Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Poemes Chagall Digital
Poemes Chagall Digital
1968
xilogravura colorida
37,3 × 29,3 cm
Marc Chagall
POEMAS
POÈMES
Tradução
Saulo Di Tarso
8 de fevereiro a
22 de maio de 2023
CCBB SP
APRESENTAÇÃO
Cynthia Taboada
Chagall é pintor. É pintor, mas também natureza e seus elementos dentro de si, o português pelo artista Saulo di Tarso,
poeta. Ou um poeta com asas de pintor, em que elabora internamente as recorda- atentando ao trânsito entre idiomas, às
tal como o definiu o escritor norte- ções e reminiscências familiares, mantendo imagens poéticas, aos tempos e espaços
-americano Henry Miller. Seja como for, essas imagens impregnadas na retina. sugeridos por Chagall na forma particular
palavras não podem conter a força como ele pinta e vê o mundo, e em seu
criadora de Chagall, nem sua forma única Com a realização da exposição Marc ofício como pintor e gravador. Valendo-se
de transpor as linguagens: do desenho Chagall: sonho de amor no Brasil, debru da transcriação poética na perspectiva
para a pintura, da pintura para a poesia, çados sobre a natureza poética da pintura de Haroldo de Campos,6 esta tradução
da poesia para a pintura, num caminho de Chagall – trazida desde a concepção da apresenta um material lírico de grandeza,
de mão dupla, e de suspensão do mundo mostra pela curadora Lola Dúran Úcar –,3 inédito em nossa língua portuguesa,7 que
cotidiano. Se Chagall pinta como enxerga encontramos a oportunidade de reunir compartilhamos nesta edição especial.
o mundo, sua poesia verte do coração, e traduzir para o português a seleção de Os temas evocam o mundo familiar
essencialmente influenciada por sua poemas escritos entre 1909 e 1965, publi- russo-judaico de Vitebsk, que formou
origem judaica, hassídica, que o faz com- cados pela primeira vez em 1968,4 em a sensibilidade de Chagall, assim como
Algumas pessoas me preender espiritualmente que o homem francês, por Gérard Cramer, incluindo aludem ao amor, à pintura e à solidão,
recriminaram por eu colocar é parte da natureza e com ela comunga, as mesmas 24 xilogravuras coloridas feitas num tom melancólico que indaga sobre
poesia nas minhas pinturas. pelo artista na ocasião, obras produzidas
ao respirar, caminhar, pintar e amar. a transcendência do amor e a fusão entre
Se Chagall pinta sua Vitebsk desde jovem, sem a preocupação de ilustrar fielmente a terra natal e as novas paisagens encon-
É verdade que há algo mais
a exigir da arte pictórica. também escreve poesia, pois os dois os poemas, mas que acompanham visual- tradas na alma do artista. “Manter a terra
meios servem ao propósito de expressar mente o lirismo das estrofes. nas raízes e encontrar outra terra, isso é um
Mas que me mostrem uma única
a natureza do seu sentir: “Assim que verdadeiro milagre.”8
grande obra que não tenha Os poemas, inicialmente escritos em russo
aprendi a me expressar em russo, comecei
uma porção de poesia! 1
a escrever poesia. De forma tão natural e em iídiche, tiveram uma primeira versão
Agradecimentos especiais são aqui
quanto respirar. Que diferença faz se traduzida para o francês por Moshe Lazar
Marc Chagall dedicados ao Comité Marc Chagall
é uma palavra ou um suspiro?” 2 E sentir e, em seguida, foram poeticamente refor-
e a Patrick Cramer, pela colaboração
a vida requer força, uma força espiritual mulados por Philipe Jaccottet, com a
com esta primeira publicação da poesia
capaz de manejar os obstáculos exteriores colaboração de Chagall, para a primeira
de Chagall no Brasil.
e desafios internos, sem perder a sensibi edição.5 A partir dessa versão referencial
lidade, aquela em que ele reconhece a de 1968, os poemas foram traduzidos para
6 Referim
1 Harshav, B 3 Úcar, Lola Durán. “
7 À exceção do poe
2 Marc Ch 4 Chagall, Marc. P.
8 Meyer, Franz. Marc
5 Os poemas Si 6. Referimo-nos ao conceito de tradução como criação,
a uma poética da tradução, enunciada como
“transcriação” pelo poeta e ensaísta Haroldo de Campos.
