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“Durante as duas últimas décadas tem havido uma onde de interesse pelo trabalho de
artistas africanos contemporâneos. Uma das principais razões para essa sucessão de
eventos é o impacto da globalização sobre a arte e a cultura contemporânea.” p. 23
“Para ser claro, a generosidade aparente dos contextos artísticos internacionais, que tão
prontamente acolheram artistas africanos e outros, poderia ser atribuída menos a uma
mudança de feeling sobre a competência artística de regiões marginais e mais a um
reposicionamento estratégico e adaptação aos ventos globais de mudança que
derrubaram muros ideológicos por volta do final dos anos 1980 e início dos 1990.” p. 23
“Outros espaços foram se abrindo quando o escultor figurativo senegalês Ousmane Sow
e o artista nigeriano de instalações Mo Edoga tornaram-se os primeiros africanos a
serem incluídos na prestigiada exposição Documenta 9 (1992). Desde então, os artistas
africanos têm participado de todas as exposições Documenta subsequentes (10, 11, 12),
que são realizadas em Kassel, na Alemanha.” p. 24
“Essas atividades, juntamente com muitas outras que não estão listadas, têm contribuído
para cristalizar o sério interesse acadêmico e curatorial nesse campo. Com essa nova
atenção, várias mudanças importantes são imediatamente perceptíveis nos circuitos
discursivos de avaliação curatorial e histórica da arte contemporânea africana como
campo de estudo.” p. 24
“Isso exige uma nova perspectiva e a necessidade de uma nova lente analítica para o
estudo da arte contemporânea africana.” p. 25
“Mas aqui fazemos uma pausa para refletir – passo dado pelo filósofo Mundimbe –
sobre a ‘ideia de África com a qual trabalhamos. Prontamente reconhecemos isso: para
alguns artistas, ser identificado como um ‘artista africano’ pode ser uma marca
incapacitante para negociar os limites do poder que informa todo um complexo cultural
mundial. Até certo ponto, ‘a ideia de África’ pode ser superficialmente incapacitante
para alguns artistas porque a África tem sido mais frequentemente representada em
termos de negação epistemológica, da qual nenhum lucro pode ser tabulado na
contabilidade do capital cultural e artístico. Acrescente-se a isso o fato de que há
milênios, e também na mídia, a África tem sido interpretada como marginal, limitada à
esfera artística e de poder institucional, por isso faz sentido alguns artistas se sentirem
desconfortáveis em ser identificados como tal. Mas somente até certo ponto, pois há
também o inverso, a tendência de superidentificação, a ponto de surgir um
essencialismo construído sobre um sentimento de autenticidade, em relação a qual
alguns artistas africanos são vistos estar em falta seja por raça, região ou residência.” p.
25
“Mas convocar uma paisagem discursiva tal como a arte africana contemporânea não
implica em misturar essas sensibilidades díspares, situações culturais, experiências
históricas e modelos politizados de subjetividade e subjetivação (que é o
posicionamento estratégico que um artista adota nesse campo) num quadro unificado de
identidade cultural. Ao contrario, a ideia de identidade africana que empregamos não é
um termo absoluto, e sim maleável. Ele se refere a ambas as situações culturais e
geográficas, e aos modos de subjetivação, dimensões de identificação e estratégias
éticas. Nenhum desses é sungular. Uma identidade africana pode sugerir anto em
relações étnicas, nacionais, e condições linguísticas, quanto estratégias éticas,
ideológicas e políticas. Uma identidade africana pode ser entendida como parte de um
repertório de práticas, estratégias e subjetividades que ligam tradições culturais e
arquivos culturais, que se subtendem em espações geoculturais e geopolíticos, em
experiencias transnacionais e de diáspora. Nesse sentido não há nenhuma contrução
totalizante que defina o centro desse projeto.” p. 25
“Ao mesmo tempo, o objetivo é revelar – através da evidencia das obras representadas e
discutidas aqui – o fato de que o termo arte africana contemporânea tem uma base
histórica na qual a nossa premissa se baseia e é, portanto, um estímulo para a analise
seria e o engajamento tanto de profissionais de arte quanto do público.” p. 26
“[...] de modo que o estudo da arte contemporânea africana tornou-se uma área central
da investigação acadêmica no conhecimento da história da arte africana. Como esses
estudos expandem os dados disponíveis sobre práticas e discursos, esse campo tem sido
impregnado com formas e métodos de análise teóricos, estéticos e sociais numa nova
história das artes na África.” p. 27
“[...] quando a arte africana consequentemente emergiu? Será que surgiu como
consequência da crise da arte tradicional africana devido ao colonialismo? Ou foi por
causa do encontro com novos paradigmas de produção artística gerados por respostas
africanas para a modernidade europeia?” p. 27
“Terry Smith nos da um guia útil afirmando que a arte contemporânea é a arte
preocupada em estar no seu tempo. Arthur Danto, por outro lado, vê a arte
contemporânea, em seu sentido sempre crescente de intemporalidade, como pós
históricos compelida aos estilos. Smith e Danto não dizem exatamente a mesma coisa: o
primeiro é estritamente preocupado com questões de temporalidade, enquanto o outro se
concentra na censura de períodos históricos.” p. 27
“Mas será que essas duas interpretações ajudam a definir o que queremos dizes por
contemporâneo quando usadas estritamente em analise aplicada à África? A resposta
geralmente é sim, especialmente se entendemos a arte africana na era do colonialismo e
em encontro com a modernidade europeia como, por reflexo, um encontro de categorias
de tempo e uma marcha em direção a um paradigma pós histórico, onde os estilos
tradicionais já não designam as coordenadas estéticas de produção artística. Ao mesmo
tempo, podemos ver também a convergência de estilos tradicionais e paradigmas
contemporâneos como ocorrendo simultaneamente, mas com duas vertentes distintas:
um que reflete sua conexão com um passado histórico e outra estabelecendo sua
separação em relação a esse passado.” p. 27-28
“[...] talvez possamos permitir no mínimo que a arte africana contemporânea venha
tanto no final da arte tradicional (aparentemente, pré-colonial) como no final do
colonialismo; quer dizer, a sua condição de existência no presente é pós-colonial.” p. 28