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International Working Group on the Diabetic Foot (IDWGF)

GEPED
04 . Prefácio
05 . Elementos do GEPED
07 . Introdução
08 . Estrutura
09 . Metodologia
11 . Recomendações do IWGDF para
a prevenção de úlceras de Pé Diabético

13 . Recomendações do IWGDF para o alívio


da pressão de úlceras de Pé Diabético

16 . Recomendações do IWGDF para


o diagnóstico, prognóstico e tratamento da
Doença Arterial Periférica em pessoas com
úlceras de Pé Diabético

18 . Recomendações do IWGDF para


o diagnóstico e tratamento da infeção
do Pé Diabético

21 . Recomendações do IWGDF sobre intervenções


para promover a cicatrização de úlceras de Pé
Diabético

23 . Recomendações do IWGDF sobre classificações


de úlceras de Pé Diabético

24 . Classificações
.4

PREFÁCIO

O ano de lançamento de recomendações internacionais sobre um determi-


nado tema de saúde é uma época de entusiasmo e de empreendedorismo,
contangiando os profissionais de saúde envolvidos nesse tema específico
numa procura incessante de conhecimento científico, que permita um melhor
desempenho profissional. O Grupo de Estudos de Pé Diabético (GEPED) da
Sociedade Portuguesa de Diabetologia, ciente desta necessidade, traduz,
divulga e distribui as recomendações internacionais do IWGDF sobre Pre-
venção e Tratamento de Pé Diabético, lançadas de 4 em 4 anos, desde 2007,
fruto de um trabalho intensivo de revisão de profissionais dedicados de todos
os Países. O resultado final é um documento com mais de uma centena de
recomendações baseadas no melhor conhecimento científico atual sobre Pé
Diabético.

O GEPED orgulha-se de, mais uma vez, traduzir e distribuir este documento
de 2019 aos profissionais de saúde interessados neste tema em Portugal,
cumprindo assim a sua missão estatutária principal.

O Coordenador do GEPED

Rui Carvalho
Assistente Graduado de Endocrinologia
Centro Hospitalar e Universitário do Porto
.5

ELEMENTOS DO GEPED

Rui Carvalho | Centro Hospitalar e Universitário do Porto - Coordenador


Aida Paulino | Hospital de Castelo Branco
Alexandra Alves | Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte
Aline Gomes | Centro Hospitalar Tondela/Viseu
Alfredo Chavez | Hospital Divino Espírito Santo Ponta Delgada
Ana Formiga | Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central
Ana Luísa Costa | APDP Lisboa
André Carvalho | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
André Gomes | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Carlos Costa Almeida | Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Cláudia Amaral | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Cláudia Freitas | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Daniel Brandão | Centro Hospitalar de Gaia/Espinho
Daniela Martins Mendes | Centro Hospitalar de Gaia/Espinho
Dolores Passos | Hospital Militar Lisboa
Edite Nascimento | Centro Hospitalar Tondela/Viseu
Eduardo Vinha | Hospital de São João Porto
Fátima Pinto | Hospital Horta Faial
Fernanda Gabriel | Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte
Fernando Graça | Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central
Filomena Rodrigues | Hospital de Torres Vedras
Isabel Gonçalves | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Isabel Rosa | Centro Hospitalar Lisboa Ocidental
Joana Martins | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Joana Queirós | Hospital de São João Porto
João Gaspar | Hospital de Vila Real
João Nascimento | Hospital de Setúbal
José Dores | ULS Baixo Alentejo
José Muras | Hospital Trofa Saúde
José Neves | Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central
Júlia Granda | ULS Nordeste
Luís Costa | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Luís Loureiro | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Margarida Ferreira | Hospital Central do Funchal
Maria Jesus Dantas | Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa
Marília Vargas | Hospital de Angra do Heroísmo
Matilde Monteiro Soares | Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Miguel Abreu | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Natália Baptista | Centro Hospitalar Tondela/Viseu
Natércia Candeias | Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Central
Paulo Felicíssimo | Hospital de CUF Descobertas Lisboa
Patrícia Oliveira | Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Pedro Cantista | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
.6

ELEMENTOS DO GEPED

Rosa Simão | Centro Hospitalar Tondela/Viseu


Rui Oliveira | APDP Lisboa
Sara Pinto | Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Vanessa Dias | USF St André de Canidelo Gaia
Vítor Marques | Centro Hospitalar Tondela/Viseu
.7

INTRODUÇÃO

O Pé Diabético é uma das complicações mais graves da Diabetes, na qual se


associam, em geral, várias complicações crónicas, micro e macrovasculares.
A Neuropatia afectando os nervos dos membros inferiores condiciona uma
insensibilidade aos traumatismos vulgares do dia-a-dia e a Doença Arterial
Periférica Aterosclerótica afectando as artérias de médio e pequeno calibre
dos membros inferiores condiciona uma isquemia periférica com grande
fragilidade tecidular, podendo sugir uma úlcera crónica do pé. A instalação
de uma infecção no contexto de uma neuropatia e isquemia conduz a uma
propagação e destruição extensa dos tecidos profundos do pé com necessi-
dade eventual de amputações menores ou maiores do membro inferior.

A Doença Arterial Periférica Aterosclerótica condiciona um prognóstico mais


grave nos doentes com Pé Diabético, já que a resolução e o desenvolvimento
de cicatrização depende de uma revascularização arterial, que por vezes não
é possível. Este tipo de doentes representa hoje uma sobrecarga enorme nas
Consultas de Pé Diabético, sendo os mais prevalentes, conforme os dados do
estudo Eurodiale e os dados da Unidade de Pé Diabético do Centro Hospita-
lar e Universitário do Porto (CHUP). Actualmente os doentes com Pé Diabético
Isquémico ou Neuroisquémico ultrapassam os 60% quando há 20 anos atrás
seriam 30%.

Outro dado preocupante nos doentes com Pé Diabético é a sua mortalidade


excessiva. Os indíces de mortalidade podem superar em algumas séries os
50% ao fim de 5 anos e, em doentes amputados, podem atingir os 70%! Num
trabalho de Susana Garrido et al, em doentes da Unidade de Pé Diabético do
CHUP, obtiveram uma mortalidade de 45,6% ao fim de 5 anos em doentes
com Diabetes e úlcera do pé. A causa de morte mais frequente em doentes
diabéticos são os eventos agudos decorrentes da doença aterosclerótica,
pelo que se queremos reduzir mortalidade neste grupo de doentes, temos
que adoptar estratégias agressivas de tratamento dirigidas ao controlo da
doença aterosclerótica, nomeadamente cessação tabágica, controlo da
hipertensão arterial, redução do c-LDL, antiagregação plaquetária e con-
trolo da diabetes. Quem mais beneficia desta estratégia? Os doentes com
maior risco cardiovascular, nomeadamente os diabéticos com evidência de
doença aterosclerótica, como os doentes com Pé Diabético Isquémico
e Neuroisquémico.

