de aPCC, que contém FIX, em pacientes com • Para pacientes com hemofilia A e inibidores de
inibidores de FIX que manifestem anafilaxia a FIX. FVIII de alta resposta que estejam recebendo
Contudo, este não é um problema para pacientes emicizumabe e desenvolverem um sangramento
com inibidores de FVIII. agudo, a WFH prefere rFVIIa a aPCC para evitar
• Cuidado: Trombose ou microangiopatia trombótica o risco de microangiopatia trombótica.
podem ocorrer em pacientes que estejam recebendo • OBSERVAÇÃO: Deve-se ter cautela ao usar rFVIIa
emicizumabe e também estejam recebendo em pacientes que estejam recebendo emicizumabe
aPCC.33,40 Portanto, aPCC deve ser evitado em e tenham fatores de risco para trombose (por ex.,
pacientes tratados com emicizumabe, exceto em tromboembolismo venoso pregresso, obesidade,
pacientes que não respondam a rFVIIa ou quando tabagismo, infecção crônica, inflamação) devido
rFVIIa não estiver disponível, e com uma dose de ao risco de tromboembolismo arterial, por ex.,
aPCC não superior a 50 UI/kg e correspondente a no não-IMSST agudo e embolia pulmonar.
máximo 100 UI/kg por dia no total. • OBSERVAÇÃO: A WFH recomenda ensaios
cromogênicos de FVIII à base de reagente bovino
Recomendação 8.3.3: (FX bovino no reagente do kit) para medir os
• Para pacientes com hemofilia A e inibidores níveis de atividade plasmática de FVIII:C e o título
de baixa resposta que desenvolverem um do inibidor. CB
sangramento agudo, a WFH recomenda um
produto contendo FVIII ou, se a resposta Emicizumabe
hemostática for insatisfatória, a WFH recomenda • A terapia de substituição de fator, emicizumabe, um
rFVIIa ou aPCC. Para indivíduos que estejam anticorpo monoclonal biespecífico e mimetizador
recebendo profilaxia com emicizumabe e de FVIII, foi autorizada para prevenção de
desenvolverem um sangramento agudo, a WFH sangramentos em pacientes com hemofilia A com e
prefere rFVIIa em relação a aPCC para evitar o sem inibidores. Pacientes em uso de emicizumabe
risco de microangiopatia trombótica. que apresentarem sangramentos agudos
• OBSERVAÇÃO: É necessária cautela ao usar necessitam de tratamento episódico com CFCs de
rFVIIa em pacientes que estejam recebendo FVIII ou agentes hemostáticos de bypass, como
emicizumabe e apresentem fatores de risco para descrito anteriormente.
trombose (por ex., tromboembolismo venoso • Vários estudos clínicos de fase 3 e a experiência
pregresso, obesidade, tabagismo, infecção pós-comercialização mostraram que emicizumabe
crônica, inflamação) devido ao risco de não- constitui uma profilaxia eficaz em adultos e crianças
IMSST agudo e embolia pulmonar. com inibidores.33,41–43 Uma vez que emicizumabe
• OBSERVAÇÃO: A WFH recomenda ensaios é injetado por via subcutânea a cada 1, 2 ou 4
cromogênicos de FVIII à base de reagente bovino semanas, o ônus da profilaxia é muito menor
(FX bovino no reagente do kit) para medir a que com agentes de bypass. Emicizumabe reduz
atividade plasmática de FVIII:C e os níveis de a morbidade, complicações e hospitalização e
título do inibidor. CB apresenta bom custo-benefício.41
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação | 127

• A administração da profilaxia com emicizumabe estejam recebendo emicizumabe e apresentarem


consiste em um período de indução de 3,0 mg/kg/ um sangramento agudo, a WFH recomenda a
semana durante 4 semanas por injeção subcutânea. terapia de reposição de fatores de coagulação
Isto é seguido então por 1,5 mg/kg/semana ou incluindo FVIII para pacientes com inibidores de
esquemas posológicos alternativos, incluindo 3 baixa resposta; a WFH prefere rFVIIa a aPCC para
mg/kg a cada 2 semanas ou 6 mg/kg a cada 4 pacientes com inibidores de FVIII de alta resposta
semanas.41–44 devido ao risco de microangiopatia trombótica.
• Uma vez que emicizumabe interfere com a • OBSERVAÇÃO: Deve-se ter cautela ao usar
mensuração de FVIII:C e inibidores de FVIII usando rFVIIa em pacientes que estejam recebendo
o ensaio de FVIII em um estágio, um ensaio emicizumabe e apresentem fatores de risco para
cromogênico específico usando reagentes bovinos é trombose (por ex., tromboembolismo venoso
usado para detectar inibidores de FVIII.45,46 pregresso, obesidade, tabagismo, infecção
crônica, inflamação) devido ao risco de não-
Recomendação 8.3.5: IMSST agudo e embolia pulmonar. CB
• Para pacientes com hemofilia A e inibidores que
receberem emicizumabe, a WFH recomenda Recomendação 8.3.9:
ensaios cromogênicos bovinos (FX bovino no • Para pacientes com hemofilia A e inibidores que
reagente do kit) para monitorar os níveis de estejam recebendo emicizumabe e apresentem um
inibidores. CB sangramento agudo, a WFH prefere rFVIIa a aPCC
devido ao risco de microangiopatia trombótica.
• O monitoramento atento da resposta clínica a • OBSERVAÇÃO: A WFH sugere que as
emicizumabe e o monitoramento laboratorial dos advertências de caixa preta para emicizumabe
níveis de título do inibidor é aconselhado com um sejam seguidas, mantendo a vigilância conforme
ensaio cromogênico de Bethesda usando reagentes novas evidências surgirem.
bovinos. • OBSERVAÇÃO: Deve-se ter cautela ao usar
• Em pacientes que estejam recebendo emicizumabe rFVIIa em pacientes que estejam recebendo
e apresentem fatores de risco para trombose, por emicizumabe e apresentem fatores de risco para
ex., tromboembolismo venoso pregresso, obesidade, trombose (por ex., tromboembolismo venoso
tabagismo, infecção crônica ou inflamação, rFVIIa pregresso, obesidade, tabagismo, infecção
deve ser usado com cautela devido ao possível risco crônica, inflamação) devido ao risco de não-
de não-IMSST agudo e embolia pulmonar.47 IMSST agudo e embolia pulmonar. Os riscos
trombóticos podem durar até 6 meses, durante
Recomendação 8.3.6: os quais os níveis plasmáticos de emicizumabe
• Para pacientes com hemofilia A e inibidores podem persistir. CB
que estejam recebendo emicizumabe, a WFH
recomenda o monitoramento clínico atento para Tratamentos em estudos clínicos
trombose, reações adversas e microangiopatia • rFVIIa de meia-vida estendida pode ter um papel no
trombótica. manejo de sangramentos em pacientes hemofílicos
• OBSERVAÇÃO: Deve-se ter cautela ao usar com inibidores, embora as investigações tenham
rFVIIa em pacientes que estejam recebendo sido realizadas in vitro e em estudos clínicos de
emicizumabe e apresentem fatores de risco para fases iniciais.48,49
trombose (por ex., tromboembolismo venoso • Tratamentos não relacionados a fatores, como
pregresso, obesidade, tabagismo, infecção fitusiran, um agente de interferência em RNA em
crônica, inflamação) devido ao risco de não- investigação dirigido para antitrombina (siRNA-
IMSST agudo e embolia pulmonar. CB AT),50 e inibidores da via do fator tecidual (anti-
TFPI)51 estão em estudos clínicos sobre a prevenção
Recomendação 8.3.7: de sangramentos em pacientes com inibidores. Não
• Uma vez que emicizumabe é usado para prevenir, se espera que sejam eficazes para o tratamento
mas não tratar, sangramentos agudos em episódico de sangramentos.
pacientes com hemofilia A e inibidores, a WFH
recomenda a terapia de reposição de fatores de Cirurgia e procedimentos invasivos
coagulação para sangramentos agudos. CB
• O teste de inibidores em pacientes com hemofilia
Recomendação 8.3.8: de todos os tipos de gravidade é aconselhável antes
• Para pacientes com hemofilia A e inibidores que de cirurgias e procedimentos invasivos. Devem
128 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

ser tomadas precauções especiais em pacientes aPCC, constitui outra abordagem terapêutica.
hemofílicos com inibidores submetidos a uma A WFH também recomenda o monitoramento
cirurgia: a cobertura de fator, o tratamento com clínico atento para trombose. CB
agente de bypass e o acompanhamento devem ser  
determinados e planejados com antecedência. Recomendação 8.3.12:
• O monitoramento atento da resposta clínica ao • Para pacientes com hemofilia A e inibidores que
tratamento com agente de bypass é necessário, com estejam recebendo emicizumabe submetidos
um monitoramento específico da segurança, ou seja, a uma cirurgia ou um procedimento invasivo de
trombose ou coagulopatia de consumo. grande porte, a WFH recomenda um produto que
• Quando a hemostasia for atingida e mantida com contenha FVIII para indivíduos com inibidores de
um regime selecionado por 3–5 dias, a posologia baixa resposta. A WFH prefere rFVIIa a aPCC
desses pode ser reduzida gradualmente ao longo para pacientes com inibidores de alta resposta
de 1–3 semanas. Contudo, é reconhecido que a devido ao risco de microangiopatia trombótica.
dose e o esquema de redução gradual devem ser A WFH não faz recomendações sobre a dose
individualizados para cada paciente, uma vez que há específica, frequência ou duração, já que há dados
variabilidade na resposta individual ao tratamento insuficientes.
com agente de bypass. • OBSERVAÇÃO: Deve-se ter cautela ao usar
• Uma infusão contínua com ajuste da dose representa rFVIIa em pacientes que estejam recebendo
outra opção em cirurgias e procedimentos invasivos, emicizumabe e apresentem fatores de risco para
onde o clearance deve ser calculado todos os dias trombose (por ex., tromboembolismo venoso
com um ajuste correspondente da dose.52 pregresso, obesidade, tabagismo, infecção
• O tratamento com agentes de bypass combinados/ crônica, inflamação) devido ao risco de não-
sequenciais deve ser considerado em indivíduos IMSST agudo e embolia pulmonar. CB
com resposta inadequada a um agente de bypass.
Foi demonstrado que o uso sequencial (ou seja, Recomendação 8.3.13:
alternando rFVIIa e aPCC a cada 3 horas) melhora • Para pacientes com hemofilia A e inibidores que
a eficácia em relação ao tratamento com agente estejam recebendo emicizumabe submetidos
de bypass isolado e permite uma dose diária total a uma cirurgia ou um procedimento invasivo de
mais baixa de aPCC,37,38 possivelmente reduzindo pequeno porte, a WFH recomenda terapia de
o risco trombótico. Os regimes sequenciais devem reposição de fatores de coagulação em baixa dose
ser usados somente em centros de tratamento ou nenhum tratamento.
que tenham uma vasta experiência no manejo • OBSERVAÇÃO: Deve-se ter cautela ao usar
de pacientes hemofílicos com inibidores, com o rFVIIa em pacientes que estejam recebendo
monitoramento atento de trombose e coagulação emicizumabe e apresentem fatores de risco para
intravascular disseminada. (Ver a Tabela 8-4.) trombose (por ex., tromboembolismo venoso
pregresso, obesidade, tabagismo, infecção
Recomendação 8.3.10: crônica, inflamação) devido ao risco de não-
• Para pacientes com hemofilia A e inibidores de IMSST agudo e embolia pulmonar. CB
FVIII de baixa resposta submetidos a uma cirurgia
ou um procedimento invasivo, a WFH sugere Recomendação 8.3.14:
a administração de uma dose mais alta e mais • Para pacientes com hemofilia A e inibidores que
frequente do produto de FVIII que a usual devido estejam recebendo emicizumabe submetidos
à meia-vida curta de FVIII. a uma cirurgia ou um procedimento invasivo de
• OBSERVAÇÃO: A WFH também reconhece a grande porte, a WFH recomenda o monitoramento
infusão contínua de FVIII com ajuste da dose clínico atento para trombose, coagulopatia de
como opção. CB consumo ou microangiopatia trombótica. CB

Recomendação 8.3.11: Recomendação 8.3.15:


• Para pacientes com hemofilia A e inibidores de • Para pacientes com hemofilia A e inibidores que
FVIII de alta resposta submetidos a uma cirurgia utilizem tratamento com um agente de bypass,
ou um procedimento invasivo, a WFH recomenda a WFH recomenda o monitoramento clínico e a
o tratamento com agente de bypass (rFVIIa ou consideração de monitoramento laboratorial com
aPCC) a critério do médico. Se o agente de bypass testes de geração de trombina e outros testes de
isolado falhar, o tratamento com agentes de coagulação, porém são necessários mais dados
bypass sequenciais, ou seja, rFVIIa alternado com para recomendar os últimos. CB
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação | 129

Indução de tolerância imunológica obter a tolerância e ocorreram mais sangramentos


durante esse período, particularmente nos primeiros
• A erradicação de inibidores por terapia de indução 3–6 meses de ITI. Por este motivo, o estudo foi
de tolerância imunológica tem sucesso em 70%– interrompido precocemente,57 com a preferência
80% dos pacientes com hemofilia A grave. 53-55 médica subsequente pelo regime de alta dose/alta
• A resposta a ITI pode ser menos favorável em frequência.
pacientes com hemofilia A moderada/leve. 7,17 • Durante a ITI, se os pacientes apresentassem
sangramentos frequentes, a profilaxia com um
Recomendação 8.3.16: agente de bypass (rFVIIa, aPCC) ou profilaxia com
• Para pacientes com hemofilia A que desenvolverem emicizumabe poderia ser instituída. A profilaxia
inibidores de baixa resposta persistentes, a WFH com emicizumabe foi associada a uma redução
sugere que a indução de tolerância imunológica significativamente maior das taxas de sangramento
(ITI) seja considerada. CB que a profilaxia com agentes de bypass.33
• Pode ser possível adiar ou evitar a ITI por completo
• Uma ITI efetiva é definida como um título de com a profilaxia com emicizumabe, considerando as
Bethesda persistentemente negativo, acompanhado taxas muito baixas de sangramento observadas com
por farmacocinética normal, incluindo recuperação o agente, mas a controvérsia continua e os dados são
do fator > 66% e meia-vida > 6 horas para CFCs de escassos. (Ver “Opções terapêuticas para pacientes
FVIII padrão. Quando uma ITI efetiva for obtida, a com inibidores de FVIII — Emicizumabe” acima.)
profilaxia com FVIII pode ser iniciada ou retomada. • Existem poucos dados sobre o uso de terapias com
• Há um consenso geral de que uma falha de ITI é a fatores de meia-vida estendida ou tratamentos
incapacidade de obter uma tolerância efetiva dentro auxiliares não relacionados a fatores para ITI. Os
de 2–3 anos após o início de um regime de ITI. 27 dados preliminares de pequenas séries de casos
e estudos de observação mostraram que os CFCs
Recomendação 8.3.17: de meia-vida estendida são efetivos em alguns
• Para pacientes com hemofilia A e inibidores pacientes com inibidores, incluindo aqueles com
persistentes que não respondem à indução de inibidores de alta resposta e aqueles que não
tolerância imunológica (ITI) ou nunca foram responderam no passado a ITI com CFCs de meia-
submetidos a ITI, a WFH recomenda a profilaxia vida padrão ou nunca foram submetidos a uma
com emicizumabe preferencialmente à profilaxia indução de tolerância, e podem encurtar a duração
com agente de bypass (rFVIIa ou aPCC), uma da ITI.17,59,60 Os dados de uma pequena série de
vez que emicizumabe é mais eficaz na prevenção casos constaram que 100 UI/kg de FVIII três vezes
de sangramentos e mais simples de administrar, por semana mais profilaxia com emicizumabe é
já que é administrado semanalmente e por via seguro e está associado a um declínio no título do
subcutânea. CB inibidor.61 São necessários estudos randomizados
maiores para confirmar esses achados.
• O momento de início da ITI tem sido um tópico de • Uma vez que ITI requer infusões frequentes (até
debate. Dados de registro das décadas de 1990 e uma vez ao dia), ela geralmente requer um bom
2000 mostraram que o sucesso foi maior quando a acesso venoso. Em crianças pequenas com acesso
ITI foi introduzida em pacientes com baixos títulos inadequado e/ou veias pequenas, um cateter
do inibidor (< 10 BU). Sendo assim, os médicos venoso central (CVC) costuma ser necessário
adotaram uma política de aguardar até os títulos do para ITI. Contudo, o uso de CVC está associado a
inibidor diminuírem para < 10 BU e então iniciar a ITI; complicações como infecção e/ou trombose. Por
porém, mais recentemente, os médicos começaram esse motivo, emicizumabe, que é administrado por
a introduzir a ITI imediatamente após a detecção via subcutânea e não requer acesso IV, é considerado
do inibidor, independentemente do título, com boa uma opção mais simples que a ITI padrão e pode
resposta. 56 permitir infusões de CFC de FVIII em menor dose/
• O regime ideal (produto ou dose) para ITI ainda menor frequência quando usado com ITI ou no lugar
precisa ser definido. No Estudo Internacional de da ITI, embora isto não tenha sido comprovado. Isto
ITI (International ITI Trial), não houve diferenças ainda é controverso porque não existem dados sobre
na eficácia entre um regime de baixa dose/baixa o risco de inibidores se o tratamento com reposição
frequência (50 UI/kg de FVIII 3 vezes por semana) episódica de CFC for necessário para sangramentos
e um regime de alta dose/alta frequência (200 UI/ agudos durante a profilaxia com emicizumabe.
kg por dia), porém o regime de baixa dose/baixa • Não se sabe se emicizumabe deve ser iniciado
frequência precisou de um tempo maior para antes, durante, após ou no lugar da ITI 62 e são
130 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

necessários estudos clínicos para responder a esta Recomendação 8.3.19:


questão. Uma vez que emicizumabe tem diferenças • Para pacientes com hemofilia A grave e
bioquímicas de FVIII, muitas dúvidas persistem inibidores, a WFH recomenda emicizumabe
sobre seu impacto em longo prazo na patologia preferencialmente à profilaxia com agente de
articular, imunogenicidade e relação custo-benefício bypass para reduzir os episódios hemorrágicos,
em pacientes sem inibidores. uma vez que emicizumabe parece ser superior à
• Embora haja interesse no uso de tratamentos profilaxia de bypass. CB
imunossupressores e imunomoduladores em
pacientes hemofílicos com inibidores, o papel desses
8. 4 Hemofilia B e inibidores de FIX
agentes ainda não está definido e, uma vez que não
existe um consenso em relação a esses agentes no
Fatores de risco genéticos e ambientais
manejo de pacientes com inibidores, são necessários
estudos clínicos.
• Os inibidores de FIX são observados quase
exclusivamente em pacientes com hemofilia B grave
Profilaxia com FVIII após indução de tolerância
e muito raramente nas formas mais leves.67
imunológica
• Inibidores em pacientes com hemofilia B grave são
raros e ocorrem com mais frequência naqueles
• Após uma ITI efetiva em pacientes com hemofilia A
com variantes nulas, onde o fator de coagulação
e inibidores, deve ser iniciada a profilaxia com FVIII,
endógeno não é produzido, na maioria dos casos
com um monitoramento cuidadoso da resposta
em decorrência de uma grande deleção, mutações
clínica.
frameshift e variantes nonsense.67,68 Não existe
• Pelo menos um CFC de meia-vida estendida,
uma predileção ancestral pelo desenvolvimento de
rFVIIIFc, foi avaliado quanto a seu potencial de
inibidores na hemofilia B.
promover a tolerância na prevenção de formação de
• A formação de inibidores na hemofilia B não é
inibidores e na indução de tolerância imunológica. No
considerada relacionada ao tipo de CFC de FIX e
momento, os dados sobre o impacto de tratamentos
foi relatada igualmente em pacientes que recebem
com meia-vida estendida são limitados.58,60,63
CFCs de FIX derivados de plasma e recombinantes.

Troca de produto
Incidência de inibidores

• Embora haja controvérsias sobre o desenvolvimento


• A formação de inibidores em pacientes com hemofilia
de inibidores em pacientes que mudam os produtos
B ocorre com pouca frequência, com uma incidência
de CFC, incluindo raros relatos de casos, os dados
cumulativa de até 5%. 69,70
de grandes estudos indicam que não há evidências
• O desenvolvimento de um inibidor de FIX é
que confirmem um maior risco.64-66
considerado a complicação mais séria em pacientes
com hemofilia B,9 não apenas devido à perda de
Recomendação 8.3.18:
resposta à reposição de FIX, mas também aos riscos
• Para pacientes com hemofilia A que passam
associados de anafilaxia e síndrome nefrótica. 67
para outro tipo ou marca de produto de fator, a
• A detecção de inibidores na hemofilia B é semelhante
WFH não tem preferências em relação à escolha
à da hemofilia A, com a maioria dos inibidores
do tipo de tratamento específico, uma vez que
ocorrendo após uma mediana de 9–11 exposições
as evidências atuais indicam que uma troca do
e antes de 20 exposições, normalmente antes dos 2
produto não aumenta o risco de desenvolvimento
anos de idade.18
de inibidores.
• As estratégias terapêuticas para inibidores de
• OBSERVAÇÃO: A WFH encoraja a escolha do
FIX são semelhantes às usadas para inibidores de
produto com base nas possíveis vantagens, como
FVIII; especificamente, elas enfocam o controle da
administração mais simples, segurança, eficácia e
hemostasia e a erradicação do inibidor.
preferências pessoais.
• É recomendado que, devido à gravidade das
• OBSERVAÇÃO: A WFH apoia a coleta prospectiva
complicações, pacientes com hemofilia B sejam
de dados sobre a formação de inibidores por
acompanhados com atenção, com triagem de
produto, em particular antes e após as trocas de
inibidores a cada 6–12 meses após o início da terapia
produtos. CB
de reposição de CFC e anualmente a partir de então.
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação | 131

Ônus da doença • OBSERVAÇÃO: Para pacientes com hemofilia B


e inibidores e uma reação alérgica ao tratamento
Anafilaxia a FIX com FIX, a WFH indica que não existem dados
• A formação de inibidores em pacientes com suficientes para recomendar a dessensibilização
hemofilia B em geral está associada a um ônus da por doses pequenas e repetidas de FIX, por via
doença semelhante ao da hemofilia A, mas também intravenosa ou subcutânea, mas reconhece que
pode estar associada a uma reação alérgica a CFCs em alguns casos essa abordagem pode agravar
de FIX. Anafilaxia ocorre em 50% dos pacientes com uma reação alérgica o causar anafilaxia. Se
hemofilia B com inibidores 20 e com mais frequência realizada, a dessensibilização a FIX deve ser feita
naqueles com mutações nulas. Essas reações podem com cuidado, apenas por especialistas e sob
representar o primeiro sintoma do desenvolvimento supervisão atenta. CB
de inibidores de FIX.67
• Pacientes com hemofilia B grave recém- Recomendação 8.4.5:
diagnosticada, particularmente aqueles com uma • Para pacientes com hemofilia B e inibidores que
história familiar de hemofilia B grave com inibidores desenvolverem anafilaxia ao tratamento com FIX,
e/ou com variantes genéticas que predisponham ao a WFH recomenda o tratamento de bypass com
desenvolvimento de inibidores, devem ser tratados rFVIIa preferencialmente a aPCC, uma vez que
em uma clínica ou um ambiente hospitalar capaz aPCC contém FIX e pode causar ou agravar uma
de lidar com reações alérgicas graves nas 10–20 reação alérgica. CB
exposições iniciais a CFCs de FIX, com equipamento
de emergência disponível para o tratamento de Manejo de sangramentos
anafilaxia. 67 As reações também podem ocorrer
mais tarde, mas podem ser menos graves.20,71 • O manejo de sangramentos em pacientes
hemofílicos com inibidores deve ser realizado em
Recomendação 8.4.1: consulta a um centro para tratamento de hemofilia
• Para pacientes com hemofilia B que desenvolverem e por uma equipe com experiência no tratamento de
anafilaxia ao tratamento com FIX, a WFH inibidores. 7,28
recomenda a triagem de um inibidor de FIX, já que • O tratamento de sangramentos em pacientes com
uma reação alérgica pode ser o primeiro sinal de hemofilia B com inibidores deve ser individualizado.67
desenvolvimento de inibidores. CB A escolha do produto terapêutico deve ser baseada
no título do inibidor, resposta clínica ao produto,
Recomendação 8.4.2: reações à infusão anteriores, local e natureza do
• Para pacientes com hemofilia B e uma história sangramento 7,29 e disponibilidade do produto no país.
familiar de inibidores ou fatores de risco para o
desenvolvimento de inibidores, a WFH recomenda Recomendação 8.4.6:
o monitoramento das infusões iniciais em uma • Para pacientes com hemofilia B e inibidores
clínica ou um ambiente hospitalar capaz de lidar que desenvolverem um sangramento agudo,
com reações alérgicas graves. CB a WFH recomenda o tratamento baseado na
característica de baixa resposta ou alta resposta
Recomendação 8.4.3: do inibidor e na existência ou não de uma história
• Para pacientes com hemofilia B que de reações alérgicas. CB
desenvolverem anafilaxia ao tratamento com
FIX, a WFH recomenda a triagem de síndrome Opções terapêuticas para pacientes com inibidores
nefrótica, já que esta é mais comum em pacientes de FIX
com inibidores de FIX que apresentam reações
alérgicas a FIX. CB Terapia de reposição de CFC
• Para pacientes com inibidores de baixa resposta, a
Recomendação 8.4.4: terapia de reposição específica com CFC de FIX pode
• Para pacientes com hemofilia B e inibidores e ser usada se houver uma neutralização adequada do
uma reação alérgica/anafilaxia ao tratamento com inibidor para controlar o sangramento. Uma vez que
FIX, a WFH recomenda rFVIIa para o tratamento reações alérgicas e anafilaxia podem ocorrer em até
de sangramentos agudos, mas é contra o uso de 50% dos pacientes com hemofilia B e inibidores,20 o
aPCC, já que ele contém FIX e pode causar ou monitoramento atento é essencial.
agravar uma reação alérgica.
132 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 8.4.7: Recomendação 8.4.9:


• Para pacientes com hemofilia B e inibidores • Para pacientes com hemofilia B e inibidores que
de FIX de baixa resposta, a WFH recomenda utilizarem um tratamento com agente de bypass,
o uso de um produto que contenha FIX para o a WFH recomenda o monitoramento clínico e a
tratamento de sangramentos agudos, desde consideração de monitoramento laboratorial com
que não ocorra uma reação alérgica a FIX. CB ensaio de geração de trombina e outros testes
de coagulação, embora sejam necessários mais
• Para pacientes com hemofilia B com inibidores de dados para recomendar os últimos. CB
alta resposta ou aqueles com inibidores de baixa
resposta que desenvolverem reações alérgicas ou Tratamentos em estudos clínicos
anafilaxia, o agente de bypass rFVIIa pode ser usado • Vários tratamentos não relacionados a fatores
para controlar um sangramento. Uma vez que aPCC emergentes estão em estudos clínicos para a
contém FIX, pode desencadear ou agravar uma prevenção de sangramentos em pacientes com
resposta alérgica ou anafilática; por esse motivo, hemofilia B com inibidores, incluindo fitusiran
aPCC deve ser evitado em pacientes com hemofilia (siRNA-AT3)50 e anti-TFPI.51,74 Esses tratamentos
B. Contudo, na ausência de uma reação desse tipo, podem fornecer uma via menos invasiva e/ou menor
aPCC demonstrou uma eficácia semelhante para frequência de administração e, se seguros e eficazes,
controle de um sangramento agudo. 27 seu uso pode ser adotado.
• Um rFVIIa de meia-vida estendida com hemostasia
Recomendação 8.4.8: in vitro 48 está na fase inicial de estudos clínicos para
• Para pacientes com hemofilia B e inibidores de FIX prevenção de sangramentos em pacientes com
de alta resposta, a WFH prefere rFVIIa a aPCC hemofilia B e inibidores.49 Esse tratamento pode
para o tratamento de sangramentos agudos, reduzir a frequência de administração e, se seguro e
uma vez que aPCC contém FIX e pode causar ou eficaz, seu uso pode ser adotado. 49
agravar uma reação alérgica. CB
Indução de tolerância imunológica
Agentes hemostáticos de bypass convencionais
• Agentes hemostáticos alternativos para a prevenção • Uma vez que a prevalência de inibidores é baixa
de sangramentos espontâneos ou traumáticos na hemofilia B, a experiência com ITI é limitada.
(profilaxia) em pacientes com hemofilia B e inibidores Os princípios terapêuticos são semelhantes aos
incluem rFVIIa ou, na ausência de uma reação da hemofilia A, porém a taxa de sucesso é menor,
alérgica/anafilática a FIX, aPCC. 34,47,60,72,73 especialmente em pacientes com uma reação alérgica
• A profilaxia com agentes de bypass em pacientes a FIX. Esta última pode exigir a dessensibilização a
com inibidores não é tão efetiva nem tão conveniente FIX antes de tentar a ITI, embora existam poucos
quanto a profilaxia padrão com fator em pacientes dados disponíveis sobre a eficácia ou a segurança
sem inibidores. 72 dessa abordagem.
• Para hemostasia, o tratamento com agente de • Pacientes com hemofilia B e inibidores com uma
bypass usando rFVIIa constitui a abordagem padrão. história de reações alérgicas graves a FIX podem
Em geral, aPCC pode aumentar o risco de anafilaxia desenvolver síndrome nefrótica, que pode ser
por conter FIX e deve ser evitado em indivíduos com irreversível. Em alguns pacientes submetidos a ITI,
hemofilia B e inibidores (ver acima). Os dois agentes uma síndrome nefrótica pode se desenvolver; um
são eficazes para tratar 90% dos sangramentos monitoramento atento é necessário mesmo após o
musculoesqueléticos e podem ser usados para término da ITI, uma vez que a síndrome nefrótica
profilaxia maior ou menor. 34,72. (Ver a Tabela 8-5.) pode persistir.
• Uma vez que não existem ensaios laboratoriais • Existem poucas evidências indicando quando e se
confiáveis para monitorar o tratamento com agente ITI deve ser iniciada em pacientes com hemofilia
de bypass, o monitoramento cuidadoso dos níveis de B após a detecção de inibidores; contudo, alguns
hemoglobina, perda sanguínea, cicatrização da ferida pacientes iniciam um regime de FIX em alta dose/alta
e a resposta clínica ao tratamento é aconselhável, frequência até que a tolerância seja obtida, ou seja,
incluindo os resultados relatados pelos pacientes e o título do inibidor mantenha-se persistentemente
o feedback subjetivo dos pacientes. negativo e a recuperação e meia-vida do fator
voltem ao normal. Contudo, não há evidências de
apoio e essa abordagem é baseada na experiência
com o manejo de inibidores na hemofilia A. O
Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação | 133

monitoramento clínico e laboratorial é importante, TABELA 8-5 Tratamento de sangramentos agudos


especialmente para o desenvolvimento de reações em pacientes com hemofilia B com
alérgicas ou síndrome nefrótica. inibidores
• Pouco se sabe sobre o papel dos agentes Inibidores de Inibidores de alta
imunossupressores em pacientes com hemofilia Hemofilia B baixa resposta resposta
B com inibidores, já que existem poucos dados
Agentes • FIX 20, a • rFVIIa ou aPCC 27, b
disponíveis; portanto, não há um consenso sobre seu ou FVIII porcino
uso nesses pacientes.

