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ESPECTROSCOPIA RAMAN DE BAIXO CUSTO APLICADA À GEMOLOGIA:

OTIMIZAÇÃO E AMPLIAÇÃO DO BANCO DE DADOS

Rhenan Gonçalves Braun D’Azevêdo

Aluno de Graduação da Geologia, 5º período, UFRJ

Período PIBIC/CETEM: julho de 2013 a julho de 2014


rdazevedo@cetem.gov.br

Jurgen Schnellrath

Orientador, Geólogo, D.Sc.

jurgen@cetem.gov.br

1. INTRODUÇÃO

A espectroscopia Raman é uma técnica vibracional, que permite, a partir do conjunto de


frequências das vibrações atômicas observadas, identificar rapidamente, entre outras, a maioria
das espécies minerais, dentre estas gemas ou pedras preciosas.

Nos últimos anos a espectroscopia Raman, em função da miniaturização e redução de


preço da parte instrumental, vem sendo amplamente utilizada na gemologia. Dentre as várias
vantagens da espectroscopia Raman, destacamos o fato de dispensar qualquer tipo de
preparação da amostra e ser uma técnica não destrutiva, o que permite a análise de gemas tanto
em estado bruto como lapidado, estejam elas cravadas em uma joia ou soltas. Em alguns casos é
possível ainda determinar a aplicação de tratamentos em gemas ou mesmo identificar inclusões
em seu interior.

Acompanhando essa evolução, o LAPEGE (Laboratório de Pesquisas Gemológicas)


adquiriu dois aparelhos Raman portáteis, a fim de agilizar e otimizar o seu procedimento de
identificação de gemas e, aliado a isto, ampliar as suas linhas de pesquisa. Tendo verificado que
uma parcela significativa de gemas e minerais enviados ao laboratório para análise não eram
prontamente reconhecidos pelo banco de dados fornecido junto com um dos equipamentos,
optou-se também por fazer uma ampliação do mesmo.

2. OBJETIVOS

Otimizar a operação dos dois espectrômetros Raman portáteis adquiridos recentemente


pelo LAPEGE e expandir o banco de dados fornecido junto com um dos espectrômetros,
permitindo assim a identificação mais rápida de gemas e/ou minerais enviados para análise.

3. METODOLOGIA

Espectrômetros Raman utilizados no trabalho:


- BWS415-785H - GemRam. Fabricante: BWTEK. Possui laser vermelho (785nm) e
um banco de dados de fábrica (GemID 1.0, da GemExpert). Faixa de varredura:175 a 2600 cm-1.

- GL Gem Raman PL 532. Fabricante: Gemlab Research & Technology. Possui laser
verde (532nm). Faixa de varredura: 175 a 5.400 cm-1. Espectros adquiridos nesse equipamento
são salvos em formato .rruff (faixa de 175 a 1500 cm-1) e posteriormente tratados no software
CrystalSleuth. O espectro tratado é então comparado com os contidos no banco de dados, que
pode ser baixado gratuitamente do site www.rruff.info, para sua identificação. O equipamento
também pode ser usado como espectrômetro de fotoluminescência na faixa de 530 a 750 nm.

Após instalação e calibração dos espectrômetros, foi feita uma consulta à tabela
“Gemmological Tables” (Henn, 2012), a fim de verificar quais gemas/minerais de maior
importância ainda constavam no banco dados fornecido junto com o GemRam e assim buscar
acrescentá-los. Este é o espectrômetro de rotina empregado pelo LAPEGE na identificação de
gemas e minerais, por ter uma interface mais amigável. Foram adquiridos também espectros de
uma boa parte da coleção didática do LAPEGE e de gemas e/ou minerais enviados ao CETEM
para análise, a fim de testar o software Gem ID 1.0. Quando a substância não era identificada
pelo GemRam, ela era analisada no GL Gem Raman e, quando necessário, com outros meios, a
fim de identificá-la e então acrescentar o seu espectro ao banco de dados Gem ID 1.0. Também
foram acrescentados espectros de substâncias já inclusas no banco de dados, desde que
apresentassem diferenças significativas no conjunto de suas bandas, aumentando assim a chance
de identificação da respectiva substância. Quando não era possível obter um espectro Raman
diagnóstico, muitas vezes em função de fenômenos de fluorescência, eram adquiridos e salvos
espectros de fotoluminescência no GL Gem Raman, se os mesmos servissem para a sua
identificação. Aos espectros adicionados ao GemID eram informados o peso da amostra, sua
procedência e uma foto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 abaixo ilustra o espectro de uma gema já adicionada ao banco de dados, e


todos os seus dados.