A multidisciplinaridade na abordagem dos doentes com Pé Diabético con-


tinua a ser a chave de sucesso no tratamento desta patologia. O Grupo
de Estudos de Pé Diabético da Sociedade Portuguesa de Diabetologia
espera que as recomendações deste livro sejam utilizadas pelo maior número
possível de profissionais de saúde interessados e dedicados.
.8

ESTRUTURA

Mais de 80 000 artigos foram revistos por 6 grupos de trabalho compostos


por 6 membros do corpo editorial do IWGDF, 49 especialistas na área e 50
membros consultivos provenientes de 40 países diferentes e 5 continentes.

As recomendações estão agrupadas em 6 documentos que focam:


1. Prevenção de úlceras de Pé Diabético
2. Alívio da pressão de úlceras de Pé Diabético
3. Diagnóstico, prognóstico e tratamento da Doença Arterial Periférica
em pessoas com úlceras de Pé Diabético
4. Diagnóstico e tratamento da infeção do Pé Diabético
5. Intervenções para promover a cicatrização de úlceras de Pé Diabético
6. Classificações de úlceras de Pé Diabético

As recomendações sobre o tópico da classificação de úlceras de Pé Diabéti-


co correspondem a documentos totalmente novos enquanto que os restantes
tópicos foram sujeitos a atualização.

Este documento descreverá de forma global a metodologia que levou


à formulação destas recomendações assim como as apresentará de forma
sucinta.

É aconselhada a consulta dos documentos originais (6 documentos de Guide-


lines e 10 Revisões Sistemáticas) para o acesso a informação mais detalhada
(disponíveis em https://iwgdfguidelines.org/).

Todas as classificações referidas ao longo do texto estão apresentadas no


final deste documento.
.9
GUIDELINES DO IWGDF
DESENVOLVIMENTO E METODOLOGIA

METODOLOGIA A força da recomendação pode ser


classificada como forte ou fraca. A
O ponto de partida para todas as qualidade da evidência pode ser
recomendações foi a formulação classificada como alta, moderada ou
de questões clínicas pertinentes baixa.
utilizando a estrutura PICO (popu-
lação, intervenção, comparação e Para a maioria dos dados mais
objetivo clínico). Após a formulação antigos incluídos nas revisões
destas questões por cada grupo de sistemáticas, que fundamentaram
trabalho, estas foram revistas por o documento das recomendações,
especialistas externos e pelo corpo não foi possível calcular ou ava-
editorial do IWGDF. liar a inconsistência ou imprecisão.
Assim, foi decidido que a qualidade
Cada objetivo clínico foi definido da evidência seria baseada no risco
como sendo crítico e importante, mas de vieses dos estudos incluídos,
não crítico ou não importante. efeito amostral e opinião dos espe-
cialistas.
Para cada tópico foi desenvolvida
pelo menos uma revisão sistemática A análise da presença de vieses
realizada através de pesquisa dos artigos selecionados foi real-
bibliográfica por um bibliotecário izada através de diversas grelhas
creditado. No caso do documento de avaliação existentes para o efei-
relativo à classificação de úlceras to, dependendo do tipo de estudo
de Pé Diabético foi realizada uma [Scottish Intercollegiate Grouping
revisão da literatura tendo por base Network (SIGN) algorithm (http://
revisões sistemáticas que já existiam www.sign.ac.uk/pdf/studydesign.
sobre o tópico. pdf) e do Dutch Cochrane Centre
(www.cochrane.nl)], novamente por
Em cada grupo de trabalho foram 2 especialistas de forma cega e
criados pares para analisar os artigos independente. No caso do docu-
sobre cada tópico. mento relativo ao diagnóstico da
doença arterial periférica a qualidade
A seleção dos artigos pelo título e metodológica foi avaliada utilizando a
abstract assim como na sua versão grelha Quality Assessment for Diag-
integral foi realizada por 2 especial- nostic Accuracy Studies (QUADAS)
istas de forma cega e independen- e ao prognóstico a grelha Quality in
te. Os casos de discordância foram Prognostic Studies (QUIPS).
resolvidos através de consenso.
No caso do documento relativo à
A gradação de cada recomendação classificação de úlceras de Pé Dia-
foi feita através do sistema GRADE bético a qualidade da evidência foi
que elabora sobre a força da analisada tendo em consideração a
recomendação e a qualidade da presença e o número de estudos que
evidência disponível.
.10
GUIDELINES DO IWGDF
DESENVOLVIMENTO E METODOLOGIA

analisassem a reprodutibilidade da forma a responder cada uma das


classificação assim como de estu- questões clínicas elencadas no início
dos de validação interna e externa da do processo. De seguida, foi feita
classificação. uma leitura para todo o grupo de tra-
balho.
Os artigos que tivessem sido
publicados por algum membro do A redação definitiva da recomendação
grupo eram avaliados por outras pes- foi feita através de consenso por todo
soas que não os autores de forma o grupo.
a minimizar potenciais conflitos de
interesse. O enquadramento que fundamen-
tou cada uma das recomendações
A evidência dos estudos incluídos foi encontra-se descrito nos documen-
sintetizada em tabelas de evidência. tos originais (https://iwgdfguidelines.
org/).
A força da recomendação teve por
base a qualidade da evidência, o O documento final foi revisto pelo
equilíbrio entre os benefícios e os grupo editorial e pelos membros in-
prejuízos, valores e preferências dos ternacionais do IWGDF.
utentes e custos (utilização de recur-
sos). Este método permite que exista O trabalho final pretendeu ser um
uma ligação entre a evidência científi- consenso global baseado na evidên-
ca e o uso clínico diário. cia para a prevenção e tratamento
das complicações de Pé Diabético.
Assim, é preciso salientar que a fal- Cada recomendação deve ser ad-
ta de evidência não implica falta de aptada para as circunstâncias locais
efeito e que, por outro lado, um nív- de cada País. 
el de evidência elevado com uma
recomendação forte não implica um
uso generalizado.