3. Úcar, Lola Durán. “Pintura poética”. In: Marc Chagall: 7. À exceção do poema Seul est mien (traduzido por
sonho de amor. Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Manuel Bandeira e intitulado “Um poema de Chagall”.
São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), In: Bandeira, Manuel. Poemas traduzidos. Rio de Janeiro:
2022 [catálogo da exposição]. R.A. Editora, 1a ed., 1945, il. Guignard), os demais poemas
1. Harshav, Benjamin. Marc Chagall and 4. Chagall, Marc. Poèmes. Genebra: Cramer Éditeur, 1968. desta edição são inéditos em língua portuguesa.
His Times: A Documentary Narrative. Stanford: 2. Marc Chagall. My Life. Nova York: 5. Os poemas Si mon Soleil e Seul est mien foram 8. Meyer, Franz. Marc Chagall, Life and Work. Nova York:
Stanford University Press, 2004, p. 325. The Orion Press, 1a ed., 1960, p. 95. traduzidos por Assia Lassaigne. Harry N. Abrams, Inc., 1964, p. 529.
SUMÁRIO
POEMAS E GRAVURAS
1 GRAVURA I 24 NA MINHA MEMÓRIA 40 ONDE ESTÁ O DIA 1940-1945 56 NA NOSSA RUA 1930-1935
1930-1935
41 GRAVURA XIII
57 GRAVURA XIX
25 GRAVURA VIII
8 COMO UM BÁRBARO
1930-1935 42 SOBRE O NOVO PAÍS 1955-1960
58 EU ME DISTANCIEI 1955-1960
9 GRAVURA II 27 COMO NUM ÚLTIMO SONO 43 GRAVURA XIV
59 GRAVURA XX
1935-1940
45 ESQUECI MEU NOME 1950-1955
11 NÃO SEI 1955-1960
61 QUANTOS ANOS 1960-1965
28 DESCANSO 1950-1955
46 COM AZUL, VERMELHO, 63 GRAVURA XXI
29 GRAVURA IX AMARELO 1930-1935
12 O JARDIM 1909
13 GRAVURA III 47 GRAVURA XV
64 MINHA MÃE 1930-1935
31 SEM LÁGRIMAS 1940-1945
65 GRAVURA XXII
14 PELA MARGEM 1930-1935 48 ELA VOA 1930-1935
32 VOCÊ DOTOU 49 GRAVURA XVI
15 GRAVURA IV MINHAS MÃOS 1940-1945 66 DOS CAMINHOS 1945-1950
33 GRAVURA X 67 GRAVURA XXIII
16 COMO HERANÇA 1930-1935 50 A CIDADE 1930-1935
54 DAVID 1930-1935
71 GRAVURA XXIV
20 SE O MEU SOL 1945-1950
38 SÓ É MEU 1945-1950 55 GRAVURA XVIII
21 GRAVURA VI
39 GRAVURA XII
8 9
COMO UM BÁRBARO COMME UM BARBARE
Ali onde as casas curvas estão apinhadas Là où se pressent des maisons courbées
Ali onde segue o caminho para o cemitério Là où monte le chemin du cimetière
Ali onde corre o rio se alargando Là où coule un fleuve élargi
Ali sonhei minha vida Là j’ai rêvé ma vie
Meu povo, é para ti que eu canto Mon peuple, c’est pour toi que j’ai chanté
Quiçá esse canto te agrade Qui sait si ce chant te plait
Uma voz ecoa dos meus pulmões Une voix sort de mes poumons
Toda tristeza e cansaço Toute chagrin et fatigue
Gravura II
1968
xilogravura colorida
10 37,3 × 29,3 cm 11
NÃO SEI JE NE SAIS PAS
Não sei mais se vivi. Não sei Je ne sais pas si j’ai vécu. Je ne sais pas
Se estou vivo. Olho para o céu Si je vis. Je regarde le ciel
E não reconheço o mundo Je ne reconnais pas le monde
Meu corpo passa feito sombra Mon corps passe dans l’ombre
O amor, as flores, os quadros L’amour, les fleurs, les tableaux
Me fazem ir e vir Me font aller et venir
Não deixe minha mão sem luz Ne laisse pas ma main sans lumière
Quando a casa estiver sombria Quand la maison sera plus sombre
Como verei a tua brancura Comment verrai-je ta blancheur
12 13
O JARDIM LE JARDIN
Um beijo Un baiser
Milhares de beijos Mille baisers
Ou recusas Ou éconduit
Gravura III
1968
xilogravura colorida
14 37,3 × 29,3 cm 15
PELA MARGEM VERS LA RIVE
Minha boca quer falar uma palavra Un mot ma bouche veut dire
Para os parentes sob a neve Pour les parents sous la neige