Recomendação 8.4.10: Monitoramento • Ensaio da • Tromboelastografia


atividade de ou ensaio de
• Para pacientes com hemofilia B e inibidores, a FIX (FIX:C) geração de
WFH não é capaz de fazer uma recomendação trombina46, c
sobre o uso de indução de tolerância imunológica,
uma vez que a experiência com ITI na hemofilia B Abreviações: aPCC: concentrado de complexo de protrombina
é limitada. ativado; FIX: fator IX; FVIII: fator VIII; rFVIIa: fator VIIa
• OBSERVAÇÃO: Em pacientes com hemofilia B recombinante ativado.
a
Exige doses mais altas e mais frequentes se a meia-vida estiver
e inibidores nos quais seja feita uma tentativa encurtada.
de ITI, devem ser seguidos protocolos de b
Em pacientes com inibidores de FIX, existe um alto risco
reposição de fator em alta dose semelhantes aos de reação alérgica e síndrome nefrótica com produtos que
contenham FIX, por ex., aPCC, e é necessária cautela; contudo,
recomendados para hemofilia A, com uma forte em indivíduos que apresentarem uma reação alérgica ou
consideração do uso de imunossupressão. Deve- síndrome nefrótica com produtos contendo FIX, aPCC deve ser
se observar que o risco de síndrome nefrótica evitado porque contém FIX.
c
O ensaio de geração de trombina não representa o
pode aumentar com ITI em alta dose. CB monitoramento mais avançado e não está disponível na maioria
dos laboratórios, mas vem sendo cada vez mais usado para
Profilaxia com FIX após indução de tolerância avaliar a resposta.

imunológica
• Se a hemostasia não for satisfatória com rFVIIa ou
• Após uma promoção de tolerância imunológica aPCC usados como agentes únicos, esses agentes
efetiva em pacientes com hemofilia B com inibidores podem ser alternados,37 reconhecendo que isso é
(definida como o retorno a um título persistentemente baseado em um pequeno estudo de observação e
negativo do inibidor), a profilaxia com FIX deve ser reconhecendo também o risco de reação alérgica ou
iniciada com um monitoramento atento da resposta agravamento de reação alérgica com aPCC devido
clínica 7 ao conteúdo de FIX.
• O monitoramento perioperatório atento da resposta
Cirurgia e procedimentos invasivos clínica ao tratamento com agente de bypass
é necessário, em particular para trombose ou
• O teste de inibidores é aconselhável em pacientes coagulopatia de consumo. (Ver a Recomendação
com hemofilia B antes de cirurgias e procedimentos 8.4.9 sobre o monitoramento clínico do tratamento
invasivos. Precauções especiais, indicadas com agente de bypass.)
anteriormente na seção “Manejo de sangramentos”, • Quando a hemostasia tiver sido atingida e mantida
devem ser tomadas em pacientes com hemofilia B usando um regime com agente de bypass por 3–5
com inibidores, incluindo o monitoramento para dias, o uso desses agentes pode ser gradualmente
reações alérgicas e síndrome nefrótica. reduzido ao longo de uma semana ou mais.
• Em indivíduos com inibidores de baixa resposta,
a cobertura padrão com CFC de FIX pode ser Recomendação 8.4.11:
considerada se forem obtidos níveis suficientemente • Para pacientes com hemofilia B e inibidores de
altos. Em pacientes com inibidores de alta resposta FIX de baixa resposta submetidos a uma cirurgia,
ou naqueles com uma história de reações alérgicas a WFH não tem preferência pelo tipo de produto
a CFCs de FIX, o tratamento com o agente de de FIX, mas recomenda uma administração mais
bypass rFVIIa é aconselhado, reconhecendo o risco frequente devido à meia-vida curta de FIX. CB
de uma reação alérgica ou agravamento desse tipo
de reação em indivíduos que apresentarem reações Recomendação 8.4.12:
alérgicas a FIX quando tratados com aPCC devido a • Para pacientes com hemofilia B e inibidores de
seu teor de FIX. FIX submetidos a uma cirurgia, a WFH recomenda
134 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

rFVIIa preferencialmente a aPCC, pois aPCC REFERÊNCIAS


contém FIX e pode causar ou agravar uma reação
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reação alérgica a FIX submetidos a uma cirurgia, variation of fac- tor VIII inhibitor testing: the experience

a WFH prefere rFVIIa a aPCC, uma vez que aPCC of the external quality as- sessment program of the ECAT

contém FIX e pode causar ou agravar uma reação foundation. Semin Thromb Hemost. 2009;35(8):786-793.

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Troca de produto
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and facilitate inhibitor sur veillance. J Thromb Haemost.
desenvolvimento de inibidores em pacientes com
2012;10(6):1055-1061.
hemofilia B que trocam os produtos de CFC de FIX,
incluindo raros relatos de casos, não há evidências 6. Pey vandi F, Mannucci PM, Garagiola I, et al. A randomized
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WFH não tem preferência em relação à escolha Haemophilia Centre Doctors Organisation. Br J Haematol.
do tipo de tratamento específico, uma vez que as 2006;133(6):591-605.
evidências atuais indicam que a troca do produto
8. de Moerloose P, Fischer K, Lambert T, et al. Recommendations
não aumenta o risco de desenvolvimento de
for assessment, monitoring and follow-up of patients with
inibidores, porém há uma escassez de estudos
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INFORMAÇÕES DE SUPORTE
Outras informações de suporte podem ser encontradas
on-line na seção Informações de Suporte.
138 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

9 QUESTÕES ESPECÍFICAS
DO MANEJO
Jerzy Windyga 1 | Gerard Dolan 2 | Kate Khair 3 | Johnny Mahlangu 4 | Richa Mohan 5 |
Margaret V. Ragni 6 | Abdelaziz Al Sharif 7 | Lisa Bagley 8 | R. Sathyanarayanan 9 |
Glenn F. Pierce 10 | Alok Srivastava 11

1. Departamento de Distúrbios da Hemostasia e Medicina Interna, Laboratory of Hemostasis and Metabolic Disease, Institute of Hematology and
Transfusion Medicine, Varsóvia, Polônia
2. Guy’s and St. Thomas’ Hospitals NHS Foundation Trust, Londres, Reino Unido
3. Centre for Outcomes and Experience Research in Child Health, Illness and Disability Research Unit (ORCHID) e Great Ormond Street Hospital
for Children, Londres, Reino Unido
4. Departamento de Medicina Molecular e Hematologia, University of the Witwatersrand, National Health Laboratory Service, Johannesburgo,
África do Sul
5. Empowering Minds Society for Research and Development, Nova Delhi, Índia
6. Divisão de Hematologia/Oncologia, Departamento de Medicina, University of Pittsburgh Medical Center, Pittsburgh, Pensilvânia, EUA
7. Amã, Jordânia
8. Londres, Reino Unido
9. Chennai, Índia
10. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
11. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações que em geral funciona normalmente para produzir
são baseadas em consenso, o que é indicado por CB. níveis de fator no limite inferior da faixa normal.
• Uma proporção das portadoras apresenta baixa
9. 1 Introdução atividade de fator VIII (FVIII) ou fator IX (FIX) devido
à lionização (a supressão aleatória de um dos dois
• Os hemofílicos e suas famílias podem apresentar cromossomos X; também chamada de inativação
várias condições de saúde ou relacionadas à do cromossomo X), que pode provocar hemofilia
hemofilia ou questões de manejo no decorrer de suas leve, moderada ou até mesmo grave em raros
vidas. Estas incluem complicações hemorrágicas casos. Mulheres sintomáticas devem ser designadas
e reprodutivas que podem afetar as portadoras, como pacientes com hemofilia de uma gravidade
necessidades específicas para cirurgias e outros especificada, da mesma forma de homens com
procedimentos invasivos, questões psicossociais, hemofilia.
uma série de comorbidades decorrentes do estilo de
vida e do envelhecimento e outros problemas. Herança da hemofilia
• Uma vez que o manejo dessas condições algumas
vezes pode ser complexo, a educação voltada para a • Uma mulher que tenha uma variante patogênica de
prevenção e/ou tratamento adequado dos problemas F8 ou F9 é chamada de portadora obrigatória de
discutidos neste capítulo deve constituir o foco hemofilia. As portadoras obrigatórias podem ser
primário e contínuo da colaboração entre pacientes identificadas como portadoras de um gene para
e familiares afetados pela hemofilia e sua equipe de hemofilia com base na análise de sua história familiar
saúde multidisciplinar. de hemofilia.
• As portadoras obrigatórias incluem:
‒ qualquer filha biológica de um pai com hemofilia;
9. 2 Portadoras ‒ qualquer mãe biológica de uma criança com
hemofilia que também tenha pelo menos um
• As formas mais graves de hemofilia normalmente
outro familiar com hemofilia (ou seja, irmão,
afetam o sexo masculino; como convenção, as
avô materno, tio, sobrinho ou primo do sexo
mulheres são designadas como “portadoras”.
masculino) ou que sabidamente seja portador de
• As portadoras muitas vezes não exibem sintomas
hemofilia (ou seja, sua mãe, irmã, avó materna,
de hemofilia porque, embora tenham um gene F8
tia, sobrinha ou prima do sexo feminino);
ou F9 anormal em um cromossomo X, seu outro
‒ qualquer mãe biológica de dois ou mais filhos
cromossomo X contém um gene F8 ou F9 normal
com hemofilia.
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 139

• As possíveis portadoras incluem: Recomendação 9.2.3:


‒ qualquer filha biológica, irmã, mãe, avó materna, • Todas as portadoras de hemofilia possíveis e
tia, sobrinha ou prima do sexo feminino de uma obrigatórias devem realizar medições de seus
portadora de hemofilia; níveis de FVIII/FIX para estabelecer seus níveis
‒ uma mãe biológica de um filho com hemofilia, basais antes de procedimentos de grande porte,
sem história familiar conhecida de hemofilia ou cirurgia ou gestação. CB
portadoras de hemofilia.
Sintomas hemorrágicos
Níveis de fator em portadoras
• As manifestações mais comuns entre portadoras
• Portadoras com níveis de FVIII/FIX na faixa normal sintomáticas incluem1:
podem nunca precisar de terapia de reposição de ‒ menorragia (sangramento menstrual intenso);
fator. Entretanto, algumas portadoras com níveis de ‒ dismenorreia (dor durante o sangramento
fator na faixa inferior de normalidade (ou seja, abaixo menstrual);
de 50 UI/dL) apresentam problemas hemorrágicos ‒ hemorragia pós-parto;
semelhantes aos de homens com hemofilia leve ‒ sangramento perimenopausa (sangramento
(por ex., hemorragia após extração dentária, cirurgia anormal durante a transição pré-menopausa);
ou trauma), assim como problemas específicos ‒ sangramento anormal isolado, após trauma ou
das mulheres, como um sangramento menstrual outras intervenções médicas (por ex., extração
prolongado ou intenso.1 dentária ou cirurgia).
• Portadoras que apresentem uma tendência • A terapia hormonal é útil para manejo de
hemorrágica maior que a prevista por seu nível do sangramento menstrual intenso.6,7 As opções
fator, como em homens, podem apresentar um incluem:
segundo defeito da coagulação, como uma variante ‒ formulações orais, subcutâneas ou transdérmicas
do gene do fator de von Willebrand (VWF) ou um contendo estrogênio/progesterona/progestina;
defeito plaquetário congênito. ‒ dispositivo intrauterino (DIU) com levonorgestrel.
• Antifibrinolíticos orais, por ex., ácido tranexâmico
Recomendação 9.2.1: (15–25 mg/kg a cada 6-8 horas), também podem
• Portadoras de hemofilia, independentemente ser úteis para lidar com sangramentos menstruais
do nível do fator, devem ser registradas em um intensos 8
centro para tratamento de hemofilia. CB
Aconselhamento genético
Recomendação 9.2.2:
• Portadoras de hemofilia com baixos níveis de • O aconselhamento genético é um componente
fator devem ser tratadas e manejadas do mesmo essencial, porém complexo, dos cuidados
modo que os homens com hemofilia. CB abrangentes para indivíduos e famílias com um
diagnóstico de hemofilia e para aqueles em risco.9
Teste do nível de fator em portadoras • Embora a abrangência e a disponibilidade dos
serviços variem entre os países10 e centros
• Todos os parentes imediatos do sexo feminino para tratamento de hemofilia individuais,11 um
(mãe, irmã ou filha) de uma pessoa com hemofilia aconselhamento genético abrangente em geral
devem realizar medições de seus níveis de fator, envolve9:
especialmente antes de qualquer procedimento ‒ coleta e análise das histórias familiar e médica
invasivo, parto ou assim que qualquer sintoma para avaliar a possibilidade de ocorrência da
hemorrágico anormal ocorrer. 1,2 doença;
• Em possíveis portadoras, o diagnóstico deve ser ‒ educação sobre hereditariedade, teste genético,
confirmado por teste genético, se disponível, uma tratamento, prevenção e recursos disponíveis; e
vez que os níveis de fator podem estar acima de 50 ‒ aconselhamento para promover escolhas
UI/dL. 3,4 informadas e adaptação ao risco ou à condição.
• Em algumas portadoras, podem ser encontrados • O aconselhamento genético deve levar em conta as
níveis compatíveis com uma hemofilia moderada ou experiências e percepções da pessoa, assim como
até mesmo grave nos testes de nível do fator, como os fatores e contextos sociais, culturais e religiosos
resultado da lionização.5 (Ver o Capítulo 2: Cuidados que possam influenciar as decisões e opções
Abrangentes para Hemofilia — Tabela 2-1.) relacionadas a seu estado genético.
140 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• Os conselheiros genéticos podem ajudar as • Deve ser implementado um aconselhamento genético


portadoras de hemofilia possíveis e obrigatórias a abrangente, que inclua um sistema formalizado
entender seus riscos hemorrágicos e genéticos e se para a educação, manejo, acompanhamento e
adaptarem às implicações e consequências médicas, suporte médico e psicossocial em longo prazo das
psicológicas, familiares e reprodutivas de seu estado portadoras.10
genético.9
• A principal função dos conselheiros genéticos Teste genético
é educar os indivíduos sobre a história natural
da hemofilia, estabelecer sua linhagem/árvore • O teste genético facilita a identificação de portadoras
genealógica, realizar avaliações de risco relacionadas e o diagnóstico pré-natal. Quando disponível, um
à hereditariedade da hemofilia, facilitar os testes teste genético formal deve ser oferecido às possíveis
genéticos, ajudar os indivíduos a processar e integrar portadoras quando tiverem maturidade suficiente
as informações genéticas e discutir as opções para compreender as consequências do diagnóstico
reprodutivas relevantes.9 e fornecer seu consentimento.13
• Quando o acesso a conselheiros genéticos • É importante conhecer e obedecer às leis
treinados for limitado, o centro para tratamento relevantes que governam os testes genéticos e os
de hemofilia e os membros da equipe de cuidados procedimentos de diagnóstico pré-natal no país em
abrangentes, especificamente médicos, enfermeiros que o serviço estiver sendo fornecido.
e/ou profissionais da área psicossocial9 costumam • Ver também o Capítulo 4: Avaliação Genética.
assumir a responsabilidade pela comunicação de
informações genéticas importantes.2 Recomendação 9.2.4:
• Deve-se oferecer às portadoras de hemofilia
Suporte psicossocial um aconselhamento que inclua as implicações e
escolhas reprodutivas. CB
• A avaliação psicossocial e aconselhamento contínuos
devem ser integrados ao manejo do caso e cuidados Diagnóstico pré-natal
abrangentes para portadoras. As portadoras podem
precisar ser encaminhadas a profissionais da área • O diagnóstico pré-natal costuma ser oferecido para
psicossocial (por ex., psicólogos) para maior apoio, ajudar no planejamento reprodutivo e avaliação do
com o objetivo de abordar questões psicológicas ou risco. Determinar se um feto do sexo masculino está
emocionais que possam surgir durante o processo afetado pela hemofilia ajuda os pais e os profissionais
de aconselhamento genético ou em diferentes de saúde a tomar decisões relativas ao manejo
estágios da vida. da gravidez, como parto por incisão cesariana de
• A colaboração entre os profissionais da área um feto com doença grave para reduzir o risco de
psicossocial e os conselheiros genéticos pode hemorragia intracraniana (HIC) e anestesia materna
melhorar os cuidados dos pacientes de um modo para o parto. (Ver o Capítulo 4: Avaliação Genética.)
geral.
• As portadoras podem vivenciar uma grande Gravidez e planejamento pré-natal
variedade de impactos emocionais e psicossociais,
incluindo sentimentos de culpa, tristeza e remorso • O manejo dos cuidados para todas as portadoras
relacionados a suas escolhas ou consequências grávidas deve envolver uma cooperação próxima
reprodutivas, como a transmissão de sua variante entre as equipes de hemofilia e obstetrícia. É
genética.12 Esses sentimentos se estendem por importante ter um plano definido para o parto, que
várias gerações de uma família e também podem será compartilhado com a portadora e anotado em
ser vivenciados por avós que eram portadoras e pais seu prontuário médico.
com hemofilia.12
• É importante que os centros para tratamento de Níveis de fator durante a gravidez
hemofilia e os profissionais de saúde (especialmente • Durante a gravidez, os níveis de FVIII podem
os conselheiros genéticos e geneticistas clínicos), aumentar de modo significativo em portadoras e
as famílias e as organizações de pacientes estejam podem se normalizar por completo em estágios
cientes de que a experiência de ser portadora de mais tardios. Os níveis de FIX, porém, em geral não
hemofilia pode mudar nos diferentes estágios da vida sofrem alterações significativas.14
e as portadoras podem precisar de aconselhamento • Mesmo com níveis de fator acima de 50 UI/dL no
genético e/ou psicossocial mais de uma vez durante terceiro trimestre, as portadoras podem apresentar
a vida.12 um sangramento anormal durante o parto; portanto,
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 141

é crucial obter o histórico e escore de sangramento dito possam ser abordadas imediatamente para
da portadora, sua história familiar de sangramentos manter a segurança da mãe e da criança. CB
e a história de sangramento em partos anteriores
antes do trabalho de parto15 e, se possível, antes da Recomendação 9.2.7:
gravidez. • Para portadoras de hemofilia grávidas, a WFH
recomenda que não seja efetuado um parto
Recomendação 9.2.5: instrumental. CB
• Portadoras de hemofilia grávidas devem ter
seus níveis de FVIII/FIX analisados no terceiro Cuidados pós-parto
trimestre de gravidez para determinar seu risco
de sangramento durante o parto e no período • Os níveis de FVIII e VWF das portadoras diminuem
pós-parto. CB de um modo relativamente rápido após o parto,5
geralmente com um retorno aos níveis basais em
Trabalho de parto 7–10 dias, mas às vezes antes.20
• É importante monitorar e manter os níveis de fator
• A anestesia com bloqueio regional (epidural) não após o parto, uma vez que as portadoras apresentam
está contraindicada em portadoras de hemofilia um maior risco de hemorragia pós-parto primária e
se a análise da coagulação estiver normal e o nível secundária.21 Se ocorrer uma hemorragia pós-parto,
do fator relevante estiver acima de 50 UI/dL ou for terapia de reposição de fator, antifibrinolíticos (ácido
elevado para mais de 50 UI/dL pelo tratamento tranexâmico) e terapia hormonal constituem os
profilático.16 A anestesia deve ser realizada por tratamentos de primeira linha para manejo.5
um anestesista especializado, levando em conta • A terapia hormonal profilática pode ser introduzida
os parâmetros de coagulação e os níveis de fator imediatamente após o parto e mantida por um
da portadora, com providências para o momento mês em portadoras selecionadas, consideradas
adequado do tratamento, se aplicável. propensas a um maior risco de sangramento.5
• A terapia de reposição de fator, se necessária, deve • A desmopressina (DDAVP) é usada algumas vezes
ser administrada para manter os níveis do fator no período pós-parto para hemofilia A. 5 (Ver o
acima de 50 UI/dL para o trabalho de parto e parto Capítulo 5: Agentes Hemostáticos — Outras opções
propriamente dito e mantidos na faixa normal por farmacológicas — Desmopressina [DDAVP].)
no mínimo 3 dias após parto vaginal e no mínimo • Os níveis de hemoglobina em portadoras com
5 dias após parto por incisão cesariana.16,17 A via risco de hemorragia pós-parto tardia devem ser
de administração para portadoras com um feto verificados antes da alta hospitalar.22
sem hemofilia deve ser determinada conforme as • Um sangramento tardio é possível até 35 dias
indicações obstétricas. Alguns autores sugerem após o parto; as portadoras devem ser informadas
a incisão cesariana para prevenir hemorragia desse risco e devem ser avaliadas 2 semanas após
intracraniana quando houver a expectativa de que o parto. Pode ser apropriado um acompanhamento
bebê tenha hemofilia grave ao nascer.18 para monitorar sangramentos pós-parto durante
• O parto de lactentes com suspeita ou diagnóstico de aproximadamente 1–2 meses.22
hemofilia deve ser atraumático, independentemente
de ocorrer por parto vaginal ou incisão cesariana, para Recomendação 9.2.8:
diminuir o risco de complicações hemorrágicas.14 • As portadoras de hemofilia devem ser
• O uso de fórceps e parto vaginal com extração a monitoradas para hemorragia pós-parto primária
vácuo, assim como procedimentos invasivos para e secundária, que deve ser tratada com as medidas
o feto como coleta de amostras de sangue fetal no hemostáticas apropriadas. CB
couro cabeludo e eletrodos fetais internos no couro
cabeludo devem ser evitados.19 Teste do recém-nascido
• Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias
Específicas — Tabela 7-2 para reposição de CFC em • O sangue do cordão deve ser colhido de todos os
cirurgias de grande e pequeno porte. recém-nascido do sexo masculino de portadoras de
hemofilia para avaliar os níveis de fator de coagulação
Recomendação 9.2.6: para identificação e manejo precoce da hemofilia. Os
• Para portadoras de hemofilia grávidas, o parto resultados do teste devem ser comunicados aos pais
deve ocorrer em um hospital com acesso a por um membro apropriado da equipe de hemofilia.
especialistas em hemofilia, onde as complicações • Normalmente, em recém-nascidos e lactentes pré-
durante o trabalho de parto e o parto propriamente termo sem hemofilia, os níveis de FVIII no nascimento
142 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

estão dentro da faixa normal para adultos ou um manejo de complicações hemorrágicas em pacientes
pouco aumentados. Portanto, é possível diagnosticar com hemofilia.
a maioria dos casos de hemofilia A no nascimento;
uma exceção é a hemofilia A leve, onde um resultado 9. 3 Circuncisão
de FVIII na extremidade mais baixa da faixa normal
deve ser repetido quando o bebê tiver cerca de 6 • A circuncisão é um procedimento cirúrgico
meses de idade.23 amplamente praticado; até 30% da população
• Em contraste com FVIII, os níveis de FIX no masculina no mundo é circuncidada.26,27
nascimento são significativamente menores que o • Os benefícios médicos da circuncisão incluem
normal em recém-nascidos sem hemofilia e ainda uma redução do risco de doenças sexualmente
mais em lactentes pré-termo.23 Embora geralmente transmissíveis, redução do risco de carcinoma do
seja possível estabelecer um diagnóstico de hemofilia pênis e redução do risco de câncer do colo uterino
B grave ou moderada no período neonatal, lactentes nas parceiras sexuais de homens circuncidados.28
afetados de modo leve exigirão uma repetição da • As indicações médicas aceitas incluem o tratamento
triagem aos 3–6 meses de idade. de fimose, parafimose, balanite recorrente e
balanopostite recorrente.27,29 As razões e indicações
Recomendação 9.2.9: não médicas podem ser sociais, culturais, pessoais
• Bebês do sexo masculino nascidos de portadoras ou religiosas.
de hemofilia possíveis ou conhecidas devem ser • Na hemofilia, a circuncisão está associada a várias
submetidos a testes de tempo de tromboplastina complicações, incluindo sangramento prolongado,
parcial ativada (TTPa) ou níveis de fator no infecção, demora da cicatrização cutânea/maior
sangue do cordão. CB morbidade, gangrena, infecção pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV) e hepatite adquirida
Manejo do aborto espontâneo por hemoderivados contaminados usados para
tratar sangramentos, risco de desenvolvimento de
• Aborto espontâneo refere-se a um aborto ou perda inibidores neonatal, formação de cicatriz psicossocial
da gravidez que ocorre espontaneamente antes de e risco de mortalidade.29,30
20 semanas de gestação24,25 por expulsão completa • As principais considerações para circuncisão em
ou incompleta dos produtos da concepção do útero, pacientes com hemofilia incluem fatores individuais
falha de desenvolvimento do embrião ou morte do do paciente, como o desenvolvimento de inibidores,
feto no útero.25 acesso venoso e cuidado da ferida, assim como a
• Quando for determinado que a gravidez terminou competência e os recursos no hospital/centro de
devido à morte do embrião ou feto ou porque um tratamento. Os pacientes invariavelmente sangrarão
aborto espontâneo está em progresso, o obstetra no momento da remoção dos pontos e isto deve ser
realizará a evacuação cirúrgica do útero ou aguardará manejado com reposição de fator de coagulação.
a expulsão espontânea dos produtos de concepção. (Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias
• O manejo cirúrgico de um aborto espontâneo é Específicas — Tabela 7-2 para reposição de CFC em
preferível em pacientes com uma anormalidade cirurgia de pequeno porte.)
hemostática preexistente, como um distúrbio • Uma avaliação da relação risco-benefício deve
hemorrágico hereditário.24 Nesses casos, o tratamento ser realizada e discutida com a família e outros
hemostático adequado é necessário de acordo com cuidadores.
os protocolos perioperatórios recomendados. (Ver
9.5 Cirurgia e procedimentos invasivos, a seguir, e o Recomendação 9.3.1:
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas • Em pacientes com hemofilia, o procedimento de
— Tabela 7-2 para reposição de CFC em cirurgia de circuncisão deve ser realizado de modo eletivo
grande e pequeno porte.) por um cirurgião experiente e uma equipe
• Uma vez que um sangramento na gravidez quase de hematologia em um centro de tratamento
sempre é atribuído a um sangramento obstétrico, hematológico que disponha de recursos
o manejo obstétrico adequado é necessário. Em adequados, com acesso a concentrados de fatores
casos de sangramento em uma portadora grávida, de coagulação. CB
o manejo hemostático apropriado também pode ser
necessário. Recomendação 9.3.2:
• O manejo hemostático consiste na reposição do fator • Em pacientes com hemofilia, o nível plasmático
de coagulação deficiente ou outras modalidades do fator deve ser elevado para 80–100 UI/dL
terapêuticas, de acordo com os protocolos para imediatamente antes do procedimento. CB
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 143

Recomendação 9.3.3: 9. 4 Vacinação


• Em pacientes com hemofilia submetidos a
circuncisão, devem ser tomados cuidados • A vacinação contra doenças comunicáveis é crucial
intraoperatórios para cauterizar todos os vasos para a prevenção de doenças. Os hemofílicos devem
sangrantes. CB receber todas as imunizações recomendadas para
seu grupo etário.
Recomendação 9.3.4: • Os desafios associados às vacinações incluem:
• Para pacientes com hemofilia submetidos a ‒ a via de administração da vacina; e
circuncisão, a WFH sugere o uso de um selante de ‒ vacinação de pacientes com comprometimento
fibrina tópico como tratamento adjunto, usando da imunidade (por ex., infecção por HIV).
um produto fabricado com processos robustos • As vacinas de vírus vivos podem estar
para redução/inativação viral, se disponíveis, para contraindicadas em indivíduos com imunidade
minimizar o risco de transmissão de patógenos enfraquecida.
sanguíneos. CB • Não há evidências de que as vacinações provoquem
o desenvolvimento de inibidores.31
Recomendação 9.3.5:
• Para pacientes com hemofilia submetidos a Recomendação 9.4.1:
circuncisão, a WFH recomenda o ajuste da • Crianças e adultos com hemofilia devem receber as
reposição do fator de coagulação à evolução mesmas vacinas de rotina que a população geral;
clínica do procedimento. Se uma reposição contudo, de preferência devem receber as vacinas
contínua do fator de coagulação for necessária, por via subcutânea em vez de intramuscular
o objetivo seria a manutenção de níveis de fator ou intradérmica, pois ela é tão segura e efetiva
acima de 50 UI/dL nos primeiros 3 dias e acima de quanto as últimas e não requer a infusão de fator
30 UI/dL nos 4–8 dias subsequentes. CB de coagulação.
• OBSERVAÇÃO: Se a via de administração
Recomendação 9.3.6: precisar ser uma injeção intramuscular, deve
• Em pacientes com hemofilia após a circuncisão, ser administrada uma dose de concentrado do
a mensuração do inibidor deve ser repetida se fator de coagulação e a agulha de menor calibre
ocorrer um sangramento intratável com pouca disponível (calibre 25–27) deve ser usada.
resposta à terapia de reposição e medidas • OBSERVAÇÃO: Além disso, uma compressa de
hemostáticas locais. CB gelo deve ser aplicada ao local da injeção por 5
minutos antes da injeção da vacina e uma pressão
Recomendação 9.3.7: deve ser aplicada ao local por no mínimo 10
• Em pacientes com hemofilia após a circuncisão, minutos para reduzir o sangramento e edema. CB
suturas não absorvíveis (se usadas) devem
ser removidas 10–14 dias após a cirurgia; o Recomendação 9.4.2:
sangramento inevitável deve ser manejado com • Em crianças e adultos com hemofilia e infecção
reposição do fator de coagulação. CB pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV),
a WFH recomenda as imunizações padrão,
Recomendação 9.3.8: incluindo vacinas contra pneumococos e influenza
• Em pacientes hemofílicos com sangramento pós- e imunização contra hepatite A e B. CB
circuncisão intratável, todos os ângulos devem ser
considerados, incluindo sangramento de vasos Recomendação 9.4.3:
sanguíneos, deficiência do fator de coagulação e • Em crianças e adultos com hemofilia e infecção
anormalidades plaquetárias. CB pelo HIV, a WFH recomenda que vacinas de vírus
vivos (como varicela, febre amarela, rotavírus,
Recomendação 9.3.9: pólio oral e vacina combinada contra sarampo,
• Em pacientes hemofílicos com sangramento caxumba e rubéola [MMR]) sejam evitadas. CB
pós-circuncisão intratável, deve ser usado um
tratamento adjunto e de suporte; isto inclui
transfusão e medidas hemostáticas locais, como
a aplicação de agentes tópicos. CB
144 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

9. 5 Cirurgias e procedimentos aproximadamente 30% na resposta da atividade de


invasivos FVIII a partir da segunda dose em diante, no caso
de um intervalo de 24 horas. Devido à possibilidade
• Uma cirurgia pode ser necessária para complicações de taquifilaxia, DDAVP pode não ser uma boa opção
relacionadas à hemofilia ou doenças não para pacientes que necessitem de uma hemostasia
relacionadas. As questões discutidas aqui são adequada por períodos de tempo mais longos, por
extremamente importantes durante a realização de ex., após uma cirurgia de grande porte. 35
uma cirurgia em pacientes com hemofilia. • A administração combinada de DDAVP e
• A cirurgia para pacientes com hemofilia requer um concentrado de FVIII pode conseguir superar vários
planejamento e interação com a equipe de saúde obstáculos dessas opções terapêuticas separadas;
maior do que seria necessário para outros pacientes. contudo, existe uma escassez de experiência e
• O anestesista deve ter experiência no tratamento de conhecimentos em relação à eficácia e segurança do
pacientes com distúrbios hemorrágicos. tratamento combinado.35
• A anestesia neuraxial requer níveis de fator acima de • Quando necessário, ou se CFCs não estiverem
50 UI/dL para evitar sangramento e complicações disponíveis, DDAVP e antifibrinolíticos (ácido
neurológicas resultantes.32 tranexâmico ou ácido épsilon-aminocaproico)
• A cirurgia deve ser agendada no início da semana e representam opções terapêuticas como suporte
no início do dia, para um suporte ideal do laboratório hemostático ao tratamento de reposição inicial. 36
e banco de sangue, se necessário. O ácido tranexâmico é mais potente e mais bem
• Quantidades adequadas de CFCs (ou agentes de tolerado entre os antifibrinolíticos. Este composto
bypass para pacientes com inibidores) devem estar é particularmente eficaz e útil em casos de
disponíveis para a cirurgia em si e para manter uma sangramentos de mucosa.
cobertura pós-operatória adequada pelo período de • Ver o Capítulo 5: Agentes Hemostáticos — Outras
tempo necessário para cicatrização e/ou reabilitação. opções farmacológicas — Desmopressina (DDAVP).
(Para pacientes com inibidores, ver o Capítulo 8: • Os inibidores devem ser avaliados antes da cirurgia
Inibidores do Fator de Coagulação — Cirurgias e e quando houver uma resposta abaixo do ideal
procedimentos invasivos.) ao tratamento no período pós-operatório. (Ver o
• Se CFCs ou agentes de bypass não estiverem Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação —
disponíveis, é necessário um suporte de banco de Cirurgias e procedimentos invasivos.)
sangue adequado para componentes plasmáticos.
• A dose e a duração de CFC ou outra cobertura Recomendação 9.5.1:
hemostática dependem do tipo de cirurgia realizada. • Pacientes com hemofilia A e B devem ter pronto
(Ver o Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias acesso e ser avaliados para procedimentos
Específicas — Tabela 7-2 para reposição de CFC em cirúrgicos agudos e eletivos que possam melhorar
cirurgia de grande e pequeno porte.) seu bem-estar ou qualidade de vida. CB
• A efetividade da hemostasia em procedimentos
cirúrgicos pode ser determinada por critérios Recomendação 9.5.2:
definidos pelo Comitê Científico e de Padronização • A WFH recomenda que pacientes com hemofilia
da Sociedade Internacional de Trombose e que necessitem de cirurgia sejam tratados em um
Hemostasia (ver a Tabela 9-1).33 centro para cuidados abrangentes de hemofilia
• O tratamento com CFCs ou outros agentes ou com uma consultoria do centro. CB
hemostáticos deve ser considerado antes de
procedimentos diagnósticos invasivos como punção Recomendação 9.5.3:
lombar, determinação da gasometria arterial ou • Para pacientes com hemofilia que necessitem de
qualquer endoscopia com biópsia. cirurgia, quantidades suficientes de concentrados
• DDAVP pode ser um tratamento hemostático útil de fatores de coagulação devem estar disponíveis
para cirurgias e outros procedimentos invasivos em para a cirurgia em si e para manter uma cobertura
pacientes com hemofilia A leve que apresentam pós-operatória adequada pelo período necessário
resposta (sem contraindicações médicas) para para recuperação e/ou reabilitação. CB
sangramentos ou cirurgias de pequeno porte.34
As limitações de DDAVP incluem retenção
hídrica, hiponatremia e taquifilaxia. Taquifilaxia
ocorre quando doses repetidas de DDAVP são
administradas dentro de intervalos de tempo
curtos (12–24 horas), com uma diminuição de
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 145

TABELA 9-1 | Definição da adequação da hemostasia para procedimentos cirúrgicos33

Perda sanguínea intraoperatória e pós-operatória semelhante (dentro de 10%) à de pacientes não


hemofílicos.
Excelente
• Sem necessidade de doses extra (não planejadas) de FVIII/FIX/agentes de bypass e
• Necessidade de transfusões de hemoderivados semelhante à de pacientes não hemofílicos

Perda sanguínea intraoperatória e/ou pós-operatória discretamente maior que a esperada para
pacientes não hemofílicos (entre 10% e 25% da expectativa), mas a diferença é considerada
Boa clinicamente insignificante pelo cirurgião/anestesista envolvido.
• Sem necessidade de doses extra (não planejadas) de FVIII/FIX/agentes de bypass e
• Necessidade de transfusões de hemoderivados semelhante à de pacientes não hemofílicos.