Figura 1: Visualização do layout do GemID 1.0, e do espectro de uma barita, que foi
adicionada ao banco de dados.
Foram adicionados os espectros das seguintes substâncias ao banco de dados GemID
1.0: alexandrita sintética, anatásio, apatitas (4), aragonita, barita, columbita-tantalita,
cristobalita, esfênio(titanita), ghanita, espinélios sintéticos (5), estaurolita, estilbita, fibra de
vidro, fluoritas (2), granada Ga-Gd sintética, gipsitas (2), heulandita, howlita, lápis lazuli,
muscovita, opala negra sintética, opala comum, petalita, plásticos (3), esmeraldas (4), turquesa,
rubis naturais (2), rubi sintético, scheelita, scorodita, silimanita, imitação de turquesa, ulexita,
variscita e vidros (3).

Parte significativa destes espectros é de substâncias que já constavam no banco de


dados Gem ID 1.0, entretanto não eram sempre reconhecidas devido à grande variação de seus
espectros, principalmente em função de fenômenos de fluorescência. Na Figura 2 abaixo
podemos observar um exemplo dessa variação.

Figura 2: Espectros de duas apatitas, mostrando variações em função de diferenças na sua


composição química, muitas vezes a nível de elementos-traço/fluorescência.

Minerais que apresentam forte fluorescência vermelha, geralmente portadores de cromo,


não são identificados no espectrômetro Raman com laser de 785nm, pois as bandas Raman
diagnósticas ocorrem justamente na mesma faixa energética dessa fluorescência. Embora com o
laser verde também não seja possível adquirir um espectro característico das bandas Raman, é
possível obter um espectro de fotoluminescência diagnóstico, que permite identificar a
substância e separá-la de outras substâncias portadoras de cromo.

Na Figura 3 abaixo podemos ver alguns dos espectros realizados nesse equipamento,
que apresentam o padrão de fluorescência do Cr3+ em diferentes campos cristalinos.
Figura 3: Gráfico de fluorescência das seguintes substâncias: Esmeralda (preto), alexandrita
(vermelho) e rubi (verde).

Podemos observar claramente as diferenças nas frequências e nas formas dos dois
principais picos de fluorescência do Cr3+ nos diferentes campos cristalinos, e assim distinguir e
identificar rapidamente, por meio da espectroscopia Raman, mesmo os minerais portadores de
cromo. Os dados aqui apresentados corroboram com o trabalho de Jasinevicius (2009).

Algumas gemas não apresentaram espectros diagnósticos em nenhum dos dois


equipamentos testados (turquesa, âmbar, entre outros).

Um estudo visando a detecção de tratamentos aplicados a diamantes foi iniciado, porém


não foi possível finalizá-lo devido à dificuldades na obtenção de amostras de origem confiável.

4. CONCLUSÕES

O banco de dados GemID 1.0, fornecido junto com o GemRam, possui 376 diferentes
espectros de 148 substâncias. Foram adicionados mais 53 espectros, sendo 22 de substâncias
que não constavam no banco de dados, o que faz com que o equipamento agora disponha de 429
espectros e 170 substâncias, aumentando consideravelmente a eficiência em identificar o
material analisado.

Além da otimização do banco de dados já existente, foi criada uma pasta com espectros
de fotoluminescência, com ênfase nas gemas portadoras de cromo.

Foi detectado um erro nos dados do GemID. Um espectro de crisoberilo, da variedade


gemológica “alexandrita”, foi encontrado com os seguintes dados: Zircon, 2.62 ct, Tunduru,
Tanzania. Portanto uma alexandrita, gema muito valorizada no mercado, poderia ser
identificada erroneamente como zircão pelo equipamento.

5. AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu orientador Jurgen Schnellrath e ao CETEM pela


oportunidade, correções e incentivo. Ao pesquisador Fabiano Faulstich pelo suporte no início do
trabalho. Agradeço também às alunas de Geologia Carolina Santiago e Luiza Rocha pela ajuda.
E a todos que direta ou indiretamente fizeram parte desse trabalho. Agradeço finalmente ao
CNPq pela bolsa de iniciação científica concedida.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Downs, R T. Downs R T (2006) The RRUFF Project: an integrated study of the chemistry,
crystallography, Raman and infrared spectroscopy of minerals. Program and Abstracts of the
19th General Meeting of the International Mineralogical Association in Kobe, Japan. O03-13

Jasinevicius, Renata. Characterization of vibrational and electronic features in the raman


spectra of gem minerals. 2009. 151f. Dissertação (Mestrado em Ciências)- Instituto de
geociências, Universidade do Arizona, Arizona. 2009

Henn, Ulrich. Gemmological Tables. Alemanha: German Gemmological Association, 2012.


40p.

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