No caso do documento relativo à


classificação de úlceras de Pé Dia-
bético a força da recomendação teve
por base a qualidade da evidência, a
complexidade e os elementos incluí-
dos na classificação.

A escrita das recomendações foi re-


alizada por cada um dos pares para
cada um dos tópicos e formulada de
.11
GUIDELINES DO IWGDF
PREVENÇÃO

RECOMENDAÇÕES DO IWGDF para remover calosidades. (Forte;


PARA A PREVENÇÃO DE ÚLCERAS Baixa)
DE PÉ DIABÉTICO 5. Forneçam educação estruturada
a uma pessoa com Pé Diabético em
1. Para identificar uma pessoa com risco (grupos 1 a 3) sobre os auto-
Pé Diabético em risco examinem os cuidados do pé apropriados para a
pés das pessoas em muito baixo prevenção de úlcera. (Forte; Baixa)
risco (grupo 0 na classificação do 6. Considerem educar uma pessoa
IWGDF) anualmente e procurem com classificação de risco 2 ou 3 da
sinais ou sintomas de neuropatia ou IWGDF para monitorizar em casa a
doença vascular periféricas. (GRADE temperatura da sua pele diariamente,
Força de recomendação: Forte; Qua- para identificar sinais precoces de
lidade da Evidência: Alta) inflamação no pé, e auxiliar na pre-
2. Uma pessoa com Pé Diabético venção de uma úlcera “de novo” ou
em risco (grupos 1 a 3) deverá ser recorrente. Se houver uma diferença
rastreada para: história de úlcera ou de temperatura entre dois locais
amputação prévias; doença renal similares de ambos os pés, durante
crónica terminal; presença ou pro- dois dias consecutivos, eduquem o
gressão de deformidades dos pés; doente para fazer repouso e procurar
limitação da mobilidade do pé; ca- ajuda de um profissional de saúde
losidade abundante e lesões pré-ul- treinado para posterior diagnóstico e
cerativas dos pés. Os doentes com tratamento. (Fraco; Moderada)
Pé Diabético em risco classificados 7. Eduquem uma pessoa com Pé
como grupo 1 deverão ser avaliados, Diabético em risco moderado (grupo
a cada 6 a 12 meses; os do grupo 2 2) ou que cicatrizou de uma lesão
a cada 3-6 meses e os do grupo 3 a não plantar do pé (grupo 3) para
cada 1 a 3 meses. (Forte; Alta) utilizar calçado terapêutico que
3. Para proteger o pé de uma pessoa acomode o formato do pé e com
com Pé Diabético em risco (grupos espaço suficiente, de forma a reduzir
1 a 3), eduquem para não andar a pressão plantar e auxiliar na pre-
descalço, apenas em meias ou com venção de uma úlcera. Se existir uma
chinelos, quer em casa como no deformidade do pé ou uma lesão
exterior. (Forte; Baixa) pré-ulcerativa considerem prescrever
4. Eduquem a pessoa com Pé sapatos terapêuticos feitos por me-
Diabético em risco (grupos 1 a 3), dida, palmilhas individualizadas ou
e depois lembrem e reforcem, para: ortóteses digitais. (Forte; Baixa)
Efetuar uma inspeção diária dos 8.Considerem prescrever ortóteses,
pés e do interior dos sapatos; lavar tais como silicones digitais ou ortó-
os pés regularmente (com especial teses (semi-) rígidas para ajudar a
cuidado na secagem interdigital); remover o excesso de calosidade
Usar emolientes para hidratar a pele numa pessoa com Pé Diabético em
seca; Cortar as unhas de forma reta; risco (grupos 1 a 3). (Fraco; Baixa)
Evitar o uso de agentes químicos ou 9.Numa pessoa com Pé Diabético
apósitos ou qualquer outra técnica em risco que cicatrizou uma lesão
.12
GUIDELINES DO IWGDF
PREVENÇÃO

plantar (grupo 3), prescrevam um 14.Considerem aconselhar uma


calçado terapêutico com redução pessoa com Pé Diabético em risco
eficaz da pressão plantar durante a baixo ou moderado (grupos 1 e 2) a
marcha, para auxiliar na prevenção efetuar exercícios de mobilidade com
da sua recorrência, e motivem o o pé, de modo a reduzir fatores de
doente para usar este calçado em risco para ulceração (nomeadamente
todas as ocasiões. (Forte; Moderada) reduzir a pressão plantar vertical
10.Tratem qualquer lesão pré-ul- máxima e aumentar o âmbito de mo-
cerativa numa pessoa com Pé vimento do tornozelo e do pé) e com
Diabético em risco (grupos 1 a 3) de o objetivo de melhorar os sintomas
forma a prevenir uma úlcera. Inclui: neuropáticos (Fraco; Moderada)
remover calosidades; tratar unhas 15.Considerem comunicar a uma
espessadas ou encravadas; prote- pessoa com Pé Diabético em risco
ger pequenas bolhas; e prescrever baixo ou moderado (grupos 1 e 2)
tratamento antifúngico para infeções que aumentar o seu nível de atividade
fúngicas. (Forte; Baixa) ambulante com carga (por exemplo,
11.Numa pessoa com Diabetes e caminhar mais 1000 passos por dia)
calosidade abundante ou uma úlcera é provavelmente seguro. Aconselhe
no ápex ou região distal de um dedo esta pessoa a usar um sapato apro-
em martelo não rígido sem sucesso priado quando efectuar carga sobre
do tratamento conservador, consider- o pé e para estar atento a potenciais
em a tenotomia do tendão do flexor lesões pré-ulcerativas ou mesmo
dos dedos para prevenir o desen- rotura da pele. (Fraco; Baixa)
volvimento de uma úlcera digital ou a 16.Para prevenir uma úlcera recor-
sua recorrência, após a cicatrização rente do pé numa pessoa com Pé
(Fraco; Baixa) Diabético em risco elevado (grupo 3),
12.Numa pessoa com Diabetes e uma assegurem um cuidado integrado ao
úlcera no antepé sem sucesso do pé. Isto inclui: tratamento profissional
tratamento conservador, considerem do pé; calçado adequado e edu-
o alongamento do tendão de Aquiles, cação estruturada do doente para o
artroplastia, uni ou pan-resseção das autocuidado, e deverá ser repetido
cabeças dos metatarsos, ou oste- ou reavaliado de cada um a três
otomia para prevenir a recorrência meses. (Forte; Baixa)
da úlcera após a sua cicatrização.
(Fraco; Baixa)
13.Sugerimos que não utilizem a
descompressão de nervo, em detri-
mento dos cuidados considerados
como boa prática clínica standard,
para prevenir uma úlcera de pé num
numa pessoa com Pé Diabético em
risco (grupos 2 e 3) e com dor neu-
ropática. (Fraco; Baixa)
.13
GUIDELINES DO IWGDF
ALÍVIO DA PRESSÃO