Perda sanguínea intraoperatória e/ou pós-operatória maior que a esperada (25%–50%) para
pacientes não hemofílicos e necessidade de tratamento adicional.
Razoável
• Necessidade de dose extra (não planejada) de FVIII/FIX/agentes de bypass ou
• Necessidade de transfusão de hemoderivados maior (dentro de 2 vezes) que a prevista

Perda sanguínea intraoperatória e/ou pós-operatória substancialmente maior que a esperada (>
50%) para pacientes não hemofílicos, requer intervenção e não é explicada por um problema médico/
Insatisfatória/
cirúrgico diferente da hemofilia.
Nenhuma • Hipotensão inesperada ou transferência inesperada para a UTI em decorrência do sangramento ou
• Necessidade de transfusão de hemoderivados substancialmente maior (> 2 vezes) que a prevista

Observações: Além das estimativas de perda sanguínea durante a cirurgia, dados sobre os níveis de hemoglobina pré e pós-
operatórios e o número de unidades de concentrado de hemácias transfundidas também podem ser usados, se relevantes, para
estimar a perda sanguínea cirúrgica. A hemostasia cirúrgica deve ser avaliada por um cirurgião e/ou anestesista envolvido e os
registros devem ser concluídos dentro de 72 h após a cirurgia. Os procedimentos cirúrgicos podem ser classificados como de grande
ou de pequeno porte. Um procedimento cirúrgico de grande porte é definido como aquele que requer suporte hemostático por
períodos superiores a 5 dias consecutivos.
Abreviações: FIX: fator IX; FVIII: fator VIII; UTI: unidade de terapia intensiva.

Recomendação 9.5.4: monitorado com atenção e passado para um


• A WFH recomenda que os centros que fornecerem concentrado de fatores de coagulação se isto
cirurgia para pacientes com hemofilia contem ocorrer. Portanto, se a duração prevista do
com um suporte laboratorial adequado para o tratamento for maior que 3–5 dias (por ex., após
monitoramento confiável dos níveis de fator de uma cirurgia de grande porte), os profissionais
coagulação no período perioperatório. CB podem preferir evitar o uso de DDAVP desde o
início.
Recomendação 9.5.5: • OBSERVAÇÃO: DDAVP é a primeira escolha para
• Para pacientes com hemofilia A leve submetidos pacientes com hemofilia A leve para evitar o custo
a cirurgia, a WFH recomenda o uso de DDAVP de CFCs e a exposição a concentrados de FVIII e
para hemostasia se o paciente demonstrar uma o possível risco de desenvolvimento de inibidores,
boa resposta terapêutica a DDAVP nos testes que aumenta com o número de exposições.
pré-cirúrgicos. • OBSERVAÇÃO: Devido à necessidade de
• OBSERVAÇÃO: DDAVP não é recomendada monitoramento atento, uma equipe hematológica
para hemostasia cirúrgica em pacientes com experiente deve tratar esses pacientes. CB
hemofilia A leve cuja resposta a DDAVP (aumento
dos níveis de atividade plasmática de FVIIII) Recomendação 9.5.6:
seja insatisfatória ou nos quais DDAVP esteja • Para pacientes com hemofilia submetidos a
contraindicada (por ex., naqueles com doença cirurgia, antifibrinolíticos e agentes hemostáticos
cardiovascular significativa). tópicos devem ser considerados se houver
• OBSERVAÇÃO: Devido ao risco de taquifilaxia, necessidade se tratamentos auxiliares além da
DDAVP não deve ser administrada por mais reposição de fator. CB
de 3–5 dias, a não ser que o paciente possa ser
146 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 9.5.7: 9. 6 Sexualidade


• A avaliação pré e pós-operatória de todos os
pacientes com hemofilia A e B deve incluir a
triagem de inibidores e o ensaio de inibidores. CB • Hemofílicos são capazes de ter uma vida sexual
completamente normal.37 Embora em geral a
Recomendação 9.5.8: saúde sexual seja avaliada de modo inadequado no
• Para pacientes com hemofilia submetidos a cuidado de rotina de hemofílicos, estudos recentes
cirurgia, a WFH aconselha que a anestesia mostraram que a prevalência de dificuldades com
neuraxial não seja usada. Se a anestesia neuraxial a atividade sexual é significativamente maior em
for necessária, ela deve ser realizada somente com comparação à população geral.38
uma cobertura adequada de fator de coagulação, • As complicações da hemofilia podem ser
uma vez que a segurança dos procedimentos acompanhadas por disfunção sexual, como falta de
neuraxiais não foi estabelecida em pacientes com libido ou impotência. Dor, medo da dor ou analgesia
hemofilia. podem afetar o desejo sexual e a artropatia
• OBSERVAÇÃO: É reconhecido que, em alguns hemofílica pode provocar limitações físicas na
centros, a anestesia neuraxial é aceitável após relação sexual.
a restauração da hemostasia em pacientes com • A idade avançada, sangramento articular e o estado
hemofilia, enquanto em outros centros este das articulações contribuem para uma saúde
procedimento é desencorajado e a anestesia geral sexual insatisfatória; além disso, uma saúde sexual
é preferida. CB insatisfatória apresenta uma forte associação com
um pior estado de saúde geral.38
Recomendação 9.5.9: • Os hemofílicos relatam a presença de rigidez
• Pacientes com hemofilia A leve e todos os articular que afeta sua vida sexual (53%), dor
pacientes com hemofilia que estejam recebendo articular decorrente da atividade sexual (53%) e
uma reposição de fator intensiva pela primeira vez a ausência de informações adequadas relativas à
apresentam um risco especial de desenvolvimento atividade sexual.39
de inibidores e, portanto, a presença de inibidores • Um sangramento muscular (por ex., iliopsoas) pode
deve ser pesquisada novamente 4–12 semanas surgir algumas vezes com a atividade sexual e isto
após a cirurgia. CB pode exigir um manejo ativo ou aconselhamento
específico para reduzir a recorrência.40 (Ver o
Recomendação 9.5.10: Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas.)
• Em pacientes cirúrgicos com hemofilia B • A sexualidade também pode ser afetada por
que necessitem de uma terapia de reposição complicações virais como uma infecção crônica pelo
intensiva, a WFH recomenda que o concentrado vírus da hepatite C (HCV) e HIV.40
de complexo protrombínico (CCP) não seja • Doenças relacionadas à idade como hipertensão
usado devido ao risco de acúmulo dos fatores de e diabetes mellitus também podem provocar
coagulação II, VII e X, que pode estar associado a problemas com a sexualidade, assim como alguns
um maior risco de complicações trombóticas. CB medicamentos usados para tratar comorbidades.
• Em alguns casos, os inibidores orais da
Recomendação 9.5.11: fosfodiesterase-5 (sildenafila, tadalafila) podem ser
• A WFH recomenda a terapia de reposição por um úteis. Observe que esses medicamentos inibem
período de no mínimo 3 dias para procedimentos levemente a agregação plaquetária in vitro e podem
cirúrgicos de pequeno porte e no mínimo 7–10 causar epistaxe decorrente de congestão nasal.
dias para procedimentos cirúrgicos de grande • Além dos efeitos físicos sobre a sexualidade, os
porte. CB hemofílicos podem apresentar questões sociais e
psicológicas relativas à saúde sexual. Preocupações
Recomendação 9.5.12: com a ocorrência de um sangramento decorrente
• Para pacientes com hemofilia A e B submetidos a da atividade sexual, falta de desejo, questões
cirurgia de grande porte, a WFH recomenda que de imagem corporal, medo de rejeição, efeitos
a tromboprofilaxia farmacológica não seja usada colaterais de medicamentos, dor e cansaço foram
como rotina. CB relatados como fatores que afetam as vidas sexuais
dos hemofílicos.40
• As influências culturais podem afetar decisão de
uma pessoa discutir ou não questões sexuais com
seu profissional de saúde. Uma vez que alguns
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 147

indivíduos podem se sentir relutantes em manter ‒ Fornecer o máximo possível de informações


essas discussões, todos os membros da equipe de sobre todos os aspectos dos cuidados, incluindo
cuidados abrangentes devem ser capacitados para as dimensões física, psicológica, emocional e
iniciar e engajar os pacientes em uma conversa econômica da vida com hemofilia, de maneira
sobre sua saúde sexual e qualidade de vida e essa que os pacientes/familiares possam entender.
abordagem deve ser integrada aos cuidados de ‒ Fornecer suporte psicossocial e aconselhamento
rotina.40 aos pacientes, seus pais e outros familiares
• A hematospermia (definida como a presença (incluindo irmãos não afetados).
macroscópica de sangue no sêmen) não é rara ‒ o Interagir e falar diretamente com crianças
em hemofílicos e pode causar uma ansiedade hemofílicas sobre seu tratamento, não apenas
considerável em alguns indivíduos e suas parceiras. com seus pais.
• A hematospermia raramente está relacionada a ‒ Avaliar e abordar questões relacionadas à
disfunções sérias; mesmo assim, pode haver uma aderência.
patologia subjacente mais séria, como consequência ‒ Ajudar os pacientes a entender e lidar com as
exigindo investigações adicionais. questões e dificuldades relacionadas aos estudos
ou emprego.
Recomendação 9.6.1: ‒ Encorajar os pacientes e os familiares a construir
• Pacientes adultos com hemofilia devem ser uma rede de suporte (por ex., formando ou
avaliados quanto a questões de saúde sexual participando de grupos de apoio em seu centro
como parte dos cuidados de rotina para abordar para tratamento de hemofilia e organização de
possíveis impactos relacionados a idade, pacientes).
sangramento articular, dor e rigidez articular e ‒ Trabalhar em parceria com a organização de
sangramento muscular (por ex., iliopsoas), que pacientes para fornecer educação aos pacientes,
podem surgir às vezes durante a atividade sexual. famílias e profissionais de saúde e defender os
CB cuidados para hemofilia.
‒ Recrutar o auxílio de organizações de saúde
Recomendação 9.6.2: locais quando assistentes sociais não estiverem
• Para pacientes hemofílicos com comorbidades disponíveis.
que possam apresentar complicações da hemofilia ‒ Encorajar os pacientes, familiares e cuidadores a
acompanhadas por disfunção sexual, a WFH discutir as questões ou dificuldades relativas à
recomenda que os profissionais de saúde em saúde mental, como depressão e ansiedade.
centros para tratamento de hemofilia forneçam ‒ Reconhecer os sinais de advertência de um
uma abordagem psicossocial multifacetada que esgotamento emocional e depressão, que
inclua uma comunicação aberta sobre a atividade são comuns em doenças crônicas, e fornecer
sexual e a qualidade de vida de um modo coerente sugestões e recursos para lidar com essas
e abrangente. CB condições.
‒ Encorajar os pacientes a se envolverem em
atividades produtivas e satisfatórias em casa e
9. 7 Aspectos psicossociais no trabalho.
• Ver 9.9 Questões médicas com o envelhecimento
— Aspectos psicossociais com o envelhecimento, a
• A hemofilia grave está associada a ônus psicológicos
seguir.
e econômicos importantes para hemofílicos e seus
cuidadores.41 Uma vez que a hemofilia pode afetar
Recomendação 9.7.1:
muitos aspectos da vida diária e da vida familiar,
• Para pacientes com hemofilia grave, a WFH
o suporte psicológico e social são componentes
recomenda o fornecimento de suporte psicológico
importantes dos cuidados abrangentes para
e social como parte dos cuidados abrangentes para
hemofilia.42
hemofilia, recrutando o auxílio de organizações
• O cuidado psicossocial é um aspecto importante
de saúde locais quando não houver psicólogos ou
dos serviços de saúde para indivíduos e famílias que
assistente sociais disponíveis. CB
vivem com hemofilia e complicações relacionadas.
• O assistente social e/ou outros membros da equipe
Recomendação 9.7.2:
de cuidados abrangentes do centro para tratamento
• Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda
de hemofilia normalmente desempenham esse
que os centros para tratamento de hemofilia
papel. As principais funções incluem:
auxiliem os pacientes e as famílias a formar
148 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

e participar de grupos ou redes de apoio e a prevalência de outros tipos de câncer entre os


encorajem a participação em suas organizações hemofílicos e não está claro se a hemofilia exerce um
de pacientes. CB impacto sobre a evolução clínica da malignidade.49-51
• Análises mais recentes sugerem que, com exceção
Recomendação 9.7.3: do carcinoma hepatocelular decorrente de infecção
• Para pacientes com hemofilia, a WFH por hepatite crônica, as taxas de mortalidade
recomenda uma programação apropriada por câncer são essencialmente as mesmas entre
nos centros para tratamento de hemofilia e hemofílicos e a população geral. 52
organizações de pacientes para auxiliar em um • O risco de sangramento em indivíduos com hemofilia
envelhecimento próspero por meio da avaliação e câncer é exacerbado por fatores que incluem44:
de seu progresso em termos de desenvolvimento, ‒ o uso de procedimentos diagnósticos e
avaliação e prevenção de comorbidades e terapêuticos invasivos;
comprometimentos funcionais, avaliação da ‒ o trombocitopenia induzida por quimioterapia e/
função cognitiva e emocional, identificação de ou radioterapia.
depressão e encaminhamento para tratamento e • Portanto, o tratamento hemostático deve ser
fortalecimento das conexões sociais. CB fornecido não apenas de modo episódico no
momento de procedimentos invasivos, mas também
na forma de profilaxia contínua em casos de
9. 8 Comorbidades trombocitopenia grave decorrente de quimioterapia
e/ou radioterapia.44
• O aumento da expectativa de vida para hemofílicos • Não se sabe qual contagem de plaquetas é segura
— decorrente dos importantes avanços nos cuidados em pacientes com hemofilia e malignidade. Alguns
para hemofilia, incluindo a disponibilidade de CFCs especialistas aconselham que a profilaxia com
seguros e efetivos — é acompanhado por uma série reposição do fator de coagulação deficiente seja
de novos desafios. Um número cada vez maior de considerada quando a contagem de plaquetas
hemofílicos desenvolve comorbidades significativas, for menor que 30 G/L além do manejo da
como doenças cardiovasculares e metabólicas, trombocitopenia,44 embora estudos anteriores
doença renal e câncer/malignidades.43 tenham sugerido que a profilaxia deva ser instituída
• Como resultado, os centros para tratamento de quando as contagens de plaquetas caírem abaixo de
hemofilia necessitam cada vez mais da competência 50 devido ao risco de hemorragia no sistema nervoso
de especialistas que antes raramente eram central (SNC) e outros sangramentos sérios.53 (Ver o
necessários, como cardiologistas, endocrinologistas Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas
e oncologistas.44 — Tabela 7-2.)
• Em geral, as comorbidades que ocorrem em • Uma vez que a trombocitopenia por si só não é
pacientes mais velhos com hemofilia devem ser antitrombótica, a profilaxia antitrombótica deve ser
tratadas após consulta aos especialistas relevantes considerada nos tipos de malignidades que estão
do modo como seriam tratadas na população não associados a um alto risco de trombose.44
afetada da mesma idade, porém o tratamento deve • Para pacientes com hemofilia que recebem
ser adaptado quando o risco de sangramento for um diagnóstico de câncer, que na população
aumentado pelo uso de procedimentos invasivos ou geral é acompanhado por um maior risco de
medicamentos que possam causar sangramentos. 44 desenvolvimento de tromboembolismo venoso
(TEV), a profilaxia de tromboembolismo pode não
Câncer/malignidade ser necessária, já que os pacientes com deficiências
da coagulação estão relativamente protegidos do
• O risco de desenvolver um câncer aumenta com a desenvolvimento de TEV.53,54
idade e o mesmo ocorre em pacientes com hemofilia
que envelhecem. 45 Recomendação 9.8.1:
• É bem documentado que pacientes mais velhos • Em pacientes com hemofilia, a WFH recomenda
com hemofilia têm maior incidência de malignidades uma triagem de câncer apropriada para a idade.
relacionadas a vírus causadas por infecção pelo HIV CB
(por ex., linfoma não Hodgkin, carcinoma basocelular,
sarcoma de Kaposi) e HCV (por ex., carcinoma Recomendação 9.8.2:
hepatocelular). 46-48 • Para o diagnóstico e tratamento de malignidades
• Não é certo se a hemofilia exerce um impacto sobre em pacientes com hemofilia, a WFH recomenda
que uma reposição de fator adequada seja
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 149

fornecida quando necessário para minimizar o • Os resultados de estudos recentes indicam que a
risco de sangramento. CB prevalência de fibrilação atrial em pacientes com
hemofilia é semelhante à relatada em seus pares na
Recomendação 9.8.3: população geral.60
• Em pacientes com hemofilia, se a quimioterapia • Não há evidências que sugiram que pacientes com
ou radioterapia for acompanhada por uma hemofilia e fibrilação atrial estejam protegidos de
trombocitopenia grave de longa duração, a WFH complicações tromboembólicas.
recomenda a terapia de reposição profilática • O manejo da fibrilação atrial não valvular inclui
contínua. CB estratégias para controle do ritmo como cardioversão
ou ablação; porém, essas estratégias nem sempre
Recomendação 9.8.4: eliminam a necessidade de anticoagulação
• Os tratamentos antineoplásicos para pacientes terapêutica.54
hemofílicos diagnosticados com câncer devem • A seleção de pacientes com hemofilia que tenham
ser os mesmos recomendados para a população maior possibilidade de cardioversão efetiva deve
geral. CB envolver um cardiologista em um centro para
tratamento de hemofilia.44
Recomendação 9.8.5: • A oclusão do apêndice atrial esquerdo pode ser
• Para pacientes hemofílicos sem inibidores uma opção para pacientes com fibrilação atrial
diagnosticados com câncer, a WFH aconselha não valvular com alto risco de sangramento e
que as decisões de manejo relativas à profilaxia cardioembolismo.61
de tromboembolismo venoso sejam baseadas • Em pacientes sem diátese hemorrágica, decisões
na avaliação do risco hemorrágico e trombótico terapêuticas relativas à anticoagulação na fibrilação
individual do paciente. Se usada em pacientes que atrial são determinadas pela ponderação do risco de
estejam recebendo concentrados de fator, deve AVC do indivíduo, calculado pelo escore CHA2DS2-
ser controlada com cuidado para manter níveis de VASc, contra o risco de sangramento estimado
fator abaixo da faixa de risco para TEV. que ocorre como consequência do tratamento
• OBSERVAÇÃO: Se a tromboprofilaxia anticoagulante (o risco de sangramento associado
farmacológica for usada para pacientes à anticoagulação para fibrilação atrial na população
hemofílicos sem inibidores diagnosticados com geral é calculado pelo escore HAS-BLED). 54
câncer, ela deve mimetizar o que é recomendado • Não há evidências para confirmar ou rejeitar a
para a população geral, desde que uma terapia de hipótese de que os escores CHA2DS2-VASc e
reposição de fator apropriada seja administrada, HAS-BLED sejam igualmente úteis em pacientes
levando em conta que a reposição de fator até com hemofilia.54,60
altos níveis de fator acima do normal constitui um • Não existem diretrizes baseadas em evidências
possível fator de risco para TEV. CB para o manejo da fibrilação atrial em pacientes com
hemofilia.
Acidente vascular cerebral/AVC
Recomendação 9.8.6:
• Pacientes com hemofilia têm uma propensão a AVC • Pacientes com hemofilia e fibrilação atrial não
hemorrágico, o tipo mais sério de sangramento nesta valvular devem ser tratados por equipes médicas
população; contudo, AVCs isquêmicos/trombóticos compostas por hematologistas e cardiologistas
também foram relatados.55,56 (Ver o Capítulo 7: experientes. CB
Tratamento de Hemorragias Específicas — Tabela
7-2.) Recomendação 9.8.7:
• Para pacientes com hemofilia grave ou moderada
Fibrilação atrial e fibrilação atrial, a WFH recomenda o manejo
clínico baseado nos níveis basais de FVIII/FIX
• A fibrilação atrial (FA) não valvular é o tipo mais e no risco de AVC avaliando o risco de AVC do
comum de arritmia e está associada a um aumento paciente, calculado pelo escore CHA2DS2-VASc,
significativo do risco de AVC embólico. Sua contra o risco estimado de um sangramento
prevalência na população geral aumenta com a que ocorra como consequência do tratamento
idade, variando de < 0,1% em pacientes com menos anticoagulante e a suspensão da anticoagulação
de 55 anos de idade a 3% em pacientes entre 65 e se o risco de AVC for considerado menor que o
69 anos de idade e até 9% em pacientes acima de risco de sangramento. CB
80 anos.57-59
150 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 9.8.8: em virtude de sua deficiência de fator de coagulação.


• Para pacientes com hemofilia e fibrilação • TEV espontâneo é pouco comum em pacientes
atrial com alto risco de sangramento e com hemofilia, incluindo aqueles com trombofilia
tromboembolismo, a WFH recomenda a oclusão hereditária; contudo, TEV foi relatado em associação
do apêndice atrial esquerdo, particularmente se a intervenções cirúrgicas (por ex., substituição total
a terapia de reposição com fator de coagulação do joelho ou quadril ou cirurgia abdominal de grande
deficiente não for viável em longo prazo. porte para câncer). Foi postulado que, nesta situação
• OBSERVAÇÃO: A oclusão do apêndice atrial clínica, a proteção natural contra TEV seria mitigada
esquerdo para pacientes com hemofilia e pela administração de altas doses de concentrados
fibrilação atrial deve ser precedida por avaliações do fator de coagulação deficiente.62-64
do risco de sangramento e tromboembolismo do • A terapia de reposição intensiva com concentrado
indivíduo e implementada sob o aconselhamento de complexo protrombínico (CCP) em pacientes com
de um cardiologista. CB hemofilia B pode provocar o acúmulo dos fatores de
coagulação II, VII e X, que pode estar associado a um
Recomendação 9.8.9: maior risco de desenvolvimento de TEV.65
• Para pacientes com hemofilia nos quais o risco • O tratamento intensivo com agentes de bypass
de AVC associado a fibrilação atrial não valvular também pode estar associado a um maior risco de
for elevado ou superar o risco de complicações desenvolvimento de TEV.54,65
hemorrágicas, a WFH recomenda a consideração • O uso concomitante de emicizumabe e concentrado
cuidadosa do uso de anticoagulantes. de complexo de protrombina ativado (aPCC) também
• OBSERVAÇÃO: A escolha entre anticoagulantes pode provocar complicações trombóticas, incluindo
orais diretos e antagonistas da vitamina K TEV e microangiopatia trombótica.66 (Ver o Capítulo
depende dos protocolos locais, disponibilidade 8: Inibidores do Fator de Coagulação.)
de antídotos para reversão da atividade • No momento, não há um consenso baseado em
anticoagulante e viabilidade da manutenção de evidências sobre como tratar TEV em pacientes com
níveis mínimos adequados do fator de coagulação hemofilia. Foi sugerido que doses terapêuticas de
deficiente. anticoagulantes possam ser administradas quando
• OBSERVAÇÃO: Apesar da escassez dos dados os níveis do fator de coagulação deficiente forem
baseados em evidência para esta indicação mantidos acima de 30 UI/dL 44 ou acima de 15 UI/
em pacientes com hemofilia, a maioria dos dL.54
especialistas sugere a manutenção de níveis • A resposta hemostática a agentes de bypass com
mínimos do fator de coagulação deficiente em frequência é imprevisível; portanto, antitrombóticos
pacientes individuais a ≥ 15–30 UI/dL durante o devem ser usados apenas em pacientes com
tratamento anticoagulante para fibrilação atrial. hemofilia e inibidores de alta resposta que
• OBSERVAÇÃO: Uma vez que as respostas ao apresentem um maior risco de desenvolvimento de
tratamento com DOACs e VKAs podem variar, tromboses. Em raros casos, o risco de uma trombose
as decisões sobre o tratamento anticoagulante não tratada pode superar o risco de complicações
devem ser baseadas no paciente individual com a hemorrágicas e, portanto, justificar o uso de agentes
consultoria de um cardiologista. CB antitrombóticos. (Para pacientes com inibidores, ver
o Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação.)
Recomendação 9.8.10:
• Em pacientes hemofílicos com inibidores, o Recomendação 9.8.11:
tratamento antitrombótico geralmente está • Em pacientes com hemofilia submetidos a
contraindicado. CB procedimentos cirúrgicos que apresentem um alto
risco de desenvolvimento de tromboembolismo
• São necessárias mais pesquisas para entender venoso (por ex., em casos de cirurgia ortopédica
melhor a segurança do tratamento antitrombótico de grande porte, cirurgia abdominal de grande
em pacientes com hemofilia A complicada por porte para câncer ou imobilização pós-cirúrgica
inibidores de FVIII que estejam sendo tratados com prolongada), a WFH recomenda uma avaliação do
emicizumabe. risco individual de TEV. CB

Tromboembolismo venoso/trombose Recomendação 9.8.12:


• Para pacientes com hemofilia submetidos a cirurgias
• Pacientes com hemofilia são considerados associadas a um alto risco de tromboembolismo
protegidos contra o tromboembolismo venoso (TEV) venoso e complicações hemorrágicas, a WFH
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 151

recomenda a consideração do uso de métodos Síndrome metabólica


mecânicos para tromboprofilaxia. • A síndrome metabólica está associada a obesidade
• OBSERVAÇÃO: Em contraste com a e inatividade física, que são comuns em pacientes
tromboprofilaxia farmacológica, métodos mais velhos com hemofilia em decorrência de uma
mecânicos para tromboprofilaxia não artropatia hemofílica grave.43
estão associados ao risco de complicações • A obesidade (índice de massa corporal [IMC] ≥ 30
hemorrágicas. CB kg/m2) é uma preocupação de saúde importante
nos países desenvolvidos, tanto na população geral
Recomendação 9.8.13: quanto em pacientes hemofílicos.67 O número de
• Para pacientes com hemofilia nos quais o equilíbrio pacientes hemofílicos que apresentam sobrepeso
entre o risco de sangramento em comparação ao também está aumentando.68
risco de desenvolvimento de tromboembolismo • A obesidade afeta a atividade física em crianças69 e
venoso favoreça a tromboprofilaxia farmacológica, adultos.70 Embora poucos estudos tenham avaliado
a WFH recomenda a mesma prática aplicada os efeitos da obesidade sobre resultados específicos
na população geral, desde que uma terapia de da hemofilia, há evidências de que o excesso de
reposição adequada seja administrada. peso tem um impacto significativo sobre a amplitude
• OBSERVAÇÃO: As decisões relativas ao de movimento articular e a capacidade funcional
tratamento anticoagulante em um paciente dos membros inferiores, assim como sobre a dor
hemofílico sempre devem ser precedidas por articular, com efeitos possivelmente importantes
avaliações do risco hemorrágico e trombótico do sobre a qualidade de vida em geral.71,72
indivíduo. Em alguns pacientes com hemofilia, • O sobrepeso e a obesidade podem afetar a
o risco de sangramento não controlado pode frequência de sangramentos de modos diferentes:
superar o benefício da anticoagulação. CB alguns pacientes com sobrepeso/obesos apresentam
taxas de sangramento reduzidas, mas isto pode ser
Recomendação 9.8.14: decorrente dos menores níveis de atividade física;
• Para pacientes com hemofilia sem inibidores, inversamente, pacientes hemofílicos obesos tendem
a WFH recomenda o uso de doses profiláticas a apresentar mais sangramentos articulares, em
de anticoagulantes apenas depois de garantir comparação a pacientes hemofílicos não obesos.70
o controle hemostático com uma terapia de • O acesso venoso é mais complexo em pacientes
reposição adequada. hemofílicos obesos, o que pode inibir sua capacidade
• OBSERVAÇÃO: Se o risco de sangramento não de autoinfusão e, consequentemente, resultar
controlado superar o benefício da anticoagulação, em menor aderência a seu regime profilático.73 A
anticoagulantes não devem ser usados. menor aderência à profilaxia pode provocar mais
• OBSERVAÇÃO: Esta recomendação não se sangramentos articulares e, por fim, agravar a
aplica a pacientes com hemofilia e inibidores, artropatia hemofílica e a osteoartrite em pacientes
nos quais os anticoagulantes geralmente estão hemofílicos obesos.70
contraindicados. CB • A recuperação do fator é diferente em pacientes
hemofílicos com sobrepeso ou obesos. Uma
Recomendação 9.8.15: recuperação de FVIII mediana foi observada em
• Em pacientes hemofílicos sem inibidores crianças obesas (2,65), em comparação àquelas com
que apresentarem um episódio agudo de peso normal (1,94).74,75
tromboembolismo venoso, a WFH recomenda o • Em alguns pacientes obesos, a posologia por peso
uso de anticoagulação de alta intensidade pela corporal magro pode ser eficaz, ao mesmo tempo
duração mínima e sob proteção com reposição reduzindo o custo do tratamento com base no peso
de fator de coagulação e monitoramento clínico e corporal. Contudo, cada paciente precisaria ser
laboratorial atento. avaliado por estudos farmacocinéticos, incluindo
• OBSERVAÇÃO: Esta recomendação não se os níveis mínimos e máximos, e níveis de fator em
aplica a pacientes hemofílicos com inibidores, momentos adicionais para estabelecer a posologia
nos quais os anticoagulantes geralmente estão ideal.
contraindicados. CB • O manejo do peso deve ser oferecido como parte da
promoção da saúde nos centros para tratamento de
• São necessárias mais pesquisas para entender hemofilia para todos os pacientes. Isto deve incluir:
melhor a segurança do tratamento antitrombótico ‒ educação nutricional para os pais de crianças,
em pacientes com hemofilia A complicada por assim como para adultos com hemofilia;
inibidores de FVIII que estejam sendo tratados com ‒ programas de manejo do peso;
emicizumabe.
152 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