O tanto que você suportar, meu fôlego Tant que tu me porteras, mon souffle
Eu estarei com eles Je serais avec eux
Gravura IV
1968
xilogravura colorida
16 37,3 × 29,3 cm 17
COMO HERANÇA EN HÉRITAGE
Gravura V
1968
xilogravura colorida
18 37,3 × 29,3 cm 19
MINHA BRANCA NOIVA MA FIANCÉE BLANCHE
20 21
SE O MEU SOL SI MON SOLEIL
Se o meu sol brilhasse durante a noite Si mon soleil brillait dans la nuit
Quando durmo todo coberto de cores Quand je dors tout couvert de couleurs
Numa cama de pinturas Dans un lit de tableaux
Quando o teu pé na minha boca Quand ton pied dans ma bouche
Me sufoca, me tortura M’étouffe, me torture
Ouça-me Entends-moi
Camada funerária Couche funéraire
Erva definhada Herbe desséchée
O amor se foi Amour disparu
Renascendo novamente A nouveau revenu
Ouça-me Entends-moi
Sob seus longos cabelos você avança Sous tes longs cheveux tu avances
Tremendo, vem ao meu encontro Tremblante à ma rencontre
Dos seus olhos me presenteia De tes yeux tu me fais cadeau
E a vontade de lhe perguntar Et je voudrais te demander
Onde estão elas, as flores, brancas Où sont-elles, les fleurs, les blanches
O dossel do nosso caminho De notre dais sur les chemins
Da sua casa, que desde o primeiro encontro Chez toi dès la première fois
Lhe adornavam a noite toda Toute la nuit le long de toi
Gravura VII
1968
xilogravura colorida
24 37,3 × 29,3 cm 25
NA MINHA MEMÓRIA DANS MA MÉMOIRE
Bendito seja seu caminho, inocente Béni soit son chemin, innocent
Com esforço, o conduzi e criei Dans les douleurs je l’ai élevé et porté
Ele bebeu minhas primeiras forças Il a bu mes premières forces
Eu pela mão o levei para os outros Je l’ai conduit par la main vers les autres
E nada restou além de teus ossos Il n’est resté de toi que des os
Findou-se a tua jovem beleza Finie ta jeune beauté
Tu te deitaste só entre as pedras Tu es couchée seule parmi les pierres
E eu, tu me deixaste aqui Et moi, tu m’as laissé ici
Eu queria beijar a erva e a tua areia Ja voudrais embrasser l’herbe et ton sable
Chorar como tua pedra Pleurer comme ta pierre
Queria te deixar a minha alma Je voudrais te laisser mon âme
E te coroar como uma rainha Et comme une reine te couronner
Gravura VIII
1968
xilogravura colorida
26 37,3 × 29,3 cm 27
COMO NUM COMME DANS
ÚLTIMO SONO UN DERNIER SOMMEIL
Vou rezar a Deus que iluminou Vais-je prier Dieu qui a conduit
o caminho até o fogo le peuple dans le feu
Pintá-lo num quadro de chamas Le peindre dans un tableau de flammes
Me levantar do meu lugar Me lever de ma place
Para lutar com o povo da minha tribo Pour combattre avec ceux de ma tribu
Deixe meus olhos chorarem sem parar Laisser mes yeux pleurer sans cesse
As lágrimas se somam ao rio Les larmes s’ajouter au fleuve
Eu não quero que minha tristeza se aproxime Je ne veux pas que ma tristesse approche
Quando eu for na sua direção Quand j’aborderai vers vous
28 29
DESCANSO RÉPIT
Minha hora, meu dia, meu ano Mon heure, mon jour, mon année
Como é delicado o calor da minha lágrima Qu’elle m’est douce la chaude larme
Meu coração a espera e silencia Mon cœur attend et se tait
Vejo o sol que flui Je vois le soleil qui ruisselle
Seus raios cobrindo meu rosto Ses rayons couvrent mon visage
Gravura IX
1968
xilogravura colorida
30 37,3 × 29,3 cm 31
SEM LÁGRIMAS SANS LARMES
Meu povo, você está sem lágrimas Mon peuple, tu es sans larmes
Nem a nuvem, nem a estrela Ni la nuée ni l’étoile ne