RECOMENDAÇÕES DO IWGDF pessoa com Diabetes, utilizem um


PARA O ALÍVIO DA PRESSÃO DE meio-sapato ou sapato de Barouk
ÚLCERAS DE PÉ DIABÉTICO ou sapato ortopédico; se houver
contraindicação ou intolerância do
1. A) Para cicatrizar uma úlcera doente ao aparelho removível, como
neuropática plantar do antepé e terceira escolha de tratamento de
mediopé sem infeção e/ou isquemia alívio de pressão e promoção da
numa pessoa com Diabetes, utilizem cicatrização da úlcera. Devem en-
um aparelho não removível até ao corajar o doente a utilizar o dispositivo
joelho com uma interface adequada em todas as ocasiões. (Forte; Baixa)
para o pé como primeira escolha 4. A) Para cicatrizar uma úlcera
de tratamento de alívio de pressão neuropática plantar do antepé e
e promoção da cicatrização da mediopé sem infeção e/ou isquemia
úlcera. (Forte; Elevada) B) Quando numa pessoa com Diabetes, não
utilizarem um aparelho não removível utilizem, e instruam o doente a não
até ao joelho para cicatrizar uma utilizar, calçado terapêutico standard
úlcera neuropática plantar do antepé ou convencional como tratamento
e mediopé sem infeção e/ou isquemia de alívio de pressão para promover
numa pessoa com Diabetes, utilizem a cicatrização da úlcera, a não ser
um gesso de contacto total ou uma que nenhum dos aparelhos referidos
bota-walker não removível até ao anteriormente esteja disponível.
joelho, com a escolha dependente (Forte; Moderada) B) Nesse caso,
dos recursos disponíveis, perícia considerem utilizar descargas em
do técnico, preferência do doente feltro em combinação com calçado
e extensão da deformidade do pé. terapêutico standard ou convencional
(Forte; Moderada) com espaço suficiente como a quarta
2. Para cicatrizar uma úlcera neu- escolha de tratamento de alívio de
ropática plantar do antepé e mediopé pressão e promoção da cicatrização
sem infeção e/ou isquemia numa da úlcera (Fraco; Baixa)
pessoa com Diabetes, considerem 5. Para cicatrizar uma úlcera neu-
utilizar um aparelho removível até ao ropática plantar a nível das cabeças
joelho; se houver contraindicação ou metatársicas numa pessoa com Dia-
intolerância do doente, considerem betes, considerem o Alongamento do
um aparelho não removível com uma Tendão de Aquiles, Resseção Meta-
interface adequada para o pé, como tarsiana, Artroplastia ou Osteotomia
segunda escolha de tratamento de para promover a cicatrização, quan-
alívio de pressão e promoção da do não houve sucesso do tratamento
cicatrização da úlcera. Devem conservador. (Fraco; Baixa)
encorajar o doente a utilizar o apa-
relho em todas as ocasiões. (Fraco;
Baixa)
3. Para cicatrizar uma úlcera neu-
ropática plantar do antepé e mediopé
sem infeção e/ou isquemia numa
.14
GUIDELINES DO IWGDF
ALÍVIO DA PRESSÃO

6. Para cicatrizar uma úlcera digital 9. Para cicatrizar uma úlcera não
plantar numa pessoa com Diabetes, plantar numa pessoa com Diabetes,
considerem realizar uma tenotomia utilizem um aparelho de descarga
do tendão flexor dos dedos, para removível até ao tornozelo, modifi-
promover a cicatrização, quando cações no calçado, espaçadores
não houve sucesso do tratamento digitais, ou ortóteses, de acordo com
conservador. (Fraco; Baixa) o tipo e localização da úlcera, para
7. A) Para cicatrizar uma úlcera neu- promover a cicatrização da úlcera
ropática plantar do antepé e mediopé (Forte; Baixa)
sem infeção e/ou isquemia numa
pessoa com Diabetes e com infeção
leve ou isquemia leve, considerem
utilizar um aparelho não removível
até ao joelho para promover a cica-
trização da úlcera. (Fraco; Baixa) B)
Para cicatrizar uma úlcera neuropáti-
ca plantar do antepé e mediopé sem
infeção e/ou isquemia numa pessoa
com Diabetes, com infeção leve e
isquemia leve, infeção moderada
ou isquemia moderada considerem
utilizar um aparelho removível até ao
joelho para promover a cicatrização
da úlcera. (Fraco; Baixa) C) Para
cicatrizar uma úlcera neuropática
plantar do antepé ou mediopé sem
infeção e/ou isquemia, com isquemia
moderada e infeção moderada,
infeção grave ou isquemia grave,
abordem primeiramente a infeção e/
ou a isquemia e considerem utilizar
um aparelho removível de descarga
eficaz considerando a autonomia do
doente, nível de atividade e estado
em ambulatório. (Fraco; Baixa)
8. Para cicatrizar uma úlcera neu-
ropática plantar do retropé numa
pessoa com Diabetes, considerem
utilizar um aparelho de descarga até
ao joelho ou outra intervenção de
descarga, que reduza eficazmente a
pressão do calcanhar e seja tolerada
pelo doente para promover a cica-
trização da úlcera (Fraco; Baixa)
.15
GUIDELINES DO IWGDF
ALÍVIO DA PRESSÃO

Pessoa com diabetes,


neuropatia e úlcera ativa

Úlcera não Úlcera plantar do antepé ou medropé Úlcera plantar


plantar do calcanhar

Utilizem um Infeção ou Sem infeção ou Considerem


dispositivo isquemia isquemia utilizar um
removível de presente dispositivo
alívio da pressão, Utilizem um não-removível de
modificações no alívio de pressão
calçado, Se infeção leve dispositivo até nível do joelho
espaçadores ou isquemia leve não-removível que reduza a
digitais ou de alívio de pressão plantar
ortóteses, de pressão até nível do calcanhar de
Se infeção leve
acordo com o do joelho. forma eficaz
tipo e localização e isquemia leve,
da úlcera ou infeção
moderada ou Se Se a úlcera não
isquemia contra-indicado cicatrizar
moderada ou não tolerado