‒ suporte psicológico; sem sangramento e sem necessidade de reposição


‒ programas de exercícios (de preferência de fator. CB
monitorados pelo fisioterapeuta do centro);
‒ tratamento farmacológico; Doença renal
‒ cirurgia bariátrica; e
‒ colaboração ou encaminhamento para equipes • Uma maior incidência de doença renal foi relatada
clínicas/cirúrgicas de obesidade. em hemofílicos, em comparação à população geral.
• A cirurgia bariátrica é possível em hemofílicos com Além disso, a probabilidade de morte decorrente de
obesidade mórbida.76 insuficiência renal é cerca de 50 vezes maior entre
pacientes com hemofilia que na população geral.45
Recomendação 9.8.16: • A crescente frequência de doença renal em
• Os pacientes com hemofilia devem realizar pacientes hemofílicos mais velhos provavelmente é
medições regulares de altura e peso para decorrente de vários fatores de risco concomitantes,
monitorar o índice de massa corporal. CB incluindo44,45:
‒ idade mais avançada;
Recomendação 9.8.17: ‒ população não caucasiana;
• Pacientes hemofílicos com sobrepeso ou obesos ‒ hipertensão;
devem ser encaminhados para aconselhamento ‒ história de sangramento renal e hematúria,
dietético e/ou manejo do peso. CB possivelmente resultando em lesão renal
estrutural;
Recomendação 9.8.18: ‒ infecção por HIV e terapia antirretroviral
• Pacientes com hemofilia que sejam obesos devem combinada;
receber a terapia de reposição de FVIII/FIX com ‒ uso de aminoácidos antifibrinolíticos.
base no peso corporal magro após avaliações • Portanto, a necessidade de diálise pode estar
farmacocinéticas individuais. CB aumentando em pacientes com hemofilia.44
• Em pacientes que necessitam de terapia de reposição
Diabetes mellitus renal, a escolha entre diálise peritoneal e hemodiálise
• Pouco se sabe sobre a prevalência de diabetes depende de fatores específicos do paciente, como o
mellitus em hemofílicos, mas foi constatado que ela maior risco de infecção em pacientes com cirrose e/
é maior na população hemofílica que na população ou ascite.45
geral.43 • Teoricamente, a diálise peritoneal é preferível à
• Se o tratamento com insulina estiver indicado, as hemodiálise porque requer cobertura de fator
injeções subcutâneas podem ser administradas sem apenas no momento da inserção do cateter; contudo,
sangramento e sem necessidade de reposição de o procedimento está associado a um alto risco de
fator.37 infecções peritoneais, particularmente em pacientes
• Um peso corporal/IMC mais alto constitui um infectados por HCV e HIV. Portanto, muitas vezes a
fator de risco importante, não apenas para o hemodiálise usando heparina e uma dose única de
desenvolvimento de diabetes mellitus, mas também CFC antes e após cada procedimento é preferida.44
para aterosclerose, doença cardiovascular e lesão • Se a hemodiálise for selecionada, um acesso
adicional de articulações artropáticas. Como venoso central é obrigatório. Antes da colocação do
resultado, a atividade física regular e a fisioterapia dispositivo, os níveis de fator devem corresponder a
voltada para a prevenção de uma deterioração 80–100 UI/dL e então ser mantidos entre 50 e 70 UI/
adicional da articulação são aconselháveis.43 dL por 3 dias após o procedimento.45,77

Recomendação 9.8.19: Osteoporose


• Pacientes com hemofilia devem realizar a mesma
triagem de diabetes que a população geral. CB • Foi demonstrado que a densidade mineral óssea
(DMO) é menor nos hemofílicos. Um maior número
Recomendação 9.8.20: de articulações artropáticas, perda de movimento
• Pacientes com hemofilia e diabetes devem articular e atrofia muscular levando à inatividade
utilizar as mesmas estratégias de manejo para estão associadas a uma menor DMO.78,79
controle de diabetes que a população geral; se • Não está claro se os pacientes com hemofilia
o tratamento com insulina estiver indicado, as necessitam de um monitoramento de rotina da massa
injeções subcutâneas podem ser administradas óssea; isto pode ser aconselhável em pacientes com
alto risco ou múltiplos fatores de risco.
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 153

• Atividades com apoio do peso e esportes adequados tromboembolismo venoso/trombose, síndrome


que promovam o desenvolvimento e a manutenção metabólica, diabetes mellitus, doença renal e doença
de uma boa densidade óssea devem ser encorajados articular degenerativa.
em pacientes mais jovens, se a saúde articular • É importante fornecer aos pacientes mais velhos
permitir, para desenvolver a massa óssea e reduzir o educação e aconselhamento regulares sobre a
risco de osteoporose mais tarde. importância de informar a equipe de hemofilia sobre
• Suplementos de cálcio e vitamina D ou bisfosfonatos seus problemas de saúde para garantir o tratamento
devem ser considerados para pacientes com apropriado.
osteopenia demonstrada e uma avaliação • Com o envelhecimento, os pacientes com hemofilia
odontológica deve ser realizada antes de iniciar o requerem o mesmo acesso à educação sobre saúde
tratamento com bisfosfonatos em longo prazo.80,81 e estratégias de prevenção que pacientes não
  hemofílicos para reduzir o risco ou o impacto de
Doença articular degenerativa morbidades relacionadas à idade.
• A equipe de hemofilia deve estar intimamente
• A lesão articular progride com o aumento da idade envolvida no manejo de aspectos e complicações
de um modo quase linear, não apenas em pacientes dos cuidados relacionados ao envelhecimento e
com hemofilia grave, mas também em casos garantir a consulta pessoal e acordo sobre os planos
moderados.44 de tratamento.
• Os fatores que contribuem incluem osteoporose e • Pacientes com hemofilia leve podem necessitar
osteopenia, um estilo de vida sedentário, sobrepeso de educação e atenção específicas para destacar
e obesidade.44 possíveis questões associadas à hemofilia e outras
• Devido à maior taxa de morbidade articular, são doenças.
necessárias estratégias para a prevenção. Embora
a profilaxia secundária reduza a incidência de Recomendação 9.9.1:
sangramentos, sua eficácia para melhorar a função • A WFH recomenda que pacientes hemofílicos
ortopédica não foi estabelecida com clareza.45 idosos recebam o mesmo acesso à educação
• Ver também o Capítulo 10: Complicações sobre saúde e estratégias de prevenção que
Musculoesqueléticas. a população geral para reduzir os riscos ou
impactos de morbidades relacionadas à idade. CB
Recomendação 9.8.21:
• Todos os pacientes com hemofilia devem ser Recomendação 9.9.2:
encorajados a participar de atividades físicas • A WFH recomenda que a equipe de hemofilia esteja
regulares e manter uma ingestão adequada de intimamente envolvida no manejo de aspectos
cálcio e vitamina D. e complicações dos cuidados relacionados ao
• OBSERVAÇÃO: Pacientes hemofílicos com envelhecimento e garanta a consulta pessoal e
condições e lesões musculoesqueléticas devem acordo sobre os planos de tratamento. CB
realizar fisioterapia e reabilitação supervisionadas
por um fisioterapeuta com experiência em Hipertensão
hemofilia. CB
• Estudos mostram que hemofílicos apresentam
Recomendação 9.8.22: uma pressão arterial média mais alta, o dobro
• Pacientes hemofílicos com osteoporose, fraturas da probabilidade de apresentar hipertensão, e
por fragilidade ou que apresentem um maior utilizam mais medicamentos anti-hipertensivos em
risco de fraturas devem ser tratados com comparação à população geral.82,83
medicamentos contra a osteoporose ajustados • A hipertensão está associada aos fatores de risco
individualmente. CB usuais, como idade avançada, diabetes mellitus,
dislipidemia, ou maior IMC e obesidade; contudo,
a causa da maior prevalência de hipertensão em
9. 9 Questões médicas com pacientes hemofílicos ainda é incerta.84,85
o envelhecimento • A hipertensão é um fator de risco bem estabelecido
para doenças cardiovasculares, doenças renais e
• Ver também 9.8 Comorbidades, anteriormente, hemorragia intracraniana, que podem promover
para uma discussão sobre câncer/malignidade, dificuldades significativas no manejo dos pacientes
acidente vascular cerebral/AVC, fibrilação atrial, com hemofilia.84
154 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• Em vista do maior risco de sangramento, pacientes • Ao considerar o tratamento antitrombótico em


hipertensos com hemofilia devem receber o pacientes com hemofilia, os seguintes aspectos
tratamento apropriado e verificar sua pressão devem ser avaliados54:
arterial com regularidade. ‒ o fenótipo hemorrágico do paciente;
• Na ausência de outros fatores de risco ‒ o intensidade do tratamento antitrombótico;
cardiovasculares, deve ser mantida uma pressão ‒ o duração do tratamento planejado; e
arterial sistólica ≤ 130 mmHg e uma pressão arterial ‒ o características do agente antitrombótico.
diastólica ≤ 80 mmHg. • Profissionais de saúde que trabalhem com pacientes
hemofílicos devem orientá-los sobre o risco
Recomendação 9.9.3: cardiovascular e encorajar uma redução do risco
• Para todos os pacientes com hemofilia, a WFH (tabagismo, obesidade, exercício) ou otimização
recomenda medições regulares da pressão (hipertensão, hiperlipidemia).89
arterial como parte dos cuidados padrão.
• OBSERVAÇÃO: Esta recomendação é baseada Recomendação 9.9.5:
em dados que indicam uma maior prevalência • Pacientes hemofílicos devem receber a mesma
de hipertensão arterial entre pacientes com triagem e manejo de fatores de risco individuais
hemofilia, independentemente da idade, em para doença cardiovascular que a população
comparação a homens na população geral. CB geral. CB

Recomendação 9.9.4: Recomendação 9.9.6:


• Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda • Pacientes com hemofilia e doença cardiovascular
o mesmo manejo de hipertensão arterial aplicado devem receber os cuidados de rotina adaptados
na população geral. para sua situação individual com a consultoria de
• OBSERVAÇÃO: Pacientes hemofílicos um cardiologista. CB
diagnosticados com hipertensão podem ser
tratados em um centro para tratamento de Recomendação 9.9.7:
hemofilia ou encaminhados a profissionais de • Para pacientes com hemofilia sem inibidores
atenção primária, dependendo do sistema de que tenham um diagnóstico de doença
saúde e das práticas locais. CB cardiovascular, a WFH recomenda um manejo
semelhante ao aplicado à população geral,
Doença arterial coronariana exceto pela necessidade de correção adicional
do comprometimento da hemostasia com
• Há evidências de que os hemofílicos desenvolvem concentrados de fatores de coagulação.
aterosclerose em taxas semelhantes às observadas • OBSERVAÇÃO: As decisões relativas às
na população geral.86,87 estratégias de tratamento cardiovascular para
• Em contraste, pacientes com hemofilia apresentam pacientes com hemofilia sempre devem ser
menores taxas de mortalidade cardiovascular em precedidas por avaliações do risco hemorrágico e
comparação à população geral (muito provavelmente trombótico do indivíduo e da gravidade da doença
devido à menor geração de trombina no ponto de cardíaca, e implementadas sob a orientação de
ruptura da placa).87,88 um cardiologista. CB
• Não se sabe se o maior uso de profilaxia em pacientes
hemofílicos mais idosos promoverá um aumento da Recomendação 9.9.8:
mortalidade cardiovascular.89 • Entre os pacientes com hemofilia e inibidores de
• Indivíduos com hemofilia grave, moderada e leve alta resposta, a WFH recomenda que o uso de
podem desenvolver doença cardíaca isquêmica antitrombóticos seja limitado a pacientes nos
manifesta. O manejo desses casos deve ser quais o risco de uma trombose não tratada supere
individualizado e requer uma cooperação próxima o risco de complicações hemorrágicas.
entre as equipes de hemofilia e cardiologia. • OBSERVAÇÃO: Esta recomendação é baseada
• É particularmente difícil tomar uma decisão sobre o na observação de que a resposta hemostática a
tratamento antitrombótico em um paciente com uma agentes de bypass muitas vezes é imprevisível.
tendência hemorrágica inata; um estudo recente • OBSERVAÇÃO: São necessárias mais pesquisas
constatou que medicamentos antiplaquetários para entender melhor a segurança do tratamento
e anticoagulantes aumentaram as taxas de antitrombótico em pacientes tratados com
sangramento grave em pacientes com hemofilia emicizumabe. CB
(razão de probabilidades [OR] = 3,5).90
Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo | 155

Recomendação 9.9.9: Recomendação 9.9.12:


• Devido à escassez de dados publicados sobre o • Devido à escassez de dados publicados sobre
tratamento antiplaquetário em pacientes com pacientes com hemofilia e infarto do miocárdio
hemofilia, a WFH recomenda uma avaliação com supradesnivelamento de ST, nos quais a
cuidadosa do risco hemorrágico e trombótico do intervenção coronariana percutânea precoce
indivíduo. não esteja disponível, a WFH recomenda uma
• OBSERVAÇÃO: Foi sugerido que o nível mínimo avaliação cuidadosa do risco de sangramento do
do fator de coagulação deficiente deve ser indivíduo e da gravidade da doença cardíaca.
mantido em ≥15–30 UI/dL durante a terapia • OBSERVAÇÃO: O uso de tratamento fibrinolítico
antiplaquetária dupla e ≥ 1–5 UI/dL durante pode ser considerado somente após a correção
a terapia antiplaquetária com agente único; completa da hemostasia com reposição do fator
contudo, a estratégia terapêutica deve ser de coagulação deficiente.
individualizada para o paciente. • OBSERVAÇÃO: A decisão de utilizar um
• OBSERVAÇÃO: A decisão de utilizar o tratamento tratamento fibrinolítico para esta indicação
antiplaquetário em um paciente hemofílico sempre deve ser tomada após a consulta a um
sempre deve ser tomada após a consulta a um cardiologista. CB
cardiologista. CB
Recomendação 9.9.13:
Recomendação 9.9.10: • Quando uma substituição de valva cardíaca
• Devido à escassez de dados publicados sobre estiver indicada em pacientes com hemofilia, uma
pacientes com hemofilia submetidos a uma valva bioprotética deve ser a primeira escolha
intervenção coronariana percutânea, a WFH para evitar a necessidade de anticoagulação por
recomenda uma avaliação cuidadosa do risco tempo indeterminado. CB
hemorrágico e trombótico do indivíduo. CB
• OBSERVAÇÃO: Foi sugerido que, em pacientes Hipercolesterolemia
hemofílicos sem inibidores submetidos a PCI, o • Foi relatado que os níveis médios de colesterol
fator de coagulação deficiente deve ser mantido em pacientes com hemofilia são menores que na
em um nível máximo de 80–100 UI/dL enquanto população geral. 91 Os níveis de colesterol (colesterol
as doses terapêuticas de antitrombóticos forem total, frações HDL e LDL) devem ser medidos em
usadas; contudo, a estratégia terapêutica deve pacientes hemofílicos idosos com risco de doença
ser individualizada para o paciente. cardiovascular.
• OBSERVAÇÃO: A decisão de utilizar um • O tratamento está indicado se os níveis de colesterol
tratamento antitrombótico para esta indicação estiverem elevados. Como regra geral, a razão
sempre deve ser tomada após a consulta a um colesterol total/HDL não deve ser maior que 8.
cardiologista. CB
Recomendação 9.9.14:
Recomendação 9.9.11: • Em pacientes com hemofilia, o manejo da
• Devido à escassez de dados publicados sobre hipercolesterolemia deve ser o mesmo da
pacientes com hemofilia submetidos a cirurgia de população geral. CB
revascularização do miocárdio, a WFH recomenda
uma avaliação cuidadosa do risco hemorrágico e Aspectos psicossociais com o envelhecimento
trombótico do indivíduo.
• OBSERVAÇÃO: Foi sugerido que, em pacientes • Em pacientes com hemofilia mais velhos, a artropatia
hemofílicos sem inibidores submetidos a CABG, dolorosa e incapacitante pode afetar a qualidade de
de modo semelhante a outros procedimentos vida e provocar perda da independência.92
cirúrgicos de grande porte, o fator de coagulação • Os pacientes idosos podem ser confrontados
deficiente deve ser mantido no nível máximo de com problemas emocionais inesperados devido a
80–100 UI/dL antes, durante e após CABG até lembranças de experiências negativas relacionadas
que tenha ocorrido uma cicatrização suficiente da à hemofilia (por ex., hospitalização) durante a
ferida; contudo, a estratégia terapêutica deve ser juventude.89
individualizada para o paciente. • Adaptações da casa ou trabalho e um regime
• OBSERVAÇÃO: A decisão de utilizar um apropriado para manejo da dor são indicados
tratamento antitrombótico para esta indicação para melhorar a qualidade de vida e preservar a
sempre deve ser tomada após a consulta a um independência.
cardiologista. CB
156 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• Um suporte psicossocial ativo deve ser fornecido REFERÊNCIAS


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INFORMAÇÕES DE SUPORTE
Outras informações de suporte podem ser encontradas
on-line na seção Informações de Suporte.
160 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

10 COMPLICAÇÕES
MUSCULOESQUELÉTICAS
Adolfo Llinás 1 | Pradeep M. Poonnoose 2 | Nicholas J. Goddard 3 | Greig Blamey 4 |
Abdelaziz Al Sharif 5 | Piet de Kleijn 6 | Gaetan Duport 7 | Richa Mohan 8 | Gianluigi Pasta 9 |
Glenn F. Pierce 10 | Alok Srivastava 11

1. Fundacion Santa Fe de Bogota e Universidad de los Andes, Bogotá, Colômbia


2. Departamento de Ortopedia, Christian Medical College, Vellore, Índia
3. Departamento de Traumatologia e Ortopedia, Royal Free Hospital, Londres, Reino Unido
4. Adult Bleeding Disorders Clinic, Winnipeg Health Sciences Centre, Winnipeg, Canadá
5. Amã, Jordâni
6. Van Creveldkliniek, University Medical Center Utrecht, Utrecht, Países Baixos
7. Lyon, França
8. Empowering Minds Society for Research and Development, Nova Delhi, Índia
9. Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Fondazione IRCCS Policlinico San Matteo di Pavia, Pavia, Itália
10. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
11. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações • O tratamento inadequado de sangramentos


são baseadas em consenso, o que é indicado por CB. intramusculares pode levar a contraturas musculares,
especialmente em músculos biarticulares (por ex.,
10. 1 Introdução músculos da panturrilha e psoas), em geral nas
primeiras décadas de vida.1,2 Outras complicações
• A hemofilia é caracterizada por sangramentos mais sérias, como síndrome compartimental e
agudos, dos quais mais de 80% ocorrem em pseudotumores, também podem se desenvolver.
articulações específicas (na maioria das vezes, (Ver “Terapia de reposição de fatores de coagulação”
nas articulações do tornozelo, joelho e cotovelo e e 10.5 Pseudotumores, a seguir.)
frequentemente nas articulações do quadril, ombro • A profilaxia para prevenção de episódios
e punho) e em músculos específicos (iliopsoas e hemorrágicos é considerada o padrão de cuidados,
gastrocnêmio).1,2 Pode ocorrer um sangramento na medida em que os recursos permitirem. 4
espontâneo, dependendo da gravidade da doença • O tratamento efetivo para obter uma recuperação
(Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para funcional completa geralmente requer uma
Hemofilia — Tabela 2-1), ou um sangramento combinação de terapia de reposição com
agudo, dependendo da abordagem para tratamento concentrado do fator de coagulação (CFC) ou outra
profilático. cobertura hemostática (por ex., agentes de bypass
• Em crianças com hemofilia grave, os primeiros para pacientes com inibidores) e fisioterapia.
sangramentos articulares e musculares normalmente
ocorrem quando elas começam a engatinhar e andar, Educação do paciente/cuidador
geralmente entre 1 e 2 anos de idade, mas às vezes
mais tarde, quando já estão andando.3 • A educação do paciente sobre problemas
• Os sangramentos articulares recorrentes causam musculoesqueléticos na hemofilia é fundamental
lesão articular progressiva como resultado do e deve abranger a saúde articular e muscular,
acúmulo de sangue na cavidade articular e reconhecimento e tratamento de sangramentos
inflamação sinovial. Isto causa complicações musculoesqueléticos, manejo da dor, complicações
como sinovite crônica e artropatia hemofílica.1,2 musculoesqueléticas e a importância da fisioterapia
Para uma discussão e recomendações relativas e reabilitação. Uma abordagem multidisciplinar para
a sangramentos articulares, ver o Capítulo 7: lidar com o sangramento e suas consequências é
Tratamento de Hemorragias Específicas e a Tabela essencial.5 (Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes
7-2. para Hemofilia.)
Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas | 161

10. 2 Sinovite Recomendação 10.2.2:


• Para pacientes com hemofilia que apresentem
• Após uma hemartrose aguda, a sinóvia fica sinovite crônica e não tenham acesso à profilaxia
inflamada, hiperêmica e friável. A resolução dessa regular, a WFH recomenda o tratamento não
sinovite aguda pode demorar várias semanas.2,6,7 cirúrgico, incluindo profilaxia de curta duração
• Uma ausência de tratamento da sinovite aguda por 6–8 semanas para controle de sangramento,
resulta em hemartroses recorrentes e sangramentos fisioterapia para melhorar a força muscular e a
subclínicos1,2; a sinóvia desenvolve uma inflamação função articular e inibidores seletivos da COX-2
crônica e hipertrofia e a articulação fica mais para reduzir a dor e inflamação.
propensa a outros sangramentos. Um círculo vicioso • OBSERVAÇÃO: A fisioterapia com metas e
de sangramento, perda do movimento articular e exercícios individualizados com base no nível
inflamação pode ocorrer então, levando por fim a funcional do paciente deve começar devagar, com
uma lesão irreversível da cartilagem7,8 e do osso e progressão contínua das atividades com apoio do
comprometimento da função articular.6 peso.
• Se esse processo ultrapassar 3 meses, é definido • OBSERVAÇÃO: Para pacientes com dor aguda
como sinovite crônica. e sangramento recorrente, a imobilização pode
• São necessárias avaliações regulares até que estabilizar a articulação afetada e limitar o
ocorra a reabilitação total da condição articular e movimento, mas deve-se ter cuidado porque
sinovial e não haja evidência de sangue residual e/ou a imobilização prolongada provoca fraqueza
sinovite associada.9 O exame físico para alterações muscular, portanto, exercícios isométricos são
articulares (por ex., na circunferência da articulação, aconselhados mesmo durante a imobilização.
força muscular, derrame articular, ângulo articular, • OBSERVAÇÃO: Se não houver resposta às
dor de acordo com uma escala análoga visual) deve intervenções não cirúrgicas, o tratamento deve
ser conduzido em todos os acompanhamentos de ser escalonado para tratar diretamente a sinovite,
rotina. (Ver o Capítulo 11: Avaliação dos Resultados.). por intervenção terapêutica do especialista local.
Contudo, em muitos casos, a sinóvia nunca retorna a CB
seu estado original.
• Uma vez que nem sempre os sinais clínicos Recomendação 10.2.3:
representam adequadamente a situação real, • Para pacientes com hemofilia que apresentem
uma avaliação por ultrassom é aconselhada.9,10 A sinovite crônica (caracterizada apenas por dor e
ressonância magnética (RM), embora represente o perda da amplitude de movimento mínimas), a
padrão de ouro atual para imagens, é uma tecnologia WFH recomenda uma consulta a um especialista
cara, demorada e não é viável para crianças muito musculoesquelético experiente em um centro
pequenas.6 para tratamento de hemofilia. CB

Recomendação 10.2.1: Fisioterapia para sinovite


• Para hemofílicos, a WFH recomenda a avaliação • A fisioterapia,15,16 sob a orientação de um centro para
física regular da condição sinovial após cada tratamento de hemofilia, é aconselhável durante
sangramento, de preferência usando técnicas de toda a trajetória da reabilitação, com exercícios
imagem adequadas como o ultrassom (quando progressivos para chegar até o apoio de todo o
viável) até que a situação esteja controlada, já peso e uma recuperação funcional completa. Isto
que a avaliação clínica isolada é inadequada para pode incluir exercícios diários para melhorar a força
detectar uma sinovite inicial. CB muscular e restaurar a amplitude de movimento
articular.17
Tratamento da sinovite crônica • O treinamento funcional pode ser iniciado com base
em metas práticas para cada indivíduo.18
• O objetivo do tratamento da sinovite crônica é • A imobilização pode ser apropriada para estabilizar
suprimir a ativação sinovial e reduzir a inflamação a articulação afetada e limitar o movimento com
para preservar a integridade e a função articular.11,12 o objetivo de prevenir sangramentos recorrentes
• As opções não cirúrgicas incluem profilaxia por 6–8 e impacto sinovial durante o movimento19. (Ver o
semanas (para pacientes que não estejam recebendo Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas
profilaxia regular), fisioterapia e inibidores seletivos — Hemorragia articular — Fisioterapia e reabilitação.)
da COX-2 para reduzir a inflamação.13,14 • Em casos crônicos que já não respondam a medidas
não cirúrgicas, uma sinovectomia/sinoviortese pode
ser indicada.
162 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Sinovectomia/sinoviortese química pode ser dolorosa e a injeção do esclerosante


• A sinovectomia deve ser considerada se uma sinovite deve ser combinada com um anestésico local intra-
crônica persistir com sangramento recorrente articular para minimizar a dor, suplementado por
frequente não controlado por outros meios. analgésicos orais (uma combinação de paracetamol
• O procedimento pode ser realizado de vários modos: e um opioide) quando necessário.34-36
injeção intra-articular de compostos químicos • Podem ser necessárias injeções frequentes;
ou radioisótopos (sinoviortese), sinovectomia normalmente, são necessárias 5–6 injeções
artroscópica ou sinovectomia cirúrgica aberta.20,21 semanais até que a sinovite esteja controlada.34-36
• A sinovectomia não cirúrgica deve ser sempre o
primeiro procedimento de escolha para todos os Recomendação 10.2.4:
pacientes. • Para pacientes com hemofilia que apresentem
• A radiossinovectomia está indicada para uma sinovite crônica não resolvida, a WFH
sinovite (confirmada clinicamente ou por ultrassom recomenda a sinovectomia não cirúrgica como
no ponto de cuidados) que cause dois ou mais opção terapêutica de primeira linha, usando a
sangramentos em uma determinada articulação nos sinovectomia com radioisótopo com um emissor
últimos 6 meses apesar do tratamento adequado.9 beta puro (fósforo-32, ítrio-90, rênio-186 ou
• A sinovectomia com radioisótopo usando um rênio-188). Deve ser usada uma dose de CFC por
emissor beta puro (fósforo-32, ítrio-90, rênio-186 dose de isótopo.
ou rênio-188) é muito eficaz, tem poucos efeitos • OBSERVAÇÃO: A escolha do isótopo depende da
colaterais e pode ser realizada em um único articulação que estiver recebendo a injeção e a
procedimento ambulatorial. 9,22-30 disponibilidade do isótopo.
• A escolha e a dose do radioisótopo dependem da • OBSERVAÇÃO: A articulação deve ser imobilizada
articulação que receberá a injeção, da condição da por no mínimo 24 horas, seguida por reabilitação
sinóvia e dos radioisótopos disponíveis. progressiva para restauração da força e da
• A profilaxia deve ser administrada antes da função.
radiossinovectomia; uma dose de CFC costuma ser • OBSERVAÇÃO: Quando não houver
suficiente para uma única injeção do radioisótopo. disponibilidade de radioisótopos, a sinoviortese
• Quando possível, a administração simultânea de química com rifampicina ou cloridrato de
esteroides intra-articulares é recomendada.31 oxitetraciclina (uma injeção semanal por 5–6
• A articulação deve então permanecer em repouso semanas) é uma alternativa, acompanhada por
por no mínimo 24–48 horas31,32 em uma tala ou outro uma dose de CFC por tratamento, um anestésico
dispositivo para imobilização e após esse período a local e analgésicos orais. CB
reabilitação pode começar.
• A reabilitação após uma radiossinovectomia é menos • Em casos de sinovite crônica resistente ao tratamento
intensiva que após uma sinovectomia cirúrgica, com radiossinovectomia, pode ser realizada uma
mas ainda é necessária para ajudar os pacientes a embolização seletiva dos vasos sanguíneos que
recuperar a força, a propriocepção e o uso funcional suprem a sinóvia. Esse procedimento deve ser
da articulação.15 Um programa de reabilitação realizado apenas em centros de imagem médica
individualizado de no mínimo 3 semanas pode especializados.37
ser apropriado.26 Exercícios intensivos e apoio do • A sinovectomia cirúrgica pode ser considerada
peso devem ser evitados imediatamente após uma quando outros procedimentos menos invasivos
radiossinovectomia.33 falharem ou quando for necessário um procedimento
• O objetivo do tratamento é reduzir a sinovite e adicional que deva ser realizado por artroscopia,38
a frequência de sangramentos e, desse modo, como a remoção de um osteófito tibial anterior do
reduzir indiretamente a dor. Não há efeitos sobre tornozelo.
a degeneração articular. Com a melhora da dor • A sinovectomia artroscópica é sugerida em vez da
e a redução dos sangramentos, o paciente pode sinovectomia aberta. 39
recuperar a função por meio de uma reabilitação • Se houver necessidade de uma sinovectomia
apropriada. A redução da dor normalmente ocorre cirúrgica (aberta ou artroscópica), garantir uma
1–3 semanas após a injeção.31,32 cobertura profilática mais longa com CFCs ou outros
• O intervalo mínimo entre tratamentos repetidos na agentes hemostáticos apropriados, suficiente para
mesma articulação corresponde a 6 meses.31 o procedimento e a reabilitação pós-operatória. O
• Se não houver disponibilidade de radioisótopos, a procedimento deve ser realizado por uma equipe
sinoviortese química com rifampicina ou cloridrato de experiente em um centro para tratamento de
oxitetraciclina pode ser considerada. A sinoviortese hemofilia dedicado.
Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas | 163

Recomendação 10.2.5: Tratamento da artropatia hemofílica crônica


• Para pacientes com hemofilia que apresentem
uma sinovite crônica que já não responda a • Os objetivos do tratamento são: reduzir a incidência
intervenções não cirúrgicas, a WFH recomenda de hemartroses, melhorar a função articular, aliviar
sinovectomia cirúrgica (de preferência a dor e ajudar o paciente a continuar ou retomar as
artroscópica, não aberta), apenas por uma equipe atividades normais da vida diária.
experiente em um centro para tratamento de • As opções terapêuticas para a artropatia hemofílica
hemofilia. CB crônica dependem de muitos fatores, incluindo:
‒ o estágio da condição;
• Ver também o Capítulo 7: Tratamento de ‒ os sintomas do paciente;
Hemorragias Específicas — Tabela 7-2; o Capítulo 8: ‒ a idade do paciente;
Inibidores do Fator de Coagulação — Hemofilia A/ ‒ o impacto sobre o estilo de vida e as capacidades
Hemofilia B — Cirurgias e procedimentos invasivos funcionais do paciente;
e o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo — ‒ os recursos disponíveis.
Cirurgias e procedimentos invasivos. • A dor deve ser controlada com analgésicos
apropriados.
• Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para
10. 3 Artropatia hemofílica Hemofilia — Manejo da dor.