nos guiam mais nous guident plus
Ele está morto, nosso Moisés, ele está Il est mort, notre Moîse, il s’enfonce
soterrado na areia dans les sables
Ele doou, e retomou a Terra Prometida Il a donné, repris la Terre promise
32 33
VOCÊ DOTOU MINHAS MÃOS TU M’AS REMPLI LES MAINS
Eu preciso pintar a terra, o céu, meu coração Faut-il peindre la terre, le ciel, mon cœur
As cidades que incendeiam, as pessoas fogem Les villes en feu, les gens qui fuient
Meus olhos em pranto Mes yeux en pleurs
Para onde fugir, voar para quem Où faut-il fuir, vers qui voler
Eis Aquele que dá o dom da vida Celui qui là-bas donne la vie
Aquele que envia a morte Celui qui envoie la mort
Talvez Ele faça Peut-être fera-t-il
Com que minha obra se ilumine Que mon tableu s’illumine
Gravura X
1968
xilogravura colorida
34 37,3 × 29,3 cm 35
A TERRA A TERRE
Por todos os lados perseguem meu povo On chasse de partout mon peuple
A sua coroa caiu por terra Sa couronne est à terre
Por terra o símbolo de David A terre le signe de David
Onde está a sua auréola, sua honra Où est son auréole, son honneur
Das suas mãos ele condena o céu De ses mains il condamne le ciel
Ele pisa no seu exílio Il piétine son exil
Um raio consome a sua miséria Un éclair consume sa misère
Ele avança com a espada Il s’avance avec l’épée
Gravura XI
1968
xilogravura colorida
36 37,3 × 29,3 cm 37
SOZINHO TOUT SEUL
38 39
SÓ É MEU SEUL EST MIEN
Ou choro Ou je pleure
Como a leve chuva Comme une légère pluie
Na noite Dans la nuit
Houve um tempo em que eu tinha duas cabeças Il fut un temps où j’avais deux têtes
Tempo em que esses dois rostos Il fut un temps où ces deux visages
Se cobriam de um orvalho amoroso, Se couvraient d’une rosée amoureuse
Entrelaçados como o Et fondaient comme le
perfume e a rosa parfum d’une rose
Um homem velho com seu xale branco Un vieillard dans son châle blanc
Cai com seu livro de salmos Tombe avec son livre de psaumes
A miséria exprime de seus olhos La misère lui coule des yeux
Devolva-lhe sua vida, meu Deus Rends-lui la vie, mon Dieu
Gravura XIII
1968
xilogravura colorida
42 37,3 × 29,3 cm 43
SOBRE O NOVO PAÍS SUR LE PAYS NEUF
Dois mil anos de meu exílio Deux mille années mon exil
Tão curta é a idade da nova terra Si court l’âge du pays nouveau
A idade de meu filho David L’âge de mon fils David
Eu estico meus braços Je tends le bras
Eu procuro as estrelas e o signo de David Je cherche les étoiles et le signe de David
Sob as ondas nadam os Profetas Sous les vagues nagent les Prophètes
Moisés se acende de longe Moîse de loin s’éclaire
Por muito tempo seus raios me tocaram Depuis longtemps ses rayons me touchent
O vento que se levanta em seus passos Le vent qui se lève sur ses pas
Todos estes anos contando lágrimas Toutes ces années à compter des larmes
Eu o procurei sob o céu na terra Je t’ai cherché sous le ciel sur la terre
Dois mil anos eu esperei Deux mille années j’ai attendu
Para o meu coração acalmar e ver você Que mon cœur s’apaise et te voie
Gravura XIV
1968
xilogravura colorida
44 37,3 × 29,3 cm 45
ESQUECI MEU NOME J’AI OUBLIÉ MON NOM
46 47
COM AZUL, AVEC DU BLEU,
VERMELHO, AMARELO DU ROUGE, DU JAUNE
Gravura XV
1968
xilogravura colorida
48 37,3 × 29,3 cm 49
ELA VOA ELLE VOLE
Ela voa, a cabeça do velho rabino Elle vole la tête du vieux rabbin
Para me encontrar e saudar A ma rencontre et ma salue