Se a úlcera
Se infeção Utilizem um se localizar
moderada e dispositivo numa cabeça
isquemia de alívio de metársica
moderada, ou pressão até considerem
isquemia severa nível do joelho alongamento
ou infeção & reforcem ao do tendão
utente a utilizar de Aquiles,
severa. resseção da(s)
o dispositivo.
cabeça(s)
Abordem primeiramente a infeção metatársicas,
e/ou isquemia e considerem Se ou
utilizar um dispositivo removível contra-indicado artroplastia
de alívio da pressão de acordo com ou não tolerado
a função, nível de atividade
e estado ambulatório do utente. Utilizem um Se a úlcera se
dispositivo localizar a nível
digital considerem
removível de
a tenotomia do
alívio de pressão flexor digital
até nível do
tornozelo
& reforcem ao
utente a utilizar
o dispositivo

Se os anteriores
não estiverem
disponíveis.

Considerem
utilizar
descargas em
feltro com
calçado com
espaço
suficiente
.16
GUIDELINES DO IWGDF
DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA

RECOMENDAÇÕES DO como um meio para estratificar o


IWGDF PARA O DIAGNÓSTICO, risco de amputação e o benefício de
PROGNÓSTICO E TRATAMENTO revascularização num doente com
DA DOENÇA ARTERIAL úlcera do Pé Diabético e DAP (Forte;
PERIFÉRICA EM PESSOAS COM Moderada)
ÚLCERAS DE PÉ DIABÉTICO 6. Considerem imagiologia vascular e
revascularização urgente em doentes
1. Examinem uma pessoa com Dia- com uma úlcera de Pé Diabético
betes anualmente para o diagnóstico e uma pressão do tornozelo <50
de doença arterial periférica (DAP); mmHg, ITB <0,5, pressão do hállux
no mínimo deverá incluir história e <30 mmHg ou TcPO2 <25 mmHg
palpação de pulsos (Forte; Baixa) (Forte; Baixa)
2. Examinem clinicamente (através 7. Considerem sempre imagiologia
da história clínica e palpação de vascular em doentes com úlcera de
pulsos distais) todas as pessoas Pé Diabético, independentemente
com Diabetes e úlcera do pé para o dos exames não invasivos, se a
diagnóstico de DAP. (Forte; Baixa) úlcera não melhorar ao fim de 4 a 6
3. Como o exame clínico não é fiável semanas de tratamento otimizado.
para excluir DAP numa pessoa com (Forte; Baixa)
Diabetes e úlcera do pé; determinem 8. Considerem sempre revascula-
a avaliação morfológica do fluxo pedi- rização em doentes com úlcera de
oso pelo Doppler arterial em conjunto Pé Diabético e DAP, independente-
com a pressão sistólica do tornozelo mente dos exames não invasivos, se
e o índice tornozelo/braço (ITB) ou a a úlcera não melhorar ao fim de 4 a
pressão sistólica do hállux e o índice 6 semanas de tratamento otimizado.
hállux/braço (IHB). Nenhuma moda- (Forte; Baixa)
lidade mostrou ser ótima e não existe 9. A microangiopatia diabética,
limiar para o qual possamos excluir quando presente, não deve ser
DAP. Contudo podemos dizer que o considerada como a causa de má
diagnóstico de DAP é pouco provável cicatrização em doentes com úlcera
quando existem fluxos trifásicos de Pé Diabético, devem considerar
distais, ITB entre 0,9 e 1,3 e um IHB outras possibilidades para dificul-
≥0,75. (Forte; Baixa) dades na cicatrização (Forte; Baixa)
4. Prevejam o potencial de cica- 10. O Eco-Doppler, o AngioTAC, a
trização da úlcera do pé num doente AngioRM ou a Angiografia digital de
com Diabetes e DAP com um destes subtracção devem ser utilizados para
testes que aumentam a probabilidade obter informação anatómica quando
pré-teste de cicatrização em pelo a revascularização está a ser consi-
menos 25%: pressão de perfusão da derada. A circulação arterial de toda
pele ≥40 mmHg, pressão do hállux a extremidade inferior deve ser avali-
≥30 mmHg, ou TcPO2 ≥25 mmHg. ada com visualização detalhada das
(Forte; Moderada) artérias abaixo do joelho e pediosas,
5. Usem o sistema de classificação num plano antero-posterior e lateral.
WIFI (Wound/Ischemia/FootInfection) (Forte; Baixa)
.17
GUIDELINES DO IWGDF
DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA

11. O objetivo da revascularização ca, incluindo suporte de cessação


num doente com úlcera de Pé Dia- tabágica, tratamento de hipertensão,
bético é restaurar um fluxo pulsátil prescrição de estatina, assim como
direto a pelo menos uma das artérias de aspirina de baixa dose ou clopi-
do pé, preferencialmente a que irriga dogrel. (Forte; Baixa)
a região anatómica da úlcera. Após
o procedimento, devem avaliar o
seu sucesso através de uma medida
objetiva da perfusão. (Forte; Baixa)
12. Dado não existir evidência na es-
colha entre tratamento endovascular,
clássico ou híbrido, tomem decisões
baseadas em fatores individuais,
como a distribuição morfológica
da DAP, a disponibilidade de veia
autóloga, co-morbilidades do doente
e experiência local. (Forte; Baixa)
13. Todos os centros de tratamento
de doentes com úlcera de Pé
Diabético deverão ter experiência
e acesso fácil e rápido aos proce-
dimentos necessários ao diagnóstico
e tratamento de DAP. Tanto a cirurgia
clássica como a endovascular devem
estar disponíveis. (Forte; Baixa)
14. Garantam que após uma revascu-
larização de doente com uma úlcera
de Pé Diabético, o doente é tratado
numa Consulta Multidisciplinar.
(Forte; Baixa)
15. Os doentes com sinais de DAP e
infeção têm um risco particularmente
elevado de amputação major, pelo
que o seu diagnóstico e tratamento
deve ser considerado urgente. (Forte;
Moderada)
16. Evitem a revascularização quan-
do, na perspetiva do doente, o risco/
benefício para a probabilidade de
sucesso é desfavorável. (Forte; Baixa)
17. Todas as pessoas com uma
úlcera de Pé Diabético isquémica de-
vem receber tratamento agressivo da
doença cardiovascular ateroscleróti-
.18
GUIDELINES DO IWGDF
INFEÇÃO