Fisioterapia para artropatia hemofílica


• A artropatia hemofílica pode resultar de um único
• A fisioterapia voltada para a preservação da
sangramento ou de sangramentos recorrentes. Em
força muscular e da capacidade funcional é um
geral ela evolui gradualmente de hemartrose para
componente essencial do tratamento da artropatia
sinovite crônica e erosões extensas na superfície
hemofílica crônica.
articular, culminando no estágio final de destruição
• A intensidade da fisioterapia deve aumentar
da articulação, a artropatia hemofílica crônica,40 que
gradualmente e deve ser adaptada de acordo
geralmente se manifesta durante a segunda década
com a cobertura profilática; a fisioterapia deve ser
de vida, em particular se o tratamento profilático não
menos intensa em pacientes com acesso limitado à
estiver disponível ou for inadequado.
reposição de CFC.
• Sangramentos musculares podem provocar
• Em ambientes com poucos recursos e disponibilidade
deformidade articular e contratura, especialmente
de fator, a fisioterapia sem cobertura de fator pode
com sangramentos no interior do músculo psoas ou
ser realizada se o tratamento for coordenado por uma
gastrocnêmio. Contraturas em flexão fixa produzem
equipe multidisciplinar experiente com competência
perda do movimento e comprometimento funcional
na área musculoesquelética.47
significativo e por isso precisam ser prevenidas.
• Uma cobertura profilática intermitente pode ser
• Conforme a artropatia piora, a amplitude de
necessária se ocorrer um sangramento agudo como
movimento e o edema articular diminuem devido à
resultado da fisioterapia. 16 Outros modos de terapia
fibrose progressiva da sinóvia e da cápsula. Quando
como exercícios, terapia manual, eletroterapia e
a articulação se torna anquilosada (enrijecida), a dor
hidroterapia foram usados para complementar a
pode diminuir ou desaparecer.
fisioterapia.48
• A técnica radiográfica apropriada para avaliar a
artropatia hemofílica crônica depende do estágio de
Recomendação 10.3.1:
progressão.
• Para prevenção e tratamento de artropatia
• A RM é útil para avaliar uma artropatia inicial e
hemofílica crônica em hemofílicos, a WFH
mostra as alterações iniciais do tecido mole e
recomenda a combinação da terapia de reposição
osteocondrais.41-43
regular para reduzir a frequência de sangramento
• O ultrassom é útil para avaliar a patologia de tecido
e a fisioterapia voltada para a preservação da força
mole e cartilagem periférica na artropatia hemofílica
muscular e da capacidade funcional. A fisioterapia
inicial.44
pode ser realizada com ou sem cobertura de fator,
• Radiografias simples são insensíveis às alterações
dependendo da disponibilidade e da resposta do
iniciais e são usadas para avaliar as alterações
paciente à terapia. CB
artropáticas tardias.45,46
• Ver o Capítulo 11: Avaliação dos Resultados.
• Outras técnicas de manejo conservadoras incluem:
‒ o imobilização seriada em molde gessado para
corrigir deformidades49;
164 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

‒ dispositivos de tração; em ortopedia sobre as opções de intervenção


‒ imobilizadores e órteses para suporte de cirúrgica, que podem incluir:
articulações dolorosas e instáveis19; ‒ sinovectomia e desbridamento articular;
‒ auxílios para deambulação ou mobilidade ‒ artroscopia para liberação de aderências intra-
para diminuir o estresse em articulações que articulares e correção de impacto;
sustentam o peso; ‒ liberação de tecido mole extra-articular para
‒ adaptações no ambiente doméstico, escolar tratar contraturas;
ou profissional para permitir a participação ‒ osteotomia para corrigir uma deformidade
em atividades comunitárias e emprego e para angular;
facilitar as atividades da vida diária.50 ‒ artrodese (do tornozelo);
‒ substituição da articulação no estágio final da
Recomendação 10.3.2: artrite.
• Para a prevenção e tratamento das sequelas • OBSERVAÇÃO: Recursos adequados, incluindo
da artropatia hemofílica crônica em pacientes um suprimento suficiente de CFCs ou outros
com hemofilia, a WFH recomenda medidas não agentes hemostáticos apropriados (por ex.,
cirúrgicas como imobilização, órteses, auxílios agentes de bypass para pacientes com inibidores)
para deambulação, moldes gessados seriados e e serviços de reabilitação pós-operatória, devem
dispositivos de tração para ajudar na correção estar disponíveis para aumentar a probabilidade
das contraturas em flexão. Isto pode ser realizado de sucesso de qualquer procedimento cirúrgico.
com ou sem cobertura de fator. CB CB

Intervenções cirúrgicas • Ver também o Capítulo 7: Tratamento de


• Se as medidas não cirúrgicas não fornecerem um Hemorragias Específicas — Hemorragia articular
alívio satisfatório da dor e melhoria da função, uma e a Tabela 7-2; o Capítulo 8: Inibidores do Fator de
intervenção cirúrgica pode ser necessária. Coagulação — Hemofilia A/Hemofilia B — Cirurgias
• Os procedimentos cirúrgicos, dependendo da e procedimentos invasivos e o Capítulo 9: Questões
condição específica, podem incluir: Específicas do Manejo — Cirurgias e procedimentos
‒ sinovectomia e desbridamento articular, se invasivos.
necessário38;
‒ artroscopia para liberação de aderências intra-
articulares e correção de impacto, especialmente
na articulação do tornozelo ou do cotovelo51; 10. 4 Hemorragia muscular
‒ liberação de tecido mole extra-articular para
tratar contraturas52; • Sangramentos podem ocorrer em qualquer músculo
‒ osteotomia para corrigir uma deformidade do corpo, geralmente como resultado de uma lesão
angular; ou distensão súbita.
‒ fixadores externos para auxiliar na correção de • Um sangramento muscular é definido como um
uma deformidade53; episódio hemorrágico em um músculo, determinado
‒ substituição protética da articulação (joelho, clinicamente e/ou por estudos de imagem.
quadril, ombro, cotovelo ou tornozelo)54; Geralmente está associado a dor e/ou edema e
‒ excisão da cabeça do rádio para pacientes comprometimento funcional, por ex., claudicação
selecionados com artropatia radiocapitelar55; associada a um sangramento na panturrilha.59
‒ artrodese para artropatia dolorosa no tornozelo. • A identificação precoce e o manejo adequado de
• Recursos adequados, incluindo profilaxia (por ex., sangramentos musculares são importantes para
suprimento suficiente de CFCs) e reabilitação pós- prevenir contraturas permanentes, sangramento
operatória, devem estar disponíveis para respaldar reincidente e uma possível formação de
e aumentar a probabilidade de sucesso de qualquer pseudotumores mais tarde.60
procedimento cirúrgico.56-58 • Os sintomas de um sangramento muscular incluem:
‒ o desconforto no músculo e manutenção do
Recomendação 10.3.3: membro em uma posição de conforto;
• Para pacientes com hemofilia com artropatia ‒ o dor intensa se o músculo for contraído ou
hemofílica crônica nos quais as medidas não distendido ativamente;
cirúrgicas não conseguirem fornecer um alívio ‒ o tensão e sensibilidade à palpação; e
satisfatório da dor e melhora da função, a WFH ‒ o edema.
recomenda uma consulta a um especialista • Os locais de sangramento muscular que estão
Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas | 165

associados a comprometimento neurovascular, • Ver o Capítulo 8: Inibidores do Fator de Coagulação


como os grupos musculares flexores profundos dos para o manejo de sangramentos em pacientes com
membros, requerem manejo imediato para prevenir inibidores.
dano permanente e perda da função. Esses grupos
incluem: Recomendação 10.4.1:
‒ o músculo iliopsoas (risco de paralisia do nervo • Todos os pacientes hemofílicos com sangramentos
femoral); musculares devem receber terapia de reposição de
‒ os compartimentos superficiais e profundos fatores de coagulação imediatamente e, quando
posteriores da região inferior da perna (risco aplicável, devem ser observados em relação a
de lesão dos nervos tibial posterior e fibular complicações neurovasculares associadas ao
profundo); e sangramento. CB
‒ o grupo flexor dos músculos do antebraço (risco
de contratura isquêmica de Volkmann). Monitoramento e manejo clínico
• Um sangramento também pode ocorrer em
músculos mais superficiais, como o bíceps, o jarrete, • É importante monitorar continuamente o
o quadríceps e os músculos glúteos. paciente para detectar uma possível síndrome
• Estão surgindo evidências sugerindo que o compartimental. Os sintomas de uma possível
ultrassom musculoesquelético (USME) pode ser síndrome compartimental incluem aumento da dor,
útil para diferenciar sangramentos musculares de perda da sensação, perda da função e suprimento
outras síndromes dolorosas regionais.61,62 Mesmo sanguíneo inadequado na área distal. Em caso de
assim, se um paciente ou o médico suspeitar de dúvida, medir a pressão no compartimento.
um sangramento muscular ou tiver dificuldade • A dor deve ser avaliada com frequência e
para determinar se um sangramento está em regularidade, pois é uma medida indireta da pressão
progresso, o tratamento hemostático é aconselhado no compartimento.
imediatamente antes da realização de investigações • Sangramentos musculares agudos podem exigir o
confirmatórias ou enquanto se aguardam os escalonamento do protocolo de analgesia para obter
resultados. alívio. (Ver o Capítulo 2: Cuidados Abrangentes para
Hemofilia — Manejo da dor.)
Terapia de reposição de fatores de coagulação • Além da terapia de reposição de fator ou outro
tratamento hemostático apropriado, os médicos
• Um sangramento muscular não tratado pode podem aplicar as seguintes medidas como
provocar a síndrome compartimental (um tratamento adjunto de sangramentos musculares
sangramento muscular profundo em um espaço agudos:
fechado) com lesão neurovascular e tendinosa ‒ Manter o músculo lesado em repouso.
secundária, contratura muscular e necrose. ‒ Quando possível, elevar a área afetada; isto pode
Além disso, um músculo lesado que não receba ajudar a reduzir o edema associado.68
uma reabilitação adequada pode exercer efeitos ‒ Se apropriado, imobilizar o membro afetado com
secundários sobre as articulações adjacentes.63 tala em uma posição de conforto e a ajustar para
• A melhor prática para obter os melhores resultados uma posição de função conforme a dor diminuir.
consiste em tratar imediatamente os sangramentos ‒ Aplicar gelo/compressas frias ao redor do
musculares com CFC, idealmente quando o paciente músculo por 15–20 minutos a cada 4–6 horas
reconhecer os primeiros sinais de desconforto ou para alívio da dor. Não aplicar gelo diretamente
logo após o trauma, para elevar o nível do fator na pele.
do paciente e deter o sangramento. A terapia de • Ver também Fisioterapia e reabilitação para
reposição de fator deve continuar até a resolução sangramentos musculares” a seguir.
dos sinais e sintomas hemorrágicos, geralmente
por 5–7 dias ou mais, se os sintomas indicarem Recomendação 10.4.2:
um sangramento recorrente ou agravamento dos • Para todos os pacientes hemofílicos com
sintomas neurovasculares.64-66 (Ver o Capítulo 7: sangramentos musculares, a WFH recomenda
Tratamento de Hemorragias Específicas — Tabela uma avaliação detalhada, classificação e
7-2.) monitoramento da dor de acordo com a escala de
• Muitas vezes são necessárias infusões repetidas, em dor da OMS, uma vez que a dor no sangramento
particular se houver um possível risco de síndrome muscular pode ser um indicador precoce de lesão
compartimental e/ou necessidade de reabilitação neurovascular e tecidual reversível.
extensa.2,67
166 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

• OBSERVAÇÃO: Embora existam muitas escalas Fisioterapia e reabilitação para sangramentos


para avaliação da dor, o uso da escala da OMS é musculares
preferível porque esta é uma ferramenta simples
e universal que permite a mensuração uniforme • A fisioterapia deve começar assim que a dor
da dor em hemofílicos e gera dados de resultados desaparecer e deve progredir gradualmente até
populacionais comparáveis que são importantes a restauração completa do comprimento, força e
para o progresso do tratamento e das pesquisas função do músculo.15,73 A fisioterapia e reabilitação
em hemofilia. supervisionadas, orientadas por um fisioterapeuta
com experiência no manejo da hemofilia, devem ser
Síndrome compartimental iniciadas:
‒ Garantir uma cobertura profilática apropriada
• O comprometimento neurovascular é uma durante a fisioterapia e a reabilitação. Em
emergência musculoesquelética e requer ambientes com limitação dos recursos e da
observação direta e contínua e o monitoramento da disponibilidade de fatores, a fisioterapia sem
necessidade de fasciotomia. A profilaxia deve ser cobertura de fator pode ser realizada durante
administrada para elevar e manter os níveis de fator o período de reabilitação se o tratamento for
por 5–7 dias ou mais, conforme for indicado pelos coordenado por uma equipe multidisciplinar
sintomas, juntamente com fisioterapia e reabilitação experiente com competência na área
para restaurar a função muscular basal.69-71 (Ver o musculoesquelética.47
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas ‒ Usar imobilização seriada com gesso ou tala,
— Tabela 7-2.) quando necessário, para corrigir qualquer
• Se houver suspeita de síndrome compartimental contratura.
com base clínica, medir a pressão no compartimento. ‒ Usar imobilização de suporte se tiver ocorrido
Se confirmada, uma fasciotomia deve ser realizada uma lesão nervosa.
dentro de 12 horas após o início da síndrome ‒ Avaliar com regularidade a dor do paciente
compartimental.72-74 A fasciotomia tardia tem uma durante a fisioterapia, que pode sugerir um
incidência muito elevada de complicações e está sangramento reincidente.77
contraindicada.75
• A fasciotomia precoce está associada a melhores Hemorragia no iliopsoas
resultados para os pacientes, incluindo uma menor
lesão muscular e nervosa. Depois que um déficit de • Uma hemorragia no iliopsoas pode provocar lesão
nervo motor ocorre, os pacientes raramente exibem musculoesquelética; portanto, uma terapia de
uma recuperação total após a fasciotomia. reposição de fator precoce e efetiva ou o uso de
• Em pacientes com hemofilia, se houver incerteza outros tratamentos hemostáticos apropriados é
sobre a adequação da resposta hemostática, como essencial para minimizar e prevenir as complicações
pode ocorrer em pacientes com inibidores de alta relacionadas.65
resposta, um período de observação mais longo • Uma hemorragia no iliopsoas tem uma apresentação
pode ser justificado para possivelmente evitar particular que às vezes pode ser enganadora. 68
uma fasciotomia e o alto risco de sangramento Os sinais podem incluir dor abdominal baixa, na
não controlado após o procedimento. Contudo, virilha ou na região lombar, com impossibilidade
qualquer demora na realização da fasciotomia após de endireitar as costas ou ficar em pé a partir da
o estabelecimento da síndrome compartimental posição sentada, e dor à extensão, mas não com a
pode levar a resultados não tão bons em termos rotação, da articulação do quadril.64 Os sintomas de
da recuperação muscular e perda subsequente da uma hemorragia no iliopsoas podem mimetizar os da
função.76 apendicite aguda, incluindo um sinal de Blumberg
positivo (sensibilidade de rebote).9 Também pode ser
Recomendação 10.4.3: confundida com uma hemorragia articular no quadril.
• Em pacientes hemofílicos com sangramentos • Pode haver parestesia na face medial da coxa e
musculares e evidência de síndrome comparti- outros sinais de compressão do nervo femoral, como
mental e comprometimento neurovascular, a fas- perda do reflexo do ligamento patelar, fraqueza do
ciotomia é necessária dentro de 12 horas após o quadríceps e, por fim, desgaste muscular.9
momento de início dos sintomas, antes que ocorra • Pacientes com uma hemorragia no iliopsoas podem
uma lesão irreversível em decorrência da necrose precisar ser hospitalizados para observação e
tecidual. CB controle da dor.
Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas | 167

• O repouso rigoroso no leito pode estar indicado. A • OBSERVAÇÃO: Um exame de TC ou angiografia


deambulação com muletas deve ser evitada, uma por TC pode estar indicado, especialmente para
vez que as contrações musculares podem exacerbar um pseudotumor grande e/ou planejamento pré-
a dor e o sangramento.64-66 operatório. CB
• É útil confirmar o diagnóstico e monitorar a
recuperação do paciente usando estudos de • O manejo de um pseudotumor depende de seu local,
imagem (ultrassom, TC 59 ou RM 78).64-66 tamanho, velocidade de crescimento e efeito sobre
• A atividade física deve ser restrita até a resolução as estruturas vizinhas. As opções incluem terapia
da dor e a melhora da extensão do quadril. Um de reposição de fator e monitoramento, aspiração,
programa de fisioterapia com supervisão cuidadosa radiação, excisão cirúrgica e ablação cirúrgica.
é essencial para restaurar a extensão completa do • Para pequenos pseudotumores iniciais, um ciclo
quadril e a atividade e função integrais, assim como breve (6–8 semanas) de terapia de reposição de
prevenir um sangramento reincidente.64-66 fator pode ser tentado e o pseudotumor pode ser
• Se qualquer déficit neuromuscular residual persistir, monitorado usando exame seriado por ultrassom.
um suporte ortótico adicional pode ser necessário, Se for demonstrado que o pseudotumor está
particularmente para prevenir a flexão do joelho diminuindo, continuar a terapia de reposição de
decorrente de uma fraqueza do quadríceps. fator em combinação com a avaliação por ultrassom
• Ver também o Capítulo 7: Tratamento de repetido durante 4–6 meses.79,80 (Ver o Capítulo 7:
Hemorragias Específicas — Tabela 7-2 e o Capítulo Tratamento de Hemorragias Específicas — Tabela
8: Inibidores do Fator de Coagulação. 7-2.)

Recomendação 10.5.2:
• Para pacientes com hemofilia que desenvolverem
10. 5 Pseudotumores pequenos pseudotumores iniciais (antes
da aquisição de uma pseudocápsula) e não
• Um pseudotumor é uma condição específica da tiverem acesso à profilaxia regular, a WFH
hemofilia com possível risco ao membro e à vida. recomenda um ciclo breve (6–8 semanas) de
• Ele se desenvolve como resultado de sangramentos terapia de reposição de fatores de coagulação
de tecido mole tratados modo inadequado, com possível continuação do tratamento se as
geralmente no músculo adjacente ao osso, que pode avaliações seriadas por ultrassom indicarem
estar envolvido de forma secundária. que o pseudotumor está diminuindo, com uma
• Se não tratado, um pseudotumor pode se validação repetida após 4–6 meses. CB
tornar maciço, causando pressão nas estruturas
neurovasculares adjacentes e possivelmente • O manejo de pseudotumores é complexo e está
provocando fraturas patológicas. associado a uma alta taxa de possíveis complicações.
• Uma fístula pode se desenvolver através superfície As alternativas terapêuticas incluem embolização,
da pele. radiação, manejo percutâneo, remoção cirúrgica e
• Os pseudotumores podem ser avaliados e preenchimento do espaço morto da cavidade.9
acompanhados de modo seriado usando imagens de • A aspiração do pseudotumor, seguida por injeções
ultrassom. de selante de fibrina, embolização arterial ou
• Uma avaliação mais detalhada e precisa de um radioterapia, pode curar algumas lesões menores.81,82
pseudotumor pode ser obtida com TC e RM. • A excisão cirúrgica pode ser necessária para
grandes pseudotumores. É necessária a remoção do
Recomendação 10.5.1: pseudotumor com a pseudocápsula — e não apenas
• Para pacientes hemofílicos com sangramento em a evacuação do hematoma.
tecido mole e sinais de um possível pseudotumor, a • A ressecção cirúrgica de grandes pseudotumores
WFH recomenda a avaliação clínica e confirmação abdominais/pélvicos, que representa um desafio
radiológica usando raios-X, ultrassom e especial no manejo cirúrgico da hemofilia, deve
ressonância magnética, quando apropriado. ser realizada apenas por uma equipe cirúrgica
• OBSERVAÇÃO: Embora o ultrassom seja útil para com experiência em hemofilia. Foi constado que a
a avaliação seriada de um pseudotumor em tecido embolização pré-operatória é útil na excisão desses
mole, a RM fornece informações mais detalhadas tumores grandes.
antes da intervenção cirúrgica.
168 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 10.5.3: manter níveis de fator suficientemente elevados


• Para pacientes com hemofilia que desenvolverem para controlar sangramentos por uma semana
grandes pseudotumores, a WFH recomenda ou mais, dependendo da probabilidade de
a excisão cirúrgica do pseudotumor com sua sangramento decorrente do local ou estabilidade
pseudocápsula, realizada apenas por uma equipe da fratura. Subsequentemente, níveis de fator
cirúrgica com experiência em hemofilia, sempre mais baixos podem ser mantidos por 10–14
que possível em um centro para tratamento de dias para prevenir sangramento no tecido mole
hemofilia, seguida por monitoramento atento enquanto ocorre a estabilização da fratura. O
e profilaxia em longo prazo para prevenir a monitoramento clínico é fundamental devido ao
recorrência do sangramento. risco de síndrome compartimental. CB
• OBSERVAÇÃO: Flutuações nos níveis de fator
durante o primeiro ano pós-operatório podem • O plano de tratamento deve ser elaborado para a
aumentar a probabilidade de recorrência do fratura específica e incluir uma cobertura profilática
sangramento. Portanto, o monitoramento atento apropriada se houver necessidade de procedimentos
e uma correção ideal dos níveis de fator têm uma cirúrgicos.
importância fundamental. CB • Evitar moldes gessados e calhas que envolvam
toda a circunferência, se possível, especialmente
• Ver também o Capítulo 7: Tratamento de nos estágios iniciais; talas são preferíveis. 83 O
Hemorragias Específicas — Tabela 7-2, o Capítulo 8: monitoramento é obrigatório, especialmente em
Inibidores do Fator de Coagulação — Hemofilia A/ fraturas do antebraço, para evitar complicações
Hemofilia B — Cirurgias e procedimentos invasivos como síndrome compartimental.
e o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo — • Considerar fixadores externos para fraturas abertas/
Cirurgias e procedimentos invasivos. infectadas. 86
• Evitar uma imobilização prolongada, se possível, já
que isso pode provocar uma limitação da amplitude
10. 6 Fraturas de movimento significativa nas articulações
adjacentes.83,84
• Fraturas não são frequentes em pacientes com • Providenciar a fisioterapia assim que a fratura
hemofilia apesar de uma alta incidência de estiver estabilizada para restaurar a amplitude do
osteopenia e osteoporose, possivelmente devido movimento, a força muscular e a função.33
aos menores níveis de deambulação e intensidade
das atividades.83 Recomendação 10.6.2:
• Contudo, um paciente com artropatia hemofílica • Para hemofílicos que sofrerem fraturas, a WFH
pode correr o risco de fraturas ao redor de uma recomenda talas em vez de moldes gessados
articulação com perda importante do movimento e inteiros para evitar a síndrome compartimental
em ossos osteoporóticos. (especialmente nos estágios iniciais) e fixadores
• O tratamento de uma fratura requer terapia de externos para fraturas abertas ou infectadas. CB
reposição de fator imediata.83-85 Idealmente, os
pacientes devem estar recebendo profilaxia contínua Recomendação 10.6.3:
(por ex., altas doses de CFC) e níveis de fator de no • Para hemofílicos que sofrerem fraturas, a WFH
mínimo 50 UI/dL devem ser mantidos durante pelo recomenda que a imobilização prolongada seja
menos uma semana.11,83-85 Subsequentemente, evitada e aconselha a fisioterapia e reabilitação
níveis mais baixos podem ser mantidos por 10–14 supervisionadas assim que a fratura estiver
dias, enquanto ocorre estabilização da fratura e estabilizada para restaurar a amplitude do
para prevenir sangramento no tecido mole. (Ver o movimento, a força muscular e a função. CB
Capítulo 7: Tratamento de Hemorragias Específicas
— Tabela 7-2.) • Ver também o Capítulo 7: Tratamento de
Hemorragias Específicas — Tabela 7-2; Capítulo 8:
Recomendação 10.6.1: Inibidores do Fator de Coagulação — Hemofilia A/
• Para hemofílicos que sofrerem fraturas, a Hemofilia B — Cirurgias e procedimentos invasivos
WFH recomenda o tratamento imediato com e o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo —
concentrados de fatores de coagulação ou outros Cirurgias e procedimentos invasivos.
agentes hemostáticos e tratamento contínuo para
Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas | 169

10. 7 Cirurgia ortopédica a terapia de reposição de fator e controle e


em hemofilia monitoramento atento da dor, com doses mais
altas de analgésicos no período pós-operatório
• Para pacientes com hemofilia submetidos a imediato. CB
uma cirurgia ortopédica, os melhores resultados
são obtidos em centros de hemofilia dedicados, Recomendação 10.7.3:
onde equipes multidisciplinares capacitadas são • Para pacientes com hemofilia no período pós-
preparadas para lidar com esses pacientes usando operatório de uma cirurgia ortopédica, a WFH
abordagens individualizadas.5,11 recomenda a reabilitação gradual por um
• Uma cirurgia eletiva em múltiplos locais com fisioterapeuta com experiência no manejo da
procedimentos simultâneos ou em estágios podem hemofilia. CB
permitir uma recuperação mais rápida da marcha
e da função geral, assim como o uso criterioso de • Ver também o Capítulo 7: Tratamento de
terapia de reposição de fator 87 ou outros agentes Hemorragias Específicas — Tabela 7-2, o Capítulo 8:
hemostáticos. (Ver o Capítulo 7: Tratamento de Inibidores do Fator de Coagulação — Hemofilia A/
Hemorragias Específicas — Tabela 7-2.) Hemofilia B — Cirurgias e procedimentos invasivos
• O uso de potencializadores da coagulação local e o Capítulo 9: Questões Específicas do Manejo —
pode ser apropriado. A infiltração da ferida com Cirurgias e procedimentos invasivos.
agentes anestésicos locais (lignocaína/lidocaína e/ou
bupivacaína) com adrenalina e um selante de fibrina/
spray é útil para controlar a exsudação ao operar em 10. 8 Substituição da articulação
campos cirúrgicos amplos.56,88,89
• Os cuidados pós-operatórios em pacientes • A substituição da articulação está indicada em
hemofílicos requerem, além da terapia de reposição casos de artropatia hemofílica estabelecida com
de fator (a infusão contínua é preferida) ou outra dor associada e comprometimento funcional, sem
profilaxia, o monitoramento atento da dor e, com resposta a tratamentos não cirúrgicos ou outras
frequência, doses mais altas de analgésicos no cirurgias.
período pós-operatório imediato.56 • A substituição da articulação deve ser realizada
• Uma boa comunicação com a equipe de reabilitação apenas em centros para tratamento de hemofilia
pós-cirúrgica é essencial.33 O conhecimento reconhecidos, com cirurgiões ortopédicos
dos detalhes da cirurgia realizada e do estado experientes e suporte hematológico e laboratorial
intraoperatório das articulações facilitará o apropriado.
planejamento de um programa de reabilitação • Esses centros devem ter uma equipe multidisciplinar
apropriado. que inclua enfermagem, assistente social e
• Como parte dos cuidados abrangentes, a fisioterapia fisioterapeuta familiarizados com as necessidades
pré e pós-operatória é necessária para obter um de pacientes hemofílicos submetidos a uma
resultado funcional ideal.33 artroplastia.90

Recomendação 10.7.1: Hemostasia durante o período perioperatório


• Para pacientes com hemofilia que necessitarem
de uma cirurgia ortopédica, especialmente em • Uma hemostasia meticulosa é crucial para o sucesso
casos onde uma exsudação esteja presente no do procedimento cirúrgico. Os níveis plasmáticos
local de fechamento, assim como em espaços específicos do fator necessários durante as
mortos ou cavidades, a WFH sugere o uso diferentes fases da cirurgia são descritos no Capítulo
de potencializadores de coagulação local e 7: Tratamento de Hemorragias Específicas — Tabela
infiltração da ferida com agentes anestésicos 7-2. Alguns centros utilizam uma infusão contínua da
locais (lignocaína/lidocaína e/ou bupivacaína) terapia de reposição de fator, em particular durante
mais adrenalina e selante de fibrina ou spray as primeiras 72 horas, que mantém de modo mais
para controlar a exsudação de sangue durante a constante um nível protetor mínimo de fator.91
operação em campos cirúrgicos amplos. CB • Foi demonstrado que o uso de antifibrinolíticos
perioperatórios e selante de fibrinas reduz a perda
Recomendação 10.7.2 sanguínea. Entretanto, não há um consenso sobre a
• Para pacientes com hemofilia que necessitarem duração do tratamento pós-operatório.92
de uma cirurgia ortopédica, a WFH recomenda • Geralmente não há necessidade de profilaxia para
170 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

trombose venosa profunda em pacientes submetidos e abrangente. Como alternativa, o fisioterapeuta


a uma artroplastia com cobertura de fator, a não especializado em hemofilia pode entrar em contato
ser que sejam mantidos níveis plasmáticos muito com um fisioterapeuta na comunidade do paciente
elevados durante o período pós-operatório.93 (Para para providenciar os cuidados pós-operatórios.57
considerações sobre tromboembolismo venoso
e tromboprofilaxia em cirurgias, ver o Capítulo 9: Recomendação 10.8.1:
Questões Específicas do Manejo — Cirurgias e • Para pacientes com hemofilia, a WFH recomenda
procedimentos invasivos.) a substituição da articulação apenas em casos
de artropatia hemofílica estabelecida que não
Considerações cirúrgicas responda a tratamentos não cirúrgicos ou outros
tipos de cirurgia e seja acompanhada por dor
• No joelho, muitas vezes há uma incongruência associada, comprometimento funcional e perda
anteroposterior/medial-lateral, que deve ser da participação nas atividades da vida diária.
prevista. Ocasionalmente pode ser necessário um • OBSERVAÇÃO: No período perioperatório, ácido
implante personalizado. Uma deformidade angular tranexâmico e selante de fibrina podem ser
significativa, subluxação patelar e subluxação usados para reduzir a perda sanguínea.
posterior da tíbia costumam ser encontradas e • OBSERVAÇÃO: Idealmente a fisioterapia deve
podem exigir uma extensa liberação de tecido mole. começar no dia da cirurgia, com mobilização
• A substituição bilateral simultânea do joelho é precoce e exercícios progressivos adequados para
recomendada em alguns casos e deve-se considerar recuperar o movimento e a força muscular. CB
a realização de procedimentos adicionais, se
indicados.87 Complicações e considerações em longo prazo
• Os princípios da substituição do joelho são os
mesmos empregados para a população geral. • Os pacientes com hemofilia tendem a apresentar
Na maioria das vezes, são usados implantes com escores funcionais do joelho menos favoráveis e mais
estabilização posterior ou implantes com hastes e complicações pós-operatórias após uma substituição
aumentos para defeitos ósseos associados. do joelho, em comparação à população geral. Isto
• Um cimento contendo antibiótico deve ser usado em ocorre principalmente em decorrência de fatores de
todos os casos em que uma fixação com cimento for complicação e envolvimento multiarticular.96-98
realizada. • A cirurgia do joelho não deve ser adiada por
• O fechamento da ferida deve ser meticuloso. muito tempo, uma vez que a deformidade em
• Não há consenso sobre o uso de drenos. flexão pré-operatória tem um efeito significativo
• Não há consenso sobre o melhor tipo de fixação para sobre o resultado pós-operatório. Joelhos com
substituição do quadril.94 uma deformidade em flexão superior a 25
  graus apresentam um maior risco de resultados
Fisioterapia pós-operatória desfavoráveis e desenvolvimento de deformidades
em flexão no pós-operatório.99
• A fisioterapia deve ser iniciada assim que possível, • Historicamente, as taxas de infecção após a
idealmente no dia da cirurgia. As sessões de terapia artroplastia em pacientes hemofílicos eram maiores
devem enfocar a recuperação de funções corporais que as observadas na população geral. Contudo,
como a amplitude do movimento e a força muscular essas taxas de infecção diminuíram na última
antes de aumentar para o treinamento funcional e de década. Hoje, as taxas relatadas são quase as
resistência. mesmas da população geral.54
• Para prevenir a formação de aderências articulares, • Pacientes com hemofilia apresentam um maior risco
a mobilização precoce e o trabalho dedicado para de contrair uma infecção secundária tardia.100
recuperação do movimento são cruciais.95 Durante • Pacientes com infecção por HIV ou HCV podem
esta fase, também é necessária a atenção a um apresentar um maior risco de infecção da prótese
retardo da cicatrização da ferida e dos tecidos e aos articular.
riscos de sangramentos reincidentes. A reabilitação • A sobrevida em longo prazo dos implantes para
funcional deve ser a meta, mas apenas quando substituição da articulação pode ser a mesma
todas as funções corporais possíveis tiverem sido da população geral, dependendo do grau de
restauradas. competência da equipe de cuidados para hemofilia,
• Os fisioterapeutas no centro para tratamento de do tipo de implante usado e da gravidade da doença
hemofilia geralmente constituem o melhor recurso musculoesquelética da articulação.54,101
para elaborar um programa ambulatorial seguro • Ver também o Capítulo 8: Inibidores do Fator de
Capítulo 10: Complicações Musculoesqueléticas | 171