Minha sabedoria eu lhe doei Ma sagesse je t’ai donné
Teu pé não entrará mais em minha casa Ton pied n’entrera plus chez moi
Gravura XVI
1968
xilogravura colorida
50 37,3 × 29,3 cm 51
A CIDADE LA VILLE
Gravura XVII
1968
xilogravura colorida
52 37,3 × 29,3 cm 53
ATRÁS DAS NUVENS DERRIÈRE LES NUAGES
54 55
DAVID DAVID
Para que seu nome seja lembrado, David Pour que ton nom soit rappelé, David
Meu jovem irmão que foi apagado Mon jeune frère effacé
Desapareceu da vida sem seguidores Parti de la vie sans convoi
E ninguém sabe onde está Et nul ne sait où il gît
Elas riem, minhas irmãs, elas choram Elles rient, mes sœurs, elles pleurent
Juntas, na porta e em pé Ensemble, debout, dans la porte
Na janela elas olham A la fenêtre elles guettent
E procuram, persistentes, a felicidade Et cherchent, têtues, le bonheur
Gravura XVIII
1968
xilogravura colorida
56 37,3 × 29,3 cm 57
NA NOSSA RUA DANS NOTRE RUE
Gravura XIX
1968
xilogravura colorida
58 37,3 × 29,3 cm 59
EU ME DISTANCIEI JE ME SUI ÉLOIGNÉ
Eles não são meus amigos Ils ne sont pas mes amis
Eles desviam o olhar Ils détournent les yeux
Todos os dias acordo sozinho Chaque jour je me réveille seul
Eu vejo meus dias se afastando Je vois au loin mes jours
Gravura XX
1968
xilogravura colorida
60 37,3 × 29,3 cm 61
QUANTOS ANOS COMBIEN D’ANNÉES
Seu cheiro adormeceu na minha mão Ton odeur dans ma main s’est endormie
De árvore a outra eu voei com você D’un arbre à l’autre avec toi j’ai volé
Eu lhe procurei Je te cherchais
62 63
Na minha mão restou Dans ma main il n’est resté
Somente a poeira dos meus anos Que la poussière de mes années
A minha busca por você Je te cherchais
Onde você está Où es-tu
Gravura XXI
1968
xilogravura colorida
64 37,3 × 29,3 cm 65
MINHA MÃE MA MÈRE
Minha mãe me esperava na porta de casa Ma mère sur le pas de la porte attendait
Com ela eu aprendi a ter esperança Près d’elle j’ai appris l’espoir
Com seus seios ela alimentou meus sonhos De ses seins elle nourrissait mes rêves
Dia e noite ela rezava por mim Jour et noit elle priait pour moi
Gravura XXII
1968
xilogravura colorida
66 37,3 × 29,3 cm 67
DOS CAMINHOS DES CHEMINS
Minhas lágrimas caem como seixos Mes larmes tombent comme des cailloux
Elas se misturam no rio Elles se mêlent au fleuve
Elas flutuam como flores Elles flottent comme des fleurs
Assim, eu vivo, meu Deus. Por que Ainsi je vis, mon Dieu. Pourquoi
Ouço apenas o vazio ao meu redor Je n’entends pas un mot autour de moi
Os caminhos, as florestas se cruzam Des chemins, des forêts se croisent
Encaro meu dia sorridente J’aborde souriant ma journée
E eu ainda espero por Você. Por que Et je t’attends encore. Pourquoi
Noite e dia eu carrego uma cruz Nuit et jour je porte une croix
Sou movido, puxado pela mão On me pousse, on me traîne par la main
Já na noite ao meu redor Déjà la nuit autour de moi
Você se distancia, meu Deus. Por que Tu t’éloignes, mon Dieu. Pourquoi
Gravura XXIII
1968
xilogravura colorida
68 37,3 × 29,3 cm 69
O AZUL DO AR LE BLEU DE L’AIR
70 71
EU HABITO MINHA VIDA J’HABITE MA VIE
Agradecimentos especiais
dedicados a Patrick Cramer.
Licenciamento de imagens
das obras de Marc Chagall
AUTVIS – Associação Brasileira
dos Direitos de Autores Visuais
©️ Chagall, Marc / AUTVIS, Brasil, 2023
© Cy Museum
www.cymuseum.com.br
1o Edição
Impresso em papel
Alta Alvura 120 gr m2
com fonte Absara Sans
em março de 2023
pela ST Graf
978-65-998004-1-2