RECOMENDAÇÕES DO 6. A) Numa pessoa com Diabetes


IWGDF PARA O DIAGNÓSTICO e suspeita de osteomielite não é
E TRATAMENTO DA INFEÇÃO necessário progredir nos estudos
DO PÉ DIABÉTICO auxiliares se a clínica, o raio-X sim-
ples e os estudos laboratoriais forem
1. A) A infeção de tecidos moles no compatíveis com o diagnóstico de
Pé Diabético deve ser diagnosticada osteomielite. (Forte; Baixa) B) Se per-
clinicamente, com base na presença sistir a dúvida sobre o diagnóstico de
de sintomas ou sinais locais ou sis- osteomielite, considerem prosseguir
témicos de inflamação. (Forte; Baixa) o estudo através de ressonância
B) Avaliem a gravidade da infeção no magnética, PET-FDG/CT ou cintilo-
Pé Diabético através da classificação grama com leucócitos marcados.
da IDSA/IWGDF. (Forte; Moderada) (Forte; Moderada)
2. Considerem o internamento 7. Numa pessoa com Diabetes e
hospitalar para todas as pessoas suspeita de osteomielite, que se
com Diabetes com infeções graves apresenta como necessário o diag-
ou moderadas mais complexas, ou nóstico definitivo ou a determinação
associadas com co-morbilidades da sensibilidade antibiótica do
relevantes. (Forte; Baixa) agente causal, deve ser colhida uma
3. Em pessoas com Diabetes e casos amostra asséptica de osso (de forma
de infeção suspeita, mas com exame percutânea ou cirúrgica), para estu-
físico equívoco ou não interpretável, do cultural e histológico (se possível).
ponderem o uso de marcadores (Forte; Baixa)
inflamatórios séricos como a Proteína 8. A) Colham uma amostra adequada
C-reativa (PCR), a velocidade de na maioria das úlceras infetadas
sedimentação eritrocitária ou talvez para determinação da sensibilidade
a procalcitonina, como um teste antibiótica do agente causal. (Forte;
adjuntivo para estabelecimento de Baixa) b) Nas infeções apenas de
diagnóstico. (Fraco; Baixa) tecidos moles deve ser obtida uma
4. Sugerimos que não utilizem a amostra de tecido infetado de forma
medição de temperatura cutânea assética (por curetagem ou biópsia)
do pé ou da colheita microbiológica para cultura. (Forte; Moderada)
quantitativa para diagnóstico de in- 9. Na infeção de Pé Diabético não
feção de Pé Diabético. (Fraco; Baixa) devem ser utilizadas técnicas de mi-
5. Numa pessoa com suspeita de crobiologia molecular (em detrimento
osteomielite no pé, recomendamos dos procedimentos convencionais)
que utilizem o uso da combinação como primeira linha de identificação
do teste “cureta-osso”, velocidade de do agente causal. (Forte; Baixa)
sedimentação (ou PCR e/ou procalci- 10. Tratem a infeção de Pé Diabético
tonina) e raio-X simples como exam- com um antibiótico eficaz, de acor-
es iniciais de apoio ao diagnóstico de do com os resultados de ensaios
osteomielite. (Forte; Moderada) clínicos aleatorizados publicados, e
apropriado para cada doente. Con-
siderem: penicilinas, cefalosporinas,
.19
GUIDELINES DO IWGDF
INFEÇÃO

clindamicina, linezolida, daptomicina, a evidência de infeção não estiver


fluoroquinolonas ou vancomicina resolvida após 4 semanas de antibi-
(mas não tigeciclina) (Forte; Elevada) oterapia, considerada como “eficaz”,
11. Selecionem o antibiótico para reavaliem o doente e reconsiderem
tratar a infeção de Pé Diabético novos estudos diagnósticos e outras
baseado: nos agentes patogénicos alternativas terapêuticas. (Forte;
mais prováveis ou conhecidos, na sua Baixa)
sensibilidade, na gravidade clínica 16. Em doentes com infeção leve de
da infeção, na evidência publicada Pé Diabético, que não tenham rea-
da eficácia do agente no tratamento lizado antibioterapia recentemente e
do Pé Diabético infetado, no risco de que habitem em climas temperados,
efeitos adversos (incluindo risco de a antibioterapia empírica inicial deve
dano na flora comensal), nas pos- cobrir apenas agentes Gram-pos-
síveis interações medicamentosas, itivos aeróbicos (Streptococci
na sua disponibilidade local, e no seu beta-hemolíticos e Staphylococcus
custo. (Forte; Moderada) aureus). (Forte; Baixa)
12. Administrem inicialmente, o anti- 17. Em doentes que residam em
biótico de forma parentérica em todas climas tropicais/sub-tropicais, que
as infeções graves de Pé Diabético, tenham sido tratados recentemente
mudando para terapêutica oral se a com antibióticos (poucas semanas),
infeção tiver uma evolução favorável apresentem doença arterial periférica
(e existir disponível um agente oral grave, ou uma infeção moderada a
adequado e sem contraindicações). grave; sugerimos uma cobertura que
(Forte; Baixa) englobe Gram-positivos, Gram-neg-
13. Tratem todas as infeções leves ativos mais comuns e possivelmente
e a maioria das moderadas com anaeróbios estritos nos casos de
antibioterapia oral, ad initium ou após infeção moderada a grave. Este
melhoria com curso inicial de antibi- esquema de antibiótico deve ser
oterapia parentérica. (Fraco; Baixa) revisto conforme resposta clínica e
14. Não recomendamos que utilizem resultados microbiológicos. (Fraco;
agentes antimicrobianos tópicos no Baixa)
tratamento das infeções leves de Pé 18. Considerem o tratamento empírico
Diabético, (Fraco; Moderada) com agentes orientados para Pseu-
15. A) Administrem terapêutica domonas aeruginosa se esta tiver
antibiótica em infeções de pele e sido isolada recentemente na área
tecidos moles no Pé Diabético por afetada ou nos doentes que habitam
um período de tempo entre 1 a 2 em climas tropicais/sub-tropicais
semanas. (Forte; Alta) B) Considerem (pelo menos nas infeções moderadas
prolongar o tratamento para até 3 a 4 a graves). (Fraca; Baixa)
semanas, se a infeção melhorar, mas 19. Não tratem úlceras clinicamente
é extensa; está a ter uma resposta não infetadas com antibioterapia
mais lenta do que a esperada; ou o sistémica ou tópica com o intuito de
doente apresentar doença arterial promover a cicatrização ou de reduz-
periférica grave. (Fraco; Baixa) C) Se ir o risco de infeção. (Forte; Baixa)
.20
GUIDELINES DO IWGDF
INFEÇÃO