Coagulação — Hemofilia A/Hemofilia B — Cirurgias • As estratégias individuais de intervenção


e procedimentos invasivos e o Capítulo 9: Questões psicossocial devem tentar ajudar o indivíduo a se
Específicas do Manejo — Cirurgias e procedimentos adaptar à dor e ao comprometimento funcional105 e
invasivos. desenvolver estratégias de tolerância como:
‒ identificar/reconhecer estressores e pontos
fortes;
10. 9 Impacto psicossocial ‒ segmentar as preocupações (ou seja, definir
das complicações metas e prioridades e desenvolver estratégias
musculoesqueléticas para abordar os problemas um a um);
‒ examinar as opções;
• Apesar dos grandes avanços dos cuidados para ‒ buscar informações;
hemofilia nos últimos anos, os hemofílicos continuam ‒ fortalecer os sistemas de suporte;
a enfrentar dificuldades psicossociais com as ‒ manter comunicações efetivas;
complicações musculoesqueléticas relacionadas à ‒ mudar a perspectiva em relação à situação;
hemofilia. Em particular, isto afeta os indivíduos que ‒ usar técnicas de distração;
cresceram antes da profilaxia e aqueles que não têm ‒ usar autoafirmações para tolerância.106
acesso à profilaxia.102 • A intervenção psicossocial fortalece a resiliência
• Um estudo sobre pessoas com hemofilia moderada do paciente, estimulando a autoeficácia e a eficácia
e grave constatou que aqueles com artropatia mais relacionada à saúde, a flexibilidade cognitiva,
significativa apresentavam menor qualidade de vida, resistência, otimismo e autorrepresentação.
especialmente no domínio físico.103 • As oportunidades de mentoria de pares e
• As limitações psicossociais da artropatia hemofílica aprendizado em grupo ajudam a promover o suporte,
podem ser agravadas por104: reduzir o isolamento, aumentar a receptividade a
‒ alterações da marcha; informações e fortalecer a resiliência.107
‒ múltiplas articulações afetadas;
‒ dor crônica. Recomendação 10.9.1:
• O impacto psicossocial desses fatores agravantes • Para pacientes com hemofilia que apresentem
pode resultar em104: dor musculoesquelética crônica ou limitações
‒ tempo de escola ou trabalho perdido; funcionais, a WFH recomenda intervenções
‒ limitações da participação em esportes; psicossociais individualizadas para atender às
‒ menor socialização e/ou maior isolamento; necessidades específicas de cada indivíduo, com
‒ autopercepções negativas relacionadas à imagem base em suas circunstâncias físicas, emocionais,
corporal, masculinidade e/ou autoestima; sociais, educacionais e culturais. CB
‒ ausência de uma sensação de normalidade;
‒ flexibilidade física limitada no posicionamento Recomendação 10.9.2:
sexual; • Para pacientes com hemofilia que apresentem
‒ dificuldades nas relações pessoais; dor musculoesquelética crônica ou limitações
‒ perda de papel e/ou mudanças de papel; funcionais, a WFH recomenda avaliações
‒ maior fadiga; psicossociais individualizadas específicas
‒ comportamentos de tolerância negativos. e estratégias de intervenção visando obter
• Em hemofílicos, a incapacidade resultante da uma melhor qualidade de vida, incluindo
doença articular com frequência ocorre em uma aconselhamento psicossocial, aconselhamento
idade anterior à população geral e pode prejudicar educacional e laboral e planejamento financeiro.
a capacidade de demonstrar um desempenho CB
confiável no local de trabalho. Isto pode fazer os
indivíduos se aposentarem antes do planejado, Recomendação 10.9.3:
provocar perdas de papel indesejadas ou mudanças • Para pacientes com hemofilia que apresentem
em todos os aspectos da vida e afetar negativamente dor musculoesquelética crônica ou limitações
as finanças.104 funcionais, a WFH recomenda a promoção
• As intervenções psicossociais devem ser de redes de suporte, mentoria de pares e
individualizadas para atender às circunstâncias oportunidades de educação em grupo para
e necessidades específicas de cada indivíduo, promover a capacidade de lidar com complicações
incluindo suas necessidades físicas, emocionais, musculoesqueléticas, reduzir o isolamento social
sociais, educacionais e culturais.105 e fortalecer a resiliência. CB
172 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

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97. Bae DK , Yoon KH, Kim HS, Song SJ. Total knee ar thro- plast
y in hemophilic ar thropathy of the knee. J Arthroplasty. 20
05;20 (5):664-668.
INFORMAÇÕES DE SUPORTE
98. Silva M, Luck JV Jr. Long-term results of primar y total
Outras informações de suporte podem ser encontradas
knee re- placement in patients with hemophilia. J Bone
on-line na seção Informações de Suporte.
Joint Surg Am. 2005;87(1):85-91.

99. Atilla B, Caglar O, Pekmezci M, Buyukasik Y, Tokgozoglu


AM, Alpaslan M. Pre-operative flexion contracture
determines the functional outcome of haemophilic
arthropathy treated with total knee arthroplasty.
Haemophilia. 2012;18(3):358-363.

100. Rodriguez-Merchan EC, Gomez-Cardero P, Jimenez-Yuste


V. Infection after total knee arthroplasty in haemophilic
arthropathy with special emphasis on late infection.
Haemophilia. 2011;17(5):e8 31-e832.
176 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

11 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS


Pradeep M. Poonnoose1 | Brian M. Feldman2 | Piet de Kleijn3 | Manuel A. Baarslag4 |
Radoslaw Kaczmarek5 | Johnny Mahlangu6 | Margaret V. Ragni7 | Glenn F. Pierce8 |
Alok Srivastava9

1. Departamento de Ortopedia, Christian Medical College, Vellore, Índia


2. Departamento de Pediatria, University of Toronto, Divisão de Reumatologia, Hospital for Sick Children, Toronto, ON, Canadá
3. Van Creveldkliniek, University Medical Center Utrecht, Utrecht, Países Baixos
4. Bemmel, Países Baixos
5. Departamento de Pediatria, Indiana University School of Medicine, Indianapolis, Indiana, EUA
6. Departamento de Medicina Molecular e Hematologia, University of the Witwatersrand, National Health Laboratory Service,
Johannesburgo, África do Sul
7. Divisão de Hematologia/Oncologia, Departamento de Medicina, University of Pittsburgh Medical Center, Pittsburgh, Pensilvânia, EUA
8. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
9. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

Todas as declarações identificadas como recomendações Objetivos da avaliação de resultados


são baseadas em consenso, o que é indicado por CB.
• A avaliação de resultados pode ser usada para
acompanhar a evolução da doença de um indivíduo,
11. 1 Introdução obter informações para orientar os cuidados
clínicos de rotina, medir a resposta ao tratamento
• Para otimizar o tratamento e tomar decisões clínicas e determinar se há necessidade de modificar o
economicamente sólidas, são necessárias evidências tratamento. A avaliação de resultados também pode
objetivas dos resultados em curto e longo prazo dos ser usada para quantificar a saúde de um grupo
regimes terapêuticos.1 de pacientes, medir a qualidade dos cuidados e
• Resultado refere-se à condição de um paciente que defender a disponibilização de recursos.
resulta de uma doença ou intervenção médica. Ele • Além disso, a avaliação de resultados pode ser
é determinado pela avaliação clínica, incluindo o uso usada para fins de pesquisa, por exemplo, para
de instrumentos para avaliação da qualidade de vida documentar a história natural da doença, testar novos
relacionada à saúde (HRQoL) genéricos e específicos tratamentos ou comparar diferentes tratamentos.
para a doença, medidas de resultados relatados pelos • A pesquisa de resultados de saúde pode ser usada
pacientes (PROs) e exames laboratoriais, incluindo para orientar as decisões relativas aos gastos com o
estudos de imagem.2-7 Esses instrumentos medem tratamento.
uma variedade de parâmetros, incluindo atividades
e participação, estrutura e função corporal, ônus da
doença e estado de saúde subjetivo, como descrito 11. 2 Avaliação de resultados
adiante neste capítulo. em hemofilia
• Tanto os instrumentos de avaliação genéricos
quanto os específicos para hemofilia possibilitam a • A avaliação de resultados em hemofilia deve cobrir
avaliação da natureza dos comprometimentos físicos dois aspectos: resultados relacionados à doença e
e limitações funcionais e seus impactos sobre as relacionados ao tratamento.
vidas dos hemofílicos e suas famílias.1 • Os resultados relacionados à doença são referentes
• O maior uso desses instrumentos padronizará a à eficácia do tratamento hemostático e são refletidos
avaliação e permitirá a comparação dos dados entre em resultados como:
indivíduos e coortes.8-10 ‒ frequência de sangramento; e
Capítulo 11: Avaliação dos Resultados | 177

‒ impacto do sangramento sobre o sistema • Uma hemorragia muscular é definida como


musculoesquelético e outros sistemas em curto um episódio de sangramento em um músculo,
e longo prazo, incluindo o impacto psicossocial determinado clinicamente e/ou por estudos de
da hemofilia. imagem, geralmente associado a dor e/ou edema e
• Os resultados relacionados ao tratamento devem perda do movimento em relação à condição basal.11
ser monitorados usando um plano prospectivo • Em lactentes e crianças pequenas, a relutância
e sistemático e devem incluir a triagem e teste de em usar o membro pode indicar um sangramento
desenvolvimento de inibidores em hemofílicos articular ou muscular.11
tratados com concentrados de fatores de coagulação • Definições de eficácia do tratamento hemostático
(CFCs). (Ver o Capítulo 8: Inibidores do Fator de para sangramentos articulares e musculares foram
Coagulação.) desenvolvidas e devem ser usadas ao documentar
• Outras complicações menos comuns da terapia os resultados do tratamento. (Ver o Capítulo 7:
de reposição de CFC incluem trombose e reações Tratamento de Hemorragias Específicas — Tabela
alérgicas/anafiláticas. (Ver o Capítulo 9: Questões 7-1.)
Específicas do Manejo.)
Recomendação 11.2.1:
Frequência de sangramento • Para provedores de cuidados para hemofílicos,
a WFH recomenda garantir que a frequência
• A frequência de sangramento (em particular de todos os sangramentos seja documentada
sangramentos articulares e musculares) e a em tempo real pelos pacientes/cuidadores e
resposta ao tratamento são os indicadores mais examinada em conjunto no mínimo anualmente,
importantes da eficácia do tratamento hemostático com referência em particular a sangramentos
e os melhores previsores substitutos dos resultados intra-articulares, intramusculares e no sistema
musculoesqueléticos em longo prazo. nervoso central, incluindo seu estado de
• Todos os sangramentos devem ser documentados recuperação. Os critérios padrão definidos pelo
pelos pacientes/cuidadores em tempo real no Comitê Científico e de Padronização da Sociedade
momento de sua ocorrência usando diários manuais Internacional de Trombose e Hemostasia devem
ou eletrônicos ou outros sistemas de relato e ser usados. CB
analisados periodicamente (no mínimo uma vez
por ano) pelo profissional que tratar sua hemofilia Avaliação da dor em hemofilia
usando um protocolo padrão. (Ver o Capítulo 2:
Cuidados Abrangentes para Hemofilia — Tratamento • A dor na hemofilia pode ser aguda (como em um
domiciliar — Automanejo.) sangramento agudo) ou crônica (como resultado de
• Em particular, o sangramento no sistema nervoso uma artropatia) ou as duas podem ocorrer ao mesmo
central (SNC) requer documentação devido a seu tempo.
possível impacto sobre as funções neurológicas e • A dor relacionada à hemofilia pode ser avaliada
musculoesqueléticas. usando escalas unidimensionais de classificação
• Devido às possíveis dificuldades na determinação numérica ou visual,12 como a Escala FACES de
clínica de hemorragias articulares e musculares e Wong-Baker,13,14 ou questionários multidimensionais
para promover a congruência ao documentar esse para dor genéricos como o Questionário de Dor
importante parâmetro, os critérios definidos pelo de McGill15 ou o Inventário Breve de Dor (BPI)16,17
Comitê Científico e de Padronização da Sociedade ou instrumentos específicos para a doença como o
Internacional de Trombose e Hemostasia devem ser Questionário Multidimensional de Dor na Hemofilia
seguidos.11 (MHPQ).
• Uma hemorragia articular é definida como uma “aura” • A dor também pode ser classificada por subescalas
sensorial incomum na articulação, em combinação dentro dos questionários de qualidade de vida —
com qualquer um dos seguintes sinais11: tanto genéricos18 quanto específicos para a doença19
‒ aumento do edema ou calor da pele sobre a — e também em instrumentos específicos para
articulação; avaliação articular como o Escore de Gilbert20 e o
‒ aumento da dor; ou Escore de Saúde Articular em Hemofilia (HJHS).21
‒ perda progressiva da amplitude do movimento ou • A dor é avaliada e abordada de modo mais
dificuldade para usar o membro em comparação adequado no contexto de um ambiente de cuidados
à condição basal. abrangentes.16
178 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Domínios para avaliação do impacto de • O conceito de qualidade de vida (QoL) é complexo e


sangramentos sobre o sistema musculoesquelético engloba muitas características dos ambientes social,
e outros sistemas cultural, econômico e físico do indivíduo, assim como
o estado de saúde física e mental.4,22
• Em condições como a hemofilia, recomenda-se que • A qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL)
os resultados sejam avaliados de acordo com os é um sinônimo de estado de saúde autorrelatado;
domínios do modelo de Classificação Internacional as medições de HRQoL em geral incluem vários
de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (ICF) da aspectos do modelo ICF.25 Para que seja expressiva,
Organização Mundial de Saúde (OMS).22,23 é melhor que não seja usada isoladamente, mas
• De acordo com o ICF, a avaliação de incapacidade e junto com a avaliação de estrutura corporal, função
saúde4,24 deve enfocar o impacto da doença sobre e atividades.
as estruturas e as funções corporais, a atividades e • Embora a maioria dos instrumentos de avaliação
a participação. dos resultados tenha sido validada em crianças
• Esses domínios podem ser afetados por fatores mais velhas, existe uma escassez de instrumentos
contextuais individuais, que representam as específicos para a doença validados para avaliar
circunstâncias e o histórico de uma pessoa, e incluem os resultados em crianças muito pequenas com
tanto fatores ambientais quanto pessoais. hemofilia grave (ou seja, com menos de 4 anos de
• Os fatores ambientais compreendem os ambientes idade) durante o período em que normalmente
físicos, sociais e comportamentais em que um iniciam a profilaxia em longo prazo e a possibilidade
indivíduo vive e conduz suas atividades de rotina. de desenvolvimento de inibidores é mais alta.
• Os fatores pessoais incluem aspectos que não fazem • A capacidade de um instrumento detectar alterações
necessariamente parte da condição de saúde ou do sutis após intervenções terapêuticas em crianças
estado de saúde de um indivíduo, como idade, sexo com um bom estado das articulações e baixa
e estado nativo. frequência de sangramentos é limitada e requer
• Ver a Figura 11-1 para um resumo do modelo ICF maior atenção.26
e instrumentos de avaliação de resultados por
domínio.

Doença — Hemofilia

HAL/
PedHAL
HJHS
HAL/
FISH COPM
PedHAL
Raios-X
Estrutura e
função corporal Atividade Participação SF-36
US

PROBE
RM
HAEMO-
QoL-A

Fatores Fatores
ambientais pessoais

FIGURA 11-1 | Modelo de Classificação Internacional de Funcionalidade e Saúde (ICF), com os instrumentos de avaliação
dos resultados relacionados aos domínios. COPM: Medida de Desempenho Ocupacional Canadense; FISH: Escore de
Independência Funcional em Hemofilia; HAEMO-QoL-A: questionário de qualidade de vida específico para hemofilia para
adultos; HAL: Lista de Atividades para Hemofilia; HJHS: Escore de Saúde Articular em Hemofilia; RM: ressonância magnética;
PedHAL: Lista de Atividades para Hemofilia — Pediátrica; PROBE: Resultados, Ônus e Experiências Relatados pelo Paciente;
SF-36: Instrumento de Pesquisa de 36 Itens, Formulário Breve; US: ultrassom
Capítulo 11: Avaliação dos Resultados | 179

11. 3 Estrutura e função corporal 11. 4 Atividades e participação


• Estrutura corporal refere-se a estruturas anatômicas • Atividade refere-se à execução de uma tarefa ou
e partes do corpo, como órgãos, membros e seus ação por um indivíduo.4 No contexto da hemofilia,
componentes.22,24 atividade em geral se refere às atividades da vida
• Função corporal refere-se às funções fisiológicas diária instrumentais (por ex., andar, subir escadas,
desses sistemas, como amplitude de movimento, escovar os dentes, toalete).
força e estabilidade articular. • Participação refere-se ao envolvimento em situações
• Em hemofilia, isto se refere, por exemplo, ao estado de vida no contexto de interações sociais.
das articulações e grupos musculares específicos, • Muitas vezes é difícil classificar de modo distinto os
avaliado clínica e radiologicamente. itens e os instrumentos de avaliação dos resultados
como pertencentes a apenas um desses dois
Medidas de estrutura e função corporal domínios; portanto, os dois domínios com frequência
recomendadas na hemofilia são combinados na avaliação dos resultados.
• Em hemofilia, as medidas de atividade são definidas
• O Escore de Saúde Articular em Hemofilia (HJHS) é como autorrelatadas ou baseadas no desempenho
o instrumento de exame físico mais bem estudado (ou seja, observadas).22
em crianças e adultos.21,27,28 (Ver a Figura 11-2.)
• O escore radiológico de Pettersson29 é a medida Instrumentos recomendados para medir as
de imagem da estrutura articular mais usada. Esta atividades e a participação
pontuação não é sensível às alterações precoces;
por isso, instrumentos mais sensíveis foram • A Lista de Atividades para Hemofilia (HAL)15,44 é um
desenvolvidos para avaliar a artropatia. (Ver a Tabela instrumento de medição específico para a doença.
11-1.) É a medida mais bem estudada de atividades
• A ressonância magnética (RM) provavelmente autorrelatadas para adultos45 e foi traduzida para
é a medida mais sensível da estrutura articular. muitos idiomas. A utilidade das três subpontuações
Existem várias escalas que podem ser usadas para (extremidade superior, extremidade inferior básica
quantificar a artropatia na RM 30,31; contudo, essa e extremidade inferior complexa) foi demonstrada
modalidade é cara, demorada e difícil de realizar em nos Estados Unidos e no Reino Unido.15,16,46 (Ver a
crianças pequenas. (Ver a Tabela 11-2.) Tabela 11-4.)
• Atualmente, sistemas de classificação de ultrassom • A Lista de Atividades para Hemofilia – Pediátrica
(US) estão disponíveis para avaliar a artropatia (PedHAL) 47 é derivada da HAL. É uma medida
hemofílica32-35 e podem detectar um derrame autorrelatada para crianças com hemofilia.45 (Ver a
articular,36 doença articular inicial37 e doença articular Tabela 11-5.)
subclínica38 e promover a aderência à medicação.39 • Tanto a HAL quanto a PedHAL foram desenvolvidas
(Ver a Tabela 11-3.) por profissionais que tratam a hemofilia nos Países
• Os algoritmos para classificação de US podem ser Baixos; portanto, sua aplicabilidade pode não ser tão
relativamente subjetivos, mas sua confiabilidade boa quando usadas em outros contextos culturais.48,49
pode ser ampliada se a avaliação for realizada por • O Escore de Independência Funcional em Hemofilia
um profissional de hemofilia com treinamento em US (FISH)48,50 é a medida de desempenho observado
musculoesquelético.35 para hemofílicos mais bem estudada, 45 com muitos
• Estão surgindo evidências sugerindo que o relatos de uso em diferentes países e grupos etários.
ultrassom musculoesquelético (USME) pode ser útil (Ver a Tabela 11-6.)
na avaliação clínica e no manejo de uma artropatia • O questionário de Resultados, Ônus e Experiências
hemofílica dolorosa, por ser capaz de diferenciar Relatados pelo Paciente (PROBE) também inclui
sangramentos articulares e inflamação articular métricas que avaliam as atividades e a participação,
de sangramentos musculares e outras síndromes como escola/educação, emprego, vida familiar e
dolorosas regionais.40,41 Mesmo assim, em qualquer impacto sobre as atividades da vida diária.6,7 (Ver
circunstância, se um paciente ou médico suspeitar 11.8 Resultados relatados pelos pacientes, a seguir.)
de uma hemorragia articular ou muscular aguda ou • A Medida de Desempenho Ocupacional Canadense
tiver dificuldade para avaliar se um sangramento (COPM)51 e o Questionário de Incapacidade do Paciente
está em andamento, o tratamento hemostático é de McMaster — Toronto (MACTAR)52 são instrumentos
aconselhado imediatamente antes da realização genéricos usados para a avaliação cotidiana da
de investigações confirmatórias ou enquanto os percepção de uma pessoa sobre as alterações nos
resultados são aguardados. domínios de atividades e participação. Eles podem ser
usados para mensurar a obtenção de metas.
180 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Nº. de ID do indivíduo ______________________ Nome do fisioterapeuta _____________________

Nº. da avaliação ____________ Data _______________


Hora: _____________________ dd/mm/aaaa

Escore de Saúde Articular em Hemofilia 2.1 — Folha de Resumo da Pontuação


Cotovelo esquerdo Cotovelo direito Joelho esquerdo Joelho direito Tornozelo esquerdo Tornozelo direito
Edema NA NA NA NA NA NA
Duração (edema) NA NA NA NA NA NA
Atrofia muscular NA NA NA NA NA NA
Crepitação ao movimento NA NA NA NA NA NA
Perda de flexão NA NA NA NA NA NA
Perda de extensão NA NA NA NA NA NA
Dor articular NA NA NA NA NA NA
Força NA NA NA NA NA NA
Total da articulação

Soma dos totais da articulação NA = não avaliável

Escore global da marcha

( NA incluído nos itens de marcha)

Pontuação total no HJHS

Edema Crepitação ao Força (usando a escala de Daniels & Worthingham)


0 = Sem edema movimento Na ROM disponível
1 = Leve 0 = Nenhuma 0 = Mantém a posição de teste contra a gravidade com resistência máxima
2 = Moderado 1 = Leve (gr. 5)
3 = Grave 2 = Grave 1 = Mantém a posição de teste contra a gravidade com resistência moderada
Perda de flexão (mas interrompe com resistência máxima) (gr. 4)
Duração Contralateral Tabelas normativas 2 = Mantém a posição de teste com resistência mínima (gr. 3+) ou mantém a
0 = Sem edema ou < 6 0 = < 5° 0 = dentro da faixa posição de teste contra a gravidade (gr. 3)
meses 1 = 5°–10° 1 = 1°–4° 3 = Capaz de completar ROM parcialmente contra a gravidade (gr. 3-/2+) ou
1 = 6 meses 2 = 11°–20° 2 = 5°–10° capaz de movimento por toda a ROM com a eliminação da gravidade (gr. 2)
3 = > 20° 3 = > 10° ou pela ROM parcial com a eliminação da gravidade (gr. 2-)
Atrofia muscular 4 = Contração residual mínima (gr. 1) ou ausente (gr. 0)
0 = Nenhuma Perda de extensão (decorrente de NA = não avaliável
1 = Leve Contralateral hiperextensão)
2 = Grave 0 = < 5° Tabelas normativas Marcha global (caminhar, lidar com escadas, correr, pular em uma perna)
1 = 5°–10° 0 = dentro da faixa 0 = Todas as habilidades estão dentro dos limites normais
2 = 11°–20° 1 = 1°–4° 1 = Uma habilidade não está dentro dos limites normais
3 = > 20° 2 = 5°–10° 2 = Duas habilidades não estão dentro dos limites normais
3 = > 10° 3 = Três habilidades não estão dentro dos limites normais
Dor articular 4 = Nenhuma habilidade está dentro dos limites normais
0 = sem dor por toda a amplitude de movimento ativa NA = não avaliável
1 = sem dor por toda a amplitude ativa; dor apenas com pressão suave
excessiva ou palpação
2 = dor por toda a amplitude ativa

OBSERVAÇÃO: Há um manual de instruções e planilhas incluídos que são necessários ao administrar o HJHS
Comentários gerais:

Escore de Saúde Articular em Hemofilia (Hemophilia Joint Health Score) 2.1 . © The Hospital for Sick Children, Centre Hospitalier Universitaire Sainte
Justine, the Regents of the University of Colorado, Karolinska Hospital, University Medical Center Utrecht, 2009. Usado sob licença por The Hospital for Sick
Children.

FIGURA 11-2 Escore de Saúde Articular em Hemofilia 2.1 — Folha de Resumo da Pontuação.42
Disponível em: http://www1.wfh.org/docs/en/Publications/Assessment_Tools/HJHS_Summary_Score.pdf
Capítulo 11: Avaliação dos Resultados | 181

TABELA 11-1 | Escore Radiológico de Pettersson29 abrangentes para hemofilia, disponibilidade de


CFCs, compreensão médica, cobertura de seguro de
Alteração radiológica Achado
Escorea saúde53 e distância de deslocamento até um centro
(pontos) para tratamento de hemofilia.54
• Osteoporose Ausente 0 • Para crianças com hemofilia, o suporte familiar e,
se necessário, o suporte e avaliação psicossocial
Presente 1 adicionais fornecidos pela equipe de cuidados para
• Aumento da epífise Ausente 0 hemofilia podem constituir um fator facilitador
importante.
Presente 1
Fatores pessoais
• Irregularidade da Ausente 0
superfície subcondral
Discreta 1 • Os pontos fortes e as deficiências pessoais de um
indivíduo podem ter uma influência significativa nos
Pronunciada 2
resultados do tratamento.
• Estreitamento do Ausente 0 • A avaliação de fatores, como o locus de controle, e as
espaço articular características psicológicas, como raiva, depressão
< 50% 1
e otimismo, pode ser usada para orientar e informar
> 50% 2 os cuidados individuais ou pesquisas.55
• Outra influência importante e mensurável nos
• Formação de cisto Ausente 0 resultados do tratamento é a aderência do paciente/
subcondral
1 cisto 1 família ao tratamento.56,57

> 1 cisto 2

• Erosões na margem Ausentes 0 11. 6 Fatores econômicos


articular
Presentes 1
• Os custos e os benefícios associados dos cuidados
• Incongruência entre as Ausente 0 médicos podem ser quantificados e usados em
superfícies articulares pesquisas, desenvolvimento de programas e
Discreta 1 representação.
Pronunciada 2
Custos diretos
• Deformidade Ausente 0
(angulação e/ou
• Os custos diretos incluem os custos dos tratamentos
deslocamento de ossos Discreta 1
articulados) médicos, serviços de saúde e suprimentos médicos
Pronunciada 0 e cirúrgicos.
• Os CFCs para pacientes com hemofilia grave
a
Possível escore articular: 0–13 pontos para cada articulação (escore total
possível, 6 × 13 = 78). geralmente representam mais de 90% dos custos
relacionados ao tratamento.58

11. 5 Fatores ambientais e pessoais Custos indiretos

• Os custos indiretos são originados pela perda de


Fatores ambientais
produtividade no trabalho para pacientes adultos
e pais de pacientes pediátricos em decorrência do
• Embora os fatores ambientais façam parte do
tempo que passam lidando com os cuidados para
modelo ICF, eles geralmente não são considerados
hemofilia de seus filhos.
“resultados” em si, mas podem representar uma
• Os custos resultantes da doença ou da procura de
intervenção importante no processo de reabilitação.4
atendimento médico às vezes são semelhantes, mas
• Os fatores ambientais que influenciam os resultados
geralmente variam conforme o país.59
incluem facilitadores e obstáculos ao tratamento.
Estes podem incluir o acesso a um centro de cuidados
182 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

TABELA 11-2 | Escala de RM do IPSG para avaliação de artropatia hemofílica43

Alterações dos tecidos moles Efusão/hemartrose Pequena (1)__

Moderada (2)__

Grande (3)__

Hipertrofia sinovial Pequena (1)__

Moderada (2)__

Grande (3)__

Hemossiderina Pequena (1)__

Moderada (2)__

Grande (3)__

Subpontuação de alterações no tecido mole Máximo de 9 pontos __

Alterações osteocondrais Erosões da superfície Qualquer erosão da superfície (1)__


envolvendo o córtex
subcondral ou as margens Metade da superfície articular ou mais (1)__
articulares com erosão em pelo menos um osso

Cistos subcondrais Pelo menos um cisto subcondral (1)__

Cistos subcondrais em pelo menos dois ossos ou (1)__


alterações císticas envolvendo um terço da superfície
articular ou mais em pelo menos um osso
Degradação da cartilagem Qualquer perda da altura da cartilagem articular (1)__

Perda de metade ou mais do volume total de (1)__


cartilagem articular em pelo menos um osso
Perda de toda a espessura da cartilagem articular (1)__
em pelo menos alguma área
Perda de toda a espessura da cartilagem articular (1)__
em pelo menos alguma área em no mínimo um osso
Perda de toda a espessura da cartilagem articular, (1)__
incluindo no mínimo metade da superfície articular
em pelo menos um osso
Subpontuação de alterações osteocondrais Máximo de 8 pontos __

Abreviações: IPSG: International Prophylaxis Study Group; RM: ressonância magnética.