20. Em caso de infeções graves, esquema de antibioterapia parentéri-


ou moderadas complicadas por ca, considerem mudar para esquema
doença isquémica grave, gangrena oral após 5 a 7 dias, se os agentes
extensa, infeção necrotizante, sinais causais forem sensíveis, o antibiótico
sugestivos de fasceíte, abcesso tiver elevada biodisponibilidade
ou síndrome de compartimento os e não existirem contraindicações.
doentes devem ser avaliados com (Fraco; Moderada)
urgência por clínicos com competên- 25. A) Durante a cirurgia para
cias cirúrgicas. (Forte; Baixa) resseção de osso por osteomielite
21. A) Numa pessoa com Diabetes de Pé Diabético considerem a
e osteomielite não-complicada do realização de uma colheita de tecido
antepé (e para o qual não exista outra ósseo para cultura (e possivelmente
indicação cirúrgica) considerem para histologia) na porção proximal
o tratamento conservador apenas do osso preservado para identificar
com antibiótico. (Forte; Moderada) a possibilidade de infeção residual.
B) Numa pessoa com Diabetes e (Fraca; Moderada) B) Se nesta
osteomielite provável associada a colheita assética for identificado um
infeção dos tecidos moles circundan- agente patogénico ou na histologia
tes, devem avaliar com urgência a for reconhecido um padrão de osteo-
necessidade de tratamento cirúrgico mielite, então tratem conveniente-
da infeção e programada reavaliação mente com um antibiótico eficaz
pós-operatória cuidada. (Forte; durante 6 semanas. (Forte; Modera-
Moderada) da)
22. No tratamento médico da osteom- 26. No Pé Diabético infetado não
ielite no Pé Diabético selecionem devem utilizar Oxigenoterapia Hiper-
os antibióticos que demonstraram bárica como terapia adjuntiva, se a
eficácia em estudos clínicos. (Forte; única indicação for especificamente
Baixa) para tratar a presença de infeção.
23. A) Não tratem a osteomielite por (Fraco; Baixa)
mais de 6 semanas de antibioterapia. 27. Ao tratar especificamente o Pé
Se a infeção não melhorar nas primei- Diabético infetado A) não devem
ras 2 a 4 semanas, reconsiderar a utilizar tratamentos adjuvantes com
necessidade de: colheita de material fatores de crescimento, (Fraca;
ósseo para cultura, tratamento cirúr- Moderada) B) Ou tratamentos de
gico da infeção ou selecionar um rotina com antissépticos tópicos,
esquema alternativo de antibiótico. apósitos com prata, mel, terapia com
(Forte; Moderada) B) Tratem a bacteriófagos ou terapia de pressão
osteomielite de Pé Diabético com negativa. (Fraca; Baixa)
antibioterapia durante apenas alguns
dias, se o osso infetado tiver sido
removido cirurgicamente. (Fraco;
Baixa)
24. No caso de osteomielite de Pé
Diabético tratada inicialmente com
.21
GUIDELINES DO IWGDF
INTERVENÇÕES PARA A CICATRIZAÇÃO

RECOMENDAÇÕES DO IWGDF eratórias em pessoas com Diabetes,


SOBRE INTERVENÇÕES PARA em adição ao melhor tratamento
PROMOVER A CICATRIZAÇÃO convencional. (Fraco; Baixa)
DE ÚLCERAS DE PÉ DIABÉTICO 8. Como a terapia de pressão
negativa não mostrou superioridade
1. Em geral, removam o tecido desvi- na cicatrização de feridas não oper-
talizado, necrose e a calosidade em atórias, sugerimos que não a utilizem
redor da úlcera, preferencialmente em detrimento do melhor tratamento
com desbridamento cortante e tendo convencional. (Fraco; Baixa)
em conta possíveis contraindicações 9. Considerem o uso de produtos
como a dor e a isquemia grave. derivados da placenta como trata-
(Forte; Baixa) mento adjuvante ao melhor tratamen-
2. Escolham os pensos preferencial- to conservador, quando este falhou
mente de acordo com o controlo do na redução da área da úlcera do pé.
exsudado, conforto e custo. (Forte; (Fraco; Baixa)
Baixa) 10. Sugerimos que não utilizem
3. Não usem pensos ou produtos agentes relatados como promotores
antimicrobianos com o propósito de da cicatrização, por alterar a biologia
acelerar o processo de cicatrização da ferida, incluindo fatores de cresci-
da úlcera. (Forte; Baixa) mento, gel plaquetário autólogo,
4. Considerem o uso de penso produtos de pele biomodificados,
impregnado de octassulfato de ozono, dióxido de carbono tópico e
sacarose em úlceras do pé não óxido nítrico, em detrimento do mel-
infetadas e neuro-isquémicas, com hor tratamento convencional. (Fraco;
cicatrização difícil, apesar do melhor Baixa)
tratamento convencional. (Fraco; 11. Considerem o uso de fibrina,
Moderada) plaquetas e leucócitos combinados
5. Considerem o uso de oxigenoter- autólogos como um tratamento adju-
apia hiperbárica sistémica como um vante ao melhor tratamento conven-
tratamento adjuvante em úlceras cional em úlceras não infetadas de
isquémicas estagnadas, apesar do difícil cicatrização. (Fraco; Moderada)
melhor tratamento convencional. 12. Não utilizem agentes relatados
(Fraco; Moderada) como promotores da cicatrização por
6. Sugerimos que não utilizem oxi- alterar o ambiente físico da ferida,
genioterapia local como tratamento incluindo através do uso de ondas de
principal ou adjuvante em úlceras de eletricidade, magnetismo, ultrassons
pé diabético, incluindo aquelas de e choque, em detrimento do melhor
difícil cicatrização. (Fraco; Baixa) tratamento convencional. (Forte;
7. Considerem o uso de terapia de Baixa)
pressão negativa para reduzir a área
da ferida em úlceras do pé pós-op-
.22
GUIDELINES DO IWGDF
INTERVENÇÕES PARA A CICATRIZAÇÃO