11. 7 Qualidade de vida Instrumentos mais usados para medir a qualidade de


relacionada à saúde vida relacionada à saúde

• Qualidade de vida relacionada à saúde é um sinônimo • O EQ-5D2,3 e o SF-3661,62 são instrumentos


de estado de saúde subjetivo (relatado pelo próprio genéricos amplamente utilizados para avaliar a QoL
paciente ou pela família).25 em hemofilia. (Ver as Tabelas 11-7 e 11-8.)
• As medições de HRQoL geralmente consistem em • O questionário PROBE avalia a QoL, além do ônus
questionários que têm como objetivo quantificar a da doença em hemofílicos.6,63-65
saúde de um paciente de um modo global. • Para crianças com hemofilia, a Ferramenta
• Devido à sua natureza global, as medidas de Canadense de Avaliação de Resultados de Hemofilia
HRQoL em geral têm um escopo mais superficial — Qualidade de Vida Infantil (CHO-KLAT) é
que as medidas individuais dos diferentes domínios amplamente usada.4,66
indicados anteriormente; portanto, é mais adequado • Para adultos com hemofilia, o Índice de Bem-estar
aplicá-los em combinação com avaliações específicas em Hemofilia67 e o questionário de qualidade de vida
dos domínios do ICF, e não isoladamente.60 específico para hemofilia para adultos (HAEMO-
• Uma dificuldade adicional em seu uso é que devem QoL-A) são amplamente usados.4,5
ser validados no idioma e nos contextos sociais e
culturais de sua aplicação.
Capítulo 11: Avaliação dos Resultados | 183

TABELA 11-3 | Método de pontuação TABELA 11-5 | Lista de Atividades para Hemofilia —
do HEAD-US32 Pediátrica (PedHAL) v.1147
Atividade da doença (sinovite) Escala Itens
Sinóvia hipertrófica
(n)
0. Ausente/mínima 0
1. Leve/moderada 1 PedHAL geral 53
2. Grave 2 Domínios da PedHAL
Lesão pela doença (superfícies articulares) Deitar/sentar/ajoelhar/ficar em pé 10
Cartilagem
Funções das pernas 11
0. Normal 0
1. Anormalidades da ecotextura, perda 1 Funções dos braços 6
parcial focal/de toda a espessura da
cartilagem articular envolvendo < 25%
Uso de transporte 3
da superfície visadaa Autocuidados 9
2. Perda parcial/de toda a espessura da 2
cartilagem articular envolvendo ≤ 50% Tarefas domésticas 3
da superfície visadaa
Atividades de lazer e esportes 11
3. Perda parcial/de toda a espessura da 3
cartilagem articular envolvendo > 50% Observação: Disponível em: http://elearning.wfh.org/resource/haemophilia-
da superfície visadaa activities-list-pediatric-pedhal/

4. Destruição completa da cartilagem ou 4


visualização ausente da cartilagem articular
na superfície óssea visadaa
Osso
1. Normal 0 TABELA 11-6 | Escore de Independência Funcional em
2. Irregularidades leves do osso 1 Hemofilia (FISH)48
subcondral com/sem osteófitos iniciais
ao redor da articulação Lista das atividades testadas
3. Desorganização do osso subcondral 2 Autocuidados Transferências Locomoção
com/sem erosões e presença de osteófitos
proeminentes ao redor da articulação Comer Transferência de/ Andar
para cadeira
Abreviações: HEAD-US: Detecção Precoce de Artropatia em Hemofilia por
Ultrassom. Cuidados pessoais Agachar-se Subir escadas
a
Cotovelo, face anterior da epífise distal do úmero; joelho, tróclea do fêmur;
tornozelo, face anterior do domo do tálus. Tomar banho Correr

Vestir-se
Observações: As pontuações variam de 1 a 4 para cada atividade,
TABELA 11-4 | Lista de Atividades para Hemofilia (HAL) dependendo do grau de independência. 1: incapaz de realizar; 2: requer
200515 ajuda de um assistente/auxílio; 3: capaz de realizar a atividade sem auxílio,
mas não como um indivíduo saudável; 4: capaz de realizar a atividade
Itens (n) como outros indivíduos saudáveis. Disponível em: http://elearning.wfh.org/
resource/functional-independence-score-in-hemophilia-fish/.
HAL geral 42
Domínios da HAL
Deitar/sentar/ajoelhar/ficar em pé 8
Funções das pernas 9
TABELA 11-7 | Instrumento EQ-5D68
Funções dos braços 4
Uso de transporte 3 Descrição do sistema do EQ-VAS
EQ-5Da
Autocuidados 5
Mobilidade • Registra a saúde registrada
Tarefas domésticas 6 pelo próprio respondente em
Autocuidados uma escala análoga visual
Atividades de lazer e esportes 7 vertical, que varia de 0 (pior
Atividades usuais
Componentes da HAL estado de saúde imaginável) a
Dor/desconforto 100 (melhor estado de saúde
Extremidade superior (HALupper) 9 imaginável)
Ansiedade/depressão
Extremidade inferior básica (HALlowbas) 6
Abreviações: EQ: EuroQoL; VAS, escala análoga visual.
Extremidade inferior complexa (HALlowcom) 9 a Versões de três itens, cinco itens e juvenis estão disponíveis.

Observação: Disponível em múltiplos idiomas em:


http://elearning.wfh.org/resource/hemophilia-activities-list-hal/
184 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Recomendação 11.7.1: (IPAQ), Pesquisa de Saúde de 36 Itens, Formulário


• A WFH recomenda a avaliação e documentação Breve v2 (SF-36v2), Sistema de Informações de
da saúde musculoesquelética e geral de cada Medição de Resultados Relatados pelos Pacientes
paciente no mínimo anualmente. Isto deve incluir (PROMIS)71,72 e instrumentos específicos para a
uma avaliação da estrutura e função corporal, doença como a HAL73, medidas de HRQoL como
níveis de atividade, participação e qualidade de CHO-KLAT,66 HAEMO-QoL-A5 e questionários
vida relacionada à saúde conforme a Classificação sobre o ônus da doença como o PROBE.6
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade • Embora os dados gerados por um instrumento de
e Saúde da Organização Mundial de Saúde (ICF PRO possam fornecer evidências de um benefício do
da OMS), o máximo possível, no contexto clínico tratamento do ponto de vista do paciente, a escolha
correto. do instrumento deve ser individualizada para o
• OBSERVAÇÃO: Definições padronizadas e desenho do estudo ou a necessidade clínica para a
ferramentas validadas devem ser usadas o avaliação de resultados específicos, e não apenas as
máximo possível, incluindo as seguintes: propriedades psicométricas do instrumento. 74
‒ Para estrutura e função corporal, a avaliação
clínica das articulações é realizada com
TABELA 11-8 | Instrumento de Pesquisa de 36 Itens,
(mais) frequência usando o Escore de Saúde Formulário Breve (SF-36)69
Articular em Hemofilia (HJHS) em crianças e
adolescentes. Itens (n)

‒ No mesmo domínio, as alterações estruturais SF-36 geral 36


precoces das articulações são avaliadas mais
Domínios do SF-36
adequadamente usando ultrassom (US) ou
ressonância magnética (RM). Alterações • Função física 10

osteocondrais tardias podem ser avaliadas em • Limitações de papel devido a 4


radiografias simples. problemas de saúde física
‒ Os níveis de atividade funcional devem ser • Limitações de papel devido a 3
avaliados usando a opção mais adequada problemas pessoais ou emocionais
disponível para aquele indivíduo, incluindo a • Energia/fadiga 4
Lista de Atividades para Hemofilia (HAL), a • Bem-estar emocional 5
Lista de Atividades para Hemofilia – Pediátrica
(PedHAL) ou o Escore de Independência • Funcionamento social 2

Funcional em Hemofilia (FISH). • Dor 2


‒ A HRQoL é um aspecto importante das
• Saúde geral 5
medições de resultados, que pode ser avaliada
usando ferramentas genéricas ou específicas
para a doença, mas apenas em combinação
com os outros domínios da ICF da OMS. CB 11. 9 Conjunto central de medidas
para uso no contexto clínico ou
de pesquisa
11. 8 Resultados relatados • Na área da saúde, o foco está mudando cada vez
pelos pacientes mais do volume de serviços fornecidos para o valor
criado para os pacientes. Neste contexto, valor é
• Os resultados relatados pelos pacientes (PROs)
definido como os resultados obtidos em relação aos
fornecem um relato da condição de saúde de um
custos.75
paciente que vem diretamente do paciente, sem
• Embora muitas opções para avaliação de resultados
a interpretação de sua resposta por um médico ou
tenham sido descritas aqui, na prática, os centros
outra pessoa.70
para tratamento de hemofilia e os médicos podem
• Isto engloba medidas de sintomas unidimensionais
selecionar os instrumentos mais apropriados para
e multidimensionais, HRQoL, estado de saúde,
seus pacientes. Os instrumentos de avaliação
aderência ao tratamento, satisfação com o
dos resultados podem ser classificados como
tratamento e outras medidas.71
obrigatórios, recomendados e opcionais.1
• PROs incluem instrumentos genéricos como o
• Para extrair o potencial dos cuidados de saúde
EQ-5D-5L, Inventário Breve de Dor v2 (BPI),
baseados no valor, as medidas de resultados
Questionário Internacional de Atividade Física
padronizadas devem ser encorajadas.
Capítulo 11: Avaliação dos Resultados | 185

• Isto significa assumir o compromisso de realizar 7. Patient Outcomes Research Group. Patient Reported
medições de um conjunto mínimo de resultados Outcomes Burdens and Experiences (PROBE) study.
suficiente para cada principal condição médica, com PROBE website. https:// probestudy.org/. Accessed
métodos bem definidos para sua coleta, que então November 6, 2019.
deverão ter aplicação universal. 8. World Federation of Hemophilia. World Bleeding Disorders
• O Registro Mundial de Distúrbios Hemorrágicos Registr y. World Federation of Hemophilia website. https://
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INFORMAÇÕES DE SUPORTE
Outras informações de suporte podem ser encontradas
on-line na seção Informações de Suporte.
Capítulo 12: Metodologia | 189

12 METODOLOGIA
Sandra Zelman Lewis1 | Donna Coffin2 | Lucy T. Henry3 | Sonia O' Hara4 | Thomas J. Schofield5 |
Maura Sostack6 | Debbie Hum2 | Melanie Golob7 | Fiona Robinson2 | Mark Brooker8 |
Vincent Dumez9 | Glenn F. Pierce2 | Alok Srivastava10
1. EBQ Consulting, LLC, Northbrook, Illinois, EUA
2. Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
3. Ottawa, ON, Canadá
4. HCD Economics, Chester, Reino Unido
5. EBQ Consulting, LLC, Santa Monica, Califórnia, EUA
6. EBQ Consulting, LLC, Filadélfia, Pensilvânia, EUA
7. EBQ Consulting, LLC, Olympia, Washington, EUA
8. Anteriormente, Federação Mundial de Hemofilia, Montreal, QC, Canadá
9. Centre of Excellence on Partnership with Patients and the Public, Université de Montréal, Montreal, QC, Canadá
10. Departamento de Hematologia, Christian Medical College, Vellore, Índia

12. 1 Fundamentação confiar.4,7 A abordagem TCBS3 produz recomendações


não tendenciosas, cientificamente válidas e confiáveis
A Federação Mundial de Hemofilia (WFH) por meio de um processo transparente que incorpora
desenvolveu a primeira edição das Diretrizes para tanto as evidências disponíveis, identificadas usando
Manejo da Hemofilia em 2005.1 Essas diretrizes foram uma abordagem sistemática para reduzir o viés, e
atualizadas em 20122 e desde então foram recebidas orientações clínicas de especialistas.
mundialmente com mais de um milhão de impressões Este capítulo descreve a metodologia usada para
e distribuição on-line (incluindo downloads da revista desenvolver a terceira edição das Diretrizes para
Haemophilia e dos sites da WFH, distribuições impressas Manejo da Hemofilia da WFH.
da WFH e traduções da WFH e Organizações-membro
Nacionais). Para esta terceira edição, a WFH decidiu
adotar um método de desenvolvimento diferente, 12. 2 Metodologia
incorporando abordagens baseadas em evidências e
Declaração Baseada em Consenso Fidedigno (TCBS)3, O processo TCBS produz recomendações orientadas
em conformidade com as normas internacionais por evidências e respaldadas por um levantamento
estabelecidas para diretrizes de prática clínica.4,5 abrangente e sistemático da literatura científica
Em doenças raras como a hemofilia,6 existem relevante, que primeiro é selecionada com base em
limitações no desenvolvimento de diretrizes baseadas critérios de inclusão/exclusão predeterminados, e
em evidências em decorrência de lacunas na base então é seguido pela extração de dados das evidências
de evidências relacionadas ao pequeno tamanho disponíveis e relevantes. A técnica Delphi consiste
das amostras e à escassez de dados metodológicos em um processo amplamente utilizado e aceito para
rigorosos originados de estudos randomizados solicitar feedback e chegar a um consenso.8 Existem
controlados. A grande variedade de tratamentos muitas variações,9-12 mas a abordagem Delphi
e práticas para hemofilia empregados no mundo modificada para recomendações de diretrizes permite
todo também contribui para os focos de pesquisa a consideração da base de evidências e também da
heterogêneos no estado atual da ciência para hemofilia. opinião de especialistas, ao mesmo tempo suprimindo
Análises quantitativas dos dados sobre vários aspectos a introdução de um viés pela interação grupal. A WFH
do manejo (por ex., meta-análises diretas ou meta- adotou a abordagem TCBS, já utilizada por várias
análises de rede) não são viáveis nessas circunstâncias. sociedades profissionais médicas,13,14 uma vez que este
Quando as evidências não são suficientemente tipo de diretriz incorpora meticulosidade e transparência
maduras para respaldar análises quantitativas para ao processo de desenvolvimento de diretrizes para
recomendações baseadas em evidências, é importante recomendações do painel de especialistas orientadas
fornecer aos médicos e outros profissionais de saúde, por evidências e baseadas em consenso.7 Como ocorre
hemofílicos e defensores orientações em que possam
190 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

com diretrizes totalmente baseadas em evidências, como inibidores, complicações musculoesqueléticas e


a abordagem TCBS inclui uma análise rigorosa dos diversas comorbidades, assim como os pais de crianças
métodos e do conteúdo pelas partes interessadas que vivem com essas condições. Os integrantes
internas e externas de todos os tipos. Essa abordagem dos painéis foram recrutados de diversos contextos
é baseada em cinco pilares importantes: demográficos, geográficos e socioeconômicos para
‒ o confiança na composição e seleção do painel; garantir a relevância global dessas diretrizes.
‒ pesquisa de evidências sistemática e abrangente;
‒ obtenção de um consenso formal; Processo para o fluxo de trabalho e supervisão do
‒ transparência dos dados e métodos durante todo painel
o processo; e
‒ processo de revisão rigoroso. Os coordenadores de conteúdo e dos capítulos
orientaram os painéis ao longo do processo de
Composição dos painéis: estrutura e revisão desenvolvimento dos capítulos e forneceram sua
experiência com o conteúdo. As responsabilidades dos
A WFH indicou um coordenador de conteúdo geral coordenadores dos capítulos, com o auxílio de outros
(AS) e um coordenador de conteúdo assistente (GP), profissionais de saúde em seus painéis, incluíram
ambos com uma grande experiência no campo da o desenvolvimento de um conjunto abrangente de
hemofilia, e um consultor de metodologia (SZL) com subtópicos importantes por capítulo, a orientação
ampla experiência no desenvolvimento de diretrizes e dos bibliotecários médicos sobre os termos de
competência na abordagem TCBS. Uma Força-tarefa pesquisa relevantes, a preparação de uma minuta
do Processo de Diretrizes (GPTF) foi estabelecida com as recomendações iniciais e o desenvolvimento
pela WFH para fornecer uma supervisão objetiva dos manuscritos, incluindo a citação de pesquisas
do processo. A GPTF foi composta por membros do importantes. As responsabilidades dos coordenadores
Comitê Educacional da WFH, incluindo pacientes e um dos capítulos também incluíram garantir que os pontos
hematologista não envolvido no desenvolvimento das de vista dos pacientes/cuidadores integrantes dos
diretrizes. painéis fossem solicitados e abordados. Embora a vasta
O coordenador de conteúdo e o ex-Vice-presidente maioria das recomendações aborde o cuidado e o manejo
médico da WFH fizeram os convites iniciais para o de pacientes, em vez de tratamentos, os coordenadores
painel de especialistas e representativo de modo a de conteúdo e dos capítulos também garantiram que
cumprir os critérios descritos a seguir. Um objetivo não houvesse menção a nenhum produto específico
importante, nem sempre atingido por organizações para ou nome comercial; com exceção do capítulo de
diretrizes e pesquisa,15 foi garantir que não houvesse Diagnóstico e Monitoramento Laboratorial, onde os
nenhum conflito de interesse sério dos coordenadores produtos terapêuticos podem não ser reconhecidos por
em relação aos tópicos e minimizar a porcentagem de seus nomes não registrados internacionais (INN) pela
participantes do painel com conflitos relevantes. comunidade e os nomes comerciais foram incluídos
Esta terceira edição das diretrizes da WFH inclui uma para todos os produtos, sem os quais erros médicos
ampla revisão dos sete capítulos existentes na edição de acidentais poderiam ocorrer. Para os reagentes
2012, assim como vários capítulos novos. Cada capítulo diagnósticos, os nomes comerciais específicos para
foi designado para um painel composto por7–10 membros, os quais houvesse evidências publicadas disponíveis
incluindo um coordenador do capítulo, profissionais de sobre a validação do ensaio foram incluídos em cada
saúde com competência clínica e pacientes/cuidadores, categoria de reagente.
sendo que os últimos constituíram no mínimo 25% Todos os integrantes dos painéis tiveram
de cada painel de capítulo. Um total de50 integrantes envolvimento em toda a organização dos tópicos,
do painel foi designado para os 11 capítulos de geração de evidência, obtenção de um consenso
conteúdo, com alguns integrantes atuando em mais sobre as recomendações e preparação de minutas e
de um painel. A WFH recorreu a seus voluntários revisões do manuscrito. As reuniões, comunicações e
internacionais e sua ampla rede de partes interessadas treinamentos foram conduzidos por videoconferência,
para recrutar especialistas de diversas disciplinas de e-mail e pesquisas eletrônicas. Os registros e slides
saúde (hematologistas, cirurgiões ortopédicos e outros das sessões de treinamento e das ligações foram
especialistas em condições musculoesqueléticas, disponibilizados posteriormente a todos os membros.
fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, cientistas Todos os integrantes dos painéis tiveram a oportunidade
laboratoriais, enfermeiros, dentistas e profissionais da de ler todos os capítulos antes da finalização e revisões
área psicossocial). O painel também incluiu uma ampla externas.
representação de pessoas que convivem com a hemofilia, A condição igualitária de todos os integrantes dos
incluindo aquelas com complicações relacionadas painéis (fossem profissionais de saúde ou pacientes/
Capítulo 12: Metodologia | 191

cuidadores), a importância da competência de Estratégias de pesquisa e fontes de informação


cada indivíduo e a obrigatoriedade de que todos os Todas as estratégias de pesquisa foram desenvolvidas
integrantes dos painéis trabalhassem juntos para por um bibliotecário médico em colaboração com os
solicitar e validar todos os pontos de vista foram especialistas no conteúdo envolvidos em cada capítulo
enfatizadas nos treinamentos. Sob a direção do GPTF, e o coordenador de conteúdo geral. Todas as pesquisas
um parceiro facilitador para pacientes foi contratado foram restritas a estudos em língua inglesa e conduzidos
para contribuir com o treinamento sobre o valor apenas em seres humanos. Não foram implementadas
agregado por essa abordagem ao desenvolvimento exclusões com base na geografia ou tipo de cuidados.
de diretrizes e as questões práticas de sua aplicação As pesquisas foram conduzidas na PubMed, na Base
e ajudar na implementação dessa filosofia. O parceiro de Dados de Revisões Sistemáticas Cochrane (CDSR),
facilitador para pacientes forneceu suporte aos no Registro Central de Estudos Controlados Cochrane
pacientes/cuidadores integrantes dos painéis durante (CENTRAL) e na EMBASE, cobrindo o período de
todo o processo de desenvolvimento das diretrizes com 1 de janeiro de 2000 à data da pesquisa, entre maio
ligações mensais e orientação e suporte não financeiro, e novembro de 2019. As estratégias de pesquisa
se necessário. completas podem ser encontradas nos materiais
suplementares on-line.
Financiamento Não foram conduzidos rastreamentos ou pesquisas
das listas de referência das revisões sistemáticas
A única fonte de financiamento para estas diretrizes identificadas. Uma exceção foi aberta para a nova
foi a Federação Mundial de Hemofilia. revisão de Avaliação dos Resultados, onde a lista de
referências de um artigo pioneiro bem respeitado
foi rastreada. Os coordenadores dos capítulos e os
integrantes dos painéis foram convidados a propor
12. 3 Geração de evidências qualquer literatura diretamente relevante que não
tivesse sido identificada pelo levantamento formal, que
Uma equipe qualificada e experiente de seria examinada para inclusão.
bibliotecários médicos, avaliadores, metodologistas e
extratores de dados foi reunida para atualizar a base Contexto e desenhos dos estudos
de evidências. Revisões sistemáticas separadas da Devido ao volume de literatura identificado, restrições
literatura publicada foram conduzidas para 10 dos posteriores foram aplicadas aos estudos incluídos (por
11 capítulos de conteúdo. Uma revisão da literatura ex., por ano de publicação e desenho do estudo) sem
não foi considerada relevante para um capítulo, conhecimento da literatura identificada. A maioria
Princípios dos Cuidados, que enfoca os objetivos ideais dos estudos selecionados para extração foi limitada a
e as aspirações em vista da compreensão atual da datas de publicação posteriores a 1 de janeiro de 2010
hemofilia e da ciência e tecnologias disponíveis. Outras (precedendo a data-limite para pesquisa na edição
pesquisas foram desenvolvidas especificamente para anterior das diretrizes), com exceção do novo capítulo
abordar procedimentos odontológicos, procedimentos sobre Avaliação dos Resultados, onde a data de inclusão
cirúrgicos e invasivos planejados e de emergência e a foi estendida retroativamente até 1 de janeiro de 2005.
área emergente de avaliação genética, resultando em Outros artigos e revisões qualitativas foram citados,
um total de 11 revisões conduzidas. Os detalhes das quando relevantes, mas não foi realizada uma extração
estratégias de pesquisa, os Principais Itens para Relato dos dados. Os desenhos dos estudos retidos consistiram
de Revisões Sistemáticas e Meta-análises (PRISMA) e em estudos randomizados controlados, estudos semi-
as evidências extraídas são fornecidas nos materiais randomizados controlados e estudos comparativos
suplementares on-line. prospectivos. Em alguns casos, estudos retrospectivos
foram incluídos por solicitação dos coordenadores dos
Critérios para elegibilidade do estudo capítulos individuais. Alguns estudos incluídos foram
confirmados mais tarde como retrospectivos, durante a
População, intervenções, comparações e resultados extração. Estes foram retidos nas tabelas de evidências
Em todos os capítulos, os estudos que incluíram e marcados como retrospectivos na coluna de desenho
pacientes com hemofilia A ou B foram retidos. Critérios do estudo. Estudos transversais foram incluídos na base
populacionais adicionais foram estabelecidos para cada de evidências do capítulo Diagnóstico e Monitoramento
capítulo. Não houve exclusões com base em sexo ou Laboratorial. Revisões sistemáticas foram incluídas
idade. A elegibilidade dos estudos incluídos não foi apenas para referência.
limitada por intervenções, comparações ou resultados
em qualquer área de conteúdo. 
192 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

Seleção dos estudos as recomendações. As tabelas de evidências estão


Para cada uma das 11 estratégias de pesquisa, os disponíveis nos materiais suplementares on-line.
critérios de seleção foram desenvolvidos com base
em critérios pré-especificados, definidos durante Risco de viés em estudos individuais
as ligações para desenvolvimento da pesquisa do Não foram conduzidas análises quantitativas formais
capítulo, em colaboração com os coordenadores dos e não foram efetuadas avaliações críticas da qualidade
capítulos. As referências identificadas foram analisadas dos estudos individuais. Deve-se observar que a
em termos da elegibilidade específica para o capítulo hemofilia é classificada6 como uma doença rara, o que
usando o software de gerenciamento de referências provoca limitações inerentes dos estudos de pesquisa
Distiller SR®. primários; portanto, a maioria das avaliações teria
Uma equipe de sete revisores treinados selecionou produzido níveis baixos ou muito baixos de evidências.
os títulos e resumos. Um teste-piloto foi conduzido Com exceção das limitações de desenho dos estudos
antes da seleção de cada capítulo, com todos os impostas nas pesquisas e seleções da literatura,
revisores avaliando as mesmas 50 referências, seguido não foram efetuadas outras exclusões com base na
por discussões e modificações das formas de seleção, qualidade metodológica dos estudos de pesquisa.
quando necessário para esclarecimento. O restante da Em princípio, nenhuma recomendação foi classificada,
seleção de títulos e resumos foi realizada por uma única já que a vasta maioria da base de evidências no campo,
revisão em todos os capítulos. Não foram realizadas devido aos obstáculos para pesquisas clínicas e
duplas triagens. Para 8 dos 11 capítulos, uma segunda coleta de dados em doenças raras, é insuficiente para
rodada de seleção de títulos e resumos dos estudos respaldar meta-análises. A classificação é baseada
consideráveis potencialmente elegíveis foi conduzida em dois componentes, a qualidade da evidência e
por dois motivos. Em primeiro lugar, conforme a o equilíbrio entre os benefícios e danos e/ou riscos.
equipe de seleção foi se familiarizando com a literatura A primeira representa uma avaliação da qualidade
identificada pelas pesquisas, e por meio de discussões das evidências que respaldam as recomendações
adicionais com os coordenadores dos capítulos e de específicas para cada resultado. Quando evidências
conteúdo, critérios de triagem adicionais foram aplicados de baixo nível são particionadas por resultados, os
às rodadas de revisão subsequentes. As decisões sobre dados restantes não são viáveis para respaldar análises
a seleção foram tomadas sem o conhecimento dos quantitativas. Uma tentativa de classificar essas
integrantes dos painéis sobre a literatura identificada, recomendações poderia ser enganosa para a audiência-
para evirar um viés nos resultados. Em segundo lugar, alvo composta por profissionais de saúde.16 O segundo
uma seleção secundária de títulos e resumos permitiu componente não é explícito na ausência de avaliações
que a equipe eliminasse com eficiência as referências da qualidade, por isso não designamos um nível de
irrelevantes, fornecendo medidas para economia de robustez às recomendações. Portanto, no interesse
tempo e custos. As referências que não foram eliminadas da transparência, as recomendações nas diretrizes da
durante a seleção de títulos e resumos foram analisadas WFH não foram classificadas, mas foram indicadas
quanto à elegibilidade em uma triagem do texto integral. claramente como “CB”, que significa baseadas em
Para mais detalhes relativos ao fluxo de referências consenso.
nos diagramas PRISMA, consultar os materiais
suplementares on-line.
12. 4 Obtenção de consenso formal
Extração dos dados e desenvolvimento das tabelas
de evidências
pelas técnicas Delphi
Regras e processos a priori
Tabelas de evidências foram criadas para cada
capítulo. Os resultados relevantes foram determinados
Após a minuta das recomendações pelos profissionais
com o auxílio dos coordenadores dos capítulos.
de saúde designados, cada conjunto de recomendações
Um metodologista sênior (TS) forneceu a supervisão
passou pelo processo de consenso Delphi modificado.
e a organização das tabelas de evidências. Uma equipe
Várias decisões a priori que orientaram o processo
de 15 metodologistas e analistas de dados extraíram
Delphi modificado foram determinadas pela GPTF:
os dados relevantes de todos os estudos incluídos.
‒ Até três rodadas de pesquisas Delphi foram
Não foram realizadas extrações duplas. As tabelas
permitidas para obter consenso.
de evidências e os artigos de pesquisa subjacentes
‒ A taxa de resposta mínima para cada rodada de
para cada capítulo foram compartilhados com todo
pesquisa foi estabelecida em 75% dos integrantes
o painel do capítulo e usados pelos coordenadores
dos painéis elegíveis com direito a voto.
dos capítulos e profissionais de saúde para orientar
Capítulo 12: Metodologia | 193

‒ O limiar para obtenção de consenso correspondeu fizessem julgamentos semelhantes com base nas
a 80% dos entrevistados indicando concordância evidências e em sua experiência como pacientes
ou forte concordância. hemofílicos/cuidadores da família no sistema de saúde.
‒ As afirmações que obtiveram consenso Essas diretrizes se beneficiaram das experiências
na primeira ou segunda rodada não foram dos pacientes/cuidadores integrantes dos painéis.
submetidas a rodadas subsequentes. Contudo, alguns expressaram alguma hesitação sobre
‒ Não foram permitidos relatórios minoritários. a solicitação para votar em recomendações sobre
As minutas de recomendações que não obtiveram as quais não tinham competência ou experiência.
consenso após três rodadas não aparecem como Portanto, se a recomendação abordasse uma área
recomendações nas diretrizes finais. Contudo, os tópicos com a qual os pacientes/cuidadores integrantes dos
subjacentes podem estar incluídos no texto relevante painéis não tivessem familiaridade, eles poderiam
do capítulo, geralmente com um apelo para pesquisas optar pela exclusão do denominador, votando neutro
adicionais nessas áreas para ajudar a resolver algumas e acrescentando a frase “Não tenho experiência nesta
das controvérsias. área” no campo de comentários. Isto indicava que seu
voto neutro não deveria ser incluído no denominador
Pesquisas Delphi quando os votos fossem contados. Em todos os capítulos,
53 de 344 recomendações (15%) obtiveram consenso
As pesquisas Delphi modificadas foram com pelo menos um paciente/cuidador integrante do
conduzidas usando SurveyMonkey, com todas as painel selecionando esta opção. Essas escolhas foram
respostas permanecendo anônimas, com exceção do feitas de modo seletivo pelos pacientes/cuidadores
administrador independente (MG) que criou e gerenciou integrantes dos painéis individuais, com base caso a
o processo. Todos os integrantes dos painéis receberam caso para cada recomendação, e não afetaram os votos
dois treinamentos sobre a abordagem TCBS, lembretes dos outros.
por escrito das regras e do processo Delphi e instruções Para recomendações que não obtiveram consenso na
na primeira página das pesquisas. primeira ou na segunda rodada, os coordenadores dos
As recomendações iniciais foram esboçadas por capítulos redigiram revisões baseadas nos comentários
profissionais de saúde, designados pelos coordenadores fornecidos pelos entrevistados. As recomendações
dos capítulos. As recomendações foram baseadas revisadas foram submetidas à rodada seguinte de
nas evidências fornecidas nas tabelas de evidências e votação. Os tópicos de quaisquer recomendações que
artigos, assim como na experiência e competência dos não obtivessem um consenso no fim da terceira rodada
integrantes dos painéis. Os integrantes dos painéis poderiam ser indicados nos manuscritos, juntamente
foram treinados para redigir as recomendações. O com apelos por pesquisas futuras nas respectivas áreas.
consultor e os editores forneceram orientações e Após o fim de todas as rodadas Delphi, não foi obtido
editaram as recomendações para fazer com que fossem consenso em 13 (< 4%) recomendações. As agências de
específicas e práticas. financiamento de pesquisa são encorajadas a priorizar
Antes do início do processo Delphi modificado, todo essas áreas para abordar as lacunas no conhecimento.
o painel do capítulo, incluindo os pacientes/cuidadores, As contagens nas pesquisas com o grau de consenso
se reuniu por teleconferência para discutir as evidências para cada recomendação estão disponíveis mediante
como um grupo e receber instruções sobre o processo solicitação (research@wfh.org).
Delphi. Não foi permitida uma discussão da minuta das
recomendações para evitar a ocorrência ou mesmo Desvios do processo
a percepção de um viés de interação no grupo. Os
integrantes dos painéis puderam sugerir tópicos para Houve alguns desvios do processo descrito que
recomendações adicionais que não apareciam na lista. exigiram pesquisas adicionais após a terceira rodada.
Quando novos tópicos foram sugeridos, os profissionais Uma recomendação na seção de hemorragia muscular
de saúde designados para a seção daquele capítulo do capítulo de Tratamento de Hemorragias Específicas
foram encarregados de redigir novas recomendações foi encaminhada novamente para votação porque
para abordar as lacunas identificadas. surgiram novas evidências (embora de baixo nível)
Os integrantes dos painéis foram encorajados a que levantaram dúvidas sobre o prazo especificado
responder por completo a todas as recomendações em na recomendação. Devido a uma discussão acidental
cada rodada das pesquisas. Os profissionais de saúde do grupo sobre essa recomendação, esta seção com
foram aconselhados a basear seu nível de concordância todas as três recomendações foi transferida para o
ou discordância nas evidências e em sua experiência no capítulo de Complicações Musculoesqueléticas, que
tratamento de pacientes com hemofilia. Foi solicitado era composto por integrantes diferentes no painel,
que os pacientes/cuidadores integrantes dos painéis para evitar a introdução de um viés por interação no
194 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

grupo. Os integrantes dos painéis foram informados experiência e competência no cuidado de hemofílicos
sobre o conjunto de evidências completo, receberam e hemofílicos especialistas bem informados do
os artigos relevantes e os dados extraídos e foi mundo todo, garantindo uma perspectiva global.
realizada a votação sobre a recomendação atualizada. Por fim, a totalidade das diretrizes foi encaminhada
Durante as revisões de coerência e lacunas, outras a várias organizações para sua revisão e endosso.
três recomendações (uma do capítulo Tratamento de Os comentários em cada estágio da revisão foram
Hemorragias Específicas e duas do capítulo Inibidores considerados pelos coordenadores dos capítulos e
do Fator de Coagulação) exigiram revisões adicionais foram efetuadas modificações, quando relevantes.
ou o acréscimo de observações. Uma recomendação foi Não foram permitidas edições ou alterações das
acidentalmente excluída das pesquisas originais para o recomendações ou das observações. Uma revisão final
capítulo Profilaxia na Hemofilia. Todas foram retificadas por pares independentes também foi realizada pelo
por rodadas de pesquisa adicionais. periódico Haemophilia e os muitos comentários foram
abordados.

12. 5 Finalização das recomendações 12. 6 Limitações da metodologia


e desenvolvimento do
Como é comum no desenvolvimento de diretrizes, os
manuscrito
processos metodológicos precisam receber um ajuste
Após a conclusão da rodada final de pesquisas Delphi pragmático para acomodar as dificuldades relativas
modificadas, os coordenadores dos capítulos finalizaram às evidências disponíveis, questões organizacionais
os manuscritos para seus capítulos designados. Todas e outras limitações. Do mesmo modo, com estas
as recomendações que obtiveram consenso foram diretrizes, foram necessárias concessões para fornecer
incorporadas na seção relevante do manuscrito, em a melhor orientação possível em uma área clínica com
negrito, e numeradas adequadamente. Todas as limitações da base de evidências.
observações são consideradas como integrantes das Os painéis foram organizados por convite e sem uma
recomendações em si e, portanto, estão incluídas como revisão declarada de conflitos de interesse (embora
parte das recomendações. A WFH orienta que, quando as divulgações atuais acompanhem esta publicação).
as recomendações forem publicadas em plataformas Todos os integrantes dos painéis foram convidados a
digitais, incorporadas em listas separadas ou removidas participar do escopo das pesquisas dos capítulos, que
de outro modo da publicação integral das diretrizes, foram aceitas como um substituto para questões PICO
as observações sempre devem ser mantidas com o (paradigma de População/Intervenção/Comparadores/
restante da recomendação como uma única unidade. Resultados) estabelecidas a priori.
Estas diretrizes têm um sistema de navegação As estratégias de pesquisa foram então desenvolvidas
intrínseco para os capítulos, seções, recomendações por bibliotecários médicos extremamente experientes,
e materiais suplementares. O sistema de numeração com base nas discussões sobre o escopo e as minutas
utiliza o número do capítulo como o número inicial, iniciais, embora não tenham sido revisadas por pares.
seguido pelos números das seções. As recomendações Uma vez que as últimas diretrizes foram publicadas em
são numeradas de acordo com o capítulo e a seção em 2012, as pesquisas foram limitadas aos anos de 2010-
que aparecem. Isto ajudará os leitores a localizar as 2019 para os capítulos que constituem revisões da
informações de base que justificam as recomendações edição anterior. Contudo, uma vez que aquela edição
em si. Por exemplo, uma de número 4.2.3 representa a não incluiu uma revisão sistemática formal, as pesquisas
terceira recomendação no Capítulo 4, seção 2. futuras podem precisar ser ainda mais estendidas
retroativamente.
Revisão e finalização Estudos identificados como retrospectivos pelos
selecionadores foram excluídos, com exceção dos
O manuscrito de cada capítulo foi submetido a uma casos especificados anteriormente. Para uma doença
extensa revisão. Os manuscritos finais foram revisados rara, em especial para os tópicos mais subjetivos, uma
pelo coordenador do capítulo e integrantes dos painéis, base de evidências mais abrangente e confiável teria
pelo coordenador de conteúdo e coordenador adjunto, incluído essas revisões.
pela GPTF, pelos principais membros da equipe Devido à grande produção de referências nas
administrativa sênior da WFH, seguida por uma pesquisas para o capítulo de Profilaxia na Hemofilia, as
equipe externa de profissionais de saúde com grande referências foram limitadas a estudos com um tamanho
Capítulo 12: Metodologia | 195

mínimo da amostra de 40. O tamanho da amostra não 12. 8 Conclusão


é um substituto da qualidade, mas não havia opções
alternativas para limitar o número de estudos de modo Embora esta terceira edição das Diretrizes para Manejo
a cumprir os prazos. da Hemofilia da WFH seja destinada principalmente a
Tanto uma seleção única, em vez de uma seleção uso por profissionais de saúde, ela também será útil
dupla com arbitragem, quanto extrações de dados para pessoas que convivem com a hemofilia e agências
únicas, em vez de extrações duplas com arbitragem, de saúde e órgãos de defesa no mundo todo. Estas são
representaram concessões necessárias. recomendações fidedignas, confiáveis, orientadas por
Não houve avaliações críticas da qualidade das evidências e determinadas por especialistas, que devem
evidências ou avaliações da viabilidade das análises informar e capacitar profissionais médicos, pacientes
quantitativas, já que estas haviam sido descartadas e seus cuidadores para que possam ser participantes
com antecedência devido aos esforços anteriores para mais bem informados e ativos na tomada de decisão
conduzir revisões sistemáticas nesta doença rara. compartilhada que orienta o tratamento e os planos de
Foi fornecido um suporte considerável para reduzir a manejo da hemofilia.
carga imposta aos voluntários integrantes dos painéis A WFH, os integrantes dos painéis das diretrizes,
nas pesquisas de literatura, seleções, extrações de a equipe e os consultores não receberam nenhum
dados e preparação dos esboços dos manuscritos. financiamento externo para estas diretrizes.
Como ocorre em todas as diretrizes com múltiplos
capítulos, o nível de consistência na redação variou entre
os capítulos, mas os editores médicos se esforçaram
para reduzir as duplicações e garantir a padronização.
Isto ajudou a garantir um formato final coerente nestas
diretrizes importantes para todos os usuários.

12. 7 Planos futuros para atualização REFERÊNCIAS

Com esta terceira edição, as Diretrizes para Manejo 1. Srivastava A , Giangrande P, Poon MC, Chua M, McCraw A
da Hemofilia da WFH avançaram consideravelmente e , Wiedel J. Guidelines for the Management of Hemophilia.
obedecem às normas atuais para o desenvolvimento de Montreal, QC, Canada: World Federation of Hemophilia;
diretrizes usando a abordagem TCBS.3. Conforme mais 2005.
pesquisas forem conduzidas no campo da hemofilia, 2. Srivastava A , Brewer AK, Mauser-Bunschoten EP, et al.
os métodos forem padronizados e o conhecimento Guidelines for the Management of Hemophilia. Montreal,
aumentar, os dados publicados devem ser tornar QC, Canada: World Federation of Hemophilia; 2012.
mais homogêneos e quantificáveis, permitindo mais ht tps: //doi.org/10.1111 /j.1365-2516.2012.02909.x.
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pela WFH em muitas áreas de conteúdo. Isto também
3. Lewis SZ, Diekemper R, Ornelas J, Casey KR. Methodologies
aumentará o rigor metodológico e permitirá que a
for the development of CHEST guidelines and expert panel
evolução da ciência oriente as recomendações futuras,
reports. Chest. 2014;146(1):182-192.
especialmente em áreas onde as pesquisas estão
aumentando, como métodos diagnósticos, agentes 4. Committee on Standards for Developing Trustworthy
hemostáticos, estratégias de reposição regular e manejo Clinical Practice Guidelines, Board on Health Care Ser
de inibidores, além de tratamentos curativos. Outros vices, Institute of Medicine of the National Academies.
esforços seguirão o trabalho progressivo de várias Clinical Practice Guidelines We Can Trust. Washington,
iniciativas internacionais para fornecer recomendações DC: National Academy of Sciences; 2011. h t t p s ://w w
em plataformas e repositórios digitais e aumentar a w.ncbi.nlm . nih . gov/ b o ok s/ NBK 2 0 95 39/p df/B ook s
implementação, especialmente no ponto de cuidado. helf_NBK209539.pdf. Accessed Januar y 8, 2020.

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International Network: toward international standards
for clinical practice guide- lines. Ann Intern Med.
2012;156(7):525-531.
196 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

6. WHO Human Genetics Programme. Deliver y of treatment 12. Djulbegovic B, Guyatt G. Evidence vs Consensus in Clinical
for hae- mophilia: report of a Joint WHO/WFH/ISTH Practice Guidelines. JAMA. 2019;322(8):725-726.
Meeting, London, United Kingdom, 11-13 Februar y 2002. 13. Miller R, Chrissian A . American Association for
World Health Organization. London, United Kingdom: Bronchoscopy and Inter ventional Pulmonology. Personal
World Health Organization, 2002. https://apps.who.int/ communication. 2019.
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14. Diekemper RL, Patel S, Mette SA , Ornelas J, Ouellette
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recom- mendations even if the evidence is considered methodology. Chest. 2018;153(3):756-759.
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2016;129(24):2998-3000.

11. Fink A , Kosecoff J, Chassin M, Brook RH. Consensus meth- INFORMAÇÕES DE SUPORTE
ods: characteristics and guidelines for use. Am J Public Outras informações de suporte podem ser encontradas
Health. 1984;74(9):979-983. on-line na seção Informações de Suporte.

Como citar este artigo:


Srivastava A, Santagostino E, Dougall A, et al. WFH Guidelines for the Management of Hemophilia,
3rd edition. Haemophilia.2020:00:1-158.https://doi.org/10.1111/hae.14046
Agradecimentos | 197

AGRADECIMENTOS Barbara A. Konkle


Rolf C. R. Ljung
Richa Mohan
Integrantes dos painéis Margareth C. Ozelo
Alok Srivastava atuou como Coordenador de conteúdo Gianluigi Pasta
para o projeto geral das diretrizes. Ele fez contribuições Shrimati Shetty
substanciais para o desenho e a concepção, organização Alison Street
do painel e decisões metodológicas e foi o autor principal Claude Tayou Tagny
da Introdução e do capítulo Princípios dos Cuidados. Pierre Toulon
Glenn F. Pierce atuou como Co-coordenador de
conteúdo para o projeto geral das diretrizes, integrou o Os Hemofílicos (PWH) e Pais de PWH
painel de três capítulos e realizou revisões extensas de Integrantes dos Painéis participaram como revisores
todos os capítulos várias vezes no processo. Também dos manuscritos dos capítulos, votaram em todas as
contribuiu para as decisões metodológicas. H. Marijke rodadas Delphi relevantes e foram convidados e revisar
van den Berg, como Co-coordenador de conteúdo e comentar todos os capítulos.
inicial, ajudou a delinear o projeto e o painel, além de Abdelaziz Khaled Al Sharif
atual como integrante do painel em três capítulos. Manuel A. Baarslag
Lisa Bagley
Os coordenadores dos capítulos atuaram como Francisco de Paula Careta
autores principais de seus capítulos designados e a Kim Chew
maioria também integrou painéis em outros capítulos. Gaetan Duport
Todos os integrantes dos painéis votaram nas rodadas Mathieu Jackson
Delphi. Radoslaw Kaczmarek
Manuel Carcao Augustas Nedzinskas
Steve Kitchen Enrique David Preza Hernández
Adolfo Llinás Bradley Rayner
Johnny Mahlangu R. Sathyanarayanan
Steven W. Pipe Andrew Selvaggi
Pradeep M. Poonnoose Ekawat Suwantaroj
Margaret V. Ragni
Elena Santagostino Outros
Megan Sutherland Os seguintes indivíduos atuaram como consultores ou
Alok Srivastava equipe e não votaram nas rodadas Delphi:
Jerzy Windyga • Sandra Zelman Lewis contribuiu com a primeira
minuta do capítulo de Metodologia e consultoria
Os Profissionais de Saúde Integrantes Dos Painéis sobre o desenvolvimento das diretrizes, processo
além dos Coordenadores dos Capítulos efetuaram a TCBS e métodos. Ela ajudou a revisar os capítulos
revisão primária e fizeram comentários sobre várias e forneceu orientações gerais sobre as etapas de
versões dos capítulos aos quais foram designados, mas desenvolvimento e publicação.
alguns também forneceram extensas redações iniciais • Donna Coffin forneceu o gerenciamento geral do
de seções dos capítulos. Todos os integrantes dos desenvolvimento das diretrizes e foi responsável por
painéis votaram nas rodadas Delphi e foram convidados seções especificas do capítulo de Metodologia.
a revisar e comentar todos os capítulos. • Lucy T. Henry supervisionou o trabalho de biblioteca
Erik Berntorp e contribui para a redação inicial de seções do
Greig Blamey capítulo de Metodologia.
Carlos D. De Brasi • Sonia O’Hara atuou como revisora principal, forneceu
Piet de Kleijn orientações sobre as estratégias de pesquisa,
Silmara A. de Lima Montalvão seleção e revisão e contribuiu para o capítulo de
Gerard Dolan Metodologia.
Alison Dougall • Thomas J. Schofield atuou como metodologista
Carmen Escuriola Ettingshausen principal para as extrações de dados, forneceu
Brian M. Feldman orientações sobre várias atividades de biblioteca e
Nicholas J. Goddard contribuiu para o capítulo de Metodologia.
Emna Gouider • Maura Sostack atuou como bibliotecária principal,
Kate Khair desenvolvendo e conduzindo todas as pesquisas, e
198 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

contribuiu para o capítulo de Metodologia. • Fiona Robinson foi a primeira gerente deste
• Debbie Hum, editora médica principal e coautora do processo, coordenando o desenvolvimento dos
capítulo Princípios dos Cuidados, liderou a revisão, painéis, processos e capítulos e contribuiu para a
edição, formatação e implementação de referências seleção dos métodos e o capítulo de Metodologia.
pela equipe editorial para todos os manuscritos e • Mark Brooker auxiliou na composição e
contribuiu para o capítulo de Metodologia. gerenciamento dos painéis, assim como na seleção
• Melanie M. Golob atuou como gerente de projeto, de métodos e desenvolvimento dos capítulos.
controlando e organizando todos os aspectos do • Vincent Dumez atuou como presidente da Força-
projeto, inclusive atuando como administradora tarefa do Processo de Diretrizes, gerenciando todas
independente do processo Delphi. Também auxiliou as atividades, decisões e revisões de conteúdo da
na revisão do capítulo de Metodologia e outros força-tarefa.
capítulos. Todos os autores e colaboradores foram envolvidos na
aprovação final da versão encaminhada.

EQUIPE DO PROJETO DE DIRETRIZES

Os autores gostariam de agradecer pelo trabalho da equipe da WFH e a equipe de profissionais liderada por
Donna Coffin, Diretora de Pesquisa e Políticas Públicas da WFH, para o desenvolvimento e a finalização destas
diretrizes.

Diretora do projeto Selecionadores de literatura


Donna Coffin Sonia O’ Hara Denisse Mendoza
Rebecca Bungay Ellia Tootoonchian
Consultora de metodologia Chantelle Garritty Sophie Yoon
Sandra Zelman Lewis Bianca Lallitto

Gerente de projeto Metodologistas e analistas de dados


Melanie M. Golob Thomas J. Schofield Jane Lam
Oluwaseun Akinyede Denisse Mendoza
Gerente de literatura Zuleika Aponte Erin Murray
Lucy T. Henry Saranya Chandurdu Sheena Patel
Rodin El-Hachache Amy Shim
Parceiro facilitador para pacientes Michael Friend Ambrish Singh
Mathieu Jackson Brandon Kerr Tracy Slanger
Sharath Krishna Sophie Yoon
Bibliotecários médicos
Maura Sostack
Heidi Tibollo Editores médicos
Aleksandra Florek Debbie Hum Georghia Michael
Ellen Klaschka Espiau David Page

FORÇA-TAREFA DO PROCESSO DE DIRETRIZES

Vincent Dumez, Presidente Thomas Sannié


Magdy El Ekiaby Deon York
Kate Meier
Glenn F. Pierce
Agradecimentos | 199

REVISORES

Revisores Executivos da WFH Revisores externos

Alain Baumann Victor S. Blanchette Pier M. Mannucci


Glenn F. Pierce (revisão do documento Ingrid Pabinger-Fasching
Alok Srivastava completo) Kathelijne Peerlinck
Alain Weill Jan Astermark Rajiv K. Pruthi
Miguel A. Escobar Doris V. Quon
Gili Kenet Leonard A. Valentino
Michael Makris Christopher E. Walsh

CONFLITOS DE INTERESSE • Johnny Mahlangu – JM relata ter recebido bolsas de


pesquisa da BioMarin, Baxalta, Catalyst Biosciences,
• Alok Srivastava – AS recebeu suporte para pesquisa CSL, Novartis, Novo Nordisk, Pfizer, Roche, Sanofi,
da Sanofi, Roche-Genentech, Novo Nordisk e Bayer Spark, Roche, uniQure, comitê consultor da BioMarin,
Healthcare e atuou no comitê consultor/comitê de Baxalta, Catalyst Biosciences, CSL, Novartis, Novo
análise de bolsas da Takeda, Novo Nordisk, Roche- Nordisk, Pfizer, Roche, Sanofi, Spark, Roche, uniQure
Genentech, Pfizer e Bayer Healthcare. a agência de oradores para ISTH, Novo Nordisk,
• Elena Santagostino – ES atou como membro Pfizer, Roche, Sanofi, Takeda e WFH.
de agência de oradores e/ou comitê consultor • Jerzy Windyga – JW relata ter recebido suporte de
patrocinado pela Shire/Takeda, Bayer, Pfizer, CSL bolsas da Alnylam Pharmaceuticals, Baxalta, Novo
Behring, Novo Nordisk, Grifols, Bioverativ, Sobi, Nordisk, Octapharma, Rigel Pharmaceuticals, Roche,
Octapharma, Kedrion, Spark, uniQure e Roche. Shire/Takeda, Sobi; palestras patrocinadas: Alexion,
• Alison Dougall – Nenhum interesse conflitante a Baxalta, CSL Behring, Ferring Pharmaceuticals,
declarar. Novo Nordisk, Octapharma, Roche, Sanofi/Genzyme,
• Steve Kitchen – SK recebeu honorários como Shire/Takeda, Siemens, Sobi, Werfen.
consultor/orador da Sobi, Novo Nordisk, Werfen, • Adolfo Llinás – AL atuou como consultor remunerado
Roche, Bayer, Pfizer nos últimos 2 anos. para a Bayer e Novo Nordisk nos últimos 12 meses.
• Megan Sutherland – Nenhum interesse conflitante a • Nicholas J. Goddard – Nenhum interesse conflitante
declarar. a declarar.
• Steven W. Pipe – Honorários por consultoria: • Richa Mohan – Nenhum interesse conflitante a
Apcintex, Bayer, BioMarin, Catalyst Biosciences, CSL declarar.
Behring, HEMA Biologics, Freeline, Novo Nordisk, • Pradeep M. Poonnoose – Nenhum interesse
Pfizer, Roche/Genentech, Sangamo Therapeutics, conflitante a declarar.
Sanofi, Takeda, Spark Therapeutics, uniQure. • Brian M. Feldman – BF recebeu financiamento
• Manuel Carcao – MC relata ter recebido suporte de bolsa de pesquisa da Novo Nordisk e é um
para pesquisa da Bayer, Bioverativ/Sanofi, CSL- dos inventores do Escore de Saúde Articular em
Behring, Novo Nordisk, Octapharma, Pfizer e Shire/ Hemofilia.
Takeda. Também recebeu honorários por palestras/ • Sandra Zelman Lewis – SZL foi contratada pela
participação em comitês consultores da Bayer/ WFH para atuar como Consultora de Diretrizes
Sanofi, Biotest, CSL-Behring, Grifols, LFB, Novo neste projeto.
Nordisk, Octapharma, Pfizer, Roche e Shire/Takeda. • H. Marijke van den Berg – Nenhum interesse
• Margaret V. Ragni – MR recebeu suporte institucional conflitante a declarar.
para pesquisa da Alnylam, BioMarin, Bioverativ, • Glenn F. Pierce – Consultor: BioMarin, Geneception,
Sangamo e Spark e atuou em Comitês Consultores Generation Bio, St. Jude; Comitês de Consultoria:
da Alnylam, BioMarin, Bioverativ e Spark. Takeda, Pfizer; Comitês: Federação Mundial de
Hemofilia VP Medical, NHF MASAC.
200 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

ACRÔNIMOS E ABREVIAÇÕES

AAV vírus adeno-associado CVC cateter venoso central

ABR taxa anualizada de sangramento DDAVP 1-desamino-8-D-arginina vasopressina,


também conhecida como desmopressina
AJBR taxa anualizada de sangramento articular
DNA ácido desoxirribonucleico
ACMG American College of Medical Genetics and
Genomics DOAC anticoagulante oral direto

FA fibrilação atrial EACA ácido épsilon-aminocaproico

aPCC concentrado de complexo de protrombina EAHAD European Association for Haemophilia and
ativado Allied Disorders (Associação Europeia para
Hemofilia e Distúrbios Associados)
TTPa tempo de tromboplastina parcial ativada
EHL meia-vida estendida
AAS ácido acetilsalicílico
EMA Agência Europeia de Medicamentos
FAV fístula arteriovenosa (European Medicines Agency)

BDD deleção do domínio B EQ EuroQoL

BMD densidade mineral óssea EQA avaliação de qualidade externa

IMC índice de massa corporal EQAS programa de avaliação externa da qualidade

BPI Inventário Breve de Dor EQ-VAS Escala Análoga Visual do EuroQoL

TS tempo de sangramento EQ-5D EuroQoL de 5 Dimensões

BU unidade Bethesda FDA Food and Drug Administration (agência


de Administração de Alimentos e
CABG cirurgia de revascularização do miocárdio Medicamentos dos EUA)
PFC plasma fresco congelado
CDC Centers for Disease Control (Centros para
Controle de Doenças, EUA) FII, FIIa fator II, fator II ativado
CDSR Base de Dados de Revisões Sistemáticas
Cochrane FISH Escore de Independência Funcional em
Hemofilia
CDSR Registro Central de Estudos Controlados
Cochrane FIX, FIXa fator IX, fator IX ativado

CFC Concentrado do Fator de Coagulação FIX:C atividade de fator IX

CHAMP Projeto de Mutação em Hemofilia A do CDC FV fator V

CHBMP Projeto de Mutação em Hemofilia B do CDC FVII, FVIIa fator VII, FVII ativado

CHO-KLAT Canadian Hemophilia Outcomes - Kids Life FVIII fator VIII


Assessment Tool (Ferramenta Canadense
de Avaliação de Resultados de Hemofilia — FVIII:C atividade de fator VIII
Qualidade de Vida Infantil)
FX, FXa fator X, fator X ativado
SNC sistema nervoso central
FXI fator XI
CNV variação do número de cópias
FXIII fator XIII
COPM Canadian Occupational Performance
Measure (Medida de Desempenho GenQA Genomics Quality Assessment
Ocupacional Canadense)
COX-2 ciclo-oxigenase 2 GI gastrointestinal

CSGE eletroforese em gel sensível à conformação BPF Boas Práticas de Fabricação

TC tomografia computadorizada GPTF Força-tarefa do Processo de Diretrizes

CV coeficiente de variação HAL Lista de Atividades para Hemofilia

HAV vírus da hepatite A


Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição | 201

HAEMO- questionário de qualidade de vida específico MACTAR McMaster Toronto Patient Disability
QoL-A para hemofilia para adultos Questionnaire (Questionário de
Incapacidade do Paciente de McMaster
HBsAg antígeno de superfície do vírus da hepatite B — Toronto)
HBV vírus da hepatite B MLPA amplificação de sonda dependente de
ligação multiplex
HCCC centro de cuidados abrangentes para
hemofilia MMR sarampo, caxumba, rubéola

HCV vírus da hepatite C MPS sequenciamento paralelo em massa

HDL lipoproteína de alta densidade RM ressonância magnética

HEAD-US Detecção Precoce de Artropatia em ME musculoesquelético


Hemofilia por Ultrassom
USME ultrassom musculoesquelético
HGVS Human Genome Variation Society
NAT teste de ácido nucleico
HIV vírus da imunodeficiência humana
NGC National Guideline Clearinghouse
HJHS Escore de Saúde Articular em Hemofilia
NGS sequenciamento de última geração
HMWK cininogênio de alto peso molecular
NMO organização-membro nacional
HRQoL qualidade de vida relacionada à saúde
AINEs anti-inflamatórios não esteroidais
HTC centro para tratamento de hemofilia
OR odds ratio, razão de probabilidades
ICF Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde CCP concentrado de complexo protrombínico
(OMS)
HIC hemorragia intracraniana; hemorragia PCI intervenção coronariana percutânea
intracerebral
PCR reação em cadeia da polimerase
UTI unidade de terapia intensiva
PedHAL Lista de Atividades para Hemofilia
BNAI bloqueio alveolar inferior, bloqueio do nervo — Pediátrica
alveolar inferior
PEG polietilenoglicol
IEQAS Programa Internacional de Avaliação
Externa da Qualidade PGD avaliação genética pré-implantação
IgG imunoglobulina G (IgG1, IgG2, IgG3, IgG4) PICO População/Intervenção/Comparadores/
Resultados
Inv1 inversão do íntron 1
PK farmacocinética
IPAQ Questionário Internacional de Atividade
Física PND diagnóstico pré-natal

IPSG International Prophylaxis Study Group PNP pool de plasma normal


IQC controle de qualidade interno POLICE proteção, carga ótima, gelo, compressão,
elevação
ISTH Sociedade Internacional de Trombose
e Hemostasia (International Society on PPP plasma pobre em plaquetas
Thrombosis and Haemostasis)
PRICE proteção, repouso, gelo, compressão,
ITI indução de tolerância imunológica elevação
UI unidade internacional PRISMA Principais Itens para Relato de Revisões
Sistemáticas e Meta-análises
DIU dispositivo intrauterino
PRO resultados relatados pelo paciente
IV intravenoso
PROBE Resultados, Ônus e Experiências Relatados
LA anticoagulante lúpico pelo Paciente
TP tempo de protrombina
LDL lipoproteína de baixa densidade
PUPs pacientes sem tratamento prévio

QA garantia de qualidade
202 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

QoL qualidade de vida t½ meia-vida

rFIX fator IX recombinante TCBS Declaração Baseada em Consenso


Fidedigno
rFIXFc FIX recombinante-Fc
TFPI inibidor da via do fator tecidual
rFVIIa fator VII recombinante ativado
UK NEQAS U.K. National External Quality Assessment
rFVIII fator VIII recombinante Service (Serviço Nacional de Avaliação
Externa da Qualidade do Reino Unido)
rIX-RFP proteína de fusão recombinante de FIX
US ultrassonografia, ultrassom
rFVIIIFc FVIII recombinante–Fc
VAS escala análoga visual
rVIII-Cadeia FVIII recombinante de cadeia única
vCJD doença de Creutzfeldt-Jakob variante
Única
RICE repouso, compressão, gelo, elevação VKA antagonista da vitamina K

RNA ácido ribonucleico TEV tromboembolismo venoso

SF-36 Instrumento de Pesquisa de 36 Itens, VWD doença de von Willebrand


Formulário Breve
VWF fator de von Willebrand
SHL meia-vida padrão
WBDR Registro Mundial de Distúrbios
siRNA-AT agente de RNA interferente pequeno Hemorrágicos (World Bleeding Disorders
dirigido para antitrombina Registry)
SNV variante de nucleotídeo único WFH Federação Mundial de Hemofilia (World
Federation of Hemophilia)
SSC Comitê Científico e de Padronização da ISTH
WGS sequenciamento de todo o genoma
IMSST infarto do miocárdio com
supradesnivelamento do segmento ST OMS Organização Mundial da Saúde

STR repetições curtas em tandem XCI inativação do cromossomo X

SV variante estrutural
Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição | 203

SÍMBOLOS E MEDIDAS

μg micrograma (mcg) cm centímetro

°C graus Celsius dL decilitro

> maior que g grama

< menor que UI unidade internacional

= igual a kDa quilodalton

≥ maior ou igual a kg quilograma

≤ menor ou igual a m metros

± mais ou menos mcg micrograma, também conhecido como μg

× multiplicado por (vezes) mg miligrama

BU unidade Bethesda mL mililitro

ORCID

Alok Srivastava https://orcid.org/0000-0001-5032-5020


Elena Santagostino https://orcid.org/0000-0001-9639-6422
Alison Dougall https://orcid.org/0000-0003-0543-3940
Steve Kitchen https://orcid.org/0000-0002-6826-8519
Steven W. Pipe https://orcid.org/0000-0003-2558-2089
Manuel Carcao https://orcid.org/0000-0001-5350-1763
Margaret V. Ragni https://orcid.org/0000-0002-7830-5379
Johnny Mahlangu https://orcid.org/0000-0001-5781-7669
Jerzy Windyga https://orcid.org/0000-0001-7877-4784
Adolfo Llinás https://orcid.org/0000-0001-9573-8902
Pradeep M. Poonnoose https://orcid.org/0000-0001-7715-9982
Brian M. Feldman https://orcid.org/0000-0002-7813-9665
Sandra Zelman Lewis https://orcid.org/0000-0003-3934-4452
H. Marijke van den Berg https://orcid.org/0000-0002-2553-2324
Glenn F. Pierce https://orcid.org/0000-0002-3310-328X
Gerard Dolan https://orcid.org/0000-0003-3270-6932
Margareth C. Ozelo https://orcid.org/0000-0001-5938-0675
Emna Gouider https://orcid.org/0000-0001-7315-3479
Kate Khair https://orcid.org/0000-0003-2001-5958
Francisco de Paula Careta https://orcid.org/0000-0001-8590-3089
Silmara A. de Lima Montalvão https://orcid.org/0000-0002-8920-3765
Radoslaw Kaczmarek https://orcid.org/0000-0001-8084-1958
Claude T. Tagny https://orcid.org/0000-0002-2179-3105
Barbara A. Konkle https://orcid.org/0000-0002-3959-8797
Rolf C. R. Ljung https://orcid.org/0000-0003-3999-8747
Erik Berntorp https://orcid.org/0000-0002-2888-4931
Gianluigi Pasta https://orcid.org/0000-0002-1919-5130
Donna Coffin https://orcid.org/0000-0001-8372-4474
Melanie Golob https://orcid.org/0000-0002-5800-3672
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206 | Diretrizes da WFH para Manejo da Hemofilia, 3ª Edição

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