13. Não utilizem tratamentos sis-


témicos com o objetivo de melhorar
o estado nutricional (incluindo
suplementos proteicos, vitaminas
e oligoelementos, fármacos pro-
motores de angiogénese) com o
propósito de melhorar a cicatrização,
em detrimento do melhor tratamento
convencional. (Forte; Baixa)
.23
GUIDELINES DO IWGDF
CLASSIFICAÇÃO DE ÚLCERAS

RECOMENDAÇÕES DO IWGDF
SOBRE CLASSIFICAÇÕES DE
ÚLCERAS DE PÉ DIABÉTICO

1. Numa pessoa com úlcera de Pé


Diabético, usem a classificação
SINBAD para comunicar entre
profissionais de Saúde acerca das
características da úlcera. (Forte;
Moderada)
2. Não usem nenhuma das clas-
sificações atuais disponíveis para
determinar o prognóstico individual
de uma pessoa com úlcera de Pé
Diabético (Forte; Baixa)
3. Numa pessoa com úlcera de Pé
Diabético infetada, usem a classifi-
cação de infeção da IDSA/IWGDF
para caracterizar e orientar a abord-
agem da infeção. (Fraco; Moderada)
4. Numa pessoa com úlcera de Pé
Diabético e que esteja a ser avaliada
num centro com disponibilidade de
diagnóstico e intervenção vascular,
usem a classificação WIFI para
ajudar na tomada de decisão na
avaliação da perfusão periférica e
na necessidade de revascularização.
(Fraco; Moderada)
5. Usem a classificação SINBAD
para auditorias regionais/nacionais/
internacionais de modo a permitir
comparações entre instituições no
que respeita aos desfechos clínicos
das pessoas com úlcera de Pé Dia-
bético (Forte; Elevada)
.24

CLASSIFICAÇÕES

Sistema de Estratificação de Risco do IWGDF 2019 e periodicidade


de vigilância respetiva

Risco Frequência
Categoria Características
de Ulceração de vigilância
Sem Perda de Sensibilidade
0 Muito baixo Protetora (PSP) e Sem Doença Anual
Arterial Periférica (DAP)
1 Baixo PSP ou DAP 6 a 12 meses
PSP + DAP ou
2 Moderado PSP + deformidade podológica ou 3 a 6 meses
DAP + deformidade podológica
PSP e/ou DAP e ≥ 1 das seguintes:
. História de úlcera
1a3
3 Alto . História de amputação
meses
(minor ou major)
. Insuficiência renal crónica terminal
.25

CLASSIFICAÇÕES

Sistema WIfI para diagnóstico e estadiamento de Doença Arterial Periférica

ÚLCERA (wound)

Grau Úlcera Gangrena

0 . Sem úlcera . Sem gangrena


. Úlcera pequena, superficial e distal, sem exposição
1 . Sem gangrena
óssea (exceto se limitada falange distal)
. Úlcera mais profunda com exposição óssea,
articular ou de tendão; geralmente não envolvendo . Alterações
2 o calcanhar; gangrenosas
. Úlcera superficial do calcanhar, sem envolvimento limitadas aos dedos
do calcâneo
. Gangrena extensiva
. Úlcera profunda e extensa que envolve o antepé que envolve
e/ou mediopé; o antepé e/ou
3
. Úlcera profunda do calcanhar, com ou sem mediopé;
envolvimento do calcâneo . Gangrena profunda
do calcâneo

ISQUEMIA
Índice de Pressão sistólica Pressão digital, pressão
tornozelo-braço do tornozelo (mmHg) transcutânea de O2 (mmHg)
0 ≥ 0,80 >100 ≥ 60
1 0,6 – 0,79 70 – 100 40 – 59
2 0,4 – 0,59 50 – 70 30 – 39
3 ≤ 0,39 < 50 < 30
INFEÇÃO (ver IDSA/IWGDF)
.26

CLASSIFICAÇÕES

Sistema de classificação para definir a presença e severidade da infeção


de Pé Diabético (IDSA/IWGDF)

Classificação clínica de infeção Classificação IWGDF


NÃO INFETADO
Sem sintomas ou sinais locais ou sistémicos de infeção 1 (não infetado)
INFETADO
Pelo menos 2 destes itens estão presentes:
. Edema local ou tumefação
. Eritema >0.5 cm peri-lesional
. Sensibilidade ou dor local
. Aumento local da temperatura
. Libertação purulenta
E nenhuma outra causa de resposta
inflamatória da pele
Infeção sem manifestações sistémicas (ver acima)
envolvendo
. Apenas a pele ou tecido subcutâneo, e 2 (infeção leve)
. Qualquer eritema presente não se estende >2cm
em redor da lesão
Infeção sem manifestações sistémicas (ver acima)
envolvendo
. Eritema que se estende ≥2cm a partir da margem 3 (infeção moderada)
da lesão, e/ou
. Tecido mais profundo do que a pele ou tecido subcutâneo
Qualquer infeção do pé com manifestações sistémicas
associadas (do síndrome de resposta inflamatória sistémica
[SRIS]), manifestando ≥2 dos seguintes critérios:
. Temperatura >38ºC ou <36ºC
. Frequência cardíaca >90 batimentos/minuto 4 (infeção severa)
. Frequência respiratória >20 respirações/minuto ou pressão
parcial de dióxido de carbono <4.3 kPa (32 mmHg)
. Contagem leucocitária >12 000/mm3, ou <4 000/mm3,
ou >10% formas imaturas
Adicionar “(O)” a
3 se <2 critérios SRIS,
Infeção que envolve o osso (osteomielite)
ou
4 se ≥2 critérios SRIS
.27

CLASSIFICAÇÕES

Sistema de classificação de úlceras de Pé Diabético SINBAD

Categoria Definição Score


Antepé 0
Local (Site)
Mediopé ou retropé 1
Fluxo sanguíneo intacto, um pulso palpável 0
Isquemia
Evidência clínica de redução de fluxo sanguíneo 1
Sensação protetora intacta 0
Neuropatia
Sensação protetora perdida 1
Infeção Ausente 0
Bacteriana Presente 1
Úlcera <1cm2 0
Área
Úlcera >1cm2 1
Profundidade Úlcera confinada à pele e tecido subcutâneo 0
(Depth) Úlcera atingindo músculo, tendão ou mais profunda 1
Score total possível 0-